Category: Anônimo
Pe. N.-P
Eis a narração do drama que sucedeu em 8 de maio de 1902 na Martinica: a erupção da Montanha Pelée destruíra num piscar d’olhos a cidade de Saint-Pierre, e matou 40.000 almas das 100.000 com que a ilha contava nessa data. Ao visitar as ruínas da cidade, imaginamos qual não fora a violência do cataclismo.
Os partidários do P.A.C.S. e doutras abominações modernas (aborto etc.) lucrariam se meditassem neste acontecimento, pois que há muito tempo já dizia o profeta Oséias: “Quem semeia vento, colhe tempestade” (Os. 8, 7); mais perto de nós escrevia São Paulo aos Gálatas: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba” (Ga. 6, 7).
Não acreditemos na obsolescência das palavras eternas, só porque Deus se cala. “Retarda-se a pena, porque Deus é bom – escreveu Joseph de Maistre em Os adiamentos da justiça divina – mas ela é certa, porque Deus é justo.”
Parece que essas verdades permitem a boa compreensão da terrível catástrofe de 8 de maio de 1902.
Depois de visitar, em Saint-Pierre o pequeno museu que reúne alguns objetos e fotografias da cidade após a destruição, perguntei a uma jovem antilhana morena que me servia de guia se os habitantes da Martinica não consideravam o cataclismo como um castigo. Sem hesitações respondeu-me ela que sim. Perguntei-lhe então qual seria a provável causa do castigo. Essa moça, de cerca de trinta anos, disse-me que a religião era desprezada e os ministros dela insultados, e acrescentou que durante o carnaval de 1902 parece que haviam matado um padre.
Sinais premonitórios
A Montanha Pelée é um maciço que ocupa o nordeste da Martinica, e cujo ponto culminante, Morne le Croix, antes da erupção tinha 1350m de altitude.
Havia dois séculos que as duas crateras deste local estavam inativas: o lago das Palmas, na vertente atlântica, e o fosso da Lagoa Seca, batizado em oposição ao lago sempre cheio, na vertente oposta desta mesma serrania. Em 5 de agosto de 1851 a cratera da Lagoa Seca dera sinais de vida: jatos de fumo e cinzas foram lançados a no máximo cem metros de altura.
Em 1902, a partir do mês de fevereiro, um cheiro forte de enxofre se sentiu, em primeiro lugar, ao redor da vila de Rivière Blanche. As serpentes e os pássaros abandonaram os flancos da montanha; os bois e as ovelhas arrebentavam as amarras quando os levavam a pastar nas encostas da Montanha Pelée; amiúde os cães latiam durante a noite.
Apareceram fumarolas pouco abaixo do cume; os objetos prateados cobriram-se duma tingidura azulada que se espalhava em raias.
Tais fenômenos duraram até sexta-feira, 25 de abril. Naquele dia, entre sete e oito horas da manhã, escutou-se um estrondo subterrâneo, logo seguido dum abalo. Duas horas depois, uma fina cinza azulada, cheirando a enxofre, começou a cair sobre a vila do Prêcheur. Ao meio-dia, de novo, a terra tremeu duas vezes.
Na segunda-feira, 28 de abril, ouviu a montanha rugir, enquanto colunas de vapor escapuliam dele. O débito do córrego Branco aumentou até chegar a triplicar o volume habitual.
Na véspera, em Saint-Pierre, acontecia o primeiro turno das acirradas eleições legislativas. As paixões estavam exacerbadas e a febre política ocupava os espíritos mais que o crescimento insólito dum rio vizinho ou a presença ameaçadora dumas nuvens de cinza que, demais a mais, ainda não haviam atingido Saint-Pierre. Os resultados do primeiro turno auguravam a vitória dos “republicanos”. Decerto os antigos moradores se lembravam desses fenômenos, já ocorridos há 51 anos: a montanha cuspira uma cinza inofensiva e voltou a dormir sem mais histórias.
Les Colonies, a principal folha socialista de Saint-Pierre, publicava em suas colunas de 30 de abril, na pluma do Sr. Hurard, seu diretor anticlerical:
Para nós, ilhéus da Martinica, abril foi duplamente trágico. Nós vimos duas erupções: uma nos espíritos e outra na Montanha Pelée; uma eleitoral e outra física; uma nos discursos, na propaganda, no rum, no dinheiro e nos boletins eleitorais, e outro da coluna de cinzas... Que a montanha se contente em fumaçar e lançar cinza, porém, com mil demônios!, que ela não se ponha a tremer! Os corações trepidariam e dançariam também, mas seria por causa do tremor... Para nós essa cinza é um poema: ele já está escrito em nossa imaginação e, se nós o escrevêssemos, o intitularíamos “A Cinza do Vulcão”. E que labaredas não poríamos entre as cinzas!
A Montanha Pelée, ao notar que os bons costumes foram embora daqui, quis simplesmente nos pregar uma peça. Querido abril, já que vais repousar, dorme bem! E tu, maio, sê bem-vindo!
O mês de maio acordou em meio a um espetáculo desolador. A paisagem estava recoberta de cinzas, nenhum pássaro havia nas árvores, reinava silêncio absoluto... De tempos em tempos, um estalido seco anunciava a queda dum galho, vencido pelo peso das cinzas. Enormes colunas escuras escapavam da montanha.
Na manhãzinha de 2 de maio os rugidos se multiplicaram e, por volta de 16h, uma coluna de vapor bem preta, intumescida e sulcada de raios, apareceu no pico da montanha. As cinzas continuavam a cair e, pela primeira vez, Saint-Pierre ficava recoberta.
Na madrugada de 2 para 3 de maio os habitantes da localidade de Morne Rouge acordaram no meio da noite por conta da mistura duma espécie de canhonaço subterrâneo, um tremor de terra e um estrondo altíssimo, tudo acompanhado dum como que ronco contínuo, semelhante ao rugido do leão. Todos saíram das casas. A montanha estava coroada dos raios que partiam da cratera. O pânico tomou conta dos habitantes, que se precipitaram para a igreja; os confessionários foram tomados de assalto. A mole de gente ficou lá, esperando a morte, até de manhã.
Debaixo duma chuva de cinzas, que espalhava um forte odor de enxofre, conta Mons. Parel, quis eu visitar Sainte-Philomène, o Prêcheur e Morne Rouge, que são as localidades mais próximas do vulcão. Esses três povoados estavam cheios de camponeses que fugiam das montanhas em direção ao litoral; as igrejas, abertas desde a véspera, não se esvaziavam; os curas não paravam de batizar, confessar e alimentar a coragem do povo descontrolado.
Em 3 de maio o governador Luís Mouttet deixou Fort-de-France a fim de examinar a situação pessoalmente. Quando chegou a noite, ele já estava tranqüilo, em razão das informações recebidas: o vulcão não se manifestava há meio século, não convém se alarmar além do necessário!
A “Sociedade de Ginástica” de Saint-Pierre, que havia organizado para o domingo uma grande excursão à montanha, refrescava a memória dos sócios nestes termos, numa nota publicada na imprensa:
Quem nunca foi aproveitar o panorama magnífico que se oferece aos olhos do espectador admirado, a 1300 m de altitude; quem deseja ver a bocarra por onde está escapando – nestes últimos dias – um fumo espesso que está metendo medo nas pessoas das vilas do entorno, tem de aproveitar esta ocasião especial. Se fizer bom tempo, os excursionistas vão passar um dia muito agradável, do qual lembrarão por muito tempo...
A curiosidade e o entusiasmo dos voluntários esfriaram após a erupção que aconteceu durante a noite. Adiou-se a excursão sine die. O domingo, dia 4 de maio, foi relativamente calmo.
Às nove horas celebrou-se a missa; no sermão o Pe. Maury, exortando os paroquianos à penitência, exclamou:
O fogo e a lava estão lá, meus irmãos, o fogo e a lava estão lá... Deus os sustenta sobre as vossas cabeças, pronto para derramá-los sobre vós, se não vos converterdes nem fizerdes penitência!
Na segunda-feira, 5 de maio, por volta de meio-dia e meia, um rio de lama negra e incandescente, com uns doze metros de altura, saiu da cratera e, como uma avalancha, num piscar d’olhos deslizou pela montanha e cobriu a Destilaria de rum Guérin, as quintas dos proprietários e os pavilhões de empregados. Somente a chaminé da usina, qual mastro de navio fantasma, ainda permaneceu visível por algumas horas em meio ao mar de lama que engolira cento e cinqüenta pessoas.
No momento da avalancha o mar, como que assustado, se retirou da enseada de Saint-Pierre. Logo em seguida, as vagas retornaram, já agora como montanhas, e invadiram a cidade, espalhando a consternação. Os habitantes começaram a fugir para os lugares altos, mas vinte minutos depois tudo retornara à ordem.
A comoção atingiu aqui o auge. Algumas famílias partiram em direção à ilha de Santa Lúcia, muitos outros em direção a outras comunidades onde parentes e amigos podiam recebê-los provisoriamente...
As autoridades se esforçaram em declarar às pessoas que não havia motivos de preocupação!
Atendendo a um pedido do prefeito o governador Mouttet e o coronel Gerbault, ambos acompanhados das esposas, foram à ilha e permaneceram em Saint-Pierre, o que lhes custaria a vida.
A “Comissão Científica” que o governador nomeou declarara na véspera do desastre para toda a cidade de Saint-Pierre, ao cair da noite e ao som dos tambores “... que a posição relativa das crateras e dos vales, ambos desembocando no mar, permite afirmar que a segurança de Saint-Pierre não corre riscos.”
As autoridades afixaram essa consulta solene em Fort-de-France três horas após o desastre! O criador zomba da ciência dos homens. O futuro só a Deus pertence.
Na tarde desse dia de 7 de maio o capitão dum barco italiano ancorado na enseada teve melhor inspiração: apressou-se ele em buscar seus papéis, que estavam com o contratante que o mandara retornar ao dia seguinte: “Pois sim! Eu vou é embora”, respondeu ele, e apontando a Montanha Pelée acrescentou: “Na Itália, quando a gente vê o Vesúvio fumaçar desse jeito, todo mundo trata de fugir rapidinho!”... No dia seguinte os quatrocentos barcos que estavam ancorados na enseada, exceto um, foram incendiados e engolidos.
A folha Les Colonies, no seu número de 7 de maio, quarta-feira – o derradeiro, que havia de encerrar a sua carreira – escrevia: “... A emigração de Saint-Pierre fica a cada momento mais intensa... Os vapores da Cia. Girard estão sempre lotados. A média de passageiros da linha Fort-de-France, que era de 80 por dia, elevou-se para 300 nestes últimos três dias. Confessamos que não entendemos a razão do pânico. Onde poderíamos ficar melhor do que em Saint-Pierre?”
Apesar dos discursos confiantes, escreveu uma testemunha, muitos tinham medo, e foi com terror que viram a noite chegar. Para aumentar a apreensão, a cidade inteira se viu mergulhada nas trevas, pois a luz elétrica, por causa dos fenômenos magnéticos que procediam do vulcão, não estava funcionando.
Estamos a algumas horas da catástrofe. Depois de tantos sinais premonitórios (tremores de terra, chuva de cinzas e de lapíli, cheiro de enxofre, água quente nos rios, ressecamento súbito do lago das Palmas, destruição da usina Guérin...), é espantoso que os habitantes de Saint-Pierre não fizessem uma idéia mais justa do perigo a lhes ameaçar. A montanha não parou de dar avisos convincentes.
Por que não evacuaram a cidade?
É difícil responder em nome de todos, declarou uma testemunha, pois evidentemente cada um reagia segundo o seu temperamento.
Sem dúvida, muitos achavam que teriam tempo de fugir das lavas, caso o vulcão se enfurecesse de todo. Pensavam outros que o derrame do imenso rio de lama acalmara o vulcão e a crise já havia passado.
Algumas pessoas, com medo dum maremoto, procuravam fugir para os “lugares altos”. A causa desse temor foi a erupção da ilha de Cracatoa: o vulcão do distrito de Sonde havia quicado como uma bomba gigantesca e provocado um extenso maremoto.
Abandonar a casa era decerto expô-la à pilhagem e arriscar-se à ruína.
Para um bom número de pessoas, as crianças, as pessoas dependentes, os doentes e os enfermos certamente foram um obstáculo à fuga.
Seria demasia pensar que o espetáculo assustador desse monstro furioso provocava uma espécie de fascinação? Não é impossível.
Enfim as eleições que sempre inflamavam a ilha fizeram naquele ano a temperatura social subir a graus jamais vistos; o segundo turno do escrutínio deveria acontecer no domingo seguinte, a 11 de maio. Para que houvesse eleitores, o povo teria de permanecer na cidade, por isso convinha tranqüilizá-lo; o relatório da comissão científica decerto contribuiu para isso!
A catástrofe
Em 8 de maio de 1902, após uma noite de tormenta e rugidos surdos, Saint-Pierre acordou tarde nesse que era o dia da Ascensão. Bulcões negros e compactos obscureciam o céu.
O vapor “Rubi”, que zarpou às 6.30h em direção a Fort-de-France, foi tomado de assalto por inúmeros viajantes. Ele foi literalmente invadido por ondas humanas que se dependuravam em todas as partes do navio. Vários habitantes, assustados com a noite que acabavam de passar, resolveram partir.
Os carrilhões soaram em todos os campanários, conclamando os fiéis para os primeiros ofícios da Ascensão.
De repente se escutou um estrondo terrível. Era 7.50h, a hora fatal que ficou inscrita no relógio encontrado no hospital dos Padres de São João de Deus. Um barulho, comparável ao de centenas de apitos que silvassem ao mesmo tempo, preencheu o ar, e uma nuvem vaporífera, intumescida, espessa, negra e sulcada de raios resvalou do vulcão entreaberto, e num piscar d’olhos precipitou-se por sobre a cidade – cobrindo-a, sufocando-a e abrasando-a – e deslizou até ao mar, onde se dilatou e inchou em forma de montanha de cinzas e fogo.
Depois de passar pela cidade, a nuvem parou bruscamente ao se deparar com um vento violento em sentido contrário. Foi só então que se pôde vislumbrar o véu negro e impenetrável duma fumaça opaca que cobria a infeliz cidade e donde a intervalos jorrava milhares de labaredas.
Na hora fatal o telefonista de Fort-de-France, Sr. Lodéon, estava já havia algumas horas conversando com seu colega de Saint-Pierre, quando de repente este se calou ao começar a pronunciar uma palavra; naquele instante, enquanto todas as campainhas do escritório se puseram a soar, o Sr. Lodéon sentiu de súbito um violento choque elétrico e ouviu um estertor de agonia e o barulho dum enorme colapso. A comunicação estava interrompida – e por uma boa razão!
Estava terminada a obra de destruição. Setenta segundos bastaram para apagar Saint-Pierre do mapa.
Daí então uma chuva de cinzas finas amortalhou o drama. A cidade era toda um braseiro, com muros derruídos e calcinados, e um pasmoso acúmulo de cascalhos e árvores carbonizadas. Nenhum dos 40.000 habitantes que viveram o drama escapou, mas foram queimados, asfixiados, destroçados e eletrocutados num instante.
As fotos da cidade destruída nos remetem imediatamente às de Hiroshima após a bomba atômica. Dá-nos a impressão que um gigantesco sopro devastara Saint-Pierre: a estátua de Nossa Senhora do Bom Porto, protetora dos marinheiros, foi encontrada a vários metros de sua base. Pesava ela a ninharia de 5 toneladas e costumava ficar a 5 km da cratera!
Sob efeito do calor, um dos sinos da catedral se deformou deveras. Exposto no museu do vulcão, talvez seja o objeto que provoque a maior impressão, ajudando-nos a imaginar a força do cataclismo; este sino, que pesa uma tonelada, parece que o esmagou um “punho de ferro”!
Só um dos 400 barcos que estavam na enseada no momento do cataclismo – o Roddam – escapara do desastre. Temos o relato dum dos passageiros da embarcação:
Quando a coluna de fogo e lava se abateu sobre a cidade, elevou-se um grande clamor de gritos de desespero e angústia. Este clamor lúgubre e pungente foi tão imenso que chegou a ultrapassar em volume o estrépito da inundação e o rugido do vulcão.
Víramos uma mole de gente se precipitar na praia, mas os desgraçados não conseguiam correr por muito tempo dentro do fogo que os envolvia – eles caíam como moscas; e quem conseguia chegar até a beira do mar, onde as pessoas acreditavam estar em segurança, foi num átimo engolido e arrastado por um imenso lamaceiro. Além disso, a inundação começou a ferver e as pobres vítimas eram ao mesmo tempo afogadas e assadas.
Dez toneladas de cinza incandescente cobriram a embarcação, apesar da distância que a separava da costa. Ela chegou a Santa Lúcia num estado lamentável; a bordo só se via mortos e moribundos: não houve um sequer que não tivesse sofrido queimaduras.
Mas por que seria um castigo o drama de 8 de maio de 1902?
Nestes últimos tempos o filme Titanic suscitou inúmeros artigos, porém nenhum deles jamais mencionou as inscrições blasfemas riscadas no casco durante a construção; jamais mencionou que a destruição do navio antes do término da primeira viagem poderia ser a resposta divina aos ataques dos homens.
Do mesmo modo, não se encontrará mencionada em nenhuma obra recente ou folhetos informativos uma explicação semelhante para a erupção de 1902, contudo ela persiste na mente dos anciões, e até os nem tão anciões já ouviram falar dela – como prova a guia antilhana da visita ao museu do vulcão...
A espada de fogo
Durante o ano precedente à catástrofe que acabamos de relatar aconteceram no Convento de Livramento presságios sinistros, sinais assustadores, pressentimentos e intuições dolorosas.
Nove meses antes da erupção duas irmãs que residiam em Saint-Pierre viram – no mesmo dia, embora estivessem separadas – uma espada de fogo pairar acima da cidade, como se impedida por mão invisível. Amedrontadas ambas se perguntavam, cada uma para si só, qual o significado daquilo... Como estivessem consternadas, elas guardaram o segredo até a hora da recreação. Então uma delas disse às irmãs reunidas: “Oh! Eu vi uma coisa extraordinária e assustadora!” A outra religiosa, testemunha do prodígio, lhe ripostou: “Duvido, cara irmã, que tenhas visto algo de mais extraordinário e assustador do que eu.” Instadas pelas intrigadas religiosas a se explicarem, ambas revelaram a visão claríssima duma espada de fogo pairando acima da cidade de Saint-Pierre.
Na mesma época se passou um fato extraordinário em Morne Rouge, numa outra casa da comunidade. Por vários dias seguidos “uma de minhas irmãs e eu – conta a Irmã Margarida Maria – encontramos os baldaquinos de nossas camas cobertos de grandes manchas vermelhas semelhantes a sangue. Trocaram-se as cortinas três vezes e três vezes se reproduziu o mesmo fenômeno: o baldaquino duma das camas estava particularmente manchado. A comunidade ficou estupefata. ‘Qual o sentido desse fato estranho?’, perguntavam-se as religiosas umas às outras... talvez seja prenúncio de martírio. “Pessoalmente, se considerarmos o crescimento progressivo da perseguição religiosa, vejo nisso um presságio de massacre...”
Ainda no convento de Livramento, em Morne Rouge, durante os três meses que precederam o cataclismo, escutavam-se de noite pelos corredores soluços, suspiros e orações; nos dias gordos do carnaval esses fenômenos se reproduziram até durante o dia: em vários pontos do convento se percebiam sons de soluços. Na Terça-Feira Gorda, no momento em que a comunidade fazia as orações de reparação na igreja, a Reverenda Madre Superior, que em razão duma doença ficara numa das salas da comunidade, escutou um choro à porta. O gemido foi tão forte que ela mandou a religiosa que lhe cuidava verificar se havia alguém no corredor... mas não encontrou ninguém.
Ainda há relatos de outros fatos misteriosos: uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que exibia um semblante alegre, sem mais assumiu uma expressão melancólica; num convento de religiosas ouvia-se o estridor de pratos quebrando-se; um lampião começou do nada a saltitar.
Um castigo... para punir qual crime?
Quando perguntei isso, a jovem guia do acanhado museu de que já falei não me respondeu:
- “para os brancos por causa da escravidão...”. Aliás, este ano festejamos os 150 anos da abolição da escravidão;
- nem “para punir os costumes licenciosos”. As uniões ilegítimas, é verdade, eram de longe as mais numerosas e a rua das “mulheres-damas”, muito freqüentada. A última instrução do Mons. de Cormont foi um comovido apelo aos diocesanos, a fim de lhes exortar à regularização das uniões ilegítimas e ao respeito da lei do casamento.
Não, ela mencionou sem pestanejar os pecados contra a religião.
