O primeiro discute-se assim. ─ Parece que a extrema unção não é sacramento.
1. ─ Pois, assim como o óleo é aplicado aos enfermos, assim também aos catecúmenos. Ora, a unção feita com óleo nos catecúmenos não é sacramento. Logo, nem a extrema unção feita nos enfermos.
2. Demais. ─ Os sacramentos da Lei Velha foram sinais dos da Lei Nova. Ora, a extrema unção não teve nenhuma figura na Lei Velha. Logo, não é sacramento da Lei Nova.
3. Demais. ─ Segundo Dionísio, todo sacramento serve para purificar, para iluminar ou para aperfeiçoar. Ora, o fim da extrema unção não é nem iluminar, pois isto só o faz o batismo; nem aperfeiçoar, fim próprio do crisma, segundo o próprio Dionísio, e da Eucaristia. Logo, a extrema unção não é sacramento.
Mas, em contrário. ─ Os sacramentos da Igreja são suficientes para socorrer as nossas misérias, em qualquer estado. Ora, aos moribundos nenhum outro socorro há senão o da extrema unção. Logo, é sacramento.
2. Demais. ─ Os sacramentos não são mais que uns remédios espirituais. Ora, a extrema unção é um remédio espiritual, pois serve para a remissão dos pecados, como lemos na Escritura. Logo, é sacramento.
SOLUÇÃO. ─ Dentre as operações visíveis com que a Igreja presta o seu ministério, umas são sacramentos, como o batismo; outras, sacramentais, como o exorcismo. A diferença entre umas e outras esta, que sacramento se chama a operação pela qual a Igreja alcança o efeito principalmente visado na administração dos sacramentos; e sacramental se chama aquela operação, que embora não vise esse efeito principal, contudo se lhe ordena de certo modo. Ora, o efeito visado na administração dos sacramentos é curar a doença do pecado, conforme aquilo da Escritura: Todo este fruto se reduz a que seja tirado o seu pecado. Logo, como a extrema unção produz esse fruto, conforme resulta das palavras de Tiago, nem se ordena a outro sacramento, como se lhe fosse anexo, resulta que a extrema unção não é sacramental, mas sacramento.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O óleo com que são ungidos os catecúmenos, não produz só pelo fato de ungir o perdão do pecado, efeito próprio do batismo; mas de certo modo dispõe para este, como dissemos. Logo, essa unção não é sacramento, como o é a extrema unção.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Este sacramento dispõe-nos imediatamente para a glória, ministrado quando nos separamos do corpo. Ora, na Lei Velha não era ainda o tempo de se alcançar a glória, porque a lei nenhuma causa levou à perfeição. Por onde, este sacramento não devia ser nela prefigurado por nenhum outro que lhe correspondesse, como se fosse uma figura do mesmo gênero. Embora por figuras remotas fosse de certo modo figurado, em todas as curas que na vigência da Lei Velha se realizaram.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Dionísio nenhuma menção faz da extrema unção, como não o faz da penitência nem do matrimônio, porque visava tratar dos sacramentos, enquanto o conhecimento deles podia servir a fazer conhecer a ordem observada na hierarquia eclesiástica, tanto em relação aos ministros e aos seus atos, como aos que os recebem. Contudo, como a extrema unção confere a graça e a remissão dos pecados, não há dúvida que tem poder de iluminar e purificar, como o batismo, embora não tão plenamente.