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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Questão 36: Das causas da tristeza.

Em segundo devemos tratar das causas da tristeza.
 
E sobre esta questão quatro artigos se discutem:

Art. 8 — Se Damasceno assinala convenientemente quatro espécies de tristeza, a saber: a acedia, a ansiedade, a misericórdia e a inveja.

(Infra, q. 41, ad 1; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3; De Verit., q. 26, a . 4, ad 6).
 
O oitavo discute-se assim. — Parece que Damasceno assinala inconvenientemente quatro espécies de tristeza: a acédia, a opressão ou ansiedade, segundo Gregório Nisseno (Nemésio), a misericórdia e a inveja.
 
1. Demais. — A tristeza se opõe à deleitação. Ora, desta não existem espécies. Logo, também não as devemos atribuir àquela.
 

Art. 7 — Se a dor externa é maior que a dor interna do coração.

(Infra, q. 37, a . 1, ad 3).
 
O sétimo discute-se assim. — Parece que a dor externa é maior que a dor interna do coração.
 
1. — Pois, a dor corpórea externa procede de uma causa repugnante à boa conservação do corpo, sede da vida; ao passo que a dor interna é causada por alguma imaginação do mal. Ora, sendo a vida mais amada que o bem é imaginado, resulta, conforme o que já foi dito1, que a dor externa é maior que a interna.
 
2. Demais — Mais move uma coisa real que sua semelhança. Ora, a dor externa provém da união real com algum contrário; ao passo que a interna, da semelhança apreendida do contrário. Logo é aquela maior que esta.
 

  1. 1. Q. 35, a. 6.

Art. 6 — Se o evitamento da tristeza é mais veemente que o desejo do prazer.

(IIª-IIªº, q. 138, a . 1; III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 3, ad 3; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 3).
 
O sexto discute-se assim. — Parece que o evitamento da tristeza é mais veemente que o desejo do prazer.
 
1. — Pois, diz Agostinho: Não há ninguém que não prefira evitar a dor a desejar o prazer1. Ora, aquilo em que todos comumente consentem parece ser natural. Logo, é natural e conveniente preferir evitar a tristeza a desejar o prazer.
 

  1. 1. LXXXIII Quaestion. (quaest. XXXVI).

Art. 5 — Se alguma tristeza é contrária ao prazer da contemplação.

(III, q. 46, a . 7, ad 4; III Sent., dist. XV, q. 2, a . 3, qª 2, ad 3; dist. XXVI, q. 1 a . 5, ad 5; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 2; De Verit., q. 26, a . 3, ad 6; a . 9, ad 8; Ompend. Theol., e. CLXV).
 
O quinto discute-se assim. — Parece que alguma tristeza é contrária ao prazer da contemplação.
 
1. — Pois, diz o Apóstolo (2 Cor 7, 10): A tristeza que é segundo Deus produz para a salvação uma penitência estável. Ora, pensar em Deus compete à razão superior, à qual é próprio o entregar-se à contemplação, segundo Agostinho1. Logo, a tristeza se opõe ao prazer da contemplação.
 

  1. 1. XII De Trinit., cap. III, IV.

Art. 4 — Se a tristeza é universalmente contrária ao prazer.

O quarto discute-se assim. — Parece que a tristeza é universalmente contrária ao prazer.
 
1. — Pois, assim como a brancura e a negrura são espécies contrárias de cor, assim espécies contrárias de paixões da alma são o prazer e a tristeza. Ora, a brancura e a negrura se opõem universalmente. Logo, também o prazer e a tristeza.
 
2. Demais — Remédio supõe contrariedade. Ora, o prazer é um remédio universal contra a tristeza, como se vê claramente no Filósofo1. Logo, o prazer é universalmente contrário a qualquer tristeza.
 
3. Demais — Os contrários são impedimentos uns dos outros. Ora, a tristeza impede universalmente o prazer, como se vê claro no Filósofo2. Logo, a tristeza é contrária universalmente ao prazer.
 

  1. 1. VII Ethic., lect. XIV.
  2. 2. X Ethic., lect. VII.

Art. 3 — Se a dor contraria o prazer.

(Supra, q.31, a . 8 ad 2; III, q. 84, a . 9, ad 2; IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 3, qª 1).
 
O terceiro discute-se assim. — Parece que a dor não contraria o prazer.
 
1. — Pois um contrário não pode ser causa de outro. Ora, a tristeza pode ser causa do prazer, conforme a Escritura (Mt 5, 5): Bem-aventurados os que choram porque serão consolados. Logo, não são contrários.
 
2. Demais — Um contrário não pode denominar a outro. Mas, em certos casos, a dor em si mesma ou tristeza é deleitável; assim, Agostinho diz que a dor nos espetáculos deleita1; e que o pranto é amargo e contudo, às vezes, deleita2. Logo, a dor não é contrária ao prazer.
 

  1. 1. III Confess., cap. II.
  2. 2. IV Confess., cap. V.

Art. 2 — Se a tristeza é dor.

(III, q 15 a . 6; III Sent., dist. XV, 1. 2 a . 3, qª 1, 2; De Verit., q. 26, a . 3, ad 9; a . 4 ad 4).
 
O segundo discute-se assim. — Parece que a tristeza não é dor.
 
1. — Pois, como diz Agostinho, a dor se refere ao corpo1. Ora, a tristeza diz respeito sobretudo, à alma. Logo, a tristeza não é dor.
 
2. Demais — A dor só se refere ao mal presente. Ora, a tristeza pode referir-se ao pretérito e ao futuro; assim, a penitência é uma tristeza relativa ao pretérito e a ansiedade, ao futuro. Logo, a tristeza difere absolutamente da dor.
 

  1. 1. XIV De civit. Dei, cap. VII.

Art. 1 — Se a dor é paixão da alma.

(II, q. 84, a . 9, ad 2).
 
O primeiro discute-se assim. Parece que a dor não é paixão da alma.
 
1. — Pois, nenhuma paixão da alma existe no corpo. Ora, a dor pode nele existir, conforme aquilo de Agostinho: a chamada dor do corpo é a corrupção repentina da saúde daquilo que a alma, usando mal, sujeitou à corrupção1. Logo a dor não é paixão da alma.
 
2. Demais — Toda paixão da alma reside na potência apetitiva. Ora, a dor reside não nessa potência, mas, na apreensiva, conforme Agostinho: a dor do corpo é causada pelo sentido que reside a um corpo mais poderoso2. — Logo, a dor não é paixão da alma.
 

  1. 1. De vera relig., cap. XII.
  2. 2. De natura boni, cap. XX.

Questão 35: Da dor e da tristeza em si mesmas.

Em seguida devemos tratar da dor e da tristeza.
 
E sobre esta questão temos que tratar, primeiro, da tristeza ou dor em si mesma. Segundo, das suas causas. Terceiro, dos seus efeitos. Quarto, dos seus remédios. Quinto, da sua bondade ou malícia.
 
Sobre a primeira questão oito artigos se discutem:

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