Category: Anônimo
Em meio à crise do COVID e enquanto a França saia do confinamento no verão de 2020, um evento passou despercebido, apesar de merecer um pouco mais de atenção: trata-se do anúncio de um "Great Reset" global por Klaus Schwab, presidente-fundador do Fórum Econômico de Davos. De que se trata? Por que agora? Quais os objetivos declarados ou ocultos da "elite mundial" que se comprime em Davos? Muitas perguntas precisam ser respondidas, ainda que pela influência deste Fórum e de seu fundador, cujas afirmações nunca são sem importância.
I. O GRANDE RESET
1. APRESENTAÇÃO GERAL
“The Great Reset” é uma ideia exposta por Klaus Schwab em um livro publicado em meados de 2020, com o título COVID 2019: the Great Reset (A Grande Reinicialização) . Aparentemente, o livro é apenas um ensaio de estilo tecnocrático, tal como os que abundam nas bibliotecas dos organismos internacionais.
No fundo, o título do livro é deliberadamente provocativo, sem que o leitor saiba de imediato se está diante de uma decisão já tomada por órgãos globalistas ou de uma proposta a ser implementada. Nesse sentido, o título não é tranquilizador: reinicialização de quê? recomeçando do zero? quem decidirá? o que está em jogo?
A leitura do livro dá algumas respostas, sendo a ideia principal do autor a de aproveitar a crise do COVID-2019 para repensar o mundo e fazê-lo retomar sobre novas bases. Mas vários pontos permanecem suspeitos:
⦁ A palavra 'reset / reinicialização' não foi bem escolhida, porque embora a crise do COVID represente um choque, o mundo permanece por enquanto um continuum: os governos seguem os mesmos de antes (infelizmente), assim como os bens econômicos (embora afetados) e as populações (embora vitimadas). Trata-se na verdade de uma "reconfiguração" e não uma "reinicialização", a menos que se trata das nossas contas bancárias... mas essa ideia não é mencionada no livro;
⦁ Deve a reconfiguração do mundo ser imposta de cima para baixo, por meio de cenáculos secretos e pensadores sem nenhuma legitimidade política, ou deve vir de baixo, ou seja, daqueles que estão em posições de comando (governantes) e daqueles que lhes estão sujeitos (as populações)? Seria então necessário falar de debates públicos, referendos e subsidiariedade, palavras que causam horror nos globalistas (“O povo, que horror”);
⦁ "Repensar o mundo" é um propósito prometeico, digno de cérebros inflados de orgulho, que existem apenas nas imediações de círculos próximos ao inimigo da humanidade. Deus não pediu para o homem "repensar o mundo", mas apenas cuidar dele e usá-lo em seu próprio benefício.
Também podemos nos surpreender com a publicação deste livro em pleno desconfinamento, logo após a "primeira onda" e antes mesmo que as lições desse evento fossem aprendidas pelos Estados, como se todas as análises que nele aparecem tivessem sido escritas antecipadamente e o livro já estivesse pronto há muito tempo. A propósito, é muito oportuno que o livro venha a ser publicado a tempo do 50° aniversário Fórum de Davos, que ocorrerá em 2021 durante a sessão de janeiro (de 25 a 29).
2. Conteúdo do livro
O livro está estruturado em três partes reveladoras, em que a economia tem primazia em tudo:
- a reinicialização vista de um ângulo muito geral (“reset macro”) nos campos da economia, da sociedade, da geopolítica, do meio ambiente e da tecnologia;
- a reinicialização vista de um ângulo mais detalhado (“reset micro”), que diz respeito principalmente ao mundo dos negócios e da indústria;
- reinicialização vista de um ângulo individual (com seus efeitos sobre nossa natureza e saúde), que na verdade é apenas uma subdivisão da 2ª parte (microanálise).
Em questões econômicas, o autor enfatiza que as epidemias têm sido historicamente oportunidades para impulsionar a economia. Ele acredita que o declínio que geram é uma oportunidade de refletir sobre o mito do crescimento. Ao seu ver, há oportunidade para configurar uma economia mais verde. Ele se inquieta igualmente com as consequências monetárias que a crise acarreta, pelo aumento dos déficits e pela distribuição descontrolada de dinheiro (“helicopter money "), mas não acha que possa haver inflação ainda.
Nas questões sociais, o COVID revelou as falhas de sistemas muito liberais, como os anglo-saxões (Estados Unidos e Reino Unido), que oferecem cobertura social bastante frágil aos mais pobres. Corre-se o risco de acentuar desigualdades e agravar as tensões sociais, sobretudo as preexistentes (por exemplo, o “Movimento dos coletes-amarelo" na França), em particular no tocante aos jovens, em grande parte vítimas desta crise (educação, emprego, recursos). Deve-se também sublinhar o papel do Estado e dos governos na fase de recuperação, o que será acompanhado de um aumento de impostos.
Em termos de geopolítica, o autor sai de sua neutralidade para expor imediatamente o perigo dos nacionalismos, "o fim caótico do multilateralismo" (p. 79) e "a erosão da mundialização" (p. 80). Ele sublinha o perigo desta evolução que tem aumentado pelo COVID, ilustrado pelo fechamento das fronteiras e aumento do protecionismo Reconhecendo o fracasso da hipermundialização propôe uma posição de recuo, focada na tomada de consideração das questões sociais e ambientais. Ele lamenta o risco da ineficácia da governança global, ilustrada em particular durante a crise do COVID, quando cada estado tentou encontrar uma resposta nacional e os Estados Unidos denunciaram a OMS. Aponta para o risco de confronto entre os Estados Unidos e a China, a retirada progressiva dos Estados Unidos do cenário internacional e o risco de um “Déficit de ordem mundial” (p. 80), ao mesmo tempo que encoraja uma posição mediana, a da regionalização.
Em questões ambientais, o COVID se soma aos riscos preexistentes das mudanças climáticas e da destruição de nosso ecossistema. O autor vê ligações entre esses três riscos, uma vez que o pangolim (sic), tendo deixado seu habitat natural, teria transmitido o vírus COVID e a poluição do ar favoreceria doenças. Deduz-se, portanto, que a crise da COVID deve ser uma oportunidade para repensar o equilíbrio entre o homem e a natureza e estimular uma economia mais verde e livre de carbono.
No campo tecnológico, a crise da COVID mudou a situação e acelerou a digitalização da vida econômica: homeoffice, uso intensivo de smartphones etc. Os aplicativos de rastreamento COVID destacam a linha frágil entre o bem comum e a privacidade; esta crise, aliás, reforçou todos os meios de controle virtual. Lembrando que as medidas tomadas depois de 11 de setembro de 2001 ainda estavam em vigor nos Estados Unidos, o autor destaca o risco de distopia, ou seja, de um regime totalitário se intrometendo de forma ultrajante na vida privada.
No nível microeconômico, o autor vê mais uma vez o COVID como uma oportunidade para a indústria repensar seu funcionamento, embora seja pessimista no tocante a determinados setores (turismo, hotelaria, lazer). Os setores de produção de bens ou alimentos terão que se adaptar à digitalização (por exemplo através de sistemas de delivery). O fim da hiperglobalização colocou em questão a tercerização e as cadeias de abastecimento; a segurança deve triunfar sobre o lucro. Essa tendência também deve fortalecer o papel do Estado (nacionalizações, legislação trabalhista, gestão de estoques).
Finalmente, no nível individual, a pandemia tem uma dupla consequência: desenvolve mais o isolamento (confinamento) ao passo que aumenta a solidariedade. Em um nível mais amplo, o autor, mais uma vez, aponta o risco do nacionalismo e da busca de bodes expiatórios. Preconiza obviamente uma maior colaboração, que vai no sentido de uma maior inclusão global Também destaca o efeito da pandemia na saúde física e mental das populações, em forte deterioração. E termina com algumas notas positivas, estimando que essa crise pode nos ajudar a desenvolver mais nossa criatividade, relação com o tempo, frugalidade e retorno à natureza.
3. Conclusão
As ideias contidas neste livro são esperadas e muitas vezes de bom senso, mas suas conclusões são desviadas pelo objetivo principal do livro, repetido capítulo após capítulo: toda crise global deve ser uma oportunidade de fazer avançar o mundo em direção ao governo mundial:
As possibilidades de mudança e de [criação de uma] nova ordem resultante são agora ilimitadas e dependem apenas de nossa imaginação. (p. 16)
Devemos aproveitar esta oportunidade única para reimaginar nosso mundo. (p. 17)
Não há tempo a perder. Se não melhorarmos o funcionamento e a legitimidade de nossas instituições globais, o mundo logo se tornará incontrolável e muito perigoso. Ele não poderá ter uma recuperação duradoura sem uma estrutura de governança estratégica global.” (p. 86), o que equivale a desejar um governo mundial.
Este leitmotiv vem acompanhado de um aviso: não podemos tomar o caminho errado! O mundo está dizendo não à globalização e ao globalismo, o que seria dramático, na visão do autor.
Há, portanto, uma esperança neste livro: a elite globalista reconhece seu fracasso, e isso é altamente animador!
Vamos, portanto, examinar em mais detalhes qual era o plano global original.
II. UM PLANO GLOBAL QUE VAI MAL
O objetivo ideológico de avançar a todo o vapor rumo em direção a um mundo mais globalizado é conhecido há muito tempo.
1. Um plano antigo para o governo mundial
Sem voltar aos fariseus que desde muito cedo manifestaram seu desejo de governar o mundo por meio de um Messias terreno, a ideia de dominação mundial (para o bem da humanidade, é claro!) remonta pelo menos ao século XVI com os Rosa-Cruzes, a Comenius no XVII com seu "aerópago do mundo" e as conquistas anglo-saxônicas dos séculos 19 e 20, incluindo a criação da Liga das Nações em 1919 e da ONU em 1945.
A ideia de uma "Nova Ordem Mundial" "(NOM) também floresce neste período e a conclusão é oficialmente pronunciada pelo presidente Bush pai em 1990 no prelúdio da 1ª Guerra do Golfo (1991).
Desde aquela data, com uma regularidade suspeita, a cada dez anos, algum evento particular tem servido de gatilho para o estabelecimento de novas medidas de coerção globalistas. A crise COVID não escapa a esta regra.
2. As etapas do plano global
As etapas que estão sendo implementadas foram há muito tempo referidas em todos os tipos de documentos, qualificados geralmente como falsos e "conspiratórios" por aqueles que têm interesse em silenciá-los, mas que existem realmente como o Plano Pike , os Protocolos dos Sábios de Sião, a Ordem dos Bárbaros , O Comitê dos 300, os Protocolos de Toronto e a Aurora vermelha . É justamente interessante notar que as etapas descritas nesses planos sempre foram realizadas ou estão em processo de serem-no, o que nos faz pensar que são de fato autênticos, independentemente de sua origem.
21. Etapas já concluídas
Entre as mais significativas podemos citar:
⦁ controlar e perverter a sexualidade (contracepção, aborto, homossexualidade, pornografia...);
⦁ perverter os jovens por meio da música e das drogas;
⦁ autorizar o comércio aos domingos, para profanar o calendário;
⦁ controlar a imprensa e a mídia, para controlar a opinião pública;
⦁ criar crises econômicas para enfraquecer os Estados, torná-los dependentes do FMI por meio de dívidas;
⦁ promover o comércio internacional para isolar os países nacionalistas;
⦁ transferir reservas de mão de obra para novos países (China);
⦁ promover a imigração em massa para desestabilizar os países anfitriões;
⦁ criar um sentimento de insegurança e medo, em particular através do terrorismo;
⦁ fomentar guerras, privilegiar a força sobre o direito.
Qualquer observador intelectualmente honesto pode constatar que essas etapas foram cumpridas, sem precisar ser um conspirador hediondo.
2.2. Etapas em vias de realização
Se os franceses tivessem sido informados em 2019 que o Sr. Macron se preparava para os trancar em suas residências, com a obrigação de apresentar à Gestapo Nacional um Ausweib para deixar sua casa, quem tivesse declarado isso seria considerado um terrível conspirador (fascista-populista-reacionário, esses são os slogans de hoje)! No entanto, é isso o que estamos vivendo nos dias de hoje... Os anúncios dos globalistas de ontem são indicações das realizações de hoje.
Ora, entre as etapas descritas há décadas, algumas estão em processo de realização:
⦁ controlar a educação e abolir a educação privada;
⦁ promover a eutanásia;
⦁ reduzir o acesso à informação;
⦁ restringir autorizações de viagem;
⦁ contratar jovens recrutas sem cultura na força policial;
⦁ absorver as fortunas por meio de impostos e dívidas;
⦁ reduzir a circulação de dinheiro e promover o dinheiro eletrônico, para maior vigilância;
⦁ encorajar o ecologismo, para usurpar territórios em troca de perdão de dívidas ou impostos sobre carbono;
⦁ destruir a autonomia industrial dos países avançados e, em particular, sua independência energética (nuclear);
⦁ reduzir a diferença salarial e promover o salário universal;
⦁ estender o registro e a vigilância geral das populações;
⦁ controlar o comércio de armas de fogo para reduzir a capacidade de resistência das pessoas;
⦁ fabricar doenças mortais;
⦁ criar um tribunal mundial para estabelecer a supremacia globalista.
Mais uma vez, a evolução atual não se encaminha para um mundo mais livre e sereno, mas mais controlado e mais privado de liberdade. Nesse contexto, a crise do COVID atua como um acelerador formidável dessa tendência e atende a muitos objetivos globalistas: eliminação dos mais vulneráveis, restrição de viagens, vigilância generalizada, transferência de fortunas (da classe média para a oligarquia).
2.3. As etapas que ainda precisam ser cumpridas
Com base na realização das etapas anteriores, só podemos estar atentos à implementação das etapas restantes a serem cumpridas:
⦁ reduzir a população mundial;
⦁ limitar as famílias a 2 crianças, ou mesmo retirar as crianças
de seus pais;
⦁ Suprimir os médicos particulares;
⦁ suprimir religiões (especialmente o cristianismo) e fundi-las em uma só;
⦁ transferir as forças armadas nacionais para a ONU;
⦁ estabelecer um governo despótico, se necessário por meio da guerra ;
⦁ deter o poder mundial e fazer com que as pessoas o aceitem.
Essas constituem as etapas finais que permitirão a elite globalista finalmente alcançar o seu sonho: a dominação mundial, por meio da força, da economia, da justiça, da religião, tudo detido em uma só mão.
É esta fase do plano que atualmente vai mal, porque os povos ainda não estão prontos para esta ditadura insidiosa e começam a se rebelar: os povos europeus desconfiam cada vez mais de suas “elites” impostas e da falta de defesa do bem comum; desconfiam da União Europeia, considerada com razão como um Moloch frio e inútil; desconfiam do desemprego, da imigração, do terrorismo importado pela globalização.
O fato de o Sr. Klaus Schwab reconhecer isso é um avanço notável e prova que a bela engrenagem montada para subjugar as pessoas pode ter falhas. Este é o ponto que deve ser estudado agora.
III. AS ILUSÕES E INCOERÊNCIAS DA ELITE MUNDIAL
1. Cegueira e radicalismo devido ao orgulho
Não é hábito dos globalistas ter dúvidas: visto que estão persuadidos a trabalhar pelo bem da humanidade, como poderiam estar errados?
É esse orgulho de sempre estarem certos (apoiado no fato de que seu poder material lhes permite ir na direção de suas convicções) que lhes dá uma convicção insuportável, que já denunciava Cristo em seu tempo ("Vejo que este povo é de dura cerviz" - Ex 32, 9) e que ainda hoje encontramos em suas declarações e escritos, com muito excesso e presunção:
⦁ Nós teremos um governo mundial, gostem ou não. A única questão é se será criado por conquista ou por consentimento. (Paul Warburg, 17/02/1950)
⦁ Iremos juntos em direção a esta Nova Ordem Mundial e ninguém, afirmo ninguém, será capaz de se opor a ela. (Sarkozy, 16.01.2009, aos embaixadores)
⦁ Muitos de nós nos perguntamos quando as coisas vão voltar ao normal. A resposta curta é: “nunca” (Schwab - op. cit. p. 11)
⦁ O mundo que conhecemos nos primeiros meses de 2020 não existe mais, desfez-se no contexto da pandemia. Mudanças radicais acontecerão de tal forma que alguns especialistas chegam a referir-se a um período "anterior ao coronavírus "(BC) e" após o coronavírus "(AC) (Schwab - p. 11)
Também podemos notar a aparente onisciência globalista, que na verdade consiste apenas em descrever antecipadamente o que está planejado em sua agenda e que pode levantar questões sobre as reais causas dos acontecimentos:
[Este livro foi] publicado no meio da crise e no momento em que várias ondas de infecção são esperadas (Schwab, op. Cit. P. 17)
Esses três cenários plausíveis são todos baseados na hipótese básica de que a pandemia poderia continuar a nos afetar até 2022. (p. 33)
Este livro está estruturado em três capítulos principais, que oferecem uma visão panorâmica do cenário futuro. (Schwab, p. 17)
[Alguns imaginam] um retorno aos negócios como antes. Isto não acontecerá jamais. (Schwab, p. 131)
Enfim, essa arrogância de quem sabe tudo não seria a de quem pensa que sabe tudo porque pretende tudo dominar? As conspirações de uma elite que pressupõe governar o planeta, não existiriam, finalmente, na forma como o livro de Schwab parece indicar?
2. Uma hipocrisia mal dissimulada e seus erros
2.1. Hipocrisia
Podemos notar que em nenhum momento Klaus Schwab se questiona sobre a origem do vírus, sobre a sua natureza, ou sobre o motivo pelo qual apareceu na China em um laboratório fornecido pela França, embora esta questão seja essencial. O pangolim tem as costas largas.
Também ficaremos surpresos ao ver que Klaus Schwab não se pergunta sobre o porquê de a OMS ter alterado as condições para a definição de uma pandemia ao passo em que aponta acertadamente que as estatísticas demonstram que, em termos de mortalidade, a COVID-2019 não é uma pandemia. Esse ponto, nunca mencionado na mídia, é essencial:
No final de junho de 2020 (. ..), COVID-2019 matou menos de 0,006% da população mundial (...) [enquanto] a Peste Negra (1347-1351) é considerada como tendo matado entre 30 e 40% da população mundial na época. (Schwab, p. 188)
Também ficamos surpresos ao ver Klaus Schwab deplorar a evolução anárquica do mundo, sem nunca se lembrar de que a responsabilidade por essa anarquia recai tanto sobre ele quanto sobre seus amigos. Porque as crises que o mundo vive há 50 anos (guerras externas, terrorismo, crises econômicas repetidas, crises de saúde) são apenas o resultado de um mundo mais globalizado, mais aterrorizado, mais financeirizado, onde os dirigentes políticos não estão mais no controle do destino dos países que deveriam liderar, porque há muito delegaram suas responsabilidades a elites tecnocráticas incapazes, por serem ideólogos, em suma, amigos de Klaus Schwab. Como, então, repensar o mundo confiando em quem o destruiu?
Na verdade, todo o livro The Great Reset é um belo exercício de hipocrisia, pois se o autor lamenta em mais de 200 páginas as consequências desastrosas do COVID, ele se alegra ao dizer que se trata de uma grande oportunidade para repensar o mundo. Isso nos lembra as palavras daqueles globalistas cínicos, que antes dele expressaram o mesmo:
Tudo o que precisamos é uma grande crise apropriada e as nações aceitarão a Nova Ordem Mundial. (David Rockefeller, 23.09.1994)
A história nos ensina que a humanidade só evolui significativamente quando realmente tem medo. (...) A pandemia que começa [H1N1 na época] poderia desencadear um desses medos estruturantes. (J. Attali, artigo "Avançar pelo medo", L'Express, 17.05.2009, p. 138)
Para isso, teremos que criar uma força policial mundial, um estoque mundial e, portanto, um sistema tributário mundial. Chegaremos então, muito mais rápido do que a razão econômica apenas teria permitido, para colocar em ação as bases de um verdadeiro governo mundial. (Attali, ibid.)
Isso remete igualmente à máxima bem conhecida da maçonaria: “Solve et coagula” (dissolver e reconstruir). O Sr. Schwab pede-nos, portanto, sem pestanejar, que apliquemos este lema, com o sorriso no rosto....
2.2. Erros
No plano filosófico, Klaus Schwab mostra que é adepto da consciência livre e do relativismo, pois declara:
Como todas as noções de filosofia moral, a ideia do bem comum é difícil de definir e questionável. (p. 166)
Em suma, cada um com a sua verdade... Tanto mais para Klaus Schwab, um fervoroso defensor do evolucionismo, para quem o homem tem 200.000 anos e os vírus 300 milhões de anos (p. 17). 190.000 anos lascando pedras é muito tempo ...
Isso nos permite constatar que, quando olhamos para a lista de participantes nos círculos globalistas (Bilderberg, Davos, O Século...), não estamos lidando com uma verdadeira elite intelectual, merecedora de nossa consideração, e sim com um conjunto de pessoas inteligentes, mas intelectualmente deformadas, influenciadas pelas idéias da Revolução mental que infestam nossas universidades há 200 anos, que que não sabem mais raciocinar a partir da realidade dos fatos. Eles partem de si mesmos, de seus espíritos, da ideologia que foi instilada neles e que estão tentando aplicar, assim como o livro The Great Reset começa do ponto de vista MACRO (o de seus espíritos) e não MICRO (o da realidade).
As opiniões expressas por essas pessoas não são, portanto, pertinentes, porque são movidas pelos seus próprios interesses, e não pelos dos seus povos.
3. O falso domínio de uma agenda que derrapa
Por mais que a "elite" globalista repise as suas certezas, o trem louco globalista em direção a um futuro radiante e um amanhã ensolarado parece cada vez mais descarrilhado:
⦁ As guerras americanas no mundo são retumbantes fracassos vis-à-vis os objetivos declarados (levar a paz e a democracia aos países "obscurantistas"), seja no Iraque, Afeganistão, Síria, Venezuela etc.;
⦁ a luta contra o islamismo exibida pelos líderes europeus (Sr. Macron e Sra. Merkel na liderança) é, na realidade (e com uma notória inconsistência), acompanhada por uma intensificação da imigração graças ao Sr. Soros. Atualmente, o povo recusa essa hipocrisia e essa política antinatural;
⦁ a marcha forçada para o globalismo (cf. o inchaço perpétuo da UE) atingiu os seus limites e em 2016 viu os seus primeiros fracassos com o BREXIT, depois com a eleição do Sr. Trump nos Estados Unidos;
⦁ a hipermondialização não trouxe nenhum benefício para as pessoas (ao contrário das multinacionais) e apenas contribuiu para o endividamento de todos os Estados do planeta, o que não apenas salta aos olhos, mas acarreta uma dificuldade cada vez maior de governar.
Daí a pensar que a crise do COVID serviu como um disfarce maravilhoso para essa soma de incompetências, é um passo que não podemos dar, é claro. Mas isso talvez explique o porquê de cada nova crise ser sempre mais grave que a anterior: já que o paciente resiste, é necessário usar de uma dose sempre mais... Depois do 11 de setembro e do terrorismo (2001), o mundo conheceu uma crise financeira sem precedentes (2008), depois repetidas crises de saúde, depois crises sociais (imigração, 2015). O que falta, senão a guerra civil e a guerra mundial para impor aos povos o que eles recusam?
4. A reação dos povos ao totalitarismo
A boa notícia é que os povos se cansam de se passar por ovelhas prontas para o abate. As manifestações cívicas e os motins contra os governos estão a aumentar na Europa. A reação dos Gilets Jeunes (Coletes Amarelos) na França é notória, mesmo que o governo não tenha cumprido nenhuma das promessas que fizera naquela época, mas ao contrário intensificou a repressão. Um governo não pode resistir lançando mão constantemente da repressão, da coerção, do confinamento e da privação de liberdade; o exemplo da URSS está aí para nos provar a aspiração intrínseca dos povos à liberdade.
Essa reação se reflete cada vez mais nas urnas, com o surgimento na Europa de novos nacionalismos ou aspirações de soberania, para desgosto dos globalistas que não suportam que as pessoas possam querer assumir seus destinos nas próprias mãos. Esse movimento é ainda muito incipiente em relação à energia que teríamos que gastar para nos livrarmos do jugo globalista que pesa sobre nossos ombros (acreditar na neutralidade de nossas instituições já seria uma derrota), mas caminhamos na direção certa.
5. A reação divina
Ainda resta um parâmetro que os globalistas não dominam: Deus. Ele já disse várias vezes que o cálice estava cheio. Ele enviou a Virgem Maria para comunicá-lo em La Salette em 1846 e em Fátima em 1917, que são as aparições mais importantes dos últimos séculos em relação ao seu caráter profético. Ele deixou claro que as causas mais importantes que atraem o castigo das nações eram a apostasia, a blasfêmia, a corrupção da moral, tudo isso encorajado por nossos governos apóstatas.
Ele então já revelou por seus profetas que aqueles que serão culpados por essas acusações serão exterminados (os globalistas) e que não vencerão em seu desejo de dominar o mundo, antes que os Tempos sejam cumpridos. Mas ainda não é chegado, porque o povo fiel ainda está presente, embora reduzidos.
A terra está cheia de adultérios, a terra chora por causa das blasfêmias que aí se ouvem (Jr 23, 4)
No ano das duas primaveras, a República morrerá em opróbrio geral. (Pe. Souffrand, 1827)
Então, Jesus Cristo, por um ato de sua justiça e de sua grande misericórdia para com os justos, ordenará a seus anjos que todos os seus inimigos sejam condenados à morte. De uma só vez, os perseguidores da Igreja de Jesus Cristo e todos os homens dados ao pecado perecerão e a terra se tornará como um deserto." (Virgem Maria em La Salette, 1846)
IV. CONCLUSÃO
Os Globalistas de todos as matizes, dos quais Klaus Schwab é um dos porta-vozes mais eminentes, não pretendem parar por aí nesse caminho promissor e confiam que hão de cumprir o plano pelo qual são pagos. Eles não se importam que as pessoas morram do vírus, que percam seus empregos e que a governança mundial que pretendem estabelecer apenas traga a abominação da desolação na Terra. Não é possível fazer uma omelete sem quebrar os ovos! Sempre haverá vencedores e perdedores nas reformas, reorganizações, reinicializações que devem acompanhar o nosso mundo!
Esta visão cínica não é nossa e não é a de Cristo para quem todo ser conta, toda ovelha perdida deve ser trazida de volta ao redil. Não, não vamos deixar nossos idosos morrerem em asilos! Não, não deixaremos nossa juventude sem outro ideal senão o republicanismo de M. Blanquer! Não, não vamos deixar nossos amigos artesãos e comerciantes sem outro futuro que o da falência porque nossos políticos e Klaus Schwab decidiram dessa forma!
Não, não vamos "reinicializar" o mundo em benefício das multinacionais, “Big Pharma”, em prol de um mundo mais inclusivo e totalitário, em prol de uma “Mãe Natureza” mais verde com mais abortos, por um mundo mais seguro e mais invasivo para -- como dizem -- o nosso bem.
Se tivermos de reinicializar o mundo, será primeiro por desglobalizá-lo, deixando que os povos tomem seu destino em suas próprias mãos. Não, senhor Klaus Schwab, não é porque a globalização falhou que precisamos de mais globalização! Se o Great Reset (Grande Reinicialização) ocorrer, será o da "elite" globalista que você representa, que irá fracassar no curto ou médio prazo e que terá de ser exterminada. Sr. Schwab, você já é um homem do passado e nós somos o futuro!
“Livra-nos do homem ímpio, Senhor!"
DOMINGO DE PÁSCOA
Paramentos brancos
Exatamente como no Natal, é em Santa Maria Maior que se faz a estação desta festa, a maior de todo o ano.
A Igreja não separa nunca Jesus de Maria e glorifica hoje com a mesma apoteose o Filho e a Mãe.
Jesus Ressuscitado dirige-se em primeiro lugar ao Pai, em homenagem de sujeição incondicional, enquanto a Igreja, por seu lado, levanta a Deus um hino de sentido reconhecimento e lhe suplica que venha em socorro dos filhos que lutam com o mundo, o demônio e a carne, a caminho da pátria nova dos céus. Mas para isto é necessário comer o Cordeiro Pascal com os ázimos da virtude, duma vida santa e impoluta. O Evangelho apresenta-nos as santas mulheres correndo ao sepulcro para ungir o Mestre com perfumes. Corramos também com a alegria de ressurgidos a ungir com o nosso amor e a nossa fidelidade à virtude o coração do Mestre, não morto, porque é imortal, mas alanceado, dilacerado pelos crimes do nosso tempo e, possivelmente, da nossa má conduta.
Do Evangelho: O anjo apareceu envolto numa túnica branca, diz S. Gregório, para anunciar a alegria da nossa festa. A alvura das vestes representava o brilho e a magnificência da nossa solenidade.
Da nossa? Da nossa e da deles; porque a Ressurreição do Senhor foi e é indubitavelmente a nossa festa, pois reintegrou-nos na vida da graça, e é também a dos anjos, porque reabilitando-nos para o céu preencheu entre eles as cadeiras que a defecção dos rebeldes deixara vazias.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Paramentos roxos
“O mistério pascal, diz S. Leão, tem de direito e de fato o primeiro lugar entre as solenidades cristãs. E se é certo que o nosso viver de todo o ano nos devia ir sempre dispondo gradualmente para o celebrarmos de maneira digna e adequada, os dias que vamos atravessar devem incitar-nos a uma devoção mais fervorosa, porque, tenhamo-lo presente, aproxima-se a solenidade do mais divino mistério da divina misericórdia”. Este mistério é o da Paixão e Ressurreição do Salvador; Pontífice e Mediador do Novo Testamento, Jesus vai subir em breve o patíbulo da Cruz e apresentar ao Pai, ao penetrar no Sancta Sanctorum dos Céus, o preço do nosso resgate na moeda batida e cunhada com o Sangue do seu sacrifício.
“Eis, canta a Igreja, que resplandece o mistério da Cruz em que a Vida morreu, mas de tal sorte que morrendo nos deu a vida”. A Eucaristia é o memorial deste amor imenso de Deus aos homens, porque o Senhor ao instituí-lo disse: “Isto é o meu corpo que será entregue por vós. Este é o cálice da nova aliança no meu sangue. Fazei isto em memória minha”. E para corresponder a toda esta bondade divina, que fez o homem? “Os seus não O receberam, diz São João, e pagamos com mal o bem que nos fez”, retribuímo-lo com ultrajes, “desonramo-lo”, como Ele mesmo se queixou.
O Evangelho nos mostra, com efeito, o ódio crescente do Sinédrio. Abraão, pai do povo de Deus, acreditara firmemente nas promessas divinas que anunciavam o Salvador e no limbo a sua alma alegrou-se ao vê-las realizadas com a vinda do Messias. Mas os judeus, que deviam reconhecer em Jesus Cristo o Filho de Deus, maior que Abraão e os profetas, não quiseram entender o sentido das palavras, e depois de o maltratar por todos os meios que a malícia pode inventar, tentaram apedrejá-lo. No entanto, Jesus domina-os com todo o poder da sua personalidade divina, porque, como diz Jeremias, foi estabelecido como uma cidade fortificada, cingida com muralhas de ferro e de bronze na face dos reis da Judéia, dos príncipes dos sacerdotes e do povo. “Hão de te combater, mas não te vencerão porque eu estou contigo para te salvar”. Quanto a mim, dissera o Salvador, não busco a própria glória mas há quem a busque e julgue. E pela boca do salmista continua nestes dolorosos acentos: “Julgai-me, Senhor, e discerni a minha causa da deste povo ímpio. Livrai-me do homem perverso e enganador. Livrai-me dos meus inimigos, arrancai-me das mãos do homem violento e de vontade pervertida”. Deus, com efeito, não permite que os homens façam mal ao Senhor antes de chegar a sua hora. E quando a hora da imolação chegar, virá a da glorificação também, a da ressurreição.
Esta morte e ressurreição predisseram-na os profetas e simbolizou-a Isaías. Foi vontade de Deus que Jesus passasse pela humilhação, pelo sofrimento e pela morte, antes de entrar na glória. Os judeus, porém, cegos pela paixão, esperavam um Messias glorioso e, escandalizados com a Cruz de Jesus, rejeitaram a salvação. Foi por isso que Deus os rejeitou e acolheu com benevolência aqueles que esperam na Cruz do Salvador; porque, diz São Leão, a esperança da vida eterna é coisa certa e segura para todos os que participam da Paixão do Senhor. E agora que vamos comemorar a Paixão do Senhor, pensemos que para participar dos seus benéficos efeitos é necessário lutar e sofrer. Só o que lutar será coroado.
Do Evangelho: “As palavras que o Senhor proferiu são verdadeiramente terríveis. Aquele que é de Deus ouve a palavra de Deus. E se vós a não ouvis é porque não sois de Deus”
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
A multiplicação dos pães, figura da Páscoa cristã.
Paramentos roxos ou cor de rosa
Nesta semana lê-se no Breviário a história de Moisés. Duas ideias principais a dominam toda. Por um lado, Moisés retira o povo de Deus do cativeiro e o faz atravessar o Mar Vermelho; por outro lado, dá-lhe de comer o maná no deserto, dá-lhe a Lei no Sinai, e o conduz à terra prometida onde se erguerá um dia Jerusalém, a cidade santa que regurgitará com as tribos vindas de todo o Israel para cantar os louvores de Jeová. A Missa de hoje nos dá a realização dessas figuras. O verdadeiro Moisés, com efeito, é Jesus Cristo, que nos resgatou do cativeiro da lei e do pecado, nos fez passar pelas águas do Batismo, nos alimenta no deserto da existência terrena com o verdadeiro maná, a sua carne, e nos introduziu na terra prometida que é a Santa Igreja.
A estação de hoje congregava-se na Igreja de Santa Cruz de Jerusalém, velho palácio romano que Santa Helena transformou em santuário para nele guardar as relíquias da Cruz descoberta no Calvário e representar no coração da capital do Cristianismo a cidade de Jerusalém e os lugares santos.
