Category: Ecumenismo
CARTA ENCÍCLICA
MORTALIUM ANIMOS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XI
AOS REVMOS. SENHORES PADRES PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DOS LUGARES
EM PAZ E UNIÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A PROMOÇÃO DA VERDADEIRA
UNIDADE DE RELIGIÃO
Veneráveis irmãos
Saúde e Bênção Apostólica
1. Ânsia Universal de Paz e Fraternidade
Talvez jamais em uma outra época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos.
Pois, embora as nações ainda não usufruam plenamente dos benefícios da paz, antes, pelo contrário, em alguns lugares, antigas e novas discórdias vão explodindo em sedições e em conflitos civis; como não é possível, entretanto, que as muitas controvérsias sobre a tranquilidade e a prosperidade dos povos sejam resolvidas sem que exista a concórdia quanto à ação e às obras dos que governam as Cidades e administram os seus negócios; compreende-se facilmente (tanto mais que já ninguém discorda da unidade do gênero humano) porque, estimulados por esta irmandade universal, também muitos desejam que os vários povos cada dia se unam mais estreitamente.
2. A Fraternidade na Religião. Congressos Ecumênicos
Entretanto, alguns lutam por realizar coisa não dissemelhante quanto à ordenação da Lei Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor.
Pois, tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a Ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual.
Por isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre frequência de ouvintes e para elas convocam, para debates, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão.
3. Os Católicos não podem aprová-lo
Sem dúvida, estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império.
Erram e estão enganados, portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada.
4. Outro erro. A união de todos os Cristãos. Argumentos falazes
Entretanto, quando se trata de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são enganados mais facilmente por uma disfarçada aparência do que seja reto.
Acaso não é justo e de acordo com o dever – costumam repetir amiúde – que todos os que invocam o nome de Cristo se abstenham de recriminações mútuas e sejam finalmente unidos por mútua caridade?
Acaso alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida de suas forças, não procura realizar as coisas que Ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus discípulos fossem "UM" (Jo 17, 21)?
Acaso não quis o mesmo Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como que sinal e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se amassem: "Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes amor um pelo outro?" ( Jo 13, 35).
Oxalá todos os cristão fossem "UM", acrescentam: eles poderiam repelir muito melhor a peste da impiedade que, cada dia mais, se alastra e se expande, e se ordena ao enfraquecimento do Evangelho.
5. Debaixo desses argumentos se oculta um erro gravíssimo
Os chamados "pancristãos" espalham e insuflam estas e outras coisas da mesma espécie. E eles estão tão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário, cresceram em fileiras compactas e uniram-se em sociedades largamente difundidas, as quais, embora sobre coisas de fé cada um esteja imbuído de uma doutrina diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos.
Esta iniciativa é promovida de modo tão ativo que, de muitos modos, consegue para si a adesão dos cidadão e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos católicos, pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os desejos da Santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo quanto o reconvocar e o reconduzir os filhos desviados para o seu grêmio.
Na verdade, sob os atrativos e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé.
6. A verdadeira norma nesta matéria
Advertidos, pois, pela consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o rebanho do Senhor seja envolvido pela nocividade destas falácias, apelamos, veneráveis irmãos, para o vosso empenho na precaução contra este mal. Confiamos que, pelas palavras e escritos de cada um de vós, poderemos atingir mais facilmente o povo, e que os princípios e argumentos, que a seguir proporemos, sejam entendidos por ele pois, por meio deles, os católicos devem saber o que devem pensar e praticar, dado que se trata de iniciativas que dizem respeitos a eles, para unir de qualquer maneira em um só corpo os que se denominam cristãos.
7. Só uma religião pode ser verdadeira: A revelada por Deus
Fomos criados por Deus, Criador de todas as coisas, para este fim: conhecê-l'O e serví-l'O. O nosso Criador possui, portanto, pleno direito de ser servido.
Por certo, poderia Deus ter estabelecido apenas uma lei da natureza para o governo do homem. Ele, ao criá-lo, gravou-a em seu espírito e poderia portanto, a partir daí, governar os seus novos atos pela providência ordinária dessa mesma lei. Mas, preferiu dar preceitos aos quais nós obedecêssemos e, no decurso dos tempos, desde os começos do gênero humano até a vinda e a pregação de Jesus Cristo, Ele próprio ensinou ao homem, naturalmente dotado de razão, os deveres que dele seriam exigidos para com o Criador: "Em muitos lugares e de muitos modos, antigamente, falou Deus aos nossos pais pelos profetas; ultimamente, nestes dias, falou-nos por seu Filho" ( Heb 1,1 Seg).
Está, portanto, claro que a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se funda na palavra revelada de Deus; começando a ser feita desde o princípio, essa revelação prosseguiu sob a Lei Antiga e o próprio Cristo completou-a sob a Nova Lei.
Portanto, se Deus falou – e comprova-se pela fé histórica Ter ele realmente falado – não há quem não veja ser dever do homem acreditas, de modo absoluto, em deus que se revela e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de Deus e para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra, o Filho Unigênito de Deus instituiu na terra a sua Igreja.
8. A única religião revelada é a Igreja Católica
Acreditamos, pois, que os que afirma serem cristão, não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.
Assim, por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si.
Entretanto, cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça ( Mt 16, 18 seg.; Lc 22, 32; Jo 21, 15-17), pelo magistério de uma voz viva ( Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste ( Jo 3, 5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18, 18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa ( Mt 16, 18), a um redil de ovelhas ( Jo 10, 16) e a um rebanho ( Jo 21, 15-17).
Esta Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir todos os homens à salvação eterna: "Ide, pois, ensinai a todos os povos" (Mt 28, 19).
Acaso faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: "Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?" ( Mt 28, 20).
Deste modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18).
9. Um erro capital do movimento ecumêmico na pretendida união das Igrejas cristãs
Ocorre-nos dever esclarecer e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender toda esta questão e proceder essa múltipla ação e conspiração dos acatólicos que, como dissemos, trabalham pela união das igrejas cristãs.
Os autores desta opinião acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a Cristo dizendo: "Para que todos sejam um"... "Haverá um só rebanho e um só Pastos"( Jo 27,21; 10,16). Fazem-no todavia de modo que, por essas palavras, queriam significar um desejo e uma prece de Cristo ainda carente de seu efeito.
Pois opinam: a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe; que ela pode, sem dúvida, ser desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum das vontades; mas que, entrementes, deve existir apenas uma fictícia unidade.
Acrescentam que a Igreja é, por si mesma, por natureza, dividida em partes, isto é, que ela consta de muitas igreja ou comunidades particulares, as quais, ainda separadas, embora possuam alguns capítulos comuns de doutrina, discordam todavia nos demais. Que cada uma delas possui os mesmos direitos, que, no máximo, a Igreja foi única e una, da época apostólica até os primeiros concílios ecumênicos.
Assim, dizem, é necessários colocar de lado e afastar as controvérsias e as antiquíssimas variedade de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão e, quanto às outras doutrinas, elaborar e propor uma certa lei comum de crer, em cuja profissão de fé todos se conheçam e se sintam como irmãos, pois, se as múltiplas igrejas e comunidades forem unidas por um certo pacto, existiria já a condição para que os progressos da impiedade fossem futuramente impedidos de modo sólido e frutuoso.
Estas são, Veneráveis Irmãos, as afirmações comuns.
Existem, contudo, os que estabelecem e concedem que o chamado Protestantismo, de modo bastante inconsiderado, deixou de lado certos capítulos da fé e alguns ritos do culto exterior, sem dúvida gratos e úteis, que, pelo contrário, a Igreja Romana ainda conserva.
Mas, de imediato, acrescentam que esta mesma Igreja também agiu mal, corrompendo a religião primitiva por algumas doutrinas alheias e repugnantes ao Evangelho, propondo acréscimos para serem cridos: enumeram como o principal entre estes o que versa sobre o Primado de Jurisdição atribuído a Pedro e a seus Sucessores na Sé Romana.
Entre os que assim pensam, embora não sejam muitos, estão os que indulgentemente atribuem ao Pontífice Romano um primado de honra ou uma certa jurisdição e poder que, entretanto, julgam procedente não do direito divino, mas de certo consenso dos fiéis. Chegam outros ao ponto de, por seus conselhos, que diríeis serem furta-cores, quererem presidir o próprio Pontífice.
E se é possível encontrar muitos acatólicos pregando à boca cheia a união fraterna em Jesus Cristo, entretanto não encontrareis a nenhum deles em cujos pensamentos esteja a submissão e a obediência ao Vigário de Jesus Cristo enquanto docente ou enquanto governante.
Afirmam eles que tratariam de bom grado com a Igreja Romana, mas com igualdade de direitos, isto é, iguais com um igual. Mas, se pudessem fazê-lo, não parece existir dúvida de que agiriam com a intenção de que, por um pacto que talvez se ajustasse, não fossem coagidos a afastarem-se daquelas opiniões que são a causa pela qual ainda vagueiem e errem fora do único aprisco de Cristo.
10. A Igreja Católica não pode participar de semelhantes reuniões
Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.
11. A verdade revelada não admite transações
Acaso poderemos tolerar – o que seria bastante iníquo-, que a verdade e, em especial a revelada, seja diminuída através de pactuações?
No caso presente, trata-se da verdade revelada que deve ser defendida.
Se Jesus Cristo enviou os Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos que deviam ser instruídos na fé evangélica e, para que não errassem em nada, quis que, anteriormente, lhes fosse ensinada toda a verdade pelo Espírito Santo, acaso esta doutrina dos Apóstolos faltou inteiramente ou foi alguma vez perturbada na Igreja em que o próprio Deus está presente como regente e guardião?
Se o nosso Redentor promulgou claramente o seu Evangelho não apenas para os tempos apostólicos, mas também para pertencer às futuras épocas, o objeto da fé pode tornar-se de tal modo obscuro e incerto que hoje seja necessários tolerar opiniões pelo menos contrárias entre si?
Se isto fosse verdade, dever-se-ia igualmente dizer que o Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos, que a perpétua permanência dele na Igreja e também que a própria pregação de Cristo já perderam, desde muitos séculos, toda a eficácia e utilidade: afirmar isto é, sem dúvida, blasfemo.
12. A Igreja Católica: depositária infalível da verdade
Quando o Filho unigênito de Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem anunciadas pela "testemunha pré-ordenadas por Deus" (At 10, 41). Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na consecução da salvação eterna, que não podem deixar de ser cumpridos, não poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro e claro a doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer perigo de errar.
Afastam-se igualmente do caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente na terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos e disputas para encontrá-lo e possuí-lo que a vida dos homens seja apenas suficiente para isso, com se Deus benigníssimo tivesse falado pelos profetas e pelo seu Unigênito para que apenas uns poucos, e estes mesmos já avançados em idade, aprendessem perfeitamente as coisas que por eles revelou, e não para que preceituasse uma doutrina de fé e de costumes pela qual, em todo o decurso de sua vida mortal, o homem fosse regido.
13. Sem fé, não há verdadeira caridade
Estes pancristãos, que empenham o seu espírito na união das igrejas, pareceriam seguir, por certo, o nobilíssimo conselho da caridade que deve ser promovida entre os cristãos. Mas, dado que a caridade se desvia em detrimento da fé, o que pode ser feito?
Ninguém ignora por certo que o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que em seu Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus e que permanentemente costumavas inculcar à memória dos seus o mandamento novo: "Amai-vos uns aos outros", vetou inteiramente até mesmo manter relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de Cristo: "Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem digais a ele uma saudação" (2 Jo 10).
Pelo que, como a caridade se apóia na fé íntegra e sincera como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como no vínculo principal.
14. União Irracional
Assim, de que vale excogitar no espírito uma certa Federação cristã, na qual ao ingressar ou então quando se tratar do objeto da fé, cada qual retenha a sua maneira de pensar e de sentir, embora ela seja repugnante às opiniões dos outros?
E de que modo pedirmos que participem de um só e mesmo Conselho homens que se distanciam por sentenças contrárias como, por exemplo, os que afirmam e os que negam ser a sagrada Tradição uma fonte genuína da Revelação Divina?
Como os que adoram a Cristo realmente presente na Santíssima Eucaristia, por aquela admirável conversão do pão e do vinho que se chama transubstanciação e os que afirmam que, somente pela fé ou por sinal e em virtude do Sacramento, aí está presente o Corpo de Cristo?
Como os que reconhecem nela a natureza do Sacrifício e a do Sacramento e os que dizem que ela não é senão a memória ou comemoração da Ceia do Senhor?
Como os que crêem ser bom e útil invocar súplice os Santos que reinam junto de Cristo - Maria, Mãe de Deus, em primeiro lugar - e tributar veneração às suas imagens e os que contestam que não pode ser admitido semelhante culto, por ser contrário à honra de Jesus Cristo, "único mediador de Deus e dos homens"? ( 1 Tim 2, 5).
15. Princípio até o indiferentismo e o modernismo
Não sabemos, pois, como por essa grande divergência de opiniões seja defendida o caminho para a realização da unidade da Igreja: ela não pode resultar senão de um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé entre os cristãos. Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a negligência com a religião ou o Indiferentismo e para o denominado Modernismo. os que foram miseravelmente infeccionados por ele defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada, isto é, de acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com as várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada por uma revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos homens.
Além disso, com relação às coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de modo algum, daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé, como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis: a Virtude sobrenatural da fé possui como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta.
Por isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de Deus concebida sem a mancha original e não possuem igualmente uma fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério infalível do Pontífice romano, no sentido definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano.
Nem se pode admitir que as verdade que a Igreja, através de solenes decretos, sancionou e definiu em outras épocas, pelo menos as proximamente superiores, não sejam, por este motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente acreditadas: acaso não foram todas elas reveladas por Deus?
Pois, o Magistério da Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que as doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas também para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo mais fácil e seguro. E, embora seja ele diariamente exercido pelo Pontífice Romano e pelos Bispos em união com ele, todavia ele se completa pela tarefa de agir, no momento oportuno, definindo algo por meio de solenes ritos e decretos, se alguma vez for necessário opor-se aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais eficiente ou imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada expostos de modo mais claro e pormenorizado.
Por este uso extraordinário do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma coisa nova é acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos implicitamente, no depósito da revelação, foram divinamente entregues à Igreja, mas são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam parecer obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas sobre a fé e que antes eram por alguns colocados sob controvérsia.
16. A única maneira de unir todos os cristãos
Assim, Veneráveis Irmãos, é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela.
Dizemos à única verdadeira Igreja de Cristo: sem dúvida ela é a todos manifesta e, pela vontade de seu Autor, Ela perpetuamente permanecerá tal qual Ele próprio A instituiu para a salvação de todos. Pois, a mística Esposa de Cristo jamais se contaminou com o decurso dos séculos nem, em época alguma, poderá ser contaminada, como Cipriano o atesta: "A Esposa de Cristo não pode ser adulterada: ela é incorrupta e pudica. Ela conhece uma só casa e guarda com casto pudor a santidade de um só cubículo" ( De Cath. Ecclessiae unitate, 6).
E o mesmo santo Mártir, com direito e com razão, grandemente se admirava de que pudesse alguém acreditar que "esta unidade que procede da firmeza de Deus pudesse cindir-se e ser quebrada na Igreja pelo divórcio de vontades em conflito" (ibidem).
Portanto, dado que o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só ( 1 Cor 12, 12), compacto e conexo ( Ef. 4, 15), à semelhança do seu corpo físico, seria inépcia e estultície afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem está unido à cabeça, Cristo (Cfr. Ef. 5, 30; 1, 22).
