Category: Santo Tomás de Aquino
O sétimo discute-se assim. ― Parece que nenhum prazer é inatural.
1. ― Pois, o prazer é, para os afetos da alma, o que o repouso é para os corpos. Ora, o apetite do corpo natural não repousa senão no seu lugar conatural. Logo, nem pode haver repouso do apetite animal, que é o prazer, senão em algo que lhe seja conatural. Logo, não há prazer inatural.
2. Demais. ― O contrário à natureza é violento. Ora, tudo o violento gera a tristeza, como diz Aristóteles. Logo, nada do que encontra a natureza pode ser deleitável.
(IIª.IIªº q. 141, a . 4; IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 5, qª 2; De Malo, q. 14, a . 4, ad 1).
O sexto discute-se assim. ― Parece que os prazeres do tato não são maiores que os dos outros sentidos.
1. ― Pois, é máximo o prazer sem o qual cessa toda alegria. Ora, tal é o prazer da vista, conforme o dito da Escritura (Tb 5, 12): Que alegria poderei eu ter, eu que sempre estou em trevas e que não vejo a luz do céu? Logo, o prazer da vista é o maior de todos os prazeres sensíveis.
2. Demais. ― Cada um acha prazer no que ama, diz Aristóteles. Ora, de todos os sentidos mais amamos o da vista. Logo, o prazer da vista é máximo.
(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 5, qª 1; In Psalm., XVIII; I Ethic., lect. XIII; XII Metaph., lect. VIII).
O quinto discute-se assim. ― Parece que os prazeres corpóreos e sensíveis são maiores que os espirituais e intelectuais.
1. ― Pois, todos procuramos algum prazer, segundo o Filósofo. Ora, o número dos que buscam os prazeres sensíveis é maior do que o dos que procuram os prazeres espirituais da inteligência. Logo, os prazeres corpóreos são mais intensos.
2. Demais. ― A grandeza da causa é conhecida pelo efeito. Ora, os prazeres corpóreos produzem efeitos mais fortes; pois, como diz o Filósofo: transmutam o corpo e produzem a insânia em alguns. Logo, os prazeres corpóreos são maiores.
(Infra, q. 35, a . 1; I Sent., dist. XLV, a . 1; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 1, 2).
O quarto discute-se assim. ― Parece que o prazer não reside no apetite intelectivo.
1. ― Pois, diz o Filósofo, que o prazer é um certo movimento sensível. Ora, movimento sensível não existe na potência intelectiva. Logo, o prazer não reside também nesta potência.
2. Demais. ― O prazer é uma paixão. Ora, toda paixão é própria do apetite sensitivo. Logo, só há prazer neste apetite.
3. Demais. ― O prazer nos é comum com os brutos. Logo, só reside na parte que também nos é comum com eles.
(Infra, q. 35, a . 2; III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 3; dist. XXVII, q. 1, a . 2 ad 3; IV, dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 4; I Cont. Gent., cap. XC; De Verit., q. 25, a . 4, ad 5).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.
1. ― Pois, as paixões da alma diferem pelos seus objetos. Ora, a alegria e o prazer tem o mesmo objeto, a saber, o bem adquirido. Logo, a alegria é absolutamente o mesmo que o prazer.
2. Demais. ― Um mesmo movimento não pode terminar em dois termos. Ora, é o mesmo movimento ― a concupiscência ― que termina na alegria e no prazer. Logo, o prazer e a alegria são absolutamente idênticos.
(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 3; De Verit., q. 8, a . 14, ad 2).
O segundo discute-se assim. ― Parece que o prazer se realiza no tempo.
1. ― Pois, o prazer é um movimento, como diz o Filósofo. Ora, todo movimento se realiza no tempo. Logo, também o prazer.
2. Demais. ― Chama-se diuturno ou moroso o que se realiza no tempo. Ora, certos prazeres se consideram morosos. Logo, o prazer se realiza no tempo.
3. Demais. ― As paixões da alma são do mesmo gênero. Ora, há certas que existem no tempo. Logo, também o prazer.
(Infra, q. 35, a . 1; IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 1)
O primeiro discute-se assim. ― Parece que prazer não é uma paixão.
1. ― Pois, Damasceno distingue a operação, da paixão, dizendo que a operação é um movimento segundo a natureza; a paixão porém é um movimento contra a natureza. Ora, o prazer é uma operação, como diz o Filósofo. Logo, o prazer não é uma paixão.
2. Demais. ― Sofrer é ser movido, como diz Aristóteles. Ora, o prazer consiste, não em ser movido, mas em tê-lo sido pois é causado pelo bem já adquirido. Logo, não é uma paixão.
Em seguida devemos tratar do prazer e da tristeza.
Sobre o prazer quatro questões devemos considerar. Primeira, do prazer em si mesmo. Segunda, das causas do prazer. Terceira, dos seus efeitos. Quarta, da sua bondade e malícia.
Sobre a primeira questão oito artigos se discutem:
O quarto discute-se assim. ― Parece que a concupiscência não é infinita.
1. ― Pois, o objeto da concupiscência é o bem, que exerce a função de fim. Ora, quem introduz o infinito exclui o fim, como diz Aristóteles. Logo, a concupiscência não pode ser infinita.
2. Demais. ― A concupiscência, procedendo do amor, busca o bem conveniente. Ora, o infinito, sendo desproporcionado, não pode ser conveniente. Logo, a concupiscência não pode ser infinita.
3. Demais. ― Não podendo percorrer o infinito, não podemos portanto, chegar-lhe ao último termo. Ora, a concupiscência, atingindo o objeto último, transforma-se em deleitação. Logo, se a concupiscência fosse infinita nunca se transformaria na deleitação.
(Infra, q. 41, a. 3; q. 77, a . 5).
O terceiro discute-se assim. ― Parece que não são certas concupiscências naturais e outras, não-naturais.
1. ― Pois, a concupiscência pertence ao apetite animal, como já se disse. Ora, o apetite natural se divide por oposição com o animal. Logo, nenhuma concupiscência é natural.
2. Demais. ― A diversidade material não produz a diversidade específica, mas só a numérica, e não é compreendida no domínio da arte. Ora, se há concupiscências naturais e não-naturais, elas não diferem senão pelos seus objetos, o que produz a diferença material e numérica somente. Logo, as concupiscências não dividem em naturais e não-naturais.