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As Filhas da Luxúria

10 de agosto
 
Considera-se como nascidos da luxúria: a cegueira do espírito, a inconsideração, a precipitação, a inconstância, o amor de si, o ódio de Deus, o apego da vida presente, o horror ou o desespero da futura.
 
Quando as potências inferiores aderem veemente aos seus objetos, as potências superiores hão de, por conseqüência, ficar impedidas e desordenadas na prática dos seus atos. Ora, pelo vício da luxúria sobretudo o apetite inferior, i. é, o concupiscível, veementemente adere aos seu objeto, que é o prazer, por causa da veemência da paixão e do deleite. Por onde e conseqüentemente, pela luxúria sobretudo as potências superiores, i. é, a razão e a vontade, ficam desordenadas.
 
Ora, são quatro os atos da razão na ordem prática.
 
1. Primeiro, a simples inteligência, que apreende um fim como bem. E este ato fica impedido pela luxúria, como diz a Escritura (Dn 13, 56): A formosura te seduziu e a concupiscência te perverteu o coração. E é o que na enumeração se chama a cegueira do espírito.
 
2. O segundo ato é o conselho sobre os meios que devemos aplicar para a consecução do fim. E este também fica impedido pela concupiscência da luxúria. Por isso, Terêncio, falando do amor sensual: O que em si é a negação de todo conselho e é de todo desregrado não o poderás submeter ao conselho. E é o que a enumeração denomina precipitação, que implica a ausência de conselho.    
 
3. O terceiro ato é o juízo sobre o que devemos fazer, que também fica impedido pela luxúria. Por isso, diz a Escritura, dos velhos luxuriosos (Dn 13, 9): Perverteram o seu sentido se se lembrarem dos justos juízos. É o que a enumeração denomina inconsideração.
 
4. Enfim, o quarto ato é a ordem da razão sobre o que se deve fazer, que também fica impedido pela luxúria; porque o ímpeto da concupiscência impede-nos executar o que a razão decretou que deveríamos fazer. E é o que na enumeração se chama inconstância. Por isso, diz Terêncio de um tal que assegurava haver de separar-se da amante: Estas palavras uma falsa lagrimazinha as extinguirá.
 
Relativamente à vontade, dela resultam dois atos desordenados: um é o desejo do fim. E é o que se chama amor de si, no atinente ao prazer que desordenadamente se deseja; e, por oposição, o ódio de Deus, por proibir Deus o prazer desejado. O outro é o desejo dos meios conduzentes ao fim. E a este se refere o apego à vida presente, durante a qual queremos gozar do prazer; e, ao contrário, enumera-se o desespero da vida futura, porque, quem se apega demasiadamente aos prazeres carnais, não cuida de conseguir os espirituais, mas aborrece-os.  
     
(IIa IIae, q. CLIII, a. 5) 
     
         
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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