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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Art. 3 — Se é necessário para este sacramento ser válido que a sua matéria, a crisma, tenha sido primeiro consagrado pelo bispo.

O terceiro discute-se assim. — Parece não ser necessário, para este sacramento ser válido que a sua matéria, a crisma, tenha sido primei­ro consagrado pelo bispo.
 
1. — Pois, o batismo, que produz a plena remissão dos pecados não tem menor eficácia que este sacramento. Ora, embora uma certa santificação seja lançada sobre a água batismal antes do batismo, não é contudo necessária para a validade do sacramento: pois em artigo de necessidade pode ser omitida. Logo, não é de necessidade para este sacramento que a crisma tenha sido antes consagrado pelo bispo.
 
2. Demais. — Uma mesma coisa não deve ser consagrada duas vezes. Ora, a matéria do sacramento é santificada na colação mesma dele, pela forma das palavras por que se confere o sacramento. Por isso Agostinho diz: Acrescenta-se a palavra ao elemento e forma-se o sacramento. Logo a crisma não deve ser con­servado antes de ser esse sacramento conferido.
 
3. Demais. — Toda consagração feita nos sacramentos se ordena à consecução da graça. Ora, a matéria sensível preparada com óleo e bálsamo não é capaz da graça. Logo, não se lhe deve lançar nenhuma consagração.
 
Mas, em contrário, Inocêncio Papa diz: Aos presbíteros, quando batizam, seja-lhes lícito ungir com a crisma os batizados, que foi consa­grado pelo bispo; mas não ungir a fronte com o mesmo óleo, o que só podem fazer os bispos quando conferem o Paráclito; o que se faz pela confirmação. Logo, é necessário que a matéria deste sacramento seja primeiro consagrada pelo bispo.
 
SOLUÇÃO. — A santificação dos sacramentos deriva totalmente de Cristo, como dissemos. Mas devemos considerar que Cristo usou de cer­tos sacramentos que têm matéria sensível, como o batismo e também a Eucaristia. Por isso, pelo uso mesmo de Cristo, as matérias desses sacra­mentos receberam a aptidão para dar ao sacra­mento a sua plenitude. Por onde, diz Crisósto­mo (Cromácio): Nunca as águas do batismo poderiam purificar os pecados dos crentes, se não fossem santificadas pelo contato do corpo do Senhor. Do mesmo modo, o próprio Senhor, tomou o pão e o benzeu; e semelhantemente tomou o cálice, como referem os Evangelhos. E por isso não é necessário, para a validade desses sacramentos, que a matéria seja benta antes, porque basta a bênção de Cristo. E qualquer bênção que se lhe acrescente é para a solenidade do sacramento, mas não para a sua validade. ­De unções visíveis porem Cristo não usou a fim de não menoscabar a unção invisível, pela qual foi ungido, sobre os seus companheiros. Por onde, tanto o crisma como o óleo santo e o óleo dos enfermos são bentos antes de virem ao uso do sacramento.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A resposta resulta do que acaba de ser dito.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — As duas consagra­ções da crisma não têm o mesmo fim. Pois, assim como um instrumento de dois modos adquire a sua virtude instrumental — quando recebe a forma de instrumento e quando mo­vido pelo agente principal, assim também a ma­téria do sacramento necessita de dupla santi­ficação, por uma das quais se torna a matéria própria do sacramento e pela outra é aplicada à produção do efeito.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A matéria corpórea não é capaz de graça, como sujeito, mas só como instrumento da graça conforme dissemos. E para isso é consagrada a matéria do sacramento, ou pelo próprio Cristo, ou pelo bispo, represen­tante na Igreja da pessoa de Cristo.

Art. 2 — Se o crisma é a matéria conveniente deste sacramento.

O segundo discute-se assim. — Parece que a crisma não é a matéria conveniente deste sacra­mento.
 
1. — Pois, este sacramento foi instituído por Cristo, quando prometeu aos discípulos o Espírito Santo. Ora, ele próprio enviou-lhes o Espírito Santo sem fazer nenhuma unção do Crisma. E também os Apóstolos conferiam este sacramen­to pela só imposição das mãos, sem crisma. Assim, diz a Escritura, que os Apóstolos punham as mãos sobre os batizados e estes recebiam o Espírito Santo. Logo, o crisma não é a matéria deste sacramento, porque a matéria é necessária para o sacramento ser válido.
 
