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Art. 5 — Se a experiência é causa da esperança.

(Infra, q. 42, a . 5, ad 1; q. 45, a . 3).
 
O quinto discute-se assim. — Parece que a experiência não é causa da esperança.
 
1. — Pois a experiência é própria à potência cognitiva; por isso diz o Filósofo, que a potência intelectual precisa da experiência e do tempo1. Ora, a esperança não pertence à potência cognitiva, mas à apetitiva, como já dissemos2. Logo, não é causa da esperança.
 
2. Demais — Como diz o Filósofo, os velhos têm a esperança difícil, por causa da experiência3; donde resulta que esta é a causa da falta daquela. Ora, os contrários não podem ter a mesma causa. Logo, a experiência não é causa da esperança.
 
3. Demais — Como diz o Filósofo, explicar tudo a propósito de tudo e nada omitir é às vezes sinal de estultice4. Ora, segundo parece, é a grandeza da esperança que nos leva a experimentar tudo, pois, a estultice provém da inexperiência. Logo, mais que a experiência, esta é causa da esperança.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo, que alguns se vêm cheios de esperança por terem vencido muitas vezes e muitos5, o que respeita à experiência. Logo, esta é causa da esperança.
 
Solução. — Como já dissemos6, o objeto da esperança é o bem futuro, árduo, e possível de ser alcançado. Logo, pode ser causa da esperança o que torna um objeto possível ao homem ou o leva a julgá-lo tal. — Do primeiro modo é causa da esperança tudo o que aumenta o poder do homem, como as riquezas e a fortaleza; e entre outras, também a experiência, pois, por esta o homem adquire a faculdade de agir facilmente, donde resulta a esperança. E, por isso, diz Vegécio: Ninguém teme fazer o que tem consciência de haver bem aprendido7. — De outro modo é causa da esperança tudo o que nos leva a considerar um certo objeto como possível; e isso pode se dar tanto com uma doutrina como uma persuasão qualquer. E assim também causa da esperança é a experiência, enquanto nos leva a considerar como possível, o que, antes dela, reputávamos por impossível. Mas, por este modo, a experiência pode ser também causa da falta de esperança. Pois, como a experiência nos leva a julgar possível o que antes tínhamos por impossível, assim e inversamente, leva-nos a julgar impossível o que antes reputávamos por possível. — Por onde, a experiência, sendo causa da esperança, de dois modos; e da falta de esperança, de um, podemos dizer que ela é, sobretudo causa da esperança.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Nos nossos atos, a experiência não só produz a ciência, mas também um certo hábito, por causa do costume, que torna mais fácil o agir. Mas, também a potência intelectual mesma contribui para podermos operar facilmente, pois demonstra ser alguma coisa possível. E assim causa a esperança.
 
Resposta à segunda. — Os velhos têm falta de esperança por causa da experiência, na medida em que esta manifesta a impossibilidade. E por isso, no mesmo passo aduzido se acrescenta que lhes acontecem muitas coisas detrimentosas.
 
Resposta à terceira. — Quase por acidente é que a estultice e a inexperiência podem ser causa da esperança: removendo a ciência que leva a considerar, verdadeiramente, que uma coisa não é possível. Por onde, a inexperiência é causa da esperança pela mesma razão pela qual a experiência é causa da falta de esperança.

  1. 1. II Ethic.
  2. 2. Q. 40, a. 2.
  3. 3. II Rhetoric. (cap. XIII).
  4. 4. II De caelo.
  5. 5. III Ethic. (lect. XVII).
  6. 6. Q. 40, a. 1.
  7. 7. I De re milit. (cap. 1).
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