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Category: ComunismoConteúdo sindicalizado

O Reavivamento marxista no Ocidente

Luís Roldán

[Nota da Permanência - Em face da confusão generalizada que se espalha pela América do Sul, propomos o seguinte artigo sobre as táticas usadas pelos comunistas. A foto ao lado é da paróquia La Asuncíon, Chile, vandalizada ontem, 8/11/19] 

 

Como é possível que, vinte anos depois da queda do comunismo, o marxismo continue a ser uma das ideologias políticas mais fortes? Para entender isso, temos de falar de um escritor muito próximo de nós: Antonio Gramsci, que tentou empreender uma reformulação completa do marxismo, especialmente do ponto de vista tático-político.

 

O Marxismo de Gramsci

Quem era Antonio Gramsci? Antonio Gramsci era um italiano nascido na Sardenha no final do século XIX. Ainda moço foi viver em Turim, cidade industrial do norte da Itália, onde se tornou professor de colégio primário, trabalhou também como operário, como jornalista, e tornou-se ativista político. Fundou, com Palmiro Tolgliatti e outros, o Partido Comunista Italiano, e teve seus segundos de glória quando o triunfo de Lênin na Rússia, em 1917, seguido pelo fim da Primeira Guerra Mundial e pelo redesenho do mapa europeu pelos tratados de Saint Germain e Versalhes, encorajou as tentativas de revolução comunista em quase todos os países da Europa. Na Alemanha, com a efêmera República Soviética da Baviera; na Espanha, com a chamada ‘Semana Trágica’; até mesmo a Argentina não ficou imune às repercussões. Entretanto, ao contrário do que aconteceu na Rússia, a tentativa de uma luta de classes na Itália levou não Gramsci, mas sim Mussolini ao poder. E uma das primeiras medidas de Mussolini foi banir o partido Comunista e prender todos os seus líderes, entre os quais estava Antonio Gramsci. Ele passou seus últimos oito anos de vida na cadeia, e lá morreu de pneumonia, em 1937. Foi durante esse tempo que ele escreveu a maior parte da sua obra política. A obra dele, Cadernos do Cárcere, não é tão sistemática quanto a de Marx. (Continue a ler)

A Escola de Frankfurt e a Revolução Cultural


 

Em termos gerais, podemos distinguir dois tipos de revolução:

- Revolução política: é a que visa obter o poder mediante o uso de violência e terror. Nesta classe se incluem a Revolução Francesa (1789-93) e a Revolução Russa (1917).

- Revolução cultural: nesta se demolem as bases da civilização (a cultura, os costumes, a religião, a moral, a hierarquia de valores, etc.) dentro da nação que se deseja subjugar. É uma ação de longo prazo conduzida sem violência física, segundo a fórmula: “As formas modernas de subversão são suaves”. [1]  Leia mais

 

Leão XIII e o Comunismo

Alexandre Bastos

Intra muros

Uma antiga tradição diz que São Pedro, ao deixar Roma para fugir das perseguições promovidas por Nero, viu Nosso Senhor andando em sentido contrário, com uma cruz nas costas. Quo vadis, Domine? (Aonde vais, Senhor?), perguntou o primeiro dos papas. “Vou a Roma para ser novamente crucificado”, respondeu Jesus. Com esta resposta, não apenas indicou a Pedro o que devia fazer naquele momento, mas estabeleceu um critério para todos os papas futuros: “Vá a Roma para ser crucificado”. A loucura da cruz — para empregar os termos do Apóstolo — é a medida de todos os pontificados.

Na história da Igreja, muitos papas cumpriram fielmente este ideal, a começar por São Pedro, que voltou a Roma para ser literalmente crucificado. Vieram em seguida os santos Lino, Anacleto, Clemente, Calixto, Ponciano e uma longa lista de papas que morreram por Cristo. Nos tempos modernos, surgidos sob o estandarte da liberdade, Pio VI morreu sequestrado pelos revolucionários e Pio IX bebeu um cálice amargo antes de terminar seus dias prisioneiro no Vaticano. Pas de liberté pour les ennemis de la liberté!

Quando Leão XIII recebeu a Tríplice Coroa, a maçonaria, que é a igreja da Revolução, ganhara a adesão dos Estados modernos e os erros do socialismo e do liberalismo justificavam a guerra à Igreja: queriam expulsá-la da vida pública e subordiná-la aos detentores do poder. De um ponto de vista temporal, a situação era desesperada: os Estados Pontifícios haviam sido invadidos, os bens da Igreja, espoliados, e já não havia os recursos financeiros que o Patrimônio de São Pedro proporcionava a toda a Igreja.

Nenhum papa viveu tão longamente a dolorosa situação de prisioneiro como Leão XIII. Nos vinte e cinco anos do seu pontificado, jamais pôde deixar o Vaticano, e até mesmo a bênção Urbi et Orbi era dita internamente, desde uma janela que dava para os jardins — único lugar em que o pontífice ainda podia abençoar o mundo livremente. A cruz do seu pontificado será, pois, a tentativa de restaurar, para si mesmo e para toda a Igreja, a liberdade perdida.

Mas não se deve pensar que fosse desprovido de consolações: era um papa de enorme vida interior. O cardeal Luigi Lambruschini, que conheceu o jovem Joaquim Pecci nos seus tempos de estudante, dizia que ele se parecia com um anjo, e Santa Teresinha do Menino Jesus, que o viu celebrar a Santa Missa numa peregrinação a Roma, elogiou a “sua ardente piedade, digna do Vigário de Jesus Cristo”.

Ora, a menina que tinha pressa de ser santa, relata em suas memórias o seu encontro com Leão XIII no Vaticano:

“Um instante depois, eu estava aos pés do Santo Padre. Tendo eu beijado seus pés, ele me apresentou a mão. Em vez de beijá-la, pus as minhas e, levantando para o rosto dele meus olhos banhados em lágrimas, exclamei: "Santíssimo Padre, tenho um grande favor para pedir-vos!..." Então, o Soberano Pontífice" inclinou a cabeça de maneira que meu rosto quase encostou no dele e vi seus olhos pretos e profundos fixarem-se sobre mim e parecer penetrar-me até o fundo da alma. "Santíssimo Padre", disse, "em honra do vosso jubileu, permiti que eu entre no Carmelo aos 15 anos!..."

A impressão deste encontro foi tal, que ela se esqueceu de ir embora: “A bondade do Santo Padre me animava e eu queria falar mais, mas os dois guardas tocaram-me polidamente para fazer-me levantar”.

 

Já está pronto, moço?

Em março de 1810, na pequenina cidade do Carpineto romano, a poucos quilômetros de Roma, nascia o sexto filho do Conde Ludovico Pecci e da Condessa Ana, o pequeno Vincenzo Gioacchino Raffaele Luigi Pecci Prosperi Buzzi. Os pais vislumbravam um grande futuro para o seu mais novo filho. “Quero fazer dele um general”, disse o conde. “Fará dele um papa”, respondeu a mãe.

