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Category: John VennariConteúdo sindicalizado

Editor do periódico norte-americano tradicionalista Catholic Family News.

Francisco afirma que concubinos podem ter a "graça do verdadeiro matrimônio".

                             

Nosso Senhor comandou a Pedro que confirmasse seus irmãos na Fé (S. Lucas 22,32), mas Francisco deleita-se em fazer todo o contrário.

Em 16 de junho, em uma sessão de perguntas e respostas durante conferência em Roma, Francisco sinalizou que quem vive em "fiel" concubinato recebe a "graça do verdadeiro matrimônio por causa de sua fidelidade". Mas, ao contrário do que afirma o Papa, o concubinato nunca traz consigo a graça do verdadeiro matrimônio, pelo fato de em si ser uma desgraça.

Na continuação de três anos de comentários irresponsáveis, que provocam escândalos em escala mundial, Francisco falou da situação na Argentina, onde a maioria dos que freqüentam aulas de preparação para casamento vive em concubinato.  Conforme o registro de Catholic News Agency:   Leia mais

 

A Instrução Permanente da Alta Venda

Poucos católicos conhecem a Instrução Permanente da Alta Venda, um documento secreto redigido no início do século XIX no qual se descreve um plano de subversão da Igreja Católica. A Alta Venda foi a mais importante loja dos Carbonários, uma sociedade secreta italiana ligada à Maçonaria e que, juntamente com ela, foi condenada pela Igreja Católica1. Em seu livro Freemasonry and the Anti-Christian Movement (Maçonaria e o Movimento Anticristão), o Padre Cahill, S.J. afirma que a Alta Venda era “considerada o principal centro de comando da Maçonaria Européia” 2. Os Carbonários tiveram sua principal atuação na Itália e na França.

Em seu livro Athanasius and the Church of Our Time (Atanásio e a Igreja do Nosso Tempo), Mons. Rudolf Graber cita um maçom que teria declarado que “o objetivo [da Maçonaria] não é mais destruir a Igreja, mas utilizá-la, infiltrando-se nela” 3. Em outras palavras, como a Maçonaria não pode destruir completamente a Igreja de Cristo, planeja não somente erradicar a influência do Catolicismo na sociedade, como também utilizar a estrutura da Igreja como um instrumento de “renovação”, “progresso” e “iluminação” para promover muitos de seus próprios princípios e objetivos.

 

Descrição geral

A estratégia preconizada na Instrução Permanente da Alta Venda é surpreendente em sua audácia e astúcia. Desde o início, o documento aborda um processo que levará décadas a ser concretizado. Aqueles que o redigiram sabiam que não veriam realizado o plano que ali esboçavam. Eles estavam inaugurando uma obra que seria realizada durante gerações sucessivas de iniciados. “Em nossas fileiras, morre o soldado, mas o combate continua.”

A Instrução fez um chamado pela difusão de idéias liberais em toda a sociedade e dentro das instituições da Igreja Católica, de modo que leigos, seminaristas, clérigos e prelados seriam, ao longo dos anos, gradualmente imbuídos de princípios progressistas.

Com o tempo, essa mentalidade estaria de tal modo difundida, que as concepções dos novos padres a serem ordenados, dos bispos a serem consagrados e dos cardeais a serem nomeados estariam em consonância com o pensamento moderno enraizado na Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa e em outros “Princípios de 1789” (igualdade religiosa, separação de Igreja e Estado, pluralismo religioso, etc.).

Finalmente, o Papa que seria eleito dentre esses novos religiosos iria liderar a Igreja no caminho da “iluminação” e da “renovação”. Os idealizadores desse plano afirmaram que não tencionavam colocar um maçom na Cátedra de Pedro. Seu objetivo era criar um ambiente que produziria, com o passar do tempo, um Papa e uma hierarquia que já teriam assimilado completamente as idéias do Catolicismo liberal, ao mesmo tempo em que se considerassem católicos fieis.

Esses líderes católicos, então, não se oporiam mais às idéias modernas da Revolução (como havia sido a prática constante dos Papas desde 1789 até 1958 — com a morte do Papa Pio XII —, que condenaram esses princípios liberais), mas, ao contrário, iriam reuni-las dentro da Igreja. O resultado final seria o clero e os leigos católicos marchando sob a bandeira do Iluminismo, acreditando marchar sob a bandeira das chaves apostólicas.

 

Isso é possível?

Aos que considerem esse plano inverossímil demais — um objetivo que muito dificilmente seria alcançado pelo inimigo — deve-se dizer que tanto o Papa Pio IX como o Papa Leão XIII solicitaram a publicação da Instrução Permanente da Alta Venda, sem dúvida para impedir a ocorrência de tal tragédia.

Entretanto, se se configurasse uma situação tão desastrosa, haveria obviamente três meios inequívocos de reconhecê-la:

  1. Ela produziria uma perturbação de tal magnitude que o mundo inteiro iria perceber a ocorrência de uma enorme revolução na Igreja Católica, em sintonia com as idéias modernas. Estaria claro para todos que teria havido uma “atualização”.
  2. Seria introduzida uma nova teologia que estaria em contradição com os ensinamentos anteriores.
  3. Os próprios maçons anunciariam seu triunfo, acreditando que a Igreja Católica tivesse finalmente compreendido determinados pontos, tais como a igualdade religiosa, o estado laico, o pluralismo e quaisquer outros compromissos alcançados.

 

A autenticidade dos documentos da Alta Venda

Os papéis secretos da Alta Venda que caíram nas mãos do Papa Gregório XVI abrangem um período que vai de 1820 a 1846. Eles foram publicados, por solicitação do Papa Pio IX, por Cretineau-Joly em sua obra L’Église romaine en face de la Révolution (A Igreja Romana em face da Revolução) 4.

Com o Breve de aprovação datado de 25 de fevereiro de 1861, dirigido ao autor, o Papa Pio IX garantiu a autenticidade desses documentos, mas não permitiu que ninguém divulgasse os verdadeiros membros da Alta Venda implicados nessa correspondência.

O texto integral da Instrução Permanente da Alta Venda também está contido no livro do Mons. George E. Dillon, Grand Orient Freemasonry Unmasked (A Maçonaria do Grande Oriente Desmascarada). Quando o Papa Leão XIII recebeu uma cópia do livro do Mons. Dillon, ficou tão impressionado que determinou que fosse elaborada e publicada uma versão italiana da obra, às suas expensas5 .

Na Encíclica Humanum Genus (1884), Leão XIII exortou os líderes católicos a “arrancar a máscara da Maçonaria e deixar que ela seja vista como realmente é” 6. A publicação desses documentos é um meio de “arrancar a máscara”. E se os Papas solicitaram a publicação dessas cartas, é porque desejavam que todos os católicos fossem informados sobre os planos das sociedades secretas de subverter a Igreja a partir do seu interior — de modo que os católicos ficassem alertas para impedir que tal catástrofe acontecesse.

 

A Instrução Permanente da Alta Venda

O que se segue não é a Instrução inteira, mas apenas as seções mais pertinentes à nossa discussão. No documento (com grifos nossos), lê-se:

Nosso objetivo final é o de Voltaire e da Revolução Francesa — a destruição final do Catolicismo, e até mesmo da idéia cristã...

O Papa, quem quer que ele seja, jamais virá até as sociedades secretas; as sociedades secretas é que devem dar o primeiro passo em direção à Igreja, com a finalidade de conquistar ambos.

A tarefa que iremos desempenhar não é trabalho de um dia, um mês ou um ano. Ela pode durar vários anos, talvez um século, mas em nossas fileiras o soldado morre, e o combate continua.

Não tencionamos atrair os Papas para a nossa causa, torná-los neófitos dos nossos princípios, propagadores de nossas idéias. Esse seria um sonho ridículo; e se por alguma eventualidade, cardeais ou prelados, por exemplo, por livre e espontânea vontade ou acidentalmente, tiverem acesso a uma parte de nossos segredos, isso não será de forma alguma um incentivo para desejar sua elevação à Cátedra de Pedro. Tal elevação arruinar-nos-ia. Só a ambição já bastaria para levá-los à apostasia, e as exigências do poder forçá-los-iam a nos sacrificar. O que devemos pedir, o que devemos esperar, assim como os Judeus esperam pelo Messias, é um Papa de acordo com nossas necessidades...

Assim nós marcharemos com mais segurança em direção à tomada da Igreja do que através dos panfletos de nossos irmãos na França e até mesmo do ouro da Inglaterra. Vocês querem saber a razão para isso? É que com isso, a fim de despedaçar a grande pedra sobre a qual Deus construiu a Sua Igreja, não precisamos mais do vinagre de Aníbal, ou de pólvora, ou mesmo de nossas armas. Teremos o dedo mínimo do sucessor de Pedro envolvido na conspiração, e para os fins desta cruzada, esse dedo mínimo é tão eficiente quanto todos os Urbanos IIs e todos os São Bernardos da Cristandade.

Não temos dúvidas de que atingiremos o objetivo final de nossos esforços. Mas quando? Mas como? O desconhecido ainda não foi revelado. Não obstante, como nada irá nos desviar de nosso plano, e ao contrário, tudo tende para ele, como se amanhã mesmo o sucesso já viesse a coroar o trabalho apenas esboçado, nós desejamos, nesta instrução, que permanecerá secreta para os meros iniciados, dar aos funcionários encarregados da suprema Venda [Loja] alguns conselhos que eles deverão incutir em todos os irmãos, na forma de instrução ou de um memorando...

Então, para assegurarmos um Papa com as características necessárias, é preciso primeiramente modelar para este Papa uma geração digna do reinado que sonhamos. Deixem os velhos e os de idade madura de lado; procurem os jovens, e se possível, até mesmo as crianças.

...Vocês irão forjar para si mesmos, com baixo custo, uma reputação de bons católicos e genuínos patriotas.

Tal reputação introduzirá nossas doutrinas junto ao clero jovem, bem como profundamente nos monastérios. Em poucos anos, por força dos acontecimentos, esse jovem clero terá ascendido a todas as posições hierárquicas; eles irão formar o conselho soberano, serão chamados a escolher o Pontífice que irá reinar. E este Pontífice, assim como a maioria de seus contemporâneos, estará mais ou menos imbuído com os princípios (revolucionários) italianos e humanitários que nós começaremos a colocar em circulação. É um pequeno grão de mostarda que confiaremos à terra, mas o sol da justiça irá desenvolvê-lo completamente, e vocês verão um dia a rica colheita que será proporcionada por essa pequena semente.

No caminho que estamos traçando para nossos irmãos existem grandes obstáculos a serem conquistados, diversas dificuldades a serem enfrentadas. Eles triunfarão sobre tais dificuldades por sua experiência e clarividência, mas o objetivo é tão esplêndido que é importante lançar todas as velas ao vento para alcançá-lo. Vocês querem revolucionar a Itália? Olhem para o Papa cujo retrato nós acabamos de traçar. Vocês desejam estabelecer o reino dos escolhidos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Deixem o clero marchar sob o seu estandarte, acreditando marchar sob a bandeira das chaves apostólicas. Vocês pretendem fazer desaparecer o último vestígio dos tiranos e opressores? Lancem suas armadilhas [redes] como Simão Barjonas; lancem-nas nas sacristias, nos seminários e nos monastérios, em vez de lançá-las no fundo do mar. E se vocês não tiverem pressa, nós lhes prometemos uma pesca ainda mais milagrosa que a dele. O pescador de peixes tornou-se o pescador de homens; vocês semearão amigos em torno da Cátedra Apostólica. Terão assim pregado uma revolução com tiara e pluvial, marchando com a cruz e o estandarte, uma revolução que precisará ser pouco instigada para lançar fogo aos quatro cantos do mundo7.

Cabe-nos agora examinar quão bem sucedido foi esse plano.

 

O Iluminismo, meu amigo, está “soprando no vento”

Durante o século XIX, os princípios liberais do Iluminismo e da Revolução Francesa foram se difundindo cada vez mais na sociedade, em detrimento da Fé e do Estado Católicos. As noções supostamente “mais amáveis e gentis” de pluralismo religioso, indiferentismo religioso, uma democracia que acredita que toda autoridade vem do povo, falsas noções de liberdade, separação de Igreja e Estado, reuniões inter-religiosas e outras novidades estavam se apoderando das mentes da Europa pós-Iluminista, infectando tanto estadistas como eclesiásticos.

Os Papas do século XIX e do início do século XX travaram guerra contra essas tendências perigosas. Com perspicácia e presença de espírito enraizadas em uma descomprometida certeza da Fé, esses Papas não se deixaram enganar. Sabiam que princípios falsos, ainda que pareçam honestos, jamais produzem bons frutos ― e aqui se tratava de princípios sumamente maus, pois decorriam não só da heresia, mas da apostasia.

Tal como generais que reconhecem o dever de manter suas posições a qualquer preço, esses Papas dispararam incessantemente canhões potentes contra os erros do mundo moderno. As Encíclicas eram suas munições, e eles nunca erraram o alvo8.

O ataque mais devastador veio na forma do monumental Syllabus dos Erros, de 1864, do Papa Pio IX, e quando a fumaça esvaneceu, os envolvidos na batalha podiam discernir sem erro quais soldados cerravam fileira de qual lado. As linhas demarcatórias estavam claramente traçadas. Nesse grande Syllabus, Pio IX condenou os principais erros do mundo moderno, não porque fossem modernos, mas porque essas novas idéias se baseavam em um naturalismo panteísta e, portanto, eram incompatíveis com a doutrina católica e destrutivas para a sociedade. 

Os ensinamentos do Syllabus eram contrários ao Liberalismo, e os princípios do Liberalismo eram contrários ao Syllabus. Isso era reconhecido por todas as partes sem questionamentos. O Padre Denis Fahey referiu-se a esse confronto como Pio IX versus a Deificação Panteísta do Homem9. Do lado oposto da trincheira, o maçom francês Ferdinand Buisson declarou: “Uma escola não pode se manter neutra entre o Syllabus e a Declaração dos Direitos do Homem” 10.

 

“Católicos Liberais”

Contudo, o século XIX viu surgir uma nova geração de católicos em utópica busca de um acordo entre as partes. Esses homens esquadrinhavam, entre os princípios de 1789, aqueles que acreditavam ser “bons”, e tentaram introduzi-los na Igreja. Muitos clérigos, infectados pelo espírito da época, caíram nesta rede que havia sido “lançada nas sacristias e nos seminários”. Eles ficaram conhecidos como “católicos liberais”. O Papa Pio IX observou que eles eram os piores inimigos da Igreja. Não obstante, seu número aumentou.

 

O Papa São Pio X e o Modernismo

Esta crise atingiu seu ápice por volta do início do século XX, quando o Liberalismo de 1789, que até então “soprara no vento”, rodopiou e transformou-se no furação do Modernismo. O Padre Vincent Miceli identificou esta heresia, descrevendo a “trindade dos pais” do Modernismo da seguinte forma:

  1. Seu ancestral religioso é a Reforma Protestante;
  2. Seu pai filosófico é o Iluminismo;
  3. Sua linhagem política origina-se na Revolução Francesa11.

O Papa São Pio X, que ascendeu ao papado em 1903, reconheceu o Modernismo como a praga mais mortal a ser detida. Afirmou como principal obrigação do Papa garantir a pureza e a integridade da doutrina católica, no qual dever, frisou, ele falharia se nada fizesse12.

São Pio X travou guerra com o Modernismo, publicou uma Encíclica (Pascendi) e um Syllabus (Lamentabili) contra ele, instituiu o Juramento Anti-Modernista a ser prestado por todos os padres e professores de teologia, expurgou os seminários e universidades dos modernistas e excomungou os recalcitrantes e impenitentes.

São Pio X efetivamente interrompeu a disseminação do Modernismo na sua época. Relata-se, no entanto, que, cumprimentado por ter suprimido esse grave erro, ele imediatamente respondeu que, apesar de seus esforços, não havia conseguido matar a besta, senão apenas sufocá-la nos subterrâneos. E advertiu que, se os líderes eclesiásticos não fossem vigilantes, ela re-emergiria mais virulenta que nunca13.

 

A Cúria em estado de alerta

Um drama pouco conhecido que se desenrolou durante o reinado do Papa Pio XI demonstra que a corrente subterrânea do pensamento Modernista estava viva e com saúde no período imediatamente posterior a São Pio X.

O Padre Raymond Dulac relata que, no consistório secreto de 23 de maio de 1923, o Papa Pio XI questionou os trinta Cardeais da Cúria sobre a oportunidade de convocação de um concílio ecumênico. Estiveram presentes ilustres prelados, como os cardeais Merry del Val, De Lai, Gasparri, Boggiani e Billot. Os cardeais desaconselharam a convocação do concílio.

O Cardeal Billot advertiu que “a existência de profundas discrepâncias no seio do próprio episcopado não pode ser ocultada... [Elas] correm o risco de dar margem a discussões que se prolongarão indefinidamente.”

Boggiani recordou as teorias modernistas, das quais, segundo ele, uma parte do clero e dos bispos não estava isenta. “Essa mentalidade pode inclinar alguns padres a apresentarem moções, a fim de introduzir métodos incompatíveis com as tradições católicas.”

Billot foi ainda mais preciso. Ele expressava seu receio de ver o concílio “manobrado” pelos “piores inimigos da Igreja, os modernistas, que já estavam se preparando, conforme alguns indícios demonstravam, para levar adiante a revolução na Igreja, um novo 1789” 14.

Ao desencorajar a idéia de um concílio por tais razões, os cardeais mostraram-se mais aptos a reconhecer os “sinais dos tempos” do que todos os teólogos pós-conciliares reunidos. Contudo, a sua cautela pode ter se baseado em algo mais profundo. Eles podem também ter sido assombrados pelos escritos do infame illuminé, o excomungado Canon Roca (1830-1893), que pregou a revolução e a “reforma” da Igreja e previu uma subversão da Igreja que seria causada por um concílio.

 

Os delírios revolucionários de Canon Roca

Em seu livro Athanasius and the Church of Our Times (Atanásio e a Igreja do Nosso Tempo), Mons. Graber refere-se à previsão de Canon Roca de uma Igreja nova e iluminada, a qual seria influenciada pelo “socialismo de Jesus e dos Apóstolos” 15.

Em meados do século XIX, Roca havia previsto: “A nova Igreja, que poderá não ser capaz de manter nada da doutrina escolástica e da forma original da antiga Igreja, receberá, no entanto, consagração e jurisdição canônica de Roma.” Mons. Graber, comentando esta previsão, observou: “Há alguns anos isso era inconcebível, mas hoje...?” 16.

Canon Roca também previu uma “reforma” litúrgica. Com referência à futura liturgia, ele acreditava “que o culto divino na forma estabelecida pela liturgia, o cerimonial, o ritual e os regulamentos da Igreja Romana passarão brevemente por transformações em um concílio ecumênico, o qual irá restabelecer a simplicidade venerável da era de ouro dos Apóstolos, em consonância com os ditames da consciência e da civilização moderna” 17.

Ele anteviu que o referido concílio levaria a “um perfeito acordo entre os ideais da civilização moderna e o ideal de Cristo e Seu Evangelho. Isso será a consagração da Nova Ordem Social e o solene batismo da civilização moderna.”

Roca também falou sobre o futuro do Papado: “Há um sacrifício iminente que representa um ato solene de expiação... O Papado cairá; ele morrerá sob o punhal sagrado forjado pelos padres do último concílio. O césar papal é uma hóstia [vítima] coroada para o sacrifício” 18.

Roca previu com entusiasmo uma “nova religião”, um “novo dogma”, um “novo ritual”, um “novo sacerdócio”. “Ele chama os novos sacerdotes de ‘progressistas’ [sic]; fala sobre a ‘supressão’ da batina e sobre o casamento de padres” 19.

Ecos arrepiantes de Roca e da Alta Venda são percebidos nas palavras do rosa-cruz Dr. Rudolf Steiner, que declarou em 1910: “Nós precisamos de um concílio e de um Papa para proclamar isso” 20.

 

O grande Concílio que nunca aconteceu

Por volta de 1948, ao ser solicitado pelo ferrenhamente ortodoxo Cardeal Ruffini, o Papa Pio XII considerou a possibilidade de convocar um concílio geral e até envolveu-se durante alguns anos nos preparativos necessários. Há indícios de que elementos progressistas em Roma finalmente dissuadiram Pio XII de realizar esse concílio, pois foram detectados sinais inequívocos de que ele estaria em sintonia com a Humani Generis. Como esta grande Encíclica de 1950, o novo concílio iria combater “falsas opiniões que ameaçam minar os fundamentos da doutrina católica” 21.

Tragicamente, o Papa Pio XII convenceu-se de que estava em idade muito avançada para fazer frente a essa gigantesca tarefa e resignou-se com a idéia de que “isso é tarefa para o meu sucessor” 22.

 

Roncalli para “consagrar o Ecumenismo”

Ao longo do pontificado do Papa Pio XII (1939-1958), sob a hábil liderança do Cardeal Ottaviani, o Santo Ofício assegurou um ambiente católico seguro, mantendo os cavalos selvagens do Modernismo firmemente encurralados. Muitos dos atuais teólogos do Modernismo desdenhosamente relatam como eles e seus amigos haviam sido amordaçados durante esse período.

Contudo, nem mesmo Ottaviani podia prever o que estava por acontecer em 1958. Um novo tipo de Papa, “que os progressistas acreditavam estar a favor de sua causa” 23, iria assumir a cátedra pontifical e forçar um relutante Ottaviani a retirar o ferrolho, abrir o curral e preparar-se para a debandada.

Entretanto, tal estado de coisas já havia sido considerado. Ao receber a notícia da morte de Pio XII, o velho Dom Lambert Beauduin, amigo do Cardeal Roncalli (o futuro João XXIII), confidenciou ao Padre Louis Bouyer: “Se elegerem Roncalli, tudo será salvo; ele seria capaz de convocar um concílio e consagrar o ecumenismo” 24.

E foi o que aconteceu: o Cardeal Roncalli foi eleito e convocou um concílio que “consagrou” o ecumenismo. A “revolução com tiara e pluvial” estava a caminho.

 

A Revolução do Papa João

É de conhecimento geral e foi amplamente noticiado25 que um grupo fechado de teólogos liberais (periti) e bispos dominou o Concílio Vaticano II (1962-1965) com uma agenda destinada a obter uma Igreja fiel à sua imagem, através da implementação de uma “nova teologia”. Críticos e defensores do Vaticano II estão de acordo quanto a este ponto.

Em seu livro Vatican II Revisited (O Concílio Vaticano II Revisitado), Dom Aloysius J. Wycislo (um rapsódico advogado da revolução do Vaticano II) declara com entusiasmo que “teólogos e estudiosos da Bíblia que haviam permanecido em silêncio, sem se manifestar durante anos, emergiram como periti [especialistas em teologia que aconselharam os bispos no Concílio], e seus livros e comentários escritos após o Vaticano II tornaram-se leituras populares” 26.

Ele observa que “a Encíclica Humani Generis do Papa Pio XII [1950] teve... um efeito devastador sobre a obra de vários teólogos pré-conciliares” 27, e explica que, “durante a preparação inicial do Concílio, esses teólogos (principalmente franceses, além de alguns alemães), cujas atividades haviam sido restringidas pelo Papa Pio XII, permaneciam em silêncio. O Papa João tacitamente removeu a proibição que atingia alguns dos mais influentes clérigos. Contudo, muitos ainda eram vistos com suspeição por membros do Santo Ofício” 28.

Dom Wycislo entoa louvores a progressistas triunfantes como Hans Küng, Karl Rahner, John Courtney Murray, Yves Congar, Henri de Lubac, Edward Schillebeeckx e Gregory Baum, reputados suspeitos antes do Concílio, mas que agora eram os luminares da teologia pós-Vaticano II29.

Com efeito, aqueles que o Papa Pio XII havia considerado inaptos a percorrer as vias do Catolicismo estavam agora no controle da cidade. E como que para coroar os seus feitos, o Juramento Anti-Modernista foi silenciosamente suprimido pouco depois do encerramento do Concílio. São Pio X acertou sua previsão. A falta de vigilância permitiu que o Modernismo voltasse de modo vingativo.

 

“Marchando sob um novo estandarte”

Foram travadas incontáveis batalhas no Vaticano II entre os integrantes do Grupo Internacional de Padres (Coetus Internationalis Patrum), que lutaram para manter a Tradição, e o grupo progressista do Reno. Tragicamente, no fim das contas, foi este último, o elemento liberal e modernista, que prevaleceu30.

Era óbvio, para qualquer um que tivesse olhos para ver, que o Concílio abria as portas para muitas idéias que antes haviam sido anatematizadas, que iam de encontro aos ensinamentos da Igreja mas que estavam de acordo com o pensamento modernista. Isso não aconteceu acidentalmente. Foi proposital.

Os progressistas no Concílio Vaticano II evitaram condenar os erros dos modernistas. Eles também plantaram deliberadamente ambigüidades nos textos do Concílio, que esperavam explorar após o seu término31. Tais ambigüidades foram utilizadas para promover o ecumenismo que havia sido condenado pelo Papa Pio XI, uma liberdade religiosa32 condenada pelos papas do século XIX e do início do século XX (especialmente o Papa Pio IX), uma nova liturgia em consonância com o ecumenismo que o Arcebispo Bugnini exaltou como “uma importante conquista da Igreja Católica”, uma colegialidade que atinge o cerne da primazia papal e uma “nova atitude diante do mundo” — especialmente em um dos mais radicais documentos do Concílio, Gaudium et Spes.

Como os autores da Instrução Permanente da Alta Venda haviam imaginado, as noções da cultura liberal finalmente conquistaram a adesão de importantes membros da hierarquia católica e se espalharam por toda a Igreja. O resultado disso foi uma crise de fé sem precedentes, a qual continua se agravando. Ao mesmo tempo, incontáveis clérigos que ocupavam posições de destaque, obviamente inebriados pelo “espírito do Vaticano II”, continuaram exaltando as reformas pós-conciliares que permitiram essa calamidade.

 

Júbilo nas arquibancadas maçônicas

Contudo, não apenas muitos líderes da Igreja, mas também maçons celebraram esses acontecimentos. Eles se regozijaram com o fato de que os católicos haviam finalmente “visto a luz”, pois aparentemente muitos dos seus princípios maçônicos haviam sido sancionados pela Igreja.

Em seu livro Ecumenism Viewed by a Traditional Freemason (O Ecumenismo Visto por um Maçom Tradicional), Yves Marsaudon, do Rito Escocês, exaltou o ecumenismo fomentado durante o Vaticano II. Ele assim se expressou:

Os católicos... não devem esquecer que todos os caminhos levam a Deus. E eles terão de aceitar que essa corajosa idéia do livre-pensamento, que nós podemos realmente chamar de uma revolução, jorrando de nossas lojas maçônicas, espalhou-se prodigiosamente sobre a cúpula de São Pedro33.

O espírito de dúvida e revolução pós-Vaticano II obviamente aqueceu o coração do maçom francês Jacques Mitterrand, que, em tom de aprovação, escreveu:

Algo mudou dentro da Igreja, e as respostas do Papa às indagações mais urgentes, tais como o celibato dos padres e o controle de natalidade, são ardorosamente debatidas na própria Igreja; a palavra do Soberano Pontífice é questionada por bispos, padres e fiéis. Para um maçom, um homem que questiona o dogma já é um maçom sem o avental34.

Marcel Prelot, um senador da região de Doubs, na França, vai mais adiante e descreve o que aconteceu. De acordo com ele:

Nós havíamos lutado sem sucesso durante um século e meio para que nossas opiniões prevalecessem na Igreja. Finalmente, com o Vaticano II, nós triunfamos. A partir de então, as proposições e os princípios do catolicismo liberal foram definitiva e oficialmente aceitos pela Santa Igreja35.

A declaração de Prelot merece um comentário, pois devemos fazer uma distinção entre a Igreja e os homens da Igreja. Apesar das reivindicações dos maçons, é impossível que erros doutrinários sejam “definitiva e oficialmente aceitos pela Santa Igreja” como tais. A Igreja, o Corpo Místico de Cristo, não pode incorrer em erro. Nosso Senhor prometeu que “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Mas isso não significa que os homens da Igreja, mesmo aqueles que ocupam as posições mais elevadas, não possam ser infectados com o espírito liberal da época e promover idéias e práticas opostas ao seu Magistério perene36.

 

Uma ruptura com o passado

Aqueles “conservadores” que negam que vários pontos do Vaticano II constituem uma ruptura com a Tradição e com os pronunciamentos do Magistério anterior — pelo menos por ambigüidade, implicações e omissões — não conseguiram ouvir os verdadeiros promotores e ativistas do Concílio, que reconhecem isso descaradamente.

Yves Congar, um dos artesãos da reforma, observou com tranqüila satisfação que “a Igreja havia tido, pacificamente, a sua Revolução [Comunista] de Outubro” 37.

O mesmo Padre Yves Congar afirmou que a Declaração sobre Liberdade Religiosa do Vaticano II é contrária ao Syllabus do Papa Pio IX. Ele assim se pronunciou sobre o Artigo 2 da Declaração:

Não se pode negar que um texto como esse diz materialmente algo diferente do Syllabus de 1864, e até mesmo o contrário das proposições 15 e 77-79 deste documento38.

Finalmente, alguns anos depois, o Cardeal Ratzinger, aparentemente não abalado com essa afirmação, escreveu que considera o texto conciliar Gaudium et Spes como um “contra-Syllabus”. Assim se exprimiu o Cardeal:

Se for desejável fazer um diagnóstico do texto [Gaudium et Spes] como um todo, poderíamos dizer que (juntamente com os textos sobre a liberdade religiosa e as religiões do mundo) trata-se de uma revisão do Syllabus de Pio IX, uma espécie de contra-Syllabus... Contentemo-nos em dizer aqui que o texto é uma espécie de contra-Syllabus, e, como tal, representa, por parte da Igreja, uma tentativa de reconciliação oficial com a nova era inaugurada em 178939.

A nova era inaugurada em 1789 consiste, de fato, na elevação dos “Direitos do Homem” acima dos direitos de Deus.

Na verdade, este comentário do Cardeal Ratzinger é perturbador, especialmente porque proveio do homem que, como chefe da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, está agora encarregado de zelar pela pureza da doutrina católica. Mas podemos também citar um depoimento semelhante do progressista Cardeal Suenens, ele próprio um Padre Conciliar, que falou em termos de “antigos regimes” que chegaram ao fim. As palavras utilizadas por ele para exaltar o Concílio são as mais reveladoras, as mais arrepiantes e as mais contundentes. Suenens declarou que “o Vaticano II é a Revolução Francesa na Igreja” 40.

 

A situação dos documentos do Vaticano II

Durante anos, os católicos têm exercido suas atividades baseados na noção equivocada de que devem aceitar o Concílio pastoral, Vaticano II, com a mesma expressão de fé devida aos Concílios dogmáticos. Não é o caso, entretanto.

Os Padres Conciliares referiram-se repetidamente ao Vaticano II como um concílio pastoral, não preocupado em definir a fé, mas em implementá-la.

A afirmação de que o Vaticano II é inferior a um concílio dogmático é ratificada pelo testemunho do Padre Conciliar Thomas Morris, o qual, por sua vontade expressa, não foi revelado senão após a sua morte:

Fiquei aliviado quando fomos informados de que este Concílio não tinha por objetivo definir ou emitir declarações finais sobre doutrina, porque uma declaração sobre a doutrina deve ser mui cuidadosamente formulada, e eu tendia a considerar os documentos do Concílio provisórios e passíveis de reforma41.

No encerramento do Vaticano II, os bispos solicitaram ao Secretário-Geral do Concílio, o Arcebispo Pericle Felici, aquilo que os teólogos chamam de “nota teológica” do Concílio, ou seja, o “peso” doutrinário dos ensinamentos do Vaticano II. Felici respondeu assim:

Devemos distinguir, dentre os esquemas e os capítulos, aqueles que foram objeto de definições dogmáticas no passado; pois, no que concerne às declarações com caráter de novidade, devemos ter reservas42.

Após o encerramento do Vaticano II, Paulo VI deu sua explicação:

Há aqueles que perguntam que autoridade, que qualificação teológica o Concílio tencionou dar aos seus ensinamentos, sabendo que ele evitou emitir definições dogmáticas solenes investidas da infalibilidade do Magistério Eclesiástico. A resposta é conhecida por todos os que se lembrarem da declaração conciliar de 6 de março de 1964, repetida em 16 de novembro de 1964. Devido ao caráter pastoral do Concílio, ele evitou pronunciar, de modo extraordinário, dogmas com nota de infalibilidade... 43

Em outras palavras, ao contrário de um Concílio dogmático, o Vaticano II não exige uma adesão incondicional de fé.

As declarações prolixas e ambíguas do Vaticano II não estão em pé de igualdade com os pronunciamentos dogmáticos. Conseqüentemente, as novidades do Vaticano II não são incondicionalmente obrigatórias para os fiéis. Os católicos podem “ter reservas” e mesmo resistir a quaisquer ensinamentos do Concílio que estejam em conflito com o Magistério perene dos séculos.

 

“Uma Revolução com Tiara e Pluvial”

A revolução pós-Vaticano II possui todas as características necessárias ao cumprimento dos desígnios da Instrução Permanente da Alta Venda, bem como das profecias de Canon Roca:

  1. O mundo inteiro testemunhou uma profunda mudança dentro da Igreja Católica, em uma escala internacional. Uma mudança que está em sintonia com o mundo moderno.
  2. Os defensores e detratores do Vaticano II demonstram que determinadas orientações doutrinárias do Concílio constituem uma ruptura com o passado.
  3. Os próprios maçons se regozijam de que, graças ao Concílio, as suas idéias “se difundiram prodigiosamente sobre a cúpula de São Pedro”.

 

A Paixão da Igreja

Assim, a paixão que a nossa Santa Igreja está sofrendo no presente momento não é um grande mistério. Ao ignorarem de modo imprudente os papas do passado, nossos atuais líderes da Igreja erigiram uma estrutura que está desabando sobre si mesma. Embora o Papa Paulo VI tenha lamentado que “a Igreja está em um estado de autodemolição”, ele, como o atual Pontífice, insistiu que o desastroso aggiornamento, responsável por essa autodemolição, continuasse a pleno vapor.

Diante de tal “desorientação diabólica” (termo que a irmã Lúcia, de Fátima, utilizou para descrever a atual mentalidade de muitos integrantes da hierarquia católica), a única resposta para todos os católicos envolvidos é: 

  1. rezar muito, especialmente o Rosário;
  2. aprender e viver a doutrina tradicional e a moral da Igreja Católica tal como constam nos escritos anteriores ao Vaticano II;
  3. aderir à Missa Tridentina, na qual se encontram a Fé e a devoção Católicas em sua plenitude, não afetadas pelo ecumenismo de hoje;
  4. resistir com todas as forças às tendências liberais pós-Vaticano II, que causam estragos ao Corpo Místico de Cristo;
  5. instruir a outros caridosamente nas Tradições da Fé e adverti-los sobre os erros dos tempos;
  6. rezar para que um retorno contagiante à sanidade possa atingir um número suficiente de membros da hierarquia;
  7. depositar grande confiança em Nossa Senhora e em seu poder de reorientar a nossa Igreja de volta à Tradição Católica;
  8. nunca ceder.

 

“Somente Ela pode nos salvar”

Tendo em vista que a atual batalha é essencialmente sobrenatural, não devemos ignorar a ajuda sobrenatural que nos foi dada em Fátima, em 1917. Todos os católicos envolvidos com a causa deveriam cumprir fielmente os pedidos de Nossa Senhora de Fátima, e sobretudo rezar e trabalhar para a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Essa será a chave para a destruição dos “erros da Rússia”, não apenas na Rússia, mas no mundo inteiro, incluindo a Igreja. Pois no prometido Triunfo do Coração Imaculado, os agentes impenitentes do Liberalismo, do Modernismo e do Naturalismo estarão todos reunidos em um grande encontro ecumênico com o Príncipe deste Mundo, para compartilhar o mesmo golpe de calcanhar com que a Rainha do Céu esmagará suas cabeças.

 

 

Apêndice I

O Ódio da Maçonaria à Igreja Católica

 

O maior impedimento para a discussão de tópicos tais como a Alta Venda é que muitas pessoas, incluindo os católicos, recusam-se a acreditar que a Maçonaria realmente odeie a Igreja a ponto de travar uma campanha inflexível e sofisticada contra ela.

Contudo, evidências do ódio da Maçonaria ao Catolicismo e seu objetivo declarado de destruir a Igreja são confirmadas em documentos católicos e maçônicos.

