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Category: AnônimoConteúdo sindicalizado

O bom samaritano da década de 1970 nos Estados Unidos

[Nota da Permanência: O texto a seguir foi escrito por um monge beneditino norte-americano em homenagem a Dom Marcel Lefebvre. Tudo aquilo que o religioso escreveu acerca da importância do grande bispo para os católicos do seu país, podemos subscrever no que se refere aos católicos do Brasil]

 

A década de 1970 foi uma época turbulenta para a Igreja Católica. A aplicação das mudanças litúrgicas na Igreja foi brutalmente implementada com o assim chamado espírito do Concílio. Nós testemunhamos a destruição dos altares principais das igrejas, sendo substituídos pelo que ficou conhecido como as mesas de açougueiro de 19701 . Vimos as igrejas sendo destituídas da mesa de comunhão dos fiéis, das imagens dos santos e do crucifixo acima do altar principal, o qual foi substituído por uma cruz vazia e um véu branco representando o Cristo ressuscitado em oposição ao sacrifício de Cristo na Cruz. O tabernáculo foi escondido em alguma parte obscura da igreja. O sagrado canto gregoriano foi substituído, na melhor das hipóteses, por “Kumbaya, My Lord” 2, ou, na pior das hipóteses, com as missas “clown” 3 ou “rock-n-roll”. A mais devastadora mudança foi no rito sagrado da missa em si, que ficou desfigurado a ponto de ficar essencialmente irreconhecível. Os clérigos daquela época tornaram-se centrados no homem. Eles não mais pregavam sermões sobre Deus e as almas, mas denunciavam a injustiça social sobre o proletariado.

As vítimas de todas essas mudanças foram os próprios padres e os fiéis sob seus cuidados. Algumas estimativas falam de 120.000 padres abandonando o sacerdócio. Só Deus sabe o dano feito às almas dos fiéis durante estes tempos terríveis. Esses pobres padres foram vítimas da ilusão de que o homem e o mundo têm mais a oferecer do que Deus. Foi nesses mesmos anos que os EUA aceitaram legalmente o assassinato de crianças ainda não nascidas.

Essa era a triste situação da Igreja na década de 1970. Esses exemplos são bem conhecidos, mas há muitos outros que permanecem ocultos na consciência das vítimas. Era como se os ladrões tivessem nos despojado de nossa Igreja, deixando-nos meio mortos à beira da estrada da vida. A maioria das famílias, confundidas por seus pastores, simplesmente deixaram a Igreja em busca de um sentido para a vida. Muitas almas desiludidas voltaram-se para as comunidades hippies, onde tentaram satisfazer sua sede pelo sobrenatural com drogas alucinógenas e prazer sensual que chamavam de "amor livre".

Essas feridas infligidas a toda a sociedade nos fazem pensar na parábola do Bom Samaritano. Nosso Senhor explica que a maior lei é o amor a Deus e a segunda é o amor ao próximo como a si mesmo. Um doutor da lei, para O tentar, pergunta: “Quem é meu próximo?” Nesta ocasião, Nosso Senhor apresenta a parábola do Bom Samaritano.

Um homem descia de Jerusalém para Jericó. Jerusalém simboliza a cidade da paz celestial e

Jericó, a cidade da vaidade mundana. Na década de 1970, desejamos descer da vida católica tradicional para a vaidade de uma sociedade decadente infestada de drogas. Caímos nas mãos de ladrões que nos despojaram do sacrifício da Missa tradicional e da formação de verdadeiros sacerdotes. Eles bateram em nossas almas com um catecismo herético deixando-nos moralmente meio mortos à beira da estrada da vida. Os antropocêntricos padres do Novus Ordo e os grupos de apostolado ofereciam treinamento da sensibilidade em vez de doutrina, eles não podiam ajudar nossas almas feridas. Esses foram tempos sombrios para o Corpo Místico de Cristo. Parecia não haver esperança enquanto esperávamos o que parecia ser uma morte certa para nossas almas.

Para aqueles que não viveram na década de 1970, tentem imaginar-se espiritualmente meio mortos, largados a beira da estrada, esperando a morte, incapazes de socorrer a si mesmos. Aqueles que deveriam ajudá-los passavam ao largo. Tentem olhar através dos olhos de uma alma meio morta quando finalmente vê alguém parando para ajudar. Imagine a sua alegria ao se deparar com um rosto desconhecido que olha com compaixão. Alegria, esperança e gratidão voltam a este corpo ferido. O único desejo deste tipo o homem é ajudar sem esperar nada em troca.

Para nós que atravessávamos aquela terrível tempestade, podemos dizer com sinceridade que a alegria, esperança e gratidão voltaram às nossas almas feridas quando Dom Marcel Lefebvre veio para a América. Ele não precisava de nós, apenas se ofereceu para ajudar nossas almas angustiadas porque nenhum outro bispo nos EUA vinha em nosso auxílio. Ele era realmente como o Bom Samaritano. O vinho que derramou em nossas feridas pode ser comparado ao Santo Sacrifício da Missa que mais de uma vez foi oferecida em nossas capelas improvisadas. O óleo que ele derramou sobre nós foi a unção do sacerdócio concedido ao nosso país com o seminário que fundou em nosso solo. Ele nos levou para a estalagem fortalecendo a nossa fé na Santa Mãe Igreja. Ele confiou nossas almas ao dono da estalagem que pode ser comparado aos jovens padres da Fraternidade São Pio X. As duas moedas dadas ao dono da estalagem para o nosso cuidado foram a formação que ele lhes deu na verdadeira doutrina católica e na vida moral de sempre.

Na realidade, o único Bom Samaritano é Nosso Senhor, mas Ele atua por meio dos ministros da Igreja. Na década de 1970, o ministro do Bom Samaritano para os católicos feridos da América foi Sua Excelência Reverendíssima Dom Marcel Lefebvre. Ele descobriu que nosso país fora espancado, ferido e deixado meio morto. Seu amor a Deus e ao próximo o impulsionou a vir em nosso auxílio. Vimos com nossos olhos sua caridade em ação. “Bem-aventurados os olhos que veem o que vós vedes”.

(The Angelus, Novembro de 2020)

  1. 1. “1970 butcher block table”: O autor refere-se a grandes blocos de madeira quadrados ou retangulares usados inicialmente por açougueiros como mesa de corte, porém em alguns continentes passou a ser usado também em cozinhas domésticas. Nota do tradutor.
  2. 2. "Kum ba yah" (“Vinde” em um dialeto africano) “My Lord” (Meu Senhor): Cântico de data ainda disputada, sabe-se que era cantado por escravos africanos cristianizados nos E.U.A. Durante as décadas de 1950 e 1960 do século XX ganhou forte conotação política sendo usado em movimentos por direitos civis também nos E.U.A. A letra em si não possui nada de contrário à doutrina católica, são insistentes súplicas de um pecador para que Deus não o abandone, porém no conjunto o cântico é inapropriado para a liturgia, ainda mais por ter sido impregnado de conotação política. Nota do tradutor.
  3. 3.Missas “clown” (Palhaço): Série de conhecidos ultrages à missa católica onde pessoas fantasiadas de palhaço cumprem funções litúrgicas e recebem a Sagrada Comunhão. Nota do tradutor.

Introdução ao domingo da Sexagésima

“A semente é a palavra de Deus” (Evangelho)

 

Paramentos roxos

 

O Breviário fala-nos de Noé toda semana.

“Vendo Deus que era grande a malícia do homem sobre a Terra, disse: Vou exterminar o homem que criei. Faze, pois, uma arca de madeira e entra nela, que estabelecerei contigo a minha aliança. E Deus fez então chover sobre a Terra, quarenta dias e quarenta noites. A arca flutuava à superfície das águas que se elevaram acima das grandes montanhas. Os homens pereceram e Noé salvou-se com os seus na arca... Passou algum tempo e Noé soltou uma pomba, que regressou com um ramo de oliveira. Noé compreendeu que as águas tinham baixado. E então disse-lhe Deus: Sai da arca e multiplicai-vos sobre a Terra. E Noé levantou um altar e ofereceu a Deus um sacrifício de agradável odor”.

Esta narração, referida ao mistério pascal, é comentada por uma bela oração de Sábado Santo. Ei-la: “A justa cólera do Criador submergiu o mundo culpado nas águas da vingança, e só Noé se salvou na arca. Depois a virtude admirável do amor lavou o universo no sangue”. Foi o madeiro da arca que salvou o gênero humano e foi o da Cruz que resgatou o mundo. “Só tu foste digna, diz a Igreja ao falar da Cruz, de seres para o mundo naufragado a arca que o leva ao porto”. A porta aberta no costado da arca e por onde entraram os que se haviam de salvar do dilúvio nos é apresentada na liturgia como figura do mistério da Redenção; porque do lado de Jesus saiu sangue e água simbolizando os sacramentos do Batismo e da Eucaristia.

“Ó Deus que, lavando nas águas os crimes do mundo corrompido, nos destes no mesmo dilúvio a imagem da regeneração, para que um mesmo elemento fosse o fim dos vícios e a imagem das virtudes, olhai com bondade para a vossa Igreja e multiplicai nela a vossa intervenção regeneradora, abrindo por toda a Terra as fontes do batismais que devem renovar os povos”.

No tempo de Noé, diz S. Pedro, salvaram-se do dilúvio 8 pessoas somente, e isto foi símbolo do Batismo que nos salva a todos. E quando o Bispo benze na Quinta-feira Santa o azeite de oliveira que há de servir para os sacramentos diz:

“Quando os crimes do mundo tinham já sido expiados nas águas do dilúvio, veio uma pomba anunciar a paz à Terra com o ramo de oliveira no bico, que era símbolo então das graças que nos reservava o futuro. Este símbolo realiza-se, quando a unção do azeite, depois que água do Batismo nos lavou, nos vem dar ao rosto paz e beleza”.

Mas no que Noé se assemelha mais com Jesus Cristo é na missão que Deus lhe confiou de ser o pai de numerosos povos. Noé é, com efeito, o segundo progenitor do gênero humano e o símbolo da vida renascida.

“O ramo da oliveira simboliza a feliz fecundidade que Deus concederia a Noé depois de sair da arca, e a arca é denominada no Ofício de hoje por S. Ambrósio “seminarium”, quer dizer, lugar onde se guarda a semente da vida que deve recobrir o mundo. Ora, bem melhor que Noé, Jesus Cristo repovoou o mundo com a prodigiosa descendência das almas crentes e fiéis a Deus. É por isso que a oração da 2ª profecia do Sábado Santo pede ao Senhor que realize os seus desígnios eternos e complete na paz a obra da redenção do homem: “... possa ver o mundo sentir a reparação do que estava caído e a renovação do que envelhecera e todas as coisas restabelecidas na integridade primeira por aquele mesmo que deu a todos o ser”.

No princípio, foi pelo Verbo, quer dizer, pela Palavra, que Deus fez o mundo. E foi pela pregação do Evangelho, que Jesus, o Verbo de Deus, veio regenerar os homens. Fomos regenerados, diz S. Pedro, por uma semente incorruptível, que é a palavra de Deus, que nos foi anunciada pelo Evangelho. A esta luz, já vemos todo o relevo da parábola do Semeador, que vem na Missa de hoje.

Se nos tempos de Noé os homens pereceram, diz S. Paulo, foi por serem incrédulos. Noé que acreditou salvou-se na arca. Do mesmo modo, os que acreditarem e guardarem a palavra do Senhor serão salvos. E S. Paulo enumera na Epístola de hoje tudo o que é necessário para levar aos povos a fé no nome de Deus. Ele foi, com efeito, o pregador por excelência, o Ministro de Cristo que Deus escolheu para levar aos povos os clarões da Boa-Nova do Verbo Encarnado.

Do Evangelho: Jesus deita a semente da palavra nos corações bem dispostos. Procuremos recebe-la bem e façamo-la frutificar na paciência para que Aquele que passou a vida a lançar nas almas a boa doutrina continuando a fazê-lo por meio da sua Igreja, nos possa recompensar com o cêntuplo que prometeu aos que O escutarem e seguirem fielmente.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

Introdução ao domingo da Septuagésima

“Ide vós também para a minha vinha” (Evangelho)

 

Paramentos roxos

 

A aproximação dos textos do Breviário e do Missal, esta semana, esclarece-lhes singularmente o sentido e a importância. As lições e os responsórios do Ofício da noite são tirados do Gênese e relatam a história da criação do mundo e do homem, a queda dos primeiros pais, a promessa do Redentor e finalmente a morte de Abel e a sequela das gerações até Noé. “No princípio, diz o Livro Santo, Deus criou o Céu e a Terra, formou o homem e colocou-o num jardim delicioso para o cultivar”. Jesus Cristo, observa São Gregório, diz-nos que o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que assalaria operários para a sua vinha. Ora, quem pode melhor representar o pai de família do que o Criador, que governa com a sua Providência tudo o criado e traz neste mundo os seus escolhidos como o Senhor traz os servos em sua casa? A vinha é a Igreja. Todos os que se aplicaram com retidão à prática do bem e exortaram os outros com a palavra ou com o exemplo a enveredar pelos caminhos da virtude, são operários desta vinha. Pelos da primeira, da terceira, da sexta e da nona hora, quis o Senhor designar o povo judeu, que desde o princípio se esforçou por servir a Deus na pessoa dos seus profetas e dos seus santos e não cessou de trabalhar no cultivo da vinha. Pelos da undécima, designou os gentios e a eles se dirige: “Porque estais aqui o dia todo sem fazer nada? ”Todos os homens são, pois, convidados a trabalhar na vinha do Senhor, quer dizer, na própria santificação e na alheia, e glorificar por este modo a Deus. Mas Adão, falhou à sua missão: “porque tu comeste do fruto da árvore que te ordenara não comesse, a terra será maldita e tirarás dela o teu sustento à força de trabalho. Só dará espinhos e cardos. Comerás o pão no suor do teu rosto até que voltes à terra donde saíste”. Exilados do Paraíso, diz S. Agostinho, o primeiro homem comunicou a pena de morte e reprovação a todos os descendentes. O gênero humano, assim condenado, foi, por assim dizer, afundado na desgraça que vai arrastando consigo através das misérias da vida. Os textos da Missa estão cheios dos mesmos pensamentos. “Dores de morte me cercaram”, diz o Intróito. E é com justiça, diz a Oração, que sofremos pelos nossos pecados. A Epístola apresenta-nos a vida como um circo onde é necessário lutar para ganhar a coroa. O denário da vida eterna, acrescenta o Evangelho, será dado só àquele que trabalhar na vinha do Senhor. Deus na sua sabedoria preferiu, diz S. Agostinho, tirar o bem do mal a não permitir mal algum. Deus com efeito compadeceu-se dos homens e prometeu-lhes um segundo Adão que restabeleceria a ordem perturbada pelo primeiro. O Paraíso era “a sombra duma vida mais perfeita”. Exilados de lá com Adão, perdêramos o direito a essa vida que ele representava. Porém, o segundo Adão veio reabrir-nos a porta e dar possibilidade de lá reentrarmos. Senhor, canta a Igreja, Vós sois o nosso auxílio na angústia e na indigência. Tendes o perdão convosco, iluminai sobre nós a Vossa face e salvai-nos.

A Missa da Septuagésima assim estudada prepara-nos para começar este novo período do ano litúrgico com uma compreensão mais perfeita dos mistérios pascais. Aprende-se melhor deste modo tudo o que a Páscoa representa e o que a Igreja nos ensina quando diz: “Deus criou o homem duma maneira admirável e resgatou-o de maneira mais admirável ainda”.

 

Do Evangelho: O amanhecer do mundo, a primeira hora, diz S. Gregório, pode entender-se do tempo que vai de Adão até Noé; a terceira, de Noé até Abraão; a sexta, de Abraão até Moisés; a nona, de Moisés até a vinda do Salvador; a undécima, desde a vinda do Salvador até o fim do mundo. Todos os homens são, portanto, chamados a trabalhar para a glória de Deus e a receber como salário o denário da vida eterna.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

Introdução ao terceiro domingo depois da Epifania

“Dizei uma só palavra e o meu servo será curado”

 

Paramentos verdes

 

Estes quatro domingos têm todos o mesmo Intróito, Gradual, Aleluia, Ofertório e Comunhão, e referem-se todos igualmente à realeza de Cristo. Os dois milagres referidos no Evangelho de hoje têm ambos a mesma significação. O primeiro é a cura dum leproso judeu. E o Senhor quer que os Príncipes dos Sacerdotes constatem oficialmente o prodígio. O segundo é o do Centurião, dum pagão, que humildemente confessa a sua indignidade e a sua fé. Todos os povos são, pois, convidados a tomar parte na herança do reino e no banquete da glória, em que a própria divindade será o pão da nossa alma. Filhos do reino de Deus, renovemos a nossa fé na divindade de Cristo e proclamemo-la com atos de virtude e daquela caridade que constitui o grande mandamento e que S. Paulo nos recorda na epístola de hoje. “A graça da fé em Jesus, diz S. Agostinho, opera a caridade”. Que nada nos separe desta caridade, e que ela produza na nossa alma sentimentos de paz e de amor para com todos os homens.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

Introdução ao segundo domingo depois da Epifania

Jesus transforma a água em vinho nas Bodas de Caná.

 

Paramentos verdes

 

Fiel à promessa que fizera a Abraão, Deus enviou o seu Filho para resgatar o povo eleito, que se não circunscrevia à órbita judaica somente, mas compreendia os homens de todos os lugares e de todos os tempos. Jesus é, pois, aquele rei que a terra toda deve adorar e servir. Havendo sido convidado às núpcias em Caná, diz S. Agostinho, aceita o convite para nos revelar o profundo mistério que nelas se encobre e que é a união de Cristo com a sua Igreja. Todos os Padres são unanimes em ver neste milagre aí operado, além da confirmação da missão redentora de Cristo, o símbolo da Eucaristia e da aliança que Jesus Cristo estabeleceu com as almas e selou com o sinete do seu sangue e a qual se consuma na sagrada comunhão. São as núpcias divinas na terra, prelúdio das eternas do céu. Éramos água e Cristo fez-nos vinho, vinho novo, duma vinha que é também nova e que foi regada com o sangue dum homem-Deus. Diz S. Tomás que a conversão da água em vinho é símbolo da transubstanciação, milagre tamanho que faz do vinho eucarístico o sangue da aliança de paz que Deus estabeleceu com a sua Igreja.

Do Evangelho: O milagre de Caná mostra-nos bem o que pode Maria junto do Coração do Filho. Mas diz S. Ambrósio que ela não Lhe pede serviços vulgares, mas aquilo que só Deus pode fazer.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

Comunhão na língua é contrária às práticas sanitárias?

A comunhão na língua é contrária às práticas sanitárias. Assim afirma um artigo publicado no Catholic Leader australiano por Elizabeth Harrington, a oficial de educação para a Comissão de Liturgia da Arquidiocese de Brisbane:

É ruim para os ministros dar comunhão na língua às pessoas que estão de pé, que é a postura recomendada para comunhão na Austrália, e isso é anti-higiênico porque é difícil aos ministros evitar passar saliva para os outros comungantes1.

Essa afirmação (normalmente feita por proponentes da comunhão na mão) revela uma ignorância da prática tradicional da Igreja Romana e das rubricas para a distribuição da Santa Comunhão na língua.

Em primeiro lugar, o comungante deve ajoelhar-se; obviamente, são feitas exceções para os portadores de deficiência, que normalmente desejariam poderem ajoelhar-se. Não apenas esse ato mostra a humildade dos comungantes ao receber Nosso Senhor Sacramentado (i.e., Deus), mas essa postura submissa também permite dar a Hóstia na língua de maneira mais prática, segura e… Higiênica – em todos os três casos, muito mais que através da comunhão na mão.

Outro interessante aspecto é que a forma tradicional de receber a Comunhão de joelhos e na língua demonstra o caráter romano de praticidade que permeia o rito litúrgico de mesmo nome, resultando em uma maneira digna e reverente de receber o Pão dos Anjos, e fácil e eficiente ao mesmo tempo.

A rubrica tradicional do Rituale Romanum prescreve que o Padre deve, cautelosamente, tomar a Hóstia pela ponta com seu polegar e indicador direitos; nenhum outro dedo pode ser usado para realizar essa ação. Como diligentemente ensinado em aulas tradicionais preparatórias para a Primeira Comunhão, o comungante deve inclinar sua cabeça para trás levemente, abrir a boca e estender um pouco a língua, criando o que comumente se chama de “travesseiro da língua”. O Padre, então, consegue colocar, facilmente, a Hóstia na língua sem tocar a língua do comungante, até mesmo sem tocar seus lábios – o que resulta na ausência de contato físico entre o ministro e o comungante.

Mas, com a comunhão na mão, contato direto é feito entre o ministro (normalmente o Ministro de Eucaristia) e os comungantes, que, normalmente, não lavaram (ou higienizaram) suas mãos antes de receber. Portanto, com a comunhão na mão, existe um perigo real de se espalharem germes indesejados.

O fato é que, antes do clamor dos progressistas pela comunhão na mão (algo que foi feito sem aprovação da Santa Sé2, poderíamos acrescentar), o problema da higiene jamais foi levantado em relação à maneira tradicional de receber a Santa Comunhão – e isso durante uma era em que os pregadores da higiene estavam empenhados em tornar o mundo livre de germes.

A ironia dessa acusação contra a Comunhão na língua é que aqueles que promovem a comunhão na mão por razões inexistentes de higiene, ao mesmo tempo, encorajam a prática de “compartilhar o copo” (receber o Preciosíssimo Sangue comunalmente do cálice), prática essa que a Igreja Romana fez cessar em tempos antigos precisamente em razão de preocupações com a higiene (i.e., devido aos restos de saliva que, inevitavelmente, se acumulam quando um grupo de pessoas bebe do mesmo recipiente) – o que poderia levar a desdém por esse Sagrado Mistério.

Esse tema apenas fornece mais um exemplo de como, através de suas práticas tradicionais, a Santa Madre Igreja é zelosa tanto por nossas necessidades espirituais, quanto naturais. Pelo lado sobrenatural, ela nos dá uma maneira reverente na qual nós, pobres e indignos pecadores (“Domine non sum dignus”, citando os sentimentos do Centurião), podemos receber o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor, e, na esfera natural, de uma maneira que não prejudique nossa saúde corporal.

  1. 1. Esse é o jornal arquidiocesano, e o título do artigo era “Communion in the Hand”, publicado em 12 de Fevereiro de 2012, na coluna “Liturgy Lines”. Ele está indisponível online sem uma assinatura.
  2. 2. Cf. o livro fenomenal do Bispo Juan Laise, Communion in the Hand: Documents and History e essa página com um vídeo do Cardeal Burke, que inclui muitos links pertinentes sobre a comunhão na mão.

Introdução à festa da Sagrada Família

Jesus veio para Nazaré e vivia sujeito a eles (Evangelho).

 

Paramentos brancos

 

“Não era acaso conveniente, diz São Leão, celebrar o nascimento real do Filho do Pai eterno, a casa de David, e os nomes gloriosos dessa antiga linhagem? Mas é mais doce ainda para nós recordar a pequena casa de Nazaré e a humilde existência que aí se passa; é mais doce celebrar a vida obscura de Jesus. É aí que o Divino Infante se exercita no humilde ofício de carpinteiro, aí, na sombra, cresce em idade, mostrando-se feliz por partilhar dos trabalhos de São José.

Que o suor, diz ele, banhe os membros antes de os inundar a efusão do sangue redentor, que a mortificação do trabalho sirva também de expiação para o gênero humano. Junto do Menino se encontra sua terna Mãe, junto do Esposo a Esposa dedicada. Como ela se julga feliz em poder aliviar, com afetuosos cuidados, as sua penas e fadigas”. “Ó vós que não fostes isentos nem de preocupações nem de trabalhos, e que conhecestes o infortúnio, olhai para os desgraçados que lutam contra as dificuldades da vida e se veem na indigência”. (Hino de Matinas).