2. Demais. — A confirmação de certo modo completa o sacramento do batismo, como se disse; e assim deve conformar-se com ele como a perfeição com o perfectível. Ora, a matéria do batismo é a água, elemento simples. Logo, a crisma, feito de óleo e de bálsamo, não é a ma­téria conveniente deste sacramento.
 
3. Demais. — O óleo é tomado, na matéria deste sacramento, para ungir. Ora, com qualquer óleo se pode ungir, por exemplo, com o óleo de nozes ou de qualquer outra matéria. Logo, não é só o óleo de azeitonas que deve ser tomado para esse sacramento.
 
4. Demais. — Como se disse, a água é to­mada como matéria para o batismo, porque em toda parte se encontra facilmente. Ora, o óleo de azeitonas não se encontra em toda parte, e muito menos o bálsamo. Logo, a crisma, com­posto dessas duas matérias, não é a matéria con­veniente deste sacramento.
 
Mas, em contrário, Gregório diz: Os sacerdotes não se permitam assinalar com o santo crisma a fronte das crianças que acabam de ser batizadas. Logo, a crisma é a matéria deste sa­cramento.
 
SOLUÇÃO. — A crisma é a matéria convenien­te deste sacramento. Pois, como se disse, ele confere a plenitude do Espírito Santo, para ter­mos a força espiritual da idade perfeita. Ora, quando chegamos à idade perfeita, já começamos a comunicar com os outros pelos nossos atos, ao passo que antes como que vivíamos particular­mente só para nós. Ora, a graça do Espírito Santo é significada pelo óleo; por isso a Escritura diz que Cristo foi ungido com o óleo da alegria, por causa da plenitude do Espírito Santo, que tinha. Por isso é o óleo a matéria própria deste sacramento. Mas é misturado com o bálsamo por causa da fragrância do odor que este exala. Donde o dizer o Apóstolo: Somos o bom odor de Cristo. E embora haja muitas outras matérias odoríferas, contudo o bálsamo é preferido pela excelência do seu perfume e por ser incorruptível. Dai o dizer na Escritura: A minha fragrância é como a do bálsamo sem mistura.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Cristo pelo seu poder de excelência comunicou aos Apóstolos, sem intermediário do rito sacra­mental, o fruto da confirmação, que é a pleni­tude do Espírito Santo, porque, como diz o Após­tolo, eles receberam as primícias do Espírito Santo. — Contudo, os sinais exteriores que acom­panharam essa colação aos Apóstolos não foram sem analogia com a matéria deste sacramento. Pois, o fato de ter o Espírito Santo descido sen­sivelmente sobre eles em forma de fogo, prende-­se à mesma significação a que se prende o óleo: salvo que o fogo tem uma virtude ativa, e o óleo, passiva, enquanto matéria e fomento do fogo. Diferença bastante legitima, pois, pelos Apóstolos a graça do Espírito Santo devia deri­var para os outros. — Também sobre os Apóstolos o Espírito Santo desceu em forma de língua, o que se prende à mesma significação, que signi­ficava o bálsamo. Salvo que a língua nos põe em comunicação com outrem pela locução, e o bál­samo pelo odor. Porque os Apóstolos foram cheios do Espírito Santo como doutores da fé, ao passo que os outros fiéis, como causadores da edificação dos fiéis. — Semelhantemente, pela imposição das mãos dos Apóstolos bem como pela pregação deles, a plenitude do Espírito Santo descia sobre os fiéis sob sinais visíveis, como no princípio descera sobre os Apóstolos. Por isso Pedra diz: Como eu tivesse começado a falar, desceu o Espírito Santo sobre eles, assim como tinha descido sobre nós no princípio. — Por onde, não era necessária uma sensível matéria sacra­mental, quando eram miraculosamente manifes­tados sinais sensíveis da divindade. — Mas os Apóstolos usavam comumente da crisma ao con­ferir o sacramento, quando não se manifesta­vam esses sinais sensíveis. Assim, diz Dionísio: Há uma operação perfectiva, a que os nossos chefes, isto é, os Apóstolos, chamam hóstia do crisma.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — O batismo é confe­rido para alcançarmos pura e simplesmente a vida espiritual; por isso a matéria desse sacra­mento deve ser simples. Mas esse sacramento é conferido para conseguirmos a plenitude do Es­pírito Santo, cuja operação é multiforme, segun­do aquilo da Escritura: Há nele um espírito de inteligência santo, único, múltiplice. E o Após­tolo: Há, pois, repartição de graças, mas um mesmo é o Espírito. Por isso, a matéria desse sacramento é acertadamente composta.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — As propriedades do óleo, que significam o Espírito Santo, se encon­tram antes no óleo da oliveira do que em qual­quer outro óleo. Por isso a própria oliveira, de frondes sempre viridentes, significa a viridência e a misericórdia do Espírito Santo. - Demais, esse óleo é o óleo por excelência e o empregado de preferência em toda parte onde é encontrado. E qualquer outro licor é chamado óleo por semelhança com ele; nem é de uso comum senão como suplemento para aqueles a quem falta o óleo da oliveira. Por isso esse óleo só é o usado neste e em certos outros sacramentos.
 
RESPOSTA À QUARTA. — O batismo é um sa­cramento de absoluta necessidade, por isso a sua matéria deve ser encontrada em toda parte. Mas basta que a matéria deste sacramento, que não é de tão grande necessidade, possa ser le­vada facilmente a todos os lugares da terra.

Art. 1 — Se a confirmação é um sacramento.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a confirmação não é um sacramento.
 
1. — Pois. os sacramentos tiram a sua efi­cácia da instituição divina, como se disse. Ora, em nenhum lugar se lê que Cristo tivesse instituído a confirmação. Logo, não é sacramento.
 
2. Demais. — Os sacramentos da Lei Nova estavam prefigurados na Velha. Por isso diz o Apóstolo: Todos foram batizados debaixo da conduta de Moisés na nuvem e no mar, e todos comeram de um mesmo manjar espiritual e to­dos beberam de uma mesma bebida espiritual. Ora, a confirmação não foi prefigurada no Tes­tamento Velho. Logo, não é um sacramento.
 
3. Demais. — Os sacramentos se ordenam à nossa salvação. Ora, podemos nos salvar sem a confirmação; assim as crianças batizadas, mortas sem confirmação, salvam-se. Logo, a confirmação não é um sacramento.
 
4. Demais. — Por todos os sacramentos da Igreja o homem se conforma com Cristo autor deles. Ora, pela confirmação não pode os nos conformar com Cristo, de quem não lemos que fosse confirmado.
 
Mas, em contrário, Melquíades Papa escreve aos bispos da Espanha: Quanto à questão sobre a qual me pedistes informações, a saber, se é maior sacramento a imposição das mãos pelo bispo ou o batismo, sabei que são ambos grandes sacramentos.
 
SOLUÇÃO. — Os sacramentos da lei nova, ordenam-se a efeitos especiais da graça. Por onde, cada efeito especial da graça se ordena um sa­cramento especial. Mas como as coisas sensíveis e corpóreas geram semelhanças das espirituais e inteligíveis, pelo que se passa na vida material podemos perceber o que é especial à vida espi­ritual. Ora, é manifesto que é uma perfeição especial da vida do corpo o chegar o homem à idade perfeita e poder fazer ações perfeitas. Por isso o Apóstolo diz: Depois que eu cheguei a ser homem jeito, dei de mãos às coisas que eram de menino. E por isso também, além do movimento da geração, pelo qual recebemos a vida do corpo, há o do crescimento pelo qual chegamos à idade perfeita. Assim também re­cebemos a vida espiritual pelo batismo, que é a regeneração espiritual. . E pela confirmação atingimos a como idade perfeita da vida espiri­tual. Por isso Melquíades Papa diz: O Espírito Santo, que desceu sobre as águas do batismo, para nossa salvação, concede, na fonte batismal, a plenitude da inocência, e na confirmação o aumento da graça. No batismo renascemos para a vida e depois do batismo somos confirmados para a luta. No batismo somos purificados, e depois do batis­mo somos fortalecidos. Por onde é manifesto que a confirmação é um sacramento especial.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Sobre a instituição deste sacramento há tríplice opinião. - Certos (Alex. de Hales, S. Boaven­tura) disseram que esse sacramento não foi instituído nem por Cristo nem pelos Apóstolos; mas depois, no decenso do tempo, num certo concílio. - Mas outros (Petr. Tarent) disseram ter sido instituído pelos Apóstolos. - Mas isto não pode ser, porque instituir um novo sacra­mento implica um poder por excelência, que só cabe a Cristo. - E por isso devemos responder, que Cristo institui este sacramento, não confe­rindo-o, mas prometendo-o, segundo aquilo do Evangelho: Se eu não for não virá a vós o Con­solador; mas se for enviarvo-lo-ei. E isto é assim porque neste sacramento é dada a pleni­tude do Espírito Santo, que não devia ser dada antes da ressurreição e da ascensão de Cristo, segundo o diz o Evangelho.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A confirmação é o sacramento da plenitude da graça; e portanto nada podia haver que lhe correspondesse no Velho Testamento, pois a lei nenhuma coisa levou à perfeição, no dizer do Apóstolo.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos, todos os sacramentos são de certo modo necessários à salvação; mas há certos sem os quais não a alcançamos; e outros que contribuem para a plenitude dela. E assim a confirmação é de necessidade para a salvação embora sem ela possamos nos salvar, contanto que não a omita­mos por desprezo do sacramento.
 