Durante a Revolução Francesa, o conhecido grito de guerra da Maçonaria era “derrubar Trono e Altar” — ou seja, monarquias e o Catolicismo. No fim do século XVIII, o Padre Augustin Barruel escreveu que “o objetivo de sua conspiração é derrubar todos os altares em que Cristo é adorado” 44.

Um dos exemplos mais dramáticos do ódio da Maçonaria a Cristo e Sua Igreja encontra-se na Declaração do Congresso Internacional de Genebra, de 1868, e é mencionado novamente no excelente livro do Mons. Dillon, Grand Orient Freemasonry Unmasked (A Maçonaria do Grande Oriente Desmascarada). Um trecho da declaração produzida durante o Congresso diz o seguinte:

Abaixo Deus e Cristo! Abaixo os déspotas do Céu e da Terra. Morte aos padres! Esse é o lema de nossa grande cruzada45.

 

Os Pontífices contra os Pagãos

Os grandes e vigilantes Papas do fim do século XVIII, do século XIX e da primeira metade do século XX estavam constantemente soando o alarme contra as sociedades secretas, seus princípios liberais e seu ódio ao Cristianismo.

Em seu livro Freemasonry and the Anti-Christian Movement (A Maçonaria e o Movimento Anticristão), o Padre E. Cahill, S.J., escreve:

As condenações papais à Maçonaria são tão severas e demolidoras em seu teor que não encontram nada similar na história da legislação da Igreja. Durante os últimos dois séculos, a Maçonaria foi expressamente anatematizada por no mínimo dez papas diferentes e condenada direta ou indiretamente por quase todos os pontífices que se sentaram na Cátedra de São Pedro... Os papas acusam os maçons de atividades criminosas, “obscenidades”, culto a Satanás (acusação sugerida em alguns documentos papais), infâmia, blasfêmia, sacrilégio e das mais abomináveis heresias de tempos antigos, da prática sistemática de assassinato, de traição contra o Estado, de princípios anárquicos e revolucionários, de favorecer e promover o que agora é chamado de Bolchevismo [Comunismo russo], de corromper e perverter as mentes dos jovens, de hipocrisia e mentira vergonhosas, por meio das quais os maçons procuram ocultar sua maldade sob um manto de probidade e respeitabilidade, quando na realidade são a própria “Sinagoga de Satanás”, cujo objetivo direto é a destruição completa do Cristianismo46.

 

Papa Leão XIII

De todas as condenações papais à Maçonaria, a Encíclica Humanum Genus, de 1884, do Papa Leão XIII possui um vigor e um brilho sem paralelo. Não se encontra em nenhum outro pronunciamento magisterial uma explicação e condenação mais completa e concisa dos erros da Maçonaria. Nessa Encíclica, o Papa repetidamente enfatiza que o objetivo da Maçonaria é nada menos do que a completa destruição da Igreja e do Cristianismo. Ele assim se expressa:

Sem fazer mais segredo de seu propósito, eles agora se erguem audaciosamente contra o próprio Deus. Planejam a destruição da Santa Igreja pública e abertamente, e isso com o propósito manifesto de privar completamente as nações da Cristandade, se possível fosse, das bênçãos que obtivemos através de Jesus Cristo, nosso Salvador47.

O Papa Leão explica que, tendo em vista que a Maçonaria se baseia no Naturalismo, ela é anticristã em sua essência. O Naturalismo afirma que a natureza e a razão humanas são supremas, e que não existem verdades reveladas por Deus nas quais os homens sejam obrigados a acreditar.

Os naturalistas negam a autoridade da Igreja Católica como a voz de Deus sobre a terra, e, conseqüentemente, “é contra a Igreja que a raiva e o ataque dos inimigos [maçons] são principalmente dirigidos” 48. O Papa Leão XIII refere-se ao testemunho de “homens bem informados” tanto no passado, como mais recentemente, os quais “declararam ser verdade que o principal desejo dos maçons é atacar a Igreja com uma hostilidade irreconciliável, e que não descansarão enquanto não tiverem estabelecido seus objetivos” 49.

Ele também destaca que os maçons consideram lícito “atacar impunemente os próprios fundamentos da Religião Católica, por meio do discurso, de escritos e do ensino” 50.

O Papa Leão explicou que um de seus meios mais poderosos de lutar contra a Igreja é a promoção do indiferentismo religioso51 — a idéia de que na verdade não importa a religião de cada um. Essa idéia solapa todas as religiões, mas particularmente o Catolicismo, pois somente a Igreja Católica ensina com firmeza (e demonstra de modo vigoroso) que ela é a Única Verdadeira Religião estabelecida por Deus.

Os próprios maçons se jactam de ter sido a força motriz por trás da “Declaração dos Direitos do Homem” e da Revolução Francesa52. Sua intenção é privar a civilização de seus fundamentos cristãos e apoiá-la sobre o Naturalismo, no qual Deus não tem lugar. Foi a esse objetivo corrupto que o Papa Leão XIII se referiu quando afirmou: “Desejar destruir a religião e a Igreja que Deus estabeleceu, e cuja perpetuidade Ele assegura por Sua proteção, e trazer de volta após um lapso de dezoito séculos os modos e costumes dos pagãos, é sinal de loucura e audaciosa impiedade” 53.

Portanto, aqueles que se recusam a acreditar que a Maçonaria está trabalhando pela destruição da Igreja o fazem simplesmente porque não querem acreditar na verdade. Os Soberanos Pontífices e os maçons fornecem abundantes testemunhos do ódio maçônico e da guerra declarada à Igreja Católica.

  1. 1. The Catholic Encyclopedia, Vol. 3 (New York: Encyclopedia Press, 1913), págs. 330-331.
  2. 2. Revmo. E. Cahill, S.J., Freemasonry and the Anti-Christian Movement (Dublin: Gill, 1959), pág. 101.
  3. 3. Yves Marsaudon, citado em Dr. Rudolph Graber, Athanasius and the Church of our Time (Palmdale, CA: Christian Book Club, 1974), pág. 39.
  4. 4. Cretineau-Joly, L’Église Romaine en face de la Révolucion, Vol. 2, ed. orig., 1859, reimpresso pelo Cercle de la Renaissance française, Paris, 1976. Mons. Delassus reproduziu esses documentos novamente em seu trabalho La Conjuracion Antichrétienne, Desclée de Brouwer, 1910, Tomo III, págs. 1035-1092.
  5. 5. Michael Davies, Pope John's Council (Kansas City: Angelus Press, 1992), pág. 166.
  6. 6. Papa Leão XIII, Humanum Genus — Sobre a Maçonaria (Rockford, IL: TAN, 1978), parágrafo 31.
  7. 7. Mons. Delassus, La Conjuracion Antichrétienne (Paris: Desclée de Brouwer, 1910), Tomo III, págs. 1035-1092. O texto integral de “A Instrução Permanente da Alta Venda” também está publicado em: Mons. Dillon, Grand Orient Freemasonry Unmasked (Dublin: Gill, 1885; Palmdale, Calif.: Christian Book Club, n.d.), págs. 51-56.
  8. 8. Para uma verdadeira compreensão da doutrina católica comparada aos erros modernos, é fundamental estudar as encíclicas papais e outros documentos contra o Liberalismo, o Modernismo e a Maçonaria, escritos pelos papas do século XIX e do início do século XX. Os mais importantes estão reunidos em The Popes against Modern Errors: 16 Papal Documents (Rockford: TAN, 1999).
  9. 9. Pe. Denis Fahey, C.S.Sp., The Mystical Body of Christ in the Modern World (Dublin: Regina Publications, 1939), cap. VII.
  10. 10. Citado em ibid., pág. 116 (143).
  11. 11. Pe. Vicent Miceli, The Antichrist (Harrison, NY: Roman Catholic Books), pág. 133.
  12. 12. Papa S. Pio X, Pascendi — Sobre as Doutrinas Modernistas, parágrafo 1.
  13. 13. Pe. Vicent Miceli, The Antichrist (aula gravada) (North Haledon, NJ: Keep the Faith, Inc.).
  14. 14. Raymond Dulac, La Collégialité Épiscopale au deuxième Concile du Vatican (Paris: Cèdre, 1979), págs. 9-10.
  15. 15. Graber, op. cit., pág. 34.
  16. 16. Ibid., págs. 34, 35.
  17. 17. Ibid., pág. 35.
  18. 18. Ibid.
  19. 19. Ibid., pág. 36.
  20. 20. Ibid.
  21. 21. Um relato completo dessa fascinante história pode ser encontrado em: Frei Michel da Santíssima Trindade, The Whole Truth About Fatima, Volume 3: The Third Secret (Ft. Erie, Ontario: Immaculate Heart Publications, 1990), págs. 257-304.
  22. 22. Ibid., pág. 298.
  23. 23. Léon de Poncins, Freemasonry and the Vatican (Palmdale, CA: Christian Book Club, 1968), pág. 14.
  24. 24. Bouyer, Dom Lambert Beauduin, A Man of the Church (Casterman, 1964) págs. 180-181. Citado pelo Pe. Dilder Bonneterre em The Liturgical Movement (Ed. Fideliter, 1980), pág. 119.
  25. 25. Cf. Pe. Ralph Wiltgen, S.V.D., O Reno se lança no Tibre (Niterói: Permanência, 2007); Michael Davies, Pope John's Council (New York: Arlington House, 1977; Kansas City: Angelus Press, 1992); e Dom Wycislo (veja a nota abaixo), que exalta a reforma.
  26. 26. Mons. Aloysius Wycislo, Vatican II Revisited: Reflections by One Who Was There (Staten Island, NY: Alba House, 1987), pág. 10.
  27. 27. Ibid., pág. 33.
  28. 28. Ibid., pág. 27.
  29. 29. Ibid., págs. 27-34.
  30. 30. A história completa da tomada do Concílio pelos prelados e teólogos liberais e as trágicas conseqüências desse golpe modernista são magnificamente explicadas pelo Pe. Ralph Wiltgen, S.V.D. em O Reno se lança no Tibre (Niterói: Permanência, 2007) e por Michael Davies em Pope John's Council (New York: Arlington House, 1977; Kansas City: Angelus Press, 1992).
  31. 31. Essa tática foi admitida por um perito liberal do Concílio, o Padre Edward Schillebeeckx. De acordo com ele, “nós a expressaremos de modo diplomático, mas após o Concílio, exporemos as conclusões implícitas.” (Citado pela revista alemã De Bazuin, No. 16, 1965, em Iota Unum, por Romano Amerio, Kansas City, MO: Sarto House, 1996). Em outra citação (ou tradução da mesma citação) do Pe. Schillebeeckx, lê-se: “Nós utilizamos frases ambíguas durante o Concílio e sabemos como as interpretaremos depois.” (Mons. Marcel Lefebvre, Carta Aberta aos Católicos Perplexos, disponível on line no site da Permanência).
  32. 32. Cf. Michael Davies, The Second Vatican Council and Religious Liberty (Long Prairie, MN: Neumann Press, 1992) para evidências de que a Dignitatis Humanae do Vaticano II (particularmente o Art. 2) reflete uma contradição com o ensinamento papal anterior. O mesmo é admitido sem remorsos pelo teólogo progressista do Concílio Pe. Yves Congar.
  33. 33. Citado por Mons. Marcel Lefebvre em Carta Aberta aos Católicos Perplexos, disponível on line no site da Permanência.
  34. 34. Ibid., págs. 88-89.
  35. 35. Le Catholicisme Liberal, 1969; também Lefebvre, op. cit., pág. 100.
  36. 36. O grande teólogo, Cardeal Juan de Torquemada (1388-1468), citando a doutrina do Papa Inocêncio III, ensina que é possível, mesmo para um papa, manifestar-se contra os costumes universais da Igreja. Torquemada escreve: “Assim é que o Papa Inocêncio III afirma (De Consuetudine) que é necessário obedecer ao Papa em todas as coisas, desde que ele próprio não se volte contra os costumes universais da Igreja, mas se ele tiver de se voltar contra os costumes universais da Igreja, ele não precisa ser seguido.” Citado pelo Padre Paul Kramer, B.Ph., S.T.D., M. Div., A Theological Vindication of Roman Catholic Traditionalism, 2ª edição (St. Francis Press, India), pág. 29.
  37. 37. Lefebvre, op. cit., pág. 100.
  38. 38. Yves Congar, O.P., Challenge to the Church (London, 1977), pág. 147, em Michael Davies, The Second Vatican Council and Religious Liberty (Long Prairie, MN: Neumann Press, 1992), pág. 203.
  39. 39. Joseph Cardeal Ratzinger, Principles of Catholic Theology (San Francisco: Ignatius Press, 1987), págs. 381-382.
  40. 40. Lefebvre, op. cit., pág. 100.
  41. 41. Entrevista de Dom Morris a Kieron Wood, Catholic World News, 27 de setembro de 1997.
  42. 42. Lefebvre, op. cit., pág. 107.
  43. 43. Paulo VI, Audiência-geral de 12 de janeiro de 1966, em Insegnamenti di Paolo VI, vol. 4, p. 700, em Atila Sinke Guimarães, In the Murky Waters of Vatican II (Metairie: MAETA, 1997; TAN, 1999), págs. 111-112.
  44. 44. Pe. Vicent Miceli, Freemasonry and the Church (aula gravada) (Montvale, NJ: Keep the Faith, Inc.).
  45. 45. Mons. Dillon, Grand Orient Freemasonry Unmasked (Dublin: Gill, 1885; Palmdale, CA: Christian Book Club, n.d.), pág. 8.
  46. 46. Citado pelo Pe. Denis Fahey, Apologia pro Vita Mea (“Brief Sketch of My Life Work”) (Palmdale, CA: Christian Book Club).
  47. 47. Papa Leão XIII, Humanum Genus — Sobre a Maçonaria (TAN, 1978), parágrafo 2.
  48. 48. Ibid., par. 12.
  49. 49. Ibid., par. 15.
  50. 50. Ibid., par. 14.
  51. 51. Ibid., par. 16.
  52. 52. Pe. Denis Fahey, C.S.Sp., The Mystical Body of Christ in the Modern World (Palmdale, CA: Christian Book Club, 1939), caps. 5-8.
  53. 53. Papa Leão XIII, op. cit., par. 24.

Capítulo 8 -- Precursora de Fátima

Em nossas considerações finais, discutiremos como a Irmã Maria de São Pedro serviu como precursora e fundamento para as visitações de Nossa Senhora em Fátima. Por uma questão de brevidade, limitaremos nosso foco a três pontos.

Em primeiro lugar, tanto Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro quanto Nossa Senhora em Fátima alertaram sobre a necessidade de oração e penitência para a salvação das almas. Nosso Senhor mostrou à irmã “a multidão daqueles que tombam continuamente no inferno” e lhe “convidou da maneira mais tocante a socorrer esses pobres pecadores.” 1 Deu-lhe a oração da Seta de Ouro, prometendo que seria uma “torrente de graças para a conversão dos pecadores.” 2 Da mesma forma, Nossa Senhora de Fátima mostrou às crianças a visão do Inferno, e em seguida disse: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.” 3 Assim, tanto a Obra de Reparação quanto a Devoção ao Imaculado Coração de Maria são meios especiais dados pelo Céu para a salvação dos pecadores.

Em segundo lugar, ambas as mensagens alertam para os perigos do comunismo, embora Nossa Senhora nunca o tenha mencionado pelo nome. Em 1847, Nosso Senhor alertou sobre os comunistas, chamando-os de “inimigos da Igreja e de seu Cristo” 4 e pediu à Irmã Maria de São Pedro que oferecesse os instrumentos de Sua Paixão para derrotá-los. Nosso Senhor também disse que, como castigo pelos pecados da humanidade, “não veríamos, desta vez, os elementos servindo ‘como instrumentos para a cólera de Deus’, mas ‘a malícia dos homens rebeldes.’” 5 E “homens rebeldes” é simplesmente outro nome para maçonaria, comunismo ou aqueles a quem o Padre Denis Fahey chamou de “As Forças do Naturalismo Organizado”. Setenta anos depois, em 1917, Nossa Senhora alertou que se seus simples pedidos não fossem atendidos, “[a Rússia espalharia] seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja.” 6 Esses “erros da Rússia” não são apenas o comunismo, mas também os erros ateístas do humanismo secular, o socialismo e a indiferença religiosa que estão contidos no comunismo. Assim, tanto Fátima quanto as mensagens à Irmã Maria de São Pedro apontam como castigo o flagelo dos “homens rebeldes”.

Em terceiro lugar, na década de 1840, Nosso Senhor pediu à irmã que fizesse reparação pelos pecados contra os três primeiros Mandamentos, especialmente pelo pecado de blasfêmia. E o que encontramos na mensagem de Fátima? Nosso Senhor pedindo à Irmã Lúcia reparação especial pelos mesmos pecados. Mas, dessa vez, não se trata apenas de blasfêmia contra o Santo Nome de Deus, o que já seria suficientemente ruim, mas especificamente das cinco blasfêmias contra o Imaculado Coração de Maria, para cuja reparação o Céu pediu a devoção dos Cinco Primeiros Sábados. Nosso Senhor explicou à Irmã Lúcia em 29 de maio de 1930:

“Há cinco tipos de ofensas e blasfêmias contra o Imaculado Coração de Maria:

  1. Blasfêmias contra a Imaculada Conceição;
  2. Blasfêmias contra sua Virgindade Perpétua;
  3. Blasfêmias contra sua Maternidade Divina, com a recusa simultânea de reconhecê-la como Mãe dos homens;
  4. As blasfêmias daqueles que buscam publicamente semear nos corações das crianças indiferença ou desprezo, ou mesmo ódio, a esse Imaculado Coração;
  5. As ofensas daqueles que a ultrajam diretamente em suas Santas Imagens.” 7

E aqui há um ponto crucial sobre essas cinco blasfêmias contra Nossa Senhora. Vemos que elas vêm não apenas de homens ateus ou sem Deus. Antes, essas cinco blasfêmias são, de certa forma, elementos constitutivos de todas as religiões não-católicas. Trata-se da “blasfêmia doutrinal” mencionada pelo Padre Janvier. Por exemplo:

  • Os ortodoxos russos não crêem uniformemente na Imaculada Conceição.
  • A maioria dos protestantes recusa-se a crer na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora e não a reconhecem como Mãe dos homens.
  • A maioria dos protestantes semeia a indiferença por Nossa Senhora nos corações de suas crianças e as ensina a não honrar suas imagens.
  • Naturalmente, maometanos, judeus, hindus e budistas rejeitam as verdades sobre a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, sua Virgindade Perpétua, sua Maternidade Divina e a honra devida às suas santas imagens. Nenhuma dessas religiões a reconhece como Mãe de todos os homens, e todas semeiam essa descrença nos corações de suas crianças.

Essas blasfêmias contra Nossa Senhora fluem das falsas religiões e, como mencionado anteriormente, falsas religiões são um pecado contra o Primeiro Mandamento, um dos três que Nosso Senhor mencionou especificamente à Irmã Maria de São Pedro como merecendo particular castigo em nossos tempos. Isso, naturalmente, é outra razão pela qual a distensão ecumênica entre católicos e falsas religiões não faz qualquer sentido. Especialmente uma vez que a prática atual do ecumenismo busca “dialogar” com elas em vez de tentar converter seus adeptos à única verdadeira Igreja de Jesus Cristo, a Igreja Católica, fora da qual não há salvação, deixando os membros desses falsos credos reconfortados em sua blasfêmia doutrinal contra Nossa Senhora.

As revelações à Irmã Maria de São Pedro e aos pastorinhos de Fátima não pediram encontros inter-religiosos. Em vez disso, Nosso Senhor e Nossa Senhora disseram-nos para cairmos de joelhos e fazermos reparações por esses pecados contra a Fé, por esses pecados contra o Primeiro Mandamento e, à luz de Fátima, por esses pecados de heresia que produzem as cinco blasfêmias contra o Imaculado Coração de Maria enunciadas por Nosso Senhor à Irmã Lúcia em Tuy, em 29 de maio de 1930.

 

Uma Poderosa Oração para a Igreja

Pode-se dizer, então, que a Igreja passa agora pela “horrível tempestade” predita por Nosso Senhor e que esta é o resultado da “malícia dos homens rebeldes”, comunistas e maçons8, que se infiltraram na Igreja para subvertê-la desde dentro. Também se incluem, entre esses “homens rebeldes”, prelados, padres e leigos católicos (bem intencionados ou não) que promovem novidades conciliares como o ecumenismo; novidades que desfiguraram a religião católica, representada pela Face sofredora de Cristo, ferida e despedaçada. Como ensinam São Vicente de Lérins, Santo Tomás de Aquino, São Roberto Belarmino e outros santos, os católicos têm o dever de resistir a novidades que distorçam a Fé e desfigurem a Igreja, mesmo se essas novidades vierem das mais elevadas autoridades9. Contudo, sem oração e reparação, nossa resistência será em vão. É apropriado, então, concluir com uma menção especial à oração dada por Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro para a proteção da Igreja. Após Nosso Senhor ter-lhe dito: “A Igreja está ameaçada por uma horrível tempestade. Rezai! Rezai!”, a irmã relata:

“...Ele me ensinou qual oração eu deveria usar para proteger sua Igreja no Santíssimo Nome de Deus; aquela que antes de deixar a Terra Ele havia feito a seu Pai celeste por seus apóstolos e por toda a Igreja: “Pai santo, guarda em teu Nome aqueles que me deste” (Jo 17,11). Essa oração é mais eficaz que quaisquer outras que eu poderia fazer por mim mesma.” 10

A Obra de Reparação, dada a nós por Nosso Senhor Jesus Cristo, deveria encher-nos de esperança e gratidão. Nossa esperança reside no fato de que os tempos conturbados que nossa Igreja agora experimenta não nos apanharam sem aviso nem sem a promessa da vitória final do Céu. Nosso Senhor previu que comunistas, sociedades secretas e outros homens rebeldes poderiam causar grande devastação, mas que, no final, não prevaleceriam. “Não terão sucesso em seus desígnios” 11, garantiu Nosso Senhor.

Essa obra também pode encher-nos de gratidão. Por meio dela, Nosso Senhor deu-nos armas sobrenaturais eficazes para combatermos a investida do mal dentro da Igreja e no mundo, além de serem meios poderosos para a conversão dos pecadores. Essas orações de reparação também remediam o senso de desespero de muitos católicos que se sentem impotentes diante de forças que estão além de seu controle. Por meio dessa obra, os católicos podem realmente fazer algo na ordem sobrenatural para ajudar a salvar almas e contribuir com a vitória final de Nosso Senhor e Nossa Senhora. Foi o Bem-Aventurado Papa Pio IX que disse: “A Reparação é uma obra destinada a salvar a sociedade.” 12 Não é de se admirar que Nosso Senhor tenha se referido a ela como “uma das mais belas obras sob o sol.” Com tal recomendação por parte do Filho de Deus, por que algum católico não tomaria parte nela?

 

A Obra de Reparação

O que é, então, a Obra de Reparação da qual Nosso Senhor falou à Irmã Maria de São Pedro? Resumidamente:

  1. Fazer reparação pelo pecado de blasfêmia e adorar o Santo Nome de Jesus, especialmente pela recitação diária da Seta de Ouro.
  2. Fazer reparação pela profanação do domingo e dos dias santos de guarda. Como mencionado neste estudo, Nosso Senhor pediu à Irmã Maria de São Pedro que fizesse uma Comunhão de Reparação todo domingo em reparação por esses pecados.
  3. Nunca blasfemar e fazer tudo o que estiver ao alcance para se evitar a blasfêmia e a profanação do domingo, de forma que o Dia do Senhor não seja apenas mais um dia de trabalho ou de compras no shopping.
  4. Praticar uma constante devoção à Sagrada Face de Jesus.

Finalmente, creio que essa devoção deva andar lado a lado com o atendimento dos pedidos de Nossa Senhora de Fátima: o Terço diário, o uso do Escapulário, o cumprimento do dever de cada dia, os Cinco Primeiros Sábados e uma fervorosa devoção ao Imaculado Coração de Maria.

  1. 1. VSSP, p. 273.
  2. 2. VSSP, p. 120.
  3. 3. Memórias da Irmã Lúcia, 5ª edição, Maio de 1987, Vice-postulação, Fátima – Portugal, p. 105.
  4. 4. VSSP, p. 298.
  5. 5. VSSP, p. 267.
  6. 6. Memórias da Irmã Lúcia, Ibid.
  7. 7. The Fatima Crusader, No 49, p. 17.
  8. 8. Ver nota 91.
  9. 9. Ver “Resisting Wayward Prelates, According to the Saints”, Catholic Family News, agosto de 1999. Ver também o Capítulo 3 de Crucial Truths To Save Your Soul, do Padre Nicholas Gruner, [Immaculate Heart Publications, 2014] disponível em The Fatima Center.
  10. 10. VSSP, pp. 384-385.
  11. 11. VSSP, p. 300.
  12. 12. VSSP, p. 316.

Capítulo 7 -- A Igreja desfigurada

John Vennari

Podemos dizer seguramente que a devoção à Sagrada Face tem uma importância especial para o nosso tempo, principalmente por esta razão: o Céu nos disse por meio da Irmã Maria de São Pedro que a Sagrada Face de Jesus é um símbolo da religião católica. Ainda mais, a imagem de sua Face que Ele nos deu para nossos tempos não é uma imagem bela, saudável e encantadora, mas surrada, sofredora e desfigurada: a imagem sofrida do Véu de Verônica1.

Como não ver nisso uma profecia velada para a Igreja de nossos dias? A crise de Fé que atingiu a Igreja desde os anos 1960 desfigurou a face do Catolicismo. Desfigurados foram o Santo Sacrifício da Missa, a teologia, a instrução religiosa católica para adultos e crianças, a formação nos seminários, os conventos e a vida religiosa, o interior de nossas igrejas; até o ensinamento católico sobre o sacramento do matrimônio está sendo desfigurado2. Em suma, a religião católica, representada pela Sagrada Face de Cristo, está agora desfigurada pelo cruel açoite do aggiornamento. Na mesma linha, há razões adicionais para considerar as revelações da Irmã Maria de São Pedro uma profecia para os dias de hoje.

 

1) A Igreja será eclipsada”

Como já mencionado, há uma conexão entre as revelações de Nosso Senhor para a Irmã Maria e as de Nossa Senhora em La Salette. Ambas alertaram para a necessidade de reparação pelos pecados de blasfêmia e de profanação dos domingos. Mas nossa Bem-Aventurada Mãe também previu uma grande crise na Igreja. Entre outros avisos, Nossa Senhora de La Salette disse: “A Igreja será eclipsada.” 3 Esse período de provação para a Igreja, predito por Nossa Senhora, parece ter seu reflexo na Face desfigurada de Jesus, que é o símbolo da religião católica esbofeteada por seus inimigos. Lembremo-nos das palavras de Nosso Senhor:

“A Terra está coberta de crimes! Meu Pai está irado com a violação dos três primeiros Mandamentos de Deus. A blasfêmia para com o Santo Nome de Deus e a profanação do Santo Dia do Senhor completam a medida das iniqüidades. Esses pecados subiram ao Trono de Deus e provocaram sua cólera, que irromperá se sua justiça não for aplacada. Em nenhuma outra época esses crimes alcançaram tal ponto.” 4

Até esse ponto, nossa ênfase tem sido nos avisos do Céu sobre as violações ao Segundo e Terceiro Mandamentos, que são os pecados da blasfêmia e da profanação dos domingos. Contudo, Nosso Senhor, na citação acima, está indo além e menciona especificamente “a violação dos três primeiros Mandamentos”, que inclui o Primeiro: Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de Mim.” O que constitui, então, um pecado contra o Primeiro Mandamento? A resposta encontra-se no Catecismo do Concílio de Trento, no Catecismo de São Pio X e no Catecismo de Baltimore5. Em resumo, o Primeiro Mandamento proíbe idolatria, superstição, espiritismo, tentar a Deus, sacrilégio e pecados contra a Fé. O catecismo então pergunta: “Como um católico peca contra a Fé?” Resposta: “Um católico peca contra a Fé por apostasia, heresia, indiferentismo e ao tomar parte num culto não católico.” 6

Ao tomar parte num culto não católico! Isso é, de fato, uma poderosa acusação contra a presente prática ecumênica, que tem varrido e desfigurado a Igreja desde o Concílio. Por causa do ecumenismo, testemunhamos o inaudito escândalo de prelados, padres e leigos católicos rezando publicamente com membros de falsas religiões, e até mesmo conduzindo liturgias interdenominacionais [que não são liturgia de forma alguma] dentro de igrejas protestantes. Vemos nossos líderes do mais alto escalão na Igreja dialogando com a heresia, em vez de combatê-la aberta e corajosamente. Pela primeira vez em nossa história sagrada, desafiando dois mil anos de ensinamento católico, é política eclesiástica aceitar membros de falsas religiões com suas falsas crenças, em vez de combater seus erros e trabalhar para convertê-los à única verdadeira Igreja de Cristo. Isso é particularmente evidente na conhecida declaração do Cardeal Walter Kasper, então prefeito do Pontifício Conselho do Vaticano para Promoção da Unidade Cristã: “...hoje em dia não entendemos mais o ecumenismo no sentido de um retorno, pelo qual os outros ‘seriam convertidos’ e voltariam a ser ‘católicos’. Isso foi expressamente abandonado no Vaticano II.” 7

Essa declaração, que despreza o exaustivamente definido dogma de que “fora da Igreja não há salvação”, realmente reflete o verdadeiro “Espírito do Vaticano II”. O Padre Joseph Ratzinger, em seu livro de 1966 Theological Highlights of Vatican II, disse a mesma coisa sobre a nova orientação do Concílio em relação aos não-católicos:

“A Igreja Católica não tem qualquer direito de absorver as outras Igrejas... [uma] unidade básica ― de Igrejas que permanecem Igrejas, mas que se tornam uma só Igreja ― tem de substituir a idéia de conversão, mesmo que a conversão retenha sua significância para aqueles motivados em consciência a buscá-la.” 8

Essa nova orientação, que alega que não-católicos não precisam se converter porque já são “de alguma forma misteriosa” 9 parte da Igreja de Cristo, desafia o ensinamento perene da Igreja sobre a necessidade de não-católicos abandonarem seus erros e retornarem à única verdadeira Igreja de Jesus Cristo, como resumido por Pio XII, em 1949, numa Instrução sobre o movimento ecumênico:

“...a doutrina católica completa e inteira deve ser apresentada e explicada: de forma alguma é permitido deixar em silêncio ou dissimular por termos ambíguos a verdade católica sobre [...] a única verdadeira união que acontece por meio do retorno dos dissidentes à única Igreja de Cristo10. [a Igreja Católica]”

Além disso, essa recusa em combater a heresia, particularmente a heresia do protestantismo, traz à mente as palavras do renomado escritor do século XIX, o Padre Frederick Faber: “Onde não há ódio pela heresia, não há santidade.” 11

Uma das muitas razões pelas quais a Igreja sempre proibiu esse tipo de prática ecumênica propagada desde o Vaticano II deve-se ao fato de que ela põe a única verdadeira religião estabelecida por Nosso Senhor em pé de igualdade com credos inventados pelo homem. De fato, os dois mil anos de ensinamento católico condenando o ecumenismo estão sumarizados na Encíclica de Pio XI de 1928, Mortalium Animos; uma condenação profética e completa do ecumenismo do Vaticano II. Foi ali que o Papa Pio XI alertou:

“...é manifestamente claro que a Santa Sé não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para essas iniciativas [ecumênicas]: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.” 12

Da mesma forma, o bispo Dom George Hay demonstra magistralmente a condenação das Escrituras a respeito da associação religiosa com não-católicos, especialmente em seu livro The Sincere Christian (O Cristão Sincero), sob o título “Sobre a comunicação em religião com aqueles que estão separados da Igreja de Cristo”.

Tragicamente, o “pan-cristianismo” condenado por Pio XI, por todos os seus predecessores e pelas Sagradas Escrituras é visto agora pelos homens nos mais altos escalões de nossa Igreja como um limiar de esperança. Assim, na ordem objetiva13, o acomodamento do ecumenismo com falsas religiões constitui um pecado contra o Primeiro Mandamento, um dos três que Nosso Senhor disse estarem sendo especialmente violados em nosso tempo e merecedor de severo castigo. E temos visto os resultados do ecumenismo: desfigura e eclipsa o Catolicismo, porque tenta acomodar a verdade católica com os erros dos hereges. A Missa Nova, fabricada de acordo com os princípios do ecumenismo e elogiada por muitos protestantes como aceitável para eles14, é provavelmente o exemplo mais notável de como o ecumenismo desfigura a verdadeira Fé católica. Mais exemplos serão dados adiante.

 

2) A Blasfêmia dos Hereges

Nosso Senhor queixou-se com a Irmã Maria de São Pedro sobre os pecados contra o Segundo Mandamento, nomeadamente a blasfêmia. Se consultarmos o Catecismo do Concílio de Trento, veremos que quem apóia a heresia e “destitui a Sagrada Escritura de seu sentido reto e verdadeiro” é culpado de pecado contra o Segundo Mandamento15. Assim, aqueles que distorcem o significado das Escrituras ― especificamente, os protestantes ― são, na ordem objetiva, culpados desse pecado, porque a perversão das Sagradas Escrituras é uma irreverência em relação à Santa Palavra de Deus. Em contraste, em nome do ecumenismo, católicos são agora encorajados a assistir a palestras de pastores em templos protestantes16. Além disso, o Diretório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre o Ecumenismo, publicado pelo Vaticano em 1993, encoraja uma inaudita camaradagem ecumênica entre católicos e não-católicos, algo sempre considerado pela Igreja como um grave pecado contra a Fé. O Diretório:

  • encoraja “exercícios espirituais” e “retiros” em comum entre católicos e protestantes [#114];
  • permite que não-católicos ensinem em Seminários [#81];
  • encoraja os bispos diocesanos a emprestarem as igrejas paroquiais de sua diocese para que não-católicos realizem ali seus cultos [#137];
  • incentiva a promoção de cultos interdenominacionais entre católicos e protestantes em suas respectivas igrejas [#112];
  • encoraja a publicação conjunta de uma Bíblia interdenominacional entre católicos e protestantes [#185];
  • desencoraja católicos a tentarem converter não-católicos [#23, #79, #81, #125];
  • recomenda a construção de uma igreja única que pertença a católicos e não-católicos e por ambos seja utilizada [#138];
  • recomenda ainda que, nessas igrejas compartilhadas, o Santíssimo Sacramento seja colocado numa capela ou sala separada para não ofender aos que não crêem [#139] 17.

Os líderes de nossa Igreja praticamente abandonaram o ensinamento tradicional do Catecismo do Concílio de Trento. Enviam agora católicos para os braços dos protestantes que, na ordem objetiva, blasfemam contra Nosso Senhor por meio da perversão de Sua Palavra nas Sagradas Escrituras. À luz dos pedidos de reparação de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro pelos pecados contra o Segundo Mandamento, talvez possamos empreender a prática diária da oração da Seta de Ouro em reparação a Nosso Senhor pela irreverência dos protestantes em relação às Sagradas Escrituras e pelos iludidos “ecumenistas católicos” que promovem a camaradagem religiosa com membros de falsas religiões e dela participam.

 

3) A Infiltração Comunista na Igreja

Há uma terceira razão pela qual as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro parecem ter uma aplicação especial para nossa época. Em 1847, Nosso Senhor nomeou os comunistas como “os inimigos da Igreja e de seu Cristo” 18. Disse também que puniria o mundo não por meio dos elementos, mas antes pela “malícia dos homens rebeldes” 19. Mais de cem anos depois, vivemos agora num período em que as ações maliciosas desses “homens rebeldes” têm uma influência direta na desfiguração da religião católica, representada na Face torturada de Cristo.

A Dra. Bella V. Dodd foi uma comunista de alto escalão, designada como Advogada Geral do Partido Comunista nos Estados Unidos. Posteriormente, entretanto, retornou à Fé católica, que tinha abandonado cedo em sua vida. Na década de 1950, após sua conversão, ministrou numerosas palestras sobre a bem-sucedida infiltração comunista nas instituições religiosas e na Igreja Católica em particular, explicando que, nos anos 30 e 40, o Comitê Central havia decidido enviar radicais aos seminários para subverter a Igreja desde dentro. Agentes comunistas começaram a fazer isso por todo o Ocidente e a própria Bella Dodd, segundo conta, recrutou pessoalmente mais de mil jovens radicais para que entrassem em seminários católicos ― e ela foi apenas uma dentre os comunistas que assim fizeram20.

