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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Art. 1 – Se o mundo é governado por alguém.

O primeiro discute–se assim. – Parece que o mundo não é governado por ninguém.

1. – Pois, são governados os seres que são movidos ou operam em vista de um fim. Ora, os seres naturais, que são a maior parte do mundo, como não conhecem o fim, não são movidos nem operam em vista dele. Logo, o mundo não é governado.

2. Demais. – São governados os seres movidos para algum termo. Ora, o mundo, tendo em si a sua estabilidade, não é movido para nada. Logo não é governado.

3. Demais. – O que tem em si a necessidade, pela qual é determinado a um só termo, não precisa de governante externo. Ora, as principais partes do mundo são determinadas, nos seus atos e movimentos, a um só termo, necessariamente. Logo, o mundo não precisa de governo.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Tua providência ó Pai, é a que governa. E Boécio: Ó tu, que governas o mundo com perpétua razão.

SOLUÇÃO. – Alguns filósofos antigos negaram o governo do mundo, dizendo que tudo se realiza fortuitamente. Mas se demonstra a impossibilidade desta opinião, por duas razões. – Primeiro, pelo que se manifesta nos próprios seres. Pois vemos que os seres naturais realizam o melhor, sempre ou na maioria dos casos; o que não se daria se tais seres não fossem dirigidos a um fim bom, por alguma providência, o que é governar. Por onde, a mesma ordem certa das coisas demonstra manifestamente o governo do mundo; assim como quem entrasse numa casa bem ordenada, dessa mesma ordem concluiria a razão do ordenador, como diz Aristóteles (Cleantes), citado por Túlio. – Em segundo lugar, o mesmo resulta da consideração da divina bondade, da qual as coisas receberam o ser, como claramente se conclui do que já foi dito. Pois, como ser ótimo produz efeitos ótimos, repugna à suma bondade de Deus não levar as coisas produzidas até a perfeição. Ora, a perfeição última de um ser é a consecução do seu fim. Por onde, à divina bondade pertence, depois de ter dado às coisas a existência, levá–las ao fim. E isso é governar.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – De dois modos um ser é movido ou opera, em vista de um fim. De um modo, conduzindo–se a si mesmo ao fim, como o homem e as outras criaturas racionais; e tais seres conhecem a razão do fim e dos meios a ele conducentes. De outro modo se diz que um ser opera ou é movido para um fim, quando é por alguém conduzido ou dirigido para ele; assim, a seta, que não conhece o fim, é movida quando dirigida para o alvo, pelo sagifário, que o conhece. Por onde, assim como o movimento da seta para um determinado fim demonstra abertamente que ela é dirigida por alguém dotado de conhecimento; assim, o curso certo dos seres naturais, privados de conhecimento, declara manifestamente que o mundo é governado por uma razão.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Em todas as coisas criadas há algo de estável. pelo menos a matéria prima; e algo de móvel, compreendendo–se, no movimento, também a operação. E de um e outro modo, as coisas precisam de governo; pois, isso mesmo que nas coisas é estável reduzir–se–ia ao nada, donde vieram, se as mãos do governador não as conservassem, como a seguir se verá.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A necessidade natural, inerente aos seres determinados a um termo, foi impressa neles por Deus, que dirige para o fim; assim como a necessidade pela qual a seta é levada a tender a um alvo determinado, é impressão do sagitário e não dela. Mas há diferença em que as qualidades recebidas de Deus pelas criaturas constituem a natureza delas; ao passo que, por violência é que o homem imprime nos seres naturais o que Ihes é estranho à natureza. Por onde, assim como a fatalidade da violência, no movimento da seta, demonstra a direção do sagitário: assim, a necessidade natural das criaturas demonstra o governo da providência divina. 

Art. 3 – Se o homem foi colocado no paraíso para cultivá–lo e guardá–lo.

O terceiro discute–se assim. – Parece que o homem não foi colocado no paraíso para cultivá–lo e guardá–lo.

1. – Pois, o que foi imposto como pena do pecado não podia existir no paraíso, no estado de inocência. Ora, a agricultura foi imposta como pena do pecado, conforme a Escritura. Logo, o homem não foi colocado no paraíso para que o cultivasse.

2. Demais. – A guarda não é necessária onde não se teme nenhum ataque violento. Ora, tal ataque não era para temer, no paraíso. Logo, não era necessário que o homem o guardasse.