Desde a primeira infância, Nino, como era chamado, dava provas de um gênio agudo e de uma vontade insaciável de saber. “Quero aprender a ler e escrever como o sábio de Aquino”, dizia o pequeno. Sua trajetória acadêmica foi espetacular. Iniciou os estudos aos oito anos de idade, mas, aos doze, já compunha versos em latim, hábito que manterá até o último dia de sua vida. No Colégio dos Jesuítas de Viterbo, era insuperável em oratória e retórica, e ganhou muitos prêmios pelo seu desempenho em matemática, química, filosofia e teologia. Amante da poesia, seus livros preferidos eram a Divina Comédia, que sabia recitar de cor do primeiro ao último verso, e a Eneida.

Ele continuou seus estudos em Roma, onde descobriu e aprendeu a amar a doutrina de Santo Tomás de Aquino, a quem chamava “o Arquimandrita dos teólogos” 1. Por aquele tempo, reinava o ecletismo nas escolas e seminários, que já foram comparados a uma “loja de argumentos”. Não que se ensinassem erros, como viria a acontecer com a crise modernista, mas já não se ensinava um sistema único, forte e coerente para enfrentar os diversos sistemas filosóficos surgidos desde Descartes. Mais tarde, o Papa Leão XIII trabalhará com afinco para corrigir esta situação, que transmite aos alunos “uma filosofia nada firme, estável e forte como as de antigamente, mas sim fraca e vacilante. E se, por acaso, ela alguma vez não se encontra à altura dos golpes de seus adversários, deveria reconhecer ser ela mesma a culpada por este estado de coisas.”

Estudava da manhã até a noite, apaixonadamente. Um colega de escola o descreveu assim: “Durante os seus estudos em Roma, ele não conhecia companhias nem diversões. Sua mesa era o seu mundo, a investigação científica, seu paraíso”. Aos 22 anos, Joaquim Pecci tornou-se doutor em teologia, mas, para não interromper seus estudos, ingressou na Academia dos Nobres Eclesiásticos. Desejava aperfeiçoar a sua teologia, desejava instruir-se no Direito Civil e Canônico, desejava estudar. Todo este esforço faria com que o ilustre filho de Carpineto se tornasse um dos homens mais brilhantes de seu tempo. Não foi por outra razão que o historiador de filosofia Etienne Gilson escreveu: “Leão XIII entrou na história da Igreja como o maior filósofo cristão do século XIX, e um dos maiores de todos os tempos” — o que não é dizer pouco.

Por aquele tempo, surgiu a questão da vocação religiosa. “Já está pronto, moço?”, perguntou-lhe, certa feita, o Cardeal Sala, amigo da família e seu protetor. O estudante não conseguia decidir-se entre o sacerdócio e a política, que será sempre seu calcanhar de Aquiles. Embora profundamente devoto, a piedade paterna, o desejo de tornar ilustre o nome de sua família, fazia com que adiasse indefinidamente a tomada de ordens. Foi preciso que a Providência destravasse de modo particularmente doloroso as molas de heroísmo escondidas no coração do rapaz.

No ano de 1837, logo após perder o pai, Joaquim Pecci caiu gravemente enfermo durante uma epidemia de cólera. Contavam-se numerosas vítimas nas ruas de Roma, e o moço não duvidava de que seria uma delas. Porém, graças a vigorosos tratamentos médicos, recuperou a saúde. Ato contínuo, decidiu ajudar os padres nos cuidados com os doentes e, sem ser médico ou enfermeiro, passava os dias nas cabeceiras dos moribundos. “Se hei de ser contado entre as vítimas”, escreveu então, “curvo minha cabeça em submissão aos desígnios do Altíssimo, a quem já consagrei minha vida em expiação dos meus pecados. Aconteça o que acontecer, meu coração está perfeitamente tranquilo”.  

A carreira política já não fazia o menor sentido para ele e, no mês de dezembro daquele ano, recebeu as três ordens maiores.

 

Do sacerdócio ao Conclave

À grande capacidade intelectual de que era dotado, Joaquim Pecci unia uma vontade de ferro. Foi esta a razão de o Papa Gregório XVI o ter nomeado tão jovem como delegado apostólico da cidade de Benevento, no Reino de Nápoles. Os habitantes daquele lugar sofriam, por um lado, uma bandidagem cada vez mais ousada e, por outro, a extorsão dos que lhes cobravam por proteção. Como num filme Western, o futuro papa fez prender os bandidos e salvou a cidade em tempo recorde.

Aos 31 anos foi nomeado para um cargo político, tornando-se núncio apostólico junto à corte de Bruxelas. Seu desempenho foi decepcionante. Após apoiar o episcopado belga de cariz liberal contra as políticas do Rei Leopoldo I, foi formalmente repreendido pelo Cardeal Luigi Lambruschini, que dizia “esperar que doravante saiba corresponder melhor à confiança de que é depositário”. Sua experiência na Bélgica durou pouco: voltou à Itália em 1846, ano da eleição de Pio IX.

Por um período de 32 anos, ou quase todo o reinado do Papa da Imaculada, Joaquim Pecci ficou “esquecido” na pequena diocese de Perúgia, na região da Umbria. Embora haja quem atribua ao Cardeal Giacomo Antonelli, Secretário de Estado de Pio IX, a responsabilidade pelo exílio de Pecci, é fato que o papa então reinante não nutria grande simpatia pelo seu futuro sucessor.

Naqueles anos, contudo, algo de realmente importante estava em curso: a restauração do tomismo, promovida em Itália pelos padres da Civiltà Cattolica, Matteo Liberatori, Sordi e Taparelli, mas com repercussões em toda a Europa. O bispo de Perúgia, entusiasmado pelo autor da Suma Teológica desde a mocidade, como vimos, não poderia ficar alheio ao movimento. Assim, reformou todo o currículo do seminário local a fim de conformá-lo à doutrina do Aquinate e fundou uma Accademia di San Tommaso d’Aquino, com o objetivo de refutar os erros do tempo.

Mesmo distante da Cúria romana, Dom Joaquim Pecci conseguiu destacar-se em meio ao episcopado italiano, de modo que, quando chegou a Roma em 1877, nomeado Cardeal Camerlengo, já era apontado como um papabile.

No início de fevereiro de 1878, Pecci foi chamado às pressas. Conforme os ritos, entrou vestido de púrpura nos aposentos em que o papa era velado pelos penitentes de São Pedro. Ajoelhou-se então para entoar o De Profundis, retirou-lhe a coberta do rosto e, com um martelo de prata, tocou-lhe três vezes na face, chamando-o pelo nome de batismo: “Giovanni!”, “dormisne?” (dormes?). Encerrado o ritual, o futuro papa declarou que Pio IX estava morto.

 

“Viva papa Leone!”

Poucos dias depois, numa sala escondida do mundo, encerrou-se em apenas dois dias o primeiro conclave realizado após a ocupação de Roma. Os cardeais aproximaram-se do homem que já não era um seu igual, e usava na cabeça uma mitra ornada de diamantes e, no dedo, o anel do pescador. O novo papa, sentando-se no trono de Pedro aos 67 anos de idade, gemia: “Sou idoso e fraco, não posso carregar este fardo. O que me espera é a morte e não o pontificado!”. Seu papado, no entanto, seria um dos mais longevos da história, estendendo-se por 25 anos.

Saltavam aos olhos as diferenças entre o novo pontífice e seu predecessor. Pio IX era um homem de aspecto majestoso e temperamento ardente, enquanto Leão XIII, muito magro, muito pálido, parecia um asceta. Pio IX era um orador, sentia-se à vontade em meio a multidões e falava muito espontaneamente. Leão XIII era um escritor, amava a solidão e, perfeccionista, revisava até o último momento os seus belos e profundos escritos. Pio IX era homem de ação: na juventude, quisera fazer-se missionário nas Américas. Leão XIII era um intelectual e uma alma profundamente política.

Nesta última frase encerram-se dois aspectos marcantes do seu pontificado. O primeiro, sublime e inteiramente bem-sucedido, é assinalado pelo seu Magistério, que, continuando e elaborando a obra de seus predecessores, causou forte admiração no mundo católico. O segundo aspecto expressa-se pela sua política, que rompe com a de Pio IX com resultados desastrosos. 

Esse primeiro aspecto nunca foi melhor traduzido que pelo epíteto Il Papa Caesareo, que o povo romano lhe atribuiu. O termo Caesareo aqui não guarda relação direta com os imperadores da antigüidade, mas significava o mesmo que sublime. E realmente o foi: as cerimônias em São Pedro nunca foram tão requintadas; não dispensava os mais rigorosos protocolos e as pompas; e para locomover-se sua preferência recaía na Sedia Gestatória. Todo esse aparato não poderia ser mais conveniente, após terem espoliado o Papado da soberania temporal. Contudo, este papa nunca foi mais sublime do que em seu Magistério, que fez Roma resplandecer como a verdadeira lux mundi num século culpado de racionalismo.

Um dos seus primeiro atos como papa foi reorganizar a biblioteca e os arquivos do Vaticano, abrindo-os aos estudiosos e dotando a sua estrutura com um corpo de lingüistas, arqueólogos, numismatas, orientalistas, paleógrafos, enfim, uma verdadeira elite de homens eminentes nos estudos históricos. Enganar-se-ia, porém, quem julgasse tratar-se de mero beletrismo. Não! A sua intenção era combater os erros modernos, transformar Roma numa trincheira intelectual contra as doutrinas nefastas do racionalismo e do naturalismo — tão combatidas pelos seus predecessores — e seus dois rebentos: o liberalismo e o socialismo.

É nesta linha que devemos compreender a sua ação pela restauração do tomismo, “um dos principais títulos de glória de Leão XIII”, segundo dele escreveu São Pio X. Como papa, fundou uma segunda Academia Santo Tomás de Aquino (1880), reeditou as suas obras completas (é a chamada edição leonina), proclamou-o patrono das escolas católicas (1880) e nomeou ainda, para todas as escolas e universidades romanas, professores tomistas. Leão XIII convidará Louis Billot para vir lecionar na Gregoriana e, pouco depois, o Padre Sertillanges começará a lecionar em Paris. Mas a obra decisiva para a restauração do tomismo foi a grande e eruditíssima Encíclica Aeterni Patris, que suscitou uma tempestade de protestos na imprensa contrária à Igreja. Nela, Leão XIII faz o elogio de Santo Tomás e assinala a preferência da Igreja pela doutrina do grande santo:

“Entre todos os doutores escolásticos, porém, brilha, com uma luz sem igual, o príncipe e mestre de todos, Tomás de Aquino, o qual, como observa o Cardeal Caetano, ‘por ter venerado profundamente os santos doutores que o precederam, herdou, de certo modo, a inteligência de todos’. Tomás coligiu suas doutrinas, como membros dispersos de um mesmo corpo; reuniu-as, classificou-as com admirável ordem, e de tal modo as enriqueceu, que tem sido considerado, com muita razão, como defensor especial e honra da Igreja. De espírito dócil e penetrante, de fácil e segura memória, de perfeita pureza de costumes, levado unicamente pelo amor da verdade, prenhe de ciência divina e humana, justamente comparado com o sol, aqueceu a terra com a irradiação de suas virtudes e encheu-a com o resplendor de sua doutrina.” (Aeterni Patris)

O combate do pontífice traduziu-se numa sucessão de encíclicas admiráveis: foram 64 em 25 anos de Pontificado, número superior à soma do que terão produzido seu predecessor e seu sucessor2. Mas não é o aspecto material —seja a quantidade de documentos, seja a perfeição literária — o que mais nos impressiona, e sim a profundidade da doutrina e o rigor da exposição.

Muito industrioso, Leão XIII não se poupava absolutamente — trabalhava por até 16 horas seguidas — assim como não poupava os seus assessores mais próximos. Conta-se que, muitas vezes, ele os “trancava” o dia inteiro na sua biblioteca particular, fazendo-os pesquisar algum ponto de doutrina ou aprimorar a redação de algum documento. Poderíamos aplicar ao próprio papa o que ele escreveu da Igreja: “Inimiga nata da inércia e da preguiça, deseja grandemente que o exercício e a cultura façam o gênio do homem dar frutos abundantes” 3.

As encíclicas não eram traduzidas, mas redigidas diretamente em latim pelo papa — diz-se que, desde Urbano VIII, nenhum pontífice manejou com tanto esmero a língua da Igreja. Revisor incansável, levantava-se à noite para corrigir uma pontuação ou trocar uma palavra. E depois de tudo ter sido exaustivamente meditado, revisado e ponderado, trancava o documento acabado numa gaveta e esperava: patiens quia aeternus (paciente porque é eterno). O resultado, para além da renovação tomista, foram os monumentos que inauguraram a doutrina social da Igreja, condenaram o comunismo, o liberalismo, a escravidão, o americanismo, a maçonaria e tantos outros erros e males.

A profecia de São Malaquias atribui ao glorioso Pio IX um título bastante conveniente, Crux de cruce. Realmente, foi um papa cumulado singularmente de tribulações, e chegou a ser chamado, ainda em vida, de “o Papa da Cruz”. Não é menos apropriado o nome atribuído a Leão XIII: Lumen in Caelo, luz no céu.

 

AS RUÍNAS DO SOCIALISMO

Temos um especial interesse em nos debruçar sobre o magistério de Leão XIII, em ouvir atentamente as lições que, com tanta ciência, ele próprio quis nos transmitir, pois nas suas encíclicas encontramos remédio para muitos dos males que atormentam o triste e confuso mundo moderno.

Trataremos aqui apenas da sua doutrina sobre o comunismo e o socialismo, tal como exposta em Quod Apostolici Muneris, deixando para outra oportunidade os demais aspectos da doutrina e da política deste grande pontífice.

 

Vigilância dos papas

Leão XIII é freqüentemente maltratado pelos comentadores, que mudam-lhe as feições a ponto de torná-lo irreconhecível. Chamam-no democrata, coisa que nunca foi; liberal, quando é um dos principais autores da doutrina anti-liberal da Igreja; socializante, mas talvez seja o papa mais violentamente anti-comunista que jamais se sentou na Cátedra de Pedro.

Há uma história na origem deste último equívoco. Nos tempos que antecederam imediatamente a publicação da sua Rerum Novarum, havia de um lado um grupo de católicos que, reunidos na Bélgica em torno de Charles Périn e, na França, em torno de numerosos escritores, destacava-se pelo valente combate contra o socialismo, mas a custo de abraçar em maior ou menor medida as idéias liberais. De outro lado, havia um grupo minoritário reunido em torno de Dom Gaspard Mermillod, chamado “União de Friburgo”, que buscava em Santo Tomás os alicerces para uma doutrina social. Leão XIII favoreceu este último grupo, e os católicos liberais começaram imediatamente a acusar ao papa e a sua doutrina social de “socializante”. Anos após sua morte, intelectuais deram seqüência às acusações e, por sua vez, os progressistas adoraram: seqüestraram Leão XIII, reivindicaram-no como se fosse um dos seus.

Ao se falar em comunismo, é preciso elogiar a vigilância da Igreja e, em especial, dos Papas do século XIX. Pio IX foi o primeiro a condenar repetidamente o comunismo, verberando-o, entre outros documentos, no Syllabus e na Quanta Cura de 1864, documento munido de todas as notas da infalibilidade. Note-se que, na ocasião, Karl Marx ainda era vivo, e não tinha cinqüenta anos sequer. Nas biografias consagradas ao Papa da Imaculada, lê-se que certa feita alguém lhe disse temer pelo desenvolvimento do comunismo na Inglaterra. Pio IX respondeu não acreditar que o comunismo despontaria lá, e sim no Leste. Foi o que de fato aconteceu, com a União Soviética.

Leão XIII foi ainda mais combativo. O papa inquietava-se tremendamente com o comunismo e socialismo, e guardou suas mais violentas palavras para condená-los. Em 1849 — O Manifesto Comunista acabara de ser publicado — o então Cardeal Pecci, bispo de Perúgia, numa pastoral redigida por ele, declarou estar disposto a arriscar a própria vida em defesa do direito de propriedade:

“Mas como, no século em que estamos, ataca-se com particular violência a unidade e a absoluta necessidade da Fé, a autoridade dos poderes legítimos e o direito de propriedade adquirido com justiça, queremos solenemente professar estas verdades e, quanto de nós depender, defendê-las com o risco da nossa própria vida.” (o destaque é nosso)

E por aqui já se vê que a condenação ao Comunismo por Leão XIII é de natureza muito mais profunda do que tudo o que fazem atualmente as nossas direitas. Ele não o condenou pelo rastro de sangue que o comunismo certamente produziu, pelos seus cem milhões de mortos, pela razão de que, no século XIX, a trajetória de crimes comunistas mal começara. Antes, Leão XIII condenou de modo implacável o socialismo e o comunismo pelo fato de estas ideologias perseguirem um fim mau em si mesmo. Por essa razão, e com compreensão e presciência admiráveis, já estavam elas inapelavelmente condenadas antes de reduzirem populações inteiras à miséria, antes de produzirem os mais graves crimes dos tempos modernos. Não foi por outra razão que outro papa haveria de fulminar a seita declarando que o comunismo é intrinsecamente perverso (Pio XI - Divini Redemptoris).

Para demonstrar a largueza de visão de Leão XIII, cito uma passagem quase profética da Rerum Novarum (1891) — a tal encíclica socializante — em que o Papa indica inequivocamente que a implantação do socialismo engendraria, além da perturbação de toda a sociedade, a escravidão e a miséria (grifos meus):

Mas, além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas conseqüências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como conseqüência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.

Ora, não há nada de equivalente no tratamento dispensado ao capitalismo. Que se aponte uma menção sequer a ele no Syllabus de Pio IX. Não há! A Doutrina Social da Igreja não vai no sentido de uma condenação in toto do capitalismo, e é essa a razão de uma frase menos conhecida de Pio XI sobre ele, capaz por si só de resolver muitos equívocos: “É evidente que ele não é condenável de per si” (Quadragesimo Anno).

Mas nada seria capaz de provar melhor a intransigente oposição leonina ao socialismo e ao comunismo do que a encíclica Quod Apostolici Muneris, publicada nos primeiros meses de seu Pontificado. Eis aqui algo realmente digno de nota: eleito papa, Leão XIII não viu nada melhor a fazer nos primeiros meses do seu pontificado do que condenar de modo solene e cabal o comunismo e o socialismo. Insisto: a sua condenação ao comunismo, reiterada em dezenas de documentos posteriores do seu pontificado, não apenas antecede as suas condenações ao liberalismo e à maçonaria, mas até mesmo a promoção do tomismo.

 

As três ruínas

A encíclica abre com um discurso duríssimo:

“Obedecendo ao dever do Nosso cargo apostólico, não deixamos (...) de apontar esta peste mortal que se introduz como a Serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana, e a coloca num perigo extremo (...).

“Vós compreendereis facilmente que Nos referimos a essa seita de homens que, debaixo de nomes diversos e quase bárbaros, se chamam socialistas, comunistas ou niilistas, e que, espalhados sobre toda a superfície da terra (...) se esforçam por levar a cabo o desígnio (...) de destruir os alicerces da sociedade civil. É a eles, certamente, que se referem as sagradas letras quando dizem: ‘Eles mancham a carne, desprezam o poder e blasfemam da majestade’ (Jd 1,8).”

Sim, essa seita de “homens pérfidos” quer levar à ruína três ordens distintas da sociedade civil: a política, a economia e a organização social. E intentam contra elas, sempre segundo o papa, do seguinte modo:

  • Arruína a ordem política semeando a revolta “por meio de uma nuvem de jornais” contra as autoridades legítimas e mesmo contra os “próprios chefes das nações”;
  • Arruína a ordem econômica ao combaterem “o direito de propriedade, sancionado pela lei natural”;
  •  Arruína a ordem social ao se insurgirem contra o laço sagrado do matrimônio, princípio e base da sociedade, e pregarem o igualitarismo, ou seja, a “igualdade absoluta de todos os homens, no que diz respeito aos direitos e deveres”.

Este último ponto, sobre o igualitarismo, pede uma explicação. Há certamente uma igualdade de natureza entre os homens, pois possuímos todos a mesma natureza humana, assim como existe uma igualdade de destinação, pois somos todos chamados “à mesma e eminente dignidade de filhos de Deus”. Porém, é igualmente verdadeiro que, como ensina o papa, “a desigualdade de direitos e de poder provém do próprio Autor da natureza”. Ora, assim como Deus quis que houvesse distinção e subordinação até mesmo entre os anjos do céu, ou nas diferentes partes do corpo humano, assim também a sociedade foi estabelecida com várias ordens distintas em dignidades, direitos e poderes, “a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais nobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum”.

