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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Art. 2 ― Se a concupiscência é uma paixão especial da potência concupiscível.

(Supra, q. 23, a . 4; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3).
 
O segundo discute-se assim. ― Parece que a concupiscência não é uma paixão especial da potência concupiscível.
 
1. ― Pois, as paixões se distinguem pelos seus objetos. Ora, o objeto do concupiscível é o deleitável sensível, que também é o objeto da concupiscência, segundo o Filósofo1. Logo, a concupiscência não é uma paixão especial do concupiscível.
 

  1. 1. I Rhetor., cap. XI.

Art. 1 ― Se a concupiscência reside só no apetite sensitivo.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a concupiscência não reside só no apetite sensitivo.
 
1. ― Pois, há uma certa concupiscência da sabedoria, como diz a Escritura (Sb 6, 21): a concupiscência ou o desejo da sabedoria conduz ao reino eterno. Ora, o apetite sensitivo não pode se elevar até a sabedoria. Logo a concupiscência não reside só no apetite sensitivo.
 
2. Demais. ― O apetite sensitivo não tem desejo dos mandamentos de Deus; antes, o Apóstolo diz (Rm 7, 18): em mim quero dizer, na minha carne, não habita o bem. Ora, o desejo dos mandamentos de Deus está compreendido na concupiscência, conforme aquilo da Escritura (Sl 118, 20): A minha alma desejou ansiosa em todo tempo as tuas justificações. Logo, a concupiscência não reside só no apetite sensitivo.
 

Questão 30: Da concupiscência.

Em seguida devemos tratar da concupiscência. E sobre esta questão quatro artigos se discutem:

Art. 6 ― Se podemos odiar alguma coisa em universal.

(Infra, q. 46, a . 7, ad 3).
 
O sexto discute-se assim. ― Parece que não podemos odiar nada em universal.
 
1. ― Pois, o ódio é uma paixão do apetite sensitivo, movido pela apreensão sensível. Ora, os sentidos não podem apreender o universal. Logo, não podemos odiar nada em universal.
 
2. Demais. ― O ódio é causado por alguma dissonância, a qual repugna à comunidade. Ora, a comunidade entra em a noção do universal. Logo, não pode haver ódio de nada em universal.
 

Art. 5 ― Se podemos odiar a verdade.

O quinto discute-se assim. ― Parece que não podemos odiar a verdade.
 
1. ― Pois, o bem, o ser e a verdade entre si se convertem. Ora, ninguém pode odiar a bondade, e portanto a verdade.
 
2. Demais. ― Todos os homens desejam naturalmente saber, como diz Aristóteles1. Ora, ciência só a há do verdadeiro. Logo, a verdade é naturalmente desejada e amada. Mas o que num ser existe naturalmente existe sempre. Logo, ninguém pode odiar a verdade.
 
3. Demais. ― O Filósofo diz, que os homens amamos os que não são fingidos2. Ora, isto não é senão por causa do amor à verdade. Logo, o homem ama naturalmente a verdade, e portanto não a odeia.
 

  1. 1. Metaph., lect. I.
  2. 2. II Rhet., cap. IV.

Art. 4 ― Se podemos nos odiar a nós mesmos.

(IIª.IIªe, q. 25, a . 7; II Sent., dist XLII, q. 2, a . 2, qª, ad 2; III, q. XXVII, Expos. Litt; In Psalm., X; Ephes., cap. V, lect. IX).
 
O quarto discute-se assim. ― Parece que podemos nos odiar a nós mesmos.
 
1. ― Pois, diz a Escritura (Sl 10, 6): aquele que ama a iniqüidade aborrece a sua alma. Ora, muitos amam a iniqüidade. Logo, odeiam-se a si mesmos.
 
2. Demais. ― Odiamos a quem queremos e fazemos mal. Ora, certos, às vezes, querem e fazem mal a si mesmos, como p. ex., os suicidas. Logo, odeiam-se a si mesmos.
 

Art. 3 ― Se o ódio é mais forte que o amor.

O terceiro discute-se assim. ― Parece que o ódio é mais forte que o amor.
 
1. ― Pois, diz Agostinho: Não há ninguém que não fuja da dor mais do que deseja o prazer1. Ora, fugir da dor é próprio do ódio, ao passo que o desejo do prazer é próprio do amor. Logo, aquele é mais forte que este.
 
2. Demais. ― O mais débil é vencido pelo mais forte. Ora, quando o amor se converte no ódio é por este vencido. Logo, o ódio é mais forte que o amor.
 
3. Demais. ― As afeições da alma se manifestam pelos seus efeitos. Ora, o homem se aplica mais em repelir o odioso do que em buscar o amado, pois até mesmo os animais se abstêm do prazer por temor do açoite, como diz Agostinho2. Logo, o ódio é mais forte que o amor.
 

  1. 1. LXXXIII Quaestio., q. XXXVI.
  2. 2. Ibid.

Art. 2 ― Se o amor é causa do ódio.

(IV Cont. Gent., cap. XIX).
 
O segundo discute-se assim. ― Parece que o amor não é causa do ódio.
 
1. ― Pois, noções que por oposição se dividem são naturalmente simultâneas, como se diz1. Ora, o amor e o ódio, sendo contrários, dividem-se por oposição. Logo, são naturalmente simultâneos, e portanto o primeiro não é causa do segundo.
 
2. Demais. ― Um contrário não é causa do outro. Ora, amor e ódio são contrários. Logo, aquele não é causa deste.
 

  1. 1. Praedicamentis, cap. X.

Art. 1 ― Se o objeto e a causa do ódio é o mal.

(Infra, q. 46, a . 2).
 
O primeiro discute-se assim. ― Parece que o objeto e a causa do ódio não é o mal.
 
1. ― Pois, todo ente é como tal bom. Se pois o objeto do ódio é o mal, nenhuma coisa pode ser odiada, senão só algum defeito qualquer que tenha. Ora, isto é falso.
 
2. Demais. ― Odiar o mal é louvável; assim, a Escritura diz em louvor de certos (II Mc 3, 1), que as leis eram exatamente guardadas, por causa da piedade do pontífice Onias e do ódio que ele tinha no coração contra todo mal. Ora, se só o mal é odiado, resulta que todo ódio é louvável, o que é claramente falso.
 

Questão 29: Do ódio.

Em seguida devemos tratar do ódio. E sobre esta questão seis artigos se discutem:

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