3. Demais. – Se o homem tivesse sido colocado no paraíso para cultivá–lo e guardá–lo, resultaria que aquele foi feito para este e não inversamente, o que é falso. Logo, o homem não foi colocado no paraíso para cultivá–lo e guardá–lo. Mas, em contrário, diz a Escritura: Tomou pois o Senhor Deus ao homem, e pô–la no paraíso dar delicias para ele o hortar e guardar.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Tomou pois o Senhor Deus, ao homem, e pô-lo no paraíso das delícias para ele o cuidar e guardar.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, esse passo da Escritura pode ser entendido em duplo sentido. – Em um, assim: Deus colocou o homem no paraíso, de maneira que Deus mesmo tratasse do homem e o guardasse. Tratasse, digo justificando–o; pois se tal operação cessar, o homem imediatamente se entenebrece, assim como o ar, se cessar a influência da luz. E o guardasse de toda corrupção e de todo o mal. – Em outro sentido, pode–se entender que o homem cultivasse e guardasse o paraíso. Porém essa operação não seria laboriosa, como o é depois do pecado; mas agradável, por causa da experiência das forças da natureza. E quanto à guarda, ela não podia ser contra nenhum ataque, mas seria para que o homem guardasse o paraíso para si afim de não perdê–lo pecando; o que tudo reverteria para seu bem. E assim o paraíso foi ordenado para o bem do homem, e não inversamente.

E daqui se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

Art. 2 – Se o paraíso era lugar conveniente à habitação humana.

O segundo discute–se assim. – Parece que ri paraíso não era lugar conveniente à habitação humana.

1. – Pois, o homem e o anjo ordenam–se, semelhantemente para a felicidade. Ora, o anjo logo, desde o princípio, foi constituído habitante do lugar dos bem–aventurados, isto é, do céu empireo, Logo, também essa devia ser a habitação humana.

2. Demais. – Ao homem deve ser assinalado um lugar, por causa da alma ou por causa do corpo. Por causa daquela, devido lhe é o céu, lugar natural da alma, desde que a todos é ínsito o desejo do mesmo. Por causa deste, devido lhe é o mesmo lugar dos outros animais. Logo, o paraíso de nenhum modo era lugar conveniente à habitação humana.

3. Demais. – É inútil o lugar em que nada está localizado. Ora, depois do pecado, o paraíso já não era lugar da habitação humana. Logo, se era lugar congruente à habitação humana, Deus o instituiu inutilmente.

4. Demais. – Ao homem, de compleição temperada, congruente lhe é um lugar de clima temperado. Ora, tal não era o paraíso; pois, diz–se que estava sob o círculo equinoxial, lugar calidíssimo, segundo parece; porque, duas vezes no ano, o sol passa pelo alto das cabeças dos que aí habitam. Logo, o paraíso não era lugar congruente à habitação humana.

Mas, em contrário, Damasceno diz, que o paraíso era uma região divina e digna morada de quem foi jeito à imagem de Deus.

SOLUÇÃO. – Como já se disse antes, o homem era incorruptível e imortal, não porque o seu corpo tivesse disposição incorruptível, mas por lhe ser inerente uma certa virtude da alma que preservava o corpo da corrupção.

Ora, o corpo humano pode ser corrompido interior e exteriormente. Inferiormente, pela consumpção da umidade e pela velhice, como já se disse antes; e esta corrupção o homem podia evitar, usando de alimentos. Por outro lado, o ar corrupto, principal causa da corrupção externa, se evita pela tempérie do mesmo. Ora, de ambos esses modos se podia evitar a corrupção, no paraíso; pois, como diz Damasceno, era lugar esplêndido pelo ar temperado, tenuissimo e purissimo, sempre coberto de plantas floridas, Por onde, é manifesto que o paraíso era lugar conveniente à habitação humana, no estado da primitiva imortalidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O céu ernpíreo é o mais elevado, dos lugares materiais e está fora de toda mutabilidade. Pela primeira qualidade, era lugar congruente à natureza angélica: pois, como diz Agostinho, Deus rege a criatura corpórea pela espiritual. E por isso é conveniente que a natureza espiritual seja constituída superior a toda a corpórea, como que presidindo–a. A segunda convém ao estado de beatitude, firmado em suma estabilidade. E, portanto  o lugar da beatitude, sendo congruente ao anjo pela sua natureza, aí foi ele criado. Mas não era congruente ao homem pela sua natureza, pois ele não preside a todas as criaturas corpóreas, governando–as, o que só lhe compete em razão da beatitude. Por onde, não foi colocado, desde o princípio, no céu empireo, mas para ele devia ser transferido, no estado final da beatitude.

