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Category: Pe. François-Marie Chautard - FSSPXConteúdo sindicalizado

Dossiê: a Missa de Paulo VI

Pe. François-Marie Chautard

 

 

A missa é o que há de mais belo e melhor na Igreja [...] Assim, o diabo sempre procurou,
através dos hereges, privar o mundo da missa.

Santo Afonso de Ligorio

 

 

A despeito de tal pensamento, Lutero não mascarou sua vigorosa rejeição da Missa: "Quando a Missa for destruída, penso que teremos derrubado o papado! Pois é sobre a missa, como sobre uma rocha, que todo o papado descansa, com seus mosteiros, seus bispados, suas universidades, seus altares, seus ministros e sua doutrina ... Tudo ruirá quando ruir essa missa sacrílega e abominável."1

Para além da virulência da intenção, é evidente o abismo que separa a concepção luterana e a doutrina católica sobre a missa.

Esta oposição parece ter sido consideravelmente diminuída com a reforma do Missal Romano operada por Paulo VI, em abril de 1969. Já em maio de 1969, o protestante Max Thurian, da comunidade de Taizé, afirmava placidamente: "Com a nova liturgia, as comunidades não-católicas poderão celebrar a Ceia do Senhor com as mesmas orações que a Igreja Católica. Teologicamente, é possível.”

Como explicar tal mudança? O novo rito estaria mais próximo da posição protestante? Ou foram os protestantes que mudaram? Duas opiniões, uma, de um católico, outra, um de protestante, favorecem a primeira interpretação. 

Monsenhor Bugnini, principal arquiteto da reforma litúrgica, admitiu com surpreendente simplicidade: "[na reforma litúrgica] a Igreja foi guiada pelo amor das almas e pelo desejo de fazer tudo para facilitar aos nossos irmãos separados o caminho da união, removendo qualquer pedra que pudesse constituir sequer uma sombra de risco de tropeço ou desagrado."2

Os termos utilizados são reveladores: "fazer tudo", "sombra de risco", "tropeço ou desagrado". Para evitar essa “sombra de risco”, Monsenhor Bugnini não negligenciou nada. Seis pastores protestantes foram chamados para ajudá-lo a projetar a nova missa. 

A segunda opinião vem de um protestante. Em 1984, após o indulto do Papa João Paulo II autorizando a celebração da Missa de São Pio V sob certas condições, o jornal Le Monde publicou o seguinte texto, assinado pelo pastor Viot 3

"A reintrodução da Missa de São Pio V (...) é muito mais do que uma questão de linguagem: é uma questão doutrinal da mais alta importância, no centro dos debates entre católicos e protestantes, debates que, da minha parte, julgava felizmente estarem encerrados (...) Muitos dos nossos antepassados ​​na fé reformada de acordo com a Palavra de Deus preferiram ir à fogueira ao invés de assistir esse tipo de missa que o Papa Pio V tornou oficial contra a Reforma. Ficamos, portanto, encantados com as decisões do Vaticano II sobre o assunto e a firmeza de Roma em relação àqueles que não quiseram se submeter ao Concílio e continuaram a usar uma missa que, aos nossos olhos, contraria o Evangelho.”

O pensamento é claro, a linguagem é direta: a irredutibilidade da doutrina protestante e da Missa tradicional permanece. 

A mudança de posição não vem, portanto, dos protestantes, mas do rito católico. Eis a conclusão que precisamos fundamentar em bases sólidas. 

O estudo da missa de Paulo VI não é, pois, de interesse trivial. Esclarecemos, para evitar qualquer mal-entendido, que o exame desse rito cobrirá apenas o texto oficial de 1962, e não as adaptações inacreditáveis, mas infelizmente recorrentes.

Para abordar a reforma do missal litúrgico, procederemos da seguinte maneira [CLIQUE NO LINK PARA LER]: 

1 - Alguns lembretes sobre a doutrina católica. 

2 - O paralelo com a missa de Lutero. 

3 - Deficiências doutrinais da missa de Paulo VI. 

4 - Seus autores. 

5 - O delicado problema de sua validade. 

6 - Consequências morais no comparecimento à missa de Paulo VI.

  1. 1. Citado por Cristiani, Du luthéranisme au protestantisme, 1910.
  2. 2. Todas essas citações foram tiradas de La messe a-t-elle une histoire? , éd du MJCF, 2002, p. 134.
  3. 3. Retornou desde então à Igreja Católica e foi ordenado padre.

Paulo VI e a auto-demolição da Igreja

Pe. François Marie-Chautard, FSSPX

 

“É preciso reconhecer que o papa Paulo VI trouxe um sério problema à consciência dos católicos.

