Category: Santo Tomás de Aquino
Em seguida devemos tratar dos remédios da dor ou tristeza.
E sobre este assunto cinco artigos se discutem:
(Infra, q. 41, a . 1).
O quarto discute-se assim. — Parece que a tristeza não é sobretudo nocivo ao corpo.
1. — Pois, a tristeza afeta a alma apenas espiritualmente. Ora, o só espiritualmente existente não pode causar nenhuma transmutação corpórea, como claramente o manifestam as intenções das cores, existentes no ar, e que não colorem nenhum corpo. Logo, a tristeza não pode causar nenhum mal corpóreo.
2. Demais — Se a tristeza pudesse causar algum mal corpóreo só poderia sê-lo por ser acompanhada de alguma transmutação corpórea conexa. Ora, transmutações corpóreas as provocam todas as paixões da alma, como já o dissemos. Logo, a tristeza não é nociva ao corpo, mais que as outras paixões da alma.
O terceiro discute-se assim. — Parece que a tristeza não impede toda operação.
1. — Pois, a solicitude é causada pela tristeza, como resulta da autoridade do Apóstolo anteriormente aduzida. Ora, a solicitude ajuda a agir bem, e por isso o Apóstolo diz (2 Tm 2, 15): Cuida muito em te apresentares a Deus digno de aprovação. Logo, a tristeza não impede a operação mas antes a ajuda.
2. Demais — A tristeza produz em muitos a concupiscência, como diz Aristóteles. Ora, a concupiscência torna mais intensa a operação. Logo, também a tristeza.
3. Demais — Assim como certas operações são próprias dos alegres, assim outras, como chorar, o são dos tristes. Ora, uma atividade aumenta com o que lhe é conveniente. Logo, certas operações não ficam tolhidas mas antes, intensificam-se pela tristeza.
O segundo discute-se assim. — Parece que o gravame do ânimo não é efeito da tristeza.
1. — Pois, diz o Apóstolo (2 Cor 7, 11): Considerai, pois, quanto esta mesma tristeza, que sentistes segundo Deus, produziu em vós não só de vigilante cuidado, mas também de apologia, de indignação, etc.. Ora, o cuidado e a indignação implicam um certo soerguimento do ânimo oposto ao gravame. Logo, este não é efeito da tristeza.
2. Demais — A tristeza se opõe ao prazer. Ora, este tem como efeito a dilatação, a que se opõe, não o gravame, mas a constrição. Logo, o gravame não deve ser considerado efeito da tristeza.
O primeiro discute-se assim. — Parece que a dor não elimina a faculdade de aprender.
1. — Pois, diz a Escritura (Is 26, 9): Quando exercitares na terra os teus juízos, aprenderão justiça os habitadores do orbe; e mais adiante (Is 26, 16): saudável lhes foi na tribulação do seu murmúrio a tua doutrina. Ora, dos juízos de Deus e da tribulação resulta a dor ou tristeza nos corações dos homens. Logo, a dor ou tristeza não elimina, mas antes desenvolve a faculdade de aprender.
2. Demais — Diz a Escritura (Is 28, 9): A quem ensinará a ciência? E a quem fará entender o que se ouviu? Aos que já se lhes tirou o leite, aos que já foram desmamados, i. é, dos prazeres. Ora, a dor e a tristeza é que sobretudo exclui os prazeres; pois, impede qualquer prazer, como está em Aristóteles; e a Escritura diz (Ecl 9, 29), que o mal presente faz esquecer os maiores prazeres. Logo, a dor não elimina, mas antes desenvolve a faculdade de aprender.
Em seguida devemos tratar dos efeitos da dor e da tristeza.
E sobre deste ponto quatro artigos se discutem:
O quarto discute-se assim. — Parece que um poder maior não deve ser considerado causa da dor.
1. — Pois, o que está no poder do agente ainda não é presente, mas futuro. Ora, a dor se refere ao mal presente. Logo, um poder maior não é causa da dor.
2. Demais — O mal causado é causa da dor. Ora, ele pode ser causado mesmo por um poder menor. Logo, não deve o poder maior ser considerado causa da dor.
3. Demais — As causas dos movimentos apetitivos são as inclinações internas da alma. Ora, um poder maior é algo de externo. Logo, não deve ser considerado causa da dor.
O terceiro discute-se assim. — Parece que o desejo da unidade não é causa da dor.
1. — Pois, como diz o Filósofo, a doutrina de acordo com a qual a repleção é causa do prazer e a divisão, da tristeza, parece fundar-se nos prazeres e tristezas relativos à comida. Ora, nem todo prazer e nem toda tristeza são dessa espécie. Logo, o desejo da unidade não é causa universal da dor, pois a repleção respeita à unidade e a divisão é causa da multiplicidade.
2. Demais — Toda separação se opõe à unidade. Se portanto a dor fosse causada pelo desejo da unidade, nenhuma separação seria deleitável. Ora, isto é falso evidentemente relativamente à separação de todas as coisas supérfluas.
O segundo discute-se assim. — Parece que a concupiscência não é causa da dor ou tristeza.
1. — Pois, a tristeza em si mesma diz respeito ao mal, como já demonstramos. Ora, a concupiscência é um movimento do apetite para o bem. O movimento porém, que tende para um contrário, não pode ser causa do que respeita ao outro contrário. Logo, a concupiscência não é causa da dor.
2. Demais — A dor, segundo Damasceno, refere-se ao presente; a concupiscência porém, ao futuro. Logo, esta não é causa da dor.
3. Demais — O deleitável em si mesmo não é causa da dor. Ora, a concupiscência é em si mesma deleitável, como diz o Filósofo. Logo, não é causa da dor ou tristeza.
O primeiro discute-se assim. — Parece que o bem perdido é, mais que o mal anexo, causa da dor.
1. — Pois, diz Agostinho, que sofremos dor com a perda dos bens temporais. Logo, pela mesma razão, toda dor resulta da perda de algum bem.
2. Demais — Como já se disse, a dor que contraria o prazer tem o mesmo objeto que este. Ora, este tem por objeto o bem, como já foi dito. Logo, a dor também se refere principalmente ao bem perdido.
3. Demais — Segundo Agostinho, o amor é causa da tristeza bem como dos outros afetos da alma. Ora, o objeto do amor é o bem. Logo, a dor ou tristeza, recai antes sobre o bem perdido, que sobre o mal anexo.