RESPOSTA À SEGUNDA. – É ridículo dizer que a alma, ou qualquer substância espiritual, tenha algum lugar natural; mas, por uma certa congruência, um lugar especial é atribuído à criatura espiritual. O paraíso terrestre, porém, era lugar congruente ao homem, quanto à alma e quanto ao corpo; e isso porque. a alma tinha a virtude de preservar o corpo humano, da corrupção, o que não cabia aos outros animais. E, por isso, como diz Damasceno, nenhum irracional habitava o paraíso; embora, por dispensação divina, os animais fossem para ali conduzidos a Adão, e a serpente nele penetrasse, por obra do diabo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O referido lugar não foi inútil, por não ter sido a habitação dos homens, depois do pecado; como também não foi inútilrnente atribuída ao homem a imortalidade, que não havia de conservar. Mas por aí se manifesta a bondade de Deus para com o homem e o que este, pecando, perdeu. Embora seja dito que, atualmente, Enoque e Elias habitem o paraíso.

RESPOSTA À QUARTA. – Os que colocam o paraíso sob o círculo equinoxial, opinam que há, sob tal circulo, um lugar temperadíssimo. E isso por causa da contínua igualdade dos dias e das noites; e porque o sol nunca se afasta muito, de modo que os habitantes viessem a ter excesso de frio. Nem sofrem eles, segundo dizem, excesso de calor, pois embora o sol lhes passe por sobre as cabeças, contudo não se demora muito nessa posição. Aristóteles porém diz expressamente que a dita região é inabitável, por causa do calor. E isso parece mais provável; porque as terras onde o sol nunca passa diretamente por sobre as cabeças sofrem calor imoderado, só pela vizinhança do mesmo. Seja como for, devemos crer que o paraíso foi constituído num lugar temperadissimo, sob o círculo equinoxial ou algures. 

Art. 1 – Se o paraíso era um lugar material.

O primeiro discute–se assim. – Parece que o paraíso não era um lugar corpóreo.

1. – Pois, diz Beda, que o paraíso chega até o círculo lunar. Ora, tal não pode se dar com nenhum lugar terreno; quer por que fosse contra a natureza da terra o elevar–se tanto; quer por existir, sob o globo lunar, uma região ígnea, que consumiria a terra. Logo, o paraíso não é um lugar material.

2. Demais. – A Escritura menciona quatro rios nascidos no paraíso. Ora, esses rios aí mencionados tem, em outros lugares, origens manifestas, como também se vê claramente no Filósofo. Logo, o paraíso não é um lugar material.

3. Demais. – Alguns perquiriram muito diligentemente todos os lugares da terra habitável, e todavia nenhuma menção fizeram da situação do paraíso. Logo não é um lugar material.

4. Demais. – Afirma–se que a árvore da vida estava no paraíso. Ora tal árvore é espiritual, conforme a Escritura: É árvore da vida para aqueles que lançarem mão dela. Logo também o paraíso não era um lugar material, mas espiritual.

5. Demais. –  Se o paraíso fosse um lugar material, necessariarnente também seriam materiais as suas árvores. Ora, tal não podia ser, por terem elas sido produzidas no terceiro dia; pois, a Escritura menciona a plantação das árvores do paraíso depois das obras dos seis dias. Logo, o paraíso não é um lugar material.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Há três como opiniões geral, a respeito do paraíso; uma a dos que o querem compreender somente como material; a outra, a dos que se espiritualmente o compreendem " a terceira, a dos que o concebem de ambos os modos ; e confesso que esta é a que me agrada.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, o que se acomoda à concepção espiritual do paraíso nada impede que seja admitido; contanto que seja acreditada a verdade fidelíssima da história, confirmada pela narração dos factos passados; ora, o que a Escritura diz, do paraíso, é proposto como narração histórica. E assim, de tudo o que a Escritura historicamente nos transmite, deve–se ter como fundamento a verdade da história e, ulteriormente é que se devem procurar as exposições em sentido espiritual. E, pois o paraíso, como diz Isidoro, um lugar colocado nas partes do Oriente, cuja denominação, traduzida do grego para o latim, significa jardim. Por onde, convenientemente se considera situado na parte Oriental; pois há–se de crer que estava colocado no lugar mais nobre da terra toda. Ora, sendo o Oriente a dextra do céu, como se vê claramente no Filósofo, e sendo a dextra mais nobre que a esquerda, era conveniente que o paraíso terrestre fosse instituído por Deus na parte Oriental.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As palavras de Beda não são verdadeiras, entendidas de uma situação manifesta. Podem contudo ser explicadas como significando que ascendia até o lugar do globo lunar, não pela eminência da situação, mas pela semelhança; pois, há nesse lugar uma perpétua tempérie de ar, como diz Isidoro; e por aí assemelha–se aos corpos celestes, que não têm contrariedade. Porém, é feita menção, antes do globo lunar, do que das outras esferas, porque esse globo é o limite dos corpos celestes, em relação a nós. E a lua também tem mais afinidades com a terra, do que todos os corpos celestes; sendo por isso que, sujeita a certas trevas nebulosas, chega a ser quase opaca. Outros, porém dizem que o paraíso chegava até o globo lunar, isto é, até o meio do intervalo do ar, onde são produzidas as chuvas, os ventos e fenômenos semelhantes; e isso porque a influência sobre tais evaporações se atribuem, sobretudo à lua. Mas, a se seguir esta opinião, tal lugar não seria conveniente para a habitação humana, quer porque nele há a máxima intempérie, quer por não ser apropriado à compleição humana, como o ar inferior, mais vizinho da terra.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como diz Agostinho, deve–se acreditar que o lugar do paraíso está muito longe do conhecimento dos homens; que os rios, cujas fontes se dizem conhecidas, afundiram–se, em outras partes, nas terras e, depois de haverem percorrido espaçosas regiões, prorromperam em outros lugares. Pois, quem ignora que isso costuma dar–se com alguns rios?

