Category: Dom Lourenço Fleichman, OSB
No dia 2 de novembro, os carismáticos reuniram em São Paulo cerca de 600.000 pessoas no que se está chamando de show-missa. Evidentemente uma tal multidão não passa sem ser notada. Os jornais abriram mais uma vez suas páginas de ouro para notícias tão lucrativas...
Foi incansável na tentativa de levar às almas a verdade, tanto natural quanto sobrenatural, o Pe. Leonel Franca, que ilustra o pensamento brasileiro com livros dignos de um mestre. Entre seus escritos, encontra-se um pequeno livro, A Psicologia da Fé, onde o grande jesuíta analisa os detalhes do ato de fé, aquilo que leva o homem a agir pela Fé, o que falta na atitude daqueles que não têm Fé.
Dom Lourenço Fleichman OSB
Por incrível que pareça, sinto-me na obrigação de dizer algumas palavras sobre o Padre Marcelo Rossi. Normalmente não deveria me preocupar com mais um padre progressista, com mais um "carismático". Ele não deveria impressionar aos nossos fiéis, que há tantos anos aprendem o que seja a verdadeira fé, a verdadeira missa. Mas constato que entre nós, algumas pessoas não estão sabendo analisar este fenômeno com os princípios da Fé Católica. Por isso resolvi dizer algumas palavras.
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Dom Lourenço Fleichman OSB
Como tenho ficado cada dia mais enojado com esses blogues e blogueiros, jornalismo de superfície e arrogância das profundezas, não tenho tido muito ânimo para escrever. Porém, a falsa polêmica levantada pela imprudência de alguns e pela imbecilidade de outros, relativa à ida de Dom Bernard Fellay e seus assistentes à Congregação para a Doutrina da Fé, me obriga a falar. Além do mais, muitos fiéis das nossas Capelas tiveram contato com textos assombrosos e atitudes curiosas e criaram em suas almas certas apreensões que me parecem ilusórias e descabidas. "Será que a Fraternidade S. Pio X vai fazer um acordo com Roma?", perguntam-se.
Quando assistimos a uma cerimônia litúrgica, que seja a Santa Missa, um batizado ou qualquer outro sacramento, percebemos que o sacerdote utiliza, durante a cerimônia, uma série de objetos, e usa diversas vestes particulares, às vezes muito ricas e bonitas. Para a maioria das pessoas, estas coisas passam desapercebidas, e elas nunca se perguntam qual o significado de tantos objetos diferentes. Mas não deveria ser assim. Todo católico deveria se interessar pelo que se passa no altar, pelos ritos santos da Igreja, pois são estes ritos que nos trazem as graças sacramentais e os méritos da oração pública e oficial de nossa Santa Madre Igreja.
Por isso, devemos estudar com todo interesse esses objetos, saber seus nomes, como são feitos, para que servem e o que significam.
Os objetos do culto podem ser:
Vasos litúrgicos
Panos litúrgicos
Vestes litúrgicas
Insígnias episcopais
Insígnias papais
Os Vasos Litúrgicos
Eles podem ser:
Consagrados - cálice e patena
Bentos - cibório ou âmbula - ostensório ou custódia
Nem consagrados nem bentos - galhetas - turíbulo e naveta - caldeirinha e hissopo (aspersor) - sininho - e vaso de abluções
O cálice: é o vaso sagrado que se usa para consagrar o Preciosíssimo Sangue, durante a Santa Missa. O cálice só pode ser de metal e deve ter um anel, no meio da haste, para que o padre tenha firmeza ao segurá-lo. Devido à importância do seu uso, o interior do cálice deve receber um banho de ouro sobre o metal. Depois da comunhão, o cálice é purificado com vinho não consagrado, no momento das abluções da Missa.
A patena: o nome vem do latim e significa prato. Ela acompanha sempre o cálice, e serve para receber a Hóstia consagrada durante a Santa Missa. Já no ofertório, o padre a utiliza para oferecer o pão, deixando-a de lado até o Pai Nosso, quando a toma novamente para realizar sobre ela a fração, ou seja, para partir a hóstia e retirar dela o pedacinho que será jogado no cálice. Depois da comunhão o padre deve purificá-la muito bem, ou seja, deixar cair no cálice todas as minúsculas partículas da hóstia, pois em cada uma delas Jesus está presente.
Vasos bentos pelo bispo (mas não consagrados):
O cibório ou âmbula: é um vaso semelhante a um cálice, porém com uma tampa. Nele são conservadas as santas espécies para a comunhão dos fiéis (também chamadas partículas). Devem ser de metal nobre, como o cálice, e também banhados à ouro no interior. Quando está dentro do sacrário, deve ser coberto com um véu. Isso porque as santas reservas sempre são cobertas com um pano precioso, uma seda bordada, um tecido de ouro ou prata. É por esta mesma razão que o sacrário deve sempre ser coberto com o conopeu, véu precioso cuja cor varia de acordo com a cor dos paramentos.
O ostensório ou custódia: Em latim, ostendere significa mostrar. O ostensório serve para expor o Santíssimo Sacramento à adoração pública. Na bênção do Santíssimo, na procissão de Corpus Christi e em outras cerimônias, o padre introduz no centro do ostensório uma luneta, ou seja, um suporte de ouro, às vezes protegido por um cristal, onde se encontra a hóstia consagrada. O ostensório é também de ouro ou banhado à ouro, tendo a forma de um sol resplandecente, no centro do qual brilha o Sol divino, que é nosso Senhor Jesus Cristo, presente na Sagrada Hóstia. Chama-se também de custódia ou teca, um pequeno vaso com o interior banhado à ouro, que serve para levar a comunhão aos doentes. Esta custódia é posta numa bolsa pendurada ao pescoço, de forma que o Santíssimo é levado sobre o coração do sacerdote.
