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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Art. 6 ─ Se o limbo dos meninos é o mesmo limbo dos Patriarcas.

O sexto discute-se assim. ─ Parece que o limbo dos meninos é o mesmo limbo dos Patriarcas.

1. ─ Pois, a pena deve responder à culpa. Ora, pela mesma culpa estavam encerrados no limbo os Patriarcas e os meninos, i. é, pela culpa original. Logo, devem ambos sofrer a pena no mesmo lugar.

2. Demais. ─ Agostinho diz: Mui branda é a pena dos meninos, mortos com o só pecado original. Ora, nenhuma pena era mais branda que a sofrida pelos santos Patriarcas. Logo, ambos sofrem suas penas no mesmo lugar.

Mas, em contrário. ─ Assim como ao pecado atual é devida uma pena temporal no purgatório, e eterna no inferno, assim também ao pecado original é devida uma pena temporal no limbo dos Patriarcas, e eterna no limbo dos meninos. Se, pois, inferno e purgatório não são idênticos, parece que idênticos também não são o limbo dos meninos e o dos Patriarcas.
 
SOLUÇÃO. ─ O limbo dos Patriarcas e o dos meninos sem nenhuma dúvida diferem, quanto à qualidade do prêmio ou da pena. Pois, os meninos não tem nenhuma esperança da vida eterna, que tinham os Patriarcas no limbo, nos quais também refulgia o lume da fé e o da graça. Mas, quanto à situação, podemos crer com probabilidade que esses lugares eram idênticos; salvo que o limbo dos Patriarcas estava em lugar mais elevado que o dos meninos, como dissemos a respeito do limbo e do inferno.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Quanto à culpa original, os Patriarcas e os meninos não se achavam nas mesmas condições. Pois, os Patriarcas expiavam a culpa do pecado original como culpa pessoal; mas como culpa da natureza, constituía o pecado original um obstáculo aos Patriarcas para entrarem no céu, por não estar ainda completamente expiada. Ao passo que constituía um obstáculo à glória eterna, para os meninos, por lhes ser uma culpa tanto pessoal como da natureza. Daí o serem atribuídos a uns e a outros lugares diversos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Agostinho se refere às penas incorridas por uma culpa pessoal; e essa a sofrem brandíssima todos os culpados apenas do pecado original. Ainda mais branda, porém, é a pena de aqueles impedidos de gozar a glória, não por culpa pessoal, mas por uma falha da natureza; e nesse sentido, a dilação mesma da glória é considerada pena.

Art. 5 ─ Se o limbo é o mesmo que o inferno dos condenados.

O quinto discute-se assim. ─ Parece que o limbo não é o mesmo que o inferno dos condenados.

1. - Pois, conforme a Escritura, Cristo foi a mordedura do inferno, mas não no destruiu, porque de lá retirou um certo número de almas, mas não todas. Ora, não teria sido chamado a mordedura do inferno, se os que livrou não fossem apenas uma parte da multidão das almas lá encarceradas. Mas, como os que livrou estavam encerrados no limbo, estavam também no inferno. Logo, o limbo é o mesmo que o inferno, ou parte deste.

2. Demais. ─ No Símbolo se diz, que Cristo desceu ao inferno. Ora, só desceu ao limbo dos Patriarcas. Logo, o limbo dos Patriarcas é o mesmo que o inferno.

3. Demais. ─ A Escritura diz: Tudo o que me pertence descerá ao mais profundo do inferno. Ora, Job sendo justo e santo, desceu ao limbo. Logo, o limbo é o mesmo que o mais profundo do inferno.

Mas, em contrário. ─ Nenhuma redenção há no inferno. Ora, os santos Patriarcas foram redimidos do inferno. Logo, o limbo não é o mesmo que o inferno.

2. Demais. ─ Agostinho diz: Não vejo como possamos crer que o descanso, em que entrou Lázaro fosse no inferno. Ora, a alma de Lázaro desceu ao limbo. Logo, o limbo não é o mesmo que o inferno.

SOLUÇÃO. ─ A dupla luz podemos considerar as moradas das almas depois da morte: na sua situação ou na qualidade dos lugares, i. é, se há lugares onde as almas recebam penas ou prêmios. ─ Considerado, pois, o limbo dos Patriarcas e o inferno, quanto à qualidade de esses lugares, não há dúvida sobre a diversidade deles. Quer porque no inferno existe a pena sensível, que não existia no limbo dos Patriarcas; quer também por ser eterna a pena do inferno, ao passo que no limbo dos santos Patriarcas estavam encerrados apenas temporariamente. ─ Consideradas porém as situações desses lugares, é provável que são um mesmo lugar, ou quase contíguos, o inferno e o limbo; havendo uma parte superior do inferno chamada limbo dos Patriarcas. Pois, os que estão no inferno sofrem penas diversas conforme a diversidade das suas culpas. Assim, conforme a gravidade dos pecados que cometeram, assim o lugar do inferno mais ou menos obscuro e profundo onde são encarcerados os condenados. Por onde, os santos Patriarcas, cuja culpabilidade era mínima, ocupavam lugar mais elevado e menos tenebroso do que o de todos os condenados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ No sentido da identidade de lugares, do inferno e do limbo, é que a Escritura diz, que Cristo foi a mordedura do inferno e a ele desceu, para retirar do limbo os Patriarcas.