Esse papa causou mais males à Igreja que a Revolução de 1789”. (Dom Marcel Lefebvre)1

 

Quando em junho de 1963 Paulo VI tomou posse do segundo e terceiro andares do Palácio Apostólico, tradicionalmente reservados ao Santo Padre, tratou de arrumá-los a seu gosto. Amante de arte contemporânea, queria dar um aspecto moderno a seus apartamentos. Tapeçaria e poltronas antigas foram substituídas por tecidos e móveis de estilo recente, os aposentos renovados foram adornados com obras de artistas em voga, e sua capela privada foi transformada no espírito dos anos 60.

A história do seu pontificado revelaria que essa nova decoração era representativa da maneira com a qual o novo papa iria considerar e reger a Tradição da Igreja. (Continue a ler)

  1. 1. Dom Marcel Lefebvre, Carta aberta aos católicos perplexos, Editora Permanência.

Catecismo das verdades oportunas: os acordistas

Pe. François-Marie Chautard, FSSPX

   

1) Quem são os acordistas ?

Os que chamamos de acordistas são as comunidades, os padres e os fieis que, inicialmente, decidiram defender a Tradição, mas depois das Sagrações de 1988 e da “excomunhão” fulminada contra Dom Marcel Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer e os quatro bispos sagrados, decidiram pôr-se sob a dependência efetiva da hierarquia atual, conservando a liturgia tradicional. Eles, portanto, fizeram um acordo com a Igreja Conciliar.

Por extensão, o vocábulo de “acordistas” designa as comunidades, os padres e fieis que conservam a liturgia tradicional, mas aceitam os principais erros conciliares, assim como a plena validade e legitimidade da missa nova de Paulo VI e dos sacramentos promulgados e editados por esse Papa.

“Dom Gérard, em sua declaração, baseia-se nas concessões que lhe fizeram e aceita pôr-se sob a obediência da Roma modernista, que no fundo permanece  anti-tradicional” 1. (Continue a ler)

  1. 1. Mons Lefebvre, carta de 18/08/1988 ao padre Tomás de Aquino

O patriotismo é uma virtude cristã?

 Pe. François-Marie Chautard, FSSPX

 

“Se o catolicismo fosse inimigo da pátria, 

não seria uma religião divina”.

São Pio X 1

 

Desagrade ou não a Jean-Jacques Rousseau, o homem é um animal social.

Portanto, não seria coerente tratar da perfeição moral sem examinar as relações que o homem estabelece com Deus e seus semelhantes.

Essas relações envolvem vínculos, trocas, deveres e direitos; daí existir no homem uma virtude que lhe permite cumprir retamente seus distintos deveres para com Deus, a sociedade e o próximo: a virtude da justiça.

É incontestável que os deveres variam em função das diferentes formas de relações: o dever para com o bem comum da sociedade não é o mesmo que o dever para com um simples bem particular. Igualmente, os deveres variam segundo as pessoas: Deus, os pais, ou desconhecidos. Eis por que a justiça ramifica-se em várias espécies e partes.

Ora, uma virtude que se tornou desconhecida a muitos, por causa da ingratidão cristalizada do espírito moderno, é a virtude da piedade para com a nação, a pátria.

Ao examinar a virtude da justiça, pela qual “a vontade se dispõe a dar a cada um o que lhe é de direito”, Santo Tomás examina seus beneficiários, que são variados e de diversas ordens. Por exemplo, o comerciante a quem se deve pagar uma quantia exata cobrada por um objeto comprado. É um caso bastante simples, pois o que é devido – o valor – é algo preciso, exato. Uma vez que o comprador pagou a fatura, quitou seu dever em toda a justiça.

Neste caso, a dívida repara estritamente a justiça, pois quita uma dívida precisa (pagar uma quantia exata). Mas quando se trata de Deus, dos pais ou da nação, poderíamos   alguma vez nos julgarmos quites? Poderíamos aplicar essa justiça? Poderíamos, por exemplo, em toda a justiça prestar o culto devido a Deus? Ou recompensar aos pais um bem equivalente ao da vida que nos deram, sem falar na educação?

É claro que não. Por isso algumas espécies de justiça não têm a sua medida perfeita, visto que não se pode pagar plenamente o que é devido. É o caso de três virtudes:

- a religião: Devemos um culto a Deus, mas sozinhos jamais chegaríamos a honrá-lo na medida que a sua grandeza exige, bem como não poderíamos jamais retribuir-Lhe suficientemente e lhe dar tanto quanto nos deu 2.

- a piedade: Essa espécie de justiça reconhece a dívida de gratidão para com nossos pais, entendidos tanto no sentido estrito como no sentido amplo (ancestrais e pátria). Santo Tomás exprime-se assim: “A piedade, que se deve principalmente aos pais, deve se estender também a todos os que têm conosco vínculo de sangