Category: Santo Tomás de Aquino
O quarto discute-se assim. — Parece que o temor trava a operação.
1. — Pois, a operação fica impedida sobretudo pela perturbação da razão, que é quem a dirige. Ora, o temor perturba a razão, como já dissemos. Logo, trava a operação.
2. Demais — Os que procedem com temor facilmente falham na operação; assim, quem se mete a andar por cima de uma trave suspensa no alto cai, facilmente, por causa do temor; não cairia porém se andasse sobre ela posta em baixo, pois então não teria temor. Logo, o temor trava a operação.
3. Demais — A preguiça ou indolência é uma espécie de temor. Ora, ela trava a operação. Logo, também o temor.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Fl 2, 2): obrai a vossa salvação com receio e com tremor; o que não diria se o temor travasse a livre operação. Logo, o temor não a trava.
Solução. — A operação exterior do homem é causada certo pela alma como primeiro móvel; mas pelos membros corpóreos, como instrumentos. Ora, uma operação pode ficar impedida tanto por defeito do instrumento como do motor principal. Assim, por parte dos instrumentos corpóreos, o temor, em si mesmo e por natureza, trava a operação exterior, pela falta de calor que causa nos membros exteriores. Quanto à alma, por outro lado, se ele for moderado e não perturbar demasiado a razão, contribuirá para a boa operação, causando uma certa solicitude e fazendo-nos deliberar e operar mais atentamente. Se porém crescer de modo a perturbar a razão, impedirá a operação, mesmo da alma. Ora, não é a esse temor que se refere o Apóstolo.
Donde se deduz clara a resposta à primeira objeção.
Resposta à segunda. — Os que caem de uma trave suspensa no alto é porque sofreram perturbações da imaginação, causada pelo temor do acidente imaginado.
Resposta à terceira. — Toda pessoa temerosa foge do que teme; por onde, sendo a preguiça o temor da operação em si mesma, enquanto laboriosa, ela trava a operação, desviando desta a vontade. Mas o temor referente a outras coisas coadjuva a operação na medida mesma em que inclina a vontade a fazer aquilo pelo que fugimos do que tememos.
(Supra, a . 1, ad 2; In Psalm. XVII).
O terceiro discute-se assim. — Parece que o tremor não é efeito do temor.
1. — Pois, ele é resultante da frigidez, sendo por isso que vemos os homens frígidos tremerem. Ora, parece que o temor não causa o frio, mas antes, o calor que desseca; e a prova está em os que temem terem sede, principalmente quando o temor é máximo, como bem o demonstram os conduzidos à morte. Logo, o temor não causa temor.
2. Demais — A emissão do supérfluo é provocada pelo calor; por isso, no mais das vezes, os remédios laxativos são cálidos. Ora, essas emissões são ocasionadas, freqüentemente, pelo temor. Logo, parece que este causa o calor, e portanto não causa tremor.
3. Demais — No temor o calor de fora concentra-se na parte interna. Se, pois, por causa dessa concentração, o homem treme exteriormente, conclui-se por semelhança que, em todos os membros exteriores, o tremor deverá ser causado pelo temor. Ora, tal não se dá. Logo, o tremor do corpo não é efeito do temor.
Mas, em contrário, diz Túlio, que o tremor, a palidez e o ranger dos dentes resultam do terror.
Solução. — Como já dissemos, o temor provoca uma certa contração de fora para dentro, e isso explica que os membros externos permaneçam frios. Daí o tremor, causado pela debilidade da força reguladora dos membros; e para tal debilidade contribui sobretudo a falta de calor, instrumento pelo qual a alma move, como diz Aristóteles.
Donde a resposta à primeira objeção. — Uma vez o calor concentrado, das partes externas para o interior, ele multiplica-se interiormente, e sobretudo nas partes inferiores, i. é, que respeitam à nutrição. E daí, consumida a umidade, nasce a sede e mesmo, às vezes, a soltura do ventre, e emissão da urina e ainda do sêmen. Ou então, essa emissão do supérfluo se dá por causa da contração do ventre e dos testículos, como diz o Filósofo.
Donde se deduz clara a resposta à segunda objeção.
