A multiplicação dos pães, figura da Páscoa cristã.
Paramentos roxos ou cor de rosa
Nesta semana lê-se no Breviário a história de Moisés. Duas ideias principais a dominam toda. Por um lado, Moisés retira o povo de Deus do cativeiro e o faz atravessar o Mar Vermelho; por outro lado, dá-lhe de comer o maná no deserto, dá-lhe a Lei no Sinai, e o conduz à terra prometida onde se erguerá um dia Jerusalém, a cidade santa que regurgitará com as tribos vindas de todo o Israel para cantar os louvores de Jeová. A Missa de hoje nos dá a realização dessas figuras. O verdadeiro Moisés, com efeito, é Jesus Cristo, que nos resgatou do cativeiro da lei e do pecado, nos fez passar pelas águas do Batismo, nos alimenta no deserto da existência terrena com o verdadeiro maná, a sua carne, e nos introduziu na terra prometida que é a Santa Igreja.
A estação de hoje congregava-se na Igreja de Santa Cruz de Jerusalém, velho palácio romano que Santa Helena transformou em santuário para nele guardar as relíquias da Cruz descoberta no Calvário e representar no coração da capital do Cristianismo a cidade de Jerusalém e os lugares santos.
E, de fato, a escolha desta basílica impunha-se para cantar as alegrias e grandezas da nova Jerusalém, que é simultaneamente a Igreja da Terra e a Cidade dos Céus, cujas portas o Senhor nos veio com a sua morte abrir. Neste Domingo (Laetare) a Igreja pois congrega aí os fiéis para os fazer experimentar um raio da grande alegria que se aproxima. Era com este sentimento de júbilo que a Igreja benzia outrora a rosa “laetare” e é com ele que ainda hoje reveste de paramentos cor de rosa os ministros do altar. “Regozijai-vos e exultai-vos de alegria” diz o Intróito, porque mortos com Jesus Cristo para o pecado havemos de ressuscitar com Ele. O Evangelho relata-nos o episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, símbolo da Eucaristia e do Batismo1 que são por excelência os sacramentos da ressurreição. E na Epístola, São Paulo procura nos fazer compreender a liberdade dos filhos da Igreja, que é a liberdade de Cristo.
Que a Missa deste domingo, já tão impregnada das alegrias pascais, nos dê coragem para prosseguirmos com generosidade a segunda parte da Quaresma.
Da Epístola: Jerusalém negando-se a receber o Salvador permaneceu sujeita à escravidão da Lei Mosaica. São Paulo compara-a a Agar, a mulher escrava, que dá à luz para a escravidão, e que viverá doravante condenada ao servilismo da terra, a ser uma Jerusalém terrestre, deserdada dos bens do Céu. A Jerusalém celeste, que é a Igreja, é livre, pelo contrário, porque aceitou a lei do amor que Jesus lhe deu. São Paulo compara-a a Sara, a mulher livre de Abraão, que deu à luz o herdeiro da promessa.
Do Evangelho: A multiplicação dos pães é uma figura da Eucaristia. ‘Eu sou o pão da vida’, dizia o Senhor. "Os vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Eu sou o pão que desceu do Céu, para que aquele que Me comer viva eternamente”
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.