Category: Santo Tomás de Aquino
Em seguida devemos tratar, primeiro do temor; e segundo, da audácia.
Sobre o temor há quatro questões a tratar. Primeiro, do temor em si mesmo. Segundo, do seu objeto. Terceiro, da sua causa, Quarto, do seu efeito.
Sobre a primeira questão discutem-se quatro artigos:
O oitavo discute-se assim. — Parece que a esperança não coadjuva, mas antes impede a nossa atividade.
1. — Pois, a esperança produz a segurança. Ora, esta gera a negligência, que nos impede a atividade. Logo, também a esperança a impede.
2. Demais — A tristeza nos impede a atividade, como já se disse. Ora, a esperança às vezes causa a tristeza, conforme a Escritura (Pr 13, 12): A esperança que se retarda aflige a alma. Logo, ela impede a nossa atividade.
3. Demais — O desespero contraria a esperança, como já foi dito. Ora, aquele, sobretudo na guerra, coadjuva a atividade; pois, diz a Escritura (2 Rs 2, 26), que é coisa perigosa a desesperação. Logo, a esperança produz um efeito contrário, impedindo-nos a atividade.
(Supra, q. 17, a . 4, ad 3; infra, q. 62, a . 4, ad 3; IIª-IIªº, q. 17, a . 8; De Virtut., q. 4, a . 3).
O sétimo discute-se assim. — Parece que a esperança não é causa do amor.
1. — Pois, segundo Agostinho, o amor é o primeiro dos afetos da alma. Ora, a esperança é um desses afetos. Logo, o amor a precede e, portanto, ela não o causa.
2. Demais — O desejo precede a esperança. Ora, ele é causado pelo amor, como já se disse. Logo, também a esperança o é e, portanto, não o precede.
(Infra, q. 45, a . 3).
O sexto discute-se assim. — Parece que a juventude e a embriaguez não são causas da esperança.
1. — Pois, a esperança implica uma certa certeza e segurança e por isso S. Paulo a compara a uma âncora. Ora, os jovens e os ébrios faltam de firmeza, pois, são de ânimo facilmente mudável. Logo, a juventude e a embriaguez não são causas da esperança.
2. Demais — O que aumenta o poder é por excelência causa da esperança, como já se disse. Ora, a juventude e a embriaguez implicam falta de firmeza. Logo, não são causas da esperança.
(Infra, q. 42, a . 5, ad 1; q. 45, a . 3).
O quinto discute-se assim. — Parece que a experiência não é causa da esperança.
1. — Pois a experiência é própria à potência cognitiva; por isso diz o Filósofo, que a potência intelectual precisa da experiência e do tempo. Ora, a esperança não pertence à potência cognitiva, mas à apetitiva, como já dissemos. Logo, não é causa da esperança.
2. Demais — Como diz o Filósofo, os velhos têm a esperança difícil, por causa da experiência; donde resulta que esta é a causa da falta daquela. Ora, os contrários não podem ter a mesma causa. Logo, a experiência não é causa da esperança.
(Supra, q. 23, a . 2; infra, q. 45, a . 1, ad 2; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3, ad 3).
O quarto discute-se assim. — Parece que o desespero não é o contrário da esperança.
1. — Pois, à unidade é contrária a unidade, como diz Aristóteles. Ora, o temor é contrário à esperança. Logo, não lho é o desespero.
2. Demais — Os contrários são relativos a um mesmo termo. Ora, tal não se dá com a esperança e o desespero; pois aquela diz respeito ao bem e este é provocado por um mal impediente à aquisição do bem. Logo, a esperança não é contrária ao desespero.
(III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 1).
O terceiro discute-se assim. — Parece que os brutos não têm esperança.
1. — Pois, a esperança é relativa a um bem futuro, como diz Damasceno. Ora, conhecer o futuro não pertence aos brutos, dotados só de conhecimento sensível, que não alcança o futuro. Logo, neles não há esperança.
2. Demais — O objeto da esperança é o bem que podemos adquirir. Ora, o possível e o impossível são diferenças da verdade e da falsidade, que só existem na inteligência, como diz o Filósofo. Logo, a esperança não existe nos brutos, desprovidos de inteligência.
(III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 1; q. 2, a . 2).
O segundo discute-se assim. — Parece que a esperança pertence à potência cognitiva.
1. — Pois, a esperança é uma expectativa, conforme aquilo do Apóstolo (Rm 8, 25): E se o que não vemos esperarmos, por paciência o esperamos. Ora, a expectativa pertence à potência cognitiva, da qual é próprio o esperar. Logo, a esperança pertence também a essa potência.
2. Demais — Segundo parece, a esperança é o mesmo que a confiança; donde vem o dizermos que quem espera confia, quase querendo identificar as duas expressões — confiar e esperar. Ora, a confiança, como a fé, pertence à potência cognitiva. Logo, também a esperança.
(Supra, q. 24, a . 1; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3; q. 2, a . 3, qª 2; De Virtut., q. 4, a . 1; Compend. Theol., part. II, cap. VII).
O primeiro discute-se assim. — Parece que a esperança é o mesmo que o desejo ou cobiça.
1. — Pois, a esperança é considerada como uma das quatro principais paixões. Ora, quando Agostinho as enumera coloca a cobiça no lugar da esperança. Logo, a esperança é o mesmo que a cobiça ou desejo.
2. Demais — As paixões diferençam-se pelos seus objetos. Ora, a esperança e a cobiça ou desejo tem o mesmo objeto, que é o bem futuro. Logo, a esperança é o mesmo que a cobiça ou o desejo.
Em seguida devemos tratar das paixões do irascível. E, primeiro, da esperança e do desespero. Segundo, do temor e da audácia. Terceiro, da ira.
Sobre a primeira questão oito artigos se discutem: