Arcebispo francês (29/11/1905-25/03/1991), fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e maior nome do tradicionalismo católico.
Na conferência que leremos agora, Mgr. Marcel Lefebvre nos dá alguns detalhes do árduo combate que ocupou os últimos anos de sua vida para conseguir manter a Tradição, no que toca seu relacionamento com Roma. É claro que muitos anos já se passaram desde que ele deu esta conferência que data de meados da década de 80. Houve o encontro de Assis e diversos atos do Papa João Paul II que empurraram o Vaticano cada vez mais adentro no ecumenismo e no progressismo. A crise se agravou. Mas os princípios católicos que o lúcido bispo apresenta permanecem os mesmos.
Publicada na Revista Fideliter, da Fraternidade São Pio X. Foi conservado o estilo falado.
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A INFILTRAÇÃO DO MODERNISMO NA IGREJA
Breve História
Fico contente em constatar que no mundo inteiro, no mundo católico, em todo lugar, pessoas corajosas se reúnem em torno de padres fiéis à fé católica e à Igreja Católica, para manter a tradição que é a fortaleza de nossa fé.
Se existe um movimento tão geral é porque a situação da Igreja é verdadeiramente grave. Pois, para que padres, fiéis católicos, aceitem ser tratados de rebeldes, de dissidentes, de desobedientes, mesmo se tratando de bons padres, alguns dos quais já serviram em paróquias durante trinta anos com grande satisfação de seus paroquianos, é para manter a fé católica. Eles o fazem conscientemente no espírito dos mártires.
Ser perseguido por seus irmãos ou pelos inimigos da Igreja, qualquer que seja a mão que bata, por vista que seja contra a manutenção da fé, é sofrer um martírio. Esses padres, esses fiéis, são testemunhas da fé católica. Eles preferem ser considerados como rebeldes e dissidentes a perder a fé.
Nós assistimos, no mundo inteiro, a uma situação trágica, inacreditável, que parece não se ter jamais produzido na história da Igreja. É preciso então tentar explicar esse fenômeno extraordinário. Como podem bons fiéis, bons padres, se esforçarem por manter a fé católica num mundo católico que está em plena dissolução? Foi o Papa Paulo VI, ele mesmo, que falou de autodemolição da Igreja. O que significa esse termo de autodemolição senão que a Igreja se destrói, ela mesma, por ela mesma, por seus próprios membros? É isso o que já dizia o Papa São Pio X na sua primeira encíclica, quando escrevia: «Hoje, o inimigo da Igreja não está mais no exterior da Igreja, está no interior». E o Papa não hesitava em designar os lugares aonde ele se encontrava: «O inimigo se encontra nos seminários». Por conseqüência, já no início do século, o Santo Papa Pio X, na sua primeira encíclica, denunciava a presença de inimigos da Igreja nos seminários.
E é evidente que esses seminaristas que estavam imbuídos do modernismo, do Sillonismo e do progressismo se tornaram padres. Alguns deles se tornaram bispos e entre eles cardeais. Poderia-se citar os nomes daqueles que fizeram seu seminário no início do século, que morreram agora, mas cujo espírito era modernista e progressista.
Assim, já o Papa Pio X denunciava essa divisão na Igreja, uma certa ruptura no interior mesmo da Igreja e do Clero.
Eu não sou mais jovem e já tive ocasiões, ao longo de minha vida de seminarista, de minha vida sacerdotal e de minha vida episcopal, de constatar essa divisão, e isso já no seminário francês de Roma, onde eu fazia meus estudos, pela graça do Bom Deus. Confesso que não estava muito entusiasmado pelos estudos feitos em Roma. Eu pessoalmente preferia estar, como os seminaristas de minha diocese, no seminário de Lille e me tornar um pequeno vigário e em seguida um simples cura numa paróquia do campo.
Manter a fé numa paróquia: eu me via um pouco pai espiritual de uma população a qual nos apegamos, para lhe inculcar a fé e os modos cristãos. Era o meu ideal. Mas, aconteceu que meu irmão estava já, depois da Guerra de 1914-1918, em Roma, porque ele tinha se separado da família por circunstâncias da guerra no norte da França e, por conseqüência, meus pais insistiram para que eu fosse reencontrar meu irmão. «Como seu irmão já está em Roma, no seminário francês, vá então encontrá-lo e fazer seus estudos com ele». E eu parti para Roma. Fiz meus estudos na Universidade gregoriana, de 1923 a 1930. Fui ordenado em 1929 e fiquei como padre no seminário durante um ano.
As primeiras vítimas do Modernismo
Ora, durante esses anos no seminário, passaram-se coisas trágicas que me lembram exatamente tudo o que eu vi depois do Concílio. Estou praticamente na mesma situação em que estava nosso superior do seminário francês naquele momento: o padre Le Floch, que foi o superior do seminário francês de Roma durante trinta anos. Era um homem muito digno, um Bretão, forte e firme na sua fé como o granito da Bretanha. Ele nos ensinava as encíclicas dos papas e o que era o modernismo condenado por S. Pio X, os erros modernos condenados por Leão XIII, o que era o liberalismo condenado por Pio IX. E nós amávamos nosso padre Le Floch. Nós éramos muito apegados a ele.
Mas sua firmeza na doutrina, na tradição, desgostava aos modernistas, evidentemente. Já existiam progressistas naquela época, pois os papas os condenavam. Ele desagradava não somente aos progressistas, mas também ao governo francês. O governo francês tinha medo que, por intermédio do Pe. Le Floch, por essa formação dada aos seminaristas, os bispos tradicionalistas viessem se implantar na França e dessem à Igreja da França um clima tradicional e evidentemente antiliberal. Ora, o governo francês era maçônico e por conseqüência, fundamentalmente liberal e não podia nem pensar que bispos não liberais pudessem tomar os postos mais importantes. Pressões foram exercidas sobre o papa para eliminar o Pe. Le Floch. Foi Francisque Gay, futuro líder do M.R.P., o encarregado dessa operação. Ele desceu a Roma e fez pressão sobre o Papa Pio XI, denunciando o Pe. Le Floch como sendo, por assim dizer, da Action Française, e um homem político ensinando aos seminaristas a serem membros da Action Française.
Tudo isso era mentira. Durante três anos eu escutei o Pe. Le Floch nas suas conferências espirituais. Nunca ele nos falou da Action Française. Hoje eles me dizem: «Você foi naquele tempo membro da Action Française». Eu nunca fui membro da Action Française.
Evidentemente, dizem que somos membros da Action Française, nazistas, fascistas, tudo o que se pode nos rotular como etiquetas pejorativas, porque nós somos anti-revolucionários e antiliberais.
Então uma pesquisa foi feita: o cardeal arcebispo de Milão foi enviado ao local. Não era o menor dos cardeais. Beneditino, homem de uma grande santidade e de uma grande inteligência, foi designado pelo Papa Pio XI para pesquisar no seminário francês para ver se o que dizia Francisque Gay era exato ou não. A pesquisa foi feita. O resultado foi: o seminário francês funciona perfeitamente bem sob a direção do Pe. Le Floch. Não temos absolutamente nada a reprovar ao superior do seminário.