DONDE SE DEDUZ A RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Job não desceu ao inferno dos condenados, mas ao limbo dos Patriarcas. E esse é chamado um lugar profundíssimo, não relativamente aos lugares onde se cumprem penas, mas em comparação com os outros, no sentido em que uma mesma denominação inclui todos os lugares onde se cumprem penas. ─ Ou podemos responder com Agostinho, quando diz, a respeito de Jacó: Quando Jacó dizia a seus filhos ─ Entristecereis a minha velhice com uma dor que me levará aos infernos ─ temia não viesse uma dor excessiva a lhe perturbar a alma, a ponto de, perdendo o descanso dos santos, cair no inferno dos pecadores. No mesmo sentido podemos entender as palavras de Job, que seriam, antes, palavras de quem teme do que de quem afirma.

Art. 4 ─ Se o limbo do inferno é o mesmo que o seio de Abraão.

O quarto discute-se assim. ─ Parece que o limbo do inferno não é o mesmo que o seio de Abraão.

1. ─ Pois, diz Agostinho: Ainda não encontrei tomada em bom sentido a palavra interno, na Escritura. Ora, a expressão ─ seio de Abraão ─ é tomada em bom sentido. Por isso Agostinho acrescenta: Ninguém poderia aceitar a opinião, que não se deve tomar em bom sentido o seio de Abraão, e aquele descanso para onde foi levado pelos anjos o pobre Lázaro. Logo, o seio de Abraão não é o mesmo que o limbo do inferno.

2. Demais. ─ Os que estão no inferno não vêem a Deus. Ora, no seio de Abraão Se vê a Deus. Assim Agostinho, falando de Nebridio, diz: Entenda-se o que se quiser pelo seio de Abraão, lá vive o meu Nebridio. E mais adiante: Já não dá ouvidos às minhas palavras, mas aproxima os lábios do seu espírito à fonte da tua verdade; e sorve a longos tragos a tua sabedoria ─ eternamente feliz. Logo, o seio de Abraão
não é o mesmo que o limbo do inferno.

3. Demais. ─ A Igreja não reza para ninguém ser levado ao inferno. Ora, reza para que os anjos levem para o seio de Abraão as almas dos defuntos. Logo, parece que o seio de Abraão não é o mesmo que o limbo.

Mas, em contrário. ─ Seio de Abraão se chama ao lugar para onde foi conduzido o mendigo Lázaro. Ora, ele foi levado ao inferno; pois, àquilo da Escritura ─ Onde há casa estabelecida para todo vivente ─ diz a Glosa: O inferno era a casa de todos os vivos, antes da vinda de Cristo. Logo, o seio de Abraão é o mesmo que o limbo.

2. Demais. ─ Jacó dizia a seus filhos: Levareis com essa dor a minha velhice ao inferno. Logo, Jacó sabia que, morrendo, iria ao inferno. E assim, pela mesma razão, Abraão foi transferido, pela morte, ao inferno.

SOLUÇÃO. - As almas humanas, depois da morte, não podem alcançar o descanso senão pelo mérito da fé: porquanto é necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus. Ora, o primeiro exemplo da crença foi dado aos homens por Abraão, o primeiro que se separou da sociedade dos infiéis e recebeu um especial sinal da fé. Por isso, aquele repouso dado aos homens depois da morte se chama seio de Abraão, como está claro em Agostinho. Ora, as almas dos santos não tiveram em todos os tempos, depois da morte, o mesmo repouso. Pois, depois do advento de Cristo, gozam do pleno descanso, fruindo da visão divina. Antes do advento de Cristo, porém, tinham certo repouso, pela imunidade da pena, mas não tinham a quietude dos desejos, que dá a consecução do fim. Por isso, o estado dos santos, antes do advento de Cristo, pode ser considerado pelo que tinham de descanso, e assim se chama seio de Abraão; ou quanto ao que de descanso lhe faltava, e então se chama limbo do interno. Por onde, o limbo do inferno e o seio de Abraão eram, antes do advento de Cristo, a mesma cousa, acidental e não essencialmente falando. Por isso, nada impede, depois do advento de Cristo, existir um seio de Abraão absolutamente diverso do limbo; porque cousas unidas por acidente podem separar-se.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Pelo que tinha de bom, o estado dos santos Patriarcas era chamado seio de Abraão. Mas, pela sua deficiência, era denominado inferno. Assim, nem o seio de Abraão é tomado em mau sentido, nem em bom o inferno, embora de certo modo sejam a mesma cousa.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Assim como o lugar do repouso dos santos Patriarcas, antes do advento de Cristo, se chamava seio de Abraão, assim depois desse advento, mas em sentido diverso. Pois, como antes do advento de Cristo, o descanso dos santos era incompleto, a mesma cousa significavam o inferno e o seio de Abraão, porque aí não se via a Deus. Mas como depois do advento de Cristo o descanso dos santos é completo, pois vêem a Deus, esse lugar de descanso se chama seio de Abraão, e não mais inferno. E a esse seio de Abraão a Igreja reza para os fiéis serem conduzidos.

DONDE SE DEDUZ A RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO. ─ E assim também deve entender-se a Glosa àquilo do Evangelho ─ Sucedeu morrer este mendigo, etc. ─ que diz: O seio de Abraão é o lugar do repouso dos bem-aventurados, dos quais é o reino dos céus.

Art. 3 ─ Se as almas, que estão no céu ou no inferno, podem sair de lá.

O terceiro discute-se assim. ─ Parece que as almas, que estão no céu ou no inferno, de lá, não podem sair.

1. ─ Pois, Agostinho diz: Se as almas dos mortos cuidassem das cousas desta vida, minha piedosa mãe, para só dar este exemplo, nenhuma noite me abandonaria, ela que transpunha terras e mares para estar a meu lado. Donde conclui que as almas dos defuntos não se intrometem na vida humana. Ora, podiam fazê-la se pudessem sair das suas moradas. Logo, não podem delas sair.

2. Demais. ─ A Escritura diz: Que habite eu na casa do Senhor todos os dias da minha vida. E noutro lugar: Aquele que descer aos infernos não subirá. Logo, tanto os bons como os maus não sairão das suas moradas.

3. Demais. ─ Os lugares atribuídos às almas, depois da morte, o foram como prêmio ou castigo. Ora, depois da morte, não diminuirão nem o prêmio dos santos nem a pena dos condenados. Logo, não podem sair dos lugares que lhes foram atribuídos.
 
Mas, em contrário. Diz Jerônimo a Vigilância: Pois, dizes que as almas dos Apóstolos e dos mártires, que tiveram como destino o seio de Abraão, o lugar de refrigério ou os que estão sob o olhar de Deus, não podem, mesmo querendo, vir ter aos seus túmulos, na terra. E assim impões leis a Deus, atas com vínculos os Apóstolos, que os prenderão até ao dia do juízo, sem poderem entrar no gozo do seu Senhor, a eles dos quais foi escrito ─ Seguem ao Cordeiro seja para onde for que vão. ─ Mas, se o Cordeiro está em toda parte, podemos crer que também os santos estarão com ele, achem-se onde se acharem. É portanto falso dizer que as almas dos mortos não podem sair das suas moradas.

2. Demais. ─ Jerônimo, no mesmo lugar, assim argumenta: Se o diabo e os demônios vagam por toda a terra, presentes em toda parte com incrível rapidez, os mártires não poderão, eles que derramaram o seu sangue, sair da arca do altar celeste? Donde se pode concluir que não só os bons, mas também os maus, lhes é possível sair dos lugares onde estão; pois, não sofrem maior condenação que os demônios que vagam por toda parte.

3. Demais. ─ O mesmo podemos provar com Gregório, quando narra de muitos mortos, que apareceram aos vivos.

SOLUÇÃO. De dois modos podemos entender que uma alma saiu do inferno ou do paraíso. ─ Primeiro, absolutamente falando, de modo que saíam de um ou outro desses lugares, que deixará portanto de lhes ser a morada. Ora, assim, ninguém que tenha sido definitivamente destinado ao inferno ou ao céu, poderá dele sair, como mais adiante diremos. ─ Noutro sentido podemos entender a saída como temporária. E então devemos distinguir entre o que convém aos espíritos pela lei da sua natureza, e o que lhes convém pela ordem da divina providência. Pois, como diz Agostinho, uns são os limites das causas humanas, e outros os sinais do poder divino; uns são os fenômenos naturais e outros, os miraculosos.

Ora, segundo o curso natural das cousas, as almas separadas, uma vez nos lugares que lhes foram destinados, ficam completamente segregadas da convivência humana. Pois, pelo curso da natureza, os que ainda vivemos unidos ao corpo mortal não temos nenhum comércio imediato com as substâncias separadas, porque todos os nossos conhecimentos tem a sua origem nos sentidos. Ora, as almas dos mortos não poderiam sair das suas moradas senão para intervir nas cousas humanas.

