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O Santo Sacrifício da Missa

O que é um sacrifício?
 
Vimos que o sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, onde o Salvador é, ao mesmo tempo, vítima e sacerdote, é como a fonte de toda a vida litúrgica. Todas as cerimônias litúrgicas podem ser estudadas partindo do sacrifício do Calvário. Devemos, por isso, saber exatamente o que é um sacrifício.
 
Vamos analisar as palavras:
 
A raiz que dará origem à palavra sacrifício é, em latim, sacer. Esta raiz tem o sentido de algo que não pode ser tocado. Daí, passou a significar: o que pertence ao mundo do divino.
 
A língua latina, na época em que era falada, foi dando origem a novas formas desta raiz:
 
Sacra: as cerimônias do culto divino
Sanctus: algo tornado sagrado e inviolável, santo
Sacramentum: no início, juramento prestado a Deus; depois todo ato religioso; por último: os sete sacramentos.
Sacerdos: aquele que realiza a cerimônia sagrada (sacer + do = fazer. Ver no inglês: to do)
Sacrifícium: o que é oferecido a Deus e torna-se sagrado. Ou o próprio ato de oferecimento.
 
O estudo das antigas civilizações revela que todos os povos ofereciam sacrifícios a Deus, ou a seus falsos deuses. Em Roma, na África, na Índia, etc. Na Bíblia, o sacrifício aparece logo no início da humanidade:
 
«Passado muito tempo, aconteceu oferecer Caim, em oblação, ao Senhor, dos frutos da terra. Abel também ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras deles; e o Senhor olhou para Abel e para os seus dons. Não olhou, porém, para Caim nem para seus dons».
 
Em todos os grandes acontecimentos, os homens ofereciam sacrifícios a Deus:
Noé: Gn 8,20
Abraão: Gn 22,1
Moisés: Ex 29,38 e
Levítico, onde aparece toda a ordenação litúrgica estabelecida por Deus no A.T.
 
Podemos concluir duas coisas: 1) oferecer sacrifícios num ato religioso é próprio à natureza humana, visto que todos os povos assim o fizeram. 2) Mas Deus ordenou ao seu povo, na Sagrada Escritura, como queria que fosse realizado o sacrifício. Isso significa que, apesar de haver um sentimento religioso natural e comum a todos os homens, Deus revelou um culto mais perfeito, aos hebreus, no Antigo Testamento, e à Igreja Católica, no Novo Testamento.
 
Ora, toda a tradição católica, desde S. Paulo, S. Pedro, e todos os papas, sempre ensinou que os sacrifícios do Antigo Testamento eram figuras do único sacrifício capaz de agradar a Deus: a morte de Jesus na Cruz, seu próprio Filho oferecido como vítima para o perdão dos nossos pecados.
 
Os quatro fins do sacrifício
 
Todo sacrifício tem quatro fins: adoração, ação de graças, impetração e propiciação.
 
adoração: louvor, submissão a Deus, não apenas mental, interior, mas num ato externo, no oferecimento de alguma coisa a Deus: é o fundamento de todo sacrifício.
 
ação de graças: agradecimento por tudo que foi recebido de Deus. É o significado da palavra Eucaristia.
 
impetração: pedidos de novas graças, de novos dons espirituais como materiais. Nada mais natural do que se dirigir a Deus para pedir, como os filhos pedem aos pais.
 
propiciação: é o fim de aplacar a ira divina, irritado pelos nossos pecados. É a expiação pelas faltas cometidas.
 
O sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo foi, verdadeiramente, de adoração, de ação de graças, de impetração e de propiciação.
 
Ele é o sacerdote que oferece o sacrifício:de fato, mesmo tendo sido flagelado e crucificado, Jesus só morreu porque quis morrer, ou seja, quis oferecer o sacrifício de sua própria vida ao Pai. Porque se Ele quisesse, poderia perfeitamente nada sofrer dos golpes recebidos. Como quis, Ele só se oferece em holocausto.
 
Jesus é também vítima. Não uma vítima qualquer, como eram as ovelhas e outros animais no A.T. – Jesus é a vítima perfeita, sem mancha, inocente e voluntária. Vítima consciente do ato que Ele próprio realiza, oferecendo não apenas seu corpo, como no caso dos animais, mas também sua alma, flagelada, sofrida até a agonia, recebendo sobre si o peso infinito de todos os nossos pecados.
 
E esta vítima se oferece, ao mesmo tempo livre e mergulhada na mais profunda obediência, na Caridade perfeita.
 
O Sacrifício Litúrgico
 
Esta Caridade de Jesus, morrendo por amor do Pai e nosso, nos atrai irresistivelmente e nos leva direto para o Coração divino de Jesus. Lá nós estamos unidos ao seu Sacrifício, à sua morte na Cruz, lá nós comungamos com Ele, ou seja, somos feitos um com Cristo.
 
Mas esta unidade mística, sobrenatural, necessita de uma manifestação exterior, sensível.
 
É a Santa Liturgia que realiza isso. Pelos Sacramentos, principalmente pela Santa Missa, a Igreja tem o poder de realizar o mesmo sacrifício da Cruz, realizar esta comunhão das almas com seu chefe que é Nosso Senhor. Ela o realiza não apenas de um modo espiritual e invisível (pela graça), mas também pelas cerimônias do culto, atos externos, sensíveis, visíveis que manifestam claramente a graça invisível. Basta se lembrar que cada sacramento possui uma graça sacramental própria, além da forma e da matéria que constituem o lado visível do sacramento.
 
A Missa é um verdadeiro sacrifício. Qual? O sacrifício oferecido por Jesus Cristo, sacerdote eterno, ao morrer na Cruz sobre o monte Calvário, há cerca de dois mil anos. Jesus não morre mais, Ele venceu a morte para sempre. Por isso a Missa não pode ser um novo sacrifício, mas o mesmo.
 
Mas a Missa é também um sacramento. Isto significa que aquele único e mesmo sacrifício do Calvário nos é apresentado sob a forma de sinais sensíveis (a consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor) apropriados para atravessar todos os séculos da existência da Igreja.
 
Tenhamos então todo interesse em aprender, em rezar, em viver da Santa Liturgia; em comungar intimamente com este Mistério inefável: o Sacrifício de Jesus presente na nossa vida, no nosso coração, abrindo as portas do céu para o perdão dos nossos pecados e para a vida eterna.
 
O Santo Sacrifício da Missa
 
Quando estudamos todas as partes do Sacrifício da Missa, constatamos que, de fato, o rito litúrgico é um verdadeiro sacrifício. De um modo maravilhoso a Igreja soube realizar um sacramento, ou seja, realizar por sinais sagrados o dramático acontecimento do Calvário, trazendo até nós toda a realidade da morte redentora de Cristo, porém sem a chocante imagem de Nosso Senhor morto diante de nós.
 
Esta visão de Jesus pendurado na Cruz, de Nossa Senhora de pé, ao seu lado, sofrendo o martírio de ver seu Filho naquele estado, seria para nós uma graça infinita. Mas nossa fraqueza não nos permite assistir a isso todos os domingos. Nós acabaríamos tendo medo de ir à Missa! Além disso, a Missa é o mistério da morte de Cristo, sim; mas da Paixão unida à Ressurreição. Um sacrifício que termina na vitória. Se, em cada Missa, víssemos Jesus morto na Cruz, poderíamos pensar que tudo terminou na morte.
 
Assim, cheio de amor por seus filhos, Nosso Senhor realiza a Missa através das espécies do pão e do vinho. Agora sim, podemos viver deste Santo Sacrifício, podemos receber o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus sem medo, sem drama, sem temores, pois Ele se fez alimento para nós, Ele saciou nossa sede com seu Sangue escondido sob as espécies do vinho.
 
Quando estudamos o Sacramento da Eucaristia, vimos como Jesus instituiu a Santa Missa na última Ceia. Naquela ocasião, Ele modificou um rito já existente, a Páscoa dos judeus, introduzindo nele a consagração do pão e do vinho no seu Corpo e no seu Sangue, e dando a seus Apóstolos a Sagrada Comunhão.
 
No curso de Liturgia, o que nos interessa nessa primeira missa, é ver que Jesus celebra a Missa com o rito das partes essenciais da missa que até hoje assistimos: ofertório - consagração - comunhão.
 
É claro que as partes essenciais da Missa foram instituídas por Jesus:
 
matéria:
         pão e vinho
 
forma:
         Isto é o meu corpo (consagração do pão)
 
         Este é o cálice do meu Sangue; Sangue da nova e eterna aliança; mistério da fé; que será derramado por vós e por muitos para o perdão dos pecados (consagração do vinho)
 
Mas Jesus não celebrou a Missa do mesmo modo que hoje a celebramos. A partir dos Apóstolos e ao longo dos séculos, a Igreja, com a autoridade recebida do próprio Jesus, estabeleceu todas as orações e ritos complementares, até que São Pio V, em 1570, definiu como não podendo mais ser modificado o rito da Missa. Na verdade, o Cânon da missa de S. Pio V já era assim celebrado no tempo do Papa São Gregório Magno, ou seja, no início do século VII, quase mil anos antes de São Pio V. As outras partes da Missa de S. Pio V já estavam praticamente definidas no século XIII (1200 a 1299).

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