Na humilde casa de Nazaré, Jesus, Maria e José santificaram a vida familiar pelo exercício das virtudes domésticas (Oração). Praticaram a humildade, a paciência, a moderação, a ajuda mútua, a caridade, o respeito e a obediência, de que nos falam a Epístola e o Evangelho da Missa. Vivendo sempre no recolhimento e na oração, encontraram a alegria e a paz. Oxalá a grande família que é a Igreja e cada lar cristão pratique na terra as virtudes que praticou a Sagrada Família a fim de que possa viver um dia em sua santa companhia no Céu (Oração).

Da Epístola: Devido à grande misericórdia perdoou-nos Jesus as nossas faltas formando a grande família da Igreja que Ele é o Chefe. Saibam os que dela fazem parte agradecer a Deus e usar de misericórdia uns para com os outros.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

Introdução à festa do Santíssimo Nome de Jesus

“Que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre: no Céu (Anjos), na Terra (Homens), e nos infernos (Demônios) ”. (Intróito)

 

Paramentos brancos

 

A Igreja revela-nos as grandezas do Verbo encarnado, cantando as glórias do Seu Nome.

Era por ocasião do rito da circuncisão que os judeus impunham o nome aos filhos; por isso a Igreja vai buscar hoje o Evangelho da Festa da Circuncisão fazendo realçar as últimas palavras: “e foi-Lhe dado o nome de Jesus, nome que já o Anjo Lhe havia dado antes de ser concebido no seio da Virgem”. O nome de Jesus significa Salvador, e diz São Pedro, que não foi dado aos homens outro Nome, pelo qual nos possamos salvar (Epístola).

É ao Nome de Jesus, diz São Bernardo, que os coxos andam, que os cegos veem e que os surdos ouvem. A pregação do Nome de Deus é a luz do mundo, o unguento que unge, reconforta e sustenta (Matinas). O Nome de Jesus “é mel para os lábios, melodia para os ouvidos e alegria do coração”. Que durante a nossa vida ele nunca saia dos lábios para termos um dia a alegria de vermos o nosso junto ao d’Ele inscrito no Céu (Depois da Comunhão).

As primeiras origens desta festa remontam ao século XVI em que era celebrada na Ordem de São Francisco. Em 1721, Inocêncio XIII, estendeu-a ao mundo inteiro.

 

(Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.)

A constituição cristã do Estado – comentário ao livro de M. Ayuso

 “A heresia individual, com o laicismo liberal, torna-se social e política” (M.Ayuso)

“Da forma dada à sociedade, segundo esteja de acordo ou não com as Leis Divinas, depende o bem ou o mal das almas. Diante dessas considerações e previsões, como poderia ser lícito à Igreja (...) permanecer espectadora indiferente diante dos perigos que os seus filhos enfrentam; calar ou fingir não enxergar situações que (...) tornam difícil ou praticamente impossível uma conduta de vida cristã ?” (Pio XII, Radiomensagem “A Solenidade”, Pentecostes de 1941).

 

Prólogo

Miguel Ayuso, professor de Direito Constitucional na Universidade Comillas de Madri, Presidente da União de Juristas Católicos, escreveu, em 2008, um livro muito interessante sobre as relações entre a Igreja e o Estado, traduzido em italiano pelas Edizione Scientifiche Italiane, de Nápoles, em 2010, com o título “A Constituição cristã dos Estados”(1). Em seu livro, o célebre jurista toma em consideração inclusive o tema da liberdade religiosa, tal como foi enfrentado pelo Decreto Dignitatis Humanae do Concílio Vaticano II e o  compara com o ensinamento do Direito Público Eclesiástico, colocando às claras as diferenças entre a doutrina tradicional e o ensinamento pastoral de Vaticano II de um ponto-de-vista cientificamente jurídico.

 

Breve excursus das relações entre Estado e Igreja

Na Antiguidade pagã era inconcebível a ideia da separação entre poder temporal e espiritual. A esfera política e a religiosa se identificavam. A religião era considerada uma virtude social ou política, enquanto a impiedade era, além de um pecado, um crime político bem grave, uma vez que a unidade da Cidade se baseava sobre o princípio da piedade em relação à Divindade (2)

O Cristianismo sempre ensinou a dependência da sociedade temporal em relação à religiosa e, a partir de Constantino, orientou também na prática o bem comum temporal ao sobrenatural e espiritual. Esses dois poderes são distintos (diferentemente de como era no paganismo), mas não separados (diferentemente de como é no laicismo) (3).

A partir da Revolução Francesa se chega à neutralidade ou separação entre Estado e Igreja, que vai da indiferença à perseguição. É a época da secularização ou do laicismo, que tentaram abater indiretamente a Fé cristã atacando diretamente a Cristandade ou a Constituição cristã dos Estados europeus (4). Nessa época procurou-se destruir a ordem natural e divina mediante a Revolução ou a subversão das relações entre temporal e espiritual, natureza e graça, razão e fé. Em parte, foi bem sucedido o intento descristianizando a sociedade temporal mediante as ideias e as instituições políticas. A heresia de individual, com o laicismo liberal, torna-se social e política(5). A Revolução é uma doutrina social ou política, que quer fundar a sociedade temporal, não sobre Deus, mas sobre o homem. A Contra-Revolução é a doutrina política que funda o Estado sobre Deus e Sua Lei (6).Ora, “a toda ação corresponde uma reação igual e contrária”. Logo, se a Revolução “heretizou” socialmente, a Contra-Revolução deve dar um remédio não só individual, mas social e político à heresia social que o laicismo liberal é. Se a Revolução quer aniquilar a Cristandade ou o Estado católico para depois destruir a própria Fé, a Contra-Revolução (que não é uma Revolução de sinal trocado, mas é o contrário per diametrum da Revolução) quer restaurar a Civilização cristã, ou seja, a moral social cristã como ensinada pela Tradição apostólica e, depois, inscrita nas Constituições civis a partir de Constantino (7).

O Magistério da Igreja é citado por Ayuso para demonstrar o quanto exposto. Pio VI, na Alocução ao Consistório, de 9 de março de 1789, condena as liberdades modernas e na encíclica Adeo nota, de 1791, condena a “Declaração dos direitos do homem e do cidadão”. Gregório XVI, na encíclica Mirari Vos, de 1832, condena o catolicismo liberal. Leão XIII, na encíclica Diuturnum illud, de 1881, na Immortale Dei, de 1885, na Libertas, de 1888, e, por fim, na  Annum ingressi, de 1902, expõe a doutrina católica sobre as relações entre Igreja e Estado e condena toda doutrina separacionista dos dois poderes. São Pio X, na encíclica Vehementer nos, de 1906 e na  Notre Charge Apostolique, de 1910, condena a separação entre o poder temporal e espiritual e o modernismo político ou “Democracia Cristã”. Pio XI,  em Quas Primas, de 1925, fala da Realeza social ou política de Cristo e condena o laicismo. Por fim, Pio XII, na encíclica Summi Pontificatus, de 1939, na Radiomensagem Benignitas et humanitas, de 1944 e no Discurso aos juristas católicos italianos, de 1953, continua o mesmo ensinamento de união e subordinação entre os dois poderes e de condenação da sua separação(8).

 

Questão social, política e moral católica

A Questão Social, isto é, a relação entre trabalhador e patrão, não é somente econômico-financeira, mas sobretudo moral e religiosa. De fato, para Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, a economia é a virtude de prudência aplicada à família (diferente da área de negócio, crematística ou finanças, que é a arte de arriscar-se); e a política é a virtude de prudência aplicada à sociedade temporal. Para resolver o conflito, que surgiu no século XIX entre trabalhadores e patrões – segundo o Magistério – não basta uma resposta puramente financeira ou de salário, mas deve se elevar um pouco e ver a questão à luz da Moral e da Fé. O problema operário – segundo Leão XIII na encíclica Rerum Novarum de 1891, Permoti nos de 1895 e Graves de communi re de 1901 – resolve-se, sobretudo, com a virtude de caridade e de justiça e, depois, com o justo salário. Leão XIII, na encíclica Rerum Novarum, explica beníssimo que o “desejo de novidade” ou a “rerum novarum cupiditas”, do campo político (Liberalismo) transbordou para o econômico-financeiro (Liberalismo/Socialismo). Logo, para resolver e refutar o problema liberal e social-comunista (primado da economia ou área de negócio, materialismo histórico), é preciso primeiro responder ao erro liberal (primado da liberdade como fim absoluto e não como meio para tomar o fim). O Papa mostra a ligação que há entre Revolução religioso-dogmática e revolução moral, já que a moral é a Fé praticada e vivida (“agere sequitur esse”), e, depois, entre Revolução política, que é a heresia dogmática e moral transferida do nível individual ao campo social, e Revolução econômico-financeira(9). “Depois da heresia individual vem a Revolução social ou política e, depois  da Revolução é a hora do carrasco” (Donoso Cortès, Ensaio sobre o Catolicismo, o Liberalismo e o Socialismo).

Miguel Ayuso entendeu perfeitamente o caráter do Magistério eclesiástico dos séculos XIX e XX de contestação da modernidade. A Igreja enfrentou os temas de caráter político (Liberalismo), cultural (Tomismo/modernismo), econômico-financeiro (social-comunismo), oferecendo uma doutrina completa e orgânica sobre a Realeza Social além de individual, temporal além de espiritual, de Cristo já sobre esta terra, além de no Paraíso.

 

A ruptura ou Revolução de Vaticano II

Se a Modernidade é a Revolução filosófica, dogmática, moral, política e econômica (modernismo, liberalismo, libertarismo, socialismo) a doutrina católica tradicional é a Contra-modernidade ou Contra-revolução. Infelizmente, com o Concílio Vaticano II foi “esquecida com desenvoltura esta Tradição. (...) Esquecimento acompanhado muitas vezes de desprezo”(10). A causa de tal ruptura com a Tradição apostólica em matéria de doutrina social Miguel Ayuso encontra na “fase de conformismo (conciliar e pós-conciliar) com respeito à modernidade”(11). Entenda-se: “modernidade” significa pensamento filosófico moderno subjetivista e relativista, que vai de Descartes a Hegel, e não significa “fazer-se compreender pelo homem de hoje”, o que é completamente legítimo e normal, mas totalmente diferente da condescendência eclesiástico-pastoral com a “modernidade”. A Igreja havia contestado e refutado a modernidade com o Magistério tradicional dos séculos XIX e XX, referindo-se à doutrina de Papa Gelásio I. Infelizmente, com a Declaração sobre a liberdade religiosa ou  Dignitatis humanae subverteu-se ou “revolucionou-se” a doutrina  de dogmática em pastoral e pressionou-se os “católicos a conformarem-se à modernidade (...) e a sair do gueto em que a Igreja tradicional os havia reduzido (12), contrariando o dizer de São Paulo “: “Nolite conformari huic saeculo!”.

 

O Magistério tradicional contrasta com a Modernidade

A conclusão que Miguel Ayuso tira é que, se o Magistério constante e tradicional da Igreja contestou e refutou a modernidade subjetivista e relativista (Liberalismo, Modernismo, libertarismo e social-comunismo), o ensinamento pastoral de Vaticano II chegou mesmo à “renúncia da tradicional doutrina política – baseada sobre a Constituição cristã dos Estados – (...) [e revelou-se] incapaz de delinear uma nova estratégia” (13), ou seja, não apenas abandonou a doutrina social tradicional sobre relações entre Estado e Igreja, mas não consegiu nem mesmo propor uma alternativa filosofico-política adequada ao surgimento do novo laicismo, sempre mais radical e paroxístico.

 

O Vaticano II se rendeu à Modernidade

 Renderam-se em face da modernidade e da pós-modernidade sem mostrar resistência, esperando não serem perseguidos mas deixados em paz, não se quis opor uma resistência doutrinal (filosófica e teológica) ao mundo contemporâneo e calou-se, logo, fugiram da frente do lobo que veio despedaçar o rebanho, esperando serem poupados, como o mercenário e o mau pastor do Evangelho, que “trai as ovelhas não só fugindo, mas também calando” (São Gregório Magno). A tática ‘não-pastoral’ de não condenar, desaprovar e criticar o erro, equivale à atitude do mercenário, que cala quando vê o lobo vir, ao invés de gritar e de alertar o seu rebanho. É por esse motivo que não apenas doutrinalmente houve ruptura entre ensinamento pastoral e falível do Vaticano II e Tradição apostólica, mas também pastoralmente, isto é, ao calar a doutrina e os princípios no caso prático e no modo de agir, o Vaticano II revelou-se um imenso fracasso, porque em vez de avisar que um perigo repousava, nos anos 60, sobre a Cristandade e a Fé Católica (pense-se no Comunismo e em 1968), quis calar-se para não parecer “profeta de desgraças”, e, analogamente no pós-concílio mais recente (2005-2011) não se alertou o rebanho contra o perigo do teoconservadorismo, do catolicismo liberal, do judeo-cristianismo e do ateísmo devoto, os quais estão matando hoje também aquele “pequeno rebanho”, que tinha resistido ao modernismo e neomodernismo. É evidente a todos que para ensinar a verdade (por exemplo que 1+1=2) não se pode aprovar o erro (1+1=3) e, logo, não se pode não condenar.

Combater e promover. O professor Ayuso comenta: “Trata-se não apenas de combater aquilo que é socialmente nocivo em relação ao influxo que exercita sobre as almas, mas também de promover aquilo que é socialmente benéfico, em virtude de seu valor intrínseco”(14). De fato, não se pode ser somente “contra” ou limitar-se a  pars destruens  ou negativa, mas ocorre também propor alguma coisa “pró”, ou seja, de positivo(15).

 

Não se pode calar, senão “as pedras gritarão”

Pio XII tinha previsto esse perigo e o denunciara já em 1941: “Da forma dada à sociedade, segundo esteja de acordo ou não com as Leis Divinas, depende o bem ou o mal das almas. Diante dessas considerações e previsões, como poderia ser lícito à Igreja (...) permanecer espectadora indiferente diante dos perigos que os seus filhos enfrentam; calar ou fingir não enxergar situações que (...) tornam difícil ou praticamente impossível uma conduta de vida cristã ?” (Pio XII, Radiomensagem “A Solenidade”, Pentecostes de 1941). Não se pode calar ou fingir não enxergar o perigo de uma situação que torna difícil viver cristãmente. Ora, a “liberdade das falsas religiões”, o abandono do ideal do Estado Católico ou da Realeza Social de Cristo, sancionados pelo Concílio Vaticano II são exatamente uma situação ou um modo de vida que torna praticamente impossível a prática cristã. Os homens de Igreja caíram num tipo de “surdo-mudismo” pelo qual fingem não terem ouvido de modo a não deverem falar. Não podem permanencer espectadores indiferentes, que olham mas não gritam: “Lobo ! Socorro! Perigo! Atenção!”. Seria aceitar na prática e implicitamente, mesmo se não explicitamente ou por princípio, o erro e o mal, ou seja, a negação prática do primeiro princípio da moral per se conhecido: “malum vitandum, bonum faciendum”. Ora, quem nega os princípios per se conhecidos não é escusável por ignorância invencível, porque estes são evidentes a todo mundo, são mostrados, não demonstrados. Como os homens de Igreja hoje calam esta verdade social, esta – como disse Jesus – é gritada pelas pedras, isto é, pelos monumentos do passado, que testemunham uma verdade histórica: “Houve um tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados” (Leão XIII, Immortale Dei, 1885). Que tremenda responsabilidade não haver querido condenar o erro, não haver querido alertar a Cristandade e os fiéis cristãos contra o perigo. Não o tendo desaprovado ou condenado, implicitamente se o aprovou. “Um Papa bom não é um bom Papa”, dizia padre Innocenzo Colosio. “O médico piedoso faz a chaga gangrenosa”, recita o provérbio popular. O excesso de “bondade” pode se tornar a máxima crueldade (“summo bonarietas, summa malvigatas”).