Mas por disposição da divina providência, por vezes as almas separadas, saindo das suas moradas, apareceram à vista dos homens. Assim Agostinho conta, no livro referido, que o mártir Felix apareceu visivelmente aos cidadãos de Nola, quando esta cidade foi atacada pelos bárbaros. E também podemos crer tenha sido às vezes permitido aos condenados, para advertirem e aterrarem os homens, aparecerem aos vivos. Ou também para pedirem sufrágios, se se trata de almas do purgatório; ou por muitas outras razões aduzídas. Mas há entre os santos e os condenados a diferença, que os santos podem aparecer aos vivos quando quiserem, mas não os condenados. Pois, aqueles, enquanto ainda vivem neste mundo, recebem, pelos dons da graça gratuita, o poder de obrar curas e prodígios, maravilhas de que só o poder divino é capaz, e que não podem ser feitos por quem não recebeu os dons referidos. Assim também nenhum inconveniente há em, por virtude da glória, ser dada uma faculdade às almas dos santos, de modo a poderem, quando quiserem, aparecer aos vivos milagrosamente. O que os condenados não podem senão quando lhos for permitido.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Agostinho, como se vê pela continuação do texto, fala segundo o curso comum da natureza. ─ Mas nem daí se segue, mesmo admitindo que os mortos possam aparecer aos vivos quando quiserem, que o façam tantas vezes quantas apareciam enquanto ainda viviam unidos ao corpo. Porque, uma vez separados do corpo, ou se conformam absolutamente com a vontade divina, de modo que aparecer aos vivos não lhes será possível senão enquanto pareça conveniente por disposição divina; ou ficarão de tal modo oprimidos pela pena, que, muito mais abismados estarão na sua miséria, que pressurosos de aparecer aos vivos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ As autoridades citadas querem dizer que ninguém pode, absolutamente falando, sair do paraíso nem do inferno; não porém que não o possam temporariamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Como do sobredito se colhe, o lugar atribuído a uma alma lhe redunda em pena ou em prêmio, por ficar ela cheia de alegria ou de tristeza, pelo fato de estar em tal lugar. E essa alegria ou essa dor, pelo fato de lhe serem atribuídos esses lugares, acompanham a alma, mesmo quando saia deles. Assim, o pontífice a quem foi dada a honra de sentar-se na cátedra da sua Igreja, não se lhe diminui a glória, quando da cátedra se levanta, pois, embora deixe então de estar sentado nela, nem por isso deixará esse lugar de lhe ser destinado.

Mas devemos também responder às OBJEÇÕES contrárias.

RESPOSTA À PRIMEIRA DELAS. ─ Jerônimo se refere aos Apóstolos e aos mártires, pensando no acréscimo de poder que lhes dá a glória, e não no que lhes convém como resultante da sua natureza mesma. E quando diz que estão em toda parte, não quer significar que estejam simultaneamente em vários lugares ou em toda parte, mas que podem estar onde quiserem.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Não há símil entre os demônios e os anjos, e as almas dos santos e dos condenados. Os anjos bons ou maus tem como função presidir ao destino dos homens, guardando-os ou tentando-os. O que não se pode dizer das almas humanas. Contudo, pelo poder que lhes resulta da glória, podem as almas dos santos estar onde quiserem. Tal o que quer dizer Jerônimo.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Embora possam as almas dos santos ou dos condenados estar presentes onde aparecem, não devemos contudo crer que isso sempre se dê. Pois, às vezes essas aparições se realizam; quer durante o sono ou durante a vigília, por obra dos bons ou maus espíritos, para instrução ou ilusão dos vivos. Assim como também às vezes os vivos aparecem a nos dizerem muitas cousas em sonho, embora se saiba que não estão presentes, do que Agostinho apresenta muitos exemplos.

Art. 2 ─ Se imediatamente depois da morte as almas são conduzidas ao céu ou ao inferno.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que nenhuma alma é imediatamente conduzida, depois da morte, nem ao céu nem ao inferno.

1. ─ Pois, àquilo da Escritura ─ Ainda um pouco e não existirá o pecador ─ diz a Glosa: Os santos são libertados no fim do mundo; mas ainda não estarás, depois desta vida, onde estarão os santos, aos quais será dito ─ vinde, benditos de meu Pai. ─ Ora, esses santos estarão no céu. Portanto, os santos, depois desta vida, não subirão logo ao céu.

