Category: Santo Tomás de Aquino
(III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1).
O sexto discute-se assim. ― Parece que o amante não faz tudo por amor.
1. ― Pois, o amor é uma paixão, como dissemos. Mas, nem tudo o que faz o homem o faz por paixão; mas certas coisas, por eleição e certas, por ignorância, como diz Aristóteles. Logo, nem tudo o homem faz por amor.
2. Demais. ― O apetite é princípio de movimento e da ação em todos os animais, como diz Aristóteles. Se pois tudo fazemos por amor, serão supérfluas as outras paixões da parte apetitiva.
(III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1, ad 4).
O quinto discute-se assim. ― Parece que o amor é uma paixão lesiva.
1. ― Pois, o desfalecimento ou langor manifesta uma certa lesão de quem desfalece. Ora, o amor causa desfalecimento ou langor, conforme a Escritura (Ct 2, 5): Acudi-me com confortativos de flores, trazei-me pomos que me alentem, porque desfaleço de amor. Logo, o amor é uma paixão lesiva.
2. Demais. ― Derreter-se é quase dissolver-se. Ora, o amor causa derretimento, conforme a Escritura (Ct 5, 6): A minha alma se derreteu assim que ele (o meu amado) falou. Logo, o amor, causando derretimento, é corruptivo e lesivo.
(In Ioann., cap. II, lect. II; Cor., cap. XIV; lect. I; II, cap. XI, lect 1).
O quarto discute-se assim. ― Parece que o zelo não é efeito do amor.
1. ― Pois, o zelo é princípio da contenção, e por isso diz a Escritura (1 Cor 3, 3): Por quanto, havendo entre vós zelos e contendas, etc. Ora, a contenção repugna ao amor. Logo, o zelo não é efeito do amor.
(IIª-IIªº, q. 175, a . 2; III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1 ad 4; II Cor., cap. XII, lect. I; De Div.Nom., cap. IV, lect X).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que o êxtase não é efeito do amor.
1. ― Pois, o êxtase implica uma certa alienação. Ora, esta nem sempre a produz o amor, pois os amantes são por vezes senhores de si. Logo, o amor não produz o êxtase.
2. Demais. ― O amante deseja que o amado lhe esteja unido. Por onde, antes o atrai para si do que tende para ele, saindo fora de si.
(III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1 ad 4).
O segundo discute-se assim. ― Parece que o amor não causa a mútua inerência, i. é, não faz com que o amante esteja no amado e reciprocamente.
1. ― Pois, o que está em outro ser é contido por este. Ora, o continente não se identifica com o conteúdo. Logo, o amor não pode causar a mútua inerência, de modo que o amado esteja no amante e reciprocamente.
2. Demais. ― Não podemos penetrar no íntimo de um ser íntegro senão dividindo-o. Ora, dividir coisas realmente unidas não pertence ao apetite, no qual tem sua sede o amor, mas à razão. Logo, a mútua inerência não é efeito do amor.
(I, q. 20, a . 1, ad 3; supra, q. 25, a . 2, ad 2; III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1; De Div. Nom., cap. IV, lect. XII).
O primeiro discute-se assim. ― Parece que a união não é efeito do amor.
1. ― Pois, a ausência repugna à união. Ora, o amor é compatível com a ausência, conforme o amor é compatível com a ausência, conforme se vê no Apóstolo (Gl 4, 18): Sede pois zelosos do bem sempre, referindo-se a si mesmo, como explica a Glosa, e não só quando eu estou presente convosco. Logo, não é a união um efeito do amor.
Em seguida devemos tratar dos efeitos do amor. E sobre esta questão seis artigos se discutem:
O quarto discute-se assim. ― Parece que outras paixões também podem ser causa do amor.
1. ― Pois, diz o Filósofo, que certos são amados por prazer. Ora, o prazer é uma paixão. Logo, outras paixões também podem ser causa de amor.
2. Demais. ― O desejo é uma paixão. Ora, podemos amar a outrem por desejo de algo que deles esperamos, como bem se vê em toda amizade fundada na utilidade. Logo, há outras paixões que podem ser causa do amor.
3. Demais. ― Agostinho diz: Quem já não nutre esperanças de alcançar uma certa coisa, ou a ama fracamente, ou absolutamente não a ama, embora reconheça quão bela seja. Logo, a esperança também é causa do amor.
(III Sent., dist. XXVII, q. 1, a . 1, ad 3; De hebdom., lect. I; In Ioann., cap. XV, lect. IV; VIII Ethic., lect. I).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que a semelhança não é a causa do amor.
1. ― Pois, os contrários não podem ter a mesma causa. Ora, a semelhança é causa do ódio, porquanto, diz a Escritura (Pr 13, 10): Entre os soberbos sempre há contendas; e o Filósofo diz, que os oleiros rixam uns com os outros. Logo, a semelhança não é causa do amor.
(IIª IIªe, q. 26, a . 2, ad 1; I Sent., dist. XV, q. 4, a . 1, a . 3).
O segundo discute-se assim. ― Parece que o conhecimento não é causa do amor.
1. ― Pois, por amor é que buscamos alguma coisa. Ora, buscamos coisas que não conhecemos, como as ciências, pois que, sendo o possuí-las o mesmo que conhecê-las, conforme Agostinho, quando as conhecemos as possuímos e já não as buscamos. Logo, o conhecimento não é causa do amor.
2. Demais. ― A razão que nos leva a amar o conhecimento faz com que mais o amemos, quando o conhecemos. Ora, certos seres são mais amados que conhecidos; p. ex., Deus, que nesta vida pode ser amado em si mesmo sem ser contudo em si mesmo conhecido. Logo, o conhecimento não é causa do amor.