Na obra de Louis Garoud, Três anos na Martinica, lê-se o seguinte:
...Nem as saturnais romanas nem as bacanais gregas jamais ofereceram um espetáculo semelhante; nunca na festa dos loucos, na Idade Média, exibiram-se tais mostras de exultante depravação. A imaginação não pode conceber semelhantes loucuras humanas nem delírio tão contagiante...
Saint-Pierre, classificada como a 101ª cidade da França no quesito de luxo e conforto, alimentava todos os vícios que os deleites podem engendrar. A fé não era tão-somente ignorada mas desprezada e insultada em público por um grupelho instigado pela “loja” de Saint-Pierre, poderosa e militante que era.
Algumas testemunhas afirmam que o Mons. de Cormont teve de encurtar a procissão de Corpus Christi do ano anterior [à catástrofe] devido às pedras e aos insultos lançados sobre o cortejo!
Mons. de Cormont teve de deixar a Martinica alguns meses antes da catástrofe para que se acalmassem os ânimos. Com efeito, suscitou-se uma vivíssima polêmica, pois ele queria promover um de seus novos párocos, ao passo que um mais antigo ambicionava o cargo... e cada qual com seus partidários!
Quando Mons. de Cormont estava partindo, certas pessoas - incitadas pela franco-maçonaria – chegaram a lhe jogar pedras. O prelado se voltou para eles e disse: “Vós nos lançais pedras, o vulcão lhas devolverá”. Isso aconteceu em 10 de abril!
No livro Peregrinação fúnebre às ruínas de Saint-Pierre U. Moerens escrevera a pág. 60:
Uma imprensa violentíssima e ímpia se esforçou em descristianizar esta terra desgraçada. Com uma visão estreita e um espírito intolerante, os responsáveis pela missão de dirigir a opinião pública eram infatigáveis – por qualquer ou sem nenhum motivo – em disseminar a blasfêmia e em lançar o desprezo sobre tudo o que havia de mais respeitável e sagrado.
A obra dos sectários deu frutos. Mas ao que parece foi a profanação ignóbil da Sexta-Feira Santa, em 28 de março de 1902, que provocara a cólera de Deus.
A partir do testemunho dum martinicano, ela foi noticiada com o título de “O Cristo no Vulcão”, em 5 de setembro de 1902, num dos maiores jornais parisienses:
Foi em 28 de março deste ano, Sexta-Feira Santa. Nossa alegre cidade colonial acordou neste lusco-fusco tão calmo e cheio de frescura das manhãs dos trópicos. Atrás das varandas entreabertas a gente percebe as donas de casa que se apressam em pôr tudo em ordem para irem à igreja. O sol sobe suavemente no horizonte. Chega a hora do almoço, e as pessoas vão quebrar o jejum, mas ao estilo créole: bacalhau com arroz. Entrementes um grupo barulhento vai em direção a um dos principais hoteis da cidade, onde preparavam um festim. São eles os representantes do livre-pensamento que, a fim de provar sua independência de espírito, vão promover uma comezaina com as comidas mais gordurosas e suculentas, em contraste com a abstinência universal. Eles abriram e esvaziaram rapidamente inúmeras garrafas, e quando já estavam bastante avinhados, a banda diabólica começou a andar pelas ruas da pequena capital, vociferando palavras sujas e ridicularizando a imagem do Cristo que estavam carregando.
Ei-los já fora da cidade, a caminho da montanha. Diante deles a elevação se erguia majestosa, com seu pico irregular se destacando contra o fundo azul do céu; por catorze vezes, em meio a blasfêmias infames, a tropa se detivera para parodiar a Via Crucis e achincalhar as cenas da Paixão, que naquele momento a Igreja pesarosa cantava. E eles continuam a subir, mais e mais excitados, inventando a cada trecho da caminhada mais blasfêmias horríveis. Finalmente chegam ao cume... Contornam o lago de águas tranqüilas e vão até a boca escancarada do vulcão e ali, numa sarabanda infernal, entre berros e momices, atiraram no fundo do abismo a imagem Daquele que, havia dezenove séculos, morrera na cruz para resgatar as almas dos condenados. No dia da Ascensão, entre estertores de morte e gritos de espanto, o vulcão respondia aos escarnecedores do Cristo e remetia a cruz aos céus.
Com efeito, no ano de 1902 o dia 8 de maio, quinta-feira, caia no dia da Ascensão... Acaso?
É claro, os livre-pensadores não tinham nenhum interesse na história: consideraram-na uma invenção dos católicos, uma fábula que hoje em dia já ninguém conta.
Verdade ou fábula?
Mélanie, a criança que viu Nossa Senhora em La Salette, autenticou esse triste acontecimento, ante a interrogação do Pe. Combe.
- Tu já sabias que iria acontecer a catástrofe?
- Sim, [respondeu Mélanie].
- Foi a aparição de 1846 que te alertou?
- Não [responde ela].
Convinha lhe tirar essa informação [insiste o Pe. Combe], mas ela se limitava a responder ou sim ou não.
- Tu viste bem a erupção, fala.
- Ah, padre! Eu estava lá.
Na sexta-feira, dia 16 de maio de 1902, anota o Pe. Combe:
Percebi no fogareiro, entre os papéis a queimar, uma carta de participação do falecimento da Sra. X, em cujo verso Mélanie escrevera a previsão dos vindouros castigos da Martinica:
“Nós não roubamos mas compramos e arrancamos das mãos de Deus. Ele não vai se contentar em advertir as criaturas racionais, às quais outrora dera tantas provas de amor; mesmo quando sua justiça exige de sua glória a vingança da misericórdia ultrajada, o bom e divino mestre trata de advertir com certa discrição sobre sua justiça. Ele há de enviar tremores de terra incomuns. É o que fará nas Antilhas Francesas. Durante uns seis dias haverá pequenos abalos entremeados dalguns grandes. Infelizmente os homens têm ouvidos e não escutam. Enfim, no dia 8 de maio, o fogo devorador cairá sobre uma das principais cidades da Martinica, Saint-Pierre, e a devorará e cobrirá de cinzas e de todos os tipos de destroços. Para além da destruição da cidade, outras três localidades também terão vítimas, afora os prejuízos materiais. O fogo não se recolherá à sua caverna: doze dias após o cataclismo, Fort-de-France e outras cidades também hão de chorar.”
- Escreveste esta meditação no dia 8, antes da erupção [pergunta-lhe o Pe. Combes]? Até aqui, só a cidade de Saint-Pierre foi destruída; já se fala de 30.000 vítimas.
- Pois são 40.000 [responde Mélanie].
- Já que previste a destruição de Saint-Pierre, podes me dizer o nome dessas localidades que vão compartilhar o mesmo destino [indagou o Pe. Combes]?
- Curbet ou Curbá, é algo assim [respondeu Mélanie].
Por ocasião duma nova catástrofe, que vitimou cerca de mil pessoas, os jornais (Le Pèlerin, de 14 de setembro de 1902) divulgaram – depois duma pesquisa feita no local – que a catástrofe do mês de maio já se estimava em 40.000 mortos.
Na quinta-feira, dia 22 de maio, anotou o Pe. Combe:
Eu desejava uma predição cuja anterioridade se provasse materialmente, e eis que meu desejo se cumpre: um telegrama chegou hoje de manhã: “Os cabogramas oficiais sobre a erupção de 19 e 20 de maio são mui sucintos, não obstante sabe-se que a vila de Carbet, situada na costa a poucos quilômetros de Saint-Pierre, foi em parte destruída.”
Fui até ela perguntar: - Que crimes terríveis, além da impureza, puderam atrair sobre a população – considerada catolicíssima – um semelhante flagelo?
Ela me contou que “na Sexta-Feira Santa passada, uma imagem de Cristo de cerca de um metro foi arrastada com uma corda pelas ruas de Saint-Pierre, e logo depois pela montanha vertente acima, até que a chutaram dentro duma fenda”.
- Esse sacrilégio foi obra duma multidão de homens e mulheres, para que atraísse a maldição de Deus sobre toda a região [raciocina o Pe. Combe].
- Somente duns poucos [explica Mélanie], mas os demais habitantes não os detiveram, e um grupo de crianças os seguia. Aquela vertente da montanha desmoronou no dia da Ascensão. Como Deus pode infligir tal castigo? está pensando o Sr. Isso lá é justiça? Nos tempos de fé verdadeira, também aconteciam profanações. A diferença era que as profanações eram apontadas, o poder civil condenava com rigor essas pessoas; já outras eram punidas de modo miraculoso. No caso da Martinica, a profanação foi pública, e a permitiram; até as crianças iam atrás do cortejo; entre a Sexta-Feira Santa e a Quinta-Feira da Ascensão, alguém teve notícias de que se fizeram orações de reparação ou de que o clero houvesse organizado procissões e penitências públicas para desarmar a cólera de Deus? [Ver: A Aparição da Virgem Santíssima, de M.-H Bourgeois – fita cassete nº 4b.]
Depois da destruição de Saint-Pierre, ainda tiveram de esperar dois dias antes que se pudesse pôr os pés sobre a cinza ardente que recobria o solo da cidade destruída. (Esse fato torna inconcebível a sobrevivência dum prisioneiro numa cela, como afiançavam ser o caso de Louis-Auguste Cyparis, que o circo Barnum durante anos exibiu como atração: “O homem que escapou de Saint-Pierre”.)
Um detalhe do testemunho das primeiras pessoas que se aventuraram a pisar na ilha parece confirmar que o cataclismo era um castigo da impiedade:
No meio do caos da ruína, já não reconheciam a geografia da cidade, que lhes era contudo bem familiar. Em todo lugar se amontoavam cadáveres carbonizados e putrefatos, exalando um odor pestilento que viciava o ar... Na catedral um confessionário ainda estava de pé – intacto. Não longe dali, num pano de muro, um cartaz mal fora chamuscado pelo fogo, ao passo que os demais em redor estavam completamente carbonizados: “Cristo no pelourinho! A Virgem no estábulo!”, dizia a inscrição assustadora, pois o espetáculo que se oferecia aos olhos afigurava-se a resposta a essa blasfêmia.
Uma coluna de 300m de altura permaneceu erguida sobre o pico do vulcão durante vários anos, mas com o tempo se esboroou e desapareceu. À noite ela ficava “incandescente”, o que não deixava de ser impressionante. Não seria o dedo de Deus assinalando a justiça divina: “Quem semeia vento, colhe tempestade’?
Nos dias 16 e 20 de maio novas erupções fizeram novas vítimas: alguns curiosos e sobretudo saqueadores que como urubus vinham despojar os cadáveres de seus bens. Após o dia 20 de maio encontraram-se algumas pessoas mortas, deitadas sobre um saco cheio de pratarias que se dispuseram a carregar; havia um outro sobre um cadáver, de quem parecia estava arrancando uma jóia!...
A erupção do dia 20, fortíssima, teve um efeito sanitário: ela sepultou os cadáveres, evitando assim o desenvolvimento de epidemias.
A última erupção devastadora foi a de 30 de agosto de 1902, que destruiu a vila de Morne Rouge, fazendo 2000 vítimas. A igreja foi totalmente destruída mas, em meio às ruínas, os sobreviventes encontraram meio enegrecida a estátua de Nossa Senhora do Livramento miraculosamente conservada. Ela permaneceu de pé e intacta sobre o pedestal, que não ficou abalado.
Desde então, os martinicanos fazem, no dia 30 de agosto, uma procissão solene em honra de sua padroeira.
Durante a tempestade, contemple a estrela, invoque Maria.
“O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Não há amor maior que dar a própria vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,12-14).
Nosso Senhor convida seus discípulos a entregar suas vidas a seu amigo. Ele, claramente, ensina que não há amor maior que esse. Seguindo Cristo crucificado, o sacrifício da vida inteira de uma pessoa por amor de Deus, nosso maior amigo, é a maneira mais perfeita de obedecer a Deus. Há muitas maneiras através das quais um homem ou mulher pode aceitar esse mandamento divino da caridade. A vida matrimonial pede, em algum grau, que os esposos sacrifiquem suas vidas por seus filhos e pelo cônjuge. Muitos vivem uma vida celibatária em continência perfeita no mundo, sacrificando suas vidas por alguma obra de caridade. Os soldados também, de uma maneira especial, sacrificam suas vidas pelo seu país. Porém, duas das maneiras mais perfeitas de “entregar sua vida” ao próximo são a vida religiosa enclausurada e a vida de um missionário. Esses dois estados de vida, em essência, construíram a Cristandade.
O missionário edifica a Cristandade de dentro para fora. Da ordem espiritual das almas advém a ordem necessária para o avanço material da sociedade. O verdadeiro objetivo de toda a atividade missionária é a santificação das almas. Apenas após estabelecer a prática geral da virtude, o missionário pode começar a ver os benefícios materiais da sociedade. Se o canibal não parou de comer seu próximo, ou se o bárbaro não parou de guerrear e pilhar os inocentes, não pode haver nenhuma harmonia real ou qualquer tipo de estrutura na sociedade. O pecado e o vício, que são frutos do amor-próprio desordenado, são os elementos mais poderosos de autodestruição em qualquer sociedade. A alma pagã deve, em primeiro lugar, reconhecer que Deus tem o direito de pedir a ele grandes sacrifícios na sua vida pessoal. Apenas então ele será capaz de pensar em seu próximo caridosamente.
É aqui que a vida contemplativa vem em auxílio do missionário. Nenhum ser humano pode entrar no coração do homem. A vida interior de uma alma pertence, exclusivamente, a Deus, nosso Criador. Pelo sacrifício de sua vida inteira, o religioso impetra a Deus pela salvação das almas. Através das orações e dos sacrifícios dos religiosos, Deus adentra a esterilidade da terra inculta das almas e dá-lhes sua graça, usando o missionário como seu instrumento. O missionário não pode adentrar a alma de seu fiel, tampouco pode o contemplativo, mas Deus, como Mestre daquela alma, tem direito de entrada.
Em 1985, Dom Marcel Lefebvre abençoou a clausura das irmãs carmelitas nos Estados Unidos. Em seu sermão, ele explicou a vida de um mosteiro carmelita: “O Carmelo é uma casa de sacrifício e oração”. A casa ilustra a vida comum dos religiosos contemplativos vivendo na “casa” de sua comunidade. O sacrifício de suas vidas inteiras é derramado ao pé da Cruz em união ao sacrifício de Nosso Senhor. Suas mortificações purificam não apenas as suas almas, mas as dos seus próximos. Suas orações são oferecidas pela glória de Deus e pela salvação das almas. Elas unem-se, intimamente, às orações dos padres missionários, quase compartilhando da oração do Pai mencionada pelo profeta Joel: “Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, postos entre o vestíbulo e o altar, e digam: Perdoa, Senhor, perdoa ao teu povo, e não deixes cair a tua herança em opróbrio, de sorte que as nações a dominem”
O Reino de Deus funda-se sobre esse espírito, sejamos nós leigos, religiosos ou missionários. Infelizmente, o mundo moderno, construiu a “Cidade dos homens decaídos” ao negar esses valores. A família moderna pode ter uma casa confortável como moradia, mas eles, frequentemente, não têm um lar familiar. A ideia do sacrifício foi eliminada de suas confortáveis vidas, nas quais o prazer é o único objetivo real de sua existência. A oração foi substituída por reclamações, desespero e uma espécie de zombaria de Deus. Nossa sociedade moderna construiu uma civilização sobre as ruínas da noção católica de Cristandade. Estabelecemos uma morada confortável na qual os pais abortam seus filhos e praticam eutanásia para matar seus próprios pais, na qual a sensualidade do prazer pessoal é o ponto de referência para todas as decisões a serem tomadas, e na qual uma blasfêmia desesperadora zomba de nosso Criador. A “casa de sacrifício e oração” tornou-se um “abrigo de sensualidade de blasfêmia para os desabrigados”.
Nosso Senhor ensina que o Reino de Deus está dentro de nós. Ele também nos ordena buscar, primeiro, o Reino de Deus, e todas as outras coisas nos serão dadas. Para a reconstrução da Cristandade, devemos, primeiramente, estabelecer Nosso Senhor como Rei de nossas almas, tornar-nos seus amigos e entregar nossas vidas a Ele. Devemos viver continuamente na sua “casa de sacrifícios e orações”.
A Cristandade, ou o reino espiritual, é a real edificação da civilização. “Santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita Vossa vontade assim na terra como no Céu...”
(Revista The Angelus, Julho-Agosto de 2020. Tradução: Permanência)
Julgamos oportuno dedicar um número inteiro de PERMANÊNCIA à memória de Thérèse Martin (2 de janeiro de 1873) que entrou no Carmelo de Lisieux com quinze anos de idade, e pronunciou os santos votos em 8 de setembro de 1890. No mesmo mês recebeu o hábito com o nome de Soeur Thérèse de l’Enfant-Jesus et de la Saint Face. Viveu somente sete anos a vida obscura e silenciosa de uma pequenina religiosa ignorada do mundo, rejeitada pelo mundo, mortificada, morta antes de morrer porque nunca escolheu nada entre os nadas do mundo, tendo escolhido TUDO da Santa Vontade de DEUS. Deixou por obediência um caderno de apontamentos onde registrou os pequeninos passos, ínfimos, quase imperceptíveis, de uma vida exterior insignificante. Esse caderno, depois de sua morte, foi publicado pelas freiras de Lisieux com o título “História de uma Alma”. E aqui começa uma outra história, a desse livro, que pode sem nenhum exagero ser considerada um dos espantosos milagres do século que terminava engalanado, estrepitoso, iluminado para festejar as grandezas de uma civilização desviada de Deus. Misteriosamente, incompreensivelmente, milagrosamente o insignificante livro de uma história insignificante, que facilmente poderia ser afastada como convencional ou como presunçosa, começa a difundir-se, aos milhares, aos milhões, e chega em pouco tempo até os confins do Extremo Oriente. Mas o milagre ainda maior foi o de ter sido compreendido, diríamos quase adivinhado, por carvoeiros, cozinheiros, por padres, por Papas e até por intelectuais. Muitos desses leitores descobriram o segredo profundo de Teresinha, o segredo da santidade, a grandeza da pequenês, a glória da humildade, e todos os demais paradoxos da Cruz, sinal de contradição, de tropeço e de escândalo. O sucesso explosivo, humanamente inexplicável da pequenina carmelita de Lisieux foi uma resposta de Deus ao estardalhaço dos homens.
Nas matinas de Natal a Igreja rezava (ainda reza?) o Salmo II com que a Esposa de Cristo muito visivelmente respondia às insolências do mundo: “Quare fremuerunt gentes: et populi medittati sunt insânia?” E adiante: “Aqueles que habita nos céus se rirá deles”, se rirá dos poderosos que se coligaram contra o Senhor.
O nascimento de Jesus na terra foi, como nos ensina assim a liturgia sagrada, um grande riso de Deus; o nascimento de Teresinha no céu foi um eco daquele, e outra vez às almas de fé foi oferecido, como consolo dos escárnios dos homens que meditam coisas vãs, um largo clarão do riso do céu. Vejam! Mas passados treze anos de sua morte obscura e pequenina, a insignificante carmelita Teresinha, sempre inha, sempre pequenina, tem o diminuído nome espalhado no mundo inteiro, e um Papa imenso lê com pasmo a história de uma freira escondida em Lisieux, e manda logo iniciar-se o processo de sua beatificação. Consta que exclamou: “é a maior santa dos tempos modernos!”; mas só teve vida para assinar, dois meses antes de sua própria morte, o decreto de beatificação. A alegria da canonização Pio X só a teve no céu; mas não esperou muito porque seu antecessor Benedicto XV mandou suspender a isenção canônica que manda esperar cinqüenta anos post mortem para o inicio do processo de canonização. Também este Papa não viu Teresinha nos altares, mas seu sucessor parecia impaciente, e em 23 de abril de 1925 foi solenemente declarada Santa, e oferecida à veneração de milhões de impacientes fiéis, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. E Pio XI logo declarou que seria ela a “estrela de seu pontificado”. E desde 1927 a pequenina e imóvel religiosa de Lisieux, que depois da entrada no convento só saiu para entrar no céu, a menos viajada religiosa do mundo, a menos espalhada, a menos empreendedora foi escolhida como padroeira de todas as Missões.
Os paradoxos da santidade se multiplicam em torno da bendita humildade dessa menina imensa. Em 1944, no ano trágico em que a França se deixou vencer por si mesma, mais humilhantemente do que em 1940, Santa Teresinha é colocada ao lado de Joana d’Arc como padroeira da França que tão bem serviu quando, logo depois de sua canonização fez tudo no céu para convencer Pio XI na terra que fora vítima de uma conjuração dos inimigos da Igreja no ato que o levou a separar dolorosamente os melhores católicos franceses. Hoje é conhecidíssima a atuação de Lisieux na reconciliação do Papa Pio XI com Charles Maurras, e as bênçãos com que o cumulou, anos antes da reconciliação oficial da Igreja com a Action Française em 1939, num dos primeiros atos de Pio XII.
