A Santa Liturgia
A Doutrina Católica, revelada por Deus através dos Profetas (Antigo Testamento), através do próprio Jesus Cristo (Novo Testamento), e transmitida de geração a geração pela autoridade divina da Igreja Católica é composta de uma série de elementos, uns ligados aos outros, que formam uma unidade, um conjunto homogêneo. Já estudamos dois destes elementos:
A parte doutrinária, ou seja, as verdades da Fé, resumidas no Credo.
A parte moral, que nos ensina como devemos agir para não ferir esta verdade de Fé.
Precisamos agora estudar um terceiro elemento deste belo conjunto que é uma espécie de volta para Deus. Seria algo como aparece no esquema abaixo:
Vem de Deus a Revelação da doutrina (ou dogma) e da moral. Os homens recebem esta Revelação e vivem aqui na terra a vida de Fé, decorrente da doutrina e a vida de Caridade, decorrente da moral. Esta Fé, unida à Esperança (não pus no esquema para não complicar) e à Caridade, levam o homem a rezar e a participar do culto oficial da Igreja. Estas duas formas de oração são como uma volta a Deus, um retorno dos filhos ao Pai, ao Criador, antes mesmo de chegarmos na vida eterna.
A vida de oração é a vida íntima da alma no seu relacionamento com Deus. O amor que a alma tem para com Deus, em reconhecimento por todos os bens Dele recebidos, manifesta-se na perseverança com que a alma reza, na atenção que emprega durante a Santa Missa, no interesse que manifesta pelas leituras santas, pelo estudo da doutrina e, principalmente, pelo vigor com que evita ofender a tão bom Pai. Nossas orações particulares, oração da manhã, oração da noite, o santo Terço de Nossa Senhora, o escapulário etc. brotam do fundo da alma e elevam-se para Deus.
Porém, a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo com sua morte na Cruz é uma organização viva, um Corpo Místico de Cristo, composto pelo seu Chefe, sua Cabeça, o próprio Cristo, pela alma incriada que é o Espírito Santo (logo a Igreja é Divina) e pelos membros que somos nós, os batizados que vivem na terra (Igreja militante), as almas do purgatório (Igreja padecente) e pelos santos e anjos do céu (Igreja triunfante).
Este Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica, tem também sua oração própria. Toda ela presta um culto a Deus, cada membro participa deste culto ao seu modo, no céu, o mais perfeito, a adoração contínua e total da Santíssima Trindade; no purgatório as almas que sofrem a purificação final antes de ingressar no céu, oferecem esta pena e cantam a esperança do alívio. Aqui na terra, a Igreja oferece continuamente o Santo Sacrifício da Missa, os Sacramentos e as orações oficiais contidas no Breviário e nos demais livros litúrgicos.
Este culto oficial e público, oferecido pela Igreja na terra, é o que chamamos a Liturgia.
Vamos ser mais precisos: o que é a Liturgia?
- É o conjunto de objetos, fórmulas e atos
- oferecidos num culto público, em nome da Igreja, por pessoas consagradas
- segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja
- para a glória de Deus e salvação das almas.
Para compreendermos bem o que é a Liturgia, é necessário conhecer melhor algumas destas noções:
Culto: é tudo aquilo que é oferecido a Deus numa cerimônia, num rito. Assim, no Batismo, por exemplo, encontramos um culto onde a alma da criança é oferecida pelo ministro do Sacramento a Deus, para que lhe seja apagado o pecado original e ela se torne filha de Deus; na Santa Missa, é oferecido o pão e o vinho, mais ainda, é o próprio Jesus Cristo que se oferece sobre o Altar, ao Pai, como se ofereceu um dia sobre a Cruz. Também as orações, os salmos, os cânticos, os gestos, tudo é oferecido a Deus num culto de louvor. E isso para qualquer Sacramento, bênção, realizadas na Igreja.
Culto público: a Liturgia é assim chamada porque difere de um culto privado. O Terço que rezamos em nossas casas, por exemplo, é um culto privado, particular, daquela alma que reza naquele momento. Muitas graças nos são dadas pelos nossos cultos particulares e devemos sempre oferecer a Deus estas orações, mas não é a Liturgia, pois esta é um culto público, realizado em nome da Igreja.
Por pessoas consagradas: a Liturgia exige a presença de sacerdotes. São eles que receberam o caráter sacerdotal, no Sacramento da Ordem, que lhes confere o poder de realizar oficialmente o culto público da Igreja. Os fiéis que assistem às cerimônias litúrgicas não realizam o culto do mesmo modo que o sacerdote, pela simples razão que não possuem o caráter sacerdotal conferido pelo Sacramento da Ordem. Mas eles possuem os caracteres sacramentais do Batismo e da Crisma, que os tornam Filhos de Deus e Soldados de Cristo. Por isso, os fiéis fazem parte do culto, oferecem o culto, o Sacrifício do Altar, por exemplo, na Missa, mas não como sacerdotes e sim como fiéis, como cristãos, participantes ativos do tesouro que a Igreja nos descobre todos os dias. Por esta razão, na Santa Missa, em diversas passagens, os fiéis são associados ao padre, no oferecimento do Sacrifício do Altar: na gota d’água que é derramada dentro do cálice, no Ofertório, onde estão representados todos os fiéis; no Orate Fratres, onde está dito: «que o meu e vosso sacrifício»; no Nobis quoque peccatoribus (no plural) etc. Essa participação dos fiéis no oferecimento do culto, dá a cada um a obrigação de conhecer o rito dos Sacramentos, principalmente o da Santa Missa. Responder, levantar-se, ajoelhar-se, fazer a genuflexão, confessar-se com regularidade e rezar com devoção as orações do missal.
Segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja: Na Cruz, Jesus se oferece ao Pai, num sacrifício cruento, pagando assim os nossos pecados. Este ato, que é a própria; essência da missão que Jesus recebeu do Pai, faz Dele o Sumo Sacerdote. O termo “sacerdócio de Cristo” passa a designar a fonte, a origem, a causa de todo sacerdócio. Na Cruz, Jesus é padre e vítima: Ele oferece e Ele é oferecido; Ele sacrifica e Ele morre. Toda a Liturgia da Igreja nasce do Sacerdócio de Cristo. Os padres são apenas participantes, pelo caráter sacerdotal, deste sacerdócio de Cristo. É por esta razão que, ao realizar um Sacramento, não é o padre quem dá a sua eficácia: quem realiza o Sacramento é o próprio Cristo. Daí vem a graça sacramental (que estudamos nos Sacramentos), da vida de Nosso Senhor que reina do céu sobre todos nós.
A Igreja, recebendo a autoridade divina de Jesus, tem como missão ordenar o culto, ou seja, estabelecer suas regras, autorizar seus costumes, defender sua Tradição. Por isso é um erro querer repelir tudo aquilo que os antigos fizeram e que foi perpetuado pela Tradição divina da Igreja. A Tradição é a garantia que temos de que aquele rito é conforme à doutrina de Cristo e à vontade de Deus.
Quando os progressistas modificaram todos os ritos da Liturgia, abandonaram tudo o que a Santa Tradição nos havia legado; no lugar dos ritos santos, inventaram novos, e foram pedir aos protestantes que os ajudassem a compor novos ritos, como o da Missa nova. Por isso devemos recusar esta missa, e todos os ritos novos que eles inventaram. Este culto não é o culto tradicional da Igreja, porisso só pode estar cheio de erros e de falsas idéias.
Para a glória de Deus e salvação das almas: Esta é a finalidade primeira da Liturgia. Devemos a Deus este culto, por ser Ele nosso Deus, nosso Senhor, nosso Criador e porque Ele nos livrou do fogo do inferno morrendo na Cruz por nós, merecendo por nós, já que não tínhamos como merecer sozinhos, o nosso perdão. Por isso louvaremos eternamente a Deus, cantaremos a sua glória, elevaremos nossas almas cheias de amor e de gratidão ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a esta Trindade Santa que é um único e soberano Deus. Não há nada que agrade mais a Deus e que lhe dê maior glória do que o culto que Ele mesmo instituiu para seus filhos, principalmente a Santa Missa, que é o sacrifício de seu Filho Unigênito.
Ao mesmo tempo, toda a vida litúrgica abre para os homens de boa vontade um tesouro insondável,um reino misterioso e luminoso, cheio de luzes e de consolações, que nos invade com uma paz duradoura no meio dos maiores tormentos que a vida nos traz. Pela liturgia as almas descobrem o espírito de oração, a sacralidade de cada gesto, de cada objeto, o respeito cheio de graça, de beleza e de bondade que nos dá a proximidade de Deus e de sua Igreja, nossa Mãe. Na liturgia encontramos todos os instrumentos necessários para a nossa salvação, através dos sacramentos e das orações que a Igreja perpetua a Deus. Nela vivemos a vida de virtudes e de dons que aprendemos na moral, pelo exemplo de Jesus Cristo, pelas graças que recebemos de Nossa Senhora e pelo exemplo dos santos a quem tributamos um culto especial, por estarem eles muito perto de Deus, capazes de interceder e pedir por nós.
Antes mesmo de considerar que a Liturgia nos faz viver dentro destes instrumentos de salvação, podemos também verificar que todo o catecismo, estudado ao longo de todos esses anos, estará presente diante de nós, cada vez que estivermos na igreja, elevando nossas almas a Deus, num culto de ação de graças a Deus.
A Liturgia, adoração da Santíssima Trindade
Aprendemos que Deus é uno em três Pessoas, que o Mistério da Santíssima Trindade é o principal mistério de nossa Fé. É pois, justamente a Deus Trino que será dirigida toda a oração litúrgica. E do mesmo modo que o Pai não é gerado por ninguém, Ele é, de certo modo, primeiro entre as três Pessoas divinas. Por isso, todo o culto litúrgico eleva-se, em primeiro lugar, ao Pai, chamado muitas vezes de “Deus onipotente”. Em seguida, o Filho é glorificado, devido à sua missão de se encarnar e de morrer na Cruz por nós. Igualmente, o Espírito Santo é homenageado em Pentecostes, Ele que procede do Pai e do Filho. Mas a Santa Igreja nunca separa completamente as três Pessoas, para que não se pense que existem três deuses. Ao louvar o Pai, ela louva também o Filho e o Espírito Santo; ao louvar o Filho, ela glorifica as duas outras Pessoas, etc.
Isso aparece de modo especial nas orações da missa, que se dirigem quase sempre ao Pai, pedem pelos méritos do Filho na unidade do Espírito Santo. Vamos dar alguns exemplos: peguem o missal e procurem qualquer coleta, por exemplo, a da festa do Sagrado Coração de Jesus (pag. 601); a do XIIIº domingo depois de Pentecostes (649) ou outra qualquer.
Toda a missa é um canto de louvor à Santíssima Trindade. Começando pelo sinal da Cruz, no início da missa, passando pelo Kyrie, repetido três vezes em honra das três Pessoas, pelo próprio Credo, nas orações do Ofertório ou do Cânon, enfim, em toda a missa, em todo rito sacramental, a presença da Santíssima Trindade é marcante.
A Liturgia, sacerdócio de Cristo
Outro grande mistério da nossa fé que aparece claramente na Sagrada Liturgia é o Mistério da Encarnação: O Verbo Eterno de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assume uma natureza humana para nascer da Virgem Maria, sofrer e morrer na Cruz, nos redimindo dos nossos pecados.
Ora, o ato de sacrifício realizado por Cristo no madeiro da Cruz e no altar da primeira Missa, que Ele próprio instituiu na última ceia (quinta-feira santa), é o primeiro ato litúrgico da Nova Aliança, da Igreja Católica. Esta liturgia realizada por Nosso Senhor, tem algo de muito particular: o sacerdote é a própria vítima - o que realiza o sacrifício é o mesmo que morre nele. Este ato de sublime oração que o Filho Encarnado oferece ao Pai aplaca a ira de Deus contra os pecados dos homens.
Mais tarde, Jesus deixará ao encargo dos seus Apóstolos a missão de manter sempre vivo este sacrifício da Cruz, na Liturgia da Igreja Católica, não somente na Santa Missa, mas também em todos os outros Sacramentos e orações oficiais da Igreja.
A Liturgia, ofício da hierarquia católica
Cabe aos representantes de Jesus Cristo sobre a terra, realizar o culto de adoração que Jesus oferece ao Pai por toda a eternidade. Cabe ao Papa, sucessor de São Pedro, presidir a esta hierarquia sagrada, como nos ensina o Evangelho de S. João, cap.21,15: “Apascenta as minhas ovelhas...” Como sucessores dos Apóstolos, os bispos, em suas dioceses, possuem autoridade divina para governar, santificar e ensinar suas ovelhas, sempre na obediência a tudo o que a Igreja ensinou e ensina, ou seja à Tradição católica.
A Liturgia não pode mudar
Como a Liturgia é a expressão viva do dogma da Fé, os sucessores de Pedro ou dos Apóstolos, não podem modifica-la, pois correm o sério risco de modificar também a doutrina correspondente, como aconteceu quando o Papa Paulo VI, quis inventar um novo rito da missa e, junto com ele, introduziu muitos erros de doutrina que contrariam a Fé, os quais um católico não pode aceitar.
A Igreja estabeleceu um princípio que esclarece muito bem esta relação entre a Fé e a Liturgia: diz este princípio: Lex orandi, lex credendi.
O que quer dizer isto?
A tradução é a seguinte: tal a lei da oração tal a lei da crença
Ou seja: a regra litúrgica (oração) é expressão viva da regra da fé (as coisas em que acreditamos). Isto quer dizer que uma liturgia que é modificada passa a exprimir uma fé diferente. Mas nós sabemos que a Fé é imutável, nunca pode mudar, pois é uma virtude divina que nos faz conhecer tudo o que Deus revela de si mesmo, o que, evidentemente não pode mudar.
Assim, tenhamos a firme convicção, baseada em nossa Fé íntegra e imutável, que a Santa Liturgia, expressão desta Fé Sagrada, deve permanecer sempre a mesma, na sua beleza doutrinária, no seu canto sagrado, na sua língua própria, que é o latim, justamente para evitar que as verdades da Fé sofram com as variações que ocorrem nas línguas nacionais. Em suma, a Liturgia é Divina e o homem não pode ousar tocá-la, sem que o castigo de Deus caia sobre ele.