17. A obediência ao Romano Pontífice
Mas, ninguém está nesta única Igreja de Cristo e ninguém nela permanece a não ser que, obedecendo, reconheça e acate o poder de Pedro e de seus sucessores legítimos.
Por acaso os antepassados dos enredados pelos erros de Fócio e dos reformadores não estiveram unidos ao Bispo de Roma, ao Pastor supremo das almas?
Ai! Os filhos afastaram-se da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e nem foi destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene proteção de Deus. Retornem, pois, eles ao Pai comum que, esquecido das injúrias antes gravadas a fogo contra a Sé Apostólica, recebê-los-á com máximo amor.
Pois se, como repetem freqüentemente, desejam unir-se Conosco e com os nossos, por que não se apressam em entrar na Igreja, "Mãe e Mestra de todos os fiéis de Cristo" (Conc. Later 4, c.5)?
Escutem a Lactâncio chamado amiúde: "Só... a Igreja Católica é a que retém o verdadeiro culto. Aqui está a fonte da verdade, este é o domicílio da Fé, este é o templo de Deus: se alguém não entrar por ele ou se alguém dele sair, está fora da esperança da vida e salvação. é necessário que ninguém se afague a si mesmo com a pertinácia nas disputas, pois trata-se da vida e da salvação que, a não ser que seja provida de um modo cauteloso e diligente, estará perdida e extinta" ( Divin. Inst. 4, 30, 11-12).
18. Apelo às seitas dissidentes
Aproximem-se, portanto, os filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que os Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue; daquela Sede, dizemos, que é "raiz e matriz da Igreja Católica" ( S. Cypr., ep. 48 a d Cornelium, 3), não com o objetivo e a esperança de que "a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade" ( 1 Tim 3, 15) renuncie à integridade da fé e tolere os próprios erros deles, mas, pelo contrário, para que se entreguem a seu magistério e regime.
Oxalá auspiciosamente ocorra para Nós isto que não ocorreu ainda para tantos dos nossos muitos Predecessores, a fim de que possamos abraçar com espírito fraterno os filhos que nos é doloroso estejam de Nós separados por uma perniciosa dissensão.
Prece a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. Oxalá Deus, Senhor nosso, que "quer salvar todos os homens e que eles venham ao conhecimento da verdade"( 1 Tim. 2, 4) nos ouça suplicando fortemente para que Ele se digne chamar à unidade da Igreja a todos os errantes.
Nesta questão que é, sem dúvida, gravíssima, utilizamos e queremos que seja utilizada como intercessora a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da graça divina, vencedora de todas as heresias e auxílio dos cristãos, para que Ela peça, para o quanto antes, a chegada daquele dia tão desejado por nós, em que todos os homens escutem a voz do seu Filho divino, "conservando a unidade de espírito em um vínculo de paz" (Ef. 4, 3).
19. Conclusão e Bênção Apostólica
Compreendeis, Veneráveis Irmãos, o quanto desejamos isto e queremos que o saibam os nossos filhos, não só todos os do mundo católico, mas também os que de Nós dissentem. Estes, se implorarem em prece humilde as luzes do céu, por certo reconhecerão a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por fim, nEla tendo entrado, estarão unidos conosco em perfeita caridade.
No aguardo deste fato, como auspício dos dons de Deus e como testemunho de nossa paterna benevolência, concedemos muito cordialmente a vós, Veneráveis Irmãos, e a vosso clero e povo, a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia seis de janeiro, no ano de 1928, festa da Epifania de Jesus Cristo, Nosso Senhor, sexto de nosso Pontificado.
PIO PP. XI.
Apresentamos aos nossos leitores e fiéis, extratos do relato de John Vennari sobre o Congresso Ecumênico realizado em Fátima (Portugal), onde a heresia e a idolatria foram ostentadas como num estandarte, ali mesmo onde por seis vezes a Mãe de Deus apareceu aos três pastorinhos, trazendo para o mundo os mais graves e sérios apelos já ouvidos dos Céus. Mais uma vez somos obrigados a constatar que as autoridades da Igreja estão empenhados, muito empenhados na construção de uma Outra religião.
FÁTIMA SE TORNARÁ UM SANTUÁRIO INTER-RELIGIOSO?
Relato de um jornalista que esteve lá
por John Vennari
De 10 a 12 de Outubro de 2003, uma conferência pan-religiosa ocorreu em Fátima com o nome "O Presente do homem — o Futuro de Deus: o lugar dos santuários em relação ao sagrado”. Foi ela organizada no Centro Pastoral Paulo VI, próximo ao santuário de Fátima em Portugal. Eu viajei à Fátima para cobrir o Congresso e participar dos três dias de evento, que continha algumas das mais explícitas heresias que eu jamais encontrei.
Descrevia-se como um Congresso “Científico”, o que não é a palavra que usaríamos para descrevê-lo na América do Norte, onde o descreveríamos como um Congresso “Acadêmico”. De todo modo, o Congresso era formado por teólogos modernos e sacerdotes, que discutiam a importância dos santuários religiosos — qualquer santuário, seja ele católico, budista ou hindu.
Os dois primeiros dias continham diversas conferências, unicamente de católicos, entre as quais se incluíam as do Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Souza Ferreira e Silva; do Cardeal Patriarca de Lisboa, José da Cruz Policarpo; do famoso “teólogo ecumênico”, Padre Jacques Dupuis; e de vários outros Ph.D de Portugal.
No Domingo, nas sessões presididas pelo Arcebispo Michael J. Fitzgerald, Prefeito do Conselho Pontifício do Vaticano pelo Diálogo inter-religioso, representantes de diversas religiões — incluindo budistas, hindus, islâmicos, ortodoxos, anglicanos e católicos — deram seu testemunho da importância dos “santuários” em suas tradições religiosas.
Mais tarde, a imprensa portuguesa publicou que o objetivo deste Congresso era o de transformar Fátima em um santuário inter-religioso.
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A sessão inter-religiosa da manhã de Domingo, presidida pelo Arcebispo Fitzgerald. Aqui, ele divide a mesa com um budista, um hindu e um muçulmano.
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O Congresso Ecumênico
O tema dos “Santuários”, escolhido para este congresso, reflete o ‘mínimo denominador comum’ ecumênico, que prevalece há quarenta anos. É uma abordagem que minimiza as diferenças doutrinais entre as várias religiões e enfatiza “aquilo que temos em comum”.
O que todas as religiões têm em comum? Todas elas acreditam em algum tipo de “Deus”; organizemos, portanto, um simpósio ecumênico para falar sobre os vários aspectos de “Deus”. Todas as religiões acreditam em orações; façamos, então, um encontro pan-religioso para que todos possam “dividir” suas experiências sobre orações. Todas as religiões têm santuários; preparemos, assim, um Congresso inter-religioso para discorrer sobre a importância dos santuários nas várias tradições religiosas. E, assim, “Santuário”, segundo a perspectiva pan-religiosa, foi o foco do recente Congresso em Fátima.
Anátema nestes Congressos é reconhecer o fato de que a Igreja Católica é a única religião verdadeira, estabelecida e desejada por Deus, e que todas as outras religiões são falsas, são sistemas criados por homens, e seus adeptos acreditam em falsos deuses. Como tais, estas religiões constituem um pecado mortal objetivo contra o Primeiro Mandamento: “Eu sou o Senhor teu Deus, não tenhais outros deuses diante de mim”. Os falsos deuses do budismo, hinduismo e islamismo são os “outros deuses” que o Primeiro Mandamento proíbe a toda humanidade de venerar.
Isto também se aplica ao Protestantismo, uma vez que os protestantes acreditam em um Cristo que jamais existiu. Eles acreditam em um Cristo que não estabeleceu uma Igreja para ensinar, governar e santificar todos os homens. Eles acreditam em um Cristo que não estabeleceu um Papado. Eles acreditam em um Cristo que não quer que honremos Sua Santíssima Mãe. (E nós sabemos, da Mensagem de Fátima, que Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria). Eles acreditam em um Cristo que não estabeleceu sete Sacramentos como os principais meios para que alcancemos a graça para a salvação. Eles acreditam em um Cristo que não estabeleceu o Sagrado Sacrifício da Missa. Em resumo, os protestantes prestam culto a um falso Cristo, ou seja, a um falso Deus. É isto o que o bem-aventurado Papa Pio IX ensinou em seu Syllabus de 1864, que é um erro acreditar que o “Protestantismo não é nada mais que outra forma da mesma verdadeira religião Cristã”. [1]
Assim, na regra objetiva, é impossível a qualquer não-católico, não importa quão bem intencionado, obedecer ao Primeiro Mandamento. [2] Nós podemos, então, compreender porque o Concílio de Trento proclamou infalivelmente que, sem a Fé católica, “é impossível agradar a Deus”.
Esta tradicional e verdadeira doutrina católica é posta de lado nestes eventos inter-religiosos, e, de modo geral, na prática ecumênica. A nova teologia ecumênica, ao revés, diz que os membros de todas religiões fazem parte do “Reino de Deus”, e que são “parceiros iguais no diálogo”. A religião católica pode possuir a “plenitude da verdade”, mas todas as outras religiões fazem igualmente parte do plano de Deus. Esta, particularmente, é a tese do teólogo modernista Padre Jacques Dupuis, que falou no Congresso na tarde de sábado.
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Pôster com o logo do Congresso.
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As sessões de Sexta:
De início, estava cético de que conseguiria fazer uma avaliação justa do Congresso. As conferências foram feitas em Português, uma língua que não falo. O Congresso tinha tradução simultânea em inglês, mas os tradutores não eram muito bons. Um dos quais era praticamente inútil: transformava parágrafos inteiros dos textos dos palestrantes em simples frases, e frases não muito compreensíveis. Por sorte, duas das mais importantes conferências foram feitas em inglês.
Do que pude compreender dos palestrantes portugueses, eles falavam, de modo geral, sobre “Santuários” na linguagem da moda da nova Igreja: “O Santuário é um altar de purificação e esperança”, um “lugar de refúgio contra a tentação de prazer e poder”. “Santuário” é parte do “mistério” na “busca pela santidade, encarnação e transcendência”. Tenha em mente que os palestrantes se referem aqui aos santuários religiosos de todas as religiões, sejam santuários de Nossa Senhora, sejam templos pagãos.
Era de se esperar que um Congresso em Fátima sobre Santuários tivesse ao menos uma conferência sobre o Santuário de Fátima. Nada. O Santuário de Fátima foi apenas lembrado incidentalmente, e apenas muito de vez em quando. A mensagem de Fátima, ou mesmo a história de como o Santuário de Fátima veio a existir, não recebeu nenhuma atenção. O Rosário, o Imaculado Coração, a visão do inferno, os cinco primeiros sábados, a reparação pelos pecados, todos os elementos constitutivos da Mensagem de Fátima não foram sequer mencionados. [v. Apêndice I com a programação do Congresso]
Na Sexta-feira, foram realizadas conferências que trataram da “Natureza Pastoral/Científica dos Santuários”. Nos foi dito que “Aquilo que ocorre em um santuário é uma expressão do povo de Deus em ação.” Um professor citou com alvoroço uma bizarra declaração do Padre modernista Eward Schillebeeckx: “a história da salvação não é necessariamente a história da revelação”. Outro conferencista falou indistintamente de Fátima, Meca e Kioto, colocando assim a verdadeira Igreja de Cristo no mesmo nível das falsas crenças; e situando as aparições verdadeiras de Nossa Senhora de Fátima — um evento presenciado por 70.000 pessoas no Milagre do Sol — no mesmo nível das fábulas e supertições das falsas religiões. Não é isto zombar do Deus verdadeiro e blasfemar contra Nossa Senhora de Fátima? [3]
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Neste Congresso de Fátima, o Padre Jacques Dupuis desdenha publicamente de um dogma definido pela Igreja.
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Padre Dupuis
Conforme o já mencionado, duas das mais importantes apresentações foram feitas em inglês: a do padre ecumênico Jacques Dupuis, no sábado, e um breve discurso do Arcebispo Michael J. Fitzgerald, no domingo. Estas eu compreendi perfeitamente, e fiquei horrorizado com o que foi dito.
Como alguns leitores talvez já saibam, eu cobri vários destes eventos pós-conciliares, incluindo Seminários da Nova Evangelização, Dias Mundiais da Juventude e Rock’n’Roll, barulhentas reuniões do Movimento Carismático, e Noites de Diálogo Judaico-Católico. [4] Mas a mais explícita heresia que jamais ouvi em qualquer destes eventos veio da boca do padre jesuíta Jacques Dupuis, algumas poucas centenas de metros distante de onde Nossa Senhora de Fátima aparecera.
O padre Jacques Dupuis é um teólogo ecumênico, progressista, que entrou para a ordem dos Jesuítas em 1941. Neste Congresso, ele propôs sua tese de que todas religiões são positivamente desejadas por Deus. Disse que não deveríamos nos referir às outras religiões como “não-cristãs”, uma vez que este é um termo negativo que os descreve “por aquilo que pensamos que eles não são”. Ao contrário, disse o padre, deveríamos nos referir a elas como às “outras”.
Ele se desfaz da verdade de que há apenas uma única Igreja verdadeira, fora da qual não há salvação, apesar deste ensinamento ter sido definido de forma infalível por três vezes. A definição mais explícita e vigorosa do “fora da Igreja não há salvação”, foi pronunciada de fide no Concílio de Florença:
“A Santíssima Igreja Romana crê, professa e prega firmemente que ninguém que não esteja dentro da Igreja Católica — não apenas pagãos, mas também judeus, heréticos e cismáticos — jamais poderá tornar-se partícipe da vida eterna, mas que será votado ao fogo eterno, “que foi preparado para o demônio e seus anjos” (Mt 25, 41), a não ser que, antes da morte, se una a ela; e que tão importante é a unidade deste Corpo Eclesiástico, que apenas aqueles que permanecem dentro desta unidade podem lucrar dos sacramentos da Igreja para a salvação, e que apenas eles poderão receber recompensa eterna por seus jejuns, suas esmolas, e outros trabalhos de piedade cristã e deveres de soldado cristão. Ninguém, não importa quão grandes e numerosas sejam suas esmolas, ninguém, ainda que verta seu sangue em nome de Cristo, poderá ser salvo se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica.”[5]
Como sabem os católicos, sempre que a verdadeira Igreja estabelecida por Cristo — a Igreja Católica — ensina uma declaração solene, de fide, ela está pronunciando de modo infalível que a doutrina definida é uma verdade revelada por Deus “que não pode nem enganar nem ser enganado.” Um católico tem de crer em todas estas verdades definidas para sua salvação. Negar um dogma infalível da Igreja é chamar Deus de mentiroso, dizer a Ele que aquilo que Ele nos revelou não é verdade. [6]
São Luís de Montfort, fiel a esta verdade revelada, ensina, “não há salvação fora da Igreja Católica. Aquele que resistir a esta verdade, perecerá.” [7] Do mesmo modo, Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, reafirma, “A Santa Igreja, Romana, Católica e Apostólica, é a única igreja verdadeira, fora da qual ninguém pode ser salvo.” [8]
No entanto, o padre Dupuis, no recente Congresso de Fátima, demonstrou publicamente desprezo por esta verdade definida e pelo ensinamento de santos e doutores da Igreja. Sobre este ponto, “fora da Igreja não há salvação”, padre Dupuis disse com desgosto, “Não é necessário lembrar aqui aquele texto horrível do Concílio de Florença de 1442”. Ouvi isto com meus próprios ouvidos e gravei em fita.
