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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

As Filhas da Luxúria

10 de agosto
 
Considera-se como nascidos da luxúria: a cegueira do espírito, a inconsideração, a precipitação, a inconstância, o amor de si, o ódio de Deus, o apego da vida presente, o horror ou o desespero da futura.
 
Quando as potências inferiores aderem veemente aos seus objetos, as potências superiores hão de, por conseqüência, ficar impedidas e desordenadas na prática dos seus atos. Ora, pelo vício da luxúria sobretudo o apetite inferior, i. é, o concupiscível, veementemente adere aos seu objeto, que é o prazer, por causa da veemência da paixão e do deleite. Por onde e conseqüentemente, pela luxúria sobretudo as potências superiores, i. é, a razão e a vontade, ficam desordenadas.
 
Ora, são quatro os atos da razão na ordem prática.
 
1. Primeiro, a simples inteligência, que apreende um fim como bem. E este ato fica impedido pela luxúria, como diz a Escritura (Dn 13, 56): A formosura te seduziu e a concupiscência te perverteu o coração. E é o que na enumeração se chama a cegueira do espírito.
 
2. O segundo ato é o conselho sobre os meios que devemos aplicar para a consecução do fim. E este também fica impedido pela concupiscência da luxúria. Por isso, Terêncio, falando do amor sensual: O que em si é a negação de todo conselho e é de todo desregrado não o poderás submeter ao conselho. E é o que a enumeração denomina precipitação, que implica a ausência de conselho.    
 
3. O terceiro ato é o juízo sobre o que devemos fazer, que também fica impedido pela luxúria. Por isso, diz a Escritura, dos velhos luxuriosos (Dn 13, 9): Perverteram o seu sentido se se lembrarem dos justos juízos. É o que a enumeração denomina inconsideração.
 
4. Enfim, o quarto ato é a ordem da razão sobre o que se deve fazer, que também fica impedido pela luxúria; porque o ímpeto da concupiscência impede-nos executar o que a razão decretou que deveríamos fazer. E é o que na enumeração se chama inconstância. Por isso, diz Terêncio de um tal que assegurava haver de separar-se da amante: Estas palavras uma falsa lagrimazinha as extinguirá.
 
Relativamente à vontade, dela resultam dois atos desordenados: um é o desejo do fim. E é o que se chama amor de si, no atinente ao prazer que desordenadamente se deseja; e, por oposição, o ódio de Deus, por proibir Deus o prazer desejado. O outro é o desejo dos meios conduzentes ao fim. E a este se refere o apego à vida presente, durante a qual queremos gozar do prazer; e, ao contrário, enumera-se o desespero da vida futura, porque, quem se apega demasiadamente aos prazeres carnais, não cuida de conseguir os espirituais, mas aborrece-os.  
     
(IIa IIae, q. CLIII, a. 5) 
     
         
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Intemperância

9 de agosto
 
 
1. A intemperança é um pecado pueril.
 
O pecado da intemperança é um pecado de concupiscência supérflua, que é comparável ao proceder da criança, de três modos:
 
Primeiro, pelo que uma e outra desejam; pois, como a criança, assim também a concupiscência deseja o desonesto. E a razão é que o belo, nas coisas humanas, consiste em ser ordenado segundo a razão. Ora, a criança não atende à ordem da razão. E, do mesmo modo, a concupiscência não ouve a razão
  
Segundo, quanto às conseqüências. Pois, a criança a que se lhe faz a vontade, quer que lha façamos cada vez mais; donde o dito da Escritura (Ecle 30, 8): Um cavalo indômito faz-se intratável e um filho deixado à sua vontade torna-se insolente. Assim também a concupiscência, a que satisfazemos, cada vez mais se fortalece; donde o dizer Agostinho: A concupiscência a que cedemos transforma-se em costume; e o costume a que não resistimos, faz-se necessidade.
 
Terceiro, quanto ao remédio que a ambos se aplica. Assim, a criança se emenda, quando castigada, conforme àquilo da Escritura (Pr 23, 13): Não queiras subtrair a correção ao menino; tu o fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno. Do mesmo modo, resistindo à concupiscência, reduzimo-la aos limites devidos. Por isso, diz Agostinho, que o espírito afeito às coisas espirituais e nela permanentemente fixo, quebra o ímpeto do costume, i. é, da concupiscência carnal, o qual aos poucos reprimido, se extingue; pois, mais forte, quando lhe obedecíamos, já é certamente menor, embora não de todo nulo, quando o refreamos. Donde o dizer o Filósofo que assim como a criança deve viver segundo as prescrições do mestre, assim o concupiscível deve estar em consonância com a razão.
 
2. O pecado da intemperança é o mais censurável.
 
A censura se opõe à honra e à glória. Ora, a honra é devida à excelência. A glória, por seu lado, implica a ilustração. Logo, a intemperança é soberanamente censurável por duas razões:
 
Primeiro, porque repugna soberanamente à excelência humana; pois tem por objeto os prazeres, que nos são comuns com os brutos. Por isso, a Escritura diz (Sl 48, 21): O homem, quando estava na honra, não o entendeu; foi comparado aos brutos irracionais e se fez semelhante a eles.
 
Segundo, porque soberanamente repugna à ilustração ou à beleza; pois, nos prazeres, que constituem o objeto da intemperança, quase não se manifesta a luz da razão, da qual provém toda a refulgência e beleza da virtude. Por isso, tais prazeres se consideram servis em máximo grau.
         
(IIa IIae, q. CXLII, a. 2 et 4) 
     
         
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A negligência

8 de agosto
 
 
1. A negligência é pecado.
 
A negligência implica a falta da solicitude devida. Ora, toda falta do ato devido tem natureza de pecado. Por onde, é manifesto que a negligência tem natureza de pecado. E do modo pelo qual a solicitude é ato de uma virtude especial, desse mesmo é necessariamente a negligência um pecado especial.
 
A matéria da negligência são propriamente os atos bons que devemos praticar. Não que sejam bons quando negligentemente praticados, mas porque a negligência causa neles a falta de bondade, quer o ato devido seja preterido totalmente por falta de solicitude, quer seja seja preterida também alguma circunstância própria do ato.
 
2. A negligência se opõe à prudência.
 
A negligência se opõe diretamente à solicitude. Ora, a solicitude depende da razão; e a retidão da mesma, da prudência. Por onde, e contrariamente, a negligência é própria da imprudência.
 
A negligência não é o mesmo que a preguiça ou torpor, que pertence a acédia. A negligência consiste na falta do ato interior, do qual depende também a eleição; ao passo que a preguiça e o torpor são próprios, antes, da execução. De um modo, porém, que a preguiça importa a lentidão em executar; ao passo que o torpor uma certa remissão no ato mesmo da execução.
 
A Escritura diz (Ecle 7, 19): O que teme a Deus nada despreza. O temor de Deus nos ajuda a evitar qualquer pecado; pois, como diz a Escritura (Pr 15, 27), todo homem evita o mal por meio do temor do Senhor. Por isso, o temor faz evitar a negligência. Não porém de modo que esta se oponha diretamente ao temor; mas por excitar o temor, o homem, ao ato da razão. Por isso, também já estabelecemos, que o temor nos leva a tomar conselho.
   
3. A negligência pode ser pecado mortal.
 
Diz a Escritura (Pr 19, 16): Aquele que não faz caso do seu caminho padecerá a morte.
 
A negligência provém de uma certa remissão da vontade, donde resulta que esta não é solicitada a mandar o que deve e do modo por que o deve. Por onde, de dois modos pode a negligência vir a ser pecado mortal. Primeiro, por causa do omitido por negligência. O que, se for de necessidade para a salvação, quer seja um ato, quer uma circunstância, dará lugar ao pecado mortal. De outro modo, quanto à causa. Se pois a vontade for remissa no tocante às coisas de Deus, que deixe totalmente de amá-lo, tal negligência é pecado mortal. E isto principalmente se dá, quando a negligência resulta do desprezo. Ao contrário, se a negligência consistir em omitir um ato ou circunstância, que não for de necessidade para a salvação, nem tal se der por desprezo, mas por alguma falta de fervor, então a negligência não é pecado mortal, mas venial.
         
(IIa IIae, q. LIV) 
     
         
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A precipitação

7 de agosto
  
Diz a Escritura (Pr 4, 19): O caminho dos ímpios é tenebroso: eles não sabem aonde vão cair. Ora, os caminhos tenebrosos dos ímpios são efeito da imprudência. Logo, atirar-se ou precipitar-se é próprio da imprudência.

A Imprudência

5 de agosto
 
"Na casa do justo há tesouro precioso e azeite;
mas o imprudente dissipará tudo" (Pr 21, 20)
 
I. O tesouro espiritual da graça não o perdemos senão pelo pecado. Ora, nós o perdemos pela imprudência. Logo, a imprudência é pecado.
 
A imprudência pode ser considerada à dupla luz: a modo de privação e de contrariedade.
 
Ora, dizemos que há imprudência em sentido privativo, quando não se tem a prudência que naturalmente se devia ter. E neste sentido ela é pecado, em razão da negligência, causa de não ter se esforçado por adquirir a prudência.
 
A modo de contrariedade, imprudência significa agir de modo contrário àquele pelo qual age a prudência. Por exemplo, se a razão reta da prudência age aconselhando, e o imprudente despreza o conselho. E deste modo a imprudência é pecado, relativamente à natureza própria da prudência. Pois, não é possível agirmos contra a prudência senão afastando-nos das regras que a tornam reta, por essência. Por onde se tal se der por desprezarmos os preceitos divinos, cometeremos pecado mortal. Assim, quem, como desprezando e repudiando os ensinamentos divinos, agisse com precipitação. Se porém agisse contrariamente a eles, sem desprezo e sem detrimento do necessário à salvação, cometeria pecado venial.

A vocação dos homens

11 de julho
 
Quer que todos os homens se salvem (1 Tm 2, 4)
 
Deus quer para nós três coisas:
 
a) Em primeiro lugar, Deus quer que tenhamos a vida eterna. Quando alguém faz alguma coisa visando um determinado fim, quer que ela atinja tal fim. Ora, Deus não fez o homem sem um fim determinado. Diz o Salmo (88, 48): acaso criastes em vão todos os filhos dos homens? Deus criou os homens, para um fim que não são as volúpias, pois estas também as têm os animais. Deus quis que o homem alcançasse a vida eterna.

A Acédia

4 de agosto
 
I. A acédia é pecado.
 
A acédia é um tédio que acabrunha; i. é, que deprime de tal modo a alma do homem que não lhe apraz fazer nada; assim como tudo o que é ácido é ao mesmo tempo frio. Por isso, a acédia produz um certo tédio de agir, como claramente o diz a Glosa àquilo da Escritura (Sl 106, 18): A alma deles aborreceu toda a comida, que a acédia é um torpor da alma, que desiste de começar o bem.

As trevas e a sombra da morte

 

Tirou-os das trevas e da escuridão (Sl 106, 14)
 
[1] São três as espécies de trevas, ou de ignorâncias.
 
a) Diz o Salmista (Sl 81, 5): Não sabem nem entendem, andam nas trevas. Estas são as trevas da razão, enquanto a razão é por elas obscurecida.

 

b) Há também as trevas da culpa. Diz São Paulo (Ef 5, 8): Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. E estas são trevas da razão humana não por si mesmas, mas pelos apetites, enquanto, mal dispostos pelas paixões ou por algum mau hábito, apetecem como bom o que não é o verdadeiro bem.
 
c) Por fim, há as trevas da danação eterna (Mt 25, 30): E a este servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
 
Ora, Cristo tirou-os das trevas por ser a luz do mundo; não era o sol criado, mas Aquele por quem foi criado o sol. Contudo, como diz Agostinho, a mesma luz que fez o sol, foi feita sob o sol, e velada pela nuvem da carne, não para que fosse obscurecida, mas para que fosse temperada. E como esta luz é universal, expulsa universalmente todas as trevas.
 
Assim, o que me segue não anda nas trevas, da ignorância, pois eu sou a verdade; da culpa, pois eu sou a via; da danação eterna, pois eu sou a vida.
 
[2] A noite pode ser compreendida de dois modos:
 
a) Pela subtração da graça atual, a qual induz o pecado mortal. Quando esta noite sobrevém, ninguém pode fazer obra meritória de vida eterna.
 
b) A outra é a noite consumada, quando não apenas se é privado da graça atual, mas também da faculdade de a recuperar, pela eterna danação ao inferno, onde é profunda a noite àqueles aos quais foi dito: Ide malditos para o fogo eterno. E então ninguém poderá fazer nada, pois não há mais tempo para merecer, mas apenas para receber conforme seus méritos. Assim, enquanto viveres, faze o que tens de fazer (Ecle 9, 10): Faze com presteza tudo quanto pode fazer a tua mão, porque na sepultura, para onde te precipitas, não há nem obra, nem razão, nem ciência, nem sabedoria.
(In Joan., IX)
 
[3] A morte é a danação no inferno (Sl 48, 15): a morte os apascenta. A sombra da morte é a semelhança da danação futura que está nos pecadores. A maior pena daqueles que estão no inferno é a separação de Deus; como os pecadores já estão separados de Deus, têm semelhança com a danação futura, assim como os justos têm semelhança com a futura beatitude.
 
(In Matth., V)
 
P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Tradução: Permanência

 

A Estultícia

3 de agosto
 
I. ― A estultícia importa embotamento do coração e obtusidade dos sentidos. O embotamento se opõe à acuidade. Por isso, se chama por semelhança, agudo ao intelecto, quando pode penetrar o íntimo dos objetos que lhes são propostos. Ao contrário, o embotamento faz com que a mente não lhes possa penetrar esse íntimo. Estulto se chama ao intelecto que julga erradamente sobre o fim comum da vida. Por isso, opõe-se propriamente à sabedoria, que torna reto o juízo sobre a causa universal.
  
(IIa IIae. q. VIII, a. VI, ad 1) 

O Amor desregrado de si mesmo.

2 de agosto
 
"Aquele que ama a iniqüidade, aborrece a sua alma" (Sl 10, 6)
    
I. ― Diz-se que o homem é algo pelo que há nele de principal; ora, o que há de principal no homem é o espírito racional, sendo secundária a natureza sensitiva e corpórea. E desses dois elementos o Apóstolo (2 Cor 4, 16) chama ao primeiro homem interior, e ao segundo, homem exterior. Ora, os bons consideram como o que têm de principal a natureza racional, ou, o homem interior; e assim julgando, consideram-se como o que verdadeiramente são. Os maus porém julgam ter como elemento principal a natureza sensitiva e corpórea, i. é, o homem exterior. Por onde, não se conhecendo bem a si mesmos, a si mesmos não se amam verdadeiramente, mas, amam-se pelo que julgam ser.

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