Pars destruens et construens. Miguel Ayuso explica muito bem que “a Igreja não age em política apenas ‘negativamente’, mediante condenações (...), mas também intervém positivamente, declarando quais são os princípios que devem presidir a organização de uma comunidade” (16). A neutralidade, o pluralismo ou a indiferença do Estado em matéria religiosa não são princípios conformes à Tradição apostólica quanto às relações de Igreja e Estado, assim como está ensinado pela Sagrada Escritura, pelos Padres da Igreja do século IV e pelo Magistério, a partir do Papa Gelásio I (496) até Pio XII (1958).

 

A Cristandade já existe e não está por ser inventada

São Pio X ensinou formalmente – retomando o Magistério tradicional de seus predecessores, continuado pelos seus sucessores até Pio XII – que “a Civilização cristã não deve ser inventada, nem a Cidade deve ser construída sobre as nuvens. Ela existiu e existe. É a Civilização cristã, a Cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e estabelecê-la e restaurá-la e restabelecê-la, incessantemente, sobre os fundamentos naturais e divinos, contra os ataques sempre novos da utopia malsã, da Revolução e da impiedade: omnia instaurare in Christo” (Notre Charge Apostolique, 1910). A solução do problema político (relações entre Estado e Igreja) e social (relações entre mundo do trabalho e capital) é simplicíssima, porque não existe nada por ser inventado, basta instaurar ou fundar uma Pólis ou Civitas católica, baseada na Lei divina e natural nos lugares onde não tenha ainda começado a existir e restaurá-la ou consertá-la lá onde existiu, mas foi assaltada pela Revolução, que quer separar o Estado e a Igreja, os trabalhadores  e os patrões, a justiça e a caridade, a economia e a moral, destruindo assim a Civitas christiana. Até 1968, havia ainda vestígios, traços ou “ruínas” dessa Civilização cristã, (que tinha sido somente ferida, ainda que gravemente) e bastava restaurar as ruínas como se faz com as obras de arte dos séculos passados. Hoje ela está aniquilada ou ferida de morte pelo assalto da Revolução maçônica, que invadiu inclusive o ambiente eclesiástico, como denunciou Paulo VI mesmo: “a fumaça de Satanás penetrou na Igreja de Deus”. Por isso, agora na Europa (o berço da Cristandade), é preciso não mais restaurar a Civilização cristã, mas sim instaurá-la, mas sempre sobre os idênticos fundamentos (Lei eterna e natural) e princípios (cooperação de subordinação ou hierarquização do temporal em relação ao espiritual).

Nova Cristandade. Não é preciso inventar a “nova Cristandade” como fizeram Maritain (Humanismo Integral, 1936) (17) e Dignitatis humanae (1965), construindo-a sobre as “nuvens” da doutrina liberal e laicista da separação entre Igreja e Estado. Leão XIII, mesmo antes de São Pio X, havia escrito: “Houve um tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados” (Immortale Dei, 1885). Essa é a doutrina social substancialmente imutável da Igreja: o Estado fundado sobre a Lei natural e divina e dirigido pelos princípios da reta filosofia e da Revelação sobrenatural, em cooperação de subordinação hierarquizada com o poder espiritual. Podem existir tonalidades acidentais nessa doutrina (plenitudo potestatis ou potestas indirecta in temporalibus ratione peccati), mas não essenciais (liberdade das falsas religiões posta no mesmo plano daquela da única verdadeira Religião, e indiferença religiosa da sociedade temporal ou separação do Estado e da Igreja).

 

A Nova Cristandade maritainiana e conciliar

O Concílio Vaticano II. Infelizmente, na Declaração Dignitatis humanane se encontra uma fratura, uma mutação substancial, com a doutrina tradicional contida na Sagrada Escritura e na Tradição apostólica (que são as duas fontes da Revelação), sob a guia do Magistério constante da Igreja (de Papa Gelásio I até Pio XII). Pio XII disse desse ensinamento sobre as relações entre Igreja e Estado que “está definitivamente estabelecido quanto aos seus pontos fundamentais, é suficientemente amplo para ser adaptado às múltiplas vicissitudes dos povos, desde que isso não aconteça às custas dos seus princípios imutáveis e permanentes. (...). Isso é em todo aspecto obrigatório. Nem se pode distanciar disso sem perigo para a Fé e a ordem moral” (Discurso ao Congresso da Ação Católica italiana, 29 de abril de 1945).

Ruptura e não continuidade. É mesmo isso que Dignitatis humanae fez. Ora, se o ensinamento pastoral de Vaticano II discorda daquele dogmático constante e infalível da Igreja, deve ser modificado e tornado conforme à Tradição apostólica. Especialmente hoje, de frente ao assalto final do laicismo agressivo e daquele mascarado de teoconservadorismo, é preciso retornar à Tradição apostólica e antes de tudo repropor a doutrina da cooperação subordinada entre Estado e Igreja para depois procurar trabalhar na prática à restauração das condições a fim de que a Civilização cristã possa renascer, permitindo aos indivíduos, às famílias e aos corpos intermédios realizarem facilmente a sua finalidade próxima ordenada ao fim último sobrenatural. A Civilização cristã não deve ser inventada ex novo, mas agora instaurada, porque, infelizmente, já não há mais nada para restaurar. A pós-modernidade e o pós-concílio destruíram os vestígios, as ruínas  ou restos da Cristandade que ainda sobravam.

 

A Igreja não pode não fazer “política”

O homem é um animal naturalmente social. Disso vem a necessidade de ensinar, hoje mais do que nunca, a doutrina social da Igreja e de não se trancar nas sacristias, como desejavam os católicos liberais, mascarando tal rebaixamento ao catolicismo liberal sob uma máscara de excessivo espiritualismo ou angelismo desencarnado, cujo lema é “não é preciso fazer política!”. Ao contrário, a realidade, e logo, a verdade, é que o homem é composto de alma e de corpo, que é um animal racional e também social, isto é, político, feito para viver na Societas ou na Pólis, e não é um anjo, um ente desencarnado ou um monge que vive isolado. Os monges são casos “excepcionais” e “heróicos” que confirmam a regra.

O Perigo do Angelismo ou do espiritualismo exagerado. O erro dos conservadores e de alguns “tradicionalistas” católicos atuais é o de eliminar o elemento social da natureza humana, que, ao contrário, foi criada por Deus naturalmente sociável. (Aristóteles, Politica, VI; Santo Tomás de Aquino, De regimine principum, lib. I, cap. 14) e de querer transformar o homem num singular indivíduo (como o liberalismo individualista) sem espaço social e político, para endereçá-lo, com um empurrão puramente natural (mesmo se vem do padre, que permanence sempre um homem, mesmo que consagrado e não é Deus, mas só um instrumento de Deus para ajudar os fiéis a fazerem a Vontade de Deus, que não é necessariamente a do sacerdote) em direção a uma vida consagrada e à qual, ao contrário, só Deus chama e, na qual, só com a ajuda de Deus se persevera. “Não fostes vós que me escolhestes, mas Eu que vos escolhi” disse Jesus no Evangelho aos Seus Apóstolos. A vocação é um conselho e não um preceito e não se pode obrigar a seguir um conselho sob pena de pecado (18).È preciso contestar, refutar e contrastar o lacicismo, na teoria e na prática, arruinar tal modo de vida subversivo e revolucionado, fazer a históriamais do que sofrê-la passivamente e tentar criar as condições de um viver social, que facilite o viver espiritual. Como “a Graça pressupõe a natureza, aperfeiçoa-a, e não a destrói” (Santo Tomás de Aquino), assim a Fé pressupõe a humanidade civilizada (19), aperfeiçoa-a, mantém-na viva, e não a deve destruir. Do mesmo modo, a vocação sagrada pressupõe a vida familiar, social e política, aperfeiçoa-a, e não a deve aniquilar. Se não houvesse uma sociedade familiar, não poderia haver um “chamado” e se a sociedade temporal, ao invés de ajudar o indivíduo e a família a chegar ao próprio fim, obstaculizasse-o, os “chamados” seriam muito menos. É por isso que é preciso “dar a César o que é de César (obediência às leis temporais conformes à lei natural) e a Deus o que é de Deus (a adoração)”.