Deste modo, padre Dupuis disse à platéia que uma definição infalível da Igreja Católica está errada, e que a Revelação divina de Deus é uma mentira.
Esta é a mais explícita heresia que já encontrei em uma destas conferências pós-conciliares. Normalmente, os conferencistas dançam ao redor do dogma que negam, mas não o padre Dupuis. Não, ele diz abertamente que uma doutrina definida pela Igreja é um “texto horrível” que tem de ser rejeitado.
Como os ouvintes reagiram à audácia da conferência de padre Dupuis? Com grande aplauso no final de sua palestra.
O mais perturbador é que na sala estava a alta hierarquia portuguesa, toda ela alvoroçada com a apostasia de Dupuis.
Sentado exatamente à minha esquerda, estava o Reitor do Santuário de Fátima, Monsenhor Luciano Guerra, que aplaudiu a conferência de Dupuis (eu registrei isto em foto, veja abaixo). À minha direita esta o Delegado Apostólico de Portugal, isto é, o representante papal para Portugal, que também aplaudiu Dupuis. Também aplaudiram o Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Souza Ferreira e Silva, que ainda se recusa a permitir a Missa Tridentina do “Indulto” em sua diocese.
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Mons. Luciano Guerra, o Reitor do Santuário de Fátima, aplaudindo a heresia de Dupuis.
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Durante o aplauso, não pude ver o Cardeal Patriarca de Lisboa de onde estava. Mas é certo que ele concorda com a tese ecumênica de Dupuis. Mais tarde, no mesmo dia, um pequeno grupo de católicos tradicionais questionou o cardeal sobre a nova orientação inter-religiosa [v. apêndice II deste trabalho para saber como pensa o Cardeal]. Um jovem citou uma passagem do livro de Irmã Lúcia, Os Apelos, onde ela explicava fielmente o Primeiro Mandamento. O cardeal respondeu, “Irmã Lúcia não é mais um ponto de referência hoje, uma vez que temos um excelente, que é o Concílio Vaticano II”. [9] Em outras palavras, o cardeal diz que o novo ensinamento ecumênico do Vaticano II eclipsa o ensino tradicional católico sobre o Primeiro Mandamento, que proíbe a adoração de falsos deuses, como transparece nos escritos de Irmã Lúcia.
Por anos a fio, católicos dedicados disseram que a razão de Fátima ser hoje subestimada e eclipsada é porque a nova religião ecumênica do Vaticano II a substituiu. [10] Sou grato por ter o cardeal abandonado todo fingimento e ter admitido esta desgraça diretamente. Isto explica porque a presente hierarquia ecumênica considera falsamente Fátima como de menor importância.
No Congresso, padre Dupuis também disse que o propósito do diálogo não é converter os não-católicos mas, contrariamente, ajudar “o cristão a tornar-se um melhor cristão, e o hindu um melhor hindu”.
Padre Dupuis falou mais adiante que “os cristãos e os “outros” são co-membros do Reino de Deus na história”. Ele também disse que “o Espírito Santo está presente e opera nos livros santos dos hindus ou dos budistas; que está presente e opera nos ritos sagrados dos hindus”. Assim, conforme Dupuis, o Espírito Santo está presente e atuante nos “ritos sagrados” e “livros sagrados” das falsas religiões. Não admira que um proeminente católico ecumênico beijasse o Corão.
Uma exposição mais detalhada da conferência apóstata do padre Dupuis aparecerá em uma futura continuação. Por agora, quero re-enfatizar que os delegados do Congresso — incluindo o Cardeal de Lisboa, o Bispo de Fátima e o Reitor do Santuário de Fátima — aplaudiram a conferência de Dupuis como se fora magnífica. Pior ainda, no dia seguinte, o Arcebispo Michael Fitzgerald, chefe do Conselho Pontifício do Vaticano para o Diálogo Inter-religioso, falou que “o padre Dupuis ontem explanou a base teológica da instituição das relações [dos católicos] com pessoas de outras religiões.” Em outras palavras, o Arcebispo Fitzgerald prestou homenagem às heresias de Dupuis.
O Arcebispo Fitzgerald disse mais adiante que ele concordava com o padre Dupuis nisso de que “a união com Deus não se restringe às pessoas que pertencem à Igreja.” A Igreja, conforme esta nova concepção, não deveria proselitizar. Não é o propósito do diálogo “converter” os “outros” ao Catolicismo. Isto é sem sentido, uma vez que membros de todas as religiões, segundo Dupuis, já fazem parte do “Reino de Deus”. Ao invés, “A Igreja”, diz Fitzgerald, “está lá para reconhecer a santidade que há nas outras pessoas, o elemento de verdade, de graça e beleza presente nas diferentes religiões”, e “tentar produzir uma maior paz e harmonia entre os membros das outras religiões”. Talvez este Congresso deveria ter se chamado, “Fátima na Era de Aquário”.
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Arcebispo Fitzgerald
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A Igreja Católica x A Nova Religião
Qualquer um com um conhecimento rudimentar da Fé Católica sabe que a religião inter-religiosa promovida nesta Conferência de Fátima é contrária ao ensinamento católico e um blasfêmia perante Deus. Como mencionado, o Concílio de Trento definiu infalivelmente que, sem a fé católica, “é impossível agradar a Deus”. [11] A Igreja Católica também definiu três vezes ex cathedra que há apenas uma verdadeira Igreja de Cristo, a Igreja Católica, fora da qual não há salvação. [12] E como ensina o Vaticano I, nem mesmo um Papa pode mudar um dogma definido, caso contrário, verdades dogmáticas jamais teriam sido verdadeiras. [13]
O bem-aventurado Papa Pio IX reiterou a verdade de que “fora da Igreja Católica não há salvação”, ao combater o crescente “catolicismo liberal” de seus dias. Ele disse:
“Temos de mencionar e condenar novamente aquele erro pernicioso do qual se têm imbuído certos católicos, que pensam que aqueles que vivem no erro, que não têm a fé verdadeira e que estão separados da unidade católica, podem obter a vida eterna. Esta opinião é absolutamente contrária à fé católica, como é patente pelas próprias palavras de Nosso Senhor (Mt. 18, 17; Mr 16, 16; Lc 10,16; Jo 3, 18), bem como das palavras de São Paulo (2 Tt 3, 11) e de São Pedro (2 Pd 2, 1). Entreter opiniões contrárias a esta fé católica é tornar-se um desgraçado incrédulo.” [14]
O Papa Leão XIII, elaborando a mesma doutrina, ensinou, “uma vez que a ninguém é permitido ser negligente com o culto devido a Deus... somos obrigados a cultuá-Lo do modo que Ele nos mostrou ser de Sua vontade ... Não pode ser difícil descobrir qual é a verdadeira religião, se com imparcialidade e seriedade se a procura; pois as provas são abundantes e evidentes ... De todas estas [provas] é evidente que a única religião verdadeira é aquela estabelecida pelo próprio Jesus Cristo, e a que Ele confiou à sua Igreja para que a protegesse e propagasse.” [15]
Do mesmo modo, o Papa Pio XII reafirmou esta doutrina no contexto de uma oração à Santíssima Virgem:
“O Maria, mãe de misericórdia e morada da Sabedoria! Iluminai as mentes envoltas nas trevas da ignorância e do pecado, para que elas possam claramente reconhecer que a única religião verdadeira de Jesus Cristo é a Santa, Católica e Apostólica Igreja Romana, fora da qual nem santidade nem salvação se pode encontrar.” [16]
Desde estas fontes, e desde outros incontáveis ensinamentos do Magistério, é claro que a única religião positivamente desejada por Deus, a única religião na qual “santidade e salvação se pode encontrar” é a Santa Igreja Católica estabelecida por Cristo.
A Sagrada Escritura, do mesmo modo, ensina infalivelmente que as falsas religiões não agradam a Deus, e que a maior caridade que podemos ter pelos “outros” é trabalhar e rezar por sua conversão à única e verdadeira Igreja de Cristo. Nosso Senhor ordenou a Seus discípulos, “ide e ensinai”, não “ide e dialogai”. Ele disse: “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.” (Mt 28, 19). “Aquele que acreditar e for batizado será salvo, aquele que não crer, será condenado.” (Mc 15, 16)
Quando Nosso Senhor fala em acreditar, ele não se refere a uma crença vaga em qualquer religião, mas sim crença n’Ele e em tudo que Ele ensinou. É por isso que São João, o Apóstolo do amor, disse, “Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é um Anticristo, que nega o Pai e o Filho”. (1 Jo 2, 22). Assim, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo, Budismo, qualquer religião que rejeite o Cristo, conforme a Escritura, é religião do Anticristo. No que diz respeito às religiões heréticas, como, por exemplo, os “ortodoxos” e os protestantes, S. Paulo nos diz que falsos credos são as “doutrinas dos demônios”.
Contrariamente às noções do padre Dupuis, as religiões do Anticristo e os falsos credos dos heréticos, que são “doutrinas dos demônios”, não podem ser desejadas por Deus. Tampouco se pode considerar que seus adeptos façam parte do “Reino de Deus”.
Assim, não pode existir uma nova “unidade ecumênica” que busque unir católicos com os membros de falsas religiões em uma noção herética do “Reino de Deus”. O Papa Pio XI com razão ensinou em sua encíclica de 1928 contra o ecumenismo, Mortalium Animos: “A Unidade não pode resultar senão de um só magistério, de uma só lei de crer e de uma só fé entre os cristãos.” Do mesmo modo, Papa Pio XII ensinou em sua Instrução sobre o Movimento Ecumênico que “A verdadeira união somente poderá vir do retorno dos dissidentes à única e verdadeira Igreja de Cristo (a Igreja Católica).”[17]
Mas, no presente, a heresia inter-religiosa é dominante, e se ergue para reclamar o Santuário de Fátima como sua próxima vítima.
Fátima: Um Santuário inter-religioso?
Na ocasião, não vi relatos deste Congresso na imprensa religiosa ou secular. Duas semanas depois, no entanto, a edição de 1o. de Novembro do periódico Portugal News [V. Apêndice III com o original desta notícia], sediado em Lisboa, publicou em Inglês um artigo intitulado “Fátima se tornará um Santuário Inter-religioso”. O artigo dizia, “Os representantes que participaram do congresso inter-religioso anual “O Futuro de Deus”, promovido pelo Vaticano e pelas Nações Unidas, outubro, em Fátima, foram informados de que o Santuário se tornará um centro onde todas religiões do mundo se reuniram para prestar culto a seus diversos deuses.”
A notícia citava o Reitor do Santuário, Monsenhor Guerra, que disse no Congresso que Fátima “mudará para melhor”. Portugal News acrescentava ainda esta citação de Mons. Guerra: “O futuro de Fátima, ou a adoração de Deus e de Sua Mãe neste Santuário sagrado, tem de passar pela criação de um templo onde as diferentes religiões possam se misturar. O diálogo inter-religioso em Portugal, e na Igreja Católica, está ainda em um estágio embrionário, mas o Santuário de Fátima não está indiferente a este fato e já se abriu à idéia de tornar-se, por vocação, um centro universal.”
“Monsenhor Guerra”, diz o periódico Portugal News, “assinalou que o fato mesmo de ser Fátima o nome da filha muçulmana de Maomé, é um indício de que o Santuário tem de se abrir para a coexistência de várias fés e crenças. Segundo o Mons.: “Temos, portanto, de assumir que foi da vontade da Santíssima Virgem Maria que as coisas acontecessem desta maneira.” Católicos tradicionais que se opuseram ao Congresso foram descritos pelo Monsenhor como ‘antiquados, tacanhos, extremistas fanáticos e provocadores’.”
Cito o Portugal News neste ponto porque não ouvi Monsenhor Guerra fazendo estas declarações no Congresso. Mas, novamente, pode ser que eu a tenha perdido. Monsenhor Guerra falou em Português, e, como já fiz notar, a tradução simultânea para o inglês era de péssima qualidade. Apesar de tudo, a idéia de Fátima se tornar um Santuário “inter-religioso” é consistente com tudo que ouvi naquele fim-de-semana, especialmente no domingo, quando membros de várias religiões deram seus testemunhos sobre a importância dos “Santuários” em suas tradições religiosas.
Os conferencistas deste Domingo incluíam católicos, ortodoxos, anglicanos, hindus, muçulmanos, bem como um budista que convidou a todos para visitar o santuário Budista Zenkoji, no Japão; e até distribuiu a cada um panfletos coloridos do santuário de sua religião.
Mas o testemunho do católico proveu-se o mais problemático, e foi, talvez, um presságio do que em breve teremos em Fátima.
O Padre Arul Irudayam, reitor do Santuário Mariano da Basílica de Vailankanni, na Índia, discorreu inicialmente e belamente sobre a história deste santuário, onde ocorreu uma aparição de Nossa Senhora. O Santuário recebe milhões de peregrinos por ano, incluindo muitos hindus.
Padre Irudayam então se regozijou que, como mais um avanço da prática inter-religiosa, os hindus executem hoje suas cerimônias religiosas na igreja.
Claro está, os conferencistas ficaram entusiasmados de ouvir que uma igreja católica é utilizada para o culto pagão, mas eu fiquei aterrorizado. A Sagrada Escritura ensina claramente que “os deuses dos gentios são demônios”. (Sl 95, 5). E a verdade de que os deuses hindus são demônios foi confirmada por um dos maiores missionários de todos os tempos, São Francisco Xavier.
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Um Budista distribui a todos os presentes um panfleto convidando à visita ao santuário budista de Zenkoji.
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Durante as missões, S. Francisco Xavier encontrava uma particular alegria na companhia de seus pequenos discípulos. Ele se impressionava com o enorme comprometimento que estes moços demonstravam, e com a avidez com que aprendiam as preces e ensinavam-nas aos demais. Os moços “também tinham um grande horror pelas práticas idólatras dos pagãos”, em outras palavras, pelas práticas do hinduísmo. Os moços freqüentemente “reprovavam seus pais e mães se acaso se envolvessem com as cerimônias pagãs, e corriam ao padre, para contar-lhe a respeito.”
Quando S. Francisco Xavier ouvia que, “fora da povoação havia alguém praticando idolatria, ele reunia todos os moços — e isto foi algo que ele também fez em outras aldeias que visitou — e com eles ia ao lugar onde foram erigidos estes ídolos. Os moços destruíam as imagens de barro dos demônios até transformá-las em pó. Depois cuspia e pisava nelas.” O biógrafo de São Francisco Xavier explica que estes moços “agindo assim, mais insultavam os demônios do que os honravam os seus pais.” [19]
Ainda que este episódio possa deixar os sacerdotes ecumênicos indignados, é claro que São Francisco Xavier reconheceu com toda razão que “os deuses das gentes são demônios”; no caso, os “deuses” do hinduísmo. No entanto, estes “demônios” são adorados no santuário Vailankanni de Nossa Senhora, na Índia. O reitor do Santuário de Fátima, bem como os demais participantes, aplaudiram o discurso em que se falou sobre a prática de hinduísmo no Santuário católico.
É claro que, se os católicos não se organizarem e protestarem, será apenas uma questão de tempo para que esta blasfêmia ocorra em Fátima, especialmente uma vez que projetos estão a caminho para a construção de um novo Santuário em Fátima.