Aqui convém citar um belo trecho de Gustavo Corção, onde o grande escritor desenvolve com poesia a nossa radical oposição ao igualitarismo:

“A sociedade de nossos sonhos terá a medida de sua perfeição na riqueza das diferenciações enquadradas na mais forte e vitoriosa unidade moral. O mundo que nós desejamos não é o pesadelo de uniformidade desejado pelos marxistas. Ao contrário, é um mundo de diferenças exaltadas, em que a criança seja plenamente infantil, o homem plenamente varonil, e a mulher plenamente mulheril. O mundo que nós desejamos restaurar é, em poucas palavras, aquele em que a natureza das coisas seja esplendidamente afirmada, e em que tudo se valorize pelo que tem de genuíno. O pão será pão e não pedra. O leite será leite, e não um equívoco líquido esbranquiçado. A poesia será poesia, e não um pretexto de andar na vida sem regras morais. E tudo o mais será assim, verídico e autêntico.4

 

Do Liberalismo ao socialismo

A origem de tais doutrinas socialistas e comunistas não é outra que o naturalismo e o racionalismo, propugnado pelos filósofos iluministas do século XVIII. Pois foi recusando de antemão a revelação divina e toda a ordem sobrenatural que franquearam as portas a todos os delírios da razão. Daí também se originaram os Estados modernos, constituídos “sem fazer caso algum de Deus, nem da ordem por ele estabelecida”.

Em outra encíclica, Leão XIII apontara a mesma origem, a mesma paternidade para o liberalismo: “E, com efeito, o que são os partidários do naturalismo e do racionalismo em filosofia, os fautores do liberalismo o são na ordem moral e civil” 5. Donde resulta o estreito parentesco entre tais doutrinas, que desempenharão cada qual um papel na história: o liberalismo vem primeiro e, afastando de Deus as sociedades, prepara-as para a mais perversa das tiranias, o socialismo. Este parece ser o pensamento de Leão XIII:

“Daquela heresia [i. é, o protestantismo] nasceram no século passado uma filosofia falsa, o chamado direito novo, a soberania popular e uma descontrolada licença, que muitos consideram como a única liberdade. Daqui chegou-se a esses erros recentes que se chamam comunismo, socialismo e niilismo, peste vergonhosa e ameaça de morte para a sociedade civil” (Diuturnum Illud).

Compreende-se que não é possível combater eficazmente o socialismo a partir do liberalismo: seria como tentar esfriar uma chaleira sem tirá-la do fogo. Escreveu Gustavo Corção:

“Qualquer estudioso, que digo? qualquer distraído, se ainda souber ver alguma coisa, sabe que o liberalismo amolecedor, sendo uma perversão que relativiza a Verdade e o Bem em favor de uma categoria definida pela indefinição, só pode entregar o homem a suas fraquezas internas e a seus inimigos externos. A penetração do socialismo e do comunismo nos meios católicos seria impraticável sem a penetração do liberalismo (...)

“O liberalismo corre atrás do comunismo como a matéria corre atrás da forma, ou como, segundo Aristóteles, corre a fêmea atrás do macho. O mole ceticismo liberal tem a nostalgia das definições, tem a nostalgia dos dogmas, sem os quais a alma humana não respira. Se os não quer divinos, amolda-os com o barro humano, se não os suporta revelados por Deus, fabrica-os. Não podendo, na religião deles, voltar ao cristianismo, o liberalismo sonha amores com o comunismo, e tem desejo de se sentir coberto por algo que seja duro e definido.” 6

Ainda nesse ponto, escreveu Dom Marcel Lefebvre: “Guardemos então esta inegável verdade histórica e filosófica: o liberalismo leva, por inclinação natural, ao totalitarismo e à revolução comunista.” 7  E São Pio X escreveu sobre “os princípios subversivos do liberalismo e dos seus dignos filhos, o socialismo e a anarquia”.

É fácil ver como o liberalismo prepara a sociedade para as três ruínas apontadas na encíclica. Na ordem política, ao negar que seja Deus a origem e a fonte da autoridade política, subtrai desta última todo seu vigor e lhe atribui o mais débil dos fundamentos, a soberania popular. A liberdade de imprensa e de ensino coloca nas mãos dos maiores inimigos da sociedade, os comunistas, os instrumentos de que tanto precisavam para levar adiante os seus planos funestos. Na ordem econômica, se o Catolicismo defende a propriedade privada como um direito natural, se proíbe, com o décimo mandamento, a mera cobiça dos bens alheios, o liberalismo, ao fundar a propriedade privada no Estado, tido como a expressão da vontade geral, estatiza toda a propriedade no seu princípio mesmo. Na ordem social, o liberalismo promove o igualitarismo e destrói o mais doce dos cativeiros, a sociedade doméstica, ao erigir a liberdade como valor supremo. Assim, começa por reduzir o matrimônio a mero contrato civil, para em seguida instituir o divórcio e, finalmente, abrir as portas para toda sorte de perversões.

 

Se os mortos não ressuscitam...

Voltemos à Encíclica. O papa prossegue sua lúcida exposição e, depois de segregar as origens da pérfida filosofia comunista, analisa o componente psicológico, ou a motivação por trás daqueles que a abraçam: e aqui entramos num problema de importância capital. Ora, se não há Revelação, se não há sobrenatural, também não haverá céu nem vida eterna. Toda a felicidade estará circunscrita aos limites da vida presente, e terá de ser realizada aqui e agora. É como dizia o Apóstolo (1Cor 15, 32): se os mortos não ressuscitam, então “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”. O problema pessoal da miséria reclama uma solução espiritual. Na ausência dela, o homem torna-se vítima de toda espécie de rancor, e já não haverá nada que impeça os desvalidos do mundo, que são sempre maioria, de se coligirem para avançar sobre os bens dos ricos. É o que ensina o papa: “não é para admirar que os homens de ínfima condição, cansados da pobreza de suas casas ou pequenas oficinas, tenham inveja de se elevarem até aos palácios e à fortuna dos ricos; não é para admirar que já não haja tranqüilidade na vida pública e particular, e que o gênero humano já tenha chegado quase à borda do abismo.”

A força do socialismo está na impossibilidade de uma sociedade descristianizada encontrar uma solução para o problema pessoal da pobreza. E se alguns economistas louvam a livre iniciativa, atribuindo-lhe o poder de extirpar a miséria, outros dão de ombros e declaram com cinismo que “no longo prazo, todos estaremos mortos”, antes de comunizar um pouco mais os bens de todos.

Continua o papa: “os sectários do socialismo, apresentando o direito de propriedade como uma invenção humana que repugna à igualdade natural dos homens, e reclamando o comunismo dos bens, declaram que é impossível suportar com paciência a pobreza e que as propriedades e regalias dos ricos podem ser violadas impunemente.” A solução para esse mal não poderá ser encontrada longe da Igreja, e terá de passar pela reconversão dos povos. É de espantar que, estando nossa Mãe e Mestra muda, as idéias socialistas não parem de crescer, mesmo após a queda do muro de Berlim? Citemos a Encíclica:

“E quando reconhecerem que, para afastar esta peste do socialismo, a Igreja possui uma força como nunca tiveram nem as leis humanas, nem as repressões dos magistrados, nem as armas dos soldados, tratarão de restituir logo à Igreja condição e liberdade tais, que possa exercer esta força tão salutar para o bem comum de toda a sociedade humana.”

Mas as classes operárias não seriam induzidas a abraçar os erros nefandos do socialismo, se não houvesse uma organização que se encarregasse de doutriná-las e de excitar os rancores: esse é o papel da maçonaria e demais associações secretas. Por isso recorda o Papa as numerosas advertências dos seus predecessores contra elas, advertências que jamais foram levadas em consideração. E afirma que tudo teria se passado de modo diferente, se tivessem agido de outro modo.