2. Demais. ─ Agostinho diz: No tempo decorrido entre a morte e a ressurreição final, as almas habitarão lugares secretos, no descanso ou no sofrimento, conforme ao mérito de cada uma. Ora, esses lugares secretos não podem entender-se como sendo o céu e o inferno, porque neles estarão as almas com os seus corpos, mesmo depois da ressurreição final; e assim em nada se distinguirão os tempos anteriores e os posteriores à ressurreição. Logo, não estarão nem no inferno nem no paraíso até o dia do juízo.

3. Demais. Maior é a glória da alma que a dos corpos. Ora, a glória dos corpos será concedida a todos simultaneamente, de modo a ser maior a alegria de cada uma pela participação da alegria comum. Assim o dito do Apóstolo ─ Tendo disposto Deus alguma causa melhor a nosso favor ─ o comenta a Glosa: Para resultar maior, da comum alegria de todos, a alegria de cada um. Logo e com maior razão, convém diferir a glória das almas até o fim, para a gozarem todas simultaneamente.

4. Demais. ─ A pena e o prêmio, conferidos pela sentença do juiz, não devem preceder o juízo. Ora, o fogo do inferno e a alegria do paraíso serão dados a todos pela sentença de Cristo juiz, i. é, no juízo final, como o diz o Evangelho. Logo, antes do dia do juízo, ninguém subirá ao céu nem descerá ao inferno.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Se a nossa casa terrestre desta morada for desfeita, temos de Deus um edifício, casa não feita por mãos humanas, que durará sempre nos céus. Logo separada do corpo, terá a alma uma morada, que durará sempre nos céus.

2. Demais. ─ O Apóstolo diz: Tenho desejo de ser desatado da carne e estar com Cristo. Baseado no que, assim argumenta Gregório: Logo, quem não duvida que Cristo esteja no céu, também não negará que nele esteja a alma de Paulo. Ora, não podemos negar que Cristo esta no céu, por ser artigo de fé. Logo, nem devemos duvidar sejam as almas dos santos levadas ao céu. E também sabemos que certas almas caem no inferno logo depois da morte, por aquilo do Evangelho: Morreu também o rico e foi sepultado no inferno.

SOLUÇÃO. ─ Assim como os corpos são dotados de peso ou de leveza, que os fazem entrar nos seus lugares, que é o fim do movimento deles, assim também tem as almas o seu mérito e o seu demérito, pelos quais alcançam o prêmio ou a pena, fins das ações delas. Por onde, assim como, a menos de um obstáculo, a gravidade ou a leveza faz os corpos imediatamente ocuparem o seu lugar, assim imediatamente as almas, dissoluto o vínculo da carne, que as prendia até a esta vida, recebem o prêmio ou a pena, se nada o impedir. p. ex., a consecução do prêmio a impediria o pecado venial, que deveria ser expiado antes, donde resultaria o retardamento do prêmio. Ora, conforme o prêmio ou a pena, que merece, à alma, logo depois de separada do corpo, lhe é atribuído o seu lugar. Ou é precipitada no inferno, ou sobe aos céus, salvo se o impedir algum reato, que diferirá a sua entrada no céu, até ser purificada. ─ E essa verdade tanto a confirmam manifestamente as autoridades da Escritura canônica, como os documentos dos santos Padres. O contrário deve ser tido como herético.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A Glosa se elucida a si mesma. Pois, quando diz ─ Ainda não estarás onde estarão os santos ─ logo, como se explicando, acrescenta ─ i. é, não terás as vestes duplas que terão os santos na ressurreição.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Entre os outros receptáculos ocultos, de que fala Agostinho, também devemos contar o inferno e o paraíso, onde certas almas demoram, antes da ressurreição. Mas distingue entre o tempo anterior e o posterior à ressurreição. Porque, antes dela, aí estão sem corpo; depois, com corpo. E porque em certos receptáculos agora estão as almas, onde não estarão depois da ressurreição.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Os homens, pelos seus corpos, tem uma certa continuidade que os une uns aos outros; e por isso é verdade o dito da Escritura: De um só fez Deus todo o gênero humano. Ao passo que as almas as criou cada uma de per si. Por onde, não há tanta conveniência em os homens todos serem simultaneamente glorificados na alma, como em o serem simultaneamente no corpo. ─ Além disso, a glória do corpo não é essencial, como a da alma. Por isso, maior detrimento sofreriam os santos, tendo diferida a glória da alma, que a do corpo. Nem poderia esse detrimento da glória ser recompensado pela ampliação da alegria de cada um, participando da alegria comum.

RESPOSTA À QUARTA. ─ Gregório propõe a mesma objeção e a resolve. Se, diz, estão agora no céu as almas dos justos, que receberão no dia de juízo como retribuição pela sua justiça? E responde: A sua glória lhes exercerá porque agora não gozam senão da felicidade da alma; depois da ressurreição, porém, fruirão a do corpo, de modo que também gozarão na carne pelas dores e tormentos sofridos pelo Senhor. E o mesmo se diga dos condenados.