Resposta à terceira. — No temor o calor abandona o coração, tendendo dos membros superiores para os inferiores; e por isso, aos temerosos se lhe treme sobretudo o coração e os membros que têm qualquer ligação com o peito, onde está o coração. Isso explica que se lhes trema sobretudo a voz, pela vizinhança da artéria vocal com o coração. E também lhes treme o lábio inferior e toda a mandíbula inferior, pela ligação que têm com o coração; donde resulta o ranger dos dentes. Pela mesma razão, tremem os braços e as mãos. Ou então, o fenômeno se explica por serem esses membros os mais móveis; e por isso, aos que temem lhes tremem os joelhos, conforme aquilo da Escritura (Is 35, 3): Confortai as mãos frouxas, e corroborai os joelhos débeis.
(IIª-IIªº, q. 129, a . 7; In Psalm. XII).
O segundo discute-se assim. — Parece que o temor não nos torna conciliativos.
1. — Pois, o que nos torna conciliativos não pode ao mesmo tempo impedir o conselho. Ora, o temor o impede, porque toda paixão perturba a paz, necessária para o bom uso da razão. Logo, o temor não nos torna conciliativos.
2. Demais — O conselho é um ato da razão pelo qual pensamos e deliberamos sobre o futuro. Mas, há certo temor que impede o pensamento e nos faz perder a cabeça, como diz Túlio. Logo, o temor não nos torna conciliativos, mas antes impede o conselho.
3. Demais — Assim como usamos do conselho para evitar o mal, dele usamos também para conseguir o bem. Logo, o temor não nos torna, mais que a esperança, conciliativos.
Mas, em contrário, diz o Filósofo, que o temor nos torna conciliativos.
Solução. — Podemos ser conciliativos de dois modos. — Pela vontade ou solicitude em aconselhar. E assim o temor nos torna conciliativos, porque, como diz o Filósofo, nós deliberamos sobre as grandes coisas, em que quase descremos de nós mesmos. Ora, o que incute o temor não é mau, absolutamente mas se reveste de uma certa grandeza, por ser apreendido, quer como algo que só dificilmente pode ser repelido, quer como vindo a realizar-se proximamente, conforme já dissemos. Por onde, sobretudo nos temores é que recorremos ao conselho. — De outro modo, dizemos que é conciliativo quem tem a faculdade de aconselhar bem. E neste sentido nem o temor nem qualquer outra paixão nos torna conciliativos. Porque, quando possuídos de uma paixão, vemos as coisas mais ou menos diferentes do que elas na verdade são; assim, o amante acha melhores que na realidade as coisas que ama; e quem teme acha mais terríveis que na realidade as coisas que lhe causam temor. Por onde, por falta da retidão de juízo, qualquer paixão, em si mesma, impede a faculdade de aconselhar bem.
Donde se deduz clara a resposta à primeira objeção.
Resposta à segunda. — Quanto mais forte é uma paixão tanto maior travamento sofre quem é tomado dela. Por onde, sendo o temor forte, embora queiramos deliberar, ficamos com o pensamento perturbado de tal maneira, que não podemos tomar conselho. Sendo ele porém pequeno, que deixe lugar ao conselho e nem conturbe demasiado a razão, pode até mesmo auxiliar a faculdade de bem aconselhar, em razão da solicitude que provoca.
Resposta à terceira. — Também a esperança nos torna conciliativos; pois, como diz o Filósofo, ninguém delibera sobre o que desespera, como nem sobre o impossível, segundo o mesmo. Ora, o temor nos torna mais conciliativos que a esperança; porque esta é relativa a um bem que podemos alcançar, e aquele, a um mal que apenas podemos repelir. Por onde, maior dificuldade implica este que aquela; e por isso deliberamos, como já dissemos, quando a situação é difícil, e mal confiamos em nós.
O primeiro discute-se assim. — Parece que o temor não causa a contração.
1. — Pois, produzida a contração, o calor e os espíritos concentram-se no interior. Ora, o aumento do calor e dos espíritos, no interior, provoca o coração a agir audazmente, como o vemos nos irados; e o contrário se dá com o temor. Logo, este não produz a contração.
2. Demais — Da multiplicação dos espíritos e do calor, internamente, resulta rompermos em palavras, como vemos acontecer com os que padecem alguma dor. Ora, os que temem não dizem palavra, mas antes se tornam taciturnos. Logo, o temor não produz contração.
3. Demais — A vergonha é uma espécie de temor, como já se disse. Ora, os envergonhados enrubescem, como diz Túlio e o Filósofo. Ora, o rubor das faces atesta, não a contração, mas, o contrário dela. Logo, a contração não é efeito do temor.
Mas, em contrário, diz Damasceno, que o temor é um fenômeno produzido pela sístole, i. é, pela contração.
Solução. — Como já dissemos, nas paixões da alma, o elemento formal é o movimento mesmo da potência apetitiva; assim como o material é a transmutação corpórea, sendo, um desses elementos proporcionado ao outro. Por onde, da semelhança e da natureza do movimento apetitivo resulta aquela transmutação. Ora, quanto ao movimento animal do apetite, o temor implica uma certa contração. E a razão é que ele provém da fantasia de um mal iminente que só dificilmente pode ser repelido, como já dissemos. Ora, é a pouca força que faz com que uma coisa possa só dificilmente ser repelida, conforme já se disse. E como a força tanto menos pode quanto menor é, da imaginação mesma, que causa o temor, resulta para o apetite uma certa contração. Assim, vemos nos moribundos a natureza retrair-se para o interior, por causa da pouca força; e vemos também que, nas cidades, quando os cidadãos temem, retraem-se do exterior, concentrando-se, o mais que podem, no interior. E da semelhança com esta contração, pertencente ao apetite animal, resulta que, quando há temor, o calor e os espíritos corpóreos contraem-se no interior.
Donde a resposta à primeira objeção. — Como diz o Filósofo, embora os espíritos dos que temem retraiam-se do exterior para o interior, contudo o movimento deles não é o mesmo nessas pessoas que nos irados. Pois, nestes, por causa do calor e da subtileza dos espíritos, provenientes do desejo da vindicta, o movimento dos espíritos se realiza, interiormente, da parte inferior para a superior; e isso explica que esses espíritos bem como o calor, se concentrem no coração. Donde resulta que os irados se tornam prontos e audazes no ataque. Nos que temem, porém, por causa da frigidez crescente, proveniente do imaginar na falta de forças, os espíritos se movem da parte superior para a inferior. E por isso o calor e os espíritos não se multiplicam no coração, mas antes, dele se afastam; e essa a razão por que os tímidos não atacam prontamente, mas antes, fogem.
Resposta à segunda. — É natural a qualquer ser que sofre, homem ou animal, recorrer ao auxílio de que dispõe, para repelir o mal presente, causa da dor. E por isso vemos os animais que sofrem alguma dor defenderem-se com os dentes ou com os chifres. Ora, o máximo auxílio contra tudo, de que dispõem os animais, são o calor e os espíritos. Por onde, na dor, a natureza conserva aquele e estes interiormente, de modo a poder empregá-los na repulsa do mal. E, por isso, o Filósofo diz, que, multiplicados os espíritos e o calor, internamente, por força eles se hão-de manifestar pela voz. Isso explica que os que sofrem mal podem conter-se que não gritem. Nos que temem, porém, o movimento do calor interno e dos espíritos, partindo do coração para os membros inferiores, como já dissemos, faz com que o temor empeça a formação da voz, resultante da emissão dos espíritos para a parte superior, por meio da boca. Por isso o temor nos torna calados; e a mesma causa explica também que o temor nos faz tremer, como diz o Filósofo.
Resposta à terceira. — Os perigos da morte não só contrariam o apetite animal mas também a natureza. Por isto o temor que a morte provoca produz a contração, não só por parte do apetite, mas também por parte da natureza corpórea. Pois o animal, pela imaginação da morte, fica de tal modo disposto, que contrai o calor para a parte interna, como acontece quando a morte é naturalmente iminente. Donde vem o empalidecerem os que temem a morte, como diz Aristóteles. Ao contrário, o mal que a vergonha teme não se opõe à natureza, mas só ao apetite animal. Donde resulta uma certa contração relativa a esse apetite; não porém relativa à natureza corpórea, pois antes, a alma, quase contraída em si mesma, provoca o movimento dos espíritos e do calor, o que os leva a se difundirem externamente. Eis porque os envergonhados enrubescem.
Em seguida devemos tratar dos efeitos do temor. E sobre este ponto quatro artigos se discutem:
Muitos costumam questionar-se sobre o modo como os elementos estão em um corpo misto.
[Teoria de Avicena]
Ora, parece a alguns que, estando as qualidades ativas e passivas dos elementos de algum modo reduzidas por alteração a uma média, as formas substanciais dos elementos permanecem: de fato, se as formas substanciais não permanecessem, pareceria haver algum tipo de corrupção, e não mistura dos elementos.
Por outro lado, se a forma substancial do corpo misto for ato da matéria, não pressupondo as formas dos corpos simples, os corpos simples dos elementos perderão sua razão. Porquanto é de elementos que algo se compõe primeiramente, e os elementos existem nele, indivisíveis conforme a espécie; com efeito, se forem suprimidas as suas formas substanciais, não mais de corpos simples que nele remanesçam, os corpos mistos serão compostos.
Porém, é impossível que assim seja. Impossível é, pois, que a mesma matéria receba as formas de diferentes elementos. Se, portanto, as formas substanciais dos elementos fossem salvas em um corpo misto, seria necessário que elas estivessem nas diversas partes da matéria. Mas é impossível à matéria ter diversas partes, a não ser que se subentenda quantidade na matéria; pois, suprimida a quantidade, a substância permanece indivisível, como se vê claramente no livro I da Física. Ora, o corpo físico se constitui da matéria que existe sob quantidade e da forma substancial que se lhe advém. E assim, as diversas partes da matéria, que subsistem pelas formas dos elementos, recebem a razão de muitos corpos. No entanto, é impossível um corpo físico ser simultaneamente muitos corpos. Os quatro elementos, portanto, não estarão em qualquer parte do corpo misto; e assim, não haverá uma verdadeira mistura, mas uma mistura aparente, assim como ocorre na agregação de corpos que, por sua pequenez, não se pode perceber.
Ademais, toda forma substancial requer uma disposição própria na matéria, sem a qual não pode existir: donde a alteração ser via para a geração e a corrupção. Porém, é impossível que a disposição própria que se requer para a forma do fogo, e a que se requer para a forma da água, encontrem-se na mesma coisa, pois, conforme tais disposições, o fogo e a água são contrários. Ora, é impossível que os contrários existam na mesma coisa. É impossível, portanto, que na mesma parte da mistura estejam as formas substanciais do fogo e da água. Se, portanto, uma mistura vier a existir, remanescendo nela as formas substanciais dos corpos simples, segue-se que não se trata de uma mistura verdadeira, mas somente de uma sensação de mistura, como se as partes, insensíveis por sua pequenez, estivessem justapostas.
[Teoria de Averróis]
Alguns, no entanto, desejando evitar ambos argumentos, incidiram em maior inconveniente: pois, para distinguir a mistura dos elementos de sua corrupção, disseram que as formas substanciais dos elementos de algum modo subsistem na mistura. Mas, novamente, para que não fossem compelidos a assumir que se trataria antes de uma mistura aparente que de uma verdadeira,sustentaram que as formas dos elementos não subsistem na mistura em sua totalidade, mas reduzidas a alguma média. Com efeito, dizem que as formas dos elementos admitem mais e menos e têm contrariedade entre si. Mas, porque isto manifestamente repugna a opinião comum e os dizeres de Aristóteles, que diz n’As Categorias que nada é contrário à substância, e que ela não admite mais e menos, vão mais adiante e dizem que as formas dos elementos são imperfeitíssimas, por estarem mais próximas da matéria prima: donde serem formas intermediárias entre as formas substanciais e as acidentais; e assim, enquanto se aproximam da natureza das formas acidentais, podem admitir mais e menos. Esta posição, entretanto, é em muitas maneiras inaceitável. Em primeiro lugar, de certo, porque é inteiramente impossível que exista algum intermediário entre substância e acidente, por isso que seria um intermediário entre a afirmação e a negação. Com efeito, é próprio do acidente estar em um sujeito, e da substância não estar em sujeito algum. Embora as formas substanciais de fato estejam na matéria, elas não estão no sujeito; pois sujeito significa “este algo”: a forma substancial, por outro lado, é o que faz com que ele seja “este algo”, sem nunca o pressupor.
Do mesmo modo, é ridículo que se julgue haver algum intermediário entre coisas que não sejam de um mesmo gênero. Pois, como se prova no décimo livro da Metafísica, é necessário que a média e os extremos sejam do mesmo gênero; nada, portanto, pode ser um intermediário entre substância e acidente.
Além disso, é impossível que as formas substanciais dos elementos sejam suscetíveis de mais e menos. Pois toda forma suscetível de mais e menos é divisível por acidente, na medida que um sujeito possa participar dela mais ou menos. Porém, segundo seja divisível por si ou por acidente, o movimento é contínuo, como é claro no livro sexto da Física. Mudança de lugar, e aumento e diminuição no tamanho, ocorrem segundo o lugar e a quantidade respectivamente, que são por si mesmos divisíveis. A alteração, no entanto, é divisível em conformidade com qualidades que admitam variações de mais e menos, como o calor ou a brancura. Portanto, se as formas dos elementos fossem suscetíveis de mais e menos, tanto a geração como a corrupção dos elementos seria um movimento contínuo. Mas isto é impossível, pois o movimento contínuo evidentemente não é senão de três gêneros: quantidade, qualidade e lugar; como se prova no livro V da Física.