Vemos por estas explicações, o quanto a Igreja honra a presença real de Nosso Senhor, pois que obriga a que todos os vasos destinados a receber a hóstia consagrada ou o Preciosíssimo Sangue, devam ser de metal e de ouro, o mais precioso dos metais, para o maior de todos os Reis. Devemos reprovar com veemência os abusos contra as coisas sagradas, toda a falta de respeito que constatamos nos padres modernos e mesmo na orientação dos bispos de hoje, que já não obrigam a utilização dos vasos sagrados como devem ser. Por isso, aceitam a comunhão na mão (um sacrilégio), a comunhão recebida de pé, sem véu na cabeça, com roupas indecentes. A comunhão é levada aos doentes dentro de sacos plásticos e as hóstias consagradas são guardadas na caixa com hóstias não consagradas, mostrando que no fundo, eles perderam a fé na Presença Real de Jesus na Hóstia.
Vasos nem bentos nem consagrados
as galhetas : Recipientes onde se colocam a água e o vinho que serão usados para a consagração do Preciosíssimo Sangue.
o turíbulo e a naveta: Pequeno fogareiro suspenso por correntes no qual se queima o incenso utilizado nas cerimônias religiosas. O incenso já era utilizado pelos judeus como símbolo da oração que se eleva à Deus com suave odor. Vale a pena reler no missal, no Ofertório da Missa, a bênção e as orações que o padre reza enquanto incensa o altar.
Usa-se também o incenso como gesto de honra às pessoas. Por isso o padre e os fiéis são incensados durante a missa.
A naveta é a caixinha de metal, em forma de nau, onde se guarda o incenso que será utilizado no turíbulo.
a caldeirinha e a hissopo: a caldeirinha é o vaso onde se leva a água benta utilizada nas cerimônias. O hissopo é o bastão que se enche da água benta e com o qual se faz a aspersão. Este nome vem do ramo do hissopo, planta que era utilizada com esta finalidade, na antiguidade.
o vaso de purificação: é o pequeno vaso colocado junto aos castiçais, no altar, onde o padre purifica os dedos ao tocar na hóstia consagrada fora da missa. Por exemplo, quando ele prepara a custódia de levar a comunhão para os doentes, ou quando distribui a comunhão fora da missa.
Os Panos Litúrgicos
Chamamos de panos litúrgicos ou panos de altar alguns panos confeccionados com linho ou cambraia de linho utilizados nas celebrações litúrgicas.
São bentos: Corporal, Pala, Sanguinho ou purificatório, toalhas de altar.
Não são bentos: manustérgio, toalha de comunhão.
Corporal: Pedaço de linho engomado que o celebrante desdobra no altar e sobre o qual são colocados exclusivamente o pão e o vinho que serão consagrados. O corporal é tão importante que deve ser levado e trazido do altar dentro da Bolsa (ver adiante). A goma tem por finalidade não deixar as minúsculas partículas da hóstia consagrada penetrarem na trama do linho. O nome vem do fato de que sobre ele se põe a hóstia consagrada, o Corpo de Cristo (justamente na parte da missa em que não é utilizada a patena).
A pala: antigamente o corporal era bem maior que os de hoje. Sendo assim era fácil dobrar uma de suas pontas sobre o cálice, para impedir que impurezas caíssem dentro dele durante a missa. Não era muito prático. Por isso diminuiu-se o corporal e separou-se dele a pala, que passou a ser um pedaço de linho quadrado, em geral acrescido de algum ornamento e que serve para tampar o cálice.
O sanguinho ou purificatório: é um paninho de linho retangular, dobrado em três, com uma cruz bordada no centro, que o padre posiciona sobre o cálice para o transportar e que serve para enxugar o cálice, os dedos ou os lábios, durante a santa missa.
(estes três panos que precedem devem ser purificados em três águas antes de serem postos para lavar, sendo a água utilizada na purificação jogada diretamente na terra. - com quantos cuidados a Santa Igreja protege a Presença Real de Jesus na Hóstia! E pensar que os progressistas jogaram isso tudo fora!)
Toalhas de altar: São três as toalhas que devem cobrir o altar, sendo que a última deve cair até o chão nas laterais. Todas devem ser de linho e bentas antes de serem usadas. Este número de três serve para que, no caso de se derramar o Preciosíssimo Sangue, este seja absorvido com facilidade.
Manustérgio: é um paninho parecido com o sanguinho, porém sem bênção, tendo uma cruz bordada numa de suas extremidades, e que serve para o padre enxugar os dedos no lavabo da missa.
Toalha de comunhão: é a toalha que cobre a mesa de comunhão, sob a qual os fiéis devem cobrir suas mãos, em sinal de respeito pela Sagrada Hóstia.
Outros Panos Litúrgicos
Há ainda outros panos litúrgicos com diversas utilidades:
Paramentos do cálice: o véu do cálice, que serve para cobri-lo e a bolsa, que serve para transportar o corporal. Os dois seguem a cor litúrgica do dia.
Véu humeral: Longo véu ricamente ornado que é posto sobre os ombros do celebrante para cobrir suas mãos, quando este deve transportar o Santíssimo ou dar a bênção com o Santíssimo. Também o sub-diácono cobre as mãos com ele, na missa solene, para segurar a patena, do Ofertório até o Pai-Nosso (durante o tempo em que o padre não usa a patena).
Conopeu: Véu de pano nobre, com as cores litúrgicas, que serve para cobrir o sacrário sempre que o Santíssimo estiver presente. É um sinal certo da presença de Nosso Senhor no sacrário. Ele deve cobrir completamente o sacrário, apesar de se tolerar que tenha a forma de uma cortina.
As Vestes Litúrgicas
Na época de crise em que vivemos, onde vemos os ministros da Igreja abandonarem as vestes sagradas para copiar os protestantes e até mesmo certos pagãos, na celebração do culto divino, é de muita utilidade compreender a origem e o significado das vestes sacerdotais. Aliás, não somente na celebração litúrgica, mas também na vida privada, os padres modernos resolveram abandonar a batina, com grande prejuízo para eles próprios, para os fiéis e para a Igreja.
Quando houve o concílio Vaticano lI, com a liberação de não usar mais a batina, eles diziam que era para estar mais próximo do povo. Hoje, já não nos enganam: sabemos que para o padre estar bem próximo do povo, como dizem, é preciso que ele se destaque da multidão, que de longe, todos saibam que é um padre, que possam chamá-lo, pedir um conselho, uma bênção, uma extrema-unção para um acidentado, etc. Para isso, é preciso que a roupa do padre mostre claramente que se trata de um ministro de Deus. Sabemos também que a única utilidade para os padres progressistas de abandonarem o uso da batina, é que ficam mais livres para levar uma vida mundana, já que as pessoas em volta não sabem que se trata de um sacerdote.
Na celebração litúrgica, também ocorreu um grande abandono. Os padres deixaram de lado toda a riqueza e a beleza dos paramentos antigos, tão nobres, dignos da celebração do augusto Mistério da Missa, e passaram a celebrar vestidos com uma túnica branca e uma estola, apenas. Sem casula, sem manípulo, sem véu do cálice etc. Tudo aquilo que manifestava o sagrado foi jogado fora. Queriam copiar os protestantes.
Voltemos então nossa atenção para as vestes que os padres, bispos e papas sempre usaram para celebrar a Santa Missa e os demais sacramentos. Conhecê-los é conhecer a Igreja, sua vida, sua história.
Quando o padre vai celebrar a Missa, ele veste uma série de peças que constituem os paramentos sacerdotais. Enquanto o padre se paramenta, na sacristia, ele reza uma oração especial para cada paramento. Esta oração ajuda o padre a se concentrar na celebração solene que está prestes a começar. Cada oração indica o simbolismo das vestes por ele utilizadas.
Vamos descrever aqui como o padre se paramenta e depois daremos a explicação detalhada de cada veste:
Ele joga sobre a cabeça, para depois rebater sobre os ombros, um pano chamado amicto. Depois veste uma túnica branca que vai até os pés, chamada alva. Ele amarra a alva em volta da cintura com o cíngulo. Em seguida pendura no antebraço esquerdo o manípulo, que tem a cor litúrgica do dia. Após este, veste em torno do pescoço a estola. Em seguida a casula. Assim está o padre paramentado para a celebração da Missa.
O amicto: a palavra significa manto, véu, e servia, na sua origem, no século VII, para cobrir o pescoço e para proteger do frio. A oração indica que o padre veste um capacete para se proteger das ciladas do demônio. Os monges ainda hoje usam o amicto como um capuz.
A alva: a palavra significa branca. É uma túnica comprida, chegando até aos pés, como usavam os romanos antigos. Ela significa a inocência com que o sacerdote deve subir ao altar.
O cíngulo: é um cordão que serve para cingir, ou seja, para apertar a cintura. Simboliza a castidade e a pureza de coração que deve animar o sacerdote em toda sua vida.
O manípulo: este pano preso no braço esquerdo, na origem, servia como lenço, para enxugar o suor, e era usado mesmo na vida comum, por todos. Mais tarde foi ornado de enfeites e ganhou as cores litúrgicas. Manípulo significa um feixe de palha que se carrega nas costas. Daí a oração pedir o merecimento de saber suportar as dores desta vida para merecer as alegrias eternas.
A estola: era, na origem, uma veste de adorno feminino, trazendo franjas rendadas e ornadas. Alguns imperadores introduziram seu uso entre os homens. Os eclesiásticos acompanharam o uso. Mais tarde ela reduziu-se às faixas ornadas das franjas, ganhando o aspecto de faixa que conhecemos hoje, usada pelo padre em tomo do pescoço. A estola é usada em forma de cruz, sobre o peito. Já o bispo, que usa a cruz peitoral, não cruza a estola, mas a deixa cair normalmente. A oração compara a estola ao dom da imortalidade, que pede ser restituído na eternidade.
A casula: é um manto amplo que envolve o celebrante, formando como um casulo (casa pequena). Era uma veste comum na Roma antiga, conservada pelos padres para a celebração da missa. Ao longo dos séculos, por comodidade de movimentos, foram diminuindo seu tamanho, chegando a casula à forma recortada que vemos hoje (chamada casula romana). Os modelos amplos que vemos ainda hoje receberam o nome de casula gótica. A casula representa o jugo do Senhor sobre nossos ombros e o padre pede que saiba suportá-lo bem.
Vestes do diácono:
O diácono, principal ajudante do celebrante na missa solene, paramenta-se como o padre, com as seguintes diferenças:
- a estola não é usada cruzada no peito, mas em diagonal, do ombro esquerdo à cintura direita.
- no lugar da casula, o diácono usa a Dalmática, veste originária da Dalmácia, que simboliza na Igreja a alegria de servir a Deus.
Vestes do sub-diácono:
O sub-diácono, ajudante do diácono na missa solene, não usa estola. Além disso, no lugar da casula ou da Dalmática, ele usa a Túnica, que na aparência não difere da Dalmática.
A liturgia Católica segue um ritmo anual, durante o qual todo o mistério da vida de Jesus e de nossa Redenção aparece diante de nós, em cada missa, em cada festa, alimentando nossas almas com os textos extraídos das Sagradas Escrituras, trazendo a cada ano um aspecto novo do mesmo mistério, aprofundando assim nosso conhecimento e nossa fé.
Como a Liturgia celebra o Mistério da Encarnação e o Mistério da Redenção, podemos dividir o ano em duas grandes partes:
Ciclo do Natal - corresponde ao Mistério da Encarnação
Ciclo da Páscoa - corresponde ao Mistério da Redenção
O Ciclo do Natal se divide em três Tempos:
Tempo do Advento : preparação do Natal : 4 semanas penitenciais: cor roxa
Tempo do Natal : celebração do Natal : festa do Natal e da Epifania : cor branca
Tempo depois da Epifania: prolongamento: de 3 a 6 semanas antes da Septuagésima: cor verde
O Ciclo da Páscoa se divide em cinco Tempos:
Tempo da Septuagésima: preparação afastada : 3 semanas já sem o Aleluia: Septuagésima, Sexagésima e Qüinquagésima: cor roxa
Tempo da Quaresma: preparação próxima : 4 semanas penitenciais, começando com o jejum da quarta-feira de cinzas: cor roxa
Tempo da Paixão: preparação imediata : Domingo da Paixão, Domingo de Ramos, Semana Santa
Tempo da Páscoa : festa da Páscoa, cinco domingos depois da Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade : cor branca
Tempo depois de Pentecostes: prolongamento: 24 semanas depois de Pentecostes : simboliza o mistério da Igreja peregrina neste mundo: cor verde.
Depois do último domingo depois de Pentecostes, volta o primeiro domingo do Advento, recomeçando o Ano Litúrgico.
O problema da data da Páscoa
O centro do Ciclo do Natal é a festa do Natal
O centro do Ciclo da Páscoa é a festa da Páscoa.
Ora, se por um lado a festa do Natal é sempre dia 25 de dezembro, por outro lado, a festa da Páscoa muda todo ano. É sempre celebrada num domingo que corresponde a um certo posicionamento da lua. A festa da Páscoa cai sempre entre 21 de março e 25 de abril.
Como antes da Páscoa temos as semanas preparatórias do Tempo da Paixão, da Quaresma e da Septuagésima, todos esses domingos também oscilarão. Se a Páscoa cair muito cedo, empurrará os outros domingos e acontecerá que não haverá domingos suficientes para todos os domingos fixos. Com isso, os últimos domingos depois da Epifania, de cor verde, são ocupados pelos domingos do Tempo da Septuagésima.
Ao mesmo tempo em que este fato empurra o Ciclo da Páscoa em cima do Ciclo do Natal, ele abre um espaço vazio no fim do ano, entre o Tempo depois de Pentecostes e o novo Tempo do Advento. Neste espaço vazio insere-se, então, os domingos que não foram celebrados no início do ano, no Tempo depois da Epifania.
Isso tudo está explicado no Missal dos fiéis.
O que é um sacrifício?
Vimos que o sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, onde o Salvador é, ao mesmo tempo, vítima e sacerdote, é como a fonte de toda a vida litúrgica. Todas as cerimônias litúrgicas podem ser estudadas partindo do sacrifício do Calvário. Devemos, por isso, saber exatamente o que é um sacrifício.
Vamos analisar as palavras:
A raiz que dará origem à palavra sacrifício é, em latim, sacer. Esta raiz tem o sentido de algo que não pode ser tocado. Daí, passou a significar: o que pertence ao mundo do divino.
A língua latina, na época em que era falada, foi dando origem a novas formas desta raiz:
Sacra: as cerimônias do culto divino
Sanctus: algo tornado sagrado e inviolável, santo
Sacramentum: no início, juramento prestado a Deus; depois todo ato religioso; por último: os sete sacramentos.
Sacerdos: aquele que realiza a cerimônia sagrada (sacer + do = fazer. Ver no inglês: to do)
Sacrifícium: o que é oferecido a Deus e torna-se sagrado. Ou o próprio ato de oferecimento.
O estudo das antigas civilizações revela que todos os povos ofereciam sacrifícios a Deus, ou a seus falsos deuses. Em Roma, na África, na Índia, etc. Na Bíblia, o sacrifício aparece logo no início da humanidade:
«Passado muito tempo, aconteceu oferecer Caim, em oblação, ao Senhor, dos frutos da terra. Abel também ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras deles; e o Senhor olhou para Abel e para os seus dons. Não olhou, porém, para Caim nem para seus dons».
Em todos os grandes acontecimentos, os homens ofereciam sacrifícios a Deus:
Noé: Gn 8,20
Abraão: Gn 22,1
Moisés: Ex 29,38 e
Levítico, onde aparece toda a ordenação litúrgica estabelecida por Deus no A.T.
Podemos concluir duas coisas: 1) oferecer sacrifícios num ato religioso é próprio à natureza humana, visto que todos os povos assim o fizeram. 2) Mas Deus ordenou ao seu povo, na Sagrada Escritura, como queria que fosse realizado o sacrifício. Isso significa que, apesar de haver um sentimento religioso natural e comum a todos os homens, Deus revelou um culto mais perfeito, aos hebreus, no Antigo Testamento, e à Igreja Católica, no Novo Testamento.
Ora, toda a tradição católica, desde S. Paulo, S. Pedro, e todos os papas, sempre ensinou que os sacrifícios do Antigo Testamento eram figuras do único sacrifício capaz de agradar a Deus: a morte de Jesus na Cruz, seu próprio Filho oferecido como vítima para o perdão dos nossos pecados.
Os quatro fins do sacrifício
Todo sacrifício tem quatro fins: adoração, ação de graças, impetração e propiciação.
adoração: louvor, submissão a Deus, não apenas mental, interior, mas num ato externo, no oferecimento de alguma coisa a Deus: é o fundamento de todo sacrifício.
ação de graças: agradecimento por tudo que foi recebido de Deus. É o significado da palavra Eucaristia.
impetração: pedidos de novas graças, de novos dons espirituais como materiais. Nada mais natural do que se dirigir a Deus para pedir, como os filhos pedem aos pais.
propiciação: é o fim de aplacar a ira divina, irritado pelos nossos pecados. É a expiação pelas faltas cometidas.
O sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo foi, verdadeiramente, de adoração, de ação de graças, de impetração e de propiciação.
Ele é o sacerdote que oferece o sacrifício:de fato, mesmo tendo sido flagelado e crucificado, Jesus só morreu porque quis morrer, ou seja, quis oferecer o sacrifício de sua própria vida ao Pai. Porque se Ele quisesse, poderia perfeitamente nada sofrer dos golpes recebidos. Como quis, Ele só se oferece em holocausto.
Jesus é também vítima. Não uma vítima qualquer, como eram as ovelhas e outros animais no A.T. – Jesus é a vítima perfeita, sem mancha, inocente e voluntária. Vítima consciente do ato que Ele próprio realiza, oferecendo não apenas seu corpo, como no caso dos animais, mas também sua alma, flagelada, sofrida até a agonia, recebendo sobre si o peso infinito de todos os nossos pecados.
E esta vítima se oferece, ao mesmo tempo livre e mergulhada na mais profunda obediência, na Caridade perfeita.
O Sacrifício Litúrgico
Esta Caridade de Jesus, morrendo por amor do Pai e nosso, nos atrai irresistivelmente e nos leva direto para o Coração divino de Jesus. Lá nós estamos unidos ao seu Sacrifício, à sua morte na Cruz, lá nós comungamos com Ele, ou seja, somos feitos um com Cristo.
Mas esta unidade mística, sobrenatural, necessita de uma manifestação exterior, sensível.
É a Santa Liturgia que realiza isso. Pelos Sacramentos, principalmente pela Santa Missa, a Igreja tem o poder de realizar o mesmo sacrifício da Cruz, realizar esta comunhão das almas com seu chefe que é Nosso Senhor. Ela o realiza não apenas de um modo espiritual e invisível (pela graça), mas também pelas cerimônias do culto, atos externos, sensíveis, visíveis que manifestam claramente a graça invisível. Basta se lembrar que cada sacramento possui uma graça sacramental própria, além da forma e da matéria que constituem o lado visível do sacramento.
A Missa é um verdadeiro sacrifício. Qual? O sacrifício oferecido por Jesus Cristo, sacerdote eterno, ao morrer na Cruz sobre o monte Calvário, há cerca de dois mil anos. Jesus não morre mais, Ele venceu a morte para sempre. Por isso a Missa não pode ser um novo sacrifício, mas o mesmo.
Mas a Missa é também um sacramento. Isto significa que aquele único e mesmo sacrifício do Calvário nos é apresentado sob a forma de sinais sensíveis (a consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor) apropriados para atravessar todos os séculos da existência da Igreja.
Tenhamos então todo interesse em aprender, em rezar, em viver da Santa Liturgia; em comungar intimamente com este Mistério inefável: o Sacrifício de Jesus presente na nossa vida, no nosso coração, abrindo as portas do céu para o perdão dos nossos pecados e para a vida eterna.
O Santo Sacrifício da Missa
Quando estudamos todas as partes do Sacrifício da Missa, constatamos que, de fato, o rito litúrgico é um verdadeiro sacrifício. De um modo maravilhoso a Igreja soube realizar um sacramento, ou seja, realizar por sinais sagrados o dramático acontecimento do Calvário, trazendo até nós toda a realidade da morte redentora de Cristo, porém sem a chocante imagem de Nosso Senhor morto diante de nós.
Esta visão de Jesus pendurado na Cruz, de Nossa Senhora de pé, ao seu lado, sofrendo o martírio de ver seu Filho naquele estado, seria para nós uma graça infinita. Mas nossa fraqueza não nos permite assistir a isso todos os domingos. Nós acabaríamos tendo medo de ir à Missa! Além disso, a Missa é o mistério da morte de Cristo, sim; mas da Paixão unida à Ressurreição. Um sacrifício que termina na vitória. Se, em cada Missa, víssemos Jesus morto na Cruz, poderíamos pensar que tudo terminou na morte.
Assim, cheio de amor por seus filhos, Nosso Senhor realiza a Missa através das espécies do pão e do vinho. Agora sim, podemos viver deste Santo Sacrifício, podemos receber o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus sem medo, sem drama, sem temores, pois Ele se fez alimento para nós, Ele saciou nossa sede com seu Sangue escondido sob as espécies do vinho.
Quando estudamos o Sacramento da Eucaristia, vimos como Jesus instituiu a Santa Missa na última Ceia. Naquela ocasião, Ele modificou um rito já existente, a Páscoa dos judeus, introduzindo nele a consagração do pão e do vinho no seu Corpo e no seu Sangue, e dando a seus Apóstolos a Sagrada Comunhão.
No curso de Liturgia, o que nos interessa nessa primeira missa, é ver que Jesus celebra a Missa com o rito das partes essenciais da missa que até hoje assistimos: ofertório - consagração - comunhão.
É claro que as partes essenciais da Missa foram instituídas por Jesus:
matéria:
pão e vinho
forma:
Isto é o meu corpo (consagração do pão)
Este é o cálice do meu Sangue; Sangue da nova e eterna aliança; mistério da fé; que será derramado por vós e por muitos para o perdão dos pecados (consagração do vinho)
Mas Jesus não celebrou a Missa do mesmo modo que hoje a celebramos. A partir dos Apóstolos e ao longo dos séculos, a Igreja, com a autoridade recebida do próprio Jesus, estabeleceu todas as orações e ritos complementares, até que São Pio V, em 1570, definiu como não podendo mais ser modificado o rito da Missa. Na verdade, o Cânon da missa de S. Pio V já era assim celebrado no tempo do Papa São Gregório Magno, ou seja, no início do século VII, quase mil anos antes de São Pio V. As outras partes da Missa de S. Pio V já estavam praticamente definidas no século XIII (1200 a 1299).
A Santa Liturgia
A Doutrina Católica, revelada por Deus através dos Profetas (Antigo Testamento), através do próprio Jesus Cristo (Novo Testamento), e transmitida de geração a geração pela autoridade divina da Igreja Católica é composta de uma série de elementos, uns ligados aos outros, que formam uma unidade, um conjunto homogêneo. Já estudamos dois destes elementos:
A parte doutrinária, ou seja, as verdades da Fé, resumidas no Credo.
A parte moral, que nos ensina como devemos agir para não ferir esta verdade de Fé.
Precisamos agora estudar um terceiro elemento deste belo conjunto que é uma espécie de volta para Deus. Seria algo como aparece no esquema abaixo:
Vem de Deus a Revelação da doutrina (ou dogma) e da moral. Os homens recebem esta Revelação e vivem aqui na terra a vida de Fé, decorrente da doutrina e a vida de Caridade, decorrente da moral. Esta Fé, unida à Esperança (não pus no esquema para não complicar) e à Caridade, levam o homem a rezar e a participar do culto oficial da Igreja. Estas duas formas de oração são como uma volta a Deus, um retorno dos filhos ao Pai, ao Criador, antes mesmo de chegarmos na vida eterna.
A vida de oração é a vida íntima da alma no seu relacionamento com Deus. O amor que a alma tem para com Deus, em reconhecimento por todos os bens Dele recebidos, manifesta-se na perseverança com que a alma reza, na atenção que emprega durante a Santa Missa, no interesse que manifesta pelas leituras santas, pelo estudo da doutrina e, principalmente, pelo vigor com que evita ofender a tão bom Pai. Nossas orações particulares, oração da manhã, oração da noite, o santo Terço de Nossa Senhora, o escapulário etc. brotam do fundo da alma e elevam-se para Deus.
Porém, a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo com sua morte na Cruz é uma organização viva, um Corpo Místico de Cristo, composto pelo seu Chefe, sua Cabeça, o próprio Cristo, pela alma incriada que é o Espírito Santo (logo a Igreja é Divina) e pelos membros que somos nós, os batizados que vivem na terra (Igreja militante), as almas do purgatório (Igreja padecente) e pelos santos e anjos do céu (Igreja triunfante).
Este Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica, tem também sua oração própria. Toda ela presta um culto a Deus, cada membro participa deste culto ao seu modo, no céu, o mais perfeito, a adoração contínua e total da Santíssima Trindade; no purgatório as almas que sofrem a purificação final antes de ingressar no céu, oferecem esta pena e cantam a esperança do alívio. Aqui na terra, a Igreja oferece continuamente o Santo Sacrifício da Missa, os Sacramentos e as orações oficiais contidas no Breviário e nos demais livros litúrgicos.
Este culto oficial e público, oferecido pela Igreja na terra, é o que chamamos a Liturgia.
Vamos ser mais precisos: o que é a Liturgia?
- É o conjunto de objetos, fórmulas e atos
- oferecidos num culto público, em nome da Igreja, por pessoas consagradas
- segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja
- para a glória de Deus e salvação das almas.
Para compreendermos bem o que é a Liturgia, é necessário conhecer melhor algumas destas noções:
Culto: é tudo aquilo que é oferecido a Deus numa cerimônia, num rito. Assim, no Batismo, por exemplo, encontramos um culto onde a alma da criança é oferecida pelo ministro do Sacramento a Deus, para que lhe seja apagado o pecado original e ela se torne filha de Deus; na Santa Missa, é oferecido o pão e o vinho, mais ainda, é o próprio Jesus Cristo que se oferece sobre o Altar, ao Pai, como se ofereceu um dia sobre a Cruz. Também as orações, os salmos, os cânticos, os gestos, tudo é oferecido a Deus num culto de louvor. E isso para qualquer Sacramento, bênção, realizadas na Igreja.
Culto público: a Liturgia é assim chamada porque difere de um culto privado. O Terço que rezamos em nossas casas, por exemplo, é um culto privado, particular, daquela alma que reza naquele momento. Muitas graças nos são dadas pelos nossos cultos particulares e devemos sempre oferecer a Deus estas orações, mas não é a Liturgia, pois esta é um culto público, realizado em nome da Igreja.
Por pessoas consagradas: a Liturgia exige a presença de sacerdotes. São eles que receberam o caráter sacerdotal, no Sacramento da Ordem, que lhes confere o poder de realizar oficialmente o culto público da Igreja. Os fiéis que assistem às cerimônias litúrgicas não realizam o culto do mesmo modo que o sacerdote, pela simples razão que não possuem o caráter sacerdotal conferido pelo Sacramento da Ordem. Mas eles possuem os caracteres sacramentais do Batismo e da Crisma, que os tornam Filhos de Deus e Soldados de Cristo. Por isso, os fiéis fazem parte do culto, oferecem o culto, o Sacrifício do Altar, por exemplo, na Missa, mas não como sacerdotes e sim como fiéis, como cristãos, participantes ativos do tesouro que a Igreja nos descobre todos os dias. Por esta razão, na Santa Missa, em diversas passagens, os fiéis são associados ao padre, no oferecimento do Sacrifício do Altar: na gota d’água que é derramada dentro do cálice, no Ofertório, onde estão representados todos os fiéis; no Orate Fratres, onde está dito: «que o meu e vosso sacrifício»; no Nobis quoque peccatoribus (no plural) etc. Essa participação dos fiéis no oferecimento do culto, dá a cada um a obrigação de conhecer o rito dos Sacramentos, principalmente o da Santa Missa. Responder, levantar-se, ajoelhar-se, fazer a genuflexão, confessar-se com regularidade e rezar com devoção as orações do missal.
Segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja: Na Cruz, Jesus se oferece ao Pai, num sacrifício cruento, pagando assim os nossos pecados. Este ato, que é a própria; essência da missão que Jesus recebeu do Pai, faz Dele o Sumo Sacerdote. O termo “sacerdócio de Cristo” passa a designar a fonte, a origem, a causa de todo sacerdócio. Na Cruz, Jesus é padre e vítima: Ele oferece e Ele é oferecido; Ele sacrifica e Ele morre. Toda a Liturgia da Igreja nasce do Sacerdócio de Cristo. Os padres são apenas participantes, pelo caráter sacerdotal, deste sacerdócio de Cristo. É por esta razão que, ao realizar um Sacramento, não é o padre quem dá a sua eficácia: quem realiza o Sacramento é o próprio Cristo. Daí vem a graça sacramental (que estudamos nos Sacramentos), da vida de Nosso Senhor que reina do céu sobre todos nós.
A Igreja, recebendo a autoridade divina de Jesus, tem como missão ordenar o culto, ou seja, estabelecer suas regras, autorizar seus costumes, defender sua Tradição. Por isso é um erro querer repelir tudo aquilo que os antigos fizeram e que foi perpetuado pela Tradição divina da Igreja. A Tradição é a garantia que temos de que aquele rito é conforme à doutrina de Cristo e à vontade de Deus.
Quando os progressistas modificaram todos os ritos da Liturgia, abandonaram tudo o que a Santa Tradição nos havia legado; no lugar dos ritos santos, inventaram novos, e foram pedir aos protestantes que os ajudassem a compor novos ritos, como o da Missa nova. Por isso devemos recusar esta missa, e todos os ritos novos que eles inventaram. Este culto não é o culto tradicional da Igreja, porisso só pode estar cheio de erros e de falsas idéias.
Para a glória de Deus e salvação das almas: Esta é a finalidade primeira da Liturgia. Devemos a Deus este culto, por ser Ele nosso Deus, nosso Senhor, nosso Criador e porque Ele nos livrou do fogo do inferno morrendo na Cruz por nós, merecendo por nós, já que não tínhamos como merecer sozinhos, o nosso perdão. Por isso louvaremos eternamente a Deus, cantaremos a sua glória, elevaremos nossas almas cheias de amor e de gratidão ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a esta Trindade Santa que é um único e soberano Deus. Não há nada que agrade mais a Deus e que lhe dê maior glória do que o culto que Ele mesmo instituiu para seus filhos, principalmente a Santa Missa, que é o sacrifício de seu Filho Unigênito.
Ao mesmo tempo, toda a vida litúrgica abre para os homens de boa vontade um tesouro insondável,um reino misterioso e luminoso, cheio de luzes e de consolações, que nos invade com uma paz duradoura no meio dos maiores tormentos que a vida nos traz. Pela liturgia as almas descobrem o espírito de oração, a sacralidade de cada gesto, de cada objeto, o respeito cheio de graça, de beleza e de bondade que nos dá a proximidade de Deus e de sua Igreja, nossa Mãe. Na liturgia encontramos todos os instrumentos necessários para a nossa salvação, através dos sacramentos e das orações que a Igreja perpetua a Deus. Nela vivemos a vida de virtudes e de dons que aprendemos na moral, pelo exemplo de Jesus Cristo, pelas graças que recebemos de Nossa Senhora e pelo exemplo dos santos a quem tributamos um culto especial, por estarem eles muito perto de Deus, capazes de interceder e pedir por nós.
Antes mesmo de considerar que a Liturgia nos faz viver dentro destes instrumentos de salvação, podemos também verificar que todo o catecismo, estudado ao longo de todos esses anos, estará presente diante de nós, cada vez que estivermos na igreja, elevando nossas almas a Deus, num culto de ação de graças a Deus.
A Liturgia, adoração da Santíssima Trindade
Aprendemos que Deus é uno em três Pessoas, que o Mistério da Santíssima Trindade é o principal mistério de nossa Fé. É pois, justamente a Deus Trino que será dirigida toda a oração litúrgica. E do mesmo modo que o Pai não é gerado por ninguém, Ele é, de certo modo, primeiro entre as três Pessoas divinas. Por isso, todo o culto litúrgico eleva-se, em primeiro lugar, ao Pai, chamado muitas vezes de “Deus onipotente”. Em seguida, o Filho é glorificado, devido à sua missão de se encarnar e de morrer na Cruz por nós. Igualmente, o Espírito Santo é homenageado em Pentecostes, Ele que procede do Pai e do Filho. Mas a Santa Igreja nunca separa completamente as três Pessoas, para que não se pense que existem três deuses. Ao louvar o Pai, ela louva também o Filho e o Espírito Santo; ao louvar o Filho, ela glorifica as duas outras Pessoas, etc.
Isso aparece de modo especial nas orações da missa, que se dirigem quase sempre ao Pai, pedem pelos méritos do Filho na unidade do Espírito Santo. Vamos dar alguns exemplos: peguem o missal e procurem qualquer coleta, por exemplo, a da festa do Sagrado Coração de Jesus (pag. 601); a do XIIIº domingo depois de Pentecostes (649) ou outra qualquer.
Toda a missa é um canto de louvor à Santíssima Trindade. Começando pelo sinal da Cruz, no início da missa, passando pelo Kyrie, repetido três vezes em honra das três Pessoas, pelo próprio Credo, nas orações do Ofertório ou do Cânon, enfim, em toda a missa, em todo rito sacramental, a presença da Santíssima Trindade é marcante.
A Liturgia, sacerdócio de Cristo
Outro grande mistério da nossa fé que aparece claramente na Sagrada Liturgia é o Mistério da Encarnação: O Verbo Eterno de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assume uma natureza humana para nascer da Virgem Maria, sofrer e morrer na Cruz, nos redimindo dos nossos pecados.
Ora, o ato de sacrifício realizado por Cristo no madeiro da Cruz e no altar da primeira Missa, que Ele próprio instituiu na última ceia (quinta-feira santa), é o primeiro ato litúrgico da Nova Aliança, da Igreja Católica. Esta liturgia realizada por Nosso Senhor, tem algo de muito particular: o sacerdote é a própria vítima - o que realiza o sacrifício é o mesmo que morre nele. Este ato de sublime oração que o Filho Encarnado oferece ao Pai aplaca a ira de Deus contra os pecados dos homens.
Mais tarde, Jesus deixará ao encargo dos seus Apóstolos a missão de manter sempre vivo este sacrifício da Cruz, na Liturgia da Igreja Católica, não somente na Santa Missa, mas também em todos os outros Sacramentos e orações oficiais da Igreja.
A Liturgia, ofício da hierarquia católica
Cabe aos representantes de Jesus Cristo sobre a terra, realizar o culto de adoração que Jesus oferece ao Pai por toda a eternidade. Cabe ao Papa, sucessor de São Pedro, presidir a esta hierarquia sagrada, como nos ensina o Evangelho de S. João, cap.21,15: “Apascenta as minhas ovelhas...” Como sucessores dos Apóstolos, os bispos, em suas dioceses, possuem autoridade divina para governar, santificar e ensinar suas ovelhas, sempre na obediência a tudo o que a Igreja ensinou e ensina, ou seja à Tradição católica.
A Liturgia não pode mudar
Como a Liturgia é a expressão viva do dogma da Fé, os sucessores de Pedro ou dos Apóstolos, não podem modifica-la, pois correm o sério risco de modificar também a doutrina correspondente, como aconteceu quando o Papa Paulo VI, quis inventar um novo rito da missa e, junto com ele, introduziu muitos erros de doutrina que contrariam a Fé, os quais um católico não pode aceitar.
A Igreja estabeleceu um princípio que esclarece muito bem esta relação entre a Fé e a Liturgia: diz este princípio: Lex orandi, lex credendi.
O que quer dizer isto?
A tradução é a seguinte: tal a lei da oração tal a lei da crença
Ou seja: a regra litúrgica (oração) é expressão viva da regra da fé (as coisas em que acreditamos). Isto quer dizer que uma liturgia que é modificada passa a exprimir uma fé diferente. Mas nós sabemos que a Fé é imutável, nunca pode mudar, pois é uma virtude divina que nos faz conhecer tudo o que Deus revela de si mesmo, o que, evidentemente não pode mudar.
Assim, tenhamos a firme convicção, baseada em nossa Fé íntegra e imutável, que a Santa Liturgia, expressão desta Fé Sagrada, deve permanecer sempre a mesma, na sua beleza doutrinária, no seu canto sagrado, na sua língua própria, que é o latim, justamente para evitar que as verdades da Fé sofram com as variações que ocorrem nas línguas nacionais. Em suma, a Liturgia é Divina e o homem não pode ousar tocá-la, sem que o castigo de Deus caia sobre ele.