O Portugal News informou: “o Santuário de Fátima está prestes a passar por uma total reconstrução, com uma nova basílica, em formato de estádio, a ser construída perto da existente, construída em 1921.” [20] Cerca de um ano atrás, eu vi uma foto da maquetes. Trata-se de uma monstruosidade moderna abominável, que mais parece o hangar futurístico de uma nave espacial.
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Acima, o horrendo Santuário de 40 milhões de euros que a hierarquia modernista de Portugal planeja construir em Fátima.
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Castigo
A nova religião ecumênica proposta em Fátima, ameaça a salvação de incontáveis almas, uma vez que diz aos não-católicos que permaneçam na escuridão de suas falsas religiões. Ela também ameaça ser causa de um grande castigo.
No início do século XX, o eminente sacerdote europeu Cardeal Mercier, citando o permanente ensino dos Papas, declarou que a Primeira Guerra Mundial foi, em verdade, uma punição pelos crimes das nações, que colocaram a única Religião Verdadeira no mesmo nível das falsas crenças (como o faz a religião ecumênica promovida no Congresso de Fátima). Disse o Cardeal Mercier:
“Em nome do Evangelho, e sob a luz das Encíclicas dos últimos quatro Papas, Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII e Pio X, eu não hesito em afirmar que este indiferentismo religioso, que põe no mesmo nível a religião de origem divina e as religiões inventadas pelos homens, para incluí-las no mesmo ceticismo, é a blasfêmia que clama aos céus por castigo na sociedade, mais ainda que os pecados dos indivíduos e de suas famílias.” [21]
O que diriam o Cardeal Mercier e os Papas por ele citados desta nova tentativa de produzir uma “paz e harmonia entre as religiões”, onde os sacerdotes católicos colocam a única religião verdadeira como um “parceiro igual” das falsas religiões e credos pagãos? Como Deus reagirá a esta “blasfêmia que clama aos céus por castigo na sociedade”? Que tipo de castigo o céu enviará, uma vez que à terra de Fátima, santificada pela presença de Nossa Senhora, e ao Santuário a ela consagrado, se permite que seja dessacralizado com o culto de falsos deuses? Em face disto, os católicos não podem ser complacentes.
O mais perturbador de tudo, é que a nova religião ecumênica proclamada neste Congresso de Fátima, é de fato a religião da maçonaria. Disse Yves Marsaudon, maçom, em aprovação:
“Pode-se dizer que o ecumenismo é o filho legítimo da maçonaria... em nosso tempo, nosso irmão Franklin Roosevelt, reivindicou para todos eles a possibilidade de “adorar a Deus, conforme os princípios e convicções de cada um”. Isto é tolerância, e é também ecumenismo. Nós, maçons tradicionais, nos permitimos parafrasear e transpor esta sentença de um celebrado estadista, adaptando-a às circunstâncias: católicos, ortodoxos, protestantes, israelitas, muçulmanos, hindus, budistas, livre-pensadores, livre-crentes, para nós, estes são apenas os prenomes: Maçonaria, é este o sobrenome.” [22]
Esta religião maçônica é hoje promovida em Fátima. Eu a ouvi, da fala macia do padre Jacques Dupuis. No entanto, as palavras de Dupuis eram um torrão de doutrina maçônica do submundo coberta de açúcar. Foi o Papa Pio VIII que disse da maçonaria, “seu deus é o diabo”. [23]
No entanto, não nos deveria surpreender que almas consagradas tenham sucumbido ao poder do demônio. Irmã Lúcia o predisse, quarenta anos atrás.
Os Avisos de Irmã Lúcia
Em sua entrevista de 1957 com o padre Fuentes, irmã Lúcia fez o profético aviso:
“Padre, o demônio está prestes a engajar-se em uma batalha decisiva contra a Santíssima Virgem. E o demônio sabe o que mais ofende a Deus, e o que, em pouco espaço de tempo, conseguirá para ele o maior número de almas. Assim, o demônio faz tudo para conquistar as almas consagradas a Deus, porque, deste modo, o demônio conseguirá deixar as almas dos fiéis abandonadas por seus guias, e assim mais facilmente as derrubará.”
Irmã Lúcia continua,
“O que mais aflige ao Imaculado Coração de Maria e ao Coração de Jesus é a queda das almas religiosas e sacerdotais. O demônio sabe que os religiosos e padres que se afastam de sua bela vocação arrastam consigo um número de almas para o inferno... o demônio quer conquistar as almas consagradas. Ele os tentará corromper para adormecer as almas dos leigos e, assim, levá-los à impenitência final...”[24]
As palavras proféticas de irmã Lúcia desdobram-se perante nossos olhos no Congresso pan-religioso de Fátima. Aqui vemos o demônio “conquistar as almas” consagradas a Deus. Vemos padres, religiosos, bispos, que “se afastam de sua bela vocação” de ensinar as verdades da fé católica, e que “arrastam consigo um número de almas para o inferno” por seu perverso ensino ecumênico.
O Cardeal de Lisboa, o Bispo de Fátima, e o Reitor do Santuário, todos fizeram o juramento anti-modernista em suas ordenações. [25] Um juramento perante Deus é um ato sagrado, e trair tal juramento é um pecado mortal contra o Segundo mandamento, “Não falarás o nome de Deus em vão”. Contudo, estes todos no Congresso de Fátima traíram este juramento ao propor uma nova religião modernista que diz que as verdades católicas de ontem não podem ser “verdades” católicas de hoje. Como Mons. Fenton assinalou décadas atrás, “o homem que ensinou ou, de qualquer modo que seja, colaborou na disseminação ou proteção do ensinamento modernista” após ter feito o juramento anti-modernista, “se conspurcaria, não apenas como um pecador contra a fé católica, mas também como um vulgar perjuro”. [26]
Podemos concluir que o Padre Jacques Dupuis, o Cardeal José da Cruz Policarpo de Lisboa, o Bispo Serafim de Sousa Ferreira e Silva, de Fátima-Leiria, e o Reitor do Santuário de Fátima, Mons. Guerra, promoveram o modernismo e, assim, são pecadores contra a fé católica e também vulgares perjuros. É um crime contra Deus e contra a justiça que estes homens mantenham a autoridade na terra de Portugal, onde apareu Nossa Senhora.
Na década de 90, em uma estação de rádio mexicana, o reitor do santuário de Guadalupe negou a verdade de que Nossa Senhora de Guadalupe apareceu em Tepayac. A população do México indignou-se e protestou contra a audácia. Em um ano, o Reitor do Santuário tinha saído. [27] O mesmo tem de ser feito em Fátima.
Católicos em todo o mundo tem de unir e protestar contra o escândalo que ocorreu, e que continuará a ocorrer, contra a fé católica e contra a Mãe de Deus.
Devemos igualmente nos unir em súplicas de reparação pelas blasfêmias contra a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo, cuja Mãe veio em Fátima trazer uma mensagem a todo o gênero humano, Mãe que hoje é traída por sacerdotes da alta hierarquia, e, mais especialmente, da hierarquia de Portugal.
Notas:
1. Papa Pio IX, Syllabus, 1864, Proposição Condenada #18. Popes Against Modern Errors: 16 Papal Documents, (Rockford: Tan, 1999), p. 30.
2. Em 1944, o eminente teólogo belga, Padre Francis Connell, tendo por base o ensino constante dos Papas, lembrou aos católicos que eles têm um dever de caridade de dizer aos não-Católicos que eles estão em grande risco de perder suas almas se permanecerem no erro. Ele disse, “longe de minimizar a exclusividade da religião católica, nosso povo deveria ser instruído sem hesitação, sempre que a ocasião permitir, e deveria ser avisado aos não-católicos que nós os consideramos privados dos meios ordinários de salvação, ainda que seja ótima as suas intenções.” Citado do Padre Francis Connell, "Communication with Non-Catholics in Sacred Rites, American Ecclesiastical Review, Set., 1944.
3. Nossa Senhora de Fátima pediu especificamente pelos primeiros cinco sábados em reparação pelas blasfêmias contra Seu Imaculado Coração, blasfêmias que são o fruto destas falsas religiões.
4. Publicado em Catholic Family News.
5. Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, 4 de Fevereiro de 1442.
6. V. The Source of Catholic Dogma, Ludwig Ott (primeira edição em 1960, reprint feito por Tan Books, Rockford, IL), pág. 4-6.
7. Extraído de Hail Mary, Full of Grace, Still River, MA, 1957, pág. 107. Também poderíamos citar São Francisco de Assis, que disse firmemente, “Todos aqueles que não acreditaram que Jesus Cristo é realmente o Filho de Deus, estão condenados. Também o estão todos que vêem o Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo e não acreditam que é verdadeiramente o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor ... também estes estão condenados!”. Citado de Admonitio prima de Corpore Christi (Quaracchi edition, pág. 4), citado de Johannes Jorgensen, St. Francis of Assisi, (New York: Longmans, Green and Co., 1912), pág. 55.
8. Instructions on the Commandments and Sacraments. Devemos notar que Mons. Joseph Clifford Fenton, antigo editor do The American Ecclesiastical Review, e um dos mais eminentes teólogos do século XX, alertou que a doutrina do “fora da Igreja não há salvação” é um dos principais dogmas negados em nosso tempo.” Em 1958, quatro anos antes do Vaticano II, Mons. Fenton escreveu, “Em cada era da Igreja houve alguma porção de sua doutrina que os homens estiveram inclinados a mal interpretar ou mesmo negar. Em nosso tempo, é a parte da verdade católica trazida com especial clareza e força por São Pedro, em seu primeiro sermão de missionário em Jerusalém. É, de algum modo, impopular hoje insistir, como o fez S. Pedro, que aqueles fora da verdadeira Igreja de Cristo estão necessitados de abandonar suas próprias posições e ingressar na ecclesia. Não obstante, esta verdade é parte da própria revelação de Deus.”( V. Mons. Joseph Clifford Fenton, The Catholic Church and Salvation, Newman Press, 1958, pág. 145.)
9. Documentation Information Catholique Internationale (DICI), November 3, 2003.
10. V. "It Doesn’t Add Up", de John Vennari, especialmente a última parte, "Don’t Rain on My Charade", The Fatima Crusader, Edição #70, Primavera 2002. Disponível on-line:http://www.fatima.org/library/cr70pg12.htm.
11. Sessão V, sobre o Pecado Original. V. Denzinger #787.
12. V. texto do Concílio de Florença supracitado.
13. “O Espírito Santo não foi prometido ao sucessor de Pedro para que, pela revelação do Santo Espírito, possam eles revelar novas doutrinas, mas para que, com Seu auxílio, possam eles guardar santamente a revelação transmitida pelos Apóstolos e pelo depósito da Fé, e o possam fielmente expor.” (Concílio Vaticano I, sessão II, cap. IV, Dei Filius). O eminente teólogo Mons. Fenton emprega este texto para explicar que “os dogmas católicos são imutáveis... as mesmas idênticas verdades são sempre apresentes ao povo como reveladas por Deus. Seu significado nunca muda.” (We Stand With Christ, Mons. Joseph Clifford Fenton, (Bruce, 1942) pág. 2.)
14. Citação do livro The Catholic Dogma, de padre Michael Muller (Benzinger Brothers, 1888), p. xi. É nossa a marcação em negrito.
15. Papa Leão XII, Encíclica Immortale Dei, citada a partir de The Kingship of Christ and Organized Naturalism, padre Denis Fahey (Regina Publications, Dublin, 1943), págs. 7-8.
16. The Raccolta, Benzinger Brothers, Boston, 1957, No. 626 (O Destaque é nosso).
17. Instructio (Instrução da Santa Sé sobre o Movimento Ecumênico, 20 de Dezembro de 1949). A íntegra da tradução em inglês foi publicada em The Tablet (London), 4 de Março de 1950.
18. Portugal News, edição on-line, 1o. de November de 2003.
19. Francis Xavier, His Life and Times, Volume II, India, 1541-1545, George Schurhammer, S.J. (tradução inglesa publicada pelo Instituto Histórico Jesuita de Roma em 1977), pág. 310.
20. Talvez seja este um erro tipográfico do Portugal News. A pequena Capelinha foi construída em 1921. A presente Basílica do Santuário de Fátima foi construída em 1951.
21. Carta pastoral do Cardeal Mercier, 1918, The Lesson of Events. Citado em The Kingship of Christ and Organized Naturalism, padre Denis Fahey (Dublin: Regina Publications, 1943), pág. 36.
22. Yves Marsaudon, Oecumènisme vu par un Maçon de Tradition (págs. 119-120). Tradução inglesa tirada de Peter Lovest Thou Me? (Instauratio Press, 1988), pág. 170.
23. Papa Pio VIII, citado em Papacy and Freemasonry, Mons. Jouin.
24. Fatima in Twilight, Mark Fellows, (Niagara Falls: Marmion, 2003), pág. 145.
25. Todos padres tinham de fazer este Juramente anti-modernista até que, tragicamente, foi ele abolido por Paulo Vi em 1967. Aparentemente, todos os padres que menciono foram ordenados antes de 1967. Mas, mesmo se um padre não fizer o juramente, ele está, ainda assim, proibido de promover o Modernismo ou qualquer outra heresia. É ainda contra a Fé Católica fazê-lo.
26. "Sacrorum Antistitum and the Background of the Oath Against Modernism," Mons. Joseph Clifford Fenton, The American Ecclesiastical Review, Outubro de 1960, págs. 259-260.
27. V. Fatima Priest, Francis Alban (Pound Ridge: Good Counsel Publications, 1997), Capítulo 14, pág. 160 (2a. edição).
Simpósio Teológico Internacional
Instituto Universitário São Pio X - Paris
4 a 6 de Outubro de 2002
Do Ecumenismo à Apostasia Silenciosa
25 anos de pontificado
Menzingen 2004
1. O 25o aniversário da eleição de João Paulo II é ocasião para reflectir na orientação fundamental que o Papa deu ao seu pontificado. Na sequência do Concílio Vaticano II, quis colocá-lo sob o signo da unidade: «A restauração da unidade de todos os cristãos era um dos fins principais do II Concílio do Vaticano (cf. UR no1) e, desde a minha eleição, empenhei-me formalmente em promover a execução das suas normas e das suas orientações, considerando que tal era para mim um dever primordial» . Essa “restauração da unidade dos cristãos” marcou, segundo João Paulo II, um passo em direcção a uma unidade maior, a da família humana inteira: «A unidade dos cristãos está aberta sobre uma unidade sempre mais vasta, a da família humana inteira» .
2. Em razão desta escolha fundamental:
- João Paulo II estimou dever «retomar em mãos essa “magna carta” conciliar que é a Constituição Dogmática Lumen gentium , a qual definiu a Igreja como um «sacramento, quer dizer, simultaneamente sinal e meio da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano» . Essa “retomada em mãos” era feita com vista a «realizar sempre melhor a comunhão vital em Cristo de todos os que crêem e esperam n’Ele, mas igualmente com vista a contribuir para uma mais ampla e mais forte unidade da família humana inteira» ;
- João Paulo II consagrou o essencial do seu pontificado à prossecução dessa unidade, multiplicando encontros inter-religiosos, arrependimentos e gestos ecuménicos. Esta foi também a principal razão das suas viagens: «elas permitiram alcançar as Igrejas particulares em todos os continentes, levando-lhes uma atenção sustentada no desenvolvimento das relações ecuménicas com os cristãos das diferentes Confissões» ;
- João Paulo II deu o ecumenismo como traço característico do Jubileu do ano 2000 .
