Category: Santo Tomás de Aquino
O oitavo discute-se assim. ― Parece que o grau de bondade da vontade depende do grau de bondade da intenção.
1. ― Pois, a propósito do passo de Mateus (12, 35) ― O homem bom do bom tesouro tira boas coisas ― diz a Glosa: Cada um faz tanto bem quanto tenciona fazer. Ora, a intenção dá a bondade não só ao ato externo como também à vontade, segundo já se disse. Logo, o grau da vontade boa é relativo ao da intenção.
2. Demais. ― Se a causa aumenta, o efeito também aumenta. Ora, a bondade da intenção é a causa de a vontade ser boa. Logo, quanto mais tivermos a intenção do bem tanto mais será a vontade boa.
(II Sent., dist. XXXVIII, a . 4, 5).
O sétimo discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende do fim intencional.
1. ― Pois, como já se disse, a bondade da vontade depende só do objeto. Ora, em relação aos meios, um é o objeto da vontade e outro, o fim visado. Logo, em relação a eles, a bondade da vontade não depende do fim intencional.
2. Demais. ― É próprio da vontade boa querer observar o mandamento de Deus. Ora, isso pode referir-se a um mau fim, p. ex., a vanglória ou a cobiça, quando se quer obedecer a Deus para conseguir bens temporais. Logo, a bondade da vontade não depende do fim intencional.
(De Verit., q. 17, a . 3, ad 4; Quodl.III, q. 12, a . 2; VIII, 1. 6, a . 3, 5; IX, q. 7, a . 2).
O sexto discute-se assim. ― Parece que a vontade concorde com a razão errônea é boa.
1. ― Pois, assim como a vontade discordante da razão busca o que esta considera mau, assim a concorde busca o que a razão considera bom. Ora, a vontade que discorda da razão, ainda má, é má. Logo, a concorde com a razão, ainda errônea, é boa.
2. Demais. ― A vontade concorde com o preceito de Deus e com a lei eterna é sempre boa. Ora, esta e aquela são-nos propostos pela apreensão da razão, ainda errônea. Logo, a vontade que com esta concorda é boa.
(II Sent., dist. XXXIX., q. 3, a . 3; De Verit., q. 17, a . 4; Quodl. III, q. 12 a . 2; VIII, q. 6, a . 3; IX, q. 7, a . 2; Rom., cap XIV, lect. II; Galat., cap. V, lect. I).
O quinto discute-se assim. ― Parece que a vontade discordante da razão errônea não é má.
1. ― Pois, a razão, enquanto derivada da lei eterna, é a regra da vontade humana, como se disse. Ora, dessa lei não deriva a razão errônea, que portanto não pode ser regra da vontade humana. Logo, não é má a vontade discordante da razão errônea.
O quarto discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade humana não depende da lei eterna.
1. ― Pois, o que é medido só pode sê-lo por uma regra e uma medida. Ora, a regra da vontade humana, da qual depende a sua bondade, é a razão reta. Logo, essa bondade não depende da lei eterna.
2. Demais. ― A medida deve ser homogênea com o medido, como diz Aristóteles. Ora, a lei eterna não é homogênea com a vontade humana. Logo, não lhe pode servir de medida, a ponto de dela depender a sua bondade.
3. Demais. ― Da medida devemos estar certíssimos. Ora, a lei eterna nos é desconhecida. Logo, não pode ser a medida da nossa vontade, a ponto de a sua bondade dela depender.
O terceiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende da razão.
1. ― Pois, o anterior não depende do posterior. Ora, o bem pertence, antes, à vontade que à razão, como do sobredito resulta. Logo, o bem da vontade não depende da razão.
2. Demais. ― Como diz o Filósofo, a bondade do intelecto prático é a verdade conforme ao apetite reto. Ora, este é a vontade boa. Logo, a bondade da razão prática depende, mais, daquela da vontade, do que inversamente.
3. Demais. ― O motor não depende do que é movido, mas inversamente. Ora, a vontade move a razão e as demais faculdades, como se disse. Logo, a bondade da vontade não depende da razão.
O segundo discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende só do objeto.
1. ― Pois, o fim tem mais afinidade com a vontade do que com outra potência. Ora, os atos das outras potências recebem a sua bondade, não só do objeto, mas também do fim, como do sobredito resulta. Logo, também a vontade recebe a sua, não do objeto, mas do fim.
2. Demais. ― A bondade de um ato provém não só do objeto mas também das circunstâncias, como já se disse. Ora, a diferença de bondade e malícia no ato da vontade varia com a diversidade das circunstâncias; assim, se queremos alguma coisa quando, onde, quanto e como devemos ou não devemos querer. Logo, a bondade da vontade depende não só do objeto, mas também das circunstâncias.
O primeiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende do seu objeto.
1. ― Pois, a vontade só pode querer o bem, porquanto, o mal lhe é contrário, como diz Dionísio. Se portanto a bondade da vontade dependesse do seu objeto, resultaria que toda vontade seria boa e má, nenhuma.
2. Demais. ― O bem principal é do fim; e por isso a bondade deste, como tal, não depende de nada. Ora, segundo o Filósofo, a ação boa é um fim, embora a produção nunca o seja porque sempre se ordena, à coisa produzida, como ao fim. Logo, a bondade da vontade não depende de nenhum objeto.
Em seguida devemos tratar da bondade do ato interior da vontade.
E sobre esta questão, dez artigos se discutem:
(Infra, q. 73, a . 7; IV Sent., dist. XVI, q. 3, a . 2, qª3; De Malo, q. 2, a . 7).
O undécimo discute-se assim. ― Parece que toda circunstância referente à bondade ou malícia especifica um ato.
1. ― Pois o bem e o mal são diferenças específicas dos atos morais. Por onde, o que causa uma diferença na bondade ou malícia do ato moral também a causa na diferença específica. Ora, tudo o que aumenta a bondade ou malícia de um ato, fá-lo diferir, sob este aspecto, e portanto especificamente. Logo, toda circunstância que aumenta a bondade ou malícia de um ato especifica-o.