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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Art. 1 ─ Se a extrema unção é sacramento.

O primeiro discute-se assim. Parece que a extrema unção não é sacramento.
 
1. Pois, assim como o óleo é aplicado aos enfermos, assim também aos catecúmenos. Ora, a unção feita com óleo nos catecúmenos não é sacramento. Logo, nem a extrema unção feita nos enfermos.
 
2. Demais. Os sacramentos da Lei Velha foram sinais dos da Lei Nova. Ora, a extrema unção não teve nenhuma figura na Lei Velha. Logo, não é sacramento da Lei Nova.
 
3. Demais. Segundo Dionísio, todo sacramento serve para purificar, para iluminar ou para aperfeiçoar. Ora, o fim da extrema unção não é nem iluminar, pois isto só o faz o batismo; nem aperfeiçoar, fim próprio do crisma, segundo o próprio Dionísio, e da Eucaristia. Logo, a extrema unção não é sacramento.
 
Mas, em contrário. Os sacramentos da Igreja são suficientes para socorrer as nossas misérias, em qualquer estado. Ora, aos moribundos nenhum outro socorro há senão o da extrema unção. Logo, é sacramento.
 
2. Demais. Os sacramentos não são mais que uns remédios espirituais. Ora, a extrema unção é um remédio espiritual, pois serve para a remissão dos pecados, como lemos na Escritura. Logo, é sacramento.
 
SOLUÇÃO. Dentre as operações visíveis com que a Igreja presta o seu ministério, umas são sacramentos, como o batismo; outras, sacramentais, como o exorcismo. A diferença entre umas e outras esta, que sacramento se chama a operação pela qual a Igreja alcança o efeito principalmente visado na administração dos sacramentos; e sacramental se chama aquela operação, que embora não vise esse efeito principal, contudo se lhe ordena de certo modo. Ora, o efeito visado na administração dos sacramentos é curar a doença do pecado, conforme aquilo da Escritura: Todo este fruto se reduz a que seja tirado o seu pecado. Logo, como a extrema unção produz esse fruto, conforme resulta das palavras de Tiago, nem se ordena a outro sacramento, como se lhe fosse anexo, resulta que a extrema unção não é sacramental, mas sacramento.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. O óleo com que são ungidos os catecúmenos, não produz só pelo fato de ungir o perdão do pecado, efeito próprio do batismo; mas de certo modo dispõe para este, como dissemos. Logo, essa unção não é sacramento, como o é a extrema unção.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. Este sacramento dispõe-nos imediatamente para a glória, ministrado quando nos separamos do corpo. Ora, na Lei Velha não era ainda o tempo de se alcançar a glória, porque a lei nenhuma causa levou à perfeição. Por onde, este sacramento não devia ser nela prefigurado por nenhum outro que lhe correspondesse, como se fosse uma figura do mesmo gênero. Embora por figuras remotas fosse de certo modo figurado, em todas as curas que na vigência da Lei Velha se realizaram.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. Dionísio nenhuma menção faz da extrema unção, como não o faz da penitência nem do matrimônio, porque visava tratar dos sacramentos, enquanto o conhecimento deles podia servir a fazer conhecer a ordem observada na hierarquia eclesiástica, tanto em relação aos ministros e aos seus atos, como aos que os recebem. Contudo, como a extrema unção confere a graça e a remissão dos pecados, não há dúvida que tem poder de iluminar e purificar, como o batismo, embora não tão plenamente.

Art. 7 ─ Se os mutilados devem ser ungidos com as unções que convêm a essas partes.

 

O sétimo discute-se assim. Parece que os mutilados não devem ser ungidos com as unções que convêm a essas partes.
 
1. Pois, assim como este sacramento exige uma determinada disposição em quem o recebe, isto é, que esteja enfermo, assim também deve ser ministrado numa parte determinada. Ora, quem não sofre de nenhuma enfermidade não pode ser ungido. Logo, também não o deve quem não tem a parte onde deve ser feita a unção.
 
2. Demais. O cego de nascença não pode pecar com a vista. Ora, quando se faz a unção nos olhos, faz-se menção do pecado pela vista. Logo, tal unção não deve ministrar-se ao cego de nascença. E assim em casos semelhantes.
 