E conclui ordenando aos bispos combater o socialismo: “É necessário, além disto, que trabalheis para que os filhos da Igreja Católica não ousem, seja debaixo de que pretexto for, filiar-se na seita abominável, nem favorecê-la.” Infelizmente, aqui também podemos dizer que, se essas advertências tivessem sido levadas em consideração, tudo teria se dado de modo diferente!

***

Pode-se compreender que alguém insuficientemente familiarizado com a doutrina da Igreja, ao ver a defesa de governos e idéias esquerdistas pela Conferência episcopal brasileira, venha a julgar que tudo isso guarde alguma relação com a doutrina santíssima da Igreja. Isso é evidentemente falso. O que ocorreu dentro da Igreja, na esteira da reviravolta antropocêntrica promovida pelo Segundo Concílio do Vaticano, foi uma terrível demissão do episcopado. Narra Corção:

“... desde o princípio deste século o surgimento dos socialismos e dos humanismos em meios cristãos tomou dimensões de intolerável insolência; mas ainda em 1936, o cardeal primaz da Espanha, no seu histórico apelo lançado ao mundo católico, teve o apoio de todos os bispos do mundo, e assim promoveu a mais numerosa unanimidade da hierarquia católica jamais registrada.

“Ora, menos do que trinta anos depois (trinta anos, um sopro!), nós, isto é, os mesmos espectadores da unanimidade de ontem viram, durante o Concílio, um espetáculo aterrador. Relendo um livro que fez sucesso na época, O Reno se lança no Tibre, ou o mais recente e importante Un Évêque Parle, de Dom Lefebvre, vemos que somente depois de uma árdua campanha puderam uns poucos bispos obter a assinatura de uma exígua minoria para a confirmação das condenações anteriormente formuladas por tantos papas (...)”8

Ora, depois de declarar que “... o Concílio dirige agora a atenção de todos [...] para algumas necessidades mais urgentes do nosso tempo, que profundamente afetam a humanidade (...)”9, o Vaticano II recusou-se vergonhosamente, escandalosamente, a renovar as condenações ao mais grave flagelo dos tempos modernos. Eis o contraste: o que Leão XIII fez quando o comunismo estava longe de possuir a organização doutrinal e prática que mais tarde viria a ter, o Concílio não fez quando já tinha meio mundo devorado. Esta omissão foi na verdade o resultado de uma tratativa, o chamado Acordo de Metz, como hoje se sabe10.

  1. 1. Na Divina Comédia (Paraíso, canto XI, verso 99), São Francisco de Assis é chamado de “Arquimandrita”, uma palavra composta de dois radicais gregos que, combinados, significam “o primeiro dentre os pastores”.
  2. 2. Com efeito, Pio IX publicou 43 Encíclicas e São Pio X, 15.
  3. 3. Immortale Dei
  4. 4. Gustavo Corção, Teologia da História, Ed. Permanência, 2015.
  5. 5. Encíclica Libertas Praestantissimum - grifos meus.
  6. 6. Idem, pág. 48.
  7. 7. Dom Marcel Lefebvre, Do Liberalismo à Apostasia, pág. 31. Editora Permanência, 1991.
  8. 8. Gustavo Corção, Uma Teologia da História, págs 49-50. Editora Permanência, Niterói, 2015.
  9. 9. Gaudium et Spes
  10. 10. A esse respeito, ver L’Accord de Metz, ou pourquoi notre Mère fut muette, Jean Madiran, Via Romana, 2006.

Karl Marx e Satã

Gustavo Corção

Numa excelente revista belga, Bulletin Indépendant d´Information Catholique, no. 150 – número especial com que se despede dos leitores, não podendo manter-se pela simples e clara razão de ser excelente – li um artigo cuja difusão me parece um imperativo dos tempos presentes. Trata-se da recensão do livro Karl Marx et Satan recentemente publicado nas Edições Paulinas – Apostolat des Editions – pelo judeu convertido ao cristianismo Richard Wurmbrandt, que sofreu na URSS muitos anos de trabalhos forçados em razão de sua fé cristã. Se último livro é revelador de relações estreitas entre o satanismo e o comunismo, que o autor considera como uma encarnação política do Demônio. Segundo A. d´Arian, diretor da revista e autor da recensão, a obra é digna de atenção com algumas reservas no plano da doutrina católica. As linhas que se seguem são de transcrição:

“Muito piedoso desde a sua mocidade, Karl Marx, da alta burguesia israelita, faz um pacto com Satã. Aos vinte anos surge no mundo das letras com um poema intitulado Oulamen, anagrama de Emanuel, no qual lêem-se esses versos: “Quero construir parar mim um trono nas alturas”, que repetem quase literalmente as palavras de Isaías (14, 13), “subirei aos céus, e colocarei meu trono acima dos astros de Deus”, que se referem a Lúcifer.

 

“Num outro poema, A Virgem Pálida, o miserável ousa escrever: – Já perdi o Céu; minh´alma, outrora fiel a Deus, está marcada para o inferno.

 

“Nessa época, Karl Marx combatia as idéias socialistas na revista alemã Rheinische Zeitung, escarnecendo ao máximo da classe operária. Mas, espantado, recebe a advertência de Moses Heff de que o socialismo pode ser uma boa isca para atrair os intelectuais e as massas para o seu ideal diabólico. O amigo convenceu-o. Fiéis a essa idéia, os soviéticos, desde a primeira hora, tomarão como lema: – Expulsemos os capitalistas da terra e Deus do Céu!

 

“Foi com Bakunine que Marx fundou a Ia. Internacional. Ora, Bakunine escrevia: – Satã é o primeiro livre-pensador, é o Salvador do Mundo que liberou Adão imprimindo em sua fonte o sinete da liberdade fazendo-o desobedecer. (Deus e o Estado).

 

“O mesmo Bakunine escrevia ainda: – É preciso incutir o Diabo na alma dos homens, e despertar neles as paixões mais torpes.

 

“E para que despertar as paixões do povo? Para permitir ao Diabo arruinar a obra do Criador. Marx diz isto sem a menor cerimônia: – Como um Deus criador, irei ao acaso entre as ruínas do mundo, sentindo-me igual ao criador.

 

“E assim, sem a menor preocupação pelo bem dos operários, Marx sonha incarnar-se no anjo rebelde para arruinar o mundo.

 

“Preguiçoso e dado a bebidas, Marx vivia na dependência de Engels, que, com benevolência, assume a paternidade do filho natural que Karl teve com sua empregada.

 

“Sempre apertado em dinheiro, Marx vive a esperar as heranças. Recebendo notícias da enfermidade grave de seu tio, escreve a Engels: “Se o cão morrer me tirará de embaraços”. E em 8 de março de 1855, sabendo da morte exclama: “Excelente notícia!”

 

“Diante do caixão de sua mãe, em 1863, demonstra a mesma alegria. Outro sinal diabólico pode-se constatar na sua correspondência com Engels sempre entremeada de obscenidades.