Em completa verdade, pois, «pode dizer-se que toda a actividade das Igrejas locais e da Sé Apostólica tiveram estes últimos anos uma inspiração ecuménica» . Hoje, passaram-se vinte e cinco anos, o Jubileu acabou: soou a hora do balanço.
3. Durante muito tempo, João Paulo II creu que o seu pontificado seria um novo Advento permitindo «na alvorada deste novo milénio erguer-se sobre uma Igreja que reencontrou a sua plena unidade». Então, ter-se-ia realizado o «sonho» do Papa: «Todos os povos do mundo em marcha, de diferentes lugares da Terra, para se reunirem junto do Deus único como um só família» . A realidade é completamente outra: «O tempo em que vivemos mostra-se como uma época de desvario [em que] muitos homens e mulheres parecem desorientados» . Por exemplo, reina na Europa uma «espécie de agnosticismo prático e de indiferentismo religioso», a ponto de «a cultura europeia dar a impressão de uma “apostasia silenciosa”» . O ecumenismo não é estranho a esta situação. A análise do pensamento de João Paulo II (1a parte) far-nos-á verificar, não sem profunda tristeza, que a prática ecuménica é herdade de um pensamento estranho à doutrina católica (2a parte), e leva à “apostasia silenciosa” (3a parte).
Capítulo I - ANÁLISE DO PENSAMENTO ECUMÉNICO
A unidade do género humano e o diálogo inter-religioso
Cristo, unido a cada homem
4. Na base da concepção do Papa encontra-se a afirmação segundo a qual «Jesus Cristo [que] “Se uniu de uma certa maneira a todos os homens” (Gaudium et spes, no 22), mesmo se estes disso não estão conscientes» . Com efeito, João Paulo II explica que a Redenção trazida por Cristo é universal, não somente no sentido de que é superabundante para todo o género humano e que é proposta a cada um dos seus membros em particular, mas, sobretudo, porque é aplicada, de facto, a todos os homens: logo, se por um lado, «em Cristo, a religião já não é uma “procura de Deus como às apalpadelas” (Actos 17, 27), mas uma resposta da fé a Deus que Se revela [...], resposta tornada possível por este Homem único [...] em que todo o homem se tornou capaz de responder a Deus», por outro, o Papa acrescenta: «[que] neste Homem, a criação inteira responde a Deus» . Com efeito, «cada um foi incluído no mistério da Redenção, e Jesus Cristo uniu-Se a cada um, para sempre, através deste mistério. [...] É isso, o homem em toda a plenitude do mistério do qual se tornou participante em Jesus Cristo e do qual participa cada um dos quatro mil milhões de homens vivendo no nosso planeta, desde o instante da sua concepção» . Desta forma, «no Espírito Santo, cada pessoa e cada povo tornaram-se, pela Cruz e Ressurreição de Cristo, filhos de Deus, participantes na natureza divina e herdeiros da vida eterna» .
O Congresso de Assis
5. Este universalismo da Redenção encontra a sua aplicação imediata na maneira com a qual João Paulo II pratica as relações entre a Igreja Católica e as outras religiões. Com efeito, se a ordem da unidade atrás descrita «é aquela que remonta à criação e à redenção e se é, portanto, neste sentido, “divina”, estas diferenças e estas divergências [citadas anteriormente], mesmo religiosas, devem-se, sobretudo, a um “facto humano”» e devem, assim, «ser ultrapassadas no progresso para a realização do grandioso desígnio de unidade que preside à criação» . Daí as reuniões inter-religiosas tais como a de Assis, em 27 de Outubro de 1986, na qual o Papa quis desvendar «de maneira visível, a unidade escondida mas radical que o Verbo Divino [...] estabeleceu entre os homens e as mulheres deste mundo» . Com tais gestos, o Papa entende fazer proclamar à Igreja que «Cristo é a realização da aspiração de todas as religiões do mundo e, por isso mesmo, delas é fim único e definitivo» .
A Igreja de Cristo e o Ecumenismo
A única Igreja de Cristo
6. Uma ordem dupla: unidade divina permanecendo inviolada, e divisões históricas que não derivam senão do humano; tal é ainda a grelha aplicada à Igreja, considerada como comunhão. Com efeito, João Paulo II distingue a Igreja de Cristo, realmente divina, das diferentes Igrejas, frutos das “divisões humanas” . A Igreja de Cristo, de contornos assaz mal definidos pelo facto de exceder os limites da Igreja Católica, é uma realidade interior . Ela reúne pelo menos o conjunto dos cristãos , qualquer que seja a sua pertença eclesial: todos são «discípulos de Cristo» , «numa pertença comum a Cristo» ; eles «são um porque, no Espírito, estão na comunhão do Filho e, n’Ele, na comunhão com o Pai» . A Igreja de Cristo é, assim, comunhão dos santos, para além das divisões: «A Igreja é Comunhão dos Santos» Com efeito, «A comunhão na qual os cristãos crêem e esperam é, na sua realidade mais profunda, a sua unidade com o Pai por Cristo e no Espírito Santo. Desde o Pentecostes é dada e recebida na Igreja, comunhão dos santos» .
As divisões eclesiais
7. Conforme João Paulo II, as divisões eclesiais acontecidas no decurso da História não teriam afectado a Igreja de Cristo, ou, dito de outro modo, teriam deixado inviolada a unidade radical dos cristãos entre eles: «Pela graça de Deus, o que pertence à estrutura da Igreja de Cristo contudo não foi destruído, nem a comunhão que permanece com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais» . Com efeito, estas divisões são de outra ordem; só respeitam à manifestação da comunhão dos santos, o que a torna visível: os tradicionais laços da profissão de fé, dos sacramentos e da comunhão hierárquica. Recusando um ou outro destes laços, as Igrejas separadas não ferem senão a comunhão visível com a Igreja Católica, e somente de maneira parcial: esta última comunhão é capaz de mais ou menos, conforme um maior ou menor número de laços tiverem sido salvaguardados. Falar-se-á então de comunhão imperfeita entre as Igrejas separadas e a Igreja Católica, permanecendo salva a comunhão de todas na única Igreja de Cristo . A expressão “Igrejas irmãs” será utilizada frequentemente .
8. Segundo essa concepção, o que une entre elas as diferentes Igrejas cristãs é maior do que o que as separa : «O espaço espiritual comum vence muitas barreiras confessionais que ainda nos separam uns dos outros» . Este espaço espiritual, eis a Igreja de Cristo. Se esta não «subsiste» «em um único sujeito» senão na Igreja Católica, não deixa de manter uma «presença activa» nas Comunidades separadas, em virtude dos «elementos de santificação e de verdade» que nelas estão presentes. É este pretendido espaço espiritual comum que João Paulo II quis consolidar com a publicação de um martirológio comum às Igrejas: «O ecumenismo dos santos, dos mártires, é talvez o que mais convence. A voz da communio sanctorum é mais forte que a dos fautores de divisão» .
Nem absorção nem fusão, mas dom recíproco
9. Portanto, «o fim último do movimento ecuménico» não é senão «o restabelecimento da plena unidade visível de todos os baptizados» . Tal unidade não mais se realizará pelo “ecumenismo de regresso” : «Rejeitamo-lo como método de procura de unidade. [...] A acção pastoral da Igreja Católica, tanto latina como oriental, já não tende a fazer passar os fiéis de uma Igreja para outra» . Com efeito, seria esquecer duas coisas:
— Estas divisões, que o Concílio Vaticano II analisa como faltas de caridade , são imputáveis a uma e outra parte: «Evocando a divisão dos cristãos, o decreto sobre o ecumenismo não ignora “a falta dos homens de uma e outra parte”, reconhecendo que a responsabilidade não pode ser atribuída unicamente “senão aos outros (UR, 3)”» .
— O ecumenismo é também «troca de dons» entre as Igrejas: «A troca de dons entre as Igrejas, na sua complementaridade, torna fecunda a comunhão» .
É por isso que a unidade desejada por João Paulo II «não é absorção nem mesmo fusão» . Aplicando este princípio às relações entre a Igreja Católica e os ortodoxos, o Papa expõe: «As duas Igrejas irmãs do Oriente do Ocidente compreendem hoje que sem uma escuta recíproca das razões profundas que tendem em cada uma delas à compreensão do que as caracteriza, sem um dom recíproco dos tesouros do génio de que cada uma é portadora, a Igreja de Cristo não pode manifestar a plena maturidade da forma que recebeu no início, no Cenáculo» .
A recomposição da unidade visível
10. «Do mesmo modo que na família as eventuais dissenções devem ser ultrapassadas pela recomposição da unidade, é assim que se deve fazer na família mais vasta da comunidade cristã inteira» . Ultrapassar as dissenções humanas pela recomposição da unidade visível, tal é a metodologia do Papa. Será necessário aplicá-la nos três laços tradicionais da profissão de fé, dos sacramentos e da comunhão hierárquica, porque são eles que constituem a visibilidade da unidade.
A unidade de sacramentos
11. Sabe-se como Paulo VI se entregou a essa tarefa em matéria de sacramentos: nas sucessivas reformas litúrgicas que aplicaram os decretos conciliares, «a Igreja foi guiada [...] pelo desejo de tudo fazer para facilitar aos nossos irmãos separados o caminho da união, afastando qualquer pedra que pudesse constituir nem que fosse a sombra de um risco de tropeço ou de desagrado» .
12. Afastado, assim, obstáculo de uma liturgia católica demasiado expressiva do dogma, faltava ultrapassar a dificuldade das liturgias das comunidades separadas. A reforma cedeu, então, o lugar ao reconhecimento: se bem que não contenha as palavras consagratórias, a anáfora assíria (nestoriana) de Addaï e Mari foi decretada válida num documento expressamente aprovado por João Paulo II .
A unidade na profissão da fé
13. Em matéria de fé, João Paulo II estima que, muito frequentemente, «as polémicas e as controvérsias intolerantes transformaram em afirmações incompatíveis o que era de facto o resultado de dois olhares perscrutando a mesma realidade, mas de dois pontos de vista diferentes. É preciso encontrar hoje a fórmula que, apreendendo esta realidade integralmente, permita ultrapassar as leituras parciais e eliminar as interpretações erradas» . Isto reclama uma certa latitude em relação às fórmulas dogmáticas até aqui empregadas pela Igreja. Recorre-se, portanto, ao relativismo histórico, a fim de tornar as fórmulas dogmáticas dependentes da sua época: «As verdades que a Igreja entende realmente ensinar pelas suas fórmulas dogmáticas são sem dúvida distintas das concepções mutáveis próprias de uma época determinada; mas não se exclui que sejam eventualmente formuladas, mesmo pelo Magistério, em termos que transportem os traços de tais concepções» .
14. Duas aplicações destes princípios são citadas com frequência. No caso da heresia nestoriana, João Paulo II estima que «as divisões que se produziram eram devidas em larga medida a mal entendidos» . Com efeito, se é claro o princípio afirmando que «em primeiro lugar, perante as formulações doutrinais que se separam das fórmulas em uso na comunidade à qual pertencem, convém manifestamente discernir se as palavras não cobrem um conteúdo idêntico», é pervertida a aplicação que dele é feita. É assim que o reconhecimento de fé cristológica da Igreja Assíria do Oriente, sem que lhe tenha sido reclamada a adesão à fórmula de Éfeso, segundo a qual Maria é Mãe de Deus, despreza as condenações anteriores, sem ter em conta a sua característica de infalibilidade . Mais característica ainda é a declaração comum com a Federação Luterana Mundial. O seu cuidado não foi afirmar a fé e afastar o erro, mas somente encontrar uma formulação apta a escapar aos anátemas do Concílio de Trento: «Esta declaração comum é apresentada na convicção de que a ultrapassagem das condenações e das questões até então controversas não significa que as separações e as condenações sejam tomadas com ligeireza ou que o passado de cada uma das nossas tradições eclesiais seja desautorizado. É apresentada no entanto na convicção de que novas apreciações acontecem na história das nossas Igrejas» . Numa bem simples palavra, o Cardeal Kasper comentará essa declaração: «Ali onde tínhamos visto inicialmente uma contradição, podemos ver uma posição complementar» .
A comunhão hierárquica
15. Quanto ao ministério de Pedro, os desejos pontifícios são conhecidos. Encontrar, de concerto com os pastores e teólogos das diferentes Igrejas, «as formas pelas quais este ministério poderá realizar um serviço de amor reconhecido por uns e por outros» . Introduzir-se-á, então, o regulador da necessitas Ecclesiae , compreendido hoje como realização da unidade dos cristãos, para atenuar o que, no exercício do ministério petrino, poderia ser obstáculo ao ecumenismo.
16. Segundo o Cardeal Kasper, esta diligência não basta. É preciso ainda ultrapassar os obstáculos presentes nas comunidades separadas, por exemplo, a decretada invalidade das ordenações anglicanas . A pista que para isso propõe é uma redefinição do conceito de sucessão apostólica, não já «no sentido de uma cadeia histórica de imposição das mãos remontando através dos séculos a um Apóstolo — seria uma visão muito mecânica e individualista», mas como «participação colegial num colégio que, como um todo, remonta aos Apóstolos pela partilha da mesma fé apostólica e pela mesma missão apostólica» .
Capítulo II
OS PROBLEMAS DOUTRINAIS COLOCADOS PELO ECUMENISMO
17. A prática ecuménica deste pontificado repousa inteiramente sobre a distinção Igreja de Cristo / Igreja Católica, a qual permite avançar que, se a comunhão visível foi ferida por divisões eclesiais, a comunhão dos santos, considerada como partilha dos bens espirituais na comum união a Cristo, não foi quebrada. Ora, esta afirmação não se mantém perante a fé católica.
A Igreja de Cristo é a Igreja Católica
18. Nãos se pode distinguir a Igreja de Cristo da Igreja Católica, assim como supõe a prática ecuménica. Pelo próprio facto de ser considerada como realidade interior, essa “Igreja Corpo de Cristo”, distinta realmente da Igreja Católica, junta-se à noção protestante de uma «Igreja invisível para nós, visível só aos olhos de Deus» . É contrária aos ensinamentos constantes da Igreja. Leão XIII, falando da Igreja, afirma por exemplo: «é porque [a Igreja] é corpo que ela é visível aos nossos olhares» . Pio XI não diz outra coisa: «A Sua Igreja, Cristo Nosso Senhor estabeleceu-a como sociedade perfeita, exterior por natureza e perceptível aos sentidos» . Pio XII concluirá então: «É afastar-se da verdade divina imaginar uma Igreja que não se poderá ver nem tocar, que não seria senão “espiritual” (pneumaticum), na qual as numerosas comunidades cristãs, ainda que divididas entre si pela fé, seriam, apesar disso, reunidas por um laço invisível» .
19. Ora bem, a fé católica obriga a afirmar a identidade da Igreja de Cristo e da Igreja Católica. É o que faz Pio XII identificando «o Corpo Místico de Jesus Cristo» com «essa verdadeira Igreja de Jesus Cristo — a que é santa, católica, apostólica, romana» . Antes dele, o Magistério havia afirmado que «não há outra Igreja além da que, construída exclusivamente sobre Pedro, em um corpo unido e agrupado [entenda-se, visível], se ergue na unidade da fé e da caridade» . Recordemos, enfim, a exclamação de Pio IX: «Não há, com efeito, senão uma única religião verdadeira e santa, fundada e instituída por Cristo Nosso Senhor. Mãe e ama das virtudes, destruidora dos vícios, libertadora das almas, indicadora da verdadeira felicidade; chama-se: Católica, Apostólica e Romana» . No seguimento de um magistério constante e universal, o 1o esquema preparatório de Vaticano I tinha legitimidade para avançar este cânone condenatório: «Se alguém disser que a Igreja, a quem foram feitas as promessas divinas, não é uma sociedade (coetus) externa e visível de fiéis, mas uma sociedade espiritual de predestinados ou de justos só conhecidos de Deus, seja anátema» .
20. Por via de consequência, a proposição do Cardeal Kasper segundo a qual: «A verdadeira natureza da Igreja – a Igreja na qualidade de Corpo de Cristo – está escondida e não é apreendida senão pela fé» é certamente herética. Acrescentar que «essa natureza apreensível unicamente pela fé se actualiza sob formas visíveis: na Palavra proclamada, na administração dos sacramentos, nos ministérios e no serviço cristão» é insuficiente para dar conta da visibilidade da Igreja: “tornar-se visível” — ainda mais, por simples actos — não é “ser visível”.
A pertença à Igreja pela tripla unidade
21. Visto que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, não se pode afirmar com os partidários do ecumenismo que a tripla unidade de fé, de sacramentos e de comunhão hierárquica não é necessária senão unicamente à comunhão visível da Igreja, sendo esta asserção tomada no sentido de que: a ausência de um destes laços, se manifesta ruptura da comunhão visível da Igreja, não significa a separação vital da Igreja. É preciso, pelo contrário, afirmar que estes três laços são constitutivos da unidade da Igreja, não no sentido de que um só uniria à Igreja, mas pelo facto de que se um só destes três laços não for possuído in re vel saltem in voto, aquele a quem ele faltaria estaria separado da Igreja e não beneficiaria da vida sobrenatural. É o que fé católica obriga a crer, tal como se mostra a seguir.
Unidade de fé
22. Se a necessidade da fé é por todos admitida , é necessário ainda precisar a natureza dessa fé que é necessária à salvação, logo, constitutiva da pertença à Igreja. Não é «este sentimento íntimo criado pela necessidade divina», denunciado por São Pio X , mas bem essa fé descrita pelo Concílio Vaticano I: «uma virtude sobrenatural pela qual, sob a inspiração e com o socorro da graça de Deus, cremos que o que nos foi revelado por Ele é verdadeiro: nós cremo- lo não por causa da verdade intrínseca das coisas vistas à luz natural da nossa razão, mas por causa da mesma autoridade de Deus que nos revela essas verdades, e que não pode enganar-Se nem enganar-nos» . É por isso que aquele que recusa nem que seja só uma verdade de fé conhecida como revelada perde totalmente a fé necessária à salvação: «Aquele que, mesmo sobre um só ponto, recusa o seu assentimento às verdades divinamente reveladas, realmente abdica completamente da fé, pois recusa submeter-se a Deus que é a soberana Verdade e o motivo próprio de fé» .
Unidade de governo
23. «A fim de manter sempre na Sua Igreja esta unidade de fé e de doutrina, Ele [Cristo] escolheu um homem entre todos os outros, Pedro...» : é assim que Pio IX apresenta a necessidade de unidade na cátedra de Pedro, «dogma da nossa divina religião [que] sempre foi pregado, defendido, afirmado com coração e voz unânimes pelos Padres e Concílios de todos os tempos.» No seguimento dos Padres, o mesmo Papa expõe: «é dela [a cátedra de Pedro] que decorrem, sobre todos os direitos à união divina ; [...] aquele que a deixa não pode esperar permanecer na Igreja , aquele que come o Cordeiro fora dela não tem parte com Deus» . Daí a celebra palavra que Santo Agostinho dirige aos cismáticos: «O que é vosso, é que tivestes a impiedade de separar-vos de nós; porque, se em tudo o resto pensais e possuis a verdade, perseverando, apesar disso, na vossa separação [...] não vos falta senão o que falta àquele a quem a caridade faz falta» .
Unidade de sacramentos
24. «Quem crer e for baptizado será salvo» . Por esta palavra de Nosso Senhor, todos reconhecemos a necessidade, além da unidade de fé e de propósito, de uma «comunidade [...] de meios adequados ao propósito» para constituir a unidade da Igreja: os sacramentos. Assim, tal é «a Igreja Católica [que Cristo instituiu], adquirida com o Seu Sangue, como única morada de Deus vivo [...] o corpo único animado e vivificado por um Espírito único, mantido na coesão e na concórdia pela unidade de fé, de esperança e de caridade, pelos laços dos sacramentos, do culto e da doutrina» .
Conclusão
25. A união deste triplo laço obriga, assim, a crer que «aquele que recusa ouvir a Igreja deve ser considerado, segundo a ordem do Senhor, “como pagão e publicano” (Mt 18,17) e aqueles que estão divididos por razões de fé ou de governo não podem viver nesse mesmo Corpo nem, por consequência, desse mesmo Espírito divino» .
Fora da Igreja não há salvação
Os não católicos são membros da Igreja?
26. Em consequência do que acaba de ser dito, a proposição seguinte: «aqueles [nascidos fora da Igreja Católica, logo, não podendo “ser acusados do pecado de divisão”] que crêem em Cristo e que receberam validamente o baptismo, encontram-se numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja Católica», a ponto de que «justificados pela fé recebida no baptismo, incorporados em Cristo, usam a justo título o nome de cristãos, e os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos com razão como filhos do Senhor», enquanto que «divergências várias entre eles e a Igreja Católica sobre questões doutrinais, por vezes disciplinares, ou sobre a estrutura da Igreja, constituem numerosos obstáculos, por vezes muito graves» , deve ser cuidadosamente pesada; se essa proposição entende falar daqueles que permanecem nas suas divergências, contudo conhecidas deles mesmos, é contrária à fé católica. O inciso afirmando que «não podem ser acusados de pecado de divisão» é, pelo menos, temerário: permanecendo exteriormente em dissidência, nada indica que não aderem à divisão dos seus predecessores, a aparência levando sobretudo a crer o contrário. Presumir a boa fé não é aqui possível , conforme lembra Pio IX: «É necessário admitir de fé que, fora da Igreja Apostólica Romana, ninguém pode ser salvo. [...] No entanto é preciso reconhecer, por outro lado, com certeza, que aqueles que estão em relação à verdadeira religião numa ignorância invencível, não têm falta diante do Senhor. Agora, na verdade, quem irá, na sua presunção, até marcar as fronteiras dessa ignorância?»
Há elementos de santificação e de verdade nas comunidades separadas?
27. A afirmação segundo a qual «numerosos elementos de santificação e de verdade» se encontram fora da Igreja, é equívoca. Supõe, com efeito, a eficácia santificante dos meios de salvação materialmente presentes nas Comunidades separadas. Ora, este propósito não pode ser afirmado sem distinção. Entre estes elementos, os que não exigem disposição específica da parte do sujeito – baptismo de uma criança – são efectivamente salvíficos, no sentido de que produzem eficazmente a graça na alma do baptizado, que então pertence à Igreja Católica de pleno direito, enquanto não atinge a idade das escolhas pessoais . Quanto aos outros elementos, que exigem disposições da parte do sujeito para serem eficazes, deve dizer-se que são salvíficas somente na medida em que o sujeito já é membro da Igreja pelo seu desejo implícito. É o que afirma a doutrina dos concílios. «Ela [a Igreja] professa que a unidade do corpo da Igreja tem tal poder, que os sacramentos da Igreja não tem utilidade em vista da salvação senão para aqueles que nela permanecem» . Ora, enquanto separadas, estas comunidades opõe-se ao desejo implícito, único que torna os sacramentos frutuosos. Não se pode dizer, portanto, dessas comunidades, que possuem elementos de santificação e de verdade, senão materialmente.
Serve-se o Espírito Santo das comunidades separadas como meios de salvação? As “Igrejas irmãs”
28. Não se pode afirmar que «o Espírito de Cristo não recusa servir-Se delas [das comunidades separadas] como meios de salvação» . Com efeito, afirma Santo Agostinho: «Não há senão uma Igreja, só ela chamada católica, e é ela que, nas comunidades separadas da sua unidade, engendra pela virtude o que, nessas seitas, permanece sua propriedade, seja o que for que ela ali possua» . A única coisa que estas comunidades separadas podem realizar por sua própria virtude é a separação dessas almas da unidade eclesial, como ainda indica Santo Agostinho: «Não é nada vosso [o baptismo], o que é vosso é que tendes sentimentos maus e práticas sacrílegas, e que tivestes a impiedade de vos separardes de nós» . Na medida em que põe em causa a afirmação segundo a qual a Igreja Católica é a única detentora dos meios de salvação, a asserção do documento conciliar está próxima da heresia: se, concedendo-lhes uma «significação e um valor no mistério da salvação» , reconhece a essas comunidades separadas uma quase legitimidade – tal como deixa entender a expressão “Igrejas irmãs” — vai num sentido oposto à doutrina católica, porque nega a unicidade da Igreja Católica.
O que nos une é maior do que aquilo que nos separa?
29. A proposição permanece verdadeira materialmente, no sentido de que todos estes elementos são outros tantos pontos podendo servir de base a discussões visando a trazê-los para a única família. Se as Comunidades separadas não são formalmente detentoras dos elementos de santificação e de verdade – tal como foi dito mais atrás — a proposição segundo a qual «o que une os católicos aos dissidentes é maior do que aquilo que os separa» não pode ser formalmente verdade, e por isso Santo Agostinho diz: «Em muitos pontos eles estão comigo, somente em alguns não estão comigo; mas por causa destes certos pontos nos quais se separam de mim, não lhes serve de nada estarem comigo em tudo o resto» .
Conclusão
30. O ecumenismo não pode estar próximo senão da “teoria dos ramos” condenada pelo Magistério: «O seu fundamento [...] é tal que inverte de cima a baixo a constituição divina da Igreja» e a sua oração pela unidade, segundo «uma intenção profundamente manchada e infectada pela heresia, não pode ser absolutamente tolerada» .
Capítulo III - OS PROBLEMAS PASTORAIS CAUSADOS PELO ECUMENISMO
31. Além do facto de se apoiar em teses heterodoxas, o ecumenismo é nocivo para as almas, no sentido em que relativiza a fé católica, contudo indispensável à salvação, e perverte a Igreja Católica, única arca de salvação. A Igrejas Católica não age mais como farol da verdade que ilumina os corações e dissipa o erro, mas mergulha a humanidade na bruma do indiferentismo religioso, e em breve nas trevas da «apostasia silenciosa» .
O ecumenismo cria o relativismo da fé
Relativisa as fracturas operadas pelos heréticos
32. O diálogo ecuménico encobre o pecado contra a fé que o herético comete – razão formal da ruptura – para realçar o pecado contra a caridade, arbitrariamente imputado tanto ao herético como ao filho da Igreja. Chega, por fim, a negar o pecado contra a fé que constitui a heresia. É assim que João Paulo II, sobre a heresia monofisita, afirma: «As divisões que se produziram eram devidas em larga medida a mal-entendidos» , acrescentando: «As formulações doutrinais que se separam das fórmulas em uso [...] cobrem um conteúdo idêntico» . Tais afirmações negam na mesma proporção o Magistério, não obstante infalível, que condenou essas heresias.
Pretende que a fé da Igreja pode ser aperfeiçoada pelas “riquezas” do outro
33. Mesmo se o Concílio Vaticano II precisa, ainda que em termos bem moderados, a natureza do “enriquecimento” trazido pelo diálogo — «um conhecimento mais conforme à verdade, ao mesmo tempo que uma consideração mais justa do ensinamento e da vida de cada comunhão» — a prática ecuménica deste pontificado deforma esta afirmação para fazer dela um enriquecimento da fé. A Igreja abandona um olhar parcial para apreender a realidade integralmente: «As polémicas e as controvérsias intolerantes transformaram em afirmações incompatíveis o que era de facto o resultado de dois olhares perscrutando a mesma realidade, mas de dois pontos de vista diferentes. É preciso encontrar hoje a fórmula que, apreendendo essa realidade integralmente, permite ultrapassar leituras parciais e eliminar interpretações erradas» . É assim que «a troca de dons entre Igrejas, na sua complementaridade, torna fecunda a comunhão» . Tais afirmações, se pressupõem que a Igreja não é definitivamente e integralmente depositária do tesouro da fé, não são conformes à doutrina tradicional da Igreja. Por isso o Magistério alertava contra essa falsa valorização das supostas riquezas do outro: «Regressando à Igreja, não perderão nada do bem que, pela graça de Deus, é realizado neles até ao presente, mas pelo seu regresso esse bem será mais (potius) completo e levado à perfeição. Evitar-se-á, todavia, falar sobre este ponto de tal maneira que, regressando à Igreja, eles imaginem trazer-lhe um elemento essencial que lhe teria faltado até aqui» .
Relativisa a adesão a certos dados da fé
34. A suposta «hierarquia das verdades da doutrina católica» é certamente bem restabelecida teologicamente pela Congregação para a Doutrina da Fé: ela «significa que certos dogmas têm a sua razão de ser em outros que ocupam o primeiro lugar e os esclarecem. Mas todos os dogmas, pois que são revelados, devem igualmente ser cridos de fé divina» . No entanto, a prática ecuménica de João Paulo II liberta-se desta interpretação autêntica. Por exemplo, na sua mensagem à “Igreja” evangélica, sublinha “o que importa”: «Sabeis que, durante dezenas de anos, a minha vida foi marcada pela experiência dos desafios lançados ao cristianismo pelo ateísmo e pela incredulidade. Tenho tanto mais claramente diante dos olhos o que importa: a nossa comum profissão de Jesus Cristo. [...] Jesus é a salvação de nós todos. [...] Pela força do Espírito Santo, tornamo-nos seus irmãos, verdadeiramente e essencialmente filhos de Deus. [...] Graças à reflexão sobre a Confissão de Augsburgo e a múltiplos encontros, tomámos uma nova consciência do facto que juntos cremos e professamos tudo isso» . Leão XIII condena este tipo de prática ecuménica, que encontra o seu apogeu na Declaração sobre a Justificação: «Sustentam que é oportuno, para ganhar os corações dos desencaminhados, relativizar certos pontos de doutrina como sendo de menor importância, ou de os atenuar ao ponto de não lhes deixar o sentido ao qual a Igreja sempre se ateve. Não há necessidade de longos discursos para mostrar quanto é condenável uma tal concepção» .
Promove a “reforma permanente” das fórmulas de fé
35. A latitude que a prática ecuménica se atribui com as fórmulas dogmáticas já foi dita. Falta mostrar a importância deste procedimento no processo ecuménico: «O aprofundamento da comunhão numa reforma constante, realizado à luz da Tradição apostólica, é sem dúvida um dos traços distintivos mais importantes do ecumenismo. [...] O decreto sobre o ecumenismo (UR no 6) apresenta a maneira de formular a doutrina entre os elementos de reforma permanente» . Tal procedimento foi condenado por Pio XII: «Alguns entendem reduzir o mais possível a significação dos dogmas e libertar o próprio dogma da maneira de se exprimir em uso na Igreja desde hás longo tempo, e dos conceitos filosóficos em vigor entre os doutores católicos. [...] É claro [...] que estas tentativas não somente conduzem ao que eles chamam “relativismo” dogmático, mas já o contém de facto. [...] Decerto, não há ninguém que não veja que os termos para exprimir tais noções, e que são utilizados tanto nas escolas [teológicas] como pelo próprio Magistério da Igreja, podem ser melhorados e aperfeiçoados. [...] É igualmente claro que a Igreja não se pode ligar a qualquer sistema filosófico, cujo reinado só dura pouco tempo: mas o que durante séculos foi estabelecido pelo consentimento comum dos doutores católicos para chegar a uma certa compreensão do dogma, não repousa certamente sobre um fundamento tão frágil. [...] Por isso não é de espantar se certas destas noções não foram apenas usadas pelos concílios ecuménicos, mas igualmente foram por eles sancionadas, de modo que não é permitido afastar-se delas» .
Recusa ensinar sem ambiguidade o conteúdo integral da fé católica
36. O postulado ecuménico segundo o qual «o método e a maneira de exprimir a fé católica não devem de modo nenhum ser obstáculo ao diálogo com os irmãos» teve como resultado declarações comuns assinadas solenemente, mas equívocas e ambivalentes. Na Declaração Comum sobre a Justificação, por exemplo, nunca é claramente ensinada a infusão da graça santificante na alma do justo; a única frase aludindo-lhe, das mais desastradas, pode até levar a crer o contrário: «A graça santificante não se torna nunca uma posse da pessoa da qual esta última se poderia reclamar ante Deus» . Tais práticas não respeitam mais o dever de expor integralmente e sem ambiguidade a fé católica, como “devendo ser crida”: «A doutrina católica deve ser proposta totalmente e integralmente; não pode passar em silêncio ou encobrir em termos ambíguos o que a verdade católica ensina sobre a verdadeira natureza e as etapas da justificação, sobre a constituição da Igreja, sobre o primado de jurisdição do Pontífice Romano, sobre a única verdadeira união pelo regresso dos cristãos separados à única verdadeira Igreja de Cristo» .
Coloca em pé de igualdade os santos autênticos e os “santos” supostos
37. Publicando um martirológio comum às diferentes confissões cristãs, João Paulo II põe em pé de igualdade os santos autênticos e os “santos” supostos. É esquecer a frase de Santo Agostinho: «Se, permanecendo separado da Igreja, é perseguido por um inimigo de Cristo [...] e que o inimigo de Cristo diz ao separado da Igreja de Cristo: “Oferece incenso aos ídolos, adora os meus deuses”, e o mata porque ele não os adora, poderá derramar o seu sangue, mas não receber a coroa» . Se a Igreja deseja piedosamente que o irmão separado morto por Cristo tivesse a caridade perfeita, não o pode afirmar. No seu direito, presume que o “obex”, o obstáculo da separação visível, tenha sido um obstáculo ao acto de caridade perfeita que constitui o martírio. Não pode, assim, canonizá-lo nem inscrevê-lo no martirológio .
Provoca, portanto, a perda da fé
38. Relativista, evolucionista e ambíguo, este ecumenismo provoca directamente a perda da fé. A sua primeira vítima é o Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kasper, ele mesmo, quando afirma, por exemplo, sobre a justificação, que «o nosso valor pessoal não depende das nossas obras, quer sejam boas ou más. Antes mesmo de agir, somos aceites e recebemos o “sim” de Deus» ; ou ainda, a propósito da Missa e do sacerdócio, que «não é o padre que opera a transubstanciação: o padre pede ao Pai, a fim de que ela tenha lugar por operação do Espírito Santo. [...] A necessidade do ministério ordenado é um sinal que sugere e faz também apreciar a gratuitidade do sacramento eucarístico» .
O ecumenismo afasta da Igreja
39. Além de destruir a fé católica, o ecumenismo ainda desvia da Igreja os heréticos, os cismáticos e os infiéis.
Já não reclama a conversão dos heréticos e cismáticos
40. O movimento ecuménico já não procura a sua conversão e o seu regresso à «única família de Cristo, fora da qual se encontra certamente todo aquele não está em nada ligado a esta Santa Cátedra de Pedro» . Tal está claramente afirmado: «Nós rejeitamo-lo [o uniatismo] como método de procura da unidade. [...] A acção pastoral da Igreja Católica, tanto a Latina como a Oriental, já não tende a fazer passar os fiéis de uma Igreja para outra» . Daí a supressão da cerimónia de abjuração no caso de regresso de um herético à Igreja Católica. O Cardeal Kasper vai muito longe neste tipo de afirmações: «O ecumenismo não se faz renunciando à nossa própria tradição de fé. Nenhuma Igreja pode praticar essa renúncia» . Acrescenta ainda: «Podemos descrever o “ethos” próprio do ecumenismo de vida da maneira seguinte: renúncia a toda a forma de proselitismo aberto ou camuflado» . Tudo isso é radicalmente oposto à prática constante dos Papas através dos séculos, que sempre trabalharam pelo regresso dos dissidentes à única Igreja .
Cria igualitarismo entre as confissões cristãs
41. A prática ecuménica engendra um igualitarismo entre os católicos e outros cristãos, quando, por exemplo, João Paulo II se regozija com o facto de que «à expressão irmãos separados, o uso tende a substituir hoje termos mais aptos a evocar a profundidade da comunhão ligada ao carácter baptismal. [...] A consciência da pertença comum a Cristo aprofunda-se. [...] A “fraternidade universal” dos cristãos tornou-se uma firme convicção ecumênica» . Mais ainda, é a própria Igreja Católica que, praticamente, é colocada em pé de igualdade com as Comunidades separadas: já mencionámos a expressão “Igrejas irmãs”; João Paulo II regozija-se igualmente que «o Directório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo chame as Comunidades às quais pertencem os cristãos das “Igrejas e Comunidades eclesiais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica.” [...] Relegando para o olvido as excomunhões do passado, as Comunidades, rivais numa época, ajudam-se hoje mutuamente» . Regozijar-se com isso, é esquecer que «reconhecer a qualidade de Igreja ao cisma de Photius e ao Anglicanismo [...] favorece o indiferentismo religioso [...] e pára a conversão dos não católicos à verdadeira e única Igreja» .
Humilha a Igreja e torna orgulhosos os dissidentes
42. A prática ecuménica dos arrependimentos dissuade os infiéis de se voltarem para a Igreja Católica, dada a falsa imagem que esta dá de si própria. Se é possível levar diante de Deus a falta daqueles que nos precederam , em compensação, a prática dos arrependimentos, tal como a conhecemos, deixa crer que é a Igreja Católica, enquanto tal, que é pecadora, pois é ela que pede perdão. O primeiro a crê-lo é o Cardeal Kasper: «[O Concílio Vaticano II] reconheceu que a Igreja Católica tinha uma responsabilidade na divisão dos cristãos e sublinhou que o restabelecimento da unidade supunha uma conversão de uns e outros ao Senhor» . Os textos justificativos, portanto, não fazem nada: a nota eclesial de santidade, tão poderosa para atrair as almas perdidas ao único lar, foi denegrida. Portanto, estes arrependimentos são gravemente imprudentes, porque humilham a Igreja Católica e provocam o orgulho nos dissidentes. Daí o alerta do Santo Ofício: «[Os bispos] impedirão cuidadosamente e com real insistência que, expondo a história da Reforma e dos Reformadores, muito se exagerem os defeitos dos Católicos e muito se dissimulem as faltas dos Reformadores, ou ainda que muito se exponham sobretudo elementos acidentais, que quase não se veja e não se sinta mais o que é essencial, a defecção da fé católica» DC no 1064, 12/3/950. col. 332.
Conclusão
43. Considerado sob o aspecto pastoral, deve dizer-se do ecumenismo destas últimas décadas que leva os católicos à apostasia silenciosa e que dissuade os não católicos de entrar na única arca de salvação. É preciso, portanto, reprovar «a impiedade daqueles que fecham aos homens a entrada no Reino dos Céus» . Sob cobertura de procurar a unidade, este ecumenismo dispersa as ovelhas; não tem a marca de Cristo, mas a do divisor por excelência, o diabo.
CONCLUSÃO GERAL
44. Por mais atraente que possa parecer à primeira vista, por mais espectaculares que possam mostrar-se na televisão as suas cerimónias, por mais numerosas que possam ser as multidões que reúne, a realidade permanece: o ecumenismo fez da cidade santa, que é a Igreja, uma cidade em ruínas. Marchando em perseguição de uma utopia – a unidade do género humano – este Papa não averiguou quanto o ecumenismo que perseguia era propriamente e tristemente revolucionário: inverte a ordem querida por Deus.
45. Revolucionário é, afirma-se revolucionário. Fica-se impressionado pela sucessão de textos que o lembram: «O aprofundamento da comunhão numa reforma constante [...] é sem dúvida um dos traços distintivos mais importantes do ecumenismo». «Retomando a ideia que o Papa João XXIII tinha exprimido na abertura do concílio, o decreto sobre o ecumenismo faz figurar a maneira de reformular a doutrina entre os elementos da reforma permanente». Por momentos, esta afirmação adorna-se com unção eclesiástica para se tornar “conversão”. Na ocorrência, a diferença importa pouco. Nos dois casos, é rejeitado o que preexiste: «“Convertei-vos”. Não há nenhuma aproximação ecuménica sem conversão e sem renovação. Não a conversão de uma confissão a outra. [...] Todos devem converter-se. Não devemos, portanto, perguntar primeiro “o que não está bem no outro”, mas “o que não está bem entre nós; por onde começar, entre nós, o trabalho?». O apelo ao povo que este ecumenismo reclama, é traço característico do seu aspecto revolucionário: «Na acção ecuménica, os fiéis da Igreja Católica [...] considerarão sobretudo com lealdade e atenção o que, na própria família católica, tem necessidade de ser renovado». Sim, verdadeiramente, nesta embriaguez de aggiornamento, a cabeça tem necessidade de ser ultrapassada pelos membros: «O movimento ecuménico é um processo um pouco complexo, e seria erro pensar, do lado católico, que tudo seja feito por Roma. [...] As instituições, os desafios devem também vir das Igrejas locais, e muito deve ser feito no nível local antes que a Igreja universal o faça seu».
46. Nestas tristes circunstâncias, como não ouvir o grito do Anjo em Fátima: «Penitência! Penitência! Penitência!»? Nesta marcha utópica, a meia volta deve ser radical. É urgente regressar à sábia experiência da Igreja, sintetizada aqui pelo Papa Pio XI: «A união dos cristãos não pode ser procurada de outro modo senão favorecendo o regresso dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, que outrora tiveram a infelicidade de abandonar». Tal é a verdadeira e caridosa pastoral para os desencaminhados, tal deve ser a oração da Igreja. «Desejamos que suba até Deus a súplica comum de todo o Corpo Místico (isto é, de toda a Igreja Católica], a fim de que todas as ovelhas errantes se reúnam mais brevemente ao único lar de Jesus Cristo» .
47. Esperando a hora feliz do regresso à razão, pela nossa parte guardamos o sábio aviso e a firme sabedoria recebidos do nosso fundador: «Queremos estar em unidade perfeita com o Santo Padre, mas na unidade da fé católica, porque só esta unidade nos pode reunir, e não uma espécie de união ecuménica, um género de ecumenismo liberal; porque creio que o que melhor define toda a crise da Igreja é, verdadeiramente, o espírito ecuménico liberal. Digo ecumenismo liberal, porque há um certo ecumenismo que, se bem definido, poderia ser aceitável. Mas o ecumenismo liberal, tal como é praticado pela Igreja actual, e sobretudo depois do Concílio Vaticano II, comporta necessariamente verdadeiras heresias» . Fazendo também subir a nossa súplica ao Céu, imploramos a Cristo pelo Seu Corpo que é a Igreja Católica, dizendo: «Salvum me fac, Domine, quoniam defecit sanctus, quoniam diminutae sunt veritatis a filiis hominum. Vana locuti sunt unusquisque ad proximum suum: labia dolosa in corde et corde locuti sunt. Disperdat Dominus universa labia dolosa et linguam magniloquam» .
O fato
O teólogo da Casa Pontifícia, Georges Cottier, disse em uma entrevista a Avvenire (19 de janeiro de 2002) que por trás da rejeição da reforma litúrgica de Paulo VI «se esconde muito mais: a rejeição do Concílio, do ecumenismo, do principio da liberdade religiosa». Não seremos nós quem lhe contradirá; antes, ao contrário, confessamos que identificou muito bem os dois pontos em que se centra a resistência ao Concílio: ecumenismo e “liberdade religiosa”. Acrescentemos que estes dois pontos poderiam reduzir-se a um só, dado que o novo e falso conceito de “liberdade religiosa” se elaborou com vistas ao ecumenismo. Em todo o caso, ecumenismo e “liberdade religiosa” constituem os dois maiores pontos de ruptura com a doutrina tradicional da Igreja, e não seria difícil demonstrar que com eles se conecta qualquer outra “novidade” que vá contra o “antigo” presente nos textos do Concílio, assim como tampouco seria difícil provar que qualquer “novidade” que vá contra a doutrina da Igreja constitui uma corrupção inaceitável dela.
Desenvolvimentos e corrupções doutrinais
O Vaticano I declara:
«E, com efeito, a doutrina da fé que Deus revelou não foi proposta como um achado filosófico que deva ser aperfeiçoado pelo engenho humano, mas sim entregue à Esposa de Cristo como um depósito divino, para ser fielmente guardada e infalivelmente declarada» (Denzinger nº 1800). Por isso não se dá nunca nada substancial e absolutamente novo na doutrina da Igreja. O “novo” que aparece nela em virtude do desenvolvimento ou explicitação doutrinal não passa de uma novidade acidental e relativa. Assim, por exemplo, quando a Igreja fazia rezar pelos fiéis defuntos, já ensinava implicitamente o dogma do purgatório; e, quando desta prática litúrgica se inferiu o dogma do purgatório, deu-se a passagem do ensinamento implícito ao explícito, mas não houve nenhuma “novidade” em sentido próprio. Diga-se o mesmo do primado, implícito na prática do recurso a Roma, ou do dogma da Imaculada Conceição, implícito na maternidade divina de Maria, etc.
A Igreja, com efeito, exerce seu magistério de vários modos:
— de maneira explícita (mediante documentos do magistério, teólogos “aprovados”, catequese, pregação etc.);
— de maneira implícita (mediante a prática, particularmente a litúrgica, e as leis disciplinares).
— de maneira tácita, por fim, mediante os documentos ou “monumentos” da tradição , nos quais o magistério da Igreja tomou corpo, por assim dizer, no curso dos séculos: livros litúrgicos, normas disciplinares, instituições, ordens religiosas, igrejas e monumentos, devoções, práticas de caridade, obras de zelo ou de piedade, vida dos Santos canonizados, civilização, costumes, língua e arte dos povos cristãos , etc.
Pode suceder que, por diversas circunstâncias (heresias, ofuscamento de uma verdade ensinada só implícita ou tacitamente, etc.), se dê a passagem do magistério implícito ao explícito, ou se faça necessário o retorno ao ensinamento explícito de uma verdade que a Igreja se havia limitado a propor tacitamente por um tempo .
Um exemplo do retorno do magistério tácito ao explícito se deu, por exemplo, em relação à Tradição, quando a Igreja definiu a noção exata daquela no Concílio de Trento, contra os protestantes, noção que se havia limitado a propor tacitamente no período escolástico.
Assim, pois, toda a explicitação da doutrina não é mais que «uma maneira de afirmar com mais clareza, com mais precisão, com mais certeza, com mais insistência as verdades reveladas que sempre se creram, ao menos implicitamente» . Razão por que, apesar do desenvolvimento doutrinal de vinte séculos, Pio XII podia escrever que a Igreja «cumpre o mandato que tem de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas, e as transmite sem contaminações, sem acréscimos, sem diminuições» . Todo o “novo” que seja irredutível ao “antigo” não é um desenvolvimento, mas uma corrupção da doutrina católica.
As “novidades” do Vaticano II
Com o Vaticano II houve uma irrupção de algo “novo” na Igreja. E isto é já de per si uma novidade sem correspondência na história do progresso doutrinal, sempre lento, gradual, ponderado. Trata-se de algo “novo” que, a partir do Concílio e em nome deste, se infiltrou em todas as maneiras em que se expressa o magistério ordinário:
— modo explícito: “novas” doutrinas, “novas” catequeses, “novas” interpretações ou “releituras” dos Padres da Igreja e até da Escritura Sagrada;
— modo implícito: “nova”, ou melhor, “novas” liturgias, “nova” disciplina (se é que a podemos chamar assim), “novas” práticas, e a verdadeira Igreja de Jesus Cristo considerada do mesmo modo que as seitas heréticas e/ou cismáticas, que o hebraísmo e que as religiões falsas;
— modo tácito: a todos os documentos do magistério precedente se desconsidera na medida do possível, destruindo-os ou sepultando-os no esquecimento, enquanto uma “doutrina” nova de alto a baixo vai tomando corpo e fazendo-se sensível ante nossos olhos em “monumentos” inteiramente novos.
Diante de tamanha irrupção de “novidades”, aos católicos lhes cabe o dever perante Deus, e por conseguinte o direito irrenunciável perante os homens, de perguntar-se se estas “novidades” são desenvolvimentos ou corrupções doutrinais, «se a Igreja de hoje — para dizê-lo com o Cardeal Ratzinger — é realmente a de ontem, ou se a mudaram por outra sem fazê-lo saber» .
O contraste com o “antigo”: índice de corrupção doutrinal
Em tais circunstâncias, os católicos não estão desprovidos em absoluto de um critério objetivo para poder distinguir o desenvolvimento legítimo das corrupções doutrinais.
O critério, acessível a todos, ensinam-no os Padres da Igreja, a unanimidade dos teólogos realmente católicos (quer dizer, que “conhecem as regras da fé” e as respeitam), a prática e o próprio magistério da Igreja.
São Vicente de Lérins escreve em seu Commonitorium (século V), ideado precisamente para encontrar «uma regra certa» que permitisse aos católicos distinguir a verdade do erro em tempos em que «a astúcia dos novos hereges exige uma vigilância e uma atenção cada vez maiores»: «Mas se objetará: Não se dará, segundo isso, progresso algum da Religião na Igreja de Cristo? Dê-se em boa hora, e grande. Quem haverá tão mesquinho para com os homens e tão aborrecível a Deus que trate de impedi-lo? Mas de tal maneira, que seja verdadeiro progresso da fé, não uma alteração dela. A saber, é próprio do progresso que cada coisa se amplifique em si mesma; e o próprio da alteração é que algo passe de ser uma coisa a ser outra» (XXIII, 1-3). Depois, comentando a exortação de São Paulo a Timóteo (I Tim 6, 20: «Ó Timóteo, guarda o depósito, evitando as profanas novidades de palavras»), São Vicente de Lérins explica: «Profanas novidades de palavras. De palavras, a saber: as novidades de dogmas, de matérias, de sentenças que são contrárias à antigüidade e ao passado...».(XXIV, 3-4) .
Aí está, pois, a regra: se no âmbito da Igreja desponta algo “novo” contrário ao antigo não é uma verdade tirada de seu tesouro, mas a cizânia do erro semeada pelo inimicus homo (Mt 13, 24-3O) . Não cabe dúvida quanto a tal coisa. «Ao antigo é que há que ater-se: se a novidade é profana, a antigüidade é sagrada»; é a novidade a que deve cessar «de fazer recair suspeitas sobre a antigüidade e de formular acusações contra ela»; é a novidade a que há de deixar de «molestar e perseguir a antigüidade», enquanto a fé antiga não deve cessar «de opor-se à novidade com todas as suas forças» .
Entre os teólogos realmente católicos nos apraz citar aqui o Cardeal Newman, porque os modernistas tergiversam com respeito a ele injustamente.
Entre os critérios que pormenoriza para distinguir um desenvolvimento legítimo da corrupção doutrinal, o Cardeal Newman põe «a tendência dos desenvolvimentos posteriores em conservar a doutrina possuída precedentemente»; assim, pois, quando o “novo” tenda, em contrapartida, a excluir o “antigo”, estamos sem dúvida ante uma corrupção doutrinal . Trata-se, em essência, do cânon leriniano.
No mesmo critério aparece inspirada a prática da Igreja nos Concílios dogmáticos consagrados a distinguir a verdade católica da heresia.
Já determinou o segundo Concílio de Nicéia (787), ao condenar o conciliábulo dos iconoclastas (Constantinopla, 753), que a coerência doutrinal com a tradição constitui uma das condições da ecumenicidade de um Concílio: «Como poderia ser por sua vez o Sétimo [Concílio] aquele que não concorda com os seis santos Concílios ecumênicos que lhe precederam? [...] Seria como se alinhássemos seis moedas de ouro e lhes acrescentássemos depois um vintém: não se poderia chamar sétima à última, e isso em razão da diversidade de sua matéria...» .
«Como poderia [...] pretender ser o Sétimo o que não segue os seis Concílios que lhe precederam?... Vós, que haveis violado as tradições daqueles seis [Concílios precedentes], como haveis podido chamar sétimo ao vosso?»: assim o santo abade Estêvão havia reprovado aos iconoclastas, 25 anos antes, sua ruptura com a tradição, razão por que o mataram a pauladas .
Por último, o magistério infalível da Igreja fez sua a regra leriniana no Vaticano I, repetindo-a ao pé da letra na Constitutio de fide catholica, sessão III: «Cresça, pois, e muito e poderosamente se adiante em quilates, a inteligência, ciência e sabedoria de todos e de cada um, ora de cada homem particular, ora de toda a Igreja universal, das idades e dos séculos, mas somente em seu próprio gênero, quer dizer, no mesmo dogma, no mesmo sentido, na mesma sentença» (Denzinger nn.1800 e 1818).
Ecumenismo e “liberdade religiosa”: não progresso, mas corrupção doutrinal
Quando se iniciou o Vaticano II, a Igreja gozava da posse secular e indiscutida de doutrinas explícitas relativas:
— à verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por conseguinte, à posição das seitas heréticas e/ou cismáticas, do hebraísmo e das religiões falsas;
— às relações Igreja/Estado e, em particular, à noção exata de “liberdade religiosa” e à tolerância dos cultos falsos .
Ademais, a Igreja gozava, na abertura do Vaticano II, de uma liturgia, expressão íntegra e inequívoca de fé católica.
A estes três campos (eclesiologia, relações Igreja/Estado, liturgia) invadiu-os o que de “novo” trazia o Concílio. Por desgraça, era algo “novo” contrário, ou melhor, em pugna com o antigo. Com efeito, se a Igreja ensina, como ensinou sempre até o Vaticano II, que a Igreja de Cristo é uma só, que fora dela não há salvação e que, portanto, as demais supostas “Igrejas” não são igrejas, mas seitas, «igrejas ilegítimas» (São Irineu), «sarmentos secos» (Santo Agostinho), e que os indivíduos particulares, se padecem de ignorância invencível, podem salvar-se só em virtude da pertença in voto à Igreja verdadeira, de modo algum desta doutrina constante pode inferir-se hoje, com o Vaticano II, que «as igrejas e comunidades separadas [...] de nenhuma maneira estão desprovidas de sentido e valor no mistério da salvação. Porque o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como meios de salvação» . Não pode inferir-se tal coisa porque a doutrina “nova” exclui a antiga abertamente e ofende as verdades reveladas que se contêm nela a título de conseqüências. Com efeito, a doutrina nova descobre que são legítimas as “igrejas ilegítimas”, que a seiva da graça divina corre pelos “sarmentos secos” e, em conseqüência, que a Igreja de Cristo já não é única nem constitui «a arca única de salvação» (Denzinger n. 1647). Depois, no pós-Concílio, em nome do decreto conciliar Nostra Aetate, se promoveu também as religiões não-cristãs à categoria de caminhos de salvação, pelo menos «extraordinários».
Mais ainda: se a Igreja ensina, como o fez sempre até o Vaticano II, que Nosso Senhor Jesus Cristo tem direito, por ser Deus, de reinar não só sobre os indivíduos mas também sobre as sociedades, e que, por conseguinte, só a Igreja Católica goza do direito natural e divino à assistência negativa e positiva do Estado, na qual se compreende outrossim o dever de impedir o culto público das religiões falsas, a não ser que motivos de prudência política aconselhem sua tolerância, desta doutrina constante da Igreja não pode deduzir-se de maneira alguma, com o Vaticano II, que exista um “direito” da pessoa humana de que não se lhe impeça a profissão pública e associada de sua crença falsa ou até irreligiosa , nem que o mesmo “direito” caiba às seitas e às religiões falsas . Não se pode deduzir isso porque a doutrina “nova” exclui a antiga e não deixa imune a verdade revelada que esta compreende a título de conseqüência. Com efeito, no dizer da doutrina “nova”, a Igreja católica já não é a única igreja instituída por Deus e, por conseguinte, cessa o direito unicamente da Igreja católica à assistência do Estado, cessa o dever do Estado de impedir o culto público das religiões falsas e lho substitui pela obrigação de favorecê-las sem discriminação; e já nem há meio de falar em “tolerância”. Em suma, Nosso Senhor Jesus Cristo já não goza do direito de reinar sobre as sociedades; seus próprios ministros o destronaram.
O anterior pode bastar para provar que as “novidades” do Concílio não são progressos, mas corrupções doutrinais, e o confirma irrefutavelmente tudo o que a hierarquia vem fazendo no pós-Concílio em nome daquele, mas contrariamente à tradição católica: a primeira e segunda “reuniões de oração” de Assis, junto com as outras iniciativas ecumênicas, sempre vedadas pela Igreja; a liquidação dos Estados católicos que restavam, incluída a Itália, em razão das “novas” concordatas; a supressão das duas estrofes relativas à realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo no hino das primeiras e segundas vésperas de Cristo Rei etc. etc. Para quê continuar a enumeração? Basta pensar que o Cardeal Ratzinger chegou a declarar “perimée” , quer dizer superada, defunta, a doutrina católica sobre as relações Igreja/Estado (como se uma doutrina constante da Igreja pudesse negar-se sem negar também a infalibilidade desta).
Quanto à nova liturgia, de maneira alguma se pode considerar legítimo um Novus Ordo, do qual a posteridade deduzirá (fazendo uso do princípio acima mencionado segundo o qual “a lei da oração estabelece a lei da fé”) que a Igreja professou na última etapa do século XX uma fé mais protestante do que católica no tocante ao Santo Sacrifício da Missa.
Sim, o “teólogo da Casa Pontifícia” acertou em cheio: a resistência católica não luta tão-somente contra o rito de Paulo VI (que nasceu igualmente por motivos ecumênicos), mas também contra “o Concílio, o ecumenismo, a liberdade religiosa”, contra todo o “novo” que se quer acreditar como “desenvolvimento doutrinal”, segundo parece, ao passo que constitui uma corrupção evidente da doutrina à que a consciência católica está vinculada sub gravi.
Hirpinus
(Revista Sim Sim Não Não, no. 112)
Apresentação
Quando os nossos leitores abrirem esta carta para ler, a cidade de Assis estará sendo palco de mais um “atentado terrorista” contra a fé católica. Mais uma vez a Igreja Católica estará achatada e humilhada, quando seus principais hierarcas, usando indevidamente o seu nome, abusando do poder que lhes foi confiado pelo Divino Espírito Santo, ao invés de pregar e defender a fé, estarão pactuando com o erro, com a heresia, com as falsas religiões. Já publicamos neste dossiê sobre Assis 2002 as passagens da Encíclica Mortalium Animos, do Papa Pio XI, que condena toda e qualquer reunião ecumênica. Cabe explicitar a razão principal dada pelo Papa: só a Igreja Católica é divinamente Revelada por Deus. Todas as demais religiões são invenções humanas que podem servir para exprimir um sentimento natural de religiosidade, mas nunca poderão representar a vontade divina e seus ensinamentos infalíveis. É assim rebaixar a Igreja Católica levá-la a se juntar com as falsas religiões. Para mostrar o quanto o ecumenismo atual, pregado por Vaticano II e pelo “Espírito de Assis”, é falso e condenado pela Igreja, publicamos hoje esta carta, editada em 1985 pelo jornal francês “Courrier de Rome” (nº 66) e retomada pelo Boletim da Fraternidade São Pio X na Internet (DICI nº 38). Esta carta é dirigida ao Papa João Paulo II e rebate suas afirmações ecumênicas com citações e explicações da doutrina católica. LEIA A CONTINUAÇÃO
NOVA REUNIÃO ECUMÊNICA EM ASSIS
25 ANOS DEPOIS - REPETIÇÃO DO SACRILÉGIO DE 1986
ATO DE REPARAÇÃO
Capelas N. Sra da Conceição (Niterói) e São Miguel (Rio)
Quinta-feira, 27 de outubro
18:30 - Via Sacra - Missa Votiva pela Propagação da Fé.
Em Janeiro de 2002 publicávamos este artigo para alertar nossos leitores e amigos, para que rezassem na intenção de reparar a blasfêmia e o sacrilégio. Infelizmente, o papa Bento XVI continua a obra do falso ecumenismo do seu predecessor.
«Não farás aliança com eles, nem com os seus deuses. Não habitem na tua terra para que te não façam pecar contra mim, servindo os seus deuses, o que certamente seria para ti um escândalo»
(Êxodo, 23, 32-33 - Recomendações de Deus a Moisés antes deste subir ao Monte Sinai)
O Patriarca supremo dos Budistas, não se levantou do trono para receber ao Vigário de Cristo, que se sentou na cadeira
Padre Yves Le Roux, FSSPX
Caros amigos e benfeitores,
“Eu não conheço este Homem!” A sorte está lançada; a negação, consumada.
Com vigorosas imprecações e juramentos, repudiou São Pedro ao Mestre. A voz da criada e as observações sarcásticas dos que o cercavam foram suficientes para vencer o amor demasiado humano de Pedro por Jesus. Por três vezes renovou o repudio e, quando enfim seus olhos fitaram os de Cristo, congelou-lhe o sangue nas veias. Ao longe, cantava o galo. Então recordou-se Pedro das palavras do Mestre e fugiu, chorando amargamente, entre arrependido e convertido.
“Eu não conheço este Homem!” Vai a sorte de novo ser lançada, vai-se consumar outra negação? Certamente. Pela terceira vez, o Papa convida à renovação da negação, que é o encontro de Assis.
Católico e ecumênico são dois adjetivos de origem grega que, se olharmos no dicionário, têm o mesmo significado: universal. Possuem, contudo, matizes distintos.
Católico vem de katá hólos, algo assim como “em ordem à totalidade”, daí que signifique geral, universal. Ecumênico deriva de oíkuméne, “toda a terra habitada”, já que ôikossignifica casa. Católico, portanto, significa universal em um sentido mais amplo, menos determinado, enquanto que ecumênico se refere a uma universalidade territorial.
Mas se falamos da catolicidade da Igreja, os significados se aproximam ainda mais. Porque a nota de “católica”, que permite reconhecer visivelmente a Igreja de Cristo, assinala especialmente o fato de que a cristandade se estenderá, sem interrupção, desde os tempos apostólicos até o fim dos séculos, por toda a terra.