Art. 1 ─ Se às almas depois da morte lhes são atribuídos determinados receptáculos.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que às almas, depois da morte, não lhes são atribuídos nenhuns receptáculos.
 
1. ─ Pois, como diz Boécio, é opinião comum dos sábios, que os seres espirituais não podem ocupar lugar. Com o que concorda Agostinho quando diz: Podemos responder imediatamente, que as almas não podem ser conduzidas para lugares espaciais, senão quando unidas ao corpo. Ora, a alma separada não tem corpo como o diz ainda Agostinho. Logo, é absurdo dizer que às almas separadas lhes são atribuídos receptáculos.

2. Demais. ─ Tudo o que tem um lugar determinado, mais se relaciona com esse lugar do que com qualquer outro. Ora, as almas separadas, como todas substâncias espirituais, são indiferentes a quaisquer lugares. Pois, não podemos dizer que tenham inclinação para certos corpos e se afastem de outros, porque não estão de modo nenhum sujeitas a quaisquer condições materiais. Logo, não podemos dizer que lhes sejam atribuídos nenhuns receptáculos.

3. Demais. ─ Tudo o atribuído às almas separadas, depois da morte, lhes há de redundar em pena ou em prêmio. Ora, um lugar material não lhes pode redundar nem em pena nem em prêmio, pois não são susceptíveis de nada de material. Logo, não lhes podem ser atribuídos nenhuns receptáculos.

Mas, em contrário. ─ O céu empíreo é um lugar material. E contudo, como diz Beda, logo depois de criado foi cheio dos santos anjos. Logo, sendo os anjos, como as almas separadas, incorpóreos, parece que também a elas se lhes devem ser atribuídos receptáculos determinados.

Demais. ─ Que as almas separadas são conduzidas para lugares determinados, resulta do que Gregório conta a respeito de Pascácio, que Germano, bispo de Cápua, encontrou num balneário; e de dizer que a, alma do rei Teodorico foi conduzida para a geena. Logo, às almas, depois da morte, lhes são atribuídos determinados receptáculos.

SOLUÇÃO. ─ Embora as substâncias espirituais não existam dependentes de corpos, contudo, os corpos são governados por Deus mediante os espíritos, como dizem Agostinho e Gregório. Por onde, há uma certa conveniência entre as substâncias espirituais e as corpóreas, fundada numa determinada congruência, de modo que às substâncias mais nobres se adaptem corpos de natureza mais nobre. Por isso também os Filósofos distinguiram as ordens dos móveis relativamente às substâncias separadas. Ora, apesar de às almas, depois da morte, não lhes serem atribuídos nenhuns corpos, de que sejam as formas ou motores determinados, são-lhes contudo, por uma certa congruência, atribuídos lugares determinados, conforme ao grau de dignidade delas. E nesses lugares estão elas como que colocadas, do modo por que seres incorpóreos podem ocupar um lugar, conforme mais ou menos próximos estão da substância primeira, Deus, a qual, por congruência, é atribuído o lugar superior, e a cuja sede a Escritura chama céu. Por onde, as almas perfeitamente participantes da divindade, no céu as colocamos; e as privadas dessa participação dizemos que lhes são destinados os lugares opostos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Os seres incorpóreos não ocupam lugar do modo que nos é conhecido e habitual, como quando dizemos, em sentido próprio, que um corpo está num lugar. Ocupam lugar porém ao modo das substâncias espirituais, o que nós não podemos claramente compreender como é.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Há duas espécies de conveniência ou semelhança. ─ Uma, por participação de determinada qualidade; assim os corpos quentes convêm entre si. Ora, nesse sentido não pode haver conveniência entre seres incorpóreos e lugares corpóreos. ─ Outra, por uma certa proporção; e nesse sentido a Escritura atribui ao espírito o que pertence ao corpo, como quando diz que Deus é sol, por ser o princípio da vida espiritual como Deus o é da vida do corpo. E, então, certa conveniência existe entre determinados modos de ser da alma e determinados lugares. Assim, há uma natural conveniência entre as almas espiritualmente iluminadas e os corpos luminosos; e entre as almas entenebrecidas pela culpa e os lugares tenebrosos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Uma alma separada nada recebe diretamente de um lugar material, ao modo por que os corpos recebem, que acham no seu lugar o princípio da sua conservação. Mas as almas, pelo fato mesmo de se saberem destinadas a determinados lugares, enchem-se de alegria ou de tristeza; daí o lhes redundar em pena ou em prêmio o lugar que lhes é atribuído.

Art. 3 ─ Se o filho ilegítimo pede ser legitimado.