RESPOSTA À TERCEIRA. – O referido lugar ficou separado das partes que habitamos por certas balisas: montes, mares ou alguma região ardente, que não podem ser ultrapassados. E é por isso que os descritores dos lugares não fizeram menção de tal lugar.

RESPOSTA À QUARTA. – A árvore da vida é uma árvore material, assim chamada por terem os seus frutos a virtude de conservar a vida, como já se disse antes. E contudo também significava algo de espiritual; assim como a pedra, no deserto era uma cousa material e todavia simbolizava Cristo. Semelhantemente, também a árvore da ciência do bem e do mal era uma árvore material, assim chamada por causa do futuro acontecimento. Porque, após havê–la comido, o homem, experimentando a pena, compreendeu a diferença entre o bem da obediência e o mal da desobediência, Mas também espiritualmente essa árvore podia significar o livre arbítrio, como certos disseram.

RESPOSTA Á QUINTA. – Segundo Agostinho, no terceiro dia foram produzidas as plantas, não atualmente. mas por certas razões seminais; mas, depois das obras dos seis dias, foram elas produzidas atualmente, tanto as do paraíso como as demais. – Porém, segundo outros Santos, necessário é dizer que todas as plantas foram produzidas, atualmente, no terceiro dia, e também as árvores do paraíso. E quanto à plantação das árvores do mesmo, depois das obras dos seis dias, isso se entende dito como recapitulação. E por isso em o nosso texto lê–se: O Senhor Deus tinha plantado desde o princípio um paraíso. 

Art. 2 – Se no estado de inocência os recém–nascidos teriam o uso perfeito da razão.

O segundo discute–se assim. – Parece que os recém–nascidos no estado de inocência teriam o uso perfeito da razão.

1. Pois, se agora as crianças não têm o uso perfeito da razão, é que a alma é agravada pelo corpo. O que então não se daria, conforme a Escritura: o corpo, que se corrompe, jaz pesada a alma. Logo, antes do pecado e da corrupção dele resultante, os recém–nascidos teriam o uso perfeito da razão.

2. Demais. – Certos animais, logo depois de nascidos, tem o uso de alguma indústria natural; assim, o cordeiro imediatamente foge do lobo. Por onde, muito mais forçosamente, os homens, no estado de inocência, logo depois de nascidos, teriam o uso perfeito da razão.

Mas, em contrário, a natureza procede, em todos os seres gerados, do imperfeito para o perfeito. Logo, as crianças não teriam, desde o princípio, o uso perfeito da razão.

SOLUÇÃO. – Como resulta do que foi dito antes, o uso da razão depende, de certo modo, do uso das virtudes sensitivas. Por onde, travados os sentidos, e impedidas as virtudes sensitivas interiores, o homem não tem o uso perfeito da razão, como bem se vê nos adormecidos e nos frenéticos. Ora, as virtudes sensitivas, sendo virtudes de órgãos corpóreos, impedidos que sejam os seus órgãos, necessariamente lhes hão de ficar impedidos os atos e, por consequência, o uso da razão. Mas, como nas crianças tais virtudes. ficam impedidas por causa da nímia umidade do cérebro, elas não têm o uso perfeito da razão, como não têm o dos demais membros. E por isso elas, no estado de inocência, não teriam o uso perfeito da razão, como o haveriam de ter na idade pefeita. Tê–le–iam, contudo, mais perfeito que agora, quanto ao que lhes dizia respeito, no sobredito estado, semelhantemente ao que se disse antes sobre o uso dos membros.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O agravó proveniente da corrupção do corpo consiste em que o uso da razão fica impedido também em relação ao que é próprio ao homem, em qualquer idade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Também os brutos não têm o uso perfeito da indústria natural, imediatamente, desde o princípio, como o tem depois. E isso bem se vê nas aves, que ensinam os filhos a voar; e o mesmo se nota nos outros géneros de animais. Mas no homem há um impedimento especial, resultante da abundância da umidade do cérebro, como antes se disse.