RESPOSTA À QUARTA. — Os que recebem a con­firmação, sacramento da plenitude da graça, conformam-se com Cristo, que desde o primeiro instante da sua concepção foi cheio de graça e de verdade, como diz o Evangelho. E essa ple­nitude se declarou no batismo, quando desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea. Por isso o Evangelho também diz, que cheio do Espírito Santo voltou Jesus do Jordão. Mas não convinha à dignidade de Cristo, autor dos sacra­mentos, receber de um sacramento a plenitude da graça.

Questão 72: Do sacramento da confirmação

Em seguida devemos tratar do sacramento da confirmação.
 
E nesta questão discutem-se doze artigos:

Art. 4 — Se é próprio do sacerdote catequizar e exorcizar o catecúmeno.

O quarto discute-se assim. — Parece que não é próprio do sacerdote catequizar e exorci­zar o catecúmeno.
 
1. — Pois, ao ofício dos ministros pertence agir sobre os imundos, como diz Dionísio. Ora, os catecúmenos, que são instruídos no catecis­mo, e os energúmenos, que são purificados no exorcismo, contam-se entre os imundos, como diz Dionísio no mesmo lugar. Logo, catequizar e exorcizar não pertence ao ofício do sacerdote, mas antes, dos ministros.
 
2. Demais. — Os catecúmenos são instruí­dos na fé pela Sagrada Escritura, lida na igreja pelos ministros. Pois, assim como os leitores lêem na igreja o Testamento Velho, assim tam­bém os diáconos e os subdiáconos lêem o Novo. Portanto, aos ministros pertence catequizar. ­E também exorcizar parece pertencer aos minis­tros. Assim, diz Isidoro: O exorcista deve reter de memória os exorcismos e impor as mãos sobre os energúmenos e os catecúmenos, que devem ser exorcizados. Logo, não é ofício do sacerdote catequizar e exorcizar.
 
3. Demais. — Catequizar é o mesmo que ensinar, e ensinar é aperfeiçoar. O que é ofício dos bispos, como diz Dionísio. Logo, não é ofí­cio do sacerdote.
 
Mas, em contrário, Nicolau Papa diz: O catecismo dos que devem ser batizados pode ser feito pelos sacerdotes de cada igreja. E Gregório também diz: Os sacerdotes, quando pela graça do exorcismo, impõem as mãos aos crentes, que outra coisa fazem senão expulsar os demônios?
 
SOLUÇÃO. — O ministro está para o sacerdote como um agente secundário e instrumental para o principal, como o indica o nome mesmo de ministro. E, o agente secundário não obra sem a cooperação do agente principal. Ora, quanto mais importante é a operação tanto mais o agente principal precisa de melhores instru­mentos. Ora, é mais importante a ação do sacerdote conferir o sacramento que fazer os preparativos para ele. Por isso os ministros mais elevados, chamados diáconos, cooperam com o sacerdote no ato de conferir os sacramentos. Assim, diz Isidoro, que ao diácono pertence assis­tir aos sacerdotes e servi-los nos atos sacra­mentais, isto é, no batismo, no crisma, na patena e no cálice. Quantos aos ministros inferiores, eles cooperam com os sacerdotes nos preparati­vos para o sacramento; assim, os leitores, no catecismo e os exorcistas no exorcismo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Sobre os imundos os ministros exercem uma ação ministerial e como que instrumental; mas o sacerdote, a principal.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os leitores e os exorcistas têm o ofício de catequizar e exorcizar, não como causas principais, mas como os que servem ao sacerdote.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A instrução pode ser de muitas espécies. - Uma é destinada a con­verter à fé. E essa, Dionísio a atribui ao bispo; mas qualquer pregador ou ainda qualquer fiel pode exercê-la. — A segunda espécie de instru­ção é a pela qual aprendemos os rudimentos da fé e o modo de recebermos os sacramentos. E essa cabe, secundàriamente, aos ministros e, principalmente, aos sacerdotes. — A terceira ensina-nos a vivermos cristamente. — E essa concerne os padrinhos. — A quarta versa sobre os profundos mistérios da fé e a perfeição da vida cristã. E essa de ofício é reservada aos bispos.

Art. 3 — Se as práticas do exorcismo têm alguma eficácia ou são apenas simbólicas.

O terceiro discute-se assim. — Parece que as práticas do exorcismo não têm nenhuma eficácia, mas são apenas simbólicas.
 
1. — Pois, a criança, morta depois dos exorcismos e antes do batismo, não alcança a salvação. Ora, o efeito de todas as práticas sacramentais é fazer-nos alcançar a salvação. Por isso diz o Evangelho: Aquele que crer e for batizado será salvo. Logo, as práticas do exorcismo nenhuma eficácia têm, mas são apenas sim­bólicas.
 
2. Demais. — Duas condições bastam a constituir um sacramento da lei nova: ser sinal e causa como se disse. Logo, se as práticas do exorcismo têm alguma eficácia, resulta que cada uma é um sacramento.
 
3. Demais. — Assim como o exorcismo se ordena para o batismo, assim também qualquer efeito que ele tenha se ordena ao efeito do ba­tismo. Ora, a disposição necessàriamente pre­cede à forma perfeita, pois, a forma não é recebida senão pela matéria disposta. Donde, pois, se seguiria que ninguém poderia conseguir o efeito do batismo, sem ser primeiro exorciza­do; o que é evidentemente falso. Logo, as prá­ticas do exorcismo nenhuma eficácia têm.
 
4. Demais. — Assim como certas práticas do exorcismo se fazem antes do batismo, assim também outras vêm depois dele; tal é a prática de o sacerdote ungir o batizado na cabeça. Ora, as que se fazem depois do batismo nenhuma eficácia têm, porque do contrário os efeitos do batismo seriam imperfeitos. Logo, também não a têm nenhuma as que se fazem antes do ba­tismo, no exorcismo.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: As crianças são exsufladas e exorcizadas, para ser ex­pulso delas o poder inimigo do diabo, que enga­na o homem. Ora, a Igreja nada faz em vão. Logo, tais exsuflações têm o efeito de eliminar o poder do demônio.
 