O terceiro discute-se assim. ─ Parece que o filho ilegítimo não pode ser legitimado.

1. Pois, tanto dista o legítimo do ilegítimo, como ao contrário, o ilegítimo do legítimo. Ora, o legítimo nunca pode tornar-se ilegítimo. Logo, nem o ilegítimo, legítimo.

2. Demais. ─ Do concúbito ilegítimo nasce um filho ilegítimo. Ora um concúbito ilegítimo não pode nunca tornar-se legítimo. Logo, nem seu filho ilegítimo ser legitimado.
 
Mas, em contrário. ─ O que a lei estabelece pode também revogar. Ora, ilegitimidade dos filhos é criação da lei positiva. Logo, pode um filho ilegítimo ser legitimado por quem tem poder legal para tal.

SOLUÇÃO. ─ Um filho ilegítimo pode ser legitimado, não para ser considerado nascido de um concúbito legítimo, porque este concúbito já é um ato passado e não poderá nunca ser legitimado, desde que uma vez foi ilegítimo. Mas diz-se que o filho é legitimado, por ficar livre do detrimento, sofrido pelos filhos ilegítimos.

E há seis modos de legitimação.

Dois pertencem ao direito canônico. E são quando um homem casa com aquela de quem gerou um filho ilegítimo, se não foi em adultério; e por uma indulgência especial e dispensa do soberano Pontífice.

Os outros quatro modos pertencem à lei civil. ─ O primeiro, quando o pai oferece o filho natural à cúria do Imperador; por isso mesmo fica legitimado por causa da dignidade curial. ─ O segundo, quando o pai o nomeia em testamento como herdeiro legítimo, e o filho depois oferece o testamento ao Imperador. ─ O terceiro, quando não há nenhum filho legítimo, e o próprio filho ilegítimo se oferece ao príncipe. ─ O quarto quando o pai, por instrumento público, ou com a assinatura de quatro testemunhas, nomeia o filho como legítimo, sem acrescentar natural.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Podemos sem injustiça fazer uma graça a alguém; mas ninguém pode ser condenado a sofrer um dano senão por alguma culpa. Por isso, um filho ilegítimo pode tornar-se legítimo, mas não do inverso. Pois, embora possa um filho legítimo ser privado da herança, por alguma culpa, nem por isso, contudo se chama ilegítimo, porque legítima foi a sua geração.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Um concúbito ilegítimo é viciado por um defeito intrínseco, que o opõe ao legítimo. Por isso não pode tornar-se legítimo. Nem colhe o símile com o filho ilegítimo, que não tem tal defeito.

Art. 2 ─ Se os filhos ilegítimos devem sofrer o detrimento da sua ilegitimidade.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que os filhos ilegítimos nenhum detrimento devem sofrer pela sua ilegitimidade.

1. Pois, o filho não deve ser punido pelo pecado do pai, como está claro nas palavras do Senhor. Ora, o fato de um ter nascido de concúbito ilícito, não é pecado seu, mas do pai. Logo, disso não deve sofrer nenhum sofrimento.

2. Demais. ─ A justiça humana tem na divina o seu modelo. Ora, Deus distribuiu os seus bens naturais igualmente tanto aos filhos legítimos como aos ilegítimos. Logo, pelo direito humano também os filhos ilegítimos devem ser equiparados aos legítimos.

Mas, em contrário, a Escritura diz, que Abrão deu tudo quanto possuía a Isaac, e pelos filhos das concubinas distribuiu dádivas. E contudo estes não eram nascidos de concúbito ilícito. Logo e com maior razão, os nascidos de concúbito ilícito devem sofrer o detrimento de não receberem a herança paterna.

SOLUÇÃO. ─ De dois modos podemos dizer que alguém sofre detrimento de alguma coisa. Primeiro, por ter sido privado do que lhe era devido. E então o filho ilegítimo não sofre nenhum detrimento. ─ De outro modo, por não lhe ser devido o que, de outra maneira, lh'o seria. E então, um filho ilegítimo padece duplo detrimento. Um, o de não ser admitido a atos legítimos, como às funções e às dignidades que requerem uma determinada honorabilidade da parte daqueles que são delas investidos. O outro detrimento que sofre é o de não poder herdar do pai: ─ Contudo, os filhos naturais podem suceder só na sexta parte. ─ Mas os espúrios em nenhuma parte, embora por direito natural os pais estejam obrigados a lhes fornecer o necessário à vida. Por onde, pertence à solicitude do bispo obrigar os pais a manter tais filhos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Sofrer detrimento nesse segundo sentido não é nenhuma pena. Assim, não dizemos que sofre uma pena quem, por não ser filho de rei, não lhe sucede do reino. Semelhantemente, nenhuma sofre quem, por não ser filho legítimo, não lhe é devido o que só aos filhos legítimos o é.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O concúbito ilegítimo não é contrário à lei, enquanto ato da potência geratriz, mas enquanto procedente de uma vontade depravada. Por onde, o filho ilegítimo não sofre nenhum sofrimento nas causas que se adquirem pela sua origem natural, mas só naquela cuja produção ou posse dependeu da vontade.