Bem, isto não foi o suficiente. Três meses depois, nova pesquisa, dessa vez com a ordem de acabar com o Pe. Le Floch. A nova pesquisa foi feita por um membro das Congregações Romanas que concluiu, com efeito, que o Pe. Le Floch era amigo da Action Française, que ele era perigoso para o seminário e que era preciso pedir sua demissão. O que foi feito. Em 1926, a Santa Sé pediu ao Pe. Le Floch para deixar a direção do seminário francês. Nós ficamos estarrecidos. O Pe. Le Floch nunca foi um homem político. Era um homem tradicional, apegado à doutrina da Igreja, aos papas, grande amigo do Papa Pio X, que tinha uma grande confiança nele. E, precisamente, porque ele era um amigo do Papa Pio X, então ele era inimigo dos progressistas.
E depois, nessa época em que eu estava no seminário francês, não somente o Pe. Le Floch foi atacado, mas também o Cardeal Billot, teólogo de primeiro valor, hoje ainda reputado e estudado nos nossos seminários. Monseigneur Billot, cardeal da Santa Igreja, foi deposto. Tiraram-lhe a púrpura e enviaram-lhe, como penitência, para perto de Albano, Castelgandolfo, na casa dos Jesuítas, proibido de sair, sob o pretexto de que ele tinha ligações com o Action Française. De fato, o Cardeal Billot não era da Action Française, mas ele estimava a pessoa de Maurras e o citava em seu livro de teologia. Por exemplo, no segundo livro da Igreja, «De Ecclesia», o Cardeal Billot fez um magnífico estudo sobre o liberalismo, onde, em notas, fez algumas citações de Maurras. Era um pecado mortal!Eles acharam isso para depor o Cardeal Billot. Isto não é pouca coisa, um dos maiores teólogos de sua época deposto como cardeal, reduzido ao estado de simples padre, pois ele não era bispo (naquele tempo ainda havia cardeais diáconos). Já era a perseguição.
O Papa Pio XI sofreu influência dos progressistas
O Papa Pio XI sofreu influência dos progressistas que se achavam já em Roma. Nós vemos aí precisamente, uma certa diferença entre os papas que se sucederam e portanto nessa época o Papa Pio XI fez encíclicas magníficas. Não era um liberal. Sua encíclica contra o comunismo Divini Redemptoris, sua encíclica sobre o Cristo-Rei, instaurando a festa do Cristo Rei , logo, o reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo é magnífico. Sua encíclica sobre educação cristã é absolutamente admirável e permanece hoje um documento fundamental para aqueles que querem defender a escola católica.
Então, no plano da doutrina, o Papa Pio XI foi um homem admirável, mas fraco no domínio da ação prática. Ele era influenciável. Foi assim que ele foi muito influenciado na guerra do México (1926-1929) e que ele deu ordem aos Cristeros, àqueles que defendiam a religião católica e combatiam pelo Cristo-Rei, de confiar no governo e entregar as armas. Desde que entregaram as armas, foram todos massacrados. Ainda se lembram, no México, desse massacre horrível. O Papa Pio XI confiou no governo, que o enganou. Depois do que se passou, ele mostrou-se desolado. Ele não imaginava que um governo que lhe prometera tratar com honra àqueles que defendiam sua fé iria em seguida massacrá-los. Foram, com efeito, milhares de mexicanos que foram massacrados por causa de sua fé.
Já no início do século certas situações anunciam uma divisão na Igreja. E chegamos lentamente, mas seguramente, às vésperas do Concílio.
O Papa Pio XII foi um grande papa. Tão bom nos seus escritos quanto na sua maneira de conduzir a Igreja. E no tempo de Pio XII a fé foi firmemente mantida e, naturalmente, os progressistas não gostavam dele, porque ele lembrava os princípios fundamentais da teologia e da verdade.
Então veio João XXIII, ele que não tinha o temperamento de Pio XII. João XXIII era um homem muito simples, muito familiar. Ele não via problemas em lugar nenhum.
Quando ele quis fazer um sínodo em Roma, lhe disseram: «Mas, Santo Padre, um sínodo tem que ser preparado, é preciso ao menos um ano, talvez dois, para preparar tal reunião, afim de que os frutos sejam numerosos e que as reformas possam ser verdadeiramente estudadas e em seguida aplicadas para que Vossa diocese de Roma tire proveito. Isto não pode se fazer assim, no espaço de dois ou três meses e depois quinze dias de reuniões, e tudo irá bem. Não é possível !».
«Ah, sim, sim, eu conheço, eu sei, vamos fazer um pequeno sínodo, vamos preparar isso em alguns meses e tudo irá bem».
Preparou-se o sínodo rapidamente: comissões em Roma, todo mundo trabalhando. Quinze dias de sínodo e depois tudo acabou. O Papa João XXIII estava contente, seu pequeno sínodo foi feito; resultado: nenhum. Nada mudou na diocese de Roma. A situação ficou exatamente a mesma.
À deriva com o Concílio
A mesma coisa para o Concílio. «Tenho a intenção de fazer um Concílio». Já o Papa Pio XII tinha sido solicitado por certos cardeais para reunir um Concílio. Mas ele recusou, estimando que isso seria impossível. Não se pode, dizia ele, na nossa época, fazer um Concílio com 2.500 bispos. As pressões que se pode sofrer do fato dos meios de comunicação social são muito perigosas para que se possa reunir um Concílio. Corre-se o risco de perder o controle. E ele não fez o Concílio.
Mas o Papa João XXIII disse: não se pode ser pessimista; é preciso ver as coisas com confiança. Vamos nos reunir durante três meses, com todos os bispos do mundo inteiro. Começamos em 13 de outubro e entre 8 de dezembro e 25 de janeiro, tudo terminado, todo mundo vai embora e volta para suas casas e acaba-se o Concílio.
E o papa lançou o Concílio! Era preciso prepará-lo. Não se faz um Concílio como um sínodo. Foi preciso prepará-lo dois anos antes. Fui nomeado pessoalmente membro da Comissão Central Preparatória, sendo arcebispo de Dakar e presidente da Conferência Episcopal do Oeste Africano. Eu vim, então, a Roma, durante dois anos, ao menos umas dez vezes, para participar das reuniões dessa Comissão Central Preparatória que era, de fato, muito importante porque para ela todos os documentos das comissões secundárias eram enviados, para serem estudados e submetidos ao Concílio. Havia nessa comissão setenta cardeais e uns vinte arcebispos e bispos, além dos peritos. Mas estes não eram membros da comissão. Estavam lá somente para serem eventualmente consultados pelos membros.
A aparição da divisão
Ora, durante esses dois anos, as reuniões se sucederam e apareceu claramente, para todos os membros que estavam presentes, que havia uma divisão profunda no interior da Igreja. Uma divisão profunda, não acidental ou superficial, mas uma divisão profunda mais ainda entre os cardeais que entre os arcebispos e bispos. Na ocasião dos votos que foram feitos vimos os cardeais conservadores votarem de uma maneira e os cardeais progressistas de outra. E todos os votos eram sempre mais ou menos no mesmo sentido. Está claro que havia uma divisão real entre os cardeais.
Relatei em um de meus livros, Un Evêque Parle, um pequeno incidente que sempre lembro porque caracteriza verdadeiramente o fim dessa Comissão Central e o início do Concílio. Foi durante a última sessão; nós tínhamos recebido dois documentos sobre o mesmo tema. O Cardeal Bea tinha preparado um texto De Libertate Religiosa,“Da Liberdade Religiosa”. O Cardeal Ottaviani tinha preparado um outro: De Tolerantia Religiosa, “Da Tolerância Religiosa”.
Tratando do mesmo assunto, já os dois títulos eram significativos de duas concepções diferentes. O Cardeal Bea falava da liberdade de todos as religiões e o Cardeal Ottaviani da liberdade da religião católica e da tolerância do erro, tolerância das falsas religiões. Como isso poderia se arrumar em comissão ?
E desde o começo o Cardeal Ottaviani apontou o dedo sobre o Cardeal Bea e lhe disse: «Eminência, não tens o direito de fazer esse documento». O Cardeal Bea respondeu: «Perdão, como presidente da Comissão de Unidade eu tinha perfeitamente o direito de fazer esse documento. Logo, eu fiz esse documento cientemente. E, aliás, eu sou radicalmente opositor de vossa tese.
Assim, dois cardeais dos mais eminentes, o Cardeal Ottaviani, prefeito do Santo Ofício, e o Cardeal Bea, confessor do Papa Pio XII, jesuíta, tendo uma grande influência sobre todos os cardeais, que era bem conhecido no Instituto Bíblico, que fez estudos bíblicos muito superiores. Ou seja, duas personalidades eminentes que se opõem sobre uma tese fundamental na Igreja. Outra coisa é a liberdade de todas as religiões, isto é, por-se sobre o mesmo pé a liberdade e o erro e depois, de outro lado, a liberdade da religião católica e a tolerância dos erros.
É totalmente diferente. Tradicionalmente a Igreja foi sempre pela tese do Cardeal Ottaviani e não por aquela do Cardeal Bea, que é totalmente liberal.
Então, o Cardeal Ruffini, de Palermo, se levantou e disse: «Nós estamos na presença de dois confrades que se opõem um ao outro sobre uma questão muito importante na Igreja. Nós vamos ser obrigados a apelar à autoridade suprema».
Com freqüência, o papa vinha presidir nossas reuniões. Mas ele não estava nessa última. Então os cardeais pediram para votar: «Nós não queremos esperar ir ver o Santo Padre, nós vamos votar». Fizeram um voto. A metade dos cardeais, mais ou menos, votou pela tese do Cardeal Bea e a outra pela do Cardeal Ottaviani. Ora, todos os que votaram pelo Cardeal Bea eram os cardeais da Holanda, da Alemanha, da França, da Áustria, todos, em geral, da Europa e da América do Norte. Quanto aos cardeais tradicionais, eles eram da Cúria romana, da América do Sul e em geral os de língua espanhola.
Era uma verdadeira ruptura na Igreja. E desde esse momento eu me perguntei como o Concílio iria se passar, com oposições parecidas sobre teses também importantes. Quem vai prevalecer? É o Cardeal Ottaviani com os cardeais de língua espanhola e de língua latina, ou os cardeais europeus e os da América do Norte?
E, com efeito, a luta começou imediatamente no interior do Concílio desde os primeiros dias. O Cardeal Ottaviani apresentou a lista dos membros que faziam parte das comissões preparatórias, dando plena liberdade a cada um de escolher o que queria. Porque era evidente que nós não nos conhecíamos. Nós chegáramos, cada um de sua diocese, como conhecer os 2.500 bispos do mundo ?
Pede-se para votar para designar os membros das comissões do Concílio. Quem escolher? Nós não conhecíamos os bispos da América do Sul, da África do Sul, da Índia.
Então o Cardeal Ottaviani pensou: Roma já fez uma escolha para todas as Comissões Preparatórias, isso poderia ser uma indicação para ajudar os padres do Concílio a escolher. Era perfeitamente normal.
O Cardeal Lienart se levantou e disse: «Nós não aceitamos esse procedimento. Pedimos 48 horas de reflexão afim de melhor conhecer aqueles que poderiam fazer parte de diferentes comissões. É uma pressão que é exercida sobre o julgamento dos padres. Nós não o aceitamos».
O Concílio tinha começado há dois dias e já era um afrontamento entre os cardeais. O que aconteceu?
Durante essas duas horas os cardeais liberais tinham já preparado listas variadas de todos os países do mundo e eles distribuíram nas caixas de correio de todos os padres do Concílio. Nós todos recebemos então uma lista propondo: membros de tal comissão, este, aquele... de diferentes países. Muitos disseram: – enfim, porque não? Eu não os conheço. Como a lista já está pronta, só temos que nos servir. Quarenta e oito horas depois foi a lista dos liberais que veio em primeiro lugar. Mas ela não passou com dois terços de votos, como previa o regulamento do Concílio.
Então, o que faria o Papa? O Papa João XXIII iria fazer uma exceção ao regulamento do Concílio ou aplicá-lo ? Evidentemente os cardeais liberais tiveram medo e se precipitaram em busca do Papa e disseram: «Escute, temos mais da metade das vozes, quase 60%. O senhor não pode recusar isso. Não se vai ainda refazer uma eleição, não se sairá mais disso. Isto representa bem a maioria do Concílio, só podemos aceitar isso». E o Papa João XXIII aceitou. E desde o começo todos os membros da Comissão do Concílio foram nomeados pela fração liberal. Pode-se calcular que influência enorme isso iria ter no Concílio.
Estou certo que o Papa João XXIII morreu prematuramente do que ele viu e anteviu do Concílio. Ele que pensava que no fim de alguns meses tudo teria acabado. Um Concílio de três meses. Todos se abraçam e voltam para casa, felizes e contentes de ter estado em Roma e de ter feito uma boa reuniãozinha.
Ele descobriu que o Concílio era um mundo e um lugar onde haveria disputas. Nenhum texto saiu da primeira sessão do Concílio. O Papa João XXIII ficou desconcertado e eu acho que isso acelerou sua morte. Disseram mesmo que sobre seu leito de morte ele disse: «Pare o Concílio, pare o Concílio».
Paulo VI dá seu apoio aos liberais
Veio o Papa VI. E é evidente que ele deu seu apoio à facção liberal. Como assim?
Desde o começo de seu pontificado, na Segunda sessão do Concílio, ele nomeou imediatamente quatro moderadores. Mas já havia os dez presidentes que durante a primeira sessão presidiram os trabalhos do Concílio. Cada um dentre eles presidia uma sessão, depois o segundo, depois o terceiro. Eles estavam numa mesa mais elevada que os outros. Eles dirigiam o Concílio.
O Papa Paulo VI nomeou imediatamente esses quatro moderadores, e os presidentes se tornaram os presidentes de honra. Os quatros moderadores tornaram-se os verdadeiros presidentes do Concílio.
Ora, quem eram esses moderadores? O Cardeal Döpfner, de Munich, muito progressista, muito ecumênico. O Cardeal Suenens, que todo mundo conhece como mais carismático e que fez conferências em favor do casamento dos padres. O Cardeal Lercaro, conhecido por seu filo-comunismo e que tinha um vigário geral inscrito no partido comunista. E, enfim, o Cardeal Agagionian. Ele representava um pouco a facção tradicional, pode-se dizer. Era um homem discreto, sério, que por conseqüência não teve verdadeira influência sobre o Concílio. Mas os três outros conduziram a tarefa com o vento em popa. Eles reuniam constantemente os cardeais liberais, o que deu uma força considerável à facção liberal do Concílio.
Evidentemente os cardeais e os bispos tradicionalistas se acharam, desde então, como postos de lado, desprezados.
Quando o pobre cardeal Ottaviani, cego, pedia a palavra, se ele não terminasse no fim dos dez minutos que lhe era dado, escutava-se murmúrios entre os jovens bispos para lhe fazer calar, lhe fazer compreender que se estava satisfeito de lhe ouvir. Que já bastava. Foi horrível. Esse venerável cardeal, venerado por toda Roma, que teve uma influência enorme na Santa Igreja, prefeito do Santo Ofício, não é uma função qualquer. Era escandaloso ver como eram tratados aqueles que eram tradicionalistas.
Monsenhor Stoffa (nomeado cardeal mais tarde) muito ativo, recebeu da presidência do Concílio pedido que se calasse. Coisas inimagináveis.
A Revolução na Igreja
Assim se passou o Concílio. É evidente que todos as teses, todos os textos do Concílio foram influenciados pelos cardeais liberais e as comissões liberais. Não devemos nos espantar que tenhamos tido textos ambíguos, favoráveis a mudanças, a uma verdadeira revolução na Igreja.
Será que nós poderíamos ter feito alguma coisa, nós que representávamos a facção tradicional dos bispos e cardeais? Pouca coisa, em definitivo. Éramos duzentos e cinqüenta favoráveis à permanência da Tradição e desfavoráveis a mudanças de vulto na Igreja: falsa renovação, falso ecumenismo, falsa colegialidade. Nós éramos opostos a essas coisas. Esses duzentos e cinqüenta bispos, evidentemente, tiveram algum peso e, em certas ocasiões, os textos foram modificados. O mal foi um pouco limitado. Mas nós não conseguimos impedir certas teses de passar, particularmente a da liberdade religiosa, cujo texto foi refeito cinco vezes. Cinco vezes a mesma tese voltava. Nós nos opusemos sempre. Havia sempre duzentos e cinqüenta vozes contra. Então o Papa Paulo VI fez adicionar duas pequenas frases no texto, dizendo: «não há nada nesse texto que seja contrário à doutrina tradicional da Igreja» e «a Igreja permanece sempre a verdadeira e única Igreja de Cristo».
Então, os bispos espanhóis, em particular, disseram: «bem, já que o Papa adicionou isso, agora não há mais problema, já que não há nada contra a tradição». Se as coisas são contraditórias, essa pequena frase contradiz tudo o que está no interior do texto. É um esquema contraditório. Não se pode aceitar isso. Então sobraram somente, se eu me lembro bem, setenta e quatro bispos que permaneceram contra. É o único esquema que encontrou uma tal oposição: 74 sobre 2.500, é pouca coisa !
Então terminou o Concílio, não podemos nos espantar com as reformas que foram feitas. Depois de toda a história do liberalismo, os liberais saindo vitoriosos no interior do Concílio, exigiram do Papa Paulo VI lugares nas Congregações romanas. E, de fato, os lugares importantes foram dados aos progressistas. Quando morria um Cardeal, ou numa ocasião qualquer que permitisse ao Papa Paulo VI afastar um cardeal tradicionalista, ele colocava imediatamente um cardeal liberal no seu lugar.
Foi assim que Roma achou-se ocupada pelos liberais. É um fato que não se pode mais negar, nem que as reformas do Concílio foram reformas que respiram esse espírito de ecumenismo, um espírito protestante, nem mais nem menos.
A Reforma Litúrgica
O mais grave foi a reforma litúrgica. Ela foi operada, sabe-se, por um padre bem conhecido, Bugnini, que tinha preparado isso muito tempo antes.
Já em 1955, o Padre Bugnini fez traduzir os textos protestantes por Mons. Pintonello, Capelão Geral do exército italiano, que tinha passado muito tempo na Alemanha durante a ocupação, pois ele próprio não conhecia alemão. Foi Mons. Pintonello que disse a mim mesmo que ele tinha traduzido os livros litúrgicos protestantes para o Padre Bugnini, que naquele momento era um membro menor de uma comissão litúrgica. Ele não era nada. Depois foi professor de liturgia no Latrão. O Papa João XXIII lhe mandou embora por causa de seu modernismo, de seu progressismo. Pois bem, ele tornou-se presidente da Comissão da Reforma da Liturgia. É inacreditável. Eu tive ocasião de constatar eu mesmo a influência do Padre Bugnini. Como isso pôde acontecer em Roma.
Eu era, naquele tempo, logo depois do Concílio, superior geral da Congregação dos Padres do Espírito Santo e nós tínhamos, em Roma, uma Associação de superiores gerais.
Nós pedimos ao Pe. Bugnini para nos explicar o que era sua nova missa, porque enfim, não era um pequeno acontecimento. Depois do Concílio, logo depois, ouviu-se falar de Missa normativa, Missa nova, novus ordo, o que é isso tudo? Não se falou disso no Concílio. O que está acontecendo? Então nós pedimos ao Pe. Bugnini para explicar ele mesmo aos 84 superiores gerais que se reuniram, entre os quais eu me encontrava.
O Padre Bugnini, com muito boa vontade, nos explicou o que era a Missa normativa: vai-se mudar isso, vai-se mudar aquilo, vamos pôr um outro ofertório, poderemos escolher os Canons, poderemos reduzir as orações da Comunhão, poderemos ter muitos esquemas para o final da Missa. Poderemos dizer a Missa em língua vernácula. Nós nos olhávamos dizendo: não é possível!
Ele falava exatamente como se nunca tivesse tido uma Missa antes dele. Falava de sua Missa normativa como de uma invenção nova.
Pessoalmente, fiquei atônito e mudo, quando, habitualmente, eu tomo com facilidade a palavra para me opor àqueles com os quais não estou de acordo. Não conseguia dizer uma palavra. Não é possível que seja a esse homem que está aí diante de mim que foi confiada toda a reforma da Liturgia Católica, do Santo Sacrifício da Missa, dos Sacramentos, do Breviário, de todas as nossas orações. Aonde vamos nós? Aonde vai a Igreja?
Dois superiores gerais tiveram a coragem de se levantar. E um deles questionou o Padre Bugnini: «É uma participação ativa, é uma participação corporal, isto é, orações vocais, ou é a participação espiritual? Em todo caso, o senhor falou tanto da participação dos fiéis, que parece que não se justifica mais a Missa sem fiéis, porque toda a sua Missa foi feita em função da participação dos fiéis. Nós beneditinos, celebramos nossas Missas sem fiéis. Então, devemos continuar a dizer nossas Missas privadas, visto que não temos fiéis que aí participem?»
Eu vos repito exatamente o que disse o Pe. Bugnini, eu tenho ainda nos meus ouvidos tanto isso me chocou: «Para falar a verdade, não se pensou nisso», disse ele!
Depois um outro se levantou e disse: «Reverendo Padre, o senhor disse: vamos suprimir isso aqui, suprimir aquilo lá, substituir isso por aquilo, e sempre orações mais curtas, eu tenho a impressão que a sua nova Missa vai ser dita em dez, doze minutos, um pequeno quarto de hora, não é razoável, não é respeitoso para um tal ato da Igreja». E ele lhe respondeu isso: «Poder-se-á sempre adicionar qualquer coisa». É sério? Eu ouvi com os meus ouvidos. Se fosse qualquer um que me tivesse contado eu teria quase duvidado, mas eu escutei eu mesmo.
Depois, no momento em que essa Missa normativa começou a se realizar, eu estava tão horrorizado que nós fizemos uma pequena reunião com alguns padres, alguns teólogos, de onde saiu o “Breve exame crítico” que foi levado ao Cardeal Ottaviani. Eu presidia essa pequena reunião. Foi dito: «É preciso ir aos cardeais. Não se pode deixar fazer isso sem reagir.»
Então fui procurar eu mesmo o secretário de Estado, o Cardeal Cicognani e lhe disse: «Vossa Eminência deixará passar isto? Não é possível. O que é essa nova Missa? É uma revolução na Igreja, uma revolução na liturgia.»
O Cardeal Cicognani, que era o Secretário de Estado de Paulo VI, pôs a cabeça entre as mãos e disse-me: «Oh, Monsenhor, eu bem sei: Eu estou de acordo com o senhor, mas o que eu posso fazer ? O Pe. Bugnini pode entrar no escritório do Santo Padre e lhe fazer assinar o que ele quer.» Foi o Cardeal Secretário de Estado que me disse isso! Então, o Secretário de Estado, a personalidade número dois da Igreja depois do Papa, foi posta em estado de inferioridade em relação ao Pe. Bugnini. Ele podia entrar nos aposentos do Papa quando ele queria e lhe fazer assinar o que ele quisesse.
Isso pode explicar, então, porque o Papa Paulo VI teria assinado textos que ele não tinha lido. Ele disse isso ao Cardeal Journet, que era um homem muito ponderado, professor na Universidade de Friburgo, na Suiça, um grande teólogo. Quando o cardeal viu essa definição da Missa na Instrução que precede o novo “Ordo”, ele disse: não se pode aceitar essa definição da Missa; é preciso que eu vá a Roma ver o Papa. Ele foi e disse: «Santo Padre, não podeis deixar essa definição, ela é herética. Não podeis continuar a deixar vossa assinatura numa coisa como essa». E o Santo Padre lhe respondeu (o Cardeal Jounet não me disse a mim mesmo, mas a alguém que me repetiu): «Bem, realmente, eu não a li. Eu assinei sem ler.» Evidentemente, se o Pe. Bugnini tinha uma tal influência sobre ele, é possível. Ele dizia ao Santo Padre: «Podeis assinar» «Mas o senhor prestou bem atenção?» — «Sim, vós podeis assinar.»E ele assinou.
E isso não passou pelo Santo Ofício. Eu o sei, pois o Cardeal Seper ele mesmo me disse que estava ausente quando o Novo Ordo foi editado e que isso não passou pelo Santo Ofício. Então, foi realmente o Pe. Bugnini que obteve essa assinatura, que contrariou talvez o Papa, nós não sabemos, mas que tinha, sem dúvida alguma, uma influência extraordinária sobre o Santo Padre.
Terceiro fato do qual eu fui testemunha a propósito do Pe. Bugnini: na ocasião da permissão que estava sendo dada para a comunhão na mão (mais uma coisa horrível!) eu achei que não podia deixar passar isso. É preciso que eu vá ver o Cardeal Guth – um suiço – que era prefeito da Congregação do Culto. Eu fui então a Roma, onde o Cardeal Guth me recebeu muito amavelmente, e imediatamente me disse: «Eu vou fazer entrar o meu segundo, o Arcebispo Antonini, afim de que ele possa ouvir o que o senhor diz.» E nós conversamos. Eu disse: «Escute, o senhor que é responsável pela Congregação do Culto, não pode deixar publicar esse decreto autorizando a comunhão na mão. Imagine todos os sacrilégios que isso vai representar. Imagine a falta de respeito pela Santa Eucaristia que vai se espalhar em toda a Igreja. É inadmissível, o senhor não pode deixar fazer algo assim. Já os padres começam a dar a comunhão dessa maneira. É preciso parar isso imediatamente. E com essa nova missa eles pegam sempre o pequeno cânon, o segundo, que é muito breve». A esse propósito, o Cardeal Guth disse a Mons. Antonini: «Veja, eu disse que isso aconteceria, que os padres pegariam o cânon mais curto, para ir mais rápido, para acabar mais rápido com a Missa».
Depois o Cardeal Guth me disse: – «Monsenhor, se pedissem minha opinião (quando ele dizia "pedissem", era ao Papa que ele se referia, porque só o Papa era seu superior), mas eu não estou certo que vão me pedir (ele que era Prefeito da Congregação do Culto, encarregado de tudo que era ligado ao culto e a liturgia!), eu me poria de joelhos, Monsenhor, diante do Papa e lhe diria: Santo Padre, não faça isso, não assine esse decreto! Eu me poria de joelhos, Monsenhor. Mas eu não sei se me interrogarão pois não sou eu que mando aqui». Isso eu ouvi com meus ouvidos. Ele fazia alusão a Bugnini, que era o terceiro na Congregação do Culto. Havia o Cardeal Guth, o Arcebispo Antonini e o Pde. Bugnini, presidente da Comissão de Liturgia. É preciso ter escutado isso! É preciso compreender também minha atitude quando me dizem: o senhor é um dissidente, um desobediente, um rebelde.
Infiltrados na Igreja para destruí-la
Sim, eu sou um rebelde. Sim, eu sou um dissidente. Sim, eu sou um desobediente dessa gente, dos Bugnini. Porque são eles que se infiltraram na Igreja para destruí-la. Não é possível fazer de outro modo.
Então, vamos contribuir para a destruição da Igreja? Vamos dizer: sim, sim, amém, mesmo se é o inimigo que penetrou até junto do Santo Padre e que pode fazê-lo assinar o que ele quer? Sob quais pressões? Não sabemos. Existem coisas escondidas que nos escapam, evidentemente. Alguns dizem que é a maçonaria. É possível, eu não sei. Em todo caso, há um mistério. Como um padre que não é cardeal nem mesmo bispo, um padre ainda jovem naquela época, que subiu contra a vontade do Papa João XXIII, que o tinha expulsado da Universidade do Latrão, que subiu, subiu e que chegou ao topo que se ri do Cardeal Secretário de Estado, que se ri do Cardeal Prefeito da Congregação do Culto, que vai diretamente ao Santo Padre e lhe faz assinar o que ele quer. Nunca se viu nada de parecido na Santa Igreja. Tudo passa sempre pelas autoridades. Faz-se Comissões. Estuda-se os documentos. Mas esse rapaz era todo poderoso!
Foi ele que trouxe esses pastores protestantes para mudar nossa Missa. Não foi o Cardeal Guth. Não foi o Cardeal Secretário de Estado, talvez nem mesmo o Papa. Foi ele. Que tipo de homem era esse Bugnini?
Um dia o Abade de São Paulo fora dos Muros, beneditino que precedeu Bugnini na Comissão de Liturgia, me disse: «Monsenhor, não me fale do Pe. Bugnini; eu sei muito sobre ele. Não me pergunte quem ele é». Eu retomei: «Mas diga-me, porque é necessário que as pessoas saibam, é necessário que as coisas apareçam» «Eu não posso lhe falar do Pe. Bugnini». Logo, ele o conhecia bem. É provável que tenha sido ele que tenha pedido a João XXIII de sair da Universidade do Latrão.
Este conjunto de coisas nos mostra que o inimigo penetrou no interior da Igreja, como já dizia São Pio X; ele está no mais alto cume, como anunciou Nossa Senhora de La Salette, e como está, sem dúvida, no terceiro segredo de Fátima.
Mas, se o inimigo está realmente dentro da Igreja, deve-se lhe obedecer? Ah! sim, ele representa o Papa... Antes de tudo, não se sabe de nada, não se sabe o que pensa o Papa.
É bem verdade que eu tenho provas pessoais de que o Papa Paulo VI era muito influenciado pelo Cardeal Villot. Diziam que o Cardeal Villot era maçom. Não sei. Aconteceram coisas. Fotocopiaram cartas de maçons endereçadas ao Cardeal Villot. Não tenho as provas. Mas, de qualquer forma, o Cardeal Villot tinha grande influência sobre o Papa. Ele reuniu em suas mãos todos os poderes em Roma. Tornou-se o mestre, muito mais do que o Papa. Tudo passava por suas mãos. Isso eu sei. Um dia, fui ver o Cardeal Wright, sobre o catecismo canadense. Eu lhe disse: «Veja esse catecismo. O senhor conhece estes livretos intitulados Ruptura? São abomináveis. Eles ensinam às crianças a romper: romper com a família, com a sociedade, com a Tradição...são os catecismos que se ensina às crianças no Canadá, com Imprimatur de Mgr. Courdec. O senhor é encarregado dos catecismos no mundo inteiro, o senhor está de acordo com este catecismo?» «Não, não - me disse ele - este catecismo não é católico» «Ele não é católico? Diga isso imediatamente à Conferência Episcopal do Canadá. Diga-lhes para parar, de joga-lo no fogo e retomar verdadeiros catecismos». «Como quer o senhor que eu me oponha a uma Conferência Episcopal?»
Eu disse então: acabou-se. Não há mais autoridade dentro da Igreja. Terminado! Se Roma não pode dizer mais nada a uma Conferência Episcopal, mesmo se ela esta destruindo a Fé das crianças, então é o fim da Igreja.
Esta é a situação: Roma tem medo das Conferências Episcopais. Estas Conferências são abomináveis. Na França, existe uma campanha patrocinada pelos bispos em favor da contracepção. Acho que eles foram convencidos pelo governo socialista que passa constantemente na televisão este slogan: tome a pílula para impedir o aborto. Eles não acharam nada melhor do que isso e fazem uma campanha irracional em favor da pílula. Elas são subvencionadas para meninas de doze anos, para evitar o aborto! E os bispos aprovam! No boletim da diocese de Tulle, que continuo a receber porque é a minha antiga diocese, havia documentos oficiais em favor da contracepção, firmados pelo bispo, Mgr. Bruneau, um antigo superior geral dos padres de Saint Sulpice, um dos melhores bispos da França. É assim!
Porque eu não obedeço
O que devemos fazer? Eles dizem: o senhor deve obedecer, o senhor é desobediente, não tem o direito de continuar o que está fazendo, está dividindo a Igreja.
O que é uma lei? O que é um decreto? O que nos obriga à obediência? Uma lei, diz Leão XIII, é uma ordenação da razão para o bem comum, nunca para o mal comum – é para o bem. Isso é tão evidente que, se for para o mal, deixa de ser uma lei. Leão XIII dizia isso explicitamente na Encíclica Libertas. Uma lei que não é para o bem comum não é mais uma lei e não deve ser obedecida.
Muitos canonistas, em Roma, dizem que a Missa de Bugnini não é uma lei. Não houve lei para a Nova Missa. Admitamos que tenha até havido uma lei, vinda de Roma, uma ordenação da razão para o bem comum e não para o mal comum. Ora, a Nova Missa está destruindo a Igreja, destruindo a Fé. É evidente. O Arcebispo de Montreal (Canadá), Mgr. Grégoire, numa carta publicada, foi muito corajoso. É um dos raros bispos a ter ousado escrever uma carta denunciando os males que sofre a Igreja em Montreal. «Ficamos assustados de ver o abandono das paróquias por grande número de fiéis. Atribuímos isso, em grande parte, à reforma da Liturgia». Ele teve a coragem de falar assim.
Estamos diante de uma verdadeira conjuração dentro da Igreja, da parte dos atuais cardeais, como o Cardeal Nox, que fez essa famosa pesquisa sobre a Missa de S. Pio V no mundo inteiro. É uma mentira clara e evidente para influenciar o Papa João Paulo II, para que ele dissesse: se é só esse pequeno número que quer a Tradição, isso vai acabar sozinho, não vale nada. Na verdade, o Papa, quando me recebeu em audiência, em Roma, em novembro d e1978, queria assinar um ato, pelo qual os padres pudessem rezar a Missa de sua escolha. Ele estava inclinado a fazer isso.
Mas existe em Roma um grupo de cardeais que é radicalmente contra a Tradição. O Cardeal Casaroli, prefeito da Congregação dos Religiosos; o Cardeal Baggio, prefeito da Congregação dos Bispos, posto muito importante que cuida da nomeação dos bispos. E o famoso Virgínio Lévi, segundo da Congregação do Culto, talvez pior do que Bugnini. O Cardeal Hamer, arcebispo belga, segundo do Santo Ofício, nascido na região de Louvain, formado com todas as idéias modernistas de Louvain. Estes são radicalmente contra a Tradição; não querem nem ouvir falar. Creio que se pudessem me esganar eles o fariam.
Que eles nos deixem ao menos a liberdade
Eles se unem contra mim assim que sabem que eu faço um esforço junto ao Santo Padre para tentar obter a liberdade para a Tradição. Que eles nos deixem em paz; que nos deixem rezar como se rezou durante séculos; que nos deixem continuar o que nós aprendemos no seminário; que eles nos deixem continuar o que aprendemos quando éramos moços, que é procurar a melhor maneira de se santificar. É isso que nos ensinaram no seminário. Pratiquei isso quando me tornei padre; quando me tornei bispo, ensinei isso aos meus padres e a todos os meus seminaristas: eis o que é preciso fazer para tornar-se santo. Amar o Santo Sacrifício da Missa, a que nos é dada pela Igreja; os sacramentos, o catecismo. Principalmente, não mudem nada, preservem a Tradição que dura há vinte séculos. É isso que nos santifica, foi isso que santificou os santos. Agora eles querem mudar tudo. Não é possível. Que eles nos deixem, ao menos, a liberdade!
Ora, quando eles ouvem isso, imediatamente eles vão ao Santo Padre e dizem: nada para Mgr. Lefebvre, nada para a Tradição. Não volte atrás!
Como são cardeais muito importantes, o Cardeal Casaroli, Secretário de Estado, e outros, o Papa não ousa. Há alguns cardeais que aceitariam uma norma favorável, como o Cardeal Ratzinger. Ele substituiu o Cardeal Seper, que morreu no Natal de 1981. E olha que o Cardeal Ratzinger era muito liberal na época do Concílio. Foi amigo de Rahner, de Hans Kung, de Schillebeeckx. Mas por causa de sua nominação como arcebispo de Munich ele abriu um pouco os olhos. Ele está, certamente, mais consciente do perigo das reformas e mais desejoso de voltar às normas tradicionais, junto com o Cardeal Palazzini, da Congregação das beatificações, e do Cardeal Oddi, da Congregação do clero. Esses três cardeais estariam dispostos a nos deixar a liberdade. Mas os demais têm ainda muita influência sobre o Santo Padre...
Fui a Roma, há cinco semanas, para ver o Cardeal Ratzinger, que foi nomeado pelo Papa para substituir o Cardeal Seper junto à Fraternidade São Pio X, junto a mim. O Cardeal Seper tinha sido nomeado quando da audiência que o Papa João Paulo II me tinha concedido. Ele chamou o Cardeal Seper e lhe disse: «Eminência, o senhor manterá as relações entre Mgr. Lefebvre e eu. O senhor será o intermediário». Agora ele nomeou o Cardeal Ratzinger.
Fui vê-lo e conversamos durante quase duas horas. Certamente o Cardeal Ratzinger parece mais positivo e mais capaz de alcançar uma boa solução. A única dificuldade que permanece séria é a questão da Missa. No fundo, sempre foi a Missa, desde o início. Pois eles sabem muito bem que eu não sou contra o Concílio. Há coisas que eu não aceito no Concílio. Não assinei o texto da liberdade religiosa; não assinei o texto da Igreja no mundo. Não se pode dizer que eu sou contra o Concílio, mas há coisas que não se pode aceitar, que são contrárias à Tradição. Isso não deveria lhes importar tanto, pois o próprio Papa disse que se deve analisar o Concílio à luz da Tradição. Se fosse visto o Concílio à luz da Tradição, isso não me incomodaria em nada. Eu assinaria esta frase, pois tudo o que é contrário à Tradição seria, evidentemente, rejeitado. Durante uma audiência que o Papa me concedeu, ele me perguntou: «O senhor estaria disposto a assinar esta fórmula?» Eu respondi: «Foi o senhor mesmo que a utilizou e eu estaria disposto a assina-la». «Então, disse ele, não há dificuldade dogmática entre nós». E eu disse: «Assim eu espero» «O que sobra, então? O senhor aceita o Papa?» «É claro que nós reconhecemos o Papa e rezamos pelo Papa nos nossos seminários. Nós somos, talvez, os únicos seminários do mundo onde se reza pelo Papa. E respeitamos muito o Papa. Quando o Papa me pediu para vir, eu sempre vim. Mas há a questão da liturgia, disse eu, que é realmente muito difícil. A liturgia está demolindo a Igreja, demolindo os seminários. É uma questão muito grave». «Não, não, é uma questão disciplinar, não é grave. Se só existe isso, penso que chegaremos a uma solução».
Em seguida o Papa chamou o Cardeal Seper que veio imediatamente. Se ele não tivesse vindo, penso que o Papa teria assinado um acordo. O Cardeal Seper chegou e o Papa lhe disse: «Acho que as coisas não são difíceis de se acertar com Mgr. Lefebvre; creio que poderíamos chegar a uma solução, há apenas a questão da liturgia que é um pouco difícil» E o Cardeal respondeu: «Ah! não dê nada a Mgr. Lefebvre. Eles fazem da Missa de S. Pio V uma bandeira». E a mim de intervir: «Uma bandeira, claro, a bandeira de nossa Fé, a Santa Missa, Misterium Fidei, é o grande mistério de nossa Fé. É claro, é nossa bandeira, é a expressão de nossa Fé».
Mas isso impressionou muito ao Santo Padre, que pareceu mudar imediatamente. Para mim, isso mostrou que o Papa não é um homem forte. Se ele tivesse sido forte, ele teria dito: sou eu que vou ver isso. Vamos resolver isso. Mas não. De repente ele teve como um medo, tornou-se temeroso e, no momento em que deixava seu escritório ele disse ao Cardeal Seper: «O senhor poderia conversar já agora. Poderia tentar acertar as coisas com Mgr. Lefebvre. Fiquem aqui, eu tenho que ir ver o Cardeal Baggio. Ele tem muitos dossiers para ver comigo sobre os bispos. Eu tenho de ir». E ao sair ele me disse: «Pare, Monsenhor, pare». Ele estava transformado. Em poucos minutos ele tinha mudado completamente. Foi nesta audiência que eu lhe mostrei uma carta que tinha recebido de um bispo polonês.
Ele me tinha escrito um ano antes, para me dizer que ele me felicitava pela obra que eu tinha fundado em Écône, dos padres que eu formava. Ele queria que eu mantivesse a Missa antiga em toda sua Tradição, e acrescentava: não sou o único. Somos vários bispos que vos admiram, que admiram seu seminário e a formação que o senhor dá aos padres e a Tradição que o senhor mantém dentro da Igreja, porque nós, nos obrigam a tomar a nova Liturgia para arrancar a fé dos nossos fiéis.
Isso dizia este bispo polonês. Então eu levei esta carta no meu bolso quando fui ver o Santo Padre, pois eu pensava: ele vai certamente me falar da Polônia. E não me enganei. Ele me disse: «O senhor sabe, na Polônia tudo vai muito bem. Porque o senhor não aceita as reformas? Na Polônia não há problemas. Só se sente falta do latim, nós éramos muito ligados ao latim, pois isso nos unia a Roma, e nós somos muito romanos. É pena, mas o que o senhor quer que eu faça, não há mais latim nos seminários, nem no Breviário, nem na Missa. Não tem mais latim. É uma infelicidade, mas é assim. O senhor vê, na Polônia aceitou-se as reformas, não há nenhum problema: nossos seminários estão cheios, nossas igrejas estão cheias».
Eu respondi ao Santo Padre: «O senhor me permite mostrar uma carta que recebi da Polônia?» E mostrei a carta. Quando ele leu o nome do bispo disse: «Oh! é o pior inimigo dos comunistas...ah! é uma boa referência.». E o Papa leu atentamente a carta. Eu olhava seu rosto para ver sua reação diante dessas palavras ditas duas vezes na carta: nos obrigam a tomar a reforma litúrgica para arrancar a fé dos nossos fiéis. Evidentemente era difícil de engolir. No final ele me disse: «O senhor recebeu esta carta assim?» - «Sim, é uma fotocópia que eu trouxe para o senhor». - «Oh! deve ser falsa».
O que eu podia dizer? Não havia nada mais a responder. O Papa me disse: «O senhor sabe, os comunistas são muito hábeis para tentar provocar divisões nos episcopados». Ou seja, segundo ele, seria uma carta fabricada pelos comunistas que me teria sido enviada. Mas eu duvido muito, pois esta carta foi postada na Áustria e eu suponho que seu autor tenha tido medo do extravio da carta pelos comunistas e que ela não chegasse. Por isso ela foi postada na Áustria. Eu respondi a este bispo, porém não recebi mais nada dele. É para mostrar que há, eu penso, também na Polônia, divisões profundas. Aliás, sempre houve, entre os padres da Pax e os que querem manter a Tradição. Isso foi trágico atrás da cortina de ferro.
A influência dos comunistas em Roma
É preciso ler o livro Moscou e o Vaticano, do padre jesuíta Lepidi. É extraordinário. Ele mostra a influência que têm os comunistas em Roma e como eles chegam a fazer nomear bispos e até dois cardeais: o Cardeal Lekaï e o Cardeal Tomaseck. O primeiro, sucessor do Cardeal Mindszenty. O segundo, sucessor do Cardeal Beran, que foram heróis e mártires da Fé. Em seus lugares puseram os padres da Pax, ou seja, pessoas decididas, antes de mais nada, a se entenderem com os governos comunistas e que perseguem os padres tradicionais. Os padres que vão secretamente batizar alguém no interior ou fazer o catecismo escondido para continuar sua obra de pastores da Igreja Católica, são perseguidos por estes bispos que lhes diz: vocês não têm o direito de não respeitar as ordens dos governos comunistas. Vocês nos atrapalham agindo assim.
Esses padres estão prontos a dar suas vidas para preservar a fé de seus filhos, para preservar a fé das famílias, para dar os sacramentos aos que têm necessidade. É claro que nestes países é preciso sempre pedir autorizações, quando vão levar o Santíssimo Sacramento nos hospitais ou para qualquer outra coisa. Se eles saem de suas sacristias têm de perguntar ao P.C. se lhes autoriza. É impossível. As pessoas morrem sem sacramentos; as crianças não são mais educadas de modo cristão. Por isso eles fazem escondido. E quando eles são presos, são os próprios bispos que os perseguem. É assustador.
Não seriam o Cardeal Wyszynski, nem o Cardeal Slipyi, nem o Cardeal Mindszenty, nem o Cardeal Béran que fariam algo parecido. Eles, ao contrário, empurravam seus bons padres dizendo: vamos, partam. Se forem para a prisão terão feito seu dever de padre. Se for para serem mártires, sejam mártires.
Isso mostra a influência exercida sobre Roma e que temos dificuldade de imaginar. É difícil de acreditar.
Quanto a mim, nunca estive contra o Papa. Nunca disse que o Papa não era papa. Sou inteiramente pelo Papa, pelo sucessor de Pedro. Não quero me separar de Roma. Mas sou contra o Modernismo, contra o progressismo, contra toda esta influência má, nefasta, do protestantismo nas reformas, e contra todas as reformas que nos envenenam e envenenam a vida dos fiéis. Eles dizem: o senhor é contra o Papa. Ao contrário, eu venho socorrer o Papa, pois o Papa não pode ser modernista e progressista, é uma fraqueza ele deixar acontecer. Isso pode acontecer. São Pedro foi fraco também diante de S. Paulo, quanto aos judeus. E São Paulo o repreendeu duramente: «Não andas segundo o Evangelho», disse São Paulo a São Pedro. São Pedro era Papa e São Paulo o repreendeu. Ele disse com vigor: «Repreendi o chefe da Igreja que não andava segundo a lei do Evangelho» Era grave dizer isso ao Papa. E Santa Catarina de Sena, também fez críticas veementes aos Papas. Nós temos a mesma atitude ao dizer: Santíssimo Padre, o senhor não está cumprindo seu dever. É preciso voltar à Tradição se deseja que a Igreja refloresça. Se o senhor permite que esses cardeais, que esses bispos, persigam a Tradição, estará realizando a ruína da Igreja.
Tenho certeza que, no seu coração o Papa tem uma profunda inquietação e que ele procura um meio de renovar a Igreja, e eu espero que com nossas orações, com nossos sacrifícios, com as orações de todos os que amam a Igreja, todos que amam o Papa, tenho certeza que conseguiremos.
E principalmente com a devoção à Santíssima Virgem. Se nós rezarmos à Santíssima Virgem, ela não pode abandonar seu Filho, ela não pode abandonar a Igreja que seu Filho fundou, a esposa mística de seu Filho. Vai ser difícil, vai ser um milagre, mas nós vamos conseguir.
Mas para mim, não quero que me façam dizer que a Nova Missa é boa, que ela é simplesmente menos boa que a outra, mas que é boa. Não posso dizer isso. Não posso dizer que estes sacramentos são bons. Eles foram feitos pelos protestantes, eles foram feitos por Bugnini. E o próprio Bugnini disse, como podemos ler no Observatório Romano e na Documentation Catholique, que traduziram o discurso de Bugnini, de 19 de março de 1965, ou seja, antes de todas as reformas:
«Devemos tirar das nossas orações católicas e da liturgia católica tudo que possa ser sombra de choque para nossos irmãos separados, quero dizer, para os protestantes».
Será possível que se tenha de ir perguntar aos protestantes, sobre o Santo Sacrifício da Missa, dos sacramentos, de nossas orações, do nosso catecismo: em que vocês não estão de acordo? Vocês não gostam disso ou daquilo? Bom, vamos suprimir.
Não é possível. Talvez não nos tornemos heréticos, mas a fé católica será diminuída. É assim que não se acredita mais no limbo, no purgatório, no inferno. Não se acredita mais no pecado original, nem nos anjos. Não se acredita mais na graça, não se fala mais do sobrenatural. É o fim da nossa fé.
Então devemos manter inteiramente nossa fé e rezar à Santíssima Virgem porque, por nós mesmos... é um trabalho de gigantes que nós queremos realizar, e sem o socorro do Bom Deus não conseguiremos. Dou-me conta da minha fraqueza, do meu isolamento. O que posso fazer sozinho diante do Papa? Diante dos cardeais? Não sei. Vou como um peregrino, com meu cajado de peregrino. Vou dizer: guardem a fé, guardem a fé. Sejam mártires mas não abandonem a fé. É preciso manter os sacramentos e o Santo Sacrifício da Missa.
Não podemos dizer: ah! você sabe, se mudou não faz mal. Eu tenho a fé bem enraizada e não corro o risco de perder a fé.
Percebemos que os que estão habituados a freqüentar a nova missa e os novos sacramentos, pouco a pouco mudam de mentalidade. Alguns anos mais tarde, conversando com alguém que vai nessa nova missa, nessa missa ecumênica, percebemos que adotou o espírito ecumênico. Termina-se colocando todas as religiões no mesmo plano. Podemos perguntar-lhe: pode-se salvar pelo protestantismo, pelo budismo, pelo islamismo? Ele responderá: mas claro, todas as religiões são boas. E pronto! Tornou-se um liberal, protestante. Não é mais católico.
Só existe uma religião, não há duas. Se Nosso Senhor é Deus e se Deus fundou uma religião, a religião Católica, não pode haver outras religiões, não é possível. As outras religiões são falsas. É por isso que o Cardeal Ottaviani disse: «Da tolerância religiosa». Tolera-se os erros porque não se pode impedir que eles se espalhem. Mas não se os coloca em pé de igualdade com a Verdade. Ou então se acaba com o espírito missionário. Se todas essas falsas religiões salvam, então porque sair em missão, para quê? Deixem-nos em suas religiões e eles vão se salvar...Não é possível. O que fez a Igreja durante vinte séculos? Porque todos esses mártires? Porque todos os que foram massacrados nas missões? Os missionários perderam seu tempo, perderam seu sangue, perderam suas vidas! Não podemos aceitar isso.
Precisamos permanecer católicos e é muito perigoso escorregar no ecumenismo e embarcar numa religião que não é mais católica.
Desejo vivamente que todos sejam testemunhas de Nosso Senhor, da Igreja Católica, testemunhas do Papa, da Catolicidade, mesmo se devemos ser desprezados, insultados nos jornais, nas paróquias, nas igrejas. E daí! Somos as testemunhas da Igreja Católica, os verdadeiros filhos da Igreja Católica e os verdadeiros filhos da Santíssima Virgem Maria.