Mas, em contrário, uma deficiência corpórea não impede a recepção de nenhum dos outros sacramentos. Logo, também não deve ser impedimento a este. Ora, este sacramento exige necessariamente uma unção. Logo, todas se devem fazer nos mutilados.
 
SOLUÇÃO. Também os mutilados devem ser ungidos, nas partes as mais próximas possíveis daquelas onde a unção devia ser feita. Pois, embora não tenham os membros, têm contudo as potências da alma correspondentes, ao menos radicalmente, a esses membros. E podem pecar interiormente, embora não exteriormente pelas potências da alma correspondentes a essas partes.
 
Donde se deduzem as respostas às objeções.

 

Questão 35: Do efeito do sacramento da ordem.

Em seguida devemos tratar do efeito deste sacramento.
 
Sobre o que discutem-se cinco artigos:

 

Questão 34: Do sacramento da ordem.

Em seguida devemos tratar do sacramento da ordem. E primeiro, da ordem em geral. Segundo, das diferentes ordens. Terceiro, dos que conferem a ordem. Quarto, dos impedimentos dos ordenados. Quinto, dos anexos da ordem.
 
Quanto à ordem em geral, três questões temos a estudar. Primeiro, da sua entidade e quididade, e das suas partes. Segundo, dos seus efeitos. Terceiro, dos que a recebem.
 
Na primeira questão discutem-se cinco artigos:

 

Art. 2 ─ Se pode ser reiterado na mesma enfermidade.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que não deve ser reiterado na mesma enfermidade.
 
1. ─ Pois, a cada doença se lhe aplica o seu remédio. Ora, este sacramento é um remédio espiritual. Logo, não deve ser aplicado mais de uma vez à mesma doença.
 
2. Demais. ─ Se esta unção pudesse reiterar-se na mesma doença, um enfermo poderia ser ungido todo o dia. O que é absurdo.
 
Mas, em contrário, às vezes uma doença se prolonga muito, depois de ter sido o sacramento recebido: e assim podem-se contrair novas relíquias de pecado, contra as quais principalmente és te sacramento é conferido. Logo, deve ser repetida a unção.
 
SOLUÇÃO. ─ Este sacramento não concerne tanto à doença como ao estado de doença; pois, não deve ser conferido senão aos enfermos que julgamos próximos de morrer. Ora, certas doenças não são prolongadas. Por onde, se se ministra este sacramento só quando o doente se acha em perigo de morte, não sairá ele desse estado senão depois de curado e então de novo não deve ser ungido. Mas, se sofrer recidiva, já será outra doença e poder-se-lhe-à então fazer outra unção. Há porém certas doenças prolongadas, como a héctica, a hidropsia e semelhantes. E tais doentes não devem ser ungidos senão quando se julgar que correm perigo de morte. E se escapar a esse perigo, na duração da mesma enfermidade, mas vindo depois, ainda durante ela, a correr de novo tal perigo, poderá ser ungido de novo, pois já é por assim dizer outra doença, embora, absolutamente falando seja a mesma.
 
Donde se deduzem as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

 

Art. 1 ─ Se este sacramento deve ser reiterado.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que este sacramento não deve ser reiterado.

1. ─ Pois, mais nobre é a unção feita a uma pessoa que a uma pedra. Ora, não se reitera a unção do altar senão se esse altar for partido. Logo, também não deve ser reiterada a extrema unção feita a uma pessoa.
 
2. Demais. ─ Além de um extremo nada mais há. Ora, esta é a chamada extrema unção. Logo, não deve ser reiterada.
 
Mas, em contrário. ─ Este sacramento é uma medicação espiritual feita a modo de medicação corporal. Ora, a medicação do corpo é susceptível de ser reiterada. Logo, também este sacramento pode ser reiterado.
 
SOLUÇÃO. ─ Nenhum sacramento ou sacramental de efeito perpétuo pode ser reiterado; pois, o contrário significaria que o sacramento não teria eficácia para produzir tal efeito, e a reiteração seria irreverência para com ele. Mas, sacramento sem efeito perpétuo pode, sem irreverência, ser reiterado, de modo que a reiteração realize o efeito não chegado a termo. E como a saúde do corpo e da alma, que é o efeito deste sacramento, pode ser perdida, depois de obtida como efeito dele, por isso este sacramento pode, sem irreverência, ser reiterado.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A unção da pedra se faz para a consagração mesma do altar, e a pedra a conserva perpetuamente enquanto o altar dura; por isso não pode ser reiterada. Ao passo que esta unção não se faz para consagrar a pessoa ungida, pois, não imprime caráter. Logo, o símile não colhe.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O que na apreciação nossa é um extremo pode não sê-lo na realidade das causas. Assim, este sacramento se chama extrema unção, porque não deve ser ministrado senão àqueles cuja morte julgamos próxima.

 

Art. 6 ─ Se estão bem determinadas as partes onde o doente deve ser ungido: os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, as mãos e os pés.

O sexto discute-se assim. ─ Parecem mal determinadas as partes onde o doente deve ser ungido: os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, as mãos e os pés.
 
1. ─Pois, o médico perito cura a doença na raiz. Do coração vem as causas que fazem o homem imundo, diz o Evangelho. Logo, a unção deve ser feita no peito.
 
2. Demais. ─ A pureza da alma não é menos necessária aos que saem da vida que aos que nela entram. Ora, os que entram o sacerdote os unge na cabeça com o crisma, para significar a pureza da alma. Logo, também aos moribundos que recebem este sacramento, se lhe deve ungir na cabeça.
 
3. Demais. ─ O remédio deve ser aplicado onde é maior a força da doença. Ora, a doença espiritual tem a sua sede principal nos rins, e nas mulheres no umbigo, como diz a Escritura: A sua fortaleza está nos seus lombos, segundo a exposição de Gregório. Logo, aí devia ser feita a unção.
 
4. Demais. ─ Assim como pecamos com os pés, assim com os demais membros do corpo. Logo, assim como são ungidos os pés, assim também devem sê-lo os demais membros.
 
SOLUÇÃO. ─ Os princípios do pecado, em nós, são os mesmos que os do agir pois o pecado é um ato. Ora, os princípios dos nossos atos são três: o dirigente, que é a faculdade cognoscitiva; o imperante, que é a potência apetitiva; e o exequente, que é a potência motiva. Ora, todos os nossos conhecimentos tem a sua fonte nos sentidos. E como onde está em nós a origem primeira do pecado, aí deve aplicar-se a unção, por isso se ungem as sedes dos cinco sentidos: os olhos, por causa da vista; os ouvidos, por causa da audição; as narinas, por causa do olfato; a boca, por causa do gosto; as mãos, por causa do tato, que se exerce sobretudo pelas pontas dos dedos. Certos porém ungem os rins, por causa da potência apetitiva. Por causa da motiva, se ungem os pés, principal instrumento dela. E como o princípio primeiro da ação é a potência cognoscitiva, por isso todos observam a prática de ungir os órgãos dos cinco sentidos, como necessária à validade do sacramento. Outros porém não observam as outras práticas; outros, ainda, fazem a unção nos pés e não nos rins, por serem as potências apetitiva e motiva os princípios secundários da ação.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O pensamento não se manifesta fora do coração senão por uma certa imaginação, que é um movimento originado do sentido, como diz Aristóteles. Por onde, no coração não a tem o pensamento a sua raiz primeira, mas nos órgãos dos sentidos; salvo, enquanto é o coração o princípio de todo o corpo. Mas esse princípio é uma raiz remota.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Os que entram na vida devem adquirir a pureza da alma; ao passo que os que dela saem devem purificá-la. Por isso, os que dela saem devem ser ungidos nas partes onde pode ser inquinada a pureza da alma.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Certos tem o costume de fazer a: unção nos rins, porque aí, se exerce sobretudo o apetite concupiscível. Ora, a potência apetitiva não é a raiz primeira da ação, como se disse.
 
RESPOSTA À QUARTA. ─ Os órgãos do corpo, pelos quais se exercem os atos pecaminosos, são os pés, as mãos e a língua, onde também se faz a unção; e os membros genitais, onde, por serem partes pudendas, não se deve ela fazer.

 

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