 

É possível hoje um Estado Católico ?

Doutrinalmente. A questão pareceria, à primeira vista e superficialmente, um anacronismo, como até Miguel Ayuso concorda (20). De fato, historicamente não existe hoje nenhum Estado católico, mas a questão doutrinal que se põe é se seja possível fazê-lo reviver. Na teoria ou quanto ao princípio doutrinal a resposta é evidente: o Estado não pode ser neutro, dada a sociabilidade natural do homem, da família e da sociedade temporal, que devem todas as três dar a Deus o culto e a adoração que Lhe é devida. Na prática ou nos fatos, contudo, encontramo-nos diante do enorme problema da pastoral sobre a liberdade religiosa (Dignitatis humanae) do Vaticano II, que não se contrapôs à modernidade ou à sociedade permissivista (21), mas entrou em diálogo simpatizante com ela e acelerou a secularização ou descristianização da sociedade. Miguel Ayuso traz o exemplo da  Ley de libertad religiosa de 1967, pedida por Paulo VI ao general Francisco Franco e a consequente Nova Concordata espanhola de 1978 (22), similar àquela italiana de 1984 (que ab-rogou a Concordata de 1929), definida por João Paulo II como “ideal”, em quanto se passou (na Espanha como na Itália) do Estado confessional, que reconhecia Religião católica como religião oficial de Estado, ao Estado neutro em matéria religiosa. Ayuso comenta: “Estamos assistindo à separação consciente e desejada entre Igreja e sociedade, depois que  foi consumada a separação entre a Igreja e o Estado”(23). Hoje, encontramo-nos em uma sociedade anti-cristã por princípio e na prática, que seria melhor chamar de “Dis-sociedade” (Marcel de Corte) ou “Sinagoga de Satanás” (Apocalipse 2, 9), que é a “Contra-Igreja” ou  o “perigo maçônico” (Ernest Jouin) (24). Se a doutrina católica sobre as relações entre Estado e igreja é imutável(25), infelizmente, “a linguagem (...) em seguida ao Vaticano II, distingue-se claramente da precedente. (...). O direito à liberdade religiosa levanta não poucas dificuldades do ponto-de-vista do Magistério tradicional”(26). Ou seja, não existe continuidade real entre Tradição apostólica e Dignitatis humanae (de agora em diante ‘DH’), mesmo se esta continuidade vem afirmada, mas não demonstrada. Ayuso encontra em ‘DH’ um tipo de heterodoxia pública, isto é, um erro em matéria de doutrina social e política (27).

Prudencialmente. Ayuso se pergunta se um retorno imediato ao Estado católico é realista. A realidade hodierna, em que, ou não se toma nem mesmo em consideração o problema das relações hierarquizadas entre poderes político e espiritual ou se as tem como atualmente insustentável, “ é assim – e  isso é ainda pior – da parte da própria hierarquia eclesiástica”(28), não favorece na prática tal retorno imediato, antes o torna humanamente impossível e só miraculosamente viável. Certamente, é necessário evitar os dois erros opostos por excesso (fanatismo ideológico simplista: tudo e agora) e por defeito (oportunismo pragmatístico: renúncia dos princípios e/ou aquiescência prática com o erro), mas é preciso sempre tender ao ideal ou à doutrina da cooperação hierarquizada e subordinada entre Estado e Igreja, que é “uma moral invariável da ordem política (...), não é algo de meramente facultativo, (...) mas é o constitutivo interno [ou a essência] da sociedade temporal”(29), ainda que na prática esta hoje é dificilmente viável no imediato ou no futuro próximo, mas não absolutamente impossível de se realizar gradualmente ou no futuro remoto. É preciso, então, “recolocar em pé – como escreve Ayuso – a doutrina da Igreja (...) sobre as bases da Tradição” (30). Sobretudo, não se deve nunca desesperar, nem quanto à salvação eterna da própria alma e nem quanto à salvação temporal da sociedade, a qual deve e pode voltar a cumprir o seu dever e chegar ao seu fim: o bem estar temporal dos cidadãos subordinado ao bem estar espiritual dos mesmos. De fato, Deus é a Causa Primeira do homem, “animal racional”, que vive em uma sociedade imperfeita de ordem natural (família) e perfeita de ordem temporal (Estado) e sobrenatural (Igreja). Por isso o Estado deve trabalhar em cooperação hierárquica com a Igreja, como o corpo com a alma. Deus é onipotente e providente, seja para a alma singular e a sua salvação, seja para a família e a sociedade (temporal e religiosa). Então deve-se esperar a salvação eterna da própria alma como também o estabelecimento do Reino Social de Cristo e trabalhar por estes. De fato, “quem quer o fim, toma os meios”.

 

Conclusão

● “A Igreja não pode, sem trair a própria missão, deixar de afirmar que existe uma lei moral natural (...) à qual devem estar submetidos os poderes públicos. Esse é o núcleo do Estado católico”(31), como ensinou Pio XI na sua primeira encíclica Ubi Arcano Dei de 1922, sintetizada no lema desse Papa: “Pax Christi in Regno Christi”. O “pecado original” da modernidade consistiu no ter posto no homem e não em Deus o fundamento da vida social e política do Estado (“eritis sicut Dii”). O  antropocentrismo social ou político é o ‘princípio e fundamento’ da filosofia e da civilização modernas, como o antropocentrismo individualístico o é do modernismo. A heresia dogmática modernistas se transformou em Revolução social liberal ou modernismo político (cf. São Pio X, Notre Charge Apostolique, 1910)(32). Todas ou quase todas as Revoluções sociais nascem de erros filosóficos e de heresias dogmático-morais.

● A Verdade filosófica, dogmática e moral foi sintetizada teocentricamente pelo lema de São Paulo: “Non est Potestas nisi a Deo”, a Contra-Igreja o revolucionou antropocentricamente em: “Non est poetestas nisi ab Homine”(33). Assim a heresia dogmática modernistas influiu na Revolução política democrático-cristã e esta acabou por demolir os último traços ou “ruínas” de uma civilização, que era ainda cristã antes de ser demo-cristianizada. Certamente, ‘DH’ teve um papel filosófico, teológico e político nesse processo de laicização ou secularização. O Bispo espanhol, Dom José Guerra Campos tinha convidado a “reedificar a doutrina [social] da Igreja” por causa das notáveis “incoerências na pregação atual”(34). Com ‘DH’, assiste-se ao fenômeno de penetração do laicismo em ambiente católico e eclesial até ao ponto de que a separação entre Igreja e Estado é pregada pelos próprios homens de Igreja. O pós-concílio agravou o erro laicista de ‘DH’ até ao ponto de fazer rever as Concordatas com a Espanha (1978) e a Itália (1984) em sentido separacionista, o que foi definido como “ideal” por João Paulo II no que concerne à Concordata italiana de 1984. O próprio João Paulo II, na Carta apostólica aos Bispos franceses, de 11 de fevereiro de 2005, por ocasião do primeiro centenário da lei francesa de 1905 sobre a separação de Igreja e Estado (lei condenada por São Pio X na encíclica Vehementer nos, 1906) escreveu: “O princípio da laicidade(...) pertence à doutrina social da Igreja”. Isto é, o “Estado livre e Igreja livre” de Cavour se tornaram doutrina social católica!!!

●Só Deus nos pode fazer sair de uma situação de apostasia geral, que penetrou até no santuário e nas mentes dos hierarcas da Igreja. Ele, de fato, prometeu-nos: “Portae inferi non praevalebunt adversus eam”.

 

[Tradução: Permanência]

 

NOTAS

(1) www.edizioniesi.it / info@edizioniesi.it / 116 paginas. E também: http://www.deastore.com/libro/la-costituzione-cristiana-degli-stati-miguel-ayuso-edizioni-scientifiche-italiane/9788849520774.html

(2) M. Ayuso, La costituzione cristiana degli Stati, “Edizioni Scientifiche Italiane”, Napoles, 2010, p. 13. Cfr. J. A. Widow, El ombre, animal politico, Santiago del Cile, Editorial Universitaria, 1984.