SOLUÇÃO. — Certos disseram que as práti­cas do exorcismo não têm nenhuma eficácia e são apenas simbólicas. - Mas isto é evidentemente falso, pois a Igreja usa nos exorcismos de palavras imperativas para expulsar o poder do demônio. Assim, quando diz: Portanto, mal­dito diabo, sai deste homem, etc. Por isso devemos admitir que tem uma cer­ta eficácia, mas diferente da do batismo. Porque o batismo nos dá a graça da remissão plena das culpas. Ao passo que as práticas do exorcisme excluem o amplo impedimento à consecução da graça da salvação. - Desses impedimentos um é extrínseco e consiste no esforço que fazem os demônios para nos impedir a salvação. E esse fica anulado pelas exsuflações, que tiram o poder ao demônio, como se deduz da autoridade citada de Agostinho; isto é, de modo que não possa o demônio causar nenhum impedimento à recepção do sacramento. Continuam porem a ter poder sobre o homem quanto à mácula do pecado e ao reato da pena, até ser o pecado delido pelo batismo. E por isso Cipriano diz: Sabe que a nequicia do diabo pode permanecer até a ablução salutar; mas toda essa nequícia é aniquilada pelo batismo. - O outro é um im­pedimento intrinseco, consistente em termos os sentidos fechados à recepção dos mistérios da salvação, por causa da mácula do pecado origi­nal. Por isso Rábano diz: Pela sabedoria e virtude de Deus, a saliva simbólica e o tato do sacerdote cooperam para a salvação do cate­cúmeno abrindo-lhe as narinas, como a um perfume, ao conhecimento de Deus, as orelhas, aos preceitos de Deus, e o seu senso íntimo a uma fiel correspondência aos favores divinos.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­As práticas do exorcismo não tiram a culpa pela qual somos punidos depois da morte; mas ex­cluem apenas os impedimentos a se receber a remissão da culpa pelo sacramento. Por isso depois da morte o exorcismo não é válido sem o batismo. Mas Prepositivo diz, que as crianças exorcizadas, mortas antes do batismo, sofrem trevas menores. O que não é verdade, por serem essas trevas a privação da visão divina, não susceptível de mais e de menos.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — É da essência do sa­cramento produzir o seu principal efeito - a graça, que perdoa a culpa, ou supre alguma de­ficiência nossa. Ora, esse efeito não o produ­zem as práticas do exorcismo, que apenas re­movem os referidos impedimentos. Por isso não são sacramentos, mas uns sacramentais.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A disposição sufi­ciente para receber a graça batismal é a fé e a intenção - ou a própria do batizado, se é adulto; ou a da Igreja, se é criança. Ora, as práticas do exorcismo se ordenam a remover os impe­dimentos. Portanto, sem elas é possível alcan­çar-se o efeito do batismo. - Mas, não devem ser omitidas senão em artigo de necessidade. E então, quando cessar o perigo, devem ser feitas, para se conservar a uniformidade no batismo. Nem em vão se realizam depois do batismo, pois, assim como fica impedido o efeito do batismo, antes de ser recebido, assim também pode ficá-lo, depois de recebido.
 
RESPOSTA À QUARTA. — As práticas feitas so­bre o batizado, depois do batismo, não são ape­nas simbólicas, mas também têm eficácia. Assim, a unção feita na cabeça, cuja finalidade é a conservação da graça batismal. Mas há práticas que nenhuma eficácia tem e são apenas simbó­licas. Tais as vestes brancas significativas da novidade da vida.

Art. 2 — Se o exorcismo deve preceder ao batismo.

O segundo discute-se assim. — Parece que o exorcismo não deve preceder ao batismo.
 
1. — Pois, o exorcismo é contra os energúmenos, isto é, os arreptícios. Ora, nem todos os que se apresentam ao batismo são tais. Logo, o exorcismo não deve preceder o batismo.
 
2. Demais. — Enquanto está um em estado de pecado o diabo o tem sob o seu poder; pois, como diz o Evangelho, todo o que comete pecado é escravo do pecado. Ora o pecado é delido pelo batismo. Logo, ninguém deve ser exorcizado antes do batismo.
 
3. Demais. — Para afastar o demônio foi introduzido o uso da água benta. Logo, não era preciso ir buscar para isso outro remédio nos exorcismos.
 
Mas, em contrário, Celestino Papa diz: Quer sejam crianças, quer jovens os que vêm ao sacramento da regeneração, não se acheguem à fonte da vida antes de ter sido expulso deles o espírito imundo pelos exorcismos e pelas exsu­flações dos clérigos.
 
SOLUÇÃO. — Quem se propõe a fazer com sabedoria uma obra qualquer há de primeiro re­mover-lhe os impedimentos. Por isso diz a Es­critura: Alqueivai-vos para vós o pousio e não semeieis sobre espinhos. Ora, o diabo é inimigo da salvação humana que o homem alcança pelo batismo; e tem sobre nós um certo poder pelo fato de estarmos sujeitos ao pecado original ou também ao atual. Por isso e conveniente­mente, antes do batismo são expulsos os demônios pelos exorcismos para não impedirem a nossa salvação. E é essa expulsão a significada pela exsuflação. Quanto à bênção, com imposi­ção das mãos, ela fecha ao expulso o caminho para que não volte. O sal posto na boca e a unção, com a saliva, do nariz e dos ouvidos, significam, no concernente a estes a recepção da doutrina da fé; a sua aprovação, no concer­nente ao nariz e, no atinente à boca, a confissão. Por fim, a unção com o óleo significa a força do catecúmeno para lutar contra os demônios.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Chamam-se energúmenos os que, por assim dizer, sofrem interiormente de uma ação demo­níaca exterior. E embora nem todos os que se achegam ao batismo sejam vexados pelo demô­nio corporalmente, contudo todos os não-batiza­dos estão sujeitos ao poder dos demônios, ao menos pelo reato do pecado original.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — No batismo, pela ablução do pecado fica excluído do batizado o poder do demônio, enquanto este nos impede de alcançar a glória do céu. Mas os exorcismos tiram ao demônio o poder de nos impedir a re­cepção do sacramento.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A água benta é usa­da contra as impugnações externas dos demô­nios. Mas o exorcismo é empregado contra as impugnações internas deles; por isso os exorci­zados se chamam energúmenos, isto é, como que padecentes interiormente. - Ou podemos res­ponder que, assim como a penitência é um se­gundo remédio contra o pecado, porque o ba­tismo não pode ser reiterado, assim a água ben­ta é um segundo remédio contra os ataques dos demônios, porque os exorcismos batismais não se repetem.

Art. 1 — Se a catequese deve preceder ao batismo.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a catequese não deve preceder ao batismo.
 
1. — Pois, pelo batismo renascemos para a vida espiritual. Ora, recebemos a vida antes da doutrina. Logo, não deve ninguém ser catequi­zado, isto é, ensinado, antes de batizado.
 
2. Demais. — O batismo é conferido não só aos adultos como também às crianças, incapazes de receberem a doutrina, por não terem o uso da razão. Logo, é ridículo catequizá-las.
 
3. Demais. — No catecismo o catecúmeno confessa a sua fé. Ora, a criança não pode con­fessar a fé, nem por si mesma nem por outrem. Quer porque ninguém pode obrigar outrem a nada; quer também porque ninguém pode saber se a criança, chegada à idade adulta, assentirá na fé. Logo, o catecismo não deve preceder ao batismo.
 
Mas, em contrário, Rábano diz: Antes de batizar alguém há o dever de instruí-lo, a fim de que o catecúmeno aprenda primeiro os rudi­mentos da fé.
 
SOLUÇÃO. — Como dissemos, o batismo é o sacramento da fé, por ser de certo modo uma profissão da fé cristã. Ora, para alguém receber a fé é necessário seja instruído nela, segun­do aquilo do Apóstolo: Como crerão àquele que não ouviram? E como ouvirão sem pregador? Por isso, deve o catecismo preceder ao batismo e o Senhor, ao dar aos discípulos o preceito de batizar, faz preceder a doutrina do batismo, di­zendo: Ide e ensinai a todos os povos, batizan­do-os, etc.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A vida da graça, à qual renascemos pelo batis­mo, pressupõe a vida da natureza racional com a qual podemos receber a doutrina.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como a Madre Igreja, conforme dissemos, acomoda às crianças, que vão ser batizadas, os pés dos outros, para que venham, e o coração dos outros, para que creiam; assim as faz se servirem de alheios ouvidos para ouvirem, e da razão alheia a fim de serem instruídas por outros. Portanto e pela mesma razão por que devem ser ensinadas, devem também ser batizadas.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Aquele que pela criança batizada responde - creio, não prediz que a criança há de crer, quando tiver chegado à idade de adulto, pois, do contrário diria ­crerá. Mas proclama a fé da Igreja na pessoa da criança, a quem ela é comunicada cujo sa­cramento lhe é conferido e a que se obriga por meio de outrem. Pois, nenhum inconveniente há em alguém obrigar-se por meio de outrem, em matéria necessária à salvação. Semelhante­mente, também o padrinho, respondendo pela criança, promete esforçar-se para que a criança creie. O que porem não bastaria aos adultos no uso da razão.

Questão 71: Dos preparativos que se fazem junto com o batismo.

Em seguida devemos tratar dos preparativos que se fazem junto com o batismo.
 
E nesta questão discutem-se quatro artigos:

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