Art. 1 – Se no estado de inocência as crianças nasceriam com ciência perfeita.

O primeiro discute–se assim. – Parece que no estado de inocência as crianças nasceriam com ciência perfeita.

1. – Pois, tal era Adão, tais filhos geraria. Mas, como já se disse antes, Adão tinha ciência perfeita. Logo, nasceriam dele filhos com ciência perfeita.

2. Demais. – A ignorância é causada pelo pecado, como diz Beda. Ora, ela é a privação da ciência. Logo, antes do pecado, os recém­nascidos teriam a ciência universal.

3. Demais. – Os recém–nascidos teriam a justiça. Ora, para esta é necessária a ciência, diretora das ações. Logo, teriam a ciência.

Mas, em contrário, a nossa alma é, por natureza, como uma tábua na qual nada está escrito, como diz Aristóteles. Ora, a natureza atual da alma é a mesma que a de então. Logo, as almas das crianças careceriam, no princípio da ciência.

SOLUÇÃO; Como se disse antes, há de se crer só na autoridade em matéria de sobrenatural. Pois onde, quando essa falta, devemos seguir a condição da natureza. Ora, é natural ao homem adquirir a ciência pelos sentidos, como se disse antes. E a alma está unida ao corpo porque dele precisa para a sua operação própria; o que não se daria se, logo desde o princípio, tivesse ciência não adquirida pelas virtudes sensitivas. Logo, devemos pensar que as crianças, no estado de inocência, não nasceriam com ciência perfeita; mas a adquiririam, no decurso do tempo, sem dificuldade, descobrindo ou aprendendo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A perfeição na ciência foi um acidente individual do primeiro pai, enquanto instituído pai e instrutor de todo o gênero humano. Por onde, relativamente a ela, não geraria filhos semelhantes a si, senão só quanto aos acidentes naturais ou gratuitos, de tôda a natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A ignorância é a privação da ciência devida, naquele tempo. E essa ignorância não a teriam os recém–nascidos, pois possuiriam a ciência que lhes competia então. Por onde, neles não haveria ignorância; mas apenas deixariam de saber certas coisas, o que Dionísio admite também em relação aos santos anjos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – As crianças teriam a suficiente ciência para se dirigirem nas obras da justiça, nas quais os homens agora se dirigem pelos princípios universais do direito. E essa ciência a teriam muito mais plenamente que agora os homens naturalmente a temos; e, semelhantemente, a ciência dos outros princípios universais. 

Art. 2 – Se no primitivo estado nasceriam mulheres.

O segundo discute–se assim. – Parece que no primitivo estado não nasceriam mulheres.

1. – Pois, diz o Filósofo, a fêmea é um macho falho, nascida como que contra a intenção da natureza. Ora, no dito estado, nada seria contra a natureza, na geração do homem. Logo, não nasceriam mulheres.

2. Demais. – Todo gerador gera o semelhante a si, se não for impedido, ou por deficiência da virtude, ou por indisposição da matéria; assim, um fogo pequeno não pode queimar a madeira verde. Ora, na geração, ao homem pertence a virtude ativa. E como, no estado de inocência, não havia no homem nenhuma deficiência de virtude, nem, na mulher, nenhuma indisposição da matéria, resulta que haveriam de nascer sempre homens.

3. Demais. – No estado de inocência a geração era ordenada à multiplicação dos homens. Ora, estes podiam suficientemente multiplicar–se pelo primeiro homem e pela primeira mulher, desde que viveriam perpetuamente. Logo, não era necessário nascessem mulheres, no estado de inocência.

Mas, em contrário, a natureza procederia, na geração, conforme Deus a instituiu. Ora, Deus instituiu o homem e a mulher, em a natureza humana, como diz a Escritura. Logo, mesmo no sobredito estado, haviam de ser gerados homens e mulheres.

SOLUÇÃO. – No estado de inocência, não faltaria nada do que pertence ao complemento da natureza humana. Ora, assim como para a perfeição do universo concorrem os diversos graus dos seres, assim também a diversidade dos sexos concorre para a perfeição da natureza humana. E por isso, no estado de inocência, ambos os sexos seriam produzidos por geração.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A mulher chama–se macho falho por ser contra a intenção da natureza particular; não, porém, contra a da natureza universal, como já se disse antes.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A geração da mulher se dá, não só por deficiência da virtude ativa ou pela indisposição da matéria, como refere a objeção, mas também, às vezes, por algum acidente extrínseco. Assim, como diz o Filósofo, o vento setentrional ajuda a geração dos machos; o austral, porém, a das fêmeas. As vezes também pela concepção da alma, pela qual facilmente é imutado o corpo. E isto podia dar–se precipuamente no estado de inocência. quando o corpo estava melhor sujeito à alma, de modo que, conforme a vontade do gerador, assim se distinguisse o sexo, na prole.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A prole seria gerada, com vida animal, à qual é próprio não só usar de alimento, como também gerar. Por onde, convinha que todos gerassem e não só os primeiros pais; donde resultaria que seriam gerados tanto mulheres quanto homens.

Art. 1 – Se as crianças recém–nascidas, no estado de inocência, tinham virtude perfeita, quanto ao movimento dos membros.

O primeiro discute–se assim. – Parece que as crianças, recém–nascidas, no estado de inocência, tinham virtude perfeita, quanto ao movimento dos membros.

1. – Pois, como diz Agostinho, à debilidade da mente é correlata a do corpo, o que bem se vê nas crianças. Ora, no estado de inocência, não havia nenhuma fraqueza da mente. Logo, também não haveria nas crianças a dita fraqueza do corpo.

2. Demais. – Certos animais têm, logo depois de nascidos, virtude suficiente para usarem dos membros. Ora, o homem sendo mais nobre que os animais, com muito maior razão lhe há de ser natural ter essa virtude, logo depois de nascido. E é por pena consequente ao pecado que não a tem.

3. Demais. – Não poder conseguir o deleitável desejado causa sofrimento. Ora, se as crianças não tivessem a virtude de mover os membros, frequentemente acontecer–lhes–ia não poderem conseguir tal deleitável. Donde o caírem em sofrimento, o que não podia ser, antes do pecado. Logo, no estado de inocência, não faltaria às crianças a virtude de mover os membros.

4. Demais. – A deficiência da velhice corresponde à da puerícia. Ora, aquela não existia, no estado de inocência. Logo, nem esta.

Mas, em contrário, tudo o que é gerado é imperfeito, antes de vir a ser perfeito. Ora, no estado de inocência, filhos eram produzidos por geração. Logo, a princípio seriam imperfeitos pelo tamanho e pela virtude do corpo.

SOLUÇÃO. – Só pela fé conhecemos o sobrenatural; e o que cremos à autoridade o devemos. Por onde, em tudo o que afirmarmos, devemos seguir a natureza das coisas, exceto em relação às verdades sobrenaturais, transmitidas pela autoridade divina. Ora, é manifestamente natural e de acordo com os princípios da natureza humana; que as crianças recém­nascidas não tenham virtude suficiente para mover os membros. Pois o homem tem naturalmente o cérebro de tamanho maior, proporcionalmente ao seu corpo, do que os brutos. E por isso é natural que, por causa da muita umidade do cérebro das crianças, os nervos, instrumentos do movimento, não sejam idóneos para mover os membros. Mas por outro lado, para nenhum católico é duvidosa a divina virtude de fazer com que os recém–nascidos tenham virtude perfeita para mover os membros. Pois, consta da autoridade da Escritura que Deus criou o homem reto: e esta retidão consiste, como diz Agostinho, na perfeita sujeição do corpo à alma. Assim como, pois, no primeiro estado, não podia haver nos membros do homem nada que lhes repugnasse à vontade ordenada; assim, esses membros não podiam ser deficientes em relação à vontade. Ora, é ordenada a vontade do homem, que tende para atos que lhe são convenientes, E como não são os mesmos os atos convenientes, às várias idades do homem, conclui–se que as crianças recém–nascidas não tinham suficiente virtude para mover os membros para quaisquer atos, mas só para os que fossem convenientes à puerícia, por exemplo, apegar–se aos seios e outros semelhantes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Agostinho refere–se à debilidade atual das crianças, que aparece mesmo relativamente aos atos convenientes à puerícia delas; como é claro pelo que dissera antes, que estando ao lado dos seios, antes chorariam e padeceriam fome, que se apegassem a eles.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Não é por perfeição, que certos animais recém–nascidos tem o uso dos membros, pois, outros mais perfeitos não o tem. Mas tal lhes advém da secura do cérebro, e de serem imperfeitos os atos que lhes são próprios, para os quais pode bastar uma virtude, mesmo fraca,

RESPOSTA À TERCEIRA. – Deduz–se clara a resposta do que foi dito no corpo do artigo. – Ou se pode dizer que nada desejariam senão do que lhes conviesse, no seu estado, por uma vontade ordenada.

RESPOSTA À QUARTA. – O homem, no estado de inocência, seria gerado, mas não, corrupto. Por onde, nesse estado, poderiam existir algumas deficiências pueris resultantes da geração; não, porém, senis, que levam à corrupção. 

Art. 2 – Se no estado de inocência havia geração por meio do coito.

