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Art. 1 — Se a confirmação é um sacramento.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a confirmação não é um sacramento.
 
1. — Pois. os sacramentos tiram a sua efi­cácia da instituição divina, como se disse. Ora, em nenhum lugar se lê que Cristo tivesse instituído a confirmação. Logo, não é sacramento.
 
2. Demais. — Os sacramentos da Lei Nova estavam prefigurados na Velha. Por isso diz o Apóstolo: Todos foram batizados debaixo da conduta de Moisés na nuvem e no mar, e todos comeram de um mesmo manjar espiritual e to­dos beberam de uma mesma bebida espiritual. Ora, a confirmação não foi prefigurada no Tes­tamento Velho. Logo, não é um sacramento.
 
3. Demais. — Os sacramentos se ordenam à nossa salvação. Ora, podemos nos salvar sem a confirmação; assim as crianças batizadas, mortas sem confirmação, salvam-se. Logo, a confirmação não é um sacramento.
 
4. Demais. — Por todos os sacramentos da Igreja o homem se conforma com Cristo autor deles. Ora, pela confirmação não pode os nos conformar com Cristo, de quem não lemos que fosse confirmado.
 
Mas, em contrário, Melquíades Papa escreve aos bispos da Espanha: Quanto à questão sobre a qual me pedistes informações, a saber, se é maior sacramento a imposição das mãos pelo bispo ou o batismo, sabei que são ambos grandes sacramentos.
 
SOLUÇÃO. — Os sacramentos da lei nova, ordenam-se a efeitos especiais da graça. Por onde, cada efeito especial da graça se ordena um sa­cramento especial. Mas como as coisas sensíveis e corpóreas geram semelhanças das espirituais e inteligíveis, pelo que se passa na vida material podemos perceber o que é especial à vida espi­ritual. Ora, é manifesto que é uma perfeição especial da vida do corpo o chegar o homem à idade perfeita e poder fazer ações perfeitas. Por isso o Apóstolo diz: Depois que eu cheguei a ser homem jeito, dei de mãos às coisas que eram de menino. E por isso também, além do movimento da geração, pelo qual recebemos a vida do corpo, há o do crescimento pelo qual chegamos à idade perfeita. Assim também re­cebemos a vida espiritual pelo batismo, que é a regeneração espiritual. . E pela confirmação atingimos a como idade perfeita da vida espiri­tual. Por isso Melquíades Papa diz: O Espírito Santo, que desceu sobre as águas do batismo, para nossa salvação, concede, na fonte batismal, a plenitude da inocência, e na confirmação o aumento da graça. No batismo renascemos para a vida e depois do batismo somos confirmados para a luta. No batismo somos purificados, e depois do batis­mo somos fortalecidos. Por onde é manifesto que a confirmação é um sacramento especial.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Sobre a instituição deste sacramento há tríplice opinião. - Certos (Alex. de Hales, S. Boaven­tura) disseram que esse sacramento não foi instituído nem por Cristo nem pelos Apóstolos; mas depois, no decenso do tempo, num certo concílio. - Mas outros (Petr. Tarent) disseram ter sido instituído pelos Apóstolos. - Mas isto não pode ser, porque instituir um novo sacra­mento implica um poder por excelência, que só cabe a Cristo. - E por isso devemos responder, que Cristo institui este sacramento, não confe­rindo-o, mas prometendo-o, segundo aquilo do Evangelho: Se eu não for não virá a vós o Con­solador; mas se for enviarvo-lo-ei. E isto é assim porque neste sacramento é dada a pleni­tude do Espírito Santo, que não devia ser dada antes da ressurreição e da ascensão de Cristo, segundo o diz o Evangelho.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A confirmação é o sacramento da plenitude da graça; e portanto nada podia haver que lhe correspondesse no Velho Testamento, pois a lei nenhuma coisa levou à perfeição, no dizer do Apóstolo.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos, todos os sacramentos são de certo modo necessários à salvação; mas há certos sem os quais não a alcançamos; e outros que contribuem para a plenitude dela. E assim a confirmação é de necessidade para a salvação embora sem ela possamos nos salvar, contanto que não a omita­mos por desprezo do sacramento.
 
RESPOSTA À QUARTA. — Os que recebem a con­firmação, sacramento da plenitude da graça, conformam-se com Cristo, que desde o primeiro instante da sua concepção foi cheio de graça e de verdade, como diz o Evangelho. E essa ple­nitude se declarou no batismo, quando desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea. Por isso o Evangelho também diz, que cheio do Espírito Santo voltou Jesus do Jordão. Mas não convinha à dignidade de Cristo, autor dos sacra­mentos, receber de um sacramento a plenitude da graça.

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