E a nossa convicção é que o trabalho de Teresinha no céu é o de amparar a Igreja da Terra neste século de demências. E a menina que nunca, nos mínimos atos se esqueceu da vontade do Senhor Jesus, poderá agora interceder poderosamente pela Igreja, pelo Papa, pelo clero, pelo povo de Deus, com a amorosa certeza de que agora é a vez de Jesus fazer a vontade de Teresinha. Nesta intenção, e contra todas as malignidades que desfiguram a Igreja tão bela e tão amada pelas almas sensíveis à santidade, que vem de Deus, “tu solus sanctus” mas tão maravilhosamente se manifesta nos pequeninos, peçamos a intercessão de Santa Teresinha. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, ora por nós.
Pergunta: Crianças que morrem sem ser batizadas não podem ir para o Céu, mas, ainda assim, elas não fizeram nada de errado, e não é culpa delas que elas não tenham sido batizadas. Como isso pode ser reconciliado com a justiça divina?
Resposta: Não há nenhuma afirmação direta nas Escritura sobre o destino das crianças que morrem sem o batismo. O texto de Mt 19,14 (também o de Mc 10,14 e Lc 17,16), “Deixai os meninos e não os impeçais de vir a mim”, não se refere expressamente às crianças. Nessa passagem, Cristo apenas quer dizer que devemos ser simples como crianças para entrarmos no Reino de Deus.
Porém, há afirmações indiretas em textos bíblicos segundo as quais ninguém entrará no Céu sem renascer através do Batismo. E, portanto, sabemos que crianças não batizadas não poderão ir para o Céu. Aonde elas irão nós sabemos pelo ensinamento da Igreja, baseado na tradição e nos ensinamentos dos teólogos. As crianças não batizadas não vão para o inferno porque elas não cometeram pecados pessoais, e ninguém será condenado sem ter cometido pecados pessoais. O pecado original com que essas crianças estão infectadas não é um pecado pessoal delas, mas um “pecado natural”. O lugar aonde elas irão nós chamamos de limbo ou limbus. Podemos compará-lo com o lugar onde os patriarcas antes de Cristo aguardavam até que o Céu fosse aberto a eles. Mas não sabemos onde fica esse lugar. No limbo, de acordo com os ensinamentos dos teólogos, essas crianças desfrutam uma felicidade natural.
A privação dessas crianças da visão beatífica de Deus não lhes causa tristeza ou sofrimento algum. Pois ou elas não sabem que essa felicidade foi dada a outros, ou, se Deus lhes revelou (o que nós não podemos afirmar), elas conseguem compreender que essa felicidade é um dom inteiramente gratuito de Deus sobre o qual ninguém pode reivindicar um direito.
Portanto, o destino delas não é contrário à justiça divina. Elas não sentem falta de nada: elas são felizes e não sofrem mal algum. Embora essas crianças sejam privadas de algo que foi dado a outros, isto é, a visão beatífica, trata-se de algo a que elas não têm um direito, pois se trata de um dom sobrenatural. E, assim, se as crianças não batizadas souberem alguma coisa sobre esse dom, elas se alegram com a felicidade dos outros.
Por um monge beneditino
Nossa vida espiritual é composta pela graça de Deus e nossa disposição para com sua graça. Tudo é dom de Deus, mas devemos fazer todo o possível para dispor nossa alma para recebê-Lo sem obstáculos em nossos corações. O maior obstáculo que se opõe à livre ação de Deus em nossas almas é uma má atitude, uma disposição que afaste nossos corações de Deus e de Sua vontade. São Bento em sua regra para monges define essa atitude como ociosidade. A ociosidade é uma inimiga para nossa alma porque é o primeiro passo para formar maus hábitos.
Ociosidade ou indolência é um tipo de negligência intencional em relação ao nosso dever de estado. A alma torna-se lenta para realizar a vontade de Deus por causa de uma crescente repugnância pelo esforço de vencer obstáculos que são difíceis de superar. Quando a alma foge do esforço, procura substituir o plano de Deus por uma opção mais fácil, recompensada por uma satisfação imediata. Todos os tipos de desordens e pecados rastejam para dentro da vida do homem indolente. A vida familiar se torna um fardo terrível; todos parecem ser um obstáculo à sua recém-descoberta "liberdade". Um tipo de aversão geral invade sua a vida e tudo o que antes era considerado sagrado por ele, agora é como uma pedra de moinho que o puxa para baixo. Um tipo problemático de ansiedade apodera-se lentamente de sua personalidade e aqueles que mais o amam se tornam seus piores inimigos. Ele começa a sentir que eles o acusam à luz dos bons exemplos deles. Sua vida de trevas não pode suportar a luz das virtudes.
Essa pobre alma pode cair em dois extremos opostos que se originam da mesma desordem da indolência. O primeiro é simplesmente desistir de qualquer esforço solicitado a ele. Uma consequência é procurar consolo através do sono contínuo. Numa parábola do Evangelho, Nosso Senhor diz que a erva daninha foi semeada no campo enquanto os homens dormiam. A erva daninha do vício entra na alma quando ela foge do esforço necessário para se corrigir, buscando o sono profundo da indolência negligente. O outro extremo que tenta escapar da vontade de Deus é a atividade excessiva. Foge-se da luta necessária para realizar a vontade de Deus em prol de um ativismo exagerado. Em vez de se cumprir o dever de estado, considerado muito trabalhoso, procura-se outra atividade para substitui-lo. Gasta-se muito tempo e esforço realizando algo, que não é essencial. Essa atividade pode, por si só, ser boa, mas é uma fuga do dever de estado. Os exemplos a seguir são frequentemente observados: Pode-se ficar tentado a fugir da família sob o pretexto de caridade para os outros e deixar as crianças sem os cuidados necessários. Uma mãe que não prepara as refeições para os filhos porque quer aperfeiçoar sua espiritualidade está fugindo das suas obrigações. O pai que passa todo o seu tempo livre no bar ou na academia está recusando seu dever paterno.
Esses meios de fuga lentamente se tornam habituais. Essa desordem habitual do pecado é conhecida como vício na vida espiritual e leva a vícios materiais. Muitos dos jovens de hoje lentamente tornam-se apegados à tecnologia, videogame, pornografia, álcool e drogas porque têm repulsa pelo seu dever de estado. A razão pela qual se encontram nessa posição geralmente é a de terem recebido muito pouco amor de seus pais ou do vício da indolência que toma o controle de sua alma. Muitos pais estragam as crianças, temendo o esforço que seria necessário para corrigi-las. Eles permitem o crescimento da paixão e do vício que destruirá a vida das crianças. As crianças imitando o exemplo de indolência dado pelos pais vão habitualmente se esquivar de seus deveres básicos como católicas.
Os vícios vêm de uma desordem espiritual e o verdadeiro remédio é uma reordenação espiritual. Quando escolhemos a dependência de uma criatura para satisfazer nosso desejo de bondade, que Deus sozinho pode satisfazer, nos encontramos escravos dessa criatura, seja a garrafa ou a Internet. A alma que tenta substituir Deus por alguma criatura se decepciona. O verdadeiro remédio é retornar pacientemente a Deus. Leitura espiritual, oração e prática de virtude são necessárias para superar o vício em pecar, mas devem ser postas em prática de maneira muito vigorosa e tenaz.
Santo Ambrósio, falando do cordeiro pascal do Antigo Testamento, explica como a refeição teve que ser tomada às pressas: “Não basta fazer o bem, devemos fazê-lo com avidez. A Lei dada a comer com rapidez o cordeiro Pascal é porque os frutos são muito mais abundantes quando nossa devoção é imediata.” O livro de Eclesiástico dá conselhos semelhantes: "Em todas as tuas obras seja solícito, e nenhuma enfermidade virá a ti." Se desejamos vencer os vícios, devemos mudar prontamente nossa má atitude e colocar em prática nossas boas resoluções. Com a graça de Deus, perseveraremos, correndo no caminho que leva ao Reino dos Céus. Devemos ter prontamente no coração as palavras de São Bento.
"A ociosidade é a inimiga da alma."
(The Angelus, novembro de 2019)
Por um monge beneditino
Assim como todo floco de neve que já caiu sobre a face da Terra é formado por um diferente padrão de cristais de gelo, toda alma nascida neste mundo, que sai da mão de Deus, é única. Em Sua divina Providência, Deus cria um lugar para cada alma santificar sua vida e entrar no Reino dos Céus. Mosteiros e conventos são lugares inventados por Deus para permitir que as almas O amem sem limites.
Todas as ordens religiosas têm um objetivo comum, mas elas são muito diferentes umas das outras. Os dominicanos, por exemplo, são chamados a contemplar a beleza da luz de Deus. Depois de contemplar as coisas de Deus, devem comunicar essas verdades ao próximo. Os franciscanos, atraídos pela alegria e liberdade de um filho de Deus, abraçam voluntariamente o caminho da pobreza material, da mortificação e da penitência. Eles se consideram os felizes esposos da Senhora Pobreza. Eles levam a simplicidade da mensagem do Evangelho aos pobres da Igreja. Os carmelitas, com sua bela vida de oração, habitam o castelo interior de suas almas na contínua presença de Deus. Sua comunidade celebra todo o ofício canônico e passa duas horas diariamente em silenciosa oração mental, conversando com o amado esposo de sua alma. Sua vida de sacrifício e oração enriquece a toda a Igreja. Os cartuxos sacrificam a maior parte de sua vida em silenciosa solidão, na adoração ao seu Criador, passando o dia a sós com Deus. Quando um monge cartuxo foi perguntado por que ele tinha um mapa do mundo na parede de sua cela, ele respondeu que considerava aquele o território de sua paróquia. Ele rezava continuamente pela salvação de todas as almas da Terra como se pertencessem à sua paróquia.
Durante os 2.000 anos de existência da Igreja, foram fundadas muitas ordens religiosas para cuidar de seus filhos. Alguns dos primeiros centros de educação gratuita, os primeiros hospitais e os primeiros orfanatos conhecidos pela humanidade foram criados por ordens monásticas, que procuravam cuidar dos menores e mais fracos membros da Igreja de Cristo.
Um dia, enquanto cantava a missa, Santa Matilde (uma mística beneditina do século XIII) recebeu uma revelação sobre o intróito da antífona "No centro da Igreja". Nosso Senhor disse-lhe: “O centro da Igreja é a Ordem de São Bento. Ela apoia a Igreja como o pilar sobre o qual repousa toda a casa, porque está em relação não apenas com a Igreja universal, mas também com as demais ordens religiosas. Está unida aos seus superiores, ou seja, ao papa e aos bispos, pelo respeito e obediência que lhes confere; e está unida às outras Ordens Religiosas pelo seu ensino, que fornece a estrutura para a perfeição de vida, já que todas as outras Ordens imitam a Ordem de São Bento em um ponto ou outro. Almas boas e justas encontram nesta Ordem conselho e ajuda; pecadores encontram compaixão e os meios para se corrigir e confessar seus pecados; as almas do purgatório encontram nesta Ordem o socorro das orações sagradas. Por fim, oferecem hospitalidade aos peregrinos, mantêm a vida dos pobres, aliviam os enfermos, nutrem os que têm fome e sede, consolam os aflitos, e rezam pela libertação das almas dos que partiram fielmente.”
Com seus 15 séculos de existência, e, segundo Dom Gaspar Lefebvre, com 57.000 santos beneditinos conhecidos, a Ordem de São Bento ocupa um lugar muito especial na Igreja precisamente porque não tem nenhuma especialidade. O carisma especial da vida beneditina é simplesmente tornar-se um bom católico rezando e trabalhando em um ambiente familiar e manter uma união perfeita com nosso Criador.
A simplicidade desta vida produziu grandes frutos para a Igreja, abraçando todos os aspectos da vida católica. São Bento conta mais de 20 de seus filhos como papas, um grande número de bispos, cinco doutores da Igreja e muitos missionários que levaram a fé a mais de 20 grandes países, como Inglaterra e Alemanha. E seria impossível contar o número de santos ocultos, conhecidos por Deus apenas, que passaram a vida no segredo dos claustros.
São Bento escreveu sua Regra durante as invasões bárbaras, quando a sociedade romana estava se desintegrando rapidamente, tanto política quanto moralmente. A sociedade naquele momento necessitava da estabilidade de uma vida espiritual.
São Bento descobriu a necessidade de uma vida interior estável pela própria vida que viveu. Quando era um jovem estudante em Roma, percebeu claramente a decadência da sociedade. Percebeu que se continuasse ali, sua alma estaria em perigo de condenação. Então escolheu fugir para Deus e viver uma vida isolada de oração e mortificação. Durante três anos de solidão, ele aprendeu muito sobre Deus e sobre si mesmo. A certa altura, foi fortemente tentado pela luxúria a deixar a vida religiosa.
Ele percebeu a desordem nas suas paixões e, unindo a mortificação à oração, passou por um longo tempo a esfregar-se em um canteiro de sarças, urtigas e espinhos. Mais tarde, reconheceu que essa mortificação o libertou de futuros ataques decorrentes de sua própria natureza decaída.
Sua santidade foi finalmente descoberta por outros e um mosteiro vizinho o convidou para ser seu superior. Enquanto tentavam reformar seus modos decadentes, os mesmos monges que o convidaram para o mosteiro quiseram envenená-lo. São Bento escapou da morte por um milagre e mais uma vez fugiu para Deus, abandonando o mosteiro. Ele acabara de descobrir do que até os religiosos são capazes quando seus deveres espirituais são negligenciados.
Foi asssim que pode estabelecer 12 mosteiros florescentes, intimamente unidos e vivendo em paz com Deus e o homem.
Mas, novamente, um padre inflamado pela inveja, de nome Florentius, tentou matá-lo em várias ocasiões. Cada tentativa foi frustrada pela intervenção de Deus, o que só fez aumentar a inveja de Florentius. O pobre padre decidiu então atacar a virtude dos jovens monges do mosteiro para assim destruir a reputação de São Bento. Enviou um grupo de mulheres decadentes para dançarem nuas na frente do mosteiro e atrair os noviços ao pecado da luxúria. São Bento, esperando assim apaziguar o ciúme de Florêncio, decidiu proteger seus filhos e deixar o mosteiro.
Quando consideramos todos esses exemplos de sua vida, parece que São Bento sempre foge de seus problemas. Na verdade, ele foge para Deus. Sua grande sabedoria é entender a natureza humana decaída e os meios de curá-la, voltando-se para Deus.
O impulso constante de sua vida é buscar a Deus e as coisas que O agradam, curando as feridas de nossa natureza corrupta. Ele encontrou essas feridas na sociedade romana quando jovem. Ele as encontrou novamente em sua própria alma, quando sozinho na gruta lutava contra a concupiscência. Ele as observou na alma dos religiosos que tentaram envenená-lo, bem como na alma do padre que tentou matá-lo e destruir as almas de seus noviços.
Sua vitória constante decorre da humilde e perseverante confiança de sua alma em Deus. Ele percebe a ferida do pecado e se afasta dele em direção à Deus.
Tendo aprendido essa arte, ele foi capaz de ensinar os outros a fazer o mesmo. Sua regra é como um roteiro que leva a alma humana para longe da miséria do pecado e à presença alegre de Deus que nos ama sem reservas. Ela dá coragem aos filhos para reconhecer seus pecados e assim, pela graça de Deus, mudar suas vidas.
São Elredo de Rievaulx compara São Bento a Moisés, o legislador do Antigo Testamento. Moisés levou o povo escolhido para fora da escravidão do Egito, onde o Faraó os obrigava a fazer tijolos de barro e palha. No deserto, Moisés ofereceu sacrifícios a Deus e construiu a Arca da Aliança. Ele lhes deu os Dez Mandamentos que Deus escrevera em tábuas de pedra para que eles seguissem um caminho seguro para o Reino do Céu.
São Bento conduz a alma ferida para fora da escravidão do pecado e da escravidão de concupiscência. Ele convida o monge a oferecer o sacrifício de sua vida a Deus e tornar-se Seu templo, em vez de fazer tijolos inúteis da lama dos prazeres passageiros desta vida. Ele dá a seus filhos uma regra de vida que os liberta do pecado e os conduz ao reino celestial de Nosso Senhor.
Um exemplo histórico desse tipo de conversão pode ser encontrado na grande abadia francesa de Cluny. Alguns críticos modernos acusaram a abadia de comprar escravos para explorá-los. De fato, eles compraram escravos, mas não para seu benefício pessoal. Eles educavam os escravos em sua fé e lhes davam também uma formação em agricultura e comércio. Depois que o escravo estava suficientemente instruído, a Abadia de Cluny lhe concedia a liberdade, bem como um pedaço de terra para ganhar a vida. Eles freqüentemente formavam confrarias e se tornavam oblatos do mosteiro. Desta forma, participavam dos benefícios materiais e espirituais do mosteiro.
Durante as diferentes invasões bárbaras que ameaçaram a existência de toda a sociedade civilizada, esses oblatos procuraram refúgio atrás dos muros dos mosteiros e ajudaram a defendê-los e às suas próprias posses.
A maneira como os monges evangelizavam um país era diferente dos meios modernos empregados pelas ordens mais recentes. Essas últimas enviavam apóstolos viajantes ao redor do mundo para pregar a fé. Estavam sempre em movimento, buscando almas. O modo beneditino de levar a Fé a um país era simplesmente instalar-se ali, convidando os habitantes a ir até eles. Pelo exemplo de sua vida, ensinaram as almas recém-convertidas não apenas como cultivar a terra, mas principalmente como praticar as Virtudes católicas.
São Bento introduziu o voto de estabilidade na vida monástica. Isto significa que o monge jura permanecer em seu mosteiro sob seu abade até a morte, o que dá grande longevidade à vida cristã e à prática da virtude, onde quer que o mosteiro se estabeleça. Ele também pede a seus monges que façam o voto de obediência e voto de conversão dos costumes, que é essencialmente o voto de praticar a virtude cristã. Mediante essa sabedoria, ele dá aos monges e oblatos das aldeias vizinhas um meio de longo prazo de afastar-se do pecado e ir ao encontro de Deus.
São Bento termina seu prólogo da regra com a visão do que ele espera que a ordem se torne e dos frutos a serem desenvolvidos dentro dos muros de seu mosteiro e nas aldeias ao redor.
“Nossos corações e nossos corpos devem, portanto, estar prontos para a batalha sob as ordens da santa obediência; e peçamos ao Senhor que Ele supra com a ajuda de Sua graça o que é impossível para nós por natureza. E se, voando das dores do inferno, desejamos alcançar a vida eterna, então, enquanto ainda há tempo, e ainda estamos na carne, e somos capazes durante a vida presente de cumprir todas essas coisas, devemos nos apressar a fazer agora o que nos beneficiará para sempre.
“Devemos, pois, constituir uma escola de serviço do Senhor. Nesta instituição esperamos nada estabelecer de áspero ou de pesado. Mas, se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre senão por estreito início. Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração e com inenarrável doçura de amor é percorrido o caminho dos mandamentos de Deus. De modo que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, sob a sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos do Cristo, a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino. Amém" (Prólogo da Regra)
(The Angelus, Março-Abril de 2020. Tradução: Permanência)
Introdução
Carl Gustav Jung (1875-1961) demonstrou um grande interesse pela religião em geral, tanto a ocidental mas especialmente a oriental . Certamente, ele está longe do ateísmo de Freud e da sua opinião negativa sobre todas as religiões.
Contudo, se examinarmos atentamente o pensamento junguiano, encontramos aqui um espiritualismo gnóstico, alquímico e esotérico muito mais perigoso do que o pansexualismo freudiano, porque é mais dissimulado e pode se tornar mais facilmente uma armadilha para os católicos .
É preciso ter em mente que, se Jung, como Hegel, lança mão de conceitos cristãos, no entanto, dá a eles um significado substancialmente diferente da teologia católica .
Simbolismo e relativismo religioso de Jung
É um fato objetivamente constatável que Jung, embora dizendo-se cristão/protestante, relativiza todos os conceitos e domas cristãos em um conceito muito abrangente do “religioso”, no qual todas as religiões se equivalem.
Ademais, ele estuda as religiões na sua relação com a psique humana, que para ele é a consciência humana mais o inconsciente, não as estuda como uma doutrina dogmático-moral objetiva porque, no tocante ao problema da sua objetividade e realidade, ele se declara agnóstico.
Ele justifica o seu agnosticismo relativista servindo-se da filosofia kantiana, segundo a qual o homem não pode conhecer a coisa em si, mas apenas como ela lhe aparece depois de lhe ter aplicado as suas categorias subjetivas — o a priori de Kant ou, para Jung, a nossa estrutura psíquica. Assim, supondo-se que Deus exista, sem poder prová-lo, não podemos conhecer a sua existência objetiva, mas apenas como o representamos graças aos símbolos que a psique humana forma dele.
Ora, o símbolo desempenha um papel fundamental na doutrina modernista. Os símbolos são sinais que representam uma verdade (por exemplo, a bandeira vermelha significa o perigo). Os modernistas aplicaram o simbolismo ao dogma, que para eles já não possui um valor objetivo e real, mas simbólico e prático. Por exemplo, Deus é um símbolo, não um Ente real e objetivo que exprime uma interpretação subjetiva e relativa do sentimento humano de um ato religioso, ou ainda uma entidade imaginada pelo sentimento religioso humano para ajudar o homem a se comportar melhor. Assim, o simbolismo modernista e junguiano esvazia toda a doutrina e dogmas da Igreja romana (esse simbolismo foi condenado pelo Decreto Lamentabile de São Pio X). Logo, a fé, segundo Jung, não possui nenhum fundamento objetivo e real, mas apenas psicológico, sentimental e simbólico. Não é só isso: Jung abraça o niilismo teológico da teologia apofática de Moses Maimônides, mas desliza no relativismo metafísico e teológico. absoluto.
Ele ainda é um teórico do pan-ecumenismo. Com efeito, escreve: “não consigo compreender porque uma religião deveria possuir a verdade única e perfeita”. A fé, para ele, é “extremamente subjetiva” .
A religiosidade junguiana é incompatível com a doutrina católica além de muito semelhante a doutrina modernista. Assim, não é por acaso que Antonio Fogazzaro , “foi um dos primeiros na Europa a se interessa pela psique humana, abrindo caminho para Bergson, Freud e a chamada literatura da interioridade (i.é, a psicologia analítica junguiana)” .
Entre as várias filosofias ocidentais, Jung aproxima-se do kantismo e, entre as orientais, do budismo.
A teologia de Jung
Na teologia católica, o problema do mal é resolvido definindo-se o mal como uma privação de um bem, enquanto Jung, como os maniqueus ou os cataros, sustenta que o mal possui um valor ontológico real e positivo .
É por esse motivo que ele substitui a Santíssima Trindade pela “Quaternidade”, porque na Trindade faltaria o aspecto positivo e “divino" do mal .
Em seguida, ele passa a proclamar que “dado que o Diabo é o adversário de Cristo, deveria ocupar uma posição equivalente à sua e ser, ele também, Filho de Deus, e um segundo Cristo” . Assim, na “Quaternidade” junguiana, Satanás é consubstancial ao Pai e ao Espírito Santo .
O Pai possuiria em si o mal. É preciso recorrer à coincidentia oppositorum spinoziana para resolver este problema : “Deus possui duas mãos: a direita é Cristo, a esquerda, é Satanás” . Em suma, Deus não é o bem absoluto, mas é ainda cruel, imoral, malvado, violento, demoníaco, infernal .
Se Cristo e Satanás são as duas mãos de Deus, significa que Deus age no mundo, tanto por meio de Cristo como de Satanás e, assim, a atividade demoníaca devem ser atribuídas a Deus: “Deus não pode mostrar a sua verdadeira face senão também por meio de Satanás” .
Cristo não é mais o Filho Unigênito, mas “o irmão de Satanás, assim Satanás é o primeiro Filho de Deus, e Cristo, o segundo” .
Logo, reprimir o mal em si mesmo seria nefasto e significaria reduzir a “Quaternidade" e a própria personalidade. Para alcançar a boa saúde psíquica, é preciso integrar o mal moral na própria existência. Por mal moral, Jung entende os instintos, por ele chamados de “impulsos animais”. A ascética cristã é, destarte, fonte de mal estar psíquico .
O homem, para Jung, deve tender à perfeita integridade, devendo assim assumir a porção do “mal" que está nele. Não se trata apenas de tomar consciência de aceitar-se como se é, mas de trabalhar positivamente para integrar o mal em si. A religião, para ele, é a “relação com os valores mais fortes, não importando se sejam positivos ou negativos” .
“Freud limita-se a fazer com o doente tome consciência da sua sombra para que ele veja como sair daquilo” , enquanto Jung sustenta que “o homem não pode se limitar a reconhecer a porção do mal que tem em si, mas deve aceitá-la, e fazê-la coisa própria; essa é a única solução válida” .
Conclusão
A psicologia analítica junguiana ensina o doente a assumir e a viver a sua porção obscura.
Mas, nem Freud nem Jung são capazes de oferecer ao doente uma terapia da doença da alma (como faz a espiritualidade católica), que constitua uma real superação do mal e um verdadeiro acesso à saúde interior.
(Sì sì no no, 15 gennaio 2020 - tradução: Permanência)
[Nota da Permanência: Publicamos abaixo um importante texto escrito outrora pelo então Pe. Rifán. Nele, sessenta e duas razões são dadas explicando porque, em consciência, não podemos assistir à Missa Nova (também conhecida por Missa do Papa Paulo VI) seja no vernáculo ou em latim. Muito embora o autor tenha variado de pensamento, elas mantém todo o seu valor]
1. Porque a Nova Missa não é uma profissão inequívoca de Fé católica (como a Missa Tradicional), é ambígua e protestante. Portanto, dado que rezamos de acordo com o que cremos, é natural que não possamos rezar com a Missa Nova na maneira protestante e ainda crer como Católicos!
2. Porque as mudanças não foram apenas pequenas mas de fato envolvem “uma renovação fundamental… uma mudança total… uma nova criação”. (Dom A. Bugnini, co-autor da Missa Nova).
3. Porque a Missa Nova nos leva a pensar que “as verdades podem ser alteradas ou ignoradas sem infidelidade para com aquele sagrado depósito da doutrina ao qual a Fé católica se encontra eternamente ligada”.
4. Porque a Missa Nova representa “um afastamento acentuado da teologia católica da Missa tal como foi formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento”, o qual, ao estabelecer os “cânones”, forneceu uma “barreira insuperável contra qualquer heresia que atacasse a integridade do Mistério”.
5. Porque a diferença entre as duas Missas não reside simplesmente numa questão de mero pormenor ou apenas numa modificação de cerimônia, mas “tudo que é de valor perene recebe apenas um lugar de menor importância (na Missa Nova), mesmo que subsista”.
6. Porque “Reformas recentes têm mostrado plenamente que novas mudanças na liturgia não podem levar a nada, exceto a um completo desnorteamento dos fiéis, que já evidenciam sinais de ânsia e afrouxamento de fé”.
7. Porque em tempos de confusão tais como os que agora vivemos, somos guiados pelas palavras de Nosso Senhor: “Pelos seus frutos os conhecereis”. Os frutos na Missa Nova são: queda de 30% na assistência à Missa de domingo nos Estados Unidos (NY Times 24/5/75), declínio de 43% na França (Cardeal Marty), declínio de 50% na Holanda (NY Times, 5/1/76).
8. Porque “entre os melhores elementos do clero o resultado prático (da Missa Nova) é uma agonia de consciência…”.
9. Porque em menos de sete anos após a introdução da Missa Nova, o número de sacerdotes no mundo diminuiu de 413.438 a 243.307 – em quase 50% (Estatística da Santa Sé).
10. Porque “as razões pastorais que são aduzidas em apoio de tão grave ruptura com a tradição… não nos parecem adequadas”.
11. Porque a Missa Nova não manifesta Fé na Real Presença de Nosso Senhor – a Missa tradicional manifesta-a inequivocamente.
12. Porque a Missa Nova confunde a Real Presença de Cristo na Eucaristia com a Sua Presença Mística entre nós (aproximando-se à doutrina protestante).
13. Porque a Missa Nova torna indistinta o que deveria ser uma diferença bem definida entre o sacerdócio HIERÁRQUICO e o sacerdócio comum do povo (tal como o faz o protestantismo).
14. Porque a Missa Nova favorece a teoria herética que é a Fé do povo e não as palavras do sacerdote que torna presente Cristo na Eucaristia.
15. Porque a inserção da “Prece dos Fiéis” luterana na Missa Nova acompanha e expõe o erro protestante de todas as pessoas serem sacerdotes.
16. Porque a Missa Nova elimina o Confiteor do sacerdote, tornando-o coletivo com o povo, deste modo promovendo a recusa de Lutero em aceitar o preceito católico – que o sacerdote é juiz, testemunha e intercessor com Deus.
17. Porque a Missa Nova dá-nos a entender que o povo concelebra com o sacerdote – o que vai contra a teologia católica.
18. Porque seis ministros protestantes colaboraram na confecção da Missa Nova.
19. Porque, da mesma maneira que Lutero eliminou o Ofertório – visto que muito claramente exprime o caráter sacrifical e propiciatório da Missa – igualmente a Missa Nova cancelou-o, reduzindo-o a uma mera Preparação das Ofertas.
20. Porque uma parte importante da teologia católica foi afastada a fim de permitir aos Protestantes, embora mantendo a sua antipatia pela verdadeira Igreja Católico-Romana, utilizar o texto da Missa Nova sem dificuldade. O ministro protestante Thurian disse que um fruto da Missa Nova “será talvez que as comunidades não católicas poderão celebrar a Ceia do Senhor enquanto empregam as mesmas preces que as da Igreja Católica.” (La Croix 30/4/69).
21. Porque a maneira narrativa da Consagração na Missa Nova infere que é apenas in memoriam, e não um verdadeiro sacrifício (tese protestante).
22. Porque, através de omissões graves, a Missa Nova leva-nos a crer que é somente uma refeição (doutrina protestante) e não um sacrifício pela remissão dos pecados (doutrina católica).
23. Porque tais mudanças como: mesa em vez de altar, (o sacerdote) o padre voltado para o povo em vez de para o Tabernáculo, Comunhão na mão, etc., dão ênfase a doutrinas protestantes (p.e. a Missa é apenas uma refeição, o sacerdote somente um presidente da assembléia, etc.).
24. Porque os próprios Protestantes têm dito que “As novas preces católicas de Eucaristia abandonaram a falsa perspectiva de um sacrifício oferecido a Deus.” (La Croix 10/12/69).
25. Porque enfrentamos um dilema: ou ficamos protestantizados por assistirmos à Missa Nova, ou preservamos a nossa Fé católica, aderindo fielmente à Missa Tradicional de todos os Tempos.
26. Porque a Missa Nova foi idealizada de acordo com a definição protestante da Missa: “A Ceia do Senhor ou Missa é uma sagrada sinaxe ou assembléia do povo de Deus que se reúne sob a presidência do sacerdote a fim de celebrar o memorial do Senhor.” (Par. 7 Introd. ao novo Missal, definido a Missa Nova, 6/4/69).
27. Porque, por meio de ambigüidades, a Missa Nova pretende agradar aos Católicos enquanto agrada aos Protestantes: é portanto um instrumento de “duas línguas” e ofensivo a Deus, porque Ele detesta qualquer espécie de hipocrisia. “Malditos sejam… os de dupla língua, porque destroem a paz de muitos.” (Sirach 28;13).
28. Porque belos e familiares hinos Católicos que durante séculos inspiraram as pessoas foram tirados para fora, sendo substituídos por novos hinos com um sentimento fortemente protestante, assim reforçando ainda mais a impressão clara que não se assiste a uma função católica.
29. Porque a Missa Nova contém ambigüidades que sutilmente favorecem a heresia, sendo isto mais perigoso do que se fosse abertamente herética, dado que uma meia-heresia assemelha-se a uma meia verdade!
30. Porque Cristo tem apenas uma Esposa, a Igreja Católica e o seu serviço de adoração não pode ao mesmo tempo servir também religiões que são inimigos dela.
31. Porque a Missa Nova acompanha a forma da Missa herética anglicana de Cranmer, e os métodos empregados para a sua promoção seguem precisamente os métodos dos heréticos ingleses.
32. Porque a Santa Madre Igreja canonizou numerosos mártires ingleses que foram mortos porque recusaram participar numa Missa como é a Missa Nova!
33. Porque Protestantes que se converteram à Fé católica ficam escandalizados quando vêem que a Missa Nova é igual àquela em que participaram enquanto Protestantes. Um deles, Julien Green, pergunta “Por que convertermo-nos?”.
34. Porque a estatística demonstra que houve um grande declínio nas conversões ao catolicismo após a introdução da Missa Nova. As conversões, que tinham atingido 100.000 por ano nos Estados Unidos, diminuíram até menos de 10.000!
35. Porque a Missa Tradicional forjou muitos santos. “Inúmeros santos foram alimentados por ela com a devida piedade para com Deus…” (Papa Paulo VI, Const. Apost. Missale Romanum).
36. Porque a natureza da Missa nova é tal que facilita profanações da Sagrada Eucaristia, ocorrendo estas com uma freqüência que com a Missa Tradicional era inconcebível.
37. Porque a Missa Nova, não obstante as aparências, veicula uma nova Fé, e não a Fé católica. Veicula o modernismo e acompanha exatamente as táticas do modernismo, utilizando uma terminologia vaga a fim de insinuar e fazer progredir o erro.
38. Porque, introduzindo variações opcionais, a Missa Nova mina a unidade da liturgia, sendo cada sacerdote suscetível de se desviar de acordo com os seus caprichos, sob o disfarce de criatividade.
39. Porque muitos bons teólogos, canonistas e sacerdotes católicos não aceitam a Missa Nova, afirmando que não são capazes de celebrá-la em boa consciência.
40. Porque a Missa Nova eliminou tais coisas como: genuflexões (ficam apenas três), purificação dos dedos do sacerdote no cálice, nenhum contato profano dos dedos do sacerdote após a Consagração, pedra do altar e relíquias sagradas, três toalhas de altar (reduzidos a somente uma), tudo “servindo apenas para salientar quão ultrajantemente a fé no dogma da Real Presença é implicitamente repudiada.”
41. Porque a Missa Tradicional, enriquecida e madurecida por séculos de Sagrada Tradição, foi codificada (e não inventada) por um Papa que era um Santo, Pio V; enquanto a Missa Nova foi artificialmente fabricada.
42. Porque os erros da Missa Nova, acentuados na versão vernacular, estão mesmo presentes no texto latino da Missa Nova.
43. Porque a Missa Nova, com a sua ambigüidade e permissividade, expõe-nos à ira de Deus porque facilita o risco de celebrações inválidas. "Consagrarão validamente os sacerdotes num futuro próximo que não receberam a formação tradicional, e que fiam no Novus Ordo com a intenção de ‘fazer o que faz a Igreja?" São-nos lícitas certas dúvidas.
44. Porque a abolição da Missa Tradicional lembra-nos da profecia de Daniel 8,12: “E foi-lhe dado poder contra o sacrifício perpétuo por causa dos pecados do povo” e a observação de Santo Afonso de Ligório que sendo a Missa a melhor e mais bela coisa que existe na Igreja aqui na terra, o diabo sempre se esforçou através de hereges de privar-nos dela.
45. Porque nos lugares onde a Missa tradicional é mantida, a fé a o fervor do povo são maiores, enquanto o contrário verifica-se onde reina a Missa Nova. (Relatório sobre a Missa, Diocese de Campos, ROMA, Buenos Aires §69, 8/81).
46. Porque junto com a Missa Nova há uma nova catequese, uma nova moralidade, novas preces, novas idéias, um novo calendário – em suma, uma Nova Igreja, uma total revolução da antiga. “A reforma litúrgica… não se enganem, eis onde começa a revolução.” (Dom Dwyer, Arcebispo de Birmingham, porta-voz do Sínodo Episcopal).
47. Porque a própria beleza intrínseca da Missa Tradicional atrai almas; enquanto a Missa Nova, na falta de qualquer atrativo próprio, tem que inventar novidades e diversões a fim de apelar ao povo.
48. Porque a Missa Nova incorpora numerosos erros condenados pelo Papa São Pio V no Concílio de Trento (Missa inteiramente em vernáculo, as palavras de Consagração ditas em voz alta, etc. Vide Condenação do Sínodo Jansenista de Pistoia), e erros condenados pelo Papa Pio XII (p.e. altar em forma de mesa. Vide Mediator Dei).
49. Porque a Missa Nova quer transformar a Igreja Católica numa igreja nova e ecumênica que abranja todas as ideologias, todas as religiões – certas e erradas, verdade e erro; objetivo há muito ansiado pelos inimigos da Igreja Católica.
50. Porque a Missa Nova, ao remover as saudações e a bênção final quando o sacerdote celebra sozinho, mostra uma falta de crença na Comunhão dos Santos.
51. Porque o altar e o Tabernáculo agora se encontram separados, assinalando deste modo uma divisão entre Cristo e o Seu sacerdote e Sacrifício no altar, de Cristo na Sua Real Presença no Tabernáculo, duas coisas que, pela própria natureza, devem ficar juntas. (PIO XII).
52. Porque a Missa Nova já não constitui um culto vertical do homem a Deus, mas um culto horizontal entre os homens.
53. Porque a Missa Nova, embora pareça conformar-se às provisões do Concílio Vaticano II, na realidade se opõe às suas instruções, dado que o Concílio proclamou o desejo de conservar e promover o rito tradicional.
54. Porque a Missa Latina tradicional do Papa São Pio V nunca foi legalmente revogada e portanto permanece um autêntico rito da Igreja Católica por meio da qual os Católicos podem cumprir a sua obrigação dominical.
55. Porque o Papa São Pio V concedeu um indulto perpétuo, válido “para sempre”, para se celebrar a Missa Tradicional livre e licitamente, sem escrúpulo de consciência, sentença ou censura (Bula Papal ‘Quo Primum’).
56. Porque o próprio Papa Paulo VI, ao promulgar a Missa Nova, declarou que “O rito em si NÃO é uma definição dogmática…” (19/11/69).
57. Porque o Papa Paulo VI, quando lhe perguntou o Cardeal Heenan da Inglaterra se revogava ou proibia a Missa Tridentina, respondeu: “Não é a minha intenção de proibir absolutamente a Missa Tridentina”.
58. Porque “no Libera Nos da Missa Nova, a Santíssima Virgem, os Apóstolos e todos os Santos já não são mencionados; a Ela e a eles assim já não se pede a intercessão, mesmo em tempo de perigo.”
59. Porque em nenhuma das três novas Preces Eucarísticas (da Missa Nova) existe referência alguma… ao estado de sofrimento dos que faleceram, em nenhuma há a possibilidade de um particular Memento”, assim minando a fé na natureza redentora do Sacrifício.”
60. Porque muito embora reconheçamos a autoridade suprema do Santo Padre no seu governo universal da Santa Madre Igreja, sabemos que mesmo esta autoridade não nos pode impor uma prática que é tão CLARAMENTE contra a Fé: uma Missa que é equívoca e favorecedora da heresia por isso desagradável a Deus.
61. Porque, como consta no Concílio Vaticano I, “não se prometeu aos sucessores de Pedro o Espírito Santo, a fim de que pela Sua revelação pudessem fazer uma nova doutrina, mas sim a fim de com o Seu auxílio pudessem inviolavelmente manter e fielmente expor a revelação ou o depósito de fé entregue através do Apóstolos.” (D.S. 3070).
62. Porque a heresia, ou qualquer coisa que favoreça a heresia, não pode constituir matéria de obediência. A obediência fica ao serviço da Fé e não é a Fé que fica ao serviço da obediência! No caso precedente, então, “Deve-se obedecer antes a Deus que aos homens”. (Atos dos Apóstolos, 5, 29).
ÍNDICE DA REVISTA (271 - Depois de Pentecostes 2013) 163 págs
(Editorial) Ephpheta! |
Dom Lourenço Fleichman |
O Progresso Espiritual |
Pe. Ambroise Gardeil, O.P. |
O Discernimento dos espíritos |
Pe. Garrigou-Lagrange O.P. |
Cântico dos cânticos |
Pe. José Maria Mestre |
Comentário ao Salmo 6 |
Santo Tomás de Aquino |
São Bento e o Espírito Romano |
Dom Lourenço Fleichman |
Problemas da educação moderna |
Pe. Hervé de la Tour |
Os mártires irlandeses do século XVI |
Matthew Bruton |
O Futuro da Inteligência |
Gustavo Corção |
Livro: Gustavo Corção Tomista |
Fernando Prado |
Livro: Le Prix à Payer |
Alexandre Bastos |
Calendário litúrgico |
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Revista Permanência 294 - 181 páginas
(Editorial ) A mentira muitas vezes repetida |
Dom Lourenço Fleichman |
De La Salette a Fátima - Parte 1 |
Luiz Carlos Ramiro Junior |
Tolice maléfica |
Alexandre Salles |
Intrinsecamente perverso |
Mouvement de la Jeunesse Catholique |
As guerras dos cristeiros |
Mouvement de la Jeunesse Catholique |
Os mártires de Espanha |
Mouvement de la Jeunesse Catholique |
Mártires na U.R.S.S. |
Mouvement de la Jeunesse Catholique |
Reavivamento do Marxismo no Ocidente |
Luís Roldán |
O Liberalismo é pecado - parte II |
Pe. Sardá y Salvany |
A Cruz dos militares |
Alex Duarte e Marco Antônio |
Nihil sub sole novum - Magistri |
Prof. André Alonso |