O segundo discute–se assim. – Parece que no estado de inocência não havia geração por meio do coito.

1. – Pois, como diz Damasceno, o primeiro homem estava no paraíso terrestre como se fosse um anjo. Ora, no estado futuro da ressurreição, quando os homens forem semelhantes aos anjos, nem as mulheres terão maridos, nem os maridos mulheres, como diz a Escritura. Logo, também no paraíso não havia geração por meio do coito.

2. Demais. – Os primeiros homens foram criados em idade perfeita. Ora, se antes do pecado, eles gerassem por meio do coito, ter­se–iam, mesmo no paraíso, unido carnalmente. O que é claramente falso, conforme a Escritura.

3. Demais. – Na conjunção carnal o homem, pela veemente deleitação, assemelha­se muitíssimo aos brutos. E por isso a continência, pela qual os homens se abstêm de tais deleitações, é louvada. Ora, é pelo pecado que o homem é comparado aos brutos, conforme a Escritura: O homem, quando estava na honra, não o entendeu: foi comparado aos brutos irracionais, e se fez semelhante a eles. Logo, antes do pecado, não havia conjunção carnal do homem e da mulher.

4. Demais. – No estado de inocência não havia nenhuma corrupção. Ora, o coito corrompe a integridade da virgindade. Logo, não existia no estado de inocência.

Mas, em contrário, Deus, antes do pecado criou o homem e a mulher, como diz a Escritura. Ora, nada é vão, nas obras de Deus. Logo, mesmo que o homem não pecasse, haveria coito, para o que se ordena a distinção dos sexos.

DEMAIS. – A Escritura diz que a mulher foi feita para o auxílio do homem. Ora, esse auxílio não é senão a geração por meio do coito, pois, em qualquer outra obra, melhor seria um homem ajudado por outro, do que pela mulher. Logo, no estado de inocência, haveria a geração por meio do coito.

SOLUÇÃO. – Alguns dos antigos Doutores, considerando a vileza da concupiscência, no coito, no estado atual, ensinavam que no estado de inocência não se realizava desse modo a geração. Assim, Gregório Nisseno diz que no paraíso o gênero humano se multiplicaria como se multiplicaram os anjos, sem concúbito, por operação da divina virtude. E diz mais que Deus, antes do pecado, criou homem e mulher, prevendo o modo da geração que havia de existir depois do pecado, de que tinha preciência.

Mas tal opinião não é racional. Pois, o pecado não subtrai nem dá ao homem aquilo que lhe é natural. Ora, é manifesto que ao homem, assim como aos animais perfeitos, é natural gerar, pelo coito, à vida animal, que já tinha antes do pecado, como já se disse; e isso o indicam os membros naturais para tal fim destinados. Por onde, não se deve dizer que antes do pecado não eram esses membros naturais usados, como o eram os outros.

Ora, no coito há duas coisas a se considerarem, no estado presente. – Primeira, que é natural para a geração a conjunção do homem e da mulher, pois, em tôda geração, requer–se a virtude ativa e a passiva. Donde, em todos os seres em que há distinção dos sexos, estando a virtude activa no macho e a passiva, na fêmea, a ordem da natureza exige que para gerar unam­se ambos pelo coito. – Segunda, a deformidade da imoderada concupiscência, que não havia no estado de inocência, quando as virtudes inferiores estavam absolutamente sujeitas à razão. E, por isso, Agostinho diz: Longe de nos o pensar que não pudesse gerar–se a prole sem o morbo da libidinosidade; mas, os membros carnais, como os outros, mover–se–iam pelo império da vontade, sem ardor e estimulo sedutor, com tranquilidade da alma e do corpo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O homem, no paraíso, seria como um anjo, quanto à alma espiritual; mas teria a vida animal do corpo. Mas depois da ressurreição o homem será semelhante ao anjo, espiritualizado, quanto à alma e quanto ao corpo. Por onde, não há semelhança de razão.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como diz Agostinho, se os primeiros pais não se uniram no paraíso, foi porque logo depois da formação da mulher, foram dele expulsos por causa do pecado. Ou porque esperavam, da autoridade divina, da qual receberam o mandato universal, o tempo determinado para a conjunção.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como os brutos carecem de razão, o homem, na conjunção, torna–se bruto, porque o deleite do coito e o ardor da concupiscência não podem ser moderados pela razão. Mas no estado de inocência nada haveria que não fosse por esta moderado. Não que houvesse menor deleite sensível, como querem alguns; pois, este seria tanto maior quanto mais pura fosse a natureza e o corpo mais sensível; mas a virtude concupiscível não perturbaria, desordenadamente, o referido deleite, regulado pela razão, que faz, não com que este seja menor, mas com que a virtude concupiscível não se lhe torne imoderadamente inerente. E digo, imoderadamente, por causa da medida da razão. Assim o sóbrio não tem, no alimento moderadamente tomado, menor deleite que o guloso; mas o seu concupiscível concentra–se menos em tal deleite. E as palavras de Agostinho significam que do estado de inocência não está excluída a intensidade do deleite, mas o ardor da libidinosidade e a perturbação da alma. Por isso a continência, no referido estado, não seria louvável, como, no tempo atual, em que o é, não por privar da fecundação, mas pela remoção da libidinosidade desordenada. Pois então havia aquela sem esta.

