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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Questão 21: Das conseqüências dos atos humanos em razão da bondade ou da malícia deles.

Em seguida devemos tratar das conseqüências dos atos humanos em razão da bondade ou da malícia deles.
 
E sobre esta questão quatro artigos se discutem:

 

Art. 6 ― Se um mesmo ato pode ser bom e mau.

(II Sent., dist. XL, a . 4).
 
O sexto discute-se assim. Parece que um mesmo ato pode ser bom e mau.
 
1. Pois, é uno o movimento contínuo, como diz Aristóteles1. Ora, o mesmo movimento contínuo pode ser bom e mau; p. ex., se alguém vai à igreja continuamente, antes por vanglória, que para servir a Deus. Logo, o mesmo ato pode ser bom e mau.
 
2. Demais. Segundo o Filósofo, ação e paixão constituem um mesmo ato2. Ora aquela pode ser boa, como a de Cristo, e esta, má, como a dos Judeus. Logo, um mesmo ato pode se bom e mau.
 

  1. 1. V Phys., lect. VII.
  2. 2. III Phys., lect. IV.

Art. 5 ― Se as conseqüências de um ato aumentam-lhe a bondade ou a malícia.

(Infra, q. 73, a . 8; De Malo, q. 1, a . 3, ad15; q. 3, a . 10, ad 5).
 
O quinto discute-se assim. ― Parece que as conseqüências de um ato aumentam-lhe a bondade ou a malícia.
 
1. ― Pois, o efeito preexiste na causa virtualmente. Ora, as conseqüências resultando dos atos como os efeitos, das causas, preexistem neles virtualmente. Mas uma coisa é considerada boa ou ma pela virtude, porque, como diz Aristóteles, a virtude torna bom quem a possui1. Logo, as conseqüências aumentam a bondade ou a malícia do ato.
 
2. Demais. ― O bem feito pelos ouvintes são efeitos conseqüentes à predicação do doutor. Ora, tal bem redunda em mérito do pregador, como se vê claramente na Escritura (Fl 4, 1): Meus muito amados e desejados irmãos, gosto meu e coroa minha. Logo, as conseqüências de um ato aumentam-lhe a bondade ou a malícia.

  1. 1. II Ethic., lect. VI.

Art. 4 ― Se o ato exterior aumenta a bondade ou a malícia do ato interior.

(II Sent., dist. XL, a . 3; De Malo, q. 2, a . 2, ad 8).
 
O quarto discute-se assim. ― Parece que o ato exterior não aumenta a bondade ou a malícia do ato interior.
 
1. ― Pois, diz Crisóstomo: É a vontade a recompensada pelo bem e condenada pelo mal1. Ora, as obras são os testemunhos da vontade. Logo, Deus não as quer em si mesmas, para saber como julgar, mas por causa dos outros, afim de que todos entendam que ele é justo. Ora, como devemos apreciar o bem e o mal, antes pelo juízo de Deus, que pelo dos homens, o ato exterior não aumenta a bondade nem a malícia do ato interior.
 

  1. 1. Super Math., hom. XIX.

Art. 3 ― Se o ato interior da vontade e os atos exteriores tem a mesma bondade ou malícia.

O terceiro discute-se assim. ― Parece que o ato interior da vontade e os atos exteriores não tem a mesma bondade ou malícia.
 
1. ― Pois, o princípio do ato interior é a potência da alma interior, apreensiva ou apetitiva; ao passo que o do ato exterior é a potência executora do movimento. Ora, onde há princípios diversos de ação há atos diversos. O ato porém é o sujeito da bondade ou da malícia. Ora, como o mesmo acidente não pode estar em sujeitos diversos, não pode ter a mesma bondade o ato interior e o exterior.
 
2. Demais. ― A virtude torna bom o homem e a sua obra, como diz Aristóteles1. Ora, uma é a virtude intelectual da potência que manda e outra, a virtude moral da potência que obedece, como se vê claramente no Filósofo2. Logo, uma é a bondade do ato interior, relativa à potência que manda, e outra, a do exterior, relativa à potência que obedece.
 

  1. 1. II Ethic., lect. VI.
  2. 2. I Ethic., lect. XX.

Art. 2 ― Se toda bondade e malícia do ato exterior depende da vontade.

(II Sent., dis. XL, a . 2).
 
O segundo discute-se assim. ― Parece que toda a bondade e malícia do ato exterior depende da vontade.
 
1. ― Pois, diz a Escritura (Mt 7, 18): Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Ora, por árvore se entende a vontade, e por fruto a sua obra, segundo a Glosa. Logo, não é possível a vontade interior ser boa e o ato exterior, mau, ou inversamente.
 
2. Demais. ― Agostinho diz que só a vontade pode pecar1. Logo, não havendo pecado nesta, também não haverá no ato exterior; portanto, toda bondade ou malícia deste daquela depende.
 

  1. 1. Lib. I Retract., cap. IX.

Art. 1 ― Se o bem e o mal está, primeiro, no ato exterior, que no ato da vontade.

(De Malo, q. 2, a . 3).
 
O primeiro discute-se assim. ― Parece que o bem e o mal estão primeiro no ato exterior que no ato da vontade.
 
1. ― Pois, a vontade tira a sua bondade do objeto, como já se disse1. Ora, o ato exterior é o objeto do ato interior da vontade; assim, falamos em querer o furto ou, dar esmola. Logo, o bem e o mal estão primeiro no ato exterior que no ato da vontade.
 
2. Demais. ― O bem se atribui primeiramente ao fim, porque a bondade dos meios deriva da do fim. Ora, o ato da vontade não pode ser fim, como já se disse2, ao passo que o pode o ato de qualquer outra potência. Logo, o bem está primeiro no ato de outra potência que no da vontade.
 

  1. 1. Q. 19, a. 1, 2.
  2. 2. Q. 1, a. 1 ad 2.

Questão 20: Da bondade e da malícia dos atos humanos exteriores.

Em seguida devemos tratar da bondade e da malícia dos atos humanos exteriores.
 
E sobre esta questão seis artigos se discutem:

 

Art. 10 ― Se a vontade humana, querendo um objeto, deve conformar-se sempre com a divina.

(I Sent., dist. XLVIII, a . 2, 3, 4; De Verit., q. 23, a . 8).
 
O décimo discute-se assim. ― Parece que a vontade humana, querendo um objeto, não deve sempre conformar-se com a divina.
 
1. ― Pois, não podemos querer o que ignoramos, porque o bem apreendido é o objeto da vontade. Ora, na mor parte das vezes, ignoramos o que Deus quer. Logo, a vontade humana não pode conformar-se com a divina, querendo um objeto.
 
2. Demais. ― Deus quer danar quem ele de ante-mão sabe que morrerá em pecado mortal. Se pois, o homem querendo um objeto, tivesse que conformar a sua vontade com a divina, teria de querer a própria danação, o que é inadmissível.
 

Art. 9 ― Se a bondade da vontade humana depende da sua conformidade com a divina.

(I Sent., dist. XLVIII, a . 1; De Verit., q. 23, a . 7).
 
O nono discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade humana não depende da sua conformidade com a divina.
 
1. ― Pois, é impossível a vontade humana conformar-se com a divina, segundo claramente diz a Escritura (Is 55, 9): Porque assim como os céus se levantam sobre a terra, assim se acham levantados os meus caminhos sobre os vossos caminhos, e os meus pensamentos sobre os vossos pensamentos. Se portanto para a bondade da vontade fosse necessária a sua conformidade com a vontade divina, resultaria que é impossível a vontade humana ser boa, o que é inadmissível.
 

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