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Art. 1 — Se a esperança é o mesmo que o desejo ou cobiça.

(Supra, q. 24, a . 1; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3; q. 2, a . 3, qª 2; De Virtut., q. 4, a . 1; Compend. Theol., part. II, cap. VII).
 
O primeiro discute-se assim. — Parece que a esperança é o mesmo que o desejo ou cobiça.
 
1. — Pois, a esperança é considerada como uma das quatro principais paixões. Ora, quando Agostinho as enumera coloca a cobiça no lugar da esperança. Logo, a esperança é o mesmo que a cobiça ou desejo.
 
2. Demais — As paixões diferençam-se pelos seus objetos. Ora, a esperança e a cobiça ou desejo tem o mesmo objeto, que é o bem futuro. Logo, a esperança é o mesmo que a cobiça ou o desejo.
 
3. Demais — Nem vale dizer que a esperança acrescenta ao desejo a possibilidade de alcançar o bem futuro. — Pois, o que se relaciona acidentalmente com o objeto não varia a espécie da paixão. Ora, o possível se relaciona acidentalmente com o bem futuro, que é o objeto da cobiça ou desejo e da esperança. Logo, esta não é uma paixão especificamente diferente do desejo ou cobiça.
 
Mas, em contrário. — Às diversas potências correspondem diversas paixões especificamente diferentes. Ora, a esperança reside no irascível, ao passo que o desejo e a cobiça, no concupiscível. Logo, a esperança difere especificamente do desejo ou cobiça.
 
Solução. — As paixões se especificam pelos seus objetos. Ora, há quatro condições que devemos considerar relativamente ao objeto da esperança. — A primeira é que ele deve ser bom, pois, propriamente falando, não há esperança senão do bem. E, por aqui ela difere do temor, relativo ao mal. — A segunda é que deve ser futuro, pois a esperança não tem por objeto o bem presente já adquirido. E, por aqui, difere da alegria, relativa ao bem presente. — A terceira, que deve ser algo de árduo, que se alcança com dificuldade; pois, não se diz que alguém espera um objeto insignificante, que com a maior facilidade poderá possuir. E por aqui difere a esperança, do desejo ou cobiça, que, referente a um bem absolutamente futuro, pertence ao concupiscível, ao passo que ela pertence ao irascível. — A quarta é que seja possível alcançar o objeto árduo, pois ninguém espera o que de nenhum modo pode alcançar. E por aqui a esperança difere do desespero.
 
Por onde é claro que a esperança difere do desejo, assim como as paixões do irascível, das do concupiscível. E por isso pressupõe o desejo, assim como todas as paixões do irascível pressupõem as do concupiscível, conforme já dissemos1.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Agostinho coloca a cobiça em lugar da esperança, porque uma e outra visa o bem futuro; e porque o bem que não é árduo é quase reputado por nada. De modo que o desejo é considerado como tendendo sobretudo para o bem árduo, para o qual também tende a esperança.
 
Resposta à segunda. — O objeto da esperança não é o bem futuro, absolutamente, mas, o que se alcança com arduidade e dificuldade, como já dissemos.
 
Resposta à terceira. — O objeto da esperança não somente acrescenta a possibilidade ao objeto do desejo, mas também a arduidade; e esta faz com que a esperança pertença a outra potência, a saber, ao irascível, que respeita o árduo, como já dissemos na primeira parte2. Ora, o possível e o impossível de nenhum modo são acidentais relativamente ao objeto da virtude apetitiva. Pois, o apetite é um princípio de moção. Ora, nenhum ser se move senão para o termo possível; assim, ninguém se move senão para o que julga poder alcançar. E por isto a esperança difere do desespero, tanto quanto difere o possível do impossível.

  1. 1. Q. 25, a. 1.
  2. 2. Q. 81, a. 2.
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