Category: Santo Tomás de Aquino
(Infra, q. 29, a . 1).
O primeiro discute-se assim. ― Parece que o bem não é a causa única do amor.
1. ― Pois, o bem não é a causa do amor senão porque é amado. Ora, acontece que também o mal é amado, conforme a Escritura (Sl 10, 6): aquele porém que ama a iniqüidade aborrece a sua alma; do contrário, todo amor seria bom. Logo, nem só o bem é causa do amor.
2. Demais. ― O Filósofo diz: amamos os que confessam os seus próprios vícios. Logo, o mal é causa do amor.
Em seguida devemos tratar da causa do amor.
E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
(I, q. 60, a . 3; IIªº. q. 23, a . 1; II Sent., III, part. II, q. 3: III, dist. XXIX, a . 3; IV, dist. XLIX, q. 1, a . 2, qª 1, ad 3; De Virtut., q., q. 4, a . 3; De Div. Nom., cap. IV, Lect. IX, X).
O quarto discute-se assim. ― Parece que não é conveniente a divisão do amor em amor de amizade e de concupiscência.
1. ― Pois, ao passo que o amor é uma paixão, a amizade é um hábito, como diz o Filósofo. Ora, o hábito não pode ser parte em que se divide a paixão. Logo, não é conveniente dividir-se o amor em amor de concupiscência e de amizade.
(I Sent., dist. X, Expos. Litt., III, dist. XXVII, q. 2, a . 1; De Div. Nom., cap. IV, lect IX).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que o amor é o mesmo que a dileção.
1. ― Pois, diz Dionísio, que o amor está para a dileção como quatro para duas vezes dois e o retilíneo, para o que tem linhas retas. Ora, estas expressões são idênticas. Logo, idênticos também hão-de ser o amor e a dileção.
2. Demais. ― Os movimentos apetitivos diferem pelos seus objetos. Ora, o objeto da dileção e do amor é o mesmo. Logo, aquela e este se identificam.
O segundo discute-se assim. ― Parece que o amor não é paixão.
1. ― Pois, nenhuma virtude é paixão. Ora, todo amor é virtude, de algum modo, como diz Dionísio. Logo, o amor não é paixão.
2. Demais. ― O amor é uma união ou nexo, segundo Agostinho. Ora, união e nexo são antes relação que paixão. Logo, o amor não é paixão.
3. Demais. ― Damasceno diz que a paixão é um certo movimento. Ora, o amor não implica o movimento do apetite, que é o desejo, mas o princípio desse movimento. Logo, não é paixão.
(III Sent., dist. XXVI, q. 2, a . 1; dist. XXVII, q. 1, a . 2).
O primeiro discute-se assim. ― Parece que o amor não pertence ao concupiscível.
1. ― Pois, diz a Escritura (Sb 8, 2): A esta, i. é, à sabedoria, eu amei e requestei desde a minha mocidade. Ora, o concupiscível, sendo parte do apetite sensitivo, não pode tender para a sabedoria, que não é compreendida pelo sentido. Logo, o amor não pertence ao concupiscível.
Em seguida devemos tratar das paixões da alma em especial. E primeiro, das do concupiscível. Segundo, das do irascível.
O primeiro estudo será tripartido. Assim, primeiro, trataremos do amor e do ódio. Segundo, da concupiscência e da aversão. Terceiro, do prazer e da tristeza.
Sobre o amor há três pontos a se considerarem. Primeiro, do amor em si mesmo. Segundo, da causa do amor. Terceiro, dos seus efeitos.
Sobre a primeira questão quatro artigos se discutem:
(IIª. IIªº, q. 158, a . 1; IV Sent.,dist. XV, q. 2, a . 1, qª 1, ad 4; dist. L, q. 2, a . 4, qª 3, ad3; De Malo, q. 10, a . 1).
O quarto discute-se assim. ― Parece que nenhuma paixão da alma é a na sua espécie moralmente boa ou má.
1. ― Pois, o bem e o mal moral dependem da razão. Ora, as paixões, pertencendo ao apetite sensitivo, tem relações acidentais com a razão. Ora, como nada do que é acidental pertence a qualquer espécie de ser, resulta que nenhuma paixão é especificamente boa ou má.
(De Verit., q. 26, a . 7; De Malo, q. 3, a . 11; q. 12, a . 1).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que toda paixão sempre diminui a bondade do ato moral.
1. ― Pois, tudo o que empece o juízo da razão, do qual depende a bondade do ato moral, há necessariamente de diminuir esta bondade. Ora, toda paixão impede tal juízo, conforme diz Salústio: Todos os homens que deliberam sobre coisas duvidosas convém sejam isentos do ódio, da ira, da amizade e da misericórdia. Logo, toda paixão diminui a bondade do ato moral.
(Infra, q. 59, a . 2; De Malo, q. 12 a . 1).
O segundo discute-se assim. ― Parece que todas as paixões da alma são moralmente más.
1. ― Pois, diz Agostinho: certos denominam as paixões doenças ou perturbações da alma. Ora, toda doença ou perturbação da alma é um mal moral. Logo, todas as paixões são moralmente más.
2. Demais. ― Damasceno diz: a operação é um movimento conforme à natureza, e a paixão, contrário. Ora, o que encontra a natureza, nos movimentos da alma, se equipara ao pecado e ao mal moral; e por isso o mesmo autor diz, noutro passo, que o diabo caiu de um estado natural para outro, contrário à natureza. Logo, as paixões são moralmente más.