E, de fato, a escolha desta basílica impunha-se para cantar as alegrias e grandezas da nova Jerusalém, que é simultaneamente a Igreja da Terra e a Cidade dos Céus, cujas portas o Senhor nos veio com a sua morte abrir. Neste Domingo (Laetare) a Igreja pois congrega aí os fiéis para os fazer experimentar um raio da grande alegria que se aproxima. Era com este sentimento de júbilo que a Igreja benzia outrora a rosa “laetare” e é com ele que ainda hoje reveste de paramentos cor de rosa os ministros do altar. “Regozijai-vos e exultai-vos de alegria” diz o Intróito, porque mortos com Jesus Cristo para o pecado havemos de ressuscitar com Ele. O Evangelho relata-nos o episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, símbolo da Eucaristia e do Batismo que são por excelência os sacramentos da ressurreição. E na Epístola, São Paulo procura nos fazer compreender a liberdade dos filhos da Igreja, que é a liberdade de Cristo.
Que a Missa deste domingo, já tão impregnada das alegrias pascais, nos dê coragem para prosseguirmos com generosidade a segunda parte da Quaresma.
Da Epístola: Jerusalém negando-se a receber o Salvador permaneceu sujeita à escravidão da Lei Mosaica. São Paulo compara-a a Agar, a mulher escrava, que dá à luz para a escravidão, e que viverá doravante condenada ao servilismo da terra, a ser uma Jerusalém terrestre, deserdada dos bens do Céu. A Jerusalém celeste, que é a Igreja, é livre, pelo contrário, porque aceitou a lei do amor que Jesus lhe deu. São Paulo compara-a a Sara, a mulher livre de Abraão, que deu à luz o herdeiro da promessa.
Do Evangelho: A multiplicação dos pães é uma figura da Eucaristia. ‘Eu sou o pão da vida’, dizia o Senhor. "Os vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Eu sou o pão que desceu do Céu, para que aquele que Me comer viva eternamente”
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Jesus expulsa um demônio impuro. E uma mulher exclama “Bem-aventurado o seio que Vos trouxe””
Paramentos roxos
A assembleia de hoje reunia-se na Igreja de São Lourenço Fora dos Muros, onde descansam os restos de S. Lourenço e de S. Estevão, e que é uma das cinco basílicas patriarcais de Roma. A oração de S. Lourenço pede a Deus a graça de vencermos o ardor da concupiscência com o heroísmo e a tenacidade com que o mártir venceu as chamas do suplício; e a de S. Estevão convida-nos a amar os inimigos e a pedir por aqueles que nos perseguem. Estas duas grandes virtudes, melhor que ninguém as praticou o Patriarca José, cuja história o Ofício desta semana nos relata. Fugiu às solicitações da mulher de Putifar e perdoou e intercedeu pelos irmãos que o tinham vendido. Mas é como figura de Cristo, sobretudo, que a fisionomia de José toma particular relevo.
Conhecem todos assaz a história de José, vendido pelos irmãos, preso e levado cativo para o Egito, conquistando as graças do Faraó até se lhe sentar à direita, encarregado por ele do governo do reino, para ver em tudo isto os traços da figura, por assim dizer, preexistente de Jesus Cristo nos mistérios da Paixão e Ressurreição. Familiarizados com a simbologia do Antigo Testamento, os nossos maiores amaram-na com predileção e encontravam nela a explicação dos mistérios da Redenção. Quando liam na Bíblia a história de José, o seu pensamento logo voava para o Salvador: “Sou eu José, a quem vendestes. Mas não temais. Que Deus fez tudo para que vos salvasse da morte”. Mais de um texto da Missa de hoje pode colocar-se como uma oração nos lábios de José. Ao cantá-los, procuremos fazê-lo com aquele espírito confiante e profundamente religioso que animou e conduziu todos os passos desta grande figura. O Evangelho apresenta o Senhor a expulsar um demônio do corpo de um possesso. Confiemos n’Ele, porque mais forte que Satanás, vencerá conosco o filho das trevas e coroará a nossa fronte com a liberdade dos filhos de Deus. Aos fariseus que não queriam admitir a Sua missão redentora, declara que já chegou a hora em que o príncipe deste mundo será corrido. Haverá também quem volte atrás, à lama do pecado, mas nem por isso a Sua vitória será menos completa.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Rosário das Santas Chagas de N. S. J. C. ou da Misericórdia
Pode-se começar pela seguinte oração:
“Ó Jesus, Divino Redentor, sêde misericordioso para conosco e para com o mundo inteiro. - R. Amen.”
“Deus Forte, Deus Santo, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. - R. Amen.”
“Graça, misericórdia meu Jesus, durante os perigos presentes: cobri-nos com o vosso sangue precioso. - R. Amen.”
“Padre Eterno, misericórdia pelo Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho único. Tende misericórdia de nós, nós vo-lo suplicamos. - R. Amen, Amen, Amen.”
Sobre as contas pequenas:
“Meu Jesus, perdão, misericórdia. - R. Pelos méritos das vossas Santas Chagas.” (300 dias de indulgência cada vez).
Sobre as contas grandes:
“Padre Eterno, eu vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. - R. Para curar as chagas das nossas almas.” (300 dias de indulgência cada vez.-S. S. Pio XI. - Sagrada Penitenciária, 16 de janeiro de 1924).
Ao terminar diz-se três vezes: “Padre Eterno, eu vos ofereço as Chagas, etc.”
Uma humilde Conversa, Irmã Maria Marta Chambon, falecida em odor de santidade no Mosteiro da Visitação de Chambéry (21 de março de 1907), assegurava ter-lhe Nosso Senhor ensinado estas duas invocações.
Ela declarava ter recebido d’Ele uma dupla “missão”: a de invocar constantemente as Santas Chagas e a de avivar no mundo esta devoção.
Nosso Senhor comprazia-se em prepará-la para a sua missão, fazendo-lhe quase todos os dias como um “Catecismo das Santas Chagas”, catecismo que ela devia repetir à sua superiora.
Eis alguns desses ensinamentos:
A devoção às Santas Chagas tem os mais sólidos fundamentos: os merecimentos infinitos do Salvador.
“Minha filha, reconheces o tesouro do mundo?”
“Quando ofereceis a meu Pai as minhas Divinas Chagas, ganhais uma fortuna imensa.”
“Não queirais ficar pobres... A vossa riqueza? É a minha Santa Paixão. - Esse tesouro pertenece-vos.”
“Meu Pai compraz-se no oferecimento das minhas Santas Chagas... oferecê-las é oferecer-lhe a sua glória, é oferecer o Céu ao Céu!”
“As minhas Santas Chagas susteem o mundo.”
A esta devoção dignou-se Nosso Senhor fazer as mais animadoras promessas.
“ Concederei tudo quanto me pedirem pela invocação das minhas Santas Chagas. É preciso propagar esta devoção.”
“Obtereis tudo, porque é pelo merecimento do meu Sangue que é de um preço infinito.”
“Com as minhas Chagas e o meu Divino Coração, podeis alcançar tudo.”
“Das minhas Chagas saem frutos de santidade.”
“As minhas Chagas repararão as vossas.”
Esta devoção tem preciosas vantagens para a vida quotidiana.
“Em qualquer desgosto, qualquer sofrimento, recorrei logo às minhas Chagas que a dor será suavizada.”
“Oferece-me as tuas ações... unidas às minhas Santas Chagas, onde há riquezas incompreensíveis mesmo nas mais pequenas.”
Deve-se recorrer às Santas Chagas em favor dos doentes.
“Deve-se repetir com freqüência junto dos doentes esta aspiração: Meu Jesus, perdão e misericórdia pelos méritos das vossas Santas Chagas!”
“Esta oração aliviará a alma e o corpo.”
Em favor dos agonizantes:
“Deve-se morrer com os lábios colados a estas Sagradas Feridas.”
“Não haverá morte para a alma que exalar o último suspiro nas minhas Chagas; elas dão a verdadeira vida.”
“O caminho das minhas Chagas é tão simples, tão fácil para chegar ao Céu!...”
Em favor dos pecadores:
“As minhas Chagas apagarão todas as vossas faltas.”
“Oferece-me muitas vezes pelos pecadores, porque eu tenho fome das almas.”
“O pecador que disser a oração seguinte: - Padre Eterno, eu vos ofereço as Chagas de N. S. J. C. para curar as chagas das nossas almas - alcançará a sua conversão.”
“A cada palavra que pronunciardes do Terço da Misericórdia, eu deixo caír uma gota do meu Sangue sobre a alma dum pecador.”
“Este Terço da Misericórdia faz contrapeso à minha justiça, suspende a minha vingança.”
Em favor das Almas do Purgatório:
“O beneficio das Santas Chagas faz descer as graças do Céu, e subir ao Céu as almas do Purgatório.”
“As Santas Chagas são o tesouro dos tesouros para as almas do Purgatório.”
Em favor da Igreja:
“Minha filha, é preciso desempenhares-te bem da tua missão, que é de oferecer as minhas divinas Chagas a meu Eterno Pai, porque daí deve vir o triunfo da Igreja, o qual passará pela minha Mãe Imaculada.”
“É necessário que recorras sem cessar a estas Fontes para o triunfo da minha Igreja.” (O que não significa o triunfo material.)
“Uma alma que, durante a sua vida, tiver honrado as Chagas de N. S. J. C. e as tiver oferecido ao Pai Eterno pelas almas do Purgatório, será acompanhada no momento da morte pela Santíssima Virgem e pelos Anjos, e Nosso Senhor na Cruz, resplandecente de glória a receberá e lhe dará a coroa eterna.”
A Santíssima Virgem aparecendo um dia sob a figura de Nossa Senhora das Dores, com Jesus nos braços, disse à feliz privilegiada: - “Minha filha, a primeira vez que contemplei as Chagas do meu querido Filho foi na ocasião que depuseram o seu Santíssimo Corpo nos meus braços.”
“Meditei as suas dores e procurei fazê-las passar ao meu coração... Contemplei os seus Pés divinos um depois do outro... depois o seu Coração, onde vi essa grande ferida, a mais profunda para o meu coração de Mãe... contemplei a Mão esquerda, depois a direita e em seguida a Corôa de espinhos. - Todas estas Chagas me dilaceravam o coração!... Eis a minha Paixão!... Tenho sete espadas no meu coração, e é pelo meu coração que se deve honrar as Sagradas Chagas do meu Divino Filho!...”
D. S. B.
IMPRIMATUR:
Chambéry, 15 de Maio de 1926.
+ DOMINIQUE CASTELLAN,
Arcebispo de Chambéry.
+ EMMANUEL M.a,
Episcopus Tudensis.
Palavra final do Mosteiro de Chambéry
Quando, pelos fins de dezembro de 1923, os acontecimentos nos levaram a publicar estas páginas, pensávamos que elas não sairíam do recinto familiar dos nossos mosteiros e que bastaria imprimir algumas centenas de exemplares. Porém, sem falar das traduções em diversas línguas, perto de dez mil exemplares foram distribuídos em seis meses. E não cessando de afluír os pedidos, fez-se uma quarta edição, atingindo-se com ela o número de trinta mil exemplares.
Eis agora a quinta edição, e são já sessenta mil exemplares.
Damos graças a Deus por esta difusão tão rápida quanto imprevista, o que é para nós uma prova de que Nosso Senhor abençoou esta obra empreendida para glória das suas Sagradas Chagas e que este livrinho - atraíndo as almas a essas Fontes de Salvação - satisfaz em muitas pessoas uma necessidade do coração.
E de fato, chegam-nos de todos os pontos do mundo comovidos agradecimentos das almas piedosas, as quais encontram na devoção às Santas Chagas um estímulo ao seu amor generoso; - almas amarguradas ou desamparadas, recolhem, por assim dizer, dos próprios lábios de Jesus padecente, a palavra que levanta e guia, tranquiliza e consola.
Os sacerdotes manifestam a sua alegria vendo os fiéis voltarem-se para Aquele que “levantado na Cruz, atrai tudo a si!”
Um fato parece sobresair muito especialmente nesta correspondência: é o cumprimento das promessas de N. S. J. C. em favor dos pecadores:
“A cada palavra que pronunciais do Terço da Misericórdia, deixo cair uma gota do meu Sangue sobre a alma dum pecador.”
Muitas cartas assinalam “graças obtidas”. Que nos seja permitido escolher, entre muitas outras, dois traços, dos quais temos testemunhos imediatos.
O Sr. ..... acabava de cair gravemente doente. Nao tinha ninguém para o rodear de cuidados neste momento crítico. Caritativos vizinhos acudiram a pedir em seu favor as Irmãs de Caridade. Todas estavam cheias de trabalho, contudo, uma delas, posta ao corrente desta situação, ofereceu-se para este apostolado.
Logo na primeira noite, notou a iminência do perigo... assim como as disposições lamentáveis do moribundo.
O Sr. .... vivia, há muito tempo, longe de toda a prática religiosa. Seu filho conhecia tão bem os seus sentimentos que, às solicitações da religiosa, deu a resposta seguinte:
“É impossível pensar em mandar vir um padre. Ele já veio, meu pai recebeu-o cortezmente, mas não quis confessar-se... Eu quero, declarou-me ele, um enterro pela Igreja; mas quanto ao resto não me faleis, é inútil!... E sobretudo, que não venha aqui nenhum padre!...”
Passaram-se três dias de angústia, durante os quais a dedicada Irmã, que tinha tomado a peito salvar a alma do seu doente, não cessava de repetir, a meia voz, ao mesmo tempo que lhe prodigalizava os seus cuidados, as invocações às Santas Chagas:
“Meu Jesus, perdão e misericórdia, pelos méritos...”
Depois destes três dias, a pedido da religiosa, o filho fez uma nova tentativa. Sem a menor hesitação, o padre é aceite! A partir deste momento, assiste-se a uma verdadeira transformação. Até ali, taciturno e sombrio, o Sr. ..... , começa agora a unir-se às invocações. Por vezes ainda, a força do costume e da dor arrancam-lhe palavras ímpias.
“´Não se deve falar assim, sugere-lhe a Irmã; quando sofreis, dizei: Meu Jesus, perdão e misericórdia...”
E ele, com uma comovedora boa vontade, detém-se no meio duma blasfêmia:
“Ah! eu não devo mais dizer isto!... Mas sim: Meu Jesus, perdão e misericórdia pelos méritos das Vossas Santas Chagas.”
De tempos a tempos dirige-se à sua enfermeira:
“Minha Irmã, orai mim, porque tenho muito que expiar.”
Ele mesmo não cessa de orar...
Eis que chega a morte, mas uma morte que, sem dúvida, lhe abriu o Céu:
“Não haverá morte para a alma que expirar nas minhas Chagas; elas dão a verdadeira vida.”
Um outro fato não menos notável e consolador é-nos comunicado de Londres. Não fazemos mais que traduzir a carta recebida:
“Um amigo dum Rev.o P.e Passionista, a quem eu tinha dado um folheto das Santas Chagas, mostrou-o a esse padre, que pregava uma missão no norte da Inglaterra.
“Havia ali um velho que não recebia os Sacramentos há 40 anos...
“Nenhum padre podia mover o seu coração e o rev.o p.e passionista também não conseguia nada. Uma noite este bom padre pediu a todos os seus paroquianos que se unissem a ele na recitação do Rosário das Santas Chagas pelos pecadores da paróquia tomando, em particular, uma intenção especial pelo seu velho pecador.
“Logo na manhã seguinte a essa noite de oração, o querido velho veio por si mesmo apresentar-se na igreja, pedindo para se confessar. Seguiu depois todos os exercícios do retiro.”
“Não é maravilhosa esta resposta tão rápida e completa à oração?”
“E não é isto um triunfo magnífico das Santas Chagas?...”
D. S. B.
............................................
V. + J.
Ultimos anos e morte da Irmã Maria Marta
O fim deste opúsculo era simplesmente tornar conhecido um resumo do plano divino na vida da Irmã Maria Marta, expondo a sua missão, a “tarefa” de depositária e apóstola das Santas Chagas. Mas isto não é senão um pequeno esboço da sua vida interior. Faltava-nos falar da Santa Infância e da convivência tão íntima e graciosa que existia entre “esta alma infantil” tão pura e simples, e o celeste Amigo dos pequeninos e das Virgens. Faltava-nos dizer o amor do seu coração - despojado de todo outro amor - a Jesus Sacramentado. Faltava-nos mostrar como este comércio constante e tão intimo com Jesus Crucificado e Jesus Menino a levava natural e como instintivamente às grandes e sólidas devoções: a mostrar, por exemplo, a sua devoção para com a Santíssima Trindade, com as coisas extraordinárias (por não ousarmos dizer miraculosas) que foram, mais de uma vez, a sua recompensa; pintar-lhe a terna devoção para com Maria, que ela tomou por Mãe com toda a força de expressão e que - mostrando-se verdadeiramente Mãe - vinha completar as lições de Jesus e corrigir maternalmente a sua filha, quando era preciso.
Faltava-nos enfim inumerar as mortificações, descrever os seus êxtases... Ler-se-ão todas essas coisas, detalhadamente, na “Vida da Irmã Maria Marta” que, se Deus o permitir, será publicada ...
* * *
As graças e as comunicações divinas enchem verdadeiramente todos os instantes desta vida excepcional - durante vinte anos! - isto é, até à morte da Rev.ma Madre Teresa Eugênia Revel (30 de dezembro de 1887).
Muito tempo antes, Jesus, mostrando à Irmã Maria Marta as duas Madres que conheciam o segredo de todas as suas graças, tinha-lhe feito esta pergunta:
“Não estarias pronta a fazer-me o sacrifício delas?...”
E esta alma desprendida de tudo que não fosse Jesus, tinha aderido - com uma reserva apenas: - a de não aparecerem mais os favores de que Ele a cumulava... que tudo ficaria bem oculto somente entre os dois: Jesus prometeu e cumpriu.
Depois da morte da nossa boa Madre Teresa Eugênia, Jesus cobriu com um véu, cada vez mais espesso, aquela que Ele tinha resolvido conservar oculta até à morte. Deus permitiu - por meio de uma série de circunstâncias - que seria longo referir, que as superioras que sucedessem não tivessem senão um conhecimento muito vago das graças recebidas porque os cadernos que continham a narração de tudo foram guardados por outras mãos enquanto ela viveu.
Durante os vinte últimos anos, isto é, até à sua morte, nada se revelou exteriormente dessas graças maravilhosas - nada - senão as longas horas que a nossa Irmã Maria Marta passava junto do SS.mo Sacramento, imóvel, insensível, como em êxtase!... E ninguém ousava interrogá-la sobre o que se passava nestes benditos instantes, entre a sua alma arrebatada e o Hóspede Divino do Tabernáculo. Esta cadeia contínua de orações, de trabalho e de mortificação... este silencio, este apagamento absoluto, parece-nos uma prova a mais - e não das menos convincentes - da verdade dos favores inauditos com que ela foi favorecida. Uma alma de humildade suspeita, ou mesmo vulgar, procuraria chamar a atenção e vangloriar-se-ia da obra que Jesus operava nela... mas a Irmã Maria Marta nunca!... Submergia-se com delícias na sombra da vida comum e escondida... Mas, como o grão da mostarda lançado à terra, a devoção as Santas Chagas germinava nos corações.
* * *
Durante a última noite de Natal que a nossa Irmã passou na terra, Jesus - como presumimos - tinha-a advertido da sua próxima partida deste mundo, e, ao mesmo tempo, dos sofrimentos que ainda lhe queria pedir. Uma Irmã que estava junto dela, durante a Missa da meia-noite, ouviu-a exclamar com angústia:
“Ó meu Jesus, isso não!... tudo, sim tudo, menos isso!...”
Esse “isso” devia ser a penosa e dolorosa doença... Esse “isso” devia ser sobretudo o abandono interior, a ausência do Bem-Amado!... Ela, habituada à sua querida presença, à sua conversação quotidiana, não podia - sem se lhe despedaçar o coração - aceitar essa privação.
Desde esse dia notava-se uma tristeza profunda impressa na sua fisionomia. Atacada duma forte constipação, à qual se juntaram diversas complicações muito graves, recebeu a Extrema-Unção com alegria, no dia 13 de fevereiro de 1907.
Restava-lhe ainda subir um doloroso Calvário: cinco semanas de supremas purificações durante as quais o Salvador a identificou, mais que nunca, consigo, para a tornar mais semelhante a si, nas agonias físicas e morais da sua Paixão.
Já a tinha prevenido com antecipação:
“O mal que te fará morrer sairá das minhas Chagas.”
Sentíamos que havia alguma coisa de misterioso neste último combate da natureza... No dia 21 de Março, após uma noite de terríveis sofrimentos, seguiu-se uma grande calma, um grande silencio... Toda a Comunidade cercava a moribunda, recitando milhares de vezes as queridas invocações às Santas Chagas. Finalmente, às oito horas da noite, nas primeiras Vésperas das suas Dores, Maria veio buscar a sua filha a quem tinha ensinado a amar Jesus!... E o Esposo recebia para sempre na Ferida do seu Coração Sagrado, a esposa que tinha escolhido para sua vítima bem-amada na terra para confidente e a apóstola das Santas Chagas.
Deus seja bendito!
Como a Irmã María Marta soube corresponder aos desejos de Jesus
Comovida até ao mais íntimo do ser com tais revelações, a nossa querida Irmã deixou-se impregnar delas inteiramente. Estava tão apaixonada pelas Chagas do Salvador que lhe parecia “que ia devorá-las”. O seu mais ardente desejo era suscitar no universo os sentimentos de amor e de reconhecimento que elas devem inspirar, pronta a dar a vida pela extensão dum culto que ela queria imenso, apaixonado, sem limites! Se, aliás, o seu ardor esmorecia, se as invocações se tornavam menos numerosas sobre os lábios, Jesus não tardava em apresentar-se a ela no estado lastimoso a que o reduziram as nossas iniquidades e, mostrando-lhe as Chagas, fazia-lhe amorosas repreensões:
“Elas olham sempre para ti, mesmo quando tu as esqueces, tu, que devias contemplá-las sempre... - Já tas mostrei tantas vezes que isso deveria bastar-te; mas não, é preciso que eu te desperte contìnuamente o fervor.”
Ou ainda:
“As invenções dos algozes para me fazer sofrer, era Eu que as queria. - Queria-as por vosso amor e para satisfazer a meu Pai. Tudo se fazia por minha vontade!... E agora, minha filha, também te farei sofrer, porque Eu o quero.”
“Desejo e quero que me consoles dos ultrajes que recebo!... - Quero-te vítima corajosa: Eu serei o teu Sacrificador. Eleva o teu coração e lança-o nas minhas Chagas.”
Apresentando-se a ela como num quadro, suplicou-lhe um dia Jesus, com um tom de indizível ternura e de ardente desejo:
“Deves copiar-me, deves copiar-me!... Os pintores fazem quadros quase conformes com o original, mas aqui sou Eu o pintor que faço a minha imagem em vós, se vós me contemplardes.”
Insistindo sobre este mesmo convite, o nosso Divino Salvador ensinava-lhe um día:
“Minha filha, quando um pintor quer fazer um quadro, prepara primeiro a tela que deve receber pinceladas.”
“- Bom Mestre, não sei o que isso quer dizer” - dizia ela na sua extrema ignorância.
E Jesus teve que explicar-lhe que a sua alma era esta tela preparada:
“Minha filha, prepara-te para receber todas as pinceladas que Eu te quiser dar.”
Algum tempo mais tarde, Jesus perguntou·lhe: “Minha filha, queres ser crucificada comigo ou glorificada?”
“Ah! meu bom Jesus, antes quero ser crucificada! Queria sofrer tanto por Vós, como Vós sofrestes por mim!...”
“Sofrerás por Mim, como Eu sofri por ti, fazendo todas as tuas ações para me agradar e não me recusando nenhum sacrifício...”
Ao ouvir isto, a Irmã Maria Marta ficou subitamente invadida por uma grande impressão e começou a inumerar os seus defeitos, como um obstáculo às graças de Deus:
“Os teus defeitos, replicou o seu terno Mestre, hão-de aparecer todos no dia do Juízo, mas para tua glória e minha!... - Recebo todas as tuas ações e sofrimentos pelos pecadores e pelas almas do Purgatório, mas é preciso que tu permaneças como que colada ao meu Coração, às minhas Chagas, não fazendo senão um comigo... - Não deves sair do meu Coração, porque, se o fizesses, já não poderia comunicar-me a ti.”
“- Bom Mestre, ensinai-me o catecismo” - pediu-lhe ela, uma vez, com a sua candura e ousadia infantil.
“Vem à tua morada, minha esposa, respondeu Jesus, mostrando-lhe as Chagas, vem à tua morada; lá encontrarás tudo!... Serei teu pregador e ensinar-te-ei a imolar-te por meu amor e pelo teu próximo.”
“O Crucifixo, eis o teu livro!... Toda a verdadeira ciência está no estudo das minhas Chagas. Quando todas as criaturas as estudassem a todas bastaria, sem precisarem de livro algum. - É nele que os meus santos leem e lerão eternamente, é o único a que vos deveis afeiçoar, é a única ciência que deveis estudar.”
“Quando beberdes nas minhas Chagas, disse-lhe ainda Nosso Senhor, aliviais o divino Crucificado!”
E voltando-se para o nosso Santo Fundador, que estava presente a este colóquio, disse:
“Eis o teu fruto! Uma das tuas filhas que toma o meu Sangue das sagradas aberturas para o dar às almas e aplacar a minha justiça.”