(3) Ibidem, p. 14.

(4) Ibidem, p. 18. Cfr. ainda Ramòn Orlandis, Pensamientos y occurrencias, Barcelona, Balmes, 2000; Francisco Canals, Polìtica española: pasado y futuro, Barcelona, Acervo, 1977.

(5) Ibidem, p. 21.

(6) Cfr. A. De Mun, Ma vocation sociale, Paris, Lethielliieux, 1908.

(7) Ibidem, p. 22.

(8) Ibidem, pp. 24-26. Cfr. M. Ayuso, La revoluciòn liberal y sus metamorfosis ante el pensamento catòlico, in J. M. Sànchez, Polìtica y religiòn en la crisis de la modernidad, Madri, Fundaciòn Tomàs Moro, 2000; A. Gambra, Los catòlicos y la democrazia. Génesis històrica de la democrazia cristiana, Madri, Speiro, 1982.

(9) M. Ayuso, La costituzione cristiana degli Stati, cit., p. 27.

(10) Ib., p. 28.

(11) Cfr. F. Rodrìguez, Introduciòn a la polìtica social, Madri, Civitas, 1979; M. Ayuso, La polìtica, officio del alma, Buenos Aires, Nueva Hispanidad, 2007; Id., Koinòs. El pensamiento politico de Rafael Gambra, Madri, Speiro, 1998; D. Castellano, L’ordine della politica, Napoles, Edizioni Scientifiche Italiane, 1996, tradução espanhola, La naturaleza de la polìtica, Barcelona, Scire, 2006; Id., De Christiana Republica, Napoles, ESI, 2004; Id., Costituzione europea, diritti umani e libertà religiosa, Napoles, ESI, 2005; Id., L’ordine politico-giuridico, Napoles, ESI, 2007; Id., La politica tra Scilla e Cariddi, Napoles, ESI, 2010; A. d’Ors, Ensayos de téoria polìtica, Pamplona, Eunsa, 1979; F. E. de Tejada, Europa, tradizione, libertà, Napoles, ESI, 2005; J. Ousset, Pour Qu’il Règne, Paris, Office international, IIa ed., 1970.

(12) Ib., p. 29. Sobre a Tradição apostólica e as novidades de Vaticano II cfr. Brunero Gherardini, Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare, Frigento, Casa Mariana Editrice, 2009; Id., Tradidi quod et accepi. La Tradizione, vita e giovinezza della Chiesa, Frigento, Casa Mariana Editrice, 2010; Id., Concilio Vaticano II. Il discorso mancato, Turim, Lindau, 2011; Id., Quaecumque dixero vobis. Parola di Dio e Tradizione a confronto con la storia e la teologia, Turim, Lindau, 2011.

(13) M. Ayuso, La costituzione cristiana…, cit., p. 36.

(14)La costituzione cristiana…, cit., p. 38.

(15) Cfr. A. Millàn Puelles, Sobre el hombre y la sociedad, Madri, Rialp, 1976.

(16) La costituzione cristiana…, cit., p. 39. Cfr. V. Rodrìguez, Temas clave del humanismo cristiano, Madri, Speiro, 1984.

(17) Cfr. J. Meinvielle, Il cedimento dei cattolici al liberalismo. Critica a Maritain, Roma, Sacra Fraternitas Aurigarum, 1991.

(18) Cfr. P. C. Landucci, La sacra vocazione, Roma, Paoline, 1956.

(19) Cfr. M. de Corte, Essai sul la fin d’une civilisation, Paris, De Médicis, 1949.

(20) La costituzione cristiana…, cit., p. 71.

(21) J. Guerra Campos, Amor, deber y permissivismo, Madri, Adue, 1978.

(22) M. Ayuso, Las murallas de la ciudad, Buenos Aires, Nueva Hispanidad, 2001.

(23) La costituzione cristiana…, cit., p. 75.

(24) Cfr. J. Meinvielle, Influsso dello gnosticismo ebraico in ambiente cristiano, Roma, Sacra Fraternitas Aurigarum, 1989.

(25) Cfr. D. Castellano, L’aristotelismo cristiano di Marcel De Corte, Florença, Pucci-Cipriani, 1975; Id., La razionalità della politica, Napoles, ESI, 1993; J. Orlandis, Historia y espìritu, Pamplona, Eunsa, 1975;

(26) Ib., p. 84. Cfr. L. E. Palacios, Nota critica a la declaratiòn conciliar sobre libertad religiosa, in “Anales de la Real Academia de Ciencias Morales y  Politicas”, Madri, n. 56, 1979, pp. 45 ss.

(27) La costituzione cristiana…, cit., p. 85.

(28) La costituzione cristiana…, cit., p. 91.

(29) La costituzione cristiana…, cit., p. 89. Cfr. J. Guerra Campos, Hacìa la estabilizatiòn polìtica, Madri, Uniòn Editorial, 1983; M. Ayuso, Une culture pour l’Europe de démain, Paris, Editions Universitaires, 1992; D. Castellano, Razionalismo e diritti umani, Turim, Giappichelli, 2003.

(30) La costituzione cristiana…, cit., p. 91.

(31)La costituzione cristiana…, cit., p. 106.

(32) D. Composta – D. Castellano, Questione cattolica e questione democristiana, Padoa, Cedam, 1987.

(33) Cfr. C. Fabro, La svolta antropocentrica di Karl Rahner, Milão, Rusconi, 1974; Id., L’avventura della teologia progressista, Milão, Rusconi, 1974.

(34) J. Guerra Campos, La Iglesia y la comunidad polìtica, XIV centenario del III Concilio di Toledo, 1989

Introdução ao domingo dentro da oitava do Natal

“Eis, diz Simeão, que este menino está posto para ruína e salvação de muitos” (Evangelho)

Paramentos brancos

 

Antes da vinda do Filho de Deus, enviado pelo Pai, para que também recebêssemos a adoção de filhos de Deus, o homem era como um herdeiro na sua menoridade que em nada se distinguia dum escravo. Pelo contrário, agora que a lei nova o emancipou da tutela da antiga, “ele já não é servo, mas filho” (Epístola). Desta maneira o culto dos filhos de Deus resume-se nesta palavra proferida com Jesus: “Pai” (Epístola).

O Evangelho descobre-nos qual será o grandioso papel, no futuro, deste Menino cuja manifestação começa hoje no templo. É o Rei cujo reino penetrará até o interior dos corações. Será para todos a pedra de toque, pedra de escândalo para os que O rejeitarem, e pedra angular de suporte para os que O receberem.

Do Intróito: Que beleza a escolha destes dois trechos da Sabedoria para evocar a vinda do Verbo que desce do trono real dos Céus para o meio das trevas da nossa noite.

Da Epístola: Só depois da maioridade é que o filho entra na posse da herança a que tem direito. Antes disso depende daqueles que em seu nome administram o patrimônio. Era assim para os judeus na lei mosaica. Esperavam pelo rico patrimônio da Nova Lei, mas estavam ainda sujeitos aos ritos e prescrições da Antiga Aliança, espécie de tutela do povo de Deus, enquanto esperava a herança que lhe fora prometida. Mas essa hora da herança chegou; o Filho de Deus fez-se homem para nos libertar da escravidão da Lei e tornar-nos filhos de Deus, coerdeiros do reino dos Céus. Com os tempos messiânicos cessa a lei mosaica e começa a maioridade do povo de Deus, alcançada por meio do Batismo.

Do Evangelho: O velho Simeão e a profetiza Ana (de mais de oitenta anos de idade), que passavam seus dias no Templo, dão testemunho de Jesus. Ele é o Messias e a sua vinda implica necessariamente uma separação ou um julgamento. Os pensamentos secretos de cada homem referentes a Cristo serão revelados no último dia, porque Ele perscruta os rins e os corações (8ª Lição de Mat.). Condenam-se os que O rejeitam, porque, fora d’Ele, não há salvação.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.