Além disso, toda diferença no tocante a forma substancial varia a espécie; entretanto, o que é suscetível de mais e menos, difere o que é mais do que é menos, e, de certa maneira, é contrário a ele, como o mais branco o é do menos branco. Se, portanto, a forma do fogo fosse suscetível de mais e menos, quer se fizesse mais ou menos, a espécie variaria, e não seria a mesma forma, mas outra. E desse ponto é que o Filósofo diz no livro VIII da Metafísica, que assim como nos números, que variam a espécie por adição e subtração, assim nas substâncias.
[Teoria de S. Tomás]
É necessário, portanto, descobrir outra explicação que não apenas salve a verdade da mistura, mas também o fato dos elementos não estarem completamente corrompidos, e sim de alguma forma conservados na mistura.
Deve ser considerado, portanto, que as qualidades ativas e passivas dos elementos são contrárias umas as outras, e são suscetíveis de mais e menos. Ora, dessas qualidades contrárias, suscetíveis de mais e menos, pode-se constituir uma qualidade média, que tenha o sabor da natureza de ambos extremos, como o cinza entre o branco e o negro, e o tépido entre o quente e o frio. Assim, abrandadas as qualidades extremas dos elementos, constitui-se destas uma qualidade média, que é a qualidade própria do corpo misto, e que difere, todavia, em diversos [corpos mistos] conforme a diversa proporção da mistura: e esta qualidade é, de fato, a disposição própria da forma do corpo misto, assim como a qualidade simples da forma de um corpo simples. Portanto, assim como os extremos se encontram na média, que participa da natureza dos extremos, assim as qualidades dos corpos simples se encontram na qualidade própria do corpo misto. Embora a qualidade do corpo simples de fato seja outra que da sua própria forma substancial, atua em virtude da forma substancial. Caso contrário, o calor apenas aqueceria, sem que, por sua ação, a forma substancial fosse atualizada, já que nada opera além de sua espécie. Assim, portanto, as virtudes das formas substanciais dos corpos simples são salvas nos corpos mistos.
As formas dos elementos estão portanto nos corpos mistos; não, em verdade, em ato, mas virtualmente. E isto é o que Aristóteles disse no livro I Sobre a Geração e Corrupção: “Evidentemente, não permanecem os elementos em ato, como o corpo e sua brancura, nem se corrompem, nem um nem os dois: pois sua virtude se salva” .
Tradução: Permanência
Nota: Este opúsculo encontra-se com as mesmas palavras no comentário de Sto. Tomás sobre Aristóteles: Sobre a Geração e Corrupção, livro I, XXIV.
18. — O pecador procura nas criaturas aquilo que não pode achar, mas o justo o obtém. A riqueza dos pecadores está reservada para os justos, dizem os Provérbios (13, 22). Assim Eva procurou o fruto, sem achar nele a satisfação de seus desejos. A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou em seu fruto tudo o que Eva desejou.
A Virgem foi pois isenta de toda maldição e bendita entre as mulheres. Ela é a única que suprime a maldição, traz a bênção e abre as portas do paraíso.
Também lhe convém, assim, o nome de Maria, que quer dizer, «Estrela do mar», Assim como os navegadores são conduzidos pela estrela do mar ao porto, assim, por Maria, são os cristãos conduzidos à Glória.
14. — Três maldições foram proferidas por Deus contra os homens, por causa do pecado original.
A primeira foi contra a mulher, que traria seu filho no sofrimento e daria à luz com dores.
12. — Portanto o Anjo reverenciou a Bem-aventurada Virgem, como mãe do Soberano Senhor e, assim, ela mesma como Soberana. O nome de Maria, em siríaco significa soberana, o que lhe convém perfeitamente.
13. — Em terceiro lugar, a Virgem ultrapassou aos Anjos em pureza.
Não só possuía em si mesma a pureza, como procurava a pureza para os outros.
Ela foi puríssima de toda culpa, pois foi preservada do pecado original e não cometeu nenhum pecado mortal ou venial, como também foi livre de toda pena.