Pe. Paul Robinson FSSPX
— Padre, quem o senhor considera o mais importante cientista católico do século XX?
Eu considero Pierre Duhem (1861 – 1916).
— Pierre quem? Nunca ouvi falar dele!
Infelizmente isso é muito comum. Ele merece ser muito mais conhecido do que é, especialmente entre os católicos.
— Por que?
Porque ele sozinho destruiu o mito iluminista de que a Idade Média Católica era anti-científica; de que a Igreja é uma instituição que, quando adquire poder suficiente, sufoca impiedosamente a investigação científica; e de que, para os católicos manterem a Fé, precisam suprimir o conhecimento científico. (continue a ler)
Luís Roldán
[Nota da Permanência - Em face da confusão generalizada que se espalha pela América do Sul, propomos o seguinte artigo sobre as táticas usadas pelos comunistas. A foto ao lado é da paróquia La Asuncíon, Chile, vandalizada ontem, 8/11/19]
Como é possível que, vinte anos depois da queda do comunismo, o marxismo continue a ser uma das ideologias políticas mais fortes? Para entender isso, temos de falar de um escritor muito próximo de nós: Antonio Gramsci, que tentou empreender uma reformulação completa do marxismo, especialmente do ponto de vista tático-político.
O Marxismo de Gramsci
Quem era Antonio Gramsci? Antonio Gramsci era um italiano nascido na Sardenha no final do século XIX. Ainda moço foi viver em Turim, cidade industrial do norte da Itália, onde se tornou professor de colégio primário, trabalhou também como operário, como jornalista, e tornou-se ativista político. Fundou, com Palmiro Tolgliatti e outros, o Partido Comunista Italiano, e teve seus segundos de glória quando o triunfo de Lênin na Rússia, em 1917, seguido pelo fim da Primeira Guerra Mundial e pelo redesenho do mapa europeu pelos tratados de Saint Germain e Versalhes, encorajou as tentativas de revolução comunista em quase todos os países da Europa. Na Alemanha, com a efêmera República Soviética da Baviera; na Espanha, com a chamada ‘Semana Trágica’; até mesmo a Argentina não ficou imune às repercussões. Entretanto, ao contrário do que aconteceu na Rússia, a tentativa de uma luta de classes na Itália levou não Gramsci, mas sim Mussolini ao poder. E uma das primeiras medidas de Mussolini foi banir o partido Comunista e prender todos os seus líderes, entre os quais estava Antonio Gramsci. Ele passou seus últimos oito anos de vida na cadeia, e lá morreu de pneumonia, em 1937. Foi durante esse tempo que ele escreveu a maior parte da sua obra política. A obra dele, Cadernos do Cárcere, não é tão sistemática quanto a de Marx. (Continue a ler)
Dom A. M.
Um admirador de Henri de Lubac e dos “novos teólogos”
Paulo VI morreu em 6 de agosto de 1978 na cidade de Castel Gandolfo, para grande pesar dos maçons do Grande Oriente da Itália. Depois do curto parêntesis que foi o pontificado do Papa Luciani, que durou só 33 dias, em 16 de outubro de 1978 foi eleito à Sé Pontifícia o Cardeal Karol Wojtyla, arcebispo da Cracóvia, Polônia.
O nome mesmo escolhido pelo novo Papa — João Paulo II — não pressagiava nada de bom, pois constituía um claro indício de sua vontade de seguir pela desastrosa “via conciliar” traçada por João XXIII e por Paulo VI. As pessoas mais bem informadas sabiam que, durante os trabalhos do Vaticano II, as posições de Dom Wojtyla estavam claramente alinhadas com as funestas novidades conciliares, quintessência do liberalismo e da “nova teologia”. Mais ainda, Dom Wojtyla fora um membro entusiasta da comissão incumbida da redação de Gaudium et Spes, ou seja, do documento conciliar que foi mais tarde definido pelo Cardeal Ratzinger como um verdadeiro contra-Syllabus.
Sempre durante o Concílio, Dom Wojtyla — como relata seu velho amigo e colega de seminário clandestino, Dom Mieczyslaw Malinsky — exprimira sua grande admiração pelos piores entre os peritos conciliares neo-modernistas: Henri de Lubac, Yves Congar, Karl Rahner, Hans Kung.
Dom Karol Wojtyla ignorava as condenações de Pio XII e dos Papas precedentes contra o liberalismo e o modernismo Certamente não, de modo que só nos resta concluir — infelizmente — que Dom Wojtyla fez sua escolha: em favor de Lubac e de seus amigos neo-modernistas e, consequentemente, contra o Papa Pio XII e seus predecessores. De resto, muitas das ações que realizará mais tarde durante o seu pontificado irão confirmar essa triste realidade.
Durante sua viagem pastoral na França, em 1980, por exemplo, João Paulo II, percebendo entre os presentes o Padre Henri de Lubac, interrompeu o discurso oficial no meio para dizer: “Eu me inclino perante o Padre Henri de Lubac, teólogo jesuíta que ocupava os mais altos postos ao lado do Pe. Congar; eles que, antes do período conciliar, tiveram dificuldades com Roma”.
Mais de vinte anos depois, no seu livro-entrevista “Cruzando o limiar da Esperança”, João Paulo II escrevia textualmente: “assim, portanto, já durante a terceira seção [do Vaticano II - NDR] eu me encontrava na equipe que preparava […] o documento que viria a ser a constituição pastoral Gaudium et Spes. Devo muito em particular ao Pe. Yves Congar e ao Pe. Henri de Lubac. Ainda hoje me lembro das palavras com as quais este último me encorajou a perseverar na linha que eu definira nas discussões. Isso ocorria quando as seções se davam no Vaticano. A partir desse momento, travei uma amizade especial com o Pe. De Lubac."
Ao longo do seu pontificado, como veremos, João Paulo II iria concretizar progressivamente sua admiração e… quitar sua dívida, elevando tanto Lubac como Congar à dignidade cardinalícia, além de muitos outros representantes, velhos e novos, da nova teologia: von Balthasar, Grillmeyer, von Schönborn e outros. Não foi por acaso que o Pe. Henri de Lubac, durante o pontificado de Paulo VI, confiou aos seus amigos próximos: “no dia em que for preciso escolher um Papa, já tenho meu candidato: Wojtyla”. (Continue a ler)
Dom A. M
Nota da Permanência: Retomamos a publicação da série "Breve crônica da ocupação neo-modernista na Igreja Católica", utilíssima para quem quiser compreender como chegamos ao atual estado de coisas em Roma. Na foto ao lado, o Papa Paulo VI entrega seu anel episcopal ao "arcebispo" anglicano Ramsey.
Quanto a Paulo VI, é claro que um filo modernista como ele, chegando a ocupar – com a permissão de Deus e em punição de nossos pecados – a Sé de Pedro, não poderia ser senão um demolidor da Igreja. Além, evidentemente, de suas intenções pessoais, ou melhor, de suas utopias pessoais.
Admirador de personagens como Blondel, Teilhard de Chardin, Henri de Lubac, do "segundo" Jacques Maritain e de outros da mesma laia, o Papa Paulo VI se emprenhou, com obstinação digna das melhores causas, à aplicar em todos os domínios as novas doutrinas do Vaticano II. Ele desmantelou todas as defesas da Igreja, em particular pela reforma do Santo Ofício; promoveu a difusão da nova teologia em todas as faculdades pontificais, universitárias e seminários (ainda hoje, como já sublinhamos, Henri de Lubac e Von Balthasar, com Karl Rahner, dominam imperturbavelmente o currículo dos estudos teológicos); obrigou os religiosos dos dois sexos a um aggionarmento catastrófico de suas Regras e Constituições segundo o “espírito” do Vaticano II (resultado: conventos vazios e vocações raras); favoreceu também o aggionarmento de padres e seminaristas a fim de que se engajassem na abertura ao mundo promovida pelo Concílio (resultado: defecção súbita de dezenas de milhares de padres e a difusão lenta mas inexorável de um espírito secularizado, que se reflete até mesmo nas vestimentas); deixou completamente impunes os propagadores de heresias e de imoralidades que, imediatamente após o Vaticano II, espalharam-se como fogo no mundo católico. (Continue a ler)
Marcel de Corte
Com esse título abrangente e ambicioso demais, gostaria de falar com a maior simplicidade possível sobre coisas conhecidas e, principalmente, sobre coisas desconhecidas, que só se tornaram desconhecidas por causa do mundo moderno. Hoje conhecemos muitas coisas que nossos pais ignoravam. A civilização atual, que é essencialmente uma civilização do livro ou do impresso, a cada dia introduz nos cérebros uma massa de conhecimentos que digerimos mais ou menos bem, ou melhor, nem tão bem assim. Estendem-se tais conhecimentos a objetos tão numerosos que a multidão deles amedrontaria as gerações que nos precederam. Para tanto, comparem-se os estudos que se exigiam dos médicos há trinta ou quarenta anos, com os que se exigem atualmente – e isso vale para todas as profissões. Em contrário, segundo uma lei bem simples, expressa no provérbio “um prego empurra o outro”, esse afluxo de informações submergiu certas evidências elementares e as relegou ao esquecimento. Os leigos e os cientistas já não conhecem, por ex., os nomes das quatro virtudes cardeais que outrora o comum do povo conseguia apontar nos vitrais ou nas estátuas das catedrais. Recobriu-se de sombras uma área imensa do saber; em todo lugar regrediu o saber moral, o saber propriamente humano. (Continue a ler)
Pe. Paul Robinson -- FSSPX
“Eu arguo não apenas que não há inerente conflito entre religião e ciência, como também que a teologia católica foi essencial para a promoção desta. Na demonstração dessa tese eu primeiro resumi muito dos recentes trabalhos históricos que mostram que a religião não causou a “Era das Trevas” – O conto de que após a queda de Roma uma longa noite de ignorância e superstição teria se estabelecido sobre a Europa. De fato, a Idade Média, foi uma era de profundo e rápido progresso tecnológico no final da qual a Europa ultrapassou o resto do mundo. Além disso, a chamada Revolução Científica do século XVI foi o resultado dos desenvolvimentos iniciados pelos escolásticos no século XI. Portanto, minha atenção inclinou-se para o porquê de os escolásticos interessarem-se pela ciência. Por que a desenvolveram na Europa durante esse período? Por que não desenvolveram outra coisa? Eu achei as respostas a estes questionamentos nas características sem iguais da teologia católica.”
Estas não são palavras de um católico, não são palavras de um “lobista” da religião. Ao contrário, elas vêm da boca do sociólogo e historiador Rodney Stark, e elas aparecem em um livro que escreveu para a editora da Universidade de Princeton. Além disso, ele ressalta que “foi o cristianismo e não o protestantismo que sustentou a ascensão da ciência”; e que “alguns de meus argumentos centrais já se tornaram convencionais entre os historiadores da ciência.”
Neste artigo, vamos defender as afirmações de Stark explicando, primeiramente, o que era necessário para a ascensão da ciência, em seguida, porque esta ascensão não aconteceu antes da Idade Média e por fim, porque a teologia católica deu origem a ciência. (Continue a ler)
Matteo D'Amico
Sínodo da Amazônia
Um comentário do Instrumentum Laboris
fonte: Courrier de Rome, Julho-Agosto de 2019
Irmãs da FSSPX
“Paciência e tempo fazem mais do que a força e o ódio”, escreveu La Fontaine. Se há algum domínio onde esse ditado se verifica, é sem dúvida na educação das crianças. Do primeiro choro até o momento dela se tornar adulta, uns vinte e cinco anos se passarão. E assim como o tricô é feito linha a linha, a edução se faz dia a dia.
Paciência na instrução
É desnecessário querer tudo imediatamente. Só poderemos pedir da criança aquilo que é realmente capaz de fazer ou de aprender a fazer. Por exemplo, com uma criancinha, o momento presente ocupa toda a sua atenção; ela não sabe, ou talvez não sabe bem, colocar-se no futuro e prever as consequências a longo prazo dos seus atos, e por isso é tão imprudente.
"João tem seis anos, voltou da escola sem o gorrinho ou sem as luvas e estava nevando. Claro que brincou de jogar bolas de neve durante o recreio com as mãos descobertas e, naturalmente, pegou um resfriado". É inútil repreendê-lo por sua imprevidência, pois essa cadeia de eventos ainda o ultrapassa completamente. É inútil, do mesmo modo, tentar motivar o seu irmão mais velho de doze anos falando na possibilidade de receber um diploma “cum laude” na faculdade. Nessa idade, tudo isso parece longe demais, enquanto que a partida de futebol com os amigos possui uma atração mais imediata.
Contudo, quando uma criança se torna capaz de cumprir uma tarefa, não ajuda em nada tratá-la como um bebe e não cobrar dela aquilo que pode dar.
"Aos oitos anos de idade, Cecília nunca fez a própria cama, e jamais arrumou a mesa! Isso porque sua mãe não percebe que a menina está crescendo e não lhe ocorre pedir essas coisas a ela. Por sorte, uma breve estadia na casa da tia Joana arranjou as coisas, uma vez que ela pôde comparar-se com as primas. Na mesma oportunidade, sua mãe também percebeu que ela pode ser bem mais exigente com o Antônio, que já fez seis anos, no modo como ele se comporta na Missa. O seu primo, que tem a mesma idade, fica quietinho e já até começa a acompanhar a Missa com o seu livrinho de primeiras orações".
Não espere resultados imediatos
A educação é um trabalho de longo prazo. Não se deve esperar que uma criança corrija suas falhas imediatamente.
“Já falei vinte vezes para você lavar as mãos antes de vir para a mesa!” protesta a mãe. Coragem! O hábito talvez só surja após a vigésima-primeira ou a quadragésima advertência. Devemos demonstrar para com as crianças a mesma paciência que Deus demonstra por nós adultos, que tantas vezes confessamos os mesmos pecados. Contudo, “ser paciente” não significa “desistir”. Continuemos a implorar pelo bem sem nos cansarmos com a lentidão do progresso, sem nos desencorajarmos com as falhas de hoje que preparam as vitórias de amanhã.
"Por temperamento, o Sr. Dupont realmente não percebe a necessidade de colocar cada coisa no seu lugar. Quando tinha dez anos de idade, sua mãe regularmente encontrava o conteúdo da sua mochila largado no chão da sala, e suas meias sujas sob a cama; seu pai não se cansava de mandá-lo tirar a bicicleta da frente da garagem e pô-la em outro lugar. Graças a Deus — e para sorte do sr. Dupont — os seus pais perseveraram. Hoje, sem nenhuma obsessão, sabe organizar as suas coisas sem perturbar a harmonia da casa."
A educação é um trabalho de longo prazo, de modo que nem tudo está perdido se comete um erro — por exemplo, se cometemos algum exagero. O que é um incidente isolado comparado a vinte anos de afetos, cuidados, bons exemplos e boas influências?
"Paulo está bem no meio da crise da adolescência; às vezes ele é tão irritante que o seu pai já chegou a perder a paciência e dizer a ele coisas que nunca deveria dizer. Sem dúvida é lamentável, e seu pai pode experimentar a sensação de ter posto tudo a perder. Mas não, nem tudo está perdido. Paulo sabe no fundo que seus pais o amam, e que foi ele que exasperou o seu pai com sua atitude”. O Espírito Santo dá, aos pais que sabem pedir-Lhe, o conselho das coisas que devem ser ditas.
A educação é um trabalho de longo prazo cujo resultado os pais nem sempre conhecem. Temos um indício do resultado no momento em que as crianças se firmam no mundo. No entanto, mesmo com a melhor educação do mundo, a criança permanece livre, sim, livre para escolher o mau e desprezar o bem. Vemos crianças nascidas em boas famílias que se “tornam más”, abandonam a prática religiosa ou vivem de modo imoral. Contudo, os pais não devem se desencorajar: o que foi semeado na infância virá algum dia à tona. Por isso é importante não mimar as crianças, não deixá-las fazer o que quiserem aos três ou quatro anos de idade: os primeiros anos preparam os anos futuros.
Por outro lado, que grande consolação para os pais verem seus filhos formando um lar sólido ou respondendo a uma vocação sacerdotal ou religiosa! Essas crianças que possuem suas vidas “bem-sucedidas” perante Deus formam a coroa de honra desses pais, no tempo e na eternidade.
Pe. Davide Pagliarani - FSSPX
Revmo. Pe. Pagliarini - Superior Geral, eventos importantes deverão ocorrer até o final do ano, como o Sínodo da Amazônia e a reforma da Cúria Romana, que terão uma repercussão histórica na vida da Igreja. Em sua opinião, que lugar eles ocupam no pontificado do Papa Francisco?
A impressão que muitos católicos tem atualmente é a de que a Igreja está à beira de uma nova catástrofe. Se fizermos uma retrospectiva, o próprio Concílio Vaticano II só foi possível porque foi o resultado de uma decadência que afetou a Igreja nos anos que precederam sua abertura: uma barragem se rompeu sob a pressão de uma força que já operava há algum tempo. É isso que permite o sucesso das grandes revoluções, porque os legisladores apenas aprovam e sancionam uma situação que já é um fato consumado, pelo menos em parte.
Assim, a reforma litúrgica foi apenas o resultado de um desenvolvimento experimental que remonta ao período entreguerras e que já havia penetrado em grande parte do clero. Mais próximos de nós, neste pontificado, a Encíclica Amoris lætitia foi a ratificação de uma prática, infelizmente, já presente na Igreja, especialmente no que diz respeito à possibilidade de comunhão às pessoas que vivem em estado de pecado público. Hoje a situação parece madura para outras reformas de extrema gravidade. (Continue a ler)
Pe. Mathias Gaudron, FSSPX
1. HÁ HOJE UMA CRISE NA IGREJA?
Seria preciso cobrir os olhos para não ver que a Igreja Católica sofre uma grave crise. Esperava-se, nos anos 1960, na época do Concílio Vaticano II, uma nova primavera para a Igreja, mas o que aconteceu foi o contrário. Milhares de padres abandonaram seu sacerdócio; milhares de religiosos e de religiosas retornaram à vida secular. Na Europa e na América do Norte, as vocações se tornam raras, e não se pode nem mais computar o número de seminários, conventos e casas religiosas que tiveram que fechar. Muitas paróquias permanecem sem padre, e as congregações religiosas devem abandonar escolas, hospitais e asilos para idosos. “Por alguma fissura, a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus” – essa era a queixa do Papa Paulo VI, em 29 de junho de 1972 . (Continue a ler)