Outro ex-comunista, o Sr. Manning Johnson, deu um testemunho similar. Em 1953, declarou ao Comitê de Atividades Antiamericanas:

“Uma vez que a tática de infiltração em instituições religiosas foi estabelecida pelo Kremlin, (...) os comunistas descobriram que a destruição da religião poderia ocorrer muito mais rapidamente por meio da infiltração da Igreja por comunistas que operassem de dentro dela.”

E completou: “O sucesso dessa política de infiltração de seminários foi além de nossas expectativas comunistas.” 21 Provavelmente não foi coincidência que, ao mesmo tempo em que o Sr. Johnson dava esse testemunho, os dominicanos franceses tivessem se tornado tão comunistas em sua conduta a ponto de, em 1953, a Ordem ter escapado por pouco de ser dissolvida por comando do Papa Pio XII22. Falando da infiltração de instituições religiosas em geral, Manning Johnson explicou:

“...o grande plano para tomar as organizações religiosas foi gestado realmente durante aquele período particular [1935], e o fato de que os comunistas possam se gabar nas manchetes do Daily Worker de terem o apoio de 2.300 ministros protestantes é resultado daquele plano, que começou nos anos 30, quando eu era membro do Partido Comunista.” 23

Outro depoimento de Bella Dodd chegou-me por uma testemunha de primeira mão, um conhecido meu, agora falecido, que a ouviu pessoalmente no início da década de 1950 dizendo que os comunistas, àquela altura, tinham seus homens instalados nos mais altos postos da Igreja Católica. Esses homens estavam trabalhando para que a Igreja sofresse tal mudança que não seria mais capaz de fazer algo efetivo contra o comunismo. No início dos anos 50, descrevendo as mudanças que aconteceriam no futuro, Bella Dodd previu que “em dez ou quinze anos, vocês não reconhecerão a Igreja Católica.” Ela explicou que a tática era destruir não a instituição da Igreja, mas antes a Fé das pessoas, e até usar a própria instituição, se possível, para destruir a Fé por meio da promoção de uma pseudo-religião ― algo que se parecesse com o catolicismo, mas que não o fosse realmente24.

A Sra. Dodd também afirmou que os comunistas eram uma força atuante nas Nações Unidas25, e que o Conselho Mundial de Igrejas pertencia, “de cabo a rabo”, a eles. Isso é especialmente digno de nota, já que esse Conselho foi um pioneiro em termos de “diálogo” e ecumenismo. O CMI vangloria-se de ser “o instrumento mais abrangente do movimento ecumênico no mundo de hoje.” 26

O período de tempo indicado por Bella Dodd para a violenta convulsão na Igreja (“dez ou quinze anos” a partir do início da década de 1950) coincide precisamente com o acordo Roma-Moscou. Às vésperas do Vaticano II, os líderes de nossa Igreja prometeram não condenar o comunismo em troca da participação de observadores russo-ortodoxos no Concílio27. Esse acordo também forma a base da Ostpolitik28 da Igreja com a China comunista, sendo ainda parte da nova abordagem do Vaticano II que promove a alegada “abertura ao mundo”, em lugar da confrontação corajosa dos graves males. O resultado foi aquele previsto por Bella Dodd: a Igreja Católica não é mais capaz de fazer algo efetivo, nem mesmo remotamente, contra o comunismo e outros programas anticristãos29. A previsão de Bella Dodd também coincide com a violenta onda que atingiu a Igreja nos anos 60 devido ao progressismo e ao ecumenismo do Concílio Vaticano II, que continua a desfigurar nossa religião até hoje30.

Por essas e outras razões, penso que podemos considerar as revelações de Nosso Senhor sobre a reparação à Sagrada Face como uma profecia velada sobre a presente crise de Fé. Praticar essa devoção, creio, é um meio especial de fazer reparação a Nosso Senhor pelos ultrajes que Ele sofre em nossos tempos, e poderia até nos dar, talvez, graças especiais para sermos fiéis até a morte ao ensinamento e à prática tradicionais da Igreja durante este período de ― nas palavras da Irmã Lúcia de Fátima ― “desorientação diabólica” da alta hierarquia. E mesmo que essa devoção não nos dê essas graças automaticamente, podemos certamente pedi-las em nossas orações à Sagrada Face. Nosso Senhor nos deu grande esperança em uma das Nove Promessas31: “Por essa oferta [de sua Sagrada Face], nada vos será recusado.”

Para encerrar esta seção sobre a presente crise na Igreja, há uma última citação de Nosso Senhor que tem especial relevância. Em 13 de fevereiro de 1848, numa das mensagens finais dadas à Irmã Maria de São Pedro, Nosso Senhor fez um apelo urgente: “A Igreja está ameaçada por uma horrível tempestade. Rezai! Rezai!” 32

Os comentaristas da época interpretaram essas palavras como uma previsão dos sofrimentos pelos quais a Igreja passou durante as revoluções do século XIX na França e na Itália. Mas à luz das considerações acima, essa previsão parece aplicar-se ainda mais à crise de Fé existente desde o Concílio Vaticano II, porque, de fato, a Igreja passa agora por “uma horrível tempestade”. Até o Papa Paulo VI teve de admitir em 1972 que “a fumaça de Satanás entrou na Igreja de Deus.” 33 Tragicamente, tudo na Igreja tornou-se ainda mais desfigurado desde que Paulo VI pronunciou essas terríveis palavras.

  1. 1. Disse a Irmã Maria de São Pedro: “Uma luz interior me fez compreender que a Igreja é a Face do Corpo Místico de Jesus Cristo e que está agora coberta de feridas pelos ímpios!” VSSP, p. 398.
  2. 2. Ver “A Short Carthism on the Synod of Surrender”, Catholic Family News, set/2015; e “Synod 2015: A New Phase of Conciliar Destruction”, Catholic Family News, nov/2015, ambos de John Vennari.
  3. 3. Citação traduzida do livro Le Secret de La Salette et L’Apparition de la Très Sainte Vierge sur la Saint Montagne, de Mélanie Calvet, a Pastora de La Salette (Paris, 1905), com Imprimatur de 1879 de Dom Zola, bispo de Lecce, p. 16. Essa edição também contém a famosa profecia de Nossa Senhora: “Roma perderá a Fé e se tornará a sede do Anticristo,” p. 15.
  4. 4. VSSP, pp. 149-150. Vale notar que Nosso Senhor comunicou esse alerta nos anos 1840, que poderiam ser chamados de “bons e velhos tempos”. Ao entrarmos no 50º aniversário da revolução do Vaticano II, tudo na Igreja e no mundo está muito pior.
  5. 5. O Catecismo de Baltimore foi preparado por ordem do Terceiro Concílio de Baltimore (1884) e utilizado no ensino católico nos Estados Unidos entre 1885 e o final da década de 1960. [N. do T.]
  6. 6. Citação extraída de Scriptural References for the Baltimore Catechism, do Rev. G.H. Guyot. Publicado originalmente [com imprimatur] em 1946. Republicado por Roman Catholic Books, Harrison, NY. Questão Nº 205 do Catecismo, p. 60.
  7. 7. Adisti, 26 de fevereiro de 2001. Traduzido da versão inglesa incluída no artigo “Where Have They Hidden the Body?” de Christopher Ferrara, The Remnant, 30 de junho de 2001.
  8. 8. [Negritos nossos] Theological Highlights of Vatican II, Joseph Ratzinger [Paulist Press, New York, 1966], pp. 65-66. Para uma discussão mais completa do livro do Padre Ratzinger, ver “Vatican II vs. the Unity Willed by Christ”, de J. Vennari, Catholic Family News, dezembro de 2000.
  9. 9. A controversa terminologia utilizada pelo Vaticano II para favorecer essa falsa noção encontra-se em Lumen Gentium 8, onde se diz “A Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica” em lugar da definição de Pio XII de que a Igreja de Cristo É a Igreja Católica [Mystici Corporis, Papa Pio XII]. O Cardeal Joseph Ratzinger, que sempre foi um progressista, admitiu que o termo “subsiste” foi usado no Concílio para favorecer a [falsa] noção de que a Igreja de Cristo é realmente maior do que a Igreja Católica. Ratzinger disse: “Quando os Padres Conciliares substituíram a palavra ‘é’ pela palavra ‘subsiste’, fizeram-no por uma razão muito precisa. O conceito expresso por ‘é’ (ser) é bem mais amplo do que o expresso por ‘subsistir’. ‘Subsistir’ é uma forma de ser muito precisa, a saber, ser como um sujeito, que existe em si mesmo. Assim, os Padres Conciliares quiseram dizer que o ser da Igreja como tal é uma entidade mais ampla que a Igreja Católica Romana, mas dentro desta aquela adquire, de uma forma incomparável, o caráter de um verdadeiro e próprio sujeito.” – Entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine [22 de setembro de 2000]. Para mais informações, ver o título “The Neo-Modernists Hail the ‘New’ Church of Vatican II”, em The Devil’s Final Battle, 2ª edição, 2010, publicado por The Missionary Association, pp. 64-65.
  10. 10. Traduzido da versão em inglês de Instruction of the Holy Office on the Ecumenical Movement (20 de dezembro de 1949), disponível em http://www.ewtn.com/library/curia/cdfecum.htm.
  11. 11. Faber, Padre Frederick W., The Precious Blood, Capítulo VI, “The Devotion To The Precious Blood”, publicado originalmente por Burns Oates & Washbourne Ltd., editores para a Santa Sé. Publicado atualmente por Tan Books & Publishers, Rockford, IL, pp. 270-271.
  12. 12. Encíclica Mortalium Animos, Sobre a Promoção da Verdadeira Unidade de Religião, Papa Pio XI, 6 de janeiro de 1928. Disponível em www.vatican.va.
  13. 13. Este é o primeiro princípio dado por Dom George Hay em sua exposição sobre a proibição das Sagradas Escrituras a respeito da comunicação religiosa entre católicos e não-católicos: “O primeiro se baseia na luz sob a qual se consideram todas as falsas religiões nas Sagradas Escrituras; porque lá somos assegurados de que aquelas surgem de falsos mestres, chamados de sedutores dos povos, lobos vorazes, falsos profetas, que falam coisas perversas: que são anticristos e inimigos da cruz de Cristo; que, afastando-se da verdadeira fé de Cristo, dão atenção ao espírito de erro; que suas doutrinas são doutrinas de demônios mentirosos; que seus caminhos são perniciosos, suas heresias execráveis, e assim por diante. Em conseqüência, esta ordem geral de evitar toda comunicação com eles em matéria de religião é dada pelo Apóstolo: “Não vos prendais ao jugo com os infiéis. Porque que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comércio entre a luz e as trevas? E que concórdia entre Cristo e Belial? Ou que sociedade entre o fiel e o infiel? E que consenso entre o templo de Deus e os ídolos? Porque vós sois o templo de Deus vivo.” [2Cor 6,14-16] Bispo Hay, The Sincere Christian, [James Duffy & Sons, Dublin – Imprimatur de G. J. Walsh, Arcebispo de Dublin] pp. 548-549. Essa seção da obra de Dom Hay está publicada em Catholic Family News, fevereiro de 2014.
  14. 14. Por exemplo, o irmão protestante Roger Schultz, de Taizé, disse: “As novas Orações Eucarísticas têm uma estrutura correspondente à da missa luterana.” M. G. Siegle, professor de teologia dogmática na faculdade protestante de Estrasburgo, escreveu: “Nada na Missa renovada precisa realmente preocupar o protestante evangélico.” Esses testemunhos de protestantes, juntamente com inúmeros outros, fizeram o filósofo católico Romano Amerio lamentar: “Deve-se, portanto, reconhecer que a reforma transformou uma Missa católica que era inaceitável para protestantes numa Missa católica que é aceitável para protestantes.” Romano Amerio, Iota Unum [Sarto House, 1996], pp. 651-652.
  15. 15. O Catecismo ensina: “Ao proibir o perjúrio, a Escritura acrescenta: ‘Não mancharás o Nome do teu Deus’ (Lv 19,12). Assim proíbe, outrossim, o menosprezo de outras coisas, às quais se deve veneração, em virtude deste mesmo preceito. Tal se dá com a palavra de Deus, cuja majestade não só os homens piedosos, mas às vezes até os ímpios acatam com temor, como se conta na história dos Juízes a respeito de Eglon, rei dos Moabitas (Jz 3,30). Ora, gravíssima injúria faz à palavra de Deus quem destitui a Sagrada Escritura de seu sentido reto e verdadeiro, para abonar doutrinas e heresias de homens ímpios. Contra tal crime nos põe em guarda o Príncipe dos Apóstolos com as palavras: ‘Há algumas coisas difíceis de entender [nas epístolas de São Paulo], que pessoas ignorantes adulteram para a sua própria perdição, bem como outras passagens da Escritura.’ (2Pd 3,16)” Citação extraída do Catecismo Romano, versão portuguesa baseada na edição autêntica de 1566, por Frei Leopoldo Pires Martins, O.F.M. (1951), p. 432.
  16. 16. O Bispo Fabian Bruskewitz, na diocese de Lincoln, Nebraska, permitiu que se divulgasse um programa de sermões que encorajava os católicos a assistirem a palestras de protestantes em templos metodistas, congregacionais e luteranos. [Conforme boletim paroquial da Igreja de Santa Maria da Assunção, David City, NE, de 1996 a 1998.] Documentação fornecida no artigo “Bishop Bruskewitz’s Diocese Oozing with Pentecostalism, Ecumenism and Polka Masses”, John Vennari, Catholic Family News, janeiro de 1999.
  17. 17. Ver o Diretório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre o Ecumenismo [1993], publicado pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, disponível em www.vatican.va em alemão, espanhol, francês, inglês e italiano. Um tratamento conciso desse documento encontra-se no artigo The Ecumenical Church of the Third Millenium, Catholic Family News, janeiro de 1998.
  18. 18. VSSP, p. 298.
  19. 19. VSSP, p. 267.
  20. 20. Testemunho citado pelo Padre John O’Connor na palestra “The Subversion of Our Church and Our Country” (“A Subversão de Nossa Igreja e de Nosso País”). Oltyn Library Services, Buffalo, NY 14216.
  21. 21. Testemunho de Manning Jonhson, Investigação das Atividades Comunistas na área de New York City ― Parte 7, Audiência diante do Comitê de Atividades Antiamericanas, Câmara dos Representantes, 83º Congresso, 1ª Sessão, 8 de julho de 1953, [publicado pelo Government Printing Office, Washington, 1953] p. 2214.
  22. 22. Dr. Dietrich von Hildebrand, Satan at Work, Remnant Press.
  23. 23. Ibid, nota 83.
  24. 24. Testemunho de B. J. Natale († 1995) de Pine Hill, New Jersey. Já dei essa palestra sobre a Sagrada Face, incluindo o testemunho de Bella Dodd, em diferentes partes do país, de Leste a Oeste. Praticamente, todas as vezes, pelo menos uma pessoa da audiência me disse que ele ou ela também tinham ouvido pessoalmente o testemunho de Bella Dodd nos anos 50 e confirmaram muitos pontos do que Natale havia dito.
  25. 25. “Quando a Conferência de Yalta terminou, os comunistas prepararam-se para apoiar a Carta das Nações Unidas, que seria adotada na Conferência de São Francisco a ser realizada em maio e junho de 1945. Com esse intento, organizei um grupo de oradores e fomos para as esquinas das ruas onde ficam as lojas de chapéus e roupas em New York, e realizamos reuniões a céu aberto em meio às milhares de pessoas que por ali passam na hora do almoço. Falamos da necessidade de união no mundo e a favor das decisões de Yalta.” Extraído de Bella V. Dodd, School of Darkness, [P. J. Kennedy, New York, 1959], p. 179. Da mesma forma, o ex-membro do alto escalão comunista, Joseph Z. Kornfeder, revelou em 1955: “Sua organização interna [da ONU], desenhada por comunistas, é um padrão para conquista sociológica, um padrão destinado a servir ao propósito da penetração comunista no Ocidente. É engenhoso e enganador.” Extraído de G. Edward Griffin, The Fearful Master: A Second Look at the United Nations [Western Islands, Appleton, WI, 1964], p. 75. Para testemunhos adicionais sobre as raízes comunistas das Nações Unidas, ver Global Tyranny, Step by Step, de William Jasper [Western Islands, Appleton, WI, 1996] Capítulo 4: “Reds”. Uma discussão completa sobre o nascimento das Nações Unidas a partir da “malícia dos homens rebeldes” exigiria um estudo separado.
  26. 26. Extraído da publicação do CMI “What in the World is the World Council of Churches?”, 1978.
  27. 27. Ver “O Acordo Roma-Moscou” de Jean Madiran, que publicamos no nosso site (http://permanencia.org.br/drupal/node/5267). [N. do E.]
  28. 28. Neue Ostpolitik (temo alemão para “nova política oriental”), ou simplesmente Ostpolitik, refere-se aqui à política vaticana de aproximação com a então União Soviética e demais países comunistas. [N. do T.]
  29. 29. Por exemplo, durante a IV Sessão do Vaticano II, 450 bispos fizeram uma petição para que os documentos do Concílio incluíssem uma forte condenação ao comunismo. A petição foi propositalmente (e ilegalmente) retida pelo secretário da comissão, Mons. Achile Glorieux, de Lille, França. Como resultado, os Padres Conciliares foram impedidos de ver a petição e o Concílio não contém qualquer condenação ao comunismo. O Mons. Glorieux jamais foi punido por essa ação; ao contrário, acabou sendo nomeado Delegado Apostólico no Cairo. A história completa encontra-se em O Reno se Lança no Tibre, do Pe. Ralph Wiltgen [2007, publicado no Brasil pela Ed. Permanência], pp. 275-280. Da mesma forma, o Pe. Malachi Martin explica, em seu livro The Jesuits, que o alerta dado pelo Vaticano em 1984 sobre a Teologia da Libertação foi escrito propositalmente de forma a não mencionar o comunismo; isso por causa do Acordo Roma-Moscou, ainda vigente, que impede o Vaticano de condenar o comunismo. Ver The Jesuits, [Simon & Schuster, 1987] Capítulo 3.
  30. 30. Delinear a conexão entre a influência da Maçonaria no Vaticano II e a crise pós-Conciliar vai além do escopo deste estudo (sobre esse assunto, publiquei The Permanent Instruction of the Alta Vendita – 1999, TAN Books). Aqui, bastará citar o maçom francês Yves Marsaudon, que disse: “Pode-se dizer que o ecumenismo é o filho legítimo da Maçonaria.” Com isso, não estou dizendo que todos os que praticam o ecumenismo são inimigos deliberados da Igreja. De fato, o Pe. Frederick Faber, em meados do século XIX, alertava que, no futuro, aqueles que causariam maior dano a Cristo e à sua Igreja, aqueles que fariam o trabalho do Anticristo e “crucificariam novamente Nosso Senhor”, não seriam necessariamente homens maus, mas “homens bons que estariam do lado errado.” [Extraído do livro do Pe. Fahey, The Mystical Body of Christ in the Modern World, p. xiii.] É provável que muitos na Igreja que praticam o ecumenismo sejam precisamente isto: homens bons (isto é, bem intencionados) que estão do lado errado.
  31. 31. As Nove Promessas de Nosso Senhor para os que praticarem a Devoção à Sagrada Face. Capítulo VI deste estudo.
  32. 32. VSSP, p. 384.
  33. 33. Papa Paulo VI, discurso em 26 de junho de 1972.

Capitulo 6 -- As nove promessas

John Vennari

Juntamente com essas considerações, há uma razão ainda mais poderosa para nos dedicarmos à Sagrada Face: as gloriosas recompensas prometidas por Nosso Senhor para aqueles que praticarem a devoção.

Deus sabe que o homem é motivado, de maneira geral, pelo retorno que obtém de suas atividades e leva isso em conta ao lidar conosco. Quando pediu a Santa Margarida Maria Alacoque o estabelecimento da devoção ao Sagrado Coração, fez doze promessas aos que a praticassem. Quando Nossa Senhora encorajou o povo a rezar o Rosário, deu ao Bem-aventurado Alan de la Roche quinze promessas para os que o recitassem regularmente. Da mesma forma, há nove promessas de Nosso Senhor para os que praticarem a Devoção à Sagrada Face. Essas promessas foram reunidas por volta de 1880 pelos propagadores originais da devoção. As duas primeiras são promessas feitas a Santa Gertrude e a Santa Matilde, e as demais foram reveladas por Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro:

 

  1. “Eles receberão em si mesmos, pela impressão de minha Humanidade, uma brilhante irradiação de minha Divindade, e serão iluminados por Ela no fundo da alma, de sorte que, pela semelhança de minha Face, brilharão mais que muitos outros na vida eterna.” [Santa Gertrude, Insinuationes divinae pietatis, Livro IV, Cap. VII]
  2. Santa Matilde perguntou a Nosso Senhor se aqueles que celebrassem a memória de sua Sagrada Face ficariam alguma vez privados de sua amável companhia. Nosso Senhor respondeu: “Nem um só deles será separado de mim.” [Santa Matilde, Liber Specialis Gratiae, Livro I, Cap. XIII]
  3. “Nosso Senhor,” disse a Irmã Maria de São Pedro, “prometeu-me imprimir nas almas daqueles que honrarem sua Santíssima Face os traços de sua divina semelhança.” [21 de janeiro de 1847] ― “Essa Face adorável é como o selo da Divindade, que tem a virtude de reimprimir, nas almas que a Ela se aplicam, a Imagem de Deus.” [9 de novembro de 1846]
  4. “Por minha Sagrada Face, fareis prodígios.” [27 de outubro de 1845]
  5. “Obtereis, por minha Sagrada Face, a salvação de muitos pecadores. Por essa oferta, nada vos será recusado. Se soubésseis como a vista de minha Face é agradável a meu Pai!” [22 de novembro de 1846]
  6. “Da mesma forma que num reino compra-se tudo o que se pode desejar com uma moeda marcada com a efígie do príncipe, assim, com a moeda preciosa de minha santa humanidade, que é minha Face adorável, obtereis no reino dos Céus tudo o que desejardes.” [29 de outubro de 1845]
  7. “Todos os que se aplicarem a honrar minha Sagrada Face em espírito de reparação, farão nisso o ofício da piedosa Verônica.” [27 de outubro de 1845]
  8. “Conforme o cuidado que tiveres em reparar minha Face desfigurada pelos blasfemadores, da mesma forma cuidarei da vossa que está desfigurada pelo pecado: reimprimirei nela minha imagem e a tornarei tão bela quanto ao sair das fontes do batismo.” [3 de novembro de 1845]
  9. “Nosso Senhor prometeu,” disse ainda a Irmã Maria de São Pedro, “a todos os que defenderem sua causa nessa obra de reparação, por palavras, por orações ou por escrito, que defenderá a causa deles diante de seu Pai; quando de sua morte, limpará a face de suas almas, apagar-lhes-á as manchas do pecado, e lhes restaurará sua beleza primitiva.” [12 de março de 1846] 1

 

Examinaremos a seguir como essas revelações aplicam-se especialmente ao presente período da história da Igreja, particularmente levando em conta o alerta de Nosso Senhor: “A Igreja está ameaçada por uma horrível tempestade. Rezai! Rezai!” 2

  1. 1. As nove promessas foram publicadas pela primeira vez no livro do Padre P. Janvier, M. Dupont et L’oratoire de la Sainte-Face, Tours, 3ª edição, 1880, p. 70.
  2. 2. VSSP, p. 384.

Capítulo 5 -- O véu de Verônica

Parece oportuno explicar agora como a imagem da Sagrada Face no Véu de Verônica se tornou a imagem de adoração associada à Devoção à Sagrada Face dada à Irmã Maria de São Pedro.

Em 1849, um ano após a morte da irmã, o Bem-aventurado Papa Pio IX mandou que se fizessem orações públicas pela proteção dos Estados Papais. Junto com isso, ordenou que se fizesse uma exposição pública de três dias da santa relíquia do Véu de Verônica. No terceiro dia da exposição, ocorreu um milagre público. Os que estavam presentes notaram uma mudança marcante no véu. Um comentário diz: “Através de outro véu de seda que cobre a relíquia verdadeira do Véu de Verônica, a Divina Face apareceu distintamente, como se vivesse, e foi iluminada por uma luz suave; as feições assumiram um matiz de morte e os olhos fundos, cavados, apresentaram uma expressão de grande dor.” Os padres mandaram que os sinos repicassem para atrair o povo ao prodígio. Um notário apostólico foi chamado para compor um documento que testificasse a verdade do milagre. Na mesma noite, iniciou-se a produção de cópias da imagem do milagre que, depois de tocadas no véu original, eram distribuídas. Duas dessas imagens foram enviadas a Tours: uma para o convento da Irmã Maria de São Pedro e outra para Léon Dupont, o “Santo Homem de Tours”, que estava intimamente relacionado ao Carmelo de Tours e à Obra de Reparação. O Sr. Dupont pendurou a imagem em sua sala de estar, que se tornou depois um oratório. Ali ele divulgou a devoção à Sagrada Face e a reparação pelas blasfêmias e profanações dos domingos, utilizando orações aprovadas pela Igreja, mas que não mencionavam as revelações à Irmã Maria de São Pedro, que ainda não tinham recebido aprovação eclesiástica. Mesmo assim, por meio dessa devoção e da imagem da Sagrada Face, Léon Dupont operou tantos milagres, especialmente curas milagrosas, que o Bem-aventurado Pio IX chamou-o de talvez o maior taumaturgo da história da Igreja. 1 Isso demonstra o poder da Devoção à Sagrada Face.

 

Aprovação Eclesiástica

Após a morte da Irmã Maria de São Pedro, todos os seus escritos foram enviados ao arcebispo para serem estudados. Diz-se que, por razões políticas, o Arcebispo de Tours, Dom Morlot, decidiu não conceder sua aprovação às revelações. A França, na época, estava convulsionada pela revolução. O Padre Janvier, comentando a decisão do arcebispo, observa respeitosamente que Dom Morlot tinha uma personalidade propensa a errar para o lado da precaução. Dom Morlot, entretanto, havia se encontrado anteriormente com a religiosa e ficara impressionado. Dizia que seus escritos estavam livres de erro teológico, não negava que ela havia recebido uma missão divina e a qualificava como uma religiosa muito fervorosa. Pessoalmente, o arcebispo professava uma alta estima pela virtude e santidade da irmã e expressava sua crença pessoal de que aquelas revelações davam a aparência de vir de Deus. Ainda assim, proibiu que seus escritos se tornassem conhecidos, embora tenha tratado do assunto de maneira a permitir que outro bispo – um de seus sucessores – reabrisse o caso e talvez lhe concedesse uma decisão favorável.

Três décadas e dois arcebispos depois, em 1875, Dom Charles Colet tornou-se arcebispo de Tours. No primeiro ano de seu episcopado, rompeu os selos sobre os escritos da Irmã Maria de São Pedro para realizar um vasto exame. Chegou mesmo a enviar os escritos para serem examinados pelo eminente beneditino Dom Guéranger, da Abadia de Solesmes, que os retornou com as mais elevadas recomendações. Assim, Dom Colet, que estava não apenas bem disposto, mas parecia ansioso para ver a Obra de Reparação inaugurada, deu permissão e impulsionou a publicação das revelações e da vida da Irmã Maria de São Pedro. Léon Dupont, que morreu em 1876, testemunhou esse feito no final da vida, para sua grande alegria.

Dez anos depois, em 1º de outubro de 1885, o Papa Leão XIII promulgou um documento formal intitulado O Breve de Sua Santidade o Papa Leão XIII Estabelecendo a Arquiconfraria da Sagrada Face. A Arquiconfraria era assim estabelecida não apenas para a França, mas para o mundo inteiro, existindo até hoje. Imediatamente após Leão XIII conceder sua aprovação, a Confraria da Sagrada Face foi estabelecida em Tours.

E aqui uma nota interessante. Em 1885, um pai francês e suas quatro filhas estiveram entre os primeiros a filiar-se à confraria. Seu nome era Louis Martin e uma de suas filhas chamava-se Marie Thérèse Martin, que veio a ser Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Assim, vê-se que, mesmo antes de Santa Teresinha entrar no convento carmelita, já era filiada à Confraria da Sagrada Face. Isso provavelmente explica por que escolheu a Sagrada Face de Jesus como parte de seu nome e também por que compôs orações em reparação à Sagrada Face. Diz-se que os nomes da família Martin ainda podem ser vistos no livro de registro da confraria.

 

O Beato Dom Columba Marmion, Abade

Neste ponto, é oportuno reforçar os fundamentos doutrinais de uma devoção como essa, e não há melhor professor do que o eminente mestre da vida espiritual, o Beato Dom Columba Marmion (1858-1923).

Dom Marmion explica que há muitas bênçãos que recebemos como membros do Corpo Místico de Cristo. Por exemplo, quando somos batizados, tornamo-nos filhos adotivos de Deus, herdeiros do Céu, templos do Espírito Santo, e passamos a fazer parte de uma só família com a Igreja Militante na Terra, a Igreja Padecente no Purgatório e a Igreja Triunfante no Céu. Mas o Abade vai além. Quando somos membros do Corpo Místico de Cristo, explica ele, somos realmente parte de seu Corpo, e há certas posses d’Ele que se tornam nossas. Os frutos da Redenção, da Paixão e Morte de Nosso Senhor, tornam-se nossos. A vida da Graça Santificante que Nosso Senhor viveu se torna nossa. Os sete Sacramentos que Nosso Senhor estabeleceu se tornam nossos. Assim também, por sermos membros do Corpo Místico de Cristo, os Santos Mistérios que Nosso Senhor viveu enquanto estava na Terra se tornam nossos.

Dom Marmion assinala que esses Mistérios são fonte de graça inexaurível para nós quando os honramos e meditamos. Mais ainda, cada Mistério de Nosso Senhor traz consigo graças especiais próprias, das quais podemos nos beneficiar. Por exemplo, ao meditar sobre a Divina Infância de Nosso Senhor, recebemos graças especiais que não recebemos ao meditar sobre as atividades de Nosso Senhor na carpintaria com São José, e vice-versa. Ao meditar sobre a Paixão de Nosso Senhor, recebemos graças especiais que não recebemos ao meditar sobre o Sermão da Montanha. Cada um dos Mistérios de Nosso Senhor traz consigo forças e graças especiais. O Abade escreveu um livro inteiro sobre isso chamado Jesus Cristo nos Seus Mistérios, 2 uma série de meditações em que enfatiza que ao longo de todo o Ano Litúrgico ― de um tempo a outro ― de domingo a domingo ― há diferentes Mistérios de Nosso Senhor apresentados a nós para que os meditemos e deles nos beneficiemos. Cada um desses Mistérios traz consigo uma força e uma graça especiais. Nessa perspectiva, podemos fazer as seguintes considerações sobre a devoção à Sagrada Face:

  1. É uma devoção que Nosso Senhor pediu especificamente que praticássemos.
  2. Sabemos que haverá graças e forças especiais que receberemos ao praticar essa devoção que, talvez, poderíamos não receber praticando outras.
  1. 1. Extraído da contracapa de The Holy Man of Tours, Tan Books, 1990.
  2. 2. Dom Columba Marmion, Jesus Cristo nos Seus Mistérios [Ora Labora, 1958].

Capítulo 4 -- A Sagrada Face

Nosso Senhor explicou à Irmã Maria de São Pedro a enormidade do pecado de blasfêmia. Escreve ela:

“Pareceu-me que Nosso Senhor me dizia: ‘Não podeis compreender a malícia e a abominação desse pecado; se minha justiça não fosse retida por minha misericórdia, esmagaria o culpado, e as criaturas, mesmo as inanimadas, se vingariam; mas tenho a eternidade para puni-lo!’ Então, fez-me compreender a excelência da Obra de Reparação; como ela superava as outras devoções e era agradável a Deus, aos anjos, aos santos, e útil à Igreja. ‘Oh! Se soubesses o grau de glória que adquiris ao dizer somente uma vez: Mirabile Nomen Dei [Admirável é o Nome de Deus] com espírito de reparação pelas blasfêmias!’” 1

Chegamos agora ao relato do pedido de Nosso Senhor para o estabelecimento da Devoção à sua Sagrada Face.

 

Busco Verônicas”

Em 27 de outubro de 1845, o Mistério Reparador da Sagrada Face foi de repente revelado à Irmã Maria de São Pedro, que “sentiu-se transportada em espírito para o caminho do Calvário.” 2 Diz ela:

“Lá Nosso Senhor me representou vivamente o piedoso ato de Verônica, que, com seu véu, enxugou sua Sagrada Face coberta de escarros, poeira, suor e sangue. O divino Salvador fez-me entender que os ímpios renovam atualmente, por suas blasfêmias, os ultrajes feitos à sua Sagrada Face; todas essas blasfêmias que lançam contra a Divindade, sem poder atingi-la, recaem como os escarros dos judeus sobre a Face de Nosso Senhor, que é feito vítima dos pecadores. Então me disse que eu deveria imitar o zelo da piedosa Verônica ― ela que cruzara tão corajosamente a multidão de seus inimigos ― e que a havia dado a mim como protetora e modelo. Aplicando-se à reparação das blasfêmias, presta-se o mesmo serviço prestado por essa heróica mulher; e Ele olha para aqueles que agem assim com a mesma complacência com que a olhou durante sua Paixão.” 3

Nosso Senhor explicou que seu pedido não se limitava à religiosa. Ele desejava que tantas almas quanto possível participassem dessa Obra de Reparação:

“Busco Verônicas para limparem e honrarem minha Divina Face, que tem poucos adoradores.”

Explica a Irmã Maria: “E Ele me fez entender, de novo, que todos os que se aplicassem a esta obra de reparação fariam nisso o ofício da piedosa Verônica.” 4 Nosso Senhor também garantiu: “Por minha Sagrada Face, fareis prodígios. 5 “O divino Mestre mostrou-me”, continua a santa carmelita, “o desejo que tinha de ver sua Sagrada Face oferecida à adoração de seus filhos como objeto de devoção próprio aos associados da Obra Reparadora das blasfêmias.” 6 A Irmã então explica o significado da Sagrada Face, sua relação com o Sagrado Coração de Jesus e como a devoção à Sagrada Face é um poderoso meio de reparação:

“Compreendi que, como o Sagrado Coração de Jesus é o objeto sensível oferecido à nossa adoração para representar seu imenso amor no Santíssimo Sacramento do altar, da mesma forma, na obra de reparação, a Face de Nosso Senhor é o objeto sensível oferecido à adoração dos associados para reparar os ultrajes dos blasfemadores que atacam a Divindade de que ela é a figura, o espelho e a expressão. Pela virtude dessa Face adorável, apresentada ao Pai eterno, pode-se aplacar sua cólera e obter a conversão dos ímpios e dos blasfemadores.” 7

Comenta o Padre Janvier:

“Não se poderia exprimir de melhor maneira a correlação que existe entre a devoção do Sagrado Coração e a da Sagrada Face. A Sagrada Face representa a Divindade ultrajada pelos opróbrios dos blasfemadores, como o Sagrado Coração representa o imenso amor de Jesus na Eucaristia.” 8

Continua a irmã:

“Nosso Senhor fez-me ver que a Igreja, sua Esposa, é seu corpo místico, e que a religião [isto é, a religião católica] era a Face desse corpo; então Ele me mostrou essa Face diante dos inimigos de seu Nome, e vi que os blasfemadores e os sectários renovavam contra a Sagrada Face de Nosso Senhor todos os opróbrios de sua Paixão...; que todos os golpes desferidos pelos sectários contra a santa Igreja, contra a religião, eram a renovação das muitas afrontas que a Face de Nosso Senhor recebeu...” 9

Com isso, entendemos que aqueles que atacam a religião católica, por qualquer meio, estão realmente ultrajando e esbofeteando a Sagrada Face de Nosso Senhor.

 

Os Comunistas

Como mencionado anteriormente, os crimes atuais que mais ultrajam Nosso Senhor e a guerra contra a sua Igreja procedem das sociedades secretas. Nosso Senhor chegou a ser ainda mais específico em relação a um grupo dentre elas, identificando nominalmente, em março de 1847, os comunistas como seus inimigos. Escreve a irmã: “Ele me mandou fazer guerra aos comunistas, que me disse serem os inimigos da Igreja e de seu Cristo.” 10

Nosso Senhor deu-lhe então um meio espiritual especial para combatê-los: “Eu vos dou, para combatê-los, as armas de minha Paixão: minha cruz, da qual são inimigos, e os outros instrumentos de meu suplício... As armas de meus inimigos trazem a morte; mas as minhas trazem a vida.” 11

Sob orientação e inspiração de Nosso Senhor, a religiosa começou a recitar uma oração especial pela derrota dos comunistas e, por extensão, pela derrota de todos os “homens rebeldes”:

“Pai eterno, eu vos ofereço, contra o campo dos vossos inimigos, a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e todos os instrumentos de sua santa Paixão, a fim de que ponhais entre eles a divisão; porque, como disse vosso Filho bem-amado, todo o reino dividido contra si mesmo será destruído.” 12

Vemos aqui mais uma ligação entre as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria  de São Pedro e de Nossa Senhora em La Salette. Naquela aparição da Virgem, em 1846, “a imagem do crucifixo estava sobre o seu coração; os instrumentos da Paixão, o martelo e a pinça, um de cada lado, ornavam seu peito.” 13 Talvez o porquê de Nossa Senhora estar vestida com esses instrumentos possa ser encontrado aqui nas instruções de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro. Ele lhe disse para oferecer ao Pai esses mesmos instrumentos, os instrumentos da Paixão, “contra o campo dos vossos inimigos” ― a saber, os comunistas e os homens rebeldes ― “a fim de que ponhais entre eles a divisão”.

O Padre Janvier relata que Nosso Senhor alertou ainda a Irmã Maria de São Pedro a respeito dos desígnios malignos das sociedades secretas e de seus princípios anticristãos: “Bem, minha filha, é essa sociedade de comunistas que me arrancou de meus tabernáculos e que profanou meus santuários; puseram a mão sobre o ungido do Senhor.” 14

Depois, Nosso Senhor previu que os comunistas e as sociedades secretas iriam causar grande estrago, mas, no fim, não alcançariam vitória total: “Eles não terão sucesso em seus desígnios.” 15

Vale notar que Nosso Senhor comunicou isso à Irmã Maria em 1847, 70 anos antes da Revolução Comunista na Rússia. Examinaremos adiante como esses alertas de Nosso Senhor servem como um fundamento para a Mensagem de Nossa Senhora em Fátima. Por ora, entretanto, falaremos da santa morte da carmelita, do véu de Verônica e de como suas revelações finalmente receberam a aprovação da Igreja.

 

Sua Morte

Durante a semana de 2 de dezembro de 1847, o apelo de Nosso Senhor tornou-se ainda mais urgente. Disse Ele: “Os judeus me crucificaram na sexta-feira, mas os cristãos me crucificam no domingo. Peça, de minha parte, para a diocese de Tours, o estabelecimento da Obra de Reparação.” 16

O pedido da Irmã foi encaminhado prontamente ao arcebispo, que enviou um secretário para entrevistá-la; mas a entrevista não correu bem. A Irmã transmitiu sua mensagem diretamente e com respeito. Entretanto, o secretário encerrou a entrevista dizendo que ela havia cumprido o seu dever ao fazer com que as mensagens chegassem ao arcebispo, mas ― eliminando suas esperanças com as palavras finais ― acrescentou que não deveria mais pedir o estabelecimento de uma obra de reparação17. Ela saiu daquela reunião sentindo-se tanto feliz quanto abatida. Estava feliz por ter transmitido a mensagem de Nosso Senhor; abatida porque tudo indicava que o arcebispo não lhe daria ouvidos. Ainda assim, Nosso Senhor a consolou, fazendo-lhe saber que, de fato, a Obra de Reparação floresceria no futuro. E aqui chegamos a uma das últimas mensagens públicas de Nosso Senhor para a Irmã Maria de São Pedro. Em março de 1848, ela escreveu: “Ele me fez compreender que desejava ver propagar-se o máximo possível a devoção a essa Face adorável.” 18

Então, no final do mesmo mês, disse Nosso Senhor a essa carmelita de 32 anos de idade, que parecia estar em perfeita saúde: “Tua peregrinação avança!... o fim do combate se aproxima!... logo verás minha Face no Céu!” 19

Não muito depois, a Irmã Maria foi assaltada por numerosos problemas de saúde. Desenvolveu uma severa tuberculose pulmonar e uma infecção na garganta, que os comentadores interpretam como um meio final de reparação pelos blasfemadores. O médico foi chamado, encontrando-a mortalmente doente. Em sua agonia final, da qual fez uso para intensificar sua devoção à Sagrada Face de Jesus e à sua Santa Infância, disse: “...sou totalmente consagrada à Reparação; sou vítima...” 20 Após muito sofrimento, acompanhado pelo abandono à Vontade de Deus, o que edificou toda a sua comunidade, a Irmã Maria de São Pedro morreu santamente em 8 de julho de 1848. 21

  1. 1. VSSP, p. 185.
  2. 2. VSSP, p. 222.
  3. 3. VSSP, pp. 222-223.

    Essa foi a primeira vez que Nosso Senhor falou com a Irmã Maria sobre sua Sagrada Face. Em relação a Santa Verônica, a Irmã Maria disse: “Vi que Nosso Senhor tinha muito amor por ela. Isso porque me disse que desejava vê-la honrada particularmente em nosso mosteiro, convidando-me a lhe pedir, em nome dos serviços que Verônica lhe prestara, as graças que desejássemos e prometendo que no-las concederia.” VSSP, p. 223.

  4. 4. VSSP, p. 230.
  5. 5. Abbé P. Janvier, M. Dupont et L’oratoire de la Sainte-Face, Tours, 3ª edição, 1880, p. 70.
  6. 6. VSSP, p. 231.
  7. 7. VSSP, p. 228.
  8. 8. Ibid.
  9. 9. VSSP, pp. 228-229.
  10. 10. VSSP, p. 298.
  11. 11. VSSP, p. 299.
  12. 12. Ibid.
  13. 13. VSSP, p. 260.
  14. 14. VSSP, p. 300.
  15. 15. Ibid.
  16. 16. VSSP, p. 382.
  17. 17. Um relato detalhado da entrevista encontra-se em VSSP, pp. 392-395.
  18. 18. VSSP, p. 396.
  19. 19. VSSP, p. 399.
  20. 20. VSSP, p. 439.
  21. 21. Sua madre superiora escreveu um longo relato dos últimos dias da Irmã Maria, o que compõe um capítulo inteiro em VSSP [Capítulo XXIII, “Sua Doença – Sua Morte”].

Capítulo 3 -- A profanação dos domingos e la Salette

Juntamente com a necessidade de se fazer reparação pelas blasfêmias, Nosso Senhor falou com a Irmã Maria de São Pedro sobre a necessidade de aplacar a Justiça Divina provocada pela dessacralização do domingo. O núcleo da mensagem pode ser resumido nas palavras da própria Irmã Maria:

“...[Nosso Senhor] ordenou que eu recebesse a santa comunhão todos os domingos:

1º em espírito de emenda honorável e de reparação por todos os trabalhos que se fazem nesse santo dia;

2º com o propósito de aplacar a justiça divina, pronta para punir, e de pedir a conversão dos pecadores;

3º enfim, para obter que se impeça o trabalho aos domingos."1

A irmã relata então o pedido de Nosso Senhor pelo estabelecimento de uma arquiconfraria especial para reparação das blasfêmias e da profanação causada pelo trabalho aos domingos. O próprio Jesus chama-a de “a mais bela obra sob o sol”. 2 Ele insiste, entretanto, ser necessário obter um Breve Pontifício para estabelecer a Arquiconfraria de Reparação, pois, de outra forma, a obra não teria fundamento nem futuro.

 

O Segundo e o Terceiro Mandamentos

À luz dos pedidos de Nosso Senhor, cabe uma pequena revisão do que se deve e não se deve fazer considerando o Segundo e o Terceiro Mandamentos. Trata-se de um breve resumo daquilo que encontramos em catecismos anteriores ao Vaticano II.

O Segundo Mandamento é Não Tomar Seu Santo Nome em Vão. Ordena que se tenha reverência ao se falar de Deus e das coisas santas e que se cumpram as promessas e votos feitos. Proíbe a blasfêmia, o uso irreverente do nome de Deus, que se fale sem respeito das coisas santas, as falsas promessas e a quebra de votos.

O Terceiro Mandamento é Guardar Domingos e Festas. Ordena que se vá à Missa aos domingos e em dias santos de guarda. Proíbe que se falte à Missa por culpa própria; trabalho servil desnecessário; compras e vendas públicas; julgamentos na corte.

Considerando apenas esses pontos, vemos uma das muitas razões pelas quais as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro são mais urgentes hoje do que quando dadas na década de 1840. À medida que entramos no 50º aniversário da revolução do Vaticano II 3, testemunhamos uma completa desconsideração pela santificação do domingo, em que a maioria dos católicos não se comporta de maneira diferente daquela de seus vizinhos ateus. Aos domingos, os shoppings centers enchem-se de clientes e os supermercados abarrotam-se de compradores. Como deve entristecer Nosso Senhor que o Dia do Senhor seja atualmente apenas mais um dia de comércio! A gravidade da ofensa a Deus pelo desrespeito ao Terceiro Mandamento é resumida nas próprias palavras de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro. Em 1847, Ele lamentava: “Os judeus me crucificaram na sexta-feira, mas os cristãos me crucificam no domingo.4

Os pedidos do Céu por reparação pelos pecados contra esses Mandamentos não foram feitos apenas à Irmã Maria. As mensagens dadas a essa santa carmelita estão ligadas a outro dramático evento que ocorreu simultaneamente numa pequena e sonolenta vila nas montanhas do sudeste da França.

 

La Salette

A Irmã Maria de São Pedro estava cada vez mais pesarosa porque o arcebispo de Tours não parecia disposto a emitir uma opinião sobre as revelações que ela vinha recebendo de Nosso Senhor, ainda mais por saber da importância da Obra de Reparação e do terrível castigo que se seguiria se os pedidos de Nosso Senhor não fossem atendidos. Nas profundezas de seu pesar, voltou-se para Nossa Senhora. Escreve ela:

“Sua Excelência não queria se decidir em favor da obra; sua prudência o impedia de tomar a iniciativa. Eu vi bem que só haveria esperança e consolação para mim na oração, pela intercessão de Maria, nossa poderosa advogada...” 5

E continua:

“...e eu recitava todos os dias o Rosário a fim de obter a salvação da França e o estabelecimento da Reparação em todas as cidades do reino; todas as minhas orações e comunhões, todos os meus desejos, todos os meus pensamentos se dirigiam a essa obra tão cara ao meu coração. Teria desejado, se possível fosse, proclamá-la por toda a França e fazer conhecer à minha pátria os infortúnios que a ameaçavam. Ah! Como sofro por ser a única depositária de algo tão importante, e estar obrigada a guardá-lo no silêncio do claustro!” 6

Lançou então um sincero apelo a Nossa Senhora:

“Virgem Santa, aparecei a alguém no mundo e deixai-lhe saber o que me é comunicado a respeito da França.” 7

Não sabemos a data exata em que a Irmã Maria fez essa oração, mas o Padre Janvier nos conta que foi bem antes de setembro de 1846. O padre também nos diz que, de 23 de março a 4 de outubro de 1846, a Irmã Maria não recebeu qualquer mensagem de Nosso Senhor. Houve silêncio. E foi durante aquele período que, em 19 de setembro de 1846, a Santíssima Virgem apareceu aos pequenos pastores Maximin e Mélanie em La Salette.

A mensagem de Nossa Senhora de La Salette foi uma reafirmação das palavras de Nosso Senhor para a Irmã Maria de São Pedro. Sobre o que alertou Nossa Senhora? Sobre “a impiedade que se exerce livremente pelo desprezo dos mandamentos de Deus, notadamente pela profanação do domingo e pela blasfêmia” 8. Isto é, pelos pecados contra o Segundo e o Terceiro Mandamentos. Advertiu ainda: “Se o meu povo não quiser se submeter, serei forçada a deixar cair o braço de meu Filho; está tão pesado que já não o posso mais reter.” 9

Na aparição de Nossa Senhora em La Salette, “a imagem do crucifixo estava sobre o seu coração; os instrumentos da Paixão, o martelo e a pinça, um de cada lado, ornavam seu peito.” 10

Léon Dupont, o fidedigno “Santo Homem de Tours”, foi um dos poucos a quem a madre superiora confiou o conteúdo básico das mensagens de Nosso Senhor à Irmã Maria. Assim, quando o Sr. Dupont soube que Nossa Senhora, em 1846, estava pedindo uma reparação praticamente idêntica à que Nosso Senhor pediu à Irmã Maria de São Pedro, creu em La Salette instantaneamente. Uma revelação, por assim dizer, reforçava e confirmava a outra. Da mesma forma, a irmã acreditou imediatamente em La Salette, vendo-a como uma resposta à oração que havia feito com tanto amor e angústia: “Virgem Santa, aparecei a alguém no mundo e deixai-lhe saber o que me é comunicado a respeito da França.”

Há assim uma profunda conexão entre a mensagem de La Salette e as revelações à carmelita de Tours. Veremos adiante que Nosso Senhor faz à Irmã Maria de São Pedro referência especial aos “instrumentos de minha Paixão”; os mesmos instrumentos que Maximin e Mélanie viram cercando o Coração de Nossa Senhora de La Salette. Antes, porém, de falarmos sobre essa conexão, temos de nos concentrar sobre o que foi o núcleo das mensagens de Nosso Senhor à carmelita: o pedido por Reparação e Devoção à Sagrada Face de Jesus. Veremos que Nosso Senhor está buscando “Verônicas para limparem e honrarem minha divina Face, que tem poucos adoradores” 11, e conheceremos em maior detalhe uma das mais poderosas devoções que o Céu já deu à humanidade. O próprio Jesus disse à Irmã Maria de São Pedro: “Por minha Sagrada Face, fareis prodígios.” 12

  1. 1. VSSP, p. 265.
  2. 2. VSSP, p. 290.
  3. 3. O texto de J. Vennari foi publicado originalmente em 2014. [N. do T.]
  4. 4. VSSP, p. 382.
  5. 5. VSSP, pp. 258-259.
  6. 6. VSSP, p. 259.
  7. 7. Ibid.
  8. 8. VSSP, pp. 259-260. Pe. Janvier refere-se ao texto do segredo de La Salette escrito por Mélanie em 1851 para ser entregue ao Bem-aventurado Pio IX. [N. do T.]
  9. 9. Conforme citado em VSSP, p. 260.
  10. 10. VSSP, p. 260.
  11. 11. VSSP, p. 215.
  12. 12. Abbé P. Janvier, M. Dupont et L’oratoire de la Sainte-Face, Tours, 3ª edição, 1880, p. 70.

Capítulo 2 -- A Seta de Ouro

Por meio de sua forte vida de oração, seu grande senso de recolhimento e as luzes especiais que recebeu do Céu, a Irmã Maria de São Pedro estava sendo preparada para uma obra especial. Aqui chegamos às dramáticas revelações sobre a Obra de Reparação. Em 25 de agosto de 1843, Festa do Rei São Luís IX, um dos patronos da França, a Irmã Maria recebeu uma mensagem especial de Nosso Senhor:

“Então Ele me abriu seu Coração e, recolhendo lá as potências de minha alma, dirigiu-me estas palavras: ‘Meu Nome é blasfemado em todo lugar; até as crianças blasfemam!’ E me fez entender o quanto esse medonho pecado fere dolorosamente, e mais que todos os outros, seu divino Coração; pela blasfêmia, o pecador amaldiçoa-O na face, ataca-O abertamente, aniquila a Redenção e pronuncia ele mesmo sua condenação e seu julgamento. A blasfêmia é uma seta envenenada que fere continuamente seu Coração: Ele disse que queria me dar uma seta de ouro para feri-lo deliciosamente e cicatrizar as feridas de malícia que os pecadores lhe infligem.” 1

A oração ditada por Nosso Senhor tornou-se familiar para muitos de nós, a Seta de Ouro:

“Que seja sempre louvado, bendito, amado, adorado, glorificado o santíssimo, sacratíssimo, sumamente adorável, incompreensível, inefável Nome de Deus no Céu, na Terra e nos infernos, por todas as criaturas saídas das mãos de Deus e pelo Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do Altar. Assim seja.” 2

Essa é a oração dada diretamente por Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro como reparação especial pelas blasfêmias. Padre Janvier, como será visto depois, explica que o pecado da blasfêmia manifesta-se, na verdade, de várias formas.

Comentando essa bela oração, diz a Irmã Maria:

“Nosso Senhor, tendo me dado essa seta de ouro, acrescentou: ‘Presta atenção a este favor, porque te pedirei contas.’ Naquele momento, parecia-me ver sair do Sagrado Coração de Jesus, ferido por esta seta de ouro, torrentes de graças para a conversão dos pecadores...” 3

 

Que seja conhecida

Aqui chegamos ao ponto difícil para a Irmã Maria de São Pedro. Naturalmente, ela não tinha qualquer problema para rezar a oração. A dificuldade, entretanto, era que Nosso Senhor havia ordenado que ela tornasse a oração conhecida e a divulgasse. Em outras palavras, que a oração fosse impressa e distribuída amplamente para que as pessoas pudessem rezá-la. Para uma freira de clausura, essa é uma tarefa intimidadora. Como atender aos pedidos do Senhor sem violar sua vida carmelita? Seu voto de obediência a impede de embarcar no projeto por conta própria. Seu voto de pobreza faz com que lhe seja impossível pagar pela impressão, ou mesmo pedir que outros financiem o projeto sem primeiro receber permissão de sua Superiora. E ainda há o complicado inconveniente de se ter uma carmelita imprimindo santinhos com orações que “recebeu do Céu”. Ela sabia que nem ela nem católico algum podiam publicar uma só palavra até que a autoridade da Igreja tivesse investigado tudo e dado aprovação.

Ainda assim, Nosso Senhor tinha-lhe manifestado seus desejos. Havia apenas uma maneira de realizá-los e a irmã sabia qual. Ela agora seria obrigada a relatar as palavras de Nosso Senhor para a reverenda madre, o que não era tarefa fácil. Sabe-se que, normalmente, a última coisa que uma madre superiora deseja é ter uma de suas freiras dizendo que ouve vozes do Céu. De certa forma, trata-se do pesadelo de toda superiora, porque ela carregará o fardo de discernir se as ocorrências supostamente sobrenaturais vêm de Deus, de um autoengano ou do diabo.

A primeira resposta da superiora foi proibir a irmã de voltar a pensar no assunto e até de praticar a devoção. Esta é, de fato, uma boa reação carmelita, coerente com os ensinamentos de São João da Cruz. Irmã Maria de São Pedro obedeceu prontamente, ainda que esta obediência tenha lhe causado grande sofrimento.

As religiosas sempre foram encorajadas, ainda que não obrigadas, a revelar suas lutas interiores a suas superioras. Por isso, não muito tempo depois, encontramos a Irmã Maria de São Pedro de joelhos na cela de sua superiora, explicando o tormento de sua alma. Encontrava-se dilacerada pelo desejo de se conformar aos pedidos de Nosso Senhor e pelas ordens contrárias de sua superiora, a quem devia e prestava obediência religiosa. Enquanto isso acontecia, um pequeno folheto caiu de um livro que a madre superiora tinha nas mãos e que estava lendo quando a irmã entrou na cela. A madre, que nunca antes havia reparado no folheto, pegou-o do chão e ficou estonteada ao ler o título:

Advertência ao Povo Francês

Com o subtítulo:

Reparação inspirada para aplacar a ira de Deus

Espantada, a Reverenda madre voltou-se para a Irmã Maria e disse sorridente: “Minha irmã, se eu não te conhecesse, tomar-te-ia por feiticeira.” 4 Isso porque ali estava um folheto defendendo o mesmo tipo de Reparação sobre a qual a Irmã Maria de São Pedro vinha insistindo com tanta intensidade.

O folheto tem ele mesmo uma história interessante, tendo sido publicado em 1819 na França por um sacerdote chamado Padre Soyer, posteriormente bispo de Luçon. Dom Soyer ainda era vivo, de forma que a Reverenda madre escreveu-lhe pedindo mais informações sobre o folheto. O prelado respondeu que havia publicado essa advertência a pedido de uma freira carmelita em Poitiers, chamada Irmã Adelaide, uma alma eleita a quem Nosso Senhor havia se manifestado pedindo orações de reparação pelas blasfêmias. 5

Ora, acontece que a Madre Adelaide havia falecido em 31 de julho do mesmo ano de 1843, apenas 26 dias antes de a Irmã Maria receber a primeira revelação de Nosso Senhor sobre a Seta de Ouro, quando Nosso Senhor fez o mesmo pedido: orações especiais de reparação pelo pecado de blasfêmia. Parece, então, que temos aqui a passagem de bastão de uma carmelita para outra a respeito dos reiterados pedidos de Nosso Senhor por uma Obra de Reparação pelos pecados de blasfêmia.

Por causa disso e de uma série de outras razões 6, a madre superiora passou a considerar a possibilidade de que as alegadas mensagens recebidas pela irmã pudessem ser genuínas.

A superiora consultou alguns padres entendidos no assunto para obter orientação e a irmã foi encorajada a comunicar suas revelações a seus dois confessores. Isso foi interessante, uma vez que nenhum dos confessores se mostrava bem disposto em relação a freirinhas que alegavam receber mensagens do Céu e, como acabou acontecendo, ambos passaram a crer firmemente na autenticidade das revelações da Irmã Maria de São Pedro.

O primeiro deles, Padre Pierre Aleron, ficou tão convencido que foi o primeiro na diocese a estabelecer a Obra de Reparação em sua paróquia. Como será visto adiante, foram necessários cerca de 35 anos para que a devoção recebesse aprovação eclesiástica, e o Padre Aleron afligiu-se com essa demora.

O segundo confessor, Padre Jean Salmon, possuía traços curiosos. Era mais velho, muito escrupuloso, praticamente surdo e servia no tribunal diocesano. Quando se lê a descrição que o Padre Janvier faz dele, tem-se a impressão de que o Padre Salmon aterrorizava sem intenção o tribunal por causa de sua escrupulosidade. Tinha a tendência, segundo diz respeitosamente o Padre Janvier, “a ver a influência do demônio em muitas coisas inocentes.” 7 Apesar de seus escrúpulos, o Padre Salmon ficou convencido das operações divinas na alma da Irmã Maria de São Pedro, chegando a defender sua causa quando necessário 8.

 

“A Terra está coberta de crimes”

Chegamos agora à citação que abriu este estudo. Em 24 de novembro de 1843, Nosso Senhor falou as seguintes palavras à Irmã Maria de São Pedro:

“Até o presente, mostrei-te apenas em parte os desígnios de meu Coração, mas hoje quero mostrá-los a ti por completo. A Terra está coberta de crimes! Meu Pai está irado com a violação dos três primeiros Mandamentos de Deus. A blasfêmia para com o Santo Nome de Deus e a profanação do Santo Dia do Senhor completam a medida das iniqüidades. Esses pecados subiram ao Trono de Deus e provocaram sua cólera, que irromperá se sua justiça não for aplacada. Em nenhuma outra época esses crimes alcançaram tal ponto. Desejo, e muito ardentemente, que se forme uma associação devidamente aprovada e organizada para honrar o Nome de meu Pai.” 9

Continua a irmã: “Nosso Senhor fez-me assim entender que queria, por esta obra de reparação, conceder misericórdia aos pecadores.” 10

Nosso Senhor, então, acusou a França de ser culpada especialmente de blasfêmia e a ameaçou com o castigo divino. Apreensiva, ela perguntou: “Meu Senhor, permita-me perguntar: se se fizer esta reparação que desejais, perdoareis de novo a França?” 11 Ao que Nosso Senhor respondeu:

“Eu a perdoarei mais uma vez, mas, note bem, uma vez. Como esse pecado de blasfêmia se estende por toda a França e é público, é necessário que essa reparação seja pública e se estenda a todas as cidades; ai daqueles que não fizerem essa reparação!” 12

Padre Janvier, ao comentar essas palavras, dá uma extensa explicação sobre os diferentes tipos de blasfêmia, incluindo o fato de que a maçonaria é uma blasfêmia. Ele fala também da culpa da França ― a culpa pública ― de promover idéias maçônicas. Essas observações do Padre Janvier são baseadas diretamente nas palavras de Nosso Senhor para a santa carmelita. Como será visto adiante, Nosso Senhor mencionou especificamente os “blasfemadores e sectários” 13 e os inimigos da Igreja, assim como “a malícia dos homens rebeldes”. Escreve o Padre Janvier:

“À blasfêmia grosseira do iletrado junta-se a blasfêmia doutrinal do livre pensador. Da rua e da praça pública ela passou aos salões, às escolas e chegou aos lares; foi entronizada nos teatros e cafés; espalha-se com orgulho e sem disfarce nos discursos, livros e brochuras, e nessa multidão de folhetos ou escritos periódicos com que somos inundados a cada dia.”

“(...) Pelo espírito revolucionário do qual [a França] se tornou na Europa o centro principal e a fornalha mais ativa, pelo ateísmo prático que professa em seu governo e em suas leis, ela exerce, em relação à blasfêmia, um tipo de proselitismo universal tão funesto para os indivíduos quanto para as sociedades.” 14

  1. 1. VSSP, p. 119.
  2. 2. VSSP, pp. 119-120. “A irmã interrompe sua emocionante história para explicar uma palavra contida nesse ato de louvor: ‘Como senti’, diz ela, ‘certo assombro de que Nosso Senhor me tenha dito: nos infernos, Ele teve a bondade de me fazer compreender que sua justiça era glorificada lá. Rogo, por outro lado, que se observe que Ele não me disse no inferno, mas nos infernos: o que pode compreender o purgatório, onde Ele é amado e glorificado pelas almas sofredoras. A palavra inferno não se aplica somente ao lugar onde estão os réprobos; a Fé nos ensina que o Salvador, após sua morte, desceu aos infernos, onde estavam as almas dos justos; e não reza a Santa Igreja ao seu Divino Esposo para arrebatar as almas de seus filhos das portas do inferno: A porta inferi erue, Domine, animas eorum? (Ofício dos Defuntos).’” Padre Janvier, então, comenta: “A essas explicações pode-se ajuntar que São Paulo se serviu da mesma expressão com um sentido análogo numa de suas Epístolas, onde diz ‘que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e no inferno.’” (Fl 2,10) VSSP, p. 120.
  3. 3. VSSP, p. 120.
  4. 4. VSSP, p. 126.
  5. 5. Cf. VSSP, pp. 126-127.
  6. 6. Por volta dessa época, a madre superiora tinha ficado doente. Nosso Senhor tinha dito à Irmã Maria de São Pedro que se a Reverenda madre permitisse que as irmãs rezassem “uma novena de reparação diante do Santo Sacramento pela reparação das blasfêmias contra o santo Nome de Deus”, Ele cobriria a comunidade com graças especiais e restauraria a saúde da superiora. A Reverenda madre concordou. As freiras do convento, mesmo enquanto rezavam a novena, nada sabiam sobre as mensagens do Céu recebidas pela Irmã Maria. Após a novena, a Reverenda madre foi curada. Ver VSSP, pp. 131-133.
  7. 7. VSSP, p. 138.
  8. 8. O relato sobre os dois padres encontra-se em VSSP, pp. 135-139.
  9. 9. VSSP, pp. 149-150.
  10. 10. VSSP, p. 150.
  11. 11. VSSP, p. 152.
  12. 12. Ibid.
  13. 13. VSSP, p. 228.
  14. 14. VSSP, pp. 154-155. [Ênfase adicionada]

Capítulo 1 – A Santa Carmelita

Em 24 de novembro de 1843, Nosso Senhor disse as seguintes palavras à carmelita francesa, Irmã Maria de São Pedro:

“A Terra está coberta de crimes! Meu Pai está irado com a violação dos três primeiros Mandamentos de Deus. A blasfêmia para com o Santo Nome de Deus e a profanação do Santo Dia do Senhor completam a medida das iniqüidades. Esses pecados subiram ao Trono de Deus e provocaram sua cólera, que irromperá se sua justiça não for aplacada. Em nenhuma outra época esses crimes alcançaram tal ponto.”

Este pequeno escrito traz à luz as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro, uma carmelita francesa que viveu de 1816 a 1848. Essas revelações gozam de plena aprovação da Igreja Católica, tendo sido altamente recomendadas pelo renomado beneditino do século XIX, Dom Guéranger, autor da célebre obra L'Année Liturgique (O Ano Litúrgico).

As palavras de Nosso Senhor à Irmã Maria parecem mais urgentes hoje do que quando recebidas há mais de 170 anos. Elas fazem parte de uma “tradição” de avisos do Céu para a humanidade sobre seus ultrajes contra Deus, a grande necessidade de reparação e a ameaça de castigos divinos de um Deus “que já está muito ofendido”. Essas revelações à Irmã Maria de São Pedro constituem também um fundamento para as aparições de 1917 de Nossa Senhora em Fátima.

 

Padre Janvier

Este estudo é baseado em materiais de fonte primária, entre os quais destaca-se Vie de la Sœur Saint-Pierre (A Vida da Irmã Maria de São Pedro). Esse livro, publicado apenas 36 anos após a morte da carmelita, foi escrito pelo Padre Pierre Janvier, um fervoroso promotor das Obras de Reparação. Sua tradução para o inglês, de 1884, traz o Imprimatur de 1881 de Dom Charles-Théodore Colet, Arcebispo de Tours. 1

Desde o início, Padre Janvier relata que sua narração da vida da Irmã Maria é baseada em cinco fontes primárias francesas:

  1. A Vida da Irmã Maria de São Pedro, escrita por ela mesma em obediência à ordem de seus superiores.
  2. Seus escritos privados sobre seu estado interior e o objetivo de sua missão.
  3. Os anais do Carmelo de Tours, onde viveu a Irmã Maria.
  4. Entrevistas pessoais conduzidas pelo Padre Janvier com freiras que conheceram a Irmã Maria, incluindo sua Madre Superiora e confidentes mais próximos.
  5. Um breve estudo sobre a vida da Irmã Maria, de autor anônimo, que se espalhou pela França após sua morte, criando interesse local sobre a carmelita.

Também foi utilizado como fonte o livro do Padre Janvier sobre Léon Dupont, publicado apenas nove anos após a morte do venerável.

Léon Dupont esteve intimamente ligado ao convento da Irmã Maria de São Pedro. Conhecido como o “Santo Homem de Tours”, foi o mais zeloso promotor dos pedidos de Nosso Senhor por reparação e devoção à Sagrada Face. Possuía pendurada na parede de sua sala de estar uma grande imagem da Sagrada Face, diante da qual ardia uma lâmpada com óleo sagrado. Essa sala, convertida em oratório com permissão do bispo, recebia inúmeros visitantes. Por meio da devoção à Sagrada Face, tantos milagres aconteceram na sala de Léon Dupont que o Beato Pio IX chegou a chamá-lo “o maior taumaturgo da história da Igreja”. 2

Aqui, entretanto, nosso foco será a Irmã Maria de São Pedro, que, de 1843 a 1848, recebeu mensagens especiais do Céu em relação à “Obra de Reparação” pelos pecados de blasfêmia e pela profanação dos Domingos, assim como pedidos de reparação à Sagrada Face de Jesus.

 

 “Trocada no Berçário”?

A Irmã Maria de São Pedro nasceu em 4 de outubro de 1816, Festa de São Francisco de Assis, tendo como nome de batismo Perrine Elvery. Ela conta um episódio de quando tinha apenas um mês de idade: 

“Minha babá, tendo saído por um instante, deixou-me no berço. Uma de suas filhas pequenas pegou-me no colo e aproximou-me do fogo, querendo sem dúvida me aquecer; mas escorreguei de seus braços e caí no fogo. Conservei para sempre no rosto uma marca daquele acidente.” 3

Apesar de seus piedosos pais a terem educado na Fé e nos rudimentos do ensino católico, Perrine não era, por assim dizer, uma criança angelical. Sua própria mãe lamentava o fato de a pequena ser tão levada: “Certamente foi trocada no berçário: não é possível que um filho nosso seja tão mau como essa criança.” 4

“Colérica, teimosa e muito imprudente” 5 é como a Irmã Maria de São Pedro descreveu mais tarde seus traços da primeira infância. Apesar de suas faltas, entretanto, a pequena Perrine possuía um bom espírito e aceitava os castigos que suas más ações lhe mereciam; por fim, conquistou autodomínio, aprendeu suas devoções e, ainda em tenra idade, desenvolveu intenso amor pela oração.

Perrine tinha apenas doze anos quando sua mãe morreu. Não passou muito tempo, foi trabalhar como costureira. Alimentando seu “dom de oração”, como o Padre Janvier o descreve, fazia comunhões espirituais freqüentes, mesmo quando ocupada com seus afazeres cotidianos. Sua santidade e senso de recolhimento irradiavam sobre as colegas de trabalho, que logo passaram a procurá-la em busca de aconselhamento espiritual e edificação.

Acreditando ser chamada a uma vocação religiosa, colocou-se nas mãos de um diretor espiritual que foi um verdadeiro dom do Céu. Esse santo confessor declarou que, ao lidar com alguém que poderia ter vocação, tinha “por princípio só enviar ao convento aqueles aspirantes suficientemente provados, esperando que, uma vez que entrassem no claustro, não os veria sair de lá.” 6 O sacerdote guiou-a na preparação para sua vida como religiosa, especialmente ensinando-a como vencer suas paixões.

Numerosos obstáculos retardaram sua entrada na vida religiosa. Por um tempo, parecia que seria conduzida à Ordem Hospitaleira, o que não era sua primeira escolha. Seu grande desejo era entrar para o Carmelo. Ainda assim, Nosso Senhor a confortava durante esse período de aflição. Após receber a Sagrada Comunhão certo dia, no que pode ter sido a primeira comunicação mística, Nosso Senhor lhe falou interiormente:

“Minha filha, amo-te muito para te abandonar mais tempo a tuas perplexidades; não serás irmã hospitaleira; isto é apenas uma provação; já cuidamos de tua recepção; serás carmelita.” E uma voz poderosa repetiu várias vezes: “serás carmelita.” 7

Como boa católica, anotou imediatamente essas palavras para submetê-las ao diretor espiritual. Ao entregar o papel dobrado ao confessor, e antes que este conhecesse seu conteúdo, o padre irrompeu com suas próprias boas notícias. Tinha acabado de receber uma carta que o informava que ela havia sido aceita no mosteiro das carmelitas em Tours.

 

Uma Herança de Fidelidade

O Carmelo de Tours, que havia aberto suas portas para a jovem Perrine, era abençoado com uma rica história. Foi fundado em 1608 pela Irmã Ana de São Bartolomeu, que viria a se tornar a primeira Superiora da casa. Amiga devota de Santa Teresa d’Ávila, Irmã Ana esteve presente em seu leito de morte.

Quando as carmelitas chegaram a Tours em 1608, encontraram a cidade “repleta de hereges” descendentes dos huguenotes. A presença das santas carmelitas, como sempre, ocasionou a conversão de vários desses não-crentes à Fé Católica. O legado desse Carmelo foi de fidelidade e coragem diante de alguns dos piores inimigos da Igreja. Não apenas permaneceu firme à verdade católica durante a heresia jansenista, como sobreviveu à Revolução Francesa, embora com cicatrizes. Durante a Revolução, o governo pressionou as freiras a fazerem o novo “Juramento de Lealdade”. Nenhuma delas se submeteu. Por essa recusa, foram retiradas do convento e lançadas num pátio onde ficaram expostas a intempéries climáticas de toda sorte. Uma freira idosa e cega de 87 anos morreu devido a esses maus tratos. Ainda assim, qualquer que fosse o ambiente que as cercasse, as freiras perseguidas mantiveram vivas a Fé, a Regra e o espírito de sua Ordem. Talvez tenha sido durante esse período que melhor entenderam a descrição da vocação carmelita feita por Santa Teresa d’Ávila: “Minhas filhas, não estais aqui para repousarem e vos alegrarem, mas para trabalharem, sofrerem e salvarem as almas!” 8

Em 1822, tendo a França optado por um ateísmo mais amistoso e gentil, foi permitido que as carmelitas retornassem a seu convento em Tours. Dezessete anos depois, a jovem Perrine, que veio a se tornar a Irmã Maria de São Pedro, chegou à casa, foi admitida à Ordem, perseverou alegremente em seu noviciado e fez sua profissão definitiva de votos em junho de 1841.

  1. 1. J. Vennari utilizou, em seu estudo, uma edição americana do livro do Pe. Janvier. Nesta tradução para o português, as citações desse livro foram traduzidas diretamente da edição francesa. [N. do T.]
  2. 2. Extraído da contracapa de The Holy Man of Tours, Tan Books, 1990.
  3. 3. Abbé P. Janvier, Vie de la Sœur Saint-Pierre, Libraire Larcher, 2ª edição, Paris, 1884 (referido doravante como VSSP), p. 3.
  4. 4. VSSP, p. 4.
  5. 5. Ibid.
  6. 6. VSSP, p. 19.
  7. 7. VSSP, p. 48.
  8. 8. Citado em VSSP, p. 72.
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