RESPOSTA À QUARTA. – Como diz Agostinho, naquele estado, sem nenhuma corrupção da integridade, o marido se uniria com a mulher. E isto podia dar–se, ficando salva a integridade data, assim como agora é possível, salva a mesma integridade, uma virgem ler o fluxo menstrual. Pois, assim como no parto não seria o gemido da dor, mas o implemento do termo que distenderia as vísceras femininas, assim, na concepção, não o desejo libidinoso, mas o uso voluntário é que uniria os sexos.

Art. 1 – Se no estado de inocência havia geração.

O primeiro discute–se assim. – Parece que no estado de inocência, não havia geração.

1. – Pois, como diz Aristóteles, a corrupção é contrária à geração. Ora, os contrários não podem recair sobre o mesmo objeto. Logo, no estado de inocência não havia corrupção e, portanto nem geração.

2. Demais. – A geração tem por fim fazer com que seja conservado, na espécie, o que não pode ser individualmente conservado; e por isso não há geração para os indivíduos que duram perpetuamente. Ora, no estado de inocência o homem viveria perpetuamente, sem morrer. Logo, nesse estado não havia geração.

3. Demais. – Os homens se multiplicam pela geração. Ora, entre muitos donos é necessário fazer–se a divisão das propriedades para se evitar a confusão de domínio. Logo, tendo o homem sido instituído senhor dos animais, daí resultaria, multiplicado o gênero humano pela geração, a divisão do domínio. O que é contrário ao direito natural, pelo qual, como diz Isidoro, todas as coisas são comuns. Logo, não havia geração no estado de inocência.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Crescei e multiplicai–vos e enchei a terra. Ora, essa multiplicação não podia dar–se sem nova geração, pois, foi criado no princípio só um casal. Logo, no primitivo estado havia geração.

SOLUÇÃO. – No estado de inocência haveria geração, para a multiplicação do gênero humano; do contrário o pecado do homem, de que resultou tão grande bem, teria sido muito necessário. Por onde, devemos considerar que o homem, pela sua natureza, foi constituído um como meio entre as criaturas corruptíveis e as incorruptíveis; pois, ao passo que a sua alma é naturalmente incorruptível, o corpo é naturalmente corruptível. Mas devemos atentar em que uma é a intenção da natureza, em relação às coisas corruptíveis, e outra, em relação às incorruptíveis, Ora, o que é da intenção da natureza é sempre e perpetuamente; ao passo que o que existe só temporariamente não é da intenção dela, principalmente, mas é ordenado para outro fim; pois, do contrário, a intenção ficaria anulada, Com a corrupção do que é temporário. Como, pois, das coisas corruptíveis, nada é perpétuo e permanece sempre, salvo a espécie, o bem desta está na intenção principal da natureza, e para a conservação dele se ordena a geração natural. As substâncias incorruptíveis, porém, permanecendo sempre, não só específica, mas ainda individualmente, nelas os próprios indivíduos estão na intenção principal da natureza. Assim pois o homem, em relação ao corpo corruptível por natureza, tem a geração; quanto à alma incorruptível, porém, a multidão dos indivíduos é em si, da intenção da natureza, ou antes, do autor da natureza, que, só, é o Criador das almas humanas. Por isso, para a multiplicação do género humano ele estabeleceu a geração, mesmo no estado de inocência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O corpo do homem, em si, no estado de inocência, era corruptível; mas, podia ser preservado da corrupção, pela alma. Por onde, não devia ser subtraída ao homem a geração, devida aos seres corruptíveis.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A geração, no estado de inocência, embora não fosse por causa da conservação da espécie, seria, todavia, por causa da multiplicação dos indivíduos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – No estado atual, multiplicados os donos, necessário é que se faça a divisão das propriedades, pois, como diz o Filósofo, a comunidade da propriedade é ocasião da discórdia. Mas no estado de inocência, as vontades dos homens seriam ordenadas de modo tal, que sem nenhum perigo de discórdia usufruiriam em comum, na medida em que coubesse a cada um, das coisas que lhes estivessem sujeitas ao domínio; pois que, ainda agora, tal se observa entre muitos homens bons.

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