Category: Santo Tomás de Aquino
Em segundo devemos tratar das causas da tristeza.
E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
(Infra, q. 41, ad 1; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3; De Verit., q. 26, a . 4, ad 6).
O oitavo discute-se assim. — Parece que Damasceno assinala inconvenientemente quatro espécies de tristeza: a acédia, a opressão ou ansiedade, segundo Gregório Nisseno (Nemésio), a misericórdia e a inveja.
1. Demais. — A tristeza se opõe à deleitação. Ora, desta não existem espécies. Logo, também não as devemos atribuir àquela.
(Infra, q. 37, a . 1, ad 3).
O sétimo discute-se assim. — Parece que a dor externa é maior que a dor interna do coração.
1. — Pois, a dor corpórea externa procede de uma causa repugnante à boa conservação do corpo, sede da vida; ao passo que a dor interna é causada por alguma imaginação do mal. Ora, sendo a vida mais amada que o bem é imaginado, resulta, conforme o que já foi dito, que a dor externa é maior que a interna.
2. Demais — Mais move uma coisa real que sua semelhança. Ora, a dor externa provém da união real com algum contrário; ao passo que a interna, da semelhança apreendida do contrário. Logo é aquela maior que esta.
(IIª-IIªº, q. 138, a . 1; III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 3, ad 3; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 3).
O sexto discute-se assim. — Parece que o evitamento da tristeza é mais veemente que o desejo do prazer.
1. — Pois, diz Agostinho: Não há ninguém que não prefira evitar a dor a desejar o prazer. Ora, aquilo em que todos comumente consentem parece ser natural. Logo, é natural e conveniente preferir evitar a tristeza a desejar o prazer.
(III, q. 46, a . 7, ad 4; III Sent., dist. XV, q. 2, a . 3, qª 2, ad 3; dist. XXVI, q. 1 a . 5, ad 5; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 2; De Verit., q. 26, a . 3, ad 6; a . 9, ad 8; Ompend. Theol., e. CLXV).
O quinto discute-se assim. — Parece que alguma tristeza é contrária ao prazer da contemplação.
1. — Pois, diz o Apóstolo (2 Cor 7, 10): A tristeza que é segundo Deus produz para a salvação uma penitência estável. Ora, pensar em Deus compete à razão superior, à qual é próprio o entregar-se à contemplação, segundo Agostinho. Logo, a tristeza se opõe ao prazer da contemplação.
O quarto discute-se assim. — Parece que a tristeza é universalmente contrária ao prazer.
1. — Pois, assim como a brancura e a negrura são espécies contrárias de cor, assim espécies contrárias de paixões da alma são o prazer e a tristeza. Ora, a brancura e a negrura se opõem universalmente. Logo, também o prazer e a tristeza.
2. Demais — Remédio supõe contrariedade. Ora, o prazer é um remédio universal contra a tristeza, como se vê claramente no Filósofo. Logo, o prazer é universalmente contrário a qualquer tristeza.
3. Demais — Os contrários são impedimentos uns dos outros. Ora, a tristeza impede universalmente o prazer, como se vê claro no Filósofo. Logo, a tristeza é contrária universalmente ao prazer.
(Supra, q.31, a . 8 ad 2; III, q. 84, a . 9, ad 2; IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 1).
O terceiro discute-se assim. — Parece que a dor não contraria o prazer.
1. — Pois um contrário não pode ser causa de outro. Ora, a tristeza pode ser causa do prazer, conforme a Escritura (Mt 5, 5): Bem-aventurados os que choram porque serão consolados. Logo, não são contrários.
2. Demais — Um contrário não pode denominar a outro. Mas, em certos casos, a dor em si mesma ou tristeza é deleitável; assim, Agostinho diz que a dor nos espetáculos deleita; e que o pranto é amargo e contudo, às vezes, deleita. Logo, a dor não é contrária ao prazer.
(III, q 15 a . 6; III Sent., dist. XV, 1. 2 a . 3, qª 1, 2; De Verit., q. 26, a . 3, ad 9; a . 4 ad 4).
O segundo discute-se assim. — Parece que a tristeza não é dor.
1. — Pois, como diz Agostinho, a dor se refere ao corpo. Ora, a tristeza diz respeito sobretudo, à alma. Logo, a tristeza não é dor.
2. Demais — A dor só se refere ao mal presente. Ora, a tristeza pode referir-se ao pretérito e ao futuro; assim, a penitência é uma tristeza relativa ao pretérito e a ansiedade, ao futuro. Logo, a tristeza difere absolutamente da dor.
(II, q. 84, a . 9, ad 2).
O primeiro discute-se assim. Parece que a dor não é paixão da alma.
1. — Pois, nenhuma paixão da alma existe no corpo. Ora, a dor pode nele existir, conforme aquilo de Agostinho: a chamada dor do corpo é a corrupção repentina da saúde daquilo que a alma, usando mal, sujeitou à corrupção. Logo a dor não é paixão da alma.
2. Demais — Toda paixão da alma reside na potência apetitiva. Ora, a dor reside não nessa potência, mas, na apreensiva, conforme Agostinho: a dor do corpo é causada pelo sentido que reside a um corpo mais poderoso. — Logo, a dor não é paixão da alma.
Em seguida devemos tratar da dor e da tristeza.
E sobre esta questão temos que tratar, primeiro, da tristeza ou dor em si mesma. Segundo, das suas causas. Terceiro, dos seus efeitos. Quarto, dos seus remédios. Quinto, da sua bondade ou malícia.
Sobre a primeira questão oito artigos se discutem: