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A Intemperância

9 de agosto
 
 
1. A intemperança é um pecado pueril.
 
O pecado da intemperança é um pecado de concupiscência supérflua, que é comparável ao proceder da criança, de três modos:
 
Primeiro, pelo que uma e outra desejam; pois, como a criança, assim também a concupiscência deseja o desonesto. E a razão é que o belo, nas coisas humanas, consiste em ser ordenado segundo a razão. Ora, a criança não atende à ordem da razão. E, do mesmo modo, a concupiscência não ouve a razão
  
Segundo, quanto às conseqüências. Pois, a criança a que se lhe faz a vontade, quer que lha façamos cada vez mais; donde o dito da Escritura (Ecle 30, 8): Um cavalo indômito faz-se intratável e um filho deixado à sua vontade torna-se insolente. Assim também a concupiscência, a que satisfazemos, cada vez mais se fortalece; donde o dizer Agostinho: A concupiscência a que cedemos transforma-se em costume; e o costume a que não resistimos, faz-se necessidade.
 
Terceiro, quanto ao remédio que a ambos se aplica. Assim, a criança se emenda, quando castigada, conforme àquilo da Escritura (Pr 23, 13): Não queiras subtrair a correção ao menino; tu o fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno. Do mesmo modo, resistindo à concupiscência, reduzimo-la aos limites devidos. Por isso, diz Agostinho, que o espírito afeito às coisas espirituais e nela permanentemente fixo, quebra o ímpeto do costume, i. é, da concupiscência carnal, o qual aos poucos reprimido, se extingue; pois, mais forte, quando lhe obedecíamos, já é certamente menor, embora não de todo nulo, quando o refreamos. Donde o dizer o Filósofo que assim como a criança deve viver segundo as prescrições do mestre, assim o concupiscível deve estar em consonância com a razão.
 
2. O pecado da intemperança é o mais censurável.
 
A censura se opõe à honra e à glória. Ora, a honra é devida à excelência. A glória, por seu lado, implica a ilustração. Logo, a intemperança é soberanamente censurável por duas razões:
 
Primeiro, porque repugna soberanamente à excelência humana; pois tem por objeto os prazeres, que nos são comuns com os brutos. Por isso, a Escritura diz (Sl 48, 21): O homem, quando estava na honra, não o entendeu; foi comparado aos brutos irracionais e se fez semelhante a eles.
 
Segundo, porque soberanamente repugna à ilustração ou à beleza; pois, nos prazeres, que constituem o objeto da intemperança, quase não se manifesta a luz da razão, da qual provém toda a refulgência e beleza da virtude. Por isso, tais prazeres se consideram servis em máximo grau.
         
(IIa IIae, q. CXLII, a. 2 et 4) 
     
         
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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