A nossa Irmã, devorada pelo amor de Deus, aproveitou esta ocasião para pedir ao nosso bem-aventurado pai que lhe obtivessse a graça de ir em breve para a Pátria, gozar do Soberano Bem. Mas ele respondeu-lhe:
“Minha filha, é preciso que cumpras a tua tarefa!...”
“Ninguém pode entrar no Céu sem ter cumprido a sua missão no mundo. - Se tu morresses já, vendo que a tua tarefa não estava completa, desejarias voltar à terra para a terminar, considerando a glória prestada ao Divino Mestre e como aplacas a Justiça de Deus tão fortemente irritada... - Estou bem contente com a glória que vós me dais também a mim, invocando as Santas Chagas.”
Deste modo, a Irmã Maria Marta era constantemente sustentada, animada na “sua tarefa”, segundo a expressão que incessantemente lhe vinha aos lábios. Esta tarefa, como vimos, era em primeiro lugar oferecer contìnuamente os méritos das Santas Chagas de N. S. J. C. pelas necessidades da Igreja militante e padecente. Era depois trabalhar por renovar, tanto quanto possível, esta salutar devoção no mundo inteiro. A primeira parte referia-se a ela pessoalmente: Nosso Senhor a tinha estimulado a isso levando-a a fazer promessas solenes, já antigas e redigidas pela mão da superiora:
“Eu, Irmã Maria Marta Chambon, prometo a N. S. J. C. oferecer-me todas as manhãs a Deus Pai, em união com as Divinas Chagas de Jesus Crucificado, pela salvação do mundo inteiro e para o bem e perfeição da minha Comunidade. - Adorá-l’O-ei em todos os corações que O recebam na Santa Eucaristia... Agradecer-lhe-ei por se dignar vir a tantos corações tão pouco preparados... Prometo a Nosso Senhor oferecer, de dez em dez minutos, com o auxílio da sua graça e em espírito de penitência as Divinas Chagas do Sagrado Corpo ao Pai Eterno... unir todas as minhas ações às Santas Chagas, segundo as intenções do Adorável Coração, pelo triunfo da Santa Igreja, pelos pecadores e pelas almas do Purgatório, por todas as necessidades da minha Comunidade, do Noviciado, do Pensionato e em expiação de todas as faltas que neles se cometem... Tudo isto por amor, sem obrigação de pecado.”
A invocação:
“Padre Eterno, eu vos ofereço as Chagas de N. S. J. C. para curar as das nossas almas, é a fórmula desta oferta...”
A Irmã Maria Marta tinha prometido fazê-lo “de dez em dez minutos”, mas não se passava um momento no dia, sem que a sua boca a renovasse, juntando-lhe a segunda invocação:
“Meu Jesus, perdão e misericórdia, pelos méritos das Vossas Santas Chagas.”
A existência da nossa querida Irmã tornou-se assim uma oração ininterrupta. A união com Deus e um silencioso recolhimento sempre se liam na sua fisionomia. Ao vê-la com os olhos quase sempre fechados e os lábios murmurando incessantemente uma oração, ficava-se comovido. Sobretudo no coro, perdia-se verdadeiramente n’Aquele que se dignava mostrar-se aos olhos da sua alma como um Pai e um Amigo.
* * *
Quanto à segunda parte da “tarefa” - a de despertar nas almas a devoção às Santas Chagas - não dependia só da generosidade heróica da Irmã Maria Marta... N. S. tinha o cuidado de lhe fazer entrever a extensão das dificuldades:
“O teu caminho é tornar-me conhecido e amado pelas minhas Chagas, sobretudo no futuro.”
“Será preciso muito tempo para estabelecer esta devoção.”
O véu do futuro parece ter sido levantado parcialmente diante do olhar da Irmã Maria Marta numa espécie de visão, cuja obscuridade Rev.ma Madre Teresa Eugénia Revel deplora, com um sensível pesar:
“Nao pudemos saber ao certo o fim desta visão nem o seu significado.”.
Sem entrarmos nas particularidades desta narração, sem procurar uma interpretação que só podia ser pessoal e, indubitavelmente, fantasiada, apontamos simplesmente os fatos reais: a Irmã Maria Marta tinha, com o auxílio das superioras, introduzido a devoção às Santas Chagas na Comunidade - era o primeiro passo. Numerosos mosteiros seguiram este exemplo e adotaram esta devoção - segundo passo. A concessão de 300 dias de indulgências em favor de todos os Mosteiros da Visitação do mundo, era o terceiro passo. O quarto passo data da publicação desta brochura e prosegue magnìficamente.
A leitura das graças concedidas à nossa Irmã, a benéfica influência das palavras de Jesus com respeito à sua santa e amorosa Paixão, o zelo das almas religiosas e de tantos corações dedicados, a extensão das indulgências a todos os fiéis, os grandes alentos recebidos... provocaram uma renovação de amor para com o Divino Crucificado, enquanto através de todo o mundo se multiplicam as confiadas invocações as Santas Chagas.
As Santas Chagas e as Almas Religiosas
“Na Casa de Deus, é preciso viver unidas às minhas Chagas”, disse o Salvador.
“Os vossos votos saem das minhas Chagas!...”
Um dia, quando a Irmã Maria Marta fazia a Vía Sacra, chegando à décima estação, Jesus deu a compreender à esposa o mérito do seu despojamento pelo voto de pobreza, pedindo-lhe que oferecesse as Santas Chagas – “pelas suas esposas que precisam de despojamento, para que o saibam revestir por uma prática mais exata do voto de pobreza.”
Depois, na Crucifixão, ajunta – “que sendo consagradas a Ele, devíamos estar pregadas na cruz com Ele... - quando seguimos a nossa vontade própria, declaramo-nos inimigos da Cruz.”
“Deveis deixar-vos governar pela vossa superiora, como Eu, estendendo as mãos, me deixei pregar na Cruz.”
Depois pede-lhe ainda que ore por aqueles que quereriam despregar-se da Cruz, faltando à obediência...
“Minha filha, repetiu Jesus noutra ocasião, olha para a minha coroa e aprenderás a mortificação, para as minhas mãos estendidas, e aprenderás a obediência, compreenderás a pobreza vendo-me despido sobre a cruz, tornar-te-ás pura contemplando Aquele que é puro e que te ama como um Esposo!...”
Ensina-lhe que as almas religiosas são também almas dedicadas ao sofrimento:
“Eu queria ver em todas as minhas esposas outros tantos Crucifixos!... Não deverá a esposa assemelhar-se ao Esposo?”, declara Aquele que a santa Amante dos Cânticos pinta assim:
“O meu Bem-Amado é branco e vermelho.”
“Dar-te-ei sofrimentos para todo o dia, promete-lhe Jesus, para que vás mais vezes às Fontes benditas das minhas Divinas Chagas.”
“Eu quero que sejas crucificada comigo; quero-o de todas as maneiras... - À medida que disseres sim, mais te crucificarei.”
“Minha filha, olha para a minha coroa! Eu não disse: ela faz-me sofrer muito - mas aceitei-a das mãos de meu Pai por vosso amor! Olha para as minhas mãos! Eu não disse: não as dou, isso faz-me sofrer muito! - e o mesmo aconteceu com os meus pés.”
Depois, Jesus mostra à serva a sagrada carne, despedaçada, aos bocados:
“Encontrarás Chagas em todo o corpo do teu Esposo! - Eu quero que assim sejas - Contempla-Me na Cruz: quando Eu nela estava não olhava nem para os algozes nem para os seus ultrajes... olhava para meu Pai. - É preciso que cumprais assim o vosso dever, fazendo o que Eu quero sem olhar para a criatura... como Eu que olhava unicamente para o meu Pai!”
Um outro dia, aparecendo-lhe na Cruz todo descarnado, “não tendo senão a pele e os ossos”, este terno Mestre exclamou:
“Vê, minha filha, por onde devem passar aqueles que escolhi e que querem chegar à glória, não porém aqueles que levantam a cabeça. - Minha Mãe passou por este caminho... Ele é rude para aqueles que o seguem à força e sem amor, mas suave e consolador para as almas que levam a sua cruz com generosidade. - É preciso que as Esposas de Jesus-Crucificado sofram... - Já não tenho senão as minhas esposas para me esmolar.”
Numa outra entrevista, Jesus disse ainda:
“Minha filha, deveis amar muito o Crucifixo e crucificar-vos para amar Jesus, para poderdes morrer como Jesus e ressuscitar como Ele. - Renovo agora as graças da minha Paixão... - sois vós que deveis derramar os seus benefícios sobre o mundo inteiro.”