O primeiro discute–se assim. – Parece que no estado de inocência as crianças nasceriam com ciência perfeita.
1. – Pois, tal era Adão, tais filhos geraria. Mas, como já se disse antes, Adão tinha ciência perfeita. Logo, nasceriam dele filhos com ciência perfeita.
2. Demais. – A ignorância é causada pelo pecado, como diz Beda. Ora, ela é a privação da ciência. Logo, antes do pecado, os recémnascidos teriam a ciência universal.
3. Demais. – Os recém–nascidos teriam a justiça. Ora, para esta é necessária a ciência, diretora das ações. Logo, teriam a ciência.
Mas, em contrário, a nossa alma é, por natureza, como uma tábua na qual nada está escrito, como diz Aristóteles. Ora, a natureza atual da alma é a mesma que a de então. Logo, as almas das crianças careceriam, no princípio da ciência.
SOLUÇÃO; Como se disse antes, há de se crer só na autoridade em matéria de sobrenatural. Pois onde, quando essa falta, devemos seguir a condição da natureza. Ora, é natural ao homem adquirir a ciência pelos sentidos, como se disse antes. E a alma está unida ao corpo porque dele precisa para a sua operação própria; o que não se daria se, logo desde o princípio, tivesse ciência não adquirida pelas virtudes sensitivas. Logo, devemos pensar que as crianças, no estado de inocência, não nasceriam com ciência perfeita; mas a adquiririam, no decurso do tempo, sem dificuldade, descobrindo ou aprendendo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A perfeição na ciência foi um acidente individual do primeiro pai, enquanto instituído pai e instrutor de todo o gênero humano. Por onde, relativamente a ela, não geraria filhos semelhantes a si, senão só quanto aos acidentes naturais ou gratuitos, de tôda a natureza.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A ignorância é a privação da ciência devida, naquele tempo. E essa ignorância não a teriam os recém–nascidos, pois possuiriam a ciência que lhes competia então. Por onde, neles não haveria ignorância; mas apenas deixariam de saber certas coisas, o que Dionísio admite também em relação aos santos anjos.
RESPOSTA À TERCEIRA. – As crianças teriam a suficiente ciência para se dirigirem nas obras da justiça, nas quais os homens agora se dirigem pelos princípios universais do direito. E essa ciência a teriam muito mais plenamente que agora os homens naturalmente a temos; e, semelhantemente, a ciência dos outros princípios universais.