Art. 1 ─ Se os filhos nascidos fora de um verdadeiro matrimônio são ilegítimos.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que os filhos nascidos fora de um verdadeiro matrimônio são legítimos.

1. Pois o filho legítimo é o nascido de um matrimônio legal. Ora, todos nascem de uma união legal, ao menos pela lei da natureza, que é a fortíssima das leis. Logo, todo filho é legítimo.

2. Demais. ─ Geralmente se chama legítimo o filho nascido de matrimônio legítimo, ou do que é assim reputado em face da Igreja. Ora, pode acontecer seja um casamento reputado legítimo à face da Igreja e contudo tenha um impedimento para ser verdadeiro matrimônio, conhecido contudo dos que à face da Igreja o contraíram. Ora, se casarem ocultamente ignorando o impedimento, é considerado legítimo à face da Igreja, desde que esta não o proibiu. Logo, os filhos nascidos de um matrimônio não verdadeiro não são ilegítimos.

Mas, em contrário. ─ Ilegítimo se chama ao contrário da lei. Ora os nascidos fora de um matrimônio legitimo nasceram contra a lei. Logo, são ilegítimos.

SOLUÇÃO. ─ Os filhos podem encontrar-se num dos quatro estados seguintes. Uns são naturais e legítimos, como os nascidos de um verdadeiro e legítimo matrimônio. Outros são naturais e não legítimos, como os nascidos da fornicação simples. Outros são legítimos e não naturais, como os filhos adotados. Outros, nem legítimos nem naturais, como os espúrios nascidos do adultério e do estupro; pois esses tais nasceram tanto em oposição à lei positiva como, e expressamente, contra a lei da natureza. Donde, devemos conceder que certos filhos são ilegítimos. 

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora os nascidos de um concúbito ilícito nasçam de acordo com a natureza comum ao homem e aos outros animais, nascem contudo em contrariedade da lei natural própria ao homem. Pois, a fornicação, o adultério e atos semelhantes são contra a lei da natureza. Por onde, tais filhos não legítimos em virtude de nenhuma lei.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A ignorância, não sendo afetada, escusa de pecado o concúbito ilícito. Por onde, os que se unem de boa fé à face da Igreja, embora haja algum impedimento, que contudo ignorem, nem pecam,• nem os filhos nascidos são ilegítimos. Mas se o conhecerem embora a Igreja lhes santifique a união, por lhes ignorar o impedimento, não ficam isentos de pecado nem os filhos de serem ilegítimos. Mas se não o conhecerem e contraírem casamento às ocultas, também não ficam escusados, porque essa ignorância é considerada como afetada.

Art. 7 ─ Se as causas de repúdio deviam ser escritas no libelo.

O sétimo discute-se assim ─ Parece que as causas de repúdio deviam ser escritas no libelo.

1. Pois, pelo libelo escrito de repúdio, o marido ficava livre da pena imposta pela lei. Ora, isso parece absolutamente injusto, salvo se o repúdio tivesse causas suficientes. Logo, deviam ela ser escritas no libelo.

2. Demais. ─ O escrito de repúdio para nenhuma outra coisa servia senão para exarar as causas do repúdio. Logo, se estas não fossem escritas, inútil o marido mandar tal escrito à esposa.
 
3. Demais. ─ Assim o diz o mestre das Sentenças.

Mas, em contrário. ─ As causas do repúdio eram ou não suficientes. Se o eram, as segundas núpcias, que a lei permitia à mulher, ficavam-lhe proibidas. Se não eram, o repúdio revelava-se como injusto e então não podia ter lugar. Logo, de nenhum modo as causas ele repúdio eram minuciosamente escritas no libelo.

SOLUÇÃO. ─ As causas do repúdio não eram escritas minuciosamente no libelo, mas só em geral, para mostrar que o repúdio era justo. Ora, segundo Josefo, as coisas assim se passavam a fim de a mulher munida do libelo escrito de repúdio poder casar de novo; pois do contrário ninguém nela acreditaria. Por isso na sua opinião, a escritura rezava: Prometo nunca mais viver maritalmente consigo. Mas, segundo Agostinho, assim era escrito o libelo a fim de enquanto ele demorava a ser feito e pela intervenção do conselho dissuasório dos escribas, o marido abandonasse o propósito de repudiar.

Donde se deduzem as respostas às objeções.

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