Category: Santo Tomás de Aquino
O quarto discute-se assim. ― Parece que a tristeza é o sumo mal.
1. ― Pois, ao ótimo opõe-se o péssimo, como diz Aristóteles. Ora, há um certo prazer ótimo, e é o que respeita a felicidade. Logo, há alguma tristeza que é o sumo mal.
2. Demais. ― A beatitude é o sumo bem do homem, porque é o seu último fim. Ora, ela consiste em termos tudo o que queremos e em não querermos mais nada, como já dissemos. Logo, o sumo bem do homem é a satisfação completa da sua vontade. Ora, a tristeza é causada pelo que acontece contra a nossa vontade, como está claro em Agostinho. Logo, a tristeza é o sumo mal do homem.
(III, q. 46, a. 6, ad 2).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que a tristeza não pode ser um bem útil.
1. ― Pois, diz a Escritura (Ecle 30, 25): Porque a tristeza tem morto a muitos e não há utilidade nela.
2. Demais. ― A eleição recai sobre o que é útil a um fim qualquer. Ora, a tristeza não é susceptível de eleição; pois devemos fazer a eleição, antes sem tristeza que com ela, como diz Aristóteles. Logo, a tristeza não é um bem útil.
(Infra, q. 59, a. 3; III, q. 15, a. 6 ad 2, 3; q. 46, a. 6, ad 2).
O segundo discute-se assim. — Parece que a tristeza não implica a noção de bem honesto.
1. ― Pois, o que conduz ao inferno é contrário ao honesto. Ora, diz Agostinho: Parece que Jacó temia ser perturbado com tanta tristeza de modo a ir, não ao repouso dos bem-aventurados, mas ao inferno dos pecadores. Logo, a tristeza não implica a noção de bem honesto.
2. Demais ― O bem honesto implica a noção de louvável e meritório. Ora, a tristeza diminui o louvor e o mérito, pois, diz o Apóstolo (2 Cor 9, 7): Cada um como propôs no seu coração, não com tristeza nem como por força. Logo, a tristeza não é um bem honesto.
(III Sent., dist. XV, q. 2, a. 2, qa 1, ad 3; IV, dist. XLIX, q. 3, a. 4, qa. 2).
O primeiro discute-se assim. — Parece que toda tristeza é má.
1. — Pois, diz Gregório Nissemo (Nemésio): Toda tristeza é por sua própria natureza má. Ora, o naturalmente mau o é sempre e em toda parte. Logo, toda tristeza é má.
Em seguida devemos tratar da bondade e da malícia da dor ou tristeza.
E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
O quinto discute-se assim. — Parece que o sono e o banho não mitigam a tristeza.
1. — Pois, a tristeza está na alma. Ora, o sono e o banho são relativos ao corpo. Logo, em nada concorrem para mitigar a tristeza.
2. Demais — O mesmo efeito não pode ser causado por causas contrárias. Ora, o sono e o banho, sendo corpóreos, repugnam à contemplação da verdade, causa da mitigação da tristeza, como já dissemos. Logo, não mitigam a tristeza.
3. Demais — A tristeza e a dor, pertencendo ao corpo, consistem numa certa transmutação do coração. Ora, o sono e o banho são remédios relativos antes aos sentidos exteriores e aos membros, que à disposição interior do coração. Logo, não mitigam a tristeza.
O quarto discute-se assim. — Parece que a contemplação da verdade não mitiga a dor.
1. — Pois, como diz a Escritura (Ecl 1, 18), o que acrescenta a ciência, também acrescenta o trabalho. Ora, a ciência supõe a contemplação da verdade. Logo, a contemplação da verdade não mitiga a dor.
2. Demais — A contemplação da verdade é própria ao intelecto especulativo. Ora, o intelecto especulativo não move, como diz Aristóteles. Ora, sendo a alegria e a dor movimentos da alma, resulta que a contemplação da verdade em nada influi a mitigação da dor.
3. Demais — O remédio do sofrimento deve ser aplicado onde o sofrimento existe. Ora, a contemplação da verdade é própria do intelecto. Logo, não mitiga a dor corpórea, residente no sentido.
(In Iob, cap. II, lect. II; cap. XVI, lect. I; Rom., cap. XII, lect. III; IX Ethic., lect. XIII).
O terceiro discute-se assim. — Parece que o amigo que se compadece conosco não mitiga a tristeza.
1. — Pois, os contrários são efeitos dos contrários. Ora, como diz Agostinho, quando muitos entre si se comprazem, é mais intenso o prazer de cada um, porque mutuamente se excitam e inflamam. Logo, pela mesma razão, é maior a tristeza quando muitos estão simultaneamente tristes.
O segundo discute-se assim. — Parece que o pranto não mitiga a tristeza.
1. — Pois, nenhum efeito diminui a sua causa. Ora, o pranto ou gemido é efeito da tristeza. Logo, não a diminui.
2. Demais — Assim como o pranto ou gemido é efeito da tristeza, assim, efeito da alegria é o riso. Ora, este não diminui aquela. Logo, nem o pranto mitiga a tristeza.
3. Demais — Com o pranto se nos representa o mal que entristece. Ora, a imaginação do objeto da tristeza aumenta a esta última, assim como a imaginação do objeto da alegria a intensifica. Logo, o pranto não mitiga a tristeza.
(Supra, q. 35, a . 4, ad 2; infra, a . 5; III, q. 46, a . 8, ad 2; II Cor., cap. VII, lect. II).
O primeiro discute-se assim. — Parece que o prazer não mitiga a dor ou tristeza.
1. — Pois, o prazer não mitiga a tristeza senão por lhe ser contrário, porque os remédios são contrários aos males, como diz Aristóteles. Ora, não qualquer prazer é contrário a qualquer dor, como já dissemos. Logo, o prazer não mitiga a tristeza.
2. Demais — O que causa a tristeza não a mitiga. Ora, certos prazeres causam a tristeza; pois, como diz Aristóteles, o mau se entristece porque se deleitou. Logo, nem todo prazer mitiga a tristeza.