 

“Karl Marx morre desesperado no dia 25 de maio de 1883, depois de ter traçado estas palavras: -- Como a vida é vã e vazia”. A empregada que presenciou sua agonia observou que sua testa estava amarrada com uma fita longa, e que o moribundo se entretinha com um personagem invisível diante de uma fileira de velas acesas. Esse rito derradeiro teria alguma significação mágica para obter, daquele a quem se entregara, um suplemento de vida? Será o comunismo um enfeitiçamento coletivo?”

Antes de ter chegado à conclusão extrema de um pacto com Satã, como Richard Wurmbrandt, já publicamos em artigo de Itineraires, março de 1977, algumas reflexões que mostram o caráter violentamente negativo e destrutivo do anarquismo. Eis o texto:

Já observamos que, para a maioria das pessoas, os socialistas e anarquistas são vistos como homens apaixonados pela realização e atingimento de um ideal. Eles mesmos, para uso esterno (e talvez para internamente se enganarem a si mesmos antes de enganarem os outros), nos prometem um Novo Mundo, chegando até a nos proporem a mutação que nos trará o Homem Novo.

Ora, o Estudo mais atento, não somente da história, mas também das obras-primas de ficção que a história imita, nos revela a verdadeira figura desse fenômeno monstruoso. Percebe-se então que essas violentas correntes históricas, na verdade, não são movidas pela força de um ideal ardentemente desejado, mas pela força propulsora de uma rejeição em jato. Sim, pela força peristáltica de uma recusa. Acima de qualquer objetivo mais ou menos próximo, o anarquista põe sempre o desejo absoluto de um repúdio.

Para os descendentes de Bakunine e para os possessos de Dostoievski, a revolução é antes de tudo uma recusa absoluta e uma rejeição total. De que? Antes de mais nada recusa daquilo-que-aí-está, recusa da obra herdada, recusa da tradição, de todas as identidades impostas pelo real, recusa do ser, recusa de Deus. Donde tiram o soberano desprezo que eles manifestam pelos mornos, impuros ou utópicos sonhadores de conquista do poder para domínio dos acontecimentos e para a subsequente perfeição da obra herdada e continuada, como aquele pobre Jaurès que, em 1914, derramou o mais estéril dos sangues. Não resisto a tentação de colorir esse texto com a transcrição de uma página de Roger Martin du Gard, em Les Thibault, onde um de seus personagens revolucionários nos faz esta profissão de fé:

“—O domínio dos acontecimentos? Rosnou Mithoergh com gestos desordenados, dumkopf! A instauração de um novo regime só se pode imaginar sob a pressão de uma catástrofe num momento de Krampf espasmódico coletivo em que todas as paixões se tornam furiosas... Apenas marcado por um sotaque germânico, seu francês era correto, martelado, áspero. – Nada de novo pode ser feito sem esse élan que é dado pelo ódio. E para construir é preciso primeiro que um ciclone, um Wirbelsturm, tenha tudo destruído, tudo nivelado, até os últimos escombros! Mithoergh pronunciara essas palavras de cabeça baixa, numa espécie de desinteresse que ainda as tornava mais terríveis. Erguendo a cabeça arrematou: — Tabula rasa, tabula rasa”.

(O Globo, 6/5/78)

Politicamente correto, o que é?

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

 

Definição comum

O politicamente correto, normalmente, é definido como “evitar formas de expressão ou ações que excluam, marginalizem ou insultem grupos de pessoas que estão socialmente desavantajadas ou que sofrem discriminação” (Dicionário de Oxford)

Essa definição normal apresenta o politicamente correto como uma louvável expressão da lei da caridade fraterna, mas seus efeitos mostram que essa definição pode ser gravemente enganadora.

 

Os efeitos

Exemplos do poder destrutivo do politicamente correto são incontáveis: feministas que creem, sinceramente, que o aborto é uma questão de saúde, crianças tendo contato com pornografia e contracepção na idade mais tenra por parte do Estado para sua proteção, pobres crianças suicidas que realmente creem que podem decidir seu sexo, negação do Direito Natural pelo Judiciário, a perpétua re-escrita da história para transformar nossos ancestrais em monstros, demonização dos Santos e da Igreja Católica. A lista prossegue indefinidamente.

 

Verdadeira definição

O politicamente correto é uma aplicação do marxismo cultural através da qual a civilização é deliberadamente minada por meio da supressão legal e moral do direito do indivíduo de recorrer ao bom senso e à tradição (ou seja, à cultura).

 

Background

O marxismo econômico, de um lado, alega que toda a história é determinada pela propriedade dos meios de produção. Se se puder adquirir os meios de produção, adquire-se, enfim, poder absoluto. O marxismo cultural, de outro lado, alega que toda a história é determinada pelo poder de certos grupos sobre outros grupos. Conquistar o poder absoluto, portanto, é possível através de um processo de fortalecimento de certos grupos em detrimento de outros. Politicamente correto é o nome dado ao instrumento pelo qual essa revolução se torna realidade.

Os teóricos marxistas Antonio Gramsci, da Itália, e George Lukacs, da Hungria, alegaram que o fracasso da Revolução Russa (1917) em se espalhar por toda a Europa se deveu ao apego das classes trabalhadoras à cultura ocidental, que era definida pelo Cristianismo. O triunfo do marxismo econômico não seria possível, portanto, até que a cultura ocidental fosse destruída.

Em 1923, um think-tank dentro da Universidade de Frankfurt formou-se na Alemanha para definir o marxismo em termos culturais e recebeu o nome de Instituto para a Pesquisa Social, para esconder seus objetivos marxistas. O think-tank foi forçado a mover-se para os EUA quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, mas, no final dos anos 1930, o instrumento do politicamente correto estava quase pronto.

 

Como  funciona

1. Certos grupos são apresentados por uma “autoridade” (a mídia, o Estado, grupos ativistas) como sendo vítimas de opressão por outros grupos. Os grupos vítima são definidos com base em sua origem, suas características físicas ou comportamento (ao qual eles têm um direito absoluto de acordo com a “autoridade”) e, em alguns casos, realmente são grupos que sofrem opressão real

2. A “autoridade” rejeita a compreensão usual do mundo, que é definida pela cultura (incluindo o significado comum das palavras), e adota uma visão binária do mundo, na qual toda ação é interpretada como sendo a favor ou contra um dos seus proclamados grupos vítimas

3. A “autoridade” acusa abertamente qualquer um que julgue ter agido contra o grupo vítima (de acordo com a autoridade), mas essa conclusão não se baseia em nenhum ato em si mesmo, nem nas intenções dos acusados, nem nas circunstâncias dos fatos, mas no dano causado aos sentimentos das vítimas (de acordo com a conclusão da “autoridade”)

4. Um brado de fúria é insuflado e termina por ser aceito por quem teme ser objeto de semelhantes acusações (incluindo legisladores)

5. Indivíduos saudáveis, então, terminam adotando o mindset da aberrante “autoridade” por medo, desejo de ser acolhido, ou apenas por hábito; legisladores aprovam leis para “proteger” o grupo vítima, assim destruindo os princípios do bom senso e da tradição e consagrando, na lei, uma nova moralidade e um novo “pensamento”. A “autoridade”, assim, recebe poder para levar a revolução adiante.

O processo é eficiente porque apela para um senso natural de justiça no homem comum (p. ex., punir alguém que debocha de uma criança aleijada), mas é traiçoeiro porque uma “autoridade” oculta se torna apta a:

(a) inserir uma nova moral na sociedade (assim rompendo os laços da sociedade com seu bom senso e sua cultura) através de uma onda de falsas indignações morais

(b) julgar os outros baseando-se em sentimentos subjetivos, e em fatos reais; e

(c) demolir, brutalmente, a oposição sem qualquer justiça ou direito de contraditório.

 

Definição real

A definição real, portanto, pode ser mais ou menos assim: “O politicamente correto é a deliberada provocação de uma indignação moral desproporcional com o propósito de remover qualquer oposição a uma nova ordem social”

O politicamente correto é a tirania mascarada de caridade fraterna. Seu uso tem sido fundamental para uma revolução muito pior que a Reforma que dividiu a Cristandade há 500 anos atrás. Estamos vivendo uma destruição indiscriminada dos restos da civilização ocidental (cristã).

 

O remédio

O remédio para o politicamente correto não é atacar os grupos de vítimas, reais ou fabricadas. O remédio é (a) bom senso, cultivado por boas leituras, estudo e oração, para conhecer a verdade; (b) entender como o politicamente correto funciona; e (c) coragem sobrenatural para defender a verdade mesmo que o mundo inteiro esteja contra você.

(Ite Missa Est)

A Revolução Cultural de Mao

Marcel Clément

 

Não pretendem estas páginas recapitular a história do comunismo, mas sim considerar sua filosofia, sua estratégia e seus métodos multiformes na medida em que essas coisas, no seu conjunto tendem a solapar a civilização humana e cristã. Nessa perspectiva, o “Maoísmo”, além de aperfeiçoar as técnicas psicológicas de Lenine, levou a intuição revolucionária até as mais extremas conseqüências, trazendo à tona a noção de revolução cultural.

Forjando essa noção, Mao separou-se do Marxismo-Leninismo clássico. Para este último, a cultura aparecia como uma simples superestrutura inconscientemente..., inocentemente secretada pela classe social. Mao não vê as coisas assim. Para ele a cultura é forjada cinicamente pela classe social como uma arma da qual se serve para defender seus interesses.

Descanse em paz, Coronel Ustra

Dom Lourenço Fleichman OSB

O anúncio de seu falecimento, meu Coronel, juntamente com a tristeza pela perda do homem exemplar, do herói nacional, trouxe-me um sentimento de alívio quando pensei que o senhor está, neste momento, isento das maldades dos homens, das vinganças sórdidas dos nossos inimigos.
Hoje o senhor se apresentou no santo Tribunal da Justiça divina. A fé católica nos dá a certeza de que a Justiça divina é isenta de erros, e não conhece a maldade e a mentira. Nas portas do Paraíso não há mídia, nem jornalistas a forjar processos de exceção nas próprias páginas dos jornais, onde covardemente o julgaram tantas vezes, passando sentenças iníquas e mentirosas.
Tenho certeza que o senhor se apresentou hoje, diante do Chefe supremo e infinito, diante do Deus dos Exércitos, diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo criou e que sentado em seu trono de glória, julgará esse mundo pelo fogo, com o mesmo brio e honra que marcaram sua carreira militar, laureada pelos mais altos serviços prestados à nossa Pátria brasileira.
Bem sei, Coronel, na minha qualidade de sacerdote e de pastor de almas, que todos nós devemos temer o juízo divino por causa dos nossos inumeráveis pecados, cometidos ao longo de nossa vida. Bem sei o quanto a bondade divina nos agraciou ao instituir por Nosso Senhor Jesus Cristo, o sacramento da Penitência que reconcilia com Deus o pecador arrependido, e nos permite receber em paz o Pão dos Anjos, descido do Céu, e presente na Sagrada Eucaristia.
Mas não entram na lista do exame de consciência os atos de bravura, de obediência, de oferecimento de sua vida por amor à Pátria, na terrível guerra que nosso Exército empreendeu contra o terrorismo comunista que nos ameaçava arrogante e cruel. Ah! Não! Esses atos foram da mais pura virtude, e serviram à Deus, à família e à Pátria. Tanto é assim que eu tenho certeza de que, se lhe fosse pedido pela obediência a seus superiores e à Lei divina, que o senhor continuasse por mais tempo combatendo o bom combate pelo Bem Comum, para salvar o Brasil do hediondo mal do comunismo, o senhor o faria sem tremer, com a mesma galhardia que manifestou em seus tempos de juventude e fortaleza. 
Todos sabem o quanto o senhor foi escolhido pela mídia tendenciosa e pelas organizações do mal que pululam em nossa Pátria, para servir como “bode expiatório” contra a sede de vingança dos derrotados dessa guerra. De nada adiantou o senhor escrever dois livros provando que eles mentiam, que a senhora Bete Mendes mentiu, que os jovens e crianças que o senhor ajudou e que depois o atacaram em traição e ingratidão mentiram ao abrirem processos contra o senhor. De nada adiantou o senhor mostrar as fotos da mãe com seu filhinho recém-nascido, os dois em plena saúde, saudáveis e pacíficos. Hoje essa gente volta à mídia para repetir o perjúrio e a calúnia. Falam do livro A Verdade Sufocada como sendo “a visão do Cel Ustra sobre os acontecimentos”, escondendo dos leitores que se trata de uma coleção de provas documentais sobre a maldade dessa gente que assassinavam inocentes, e queriam estabelecer no Brasil, eles sim, a horrenda ditatura do proletariado, comunista, cubana e soviética. 
Hoje choram os estúpidos porque perderam o saco de pancadas que elegeram para seu desvario. E nós sorrimos, Coronel Ustra, por mais esta vitória contra aqueles que o perseguiram e perseguiram o Brasil. 
Não perderei o seu tempo nesse início de eternidade, narrando outros absurdos que estão saindo na maldita imprensa desse país. É dela que o senhor ficou livre para sempre, visto que suas mentiras já não o atingem, e não convém mancharmos estas páginas com tal mesquinharia. Mas gostaria de lhe dizer o quanto os brasileiros de boa índole, o bom brasileiro que em 1964 marchou aos milhões para agradecer a Deus pela vitória das nossas Forças Armadas, despreza essas notícias tendenciosas e se despede do senhor como eu o faço aqui.
Gostaria de acrescentar uma pequena explicação sobre o artigo que escrevi há alguns anos atrás. Seu título era: Carta Aberta ao meu General. Ele fora inspirado na Carta ao General X, escrita pelo grande Antoine de Saint Exupery. Naquela ocasião eu usei a patente errada para preservar o meu Coronel. Hoje, estando o senhor longe das garras dessa gente má, posso dizer que foi para o senhor que escrevi aquela Carta e que vem reproduzida aqui.
De resto, aos que partem dessa vida na paz de Deus, resta-nos ainda a oração, o rito, a santa liturgia católica, que de modo solene e profundo canta nesse dia: Requiem aeternam dona ei Domine, et Lux perpetua luceat ei – Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno; e a luz perpétua o ilumine.
Requiescat in Pace! Descanse em paz, Coronel Ustra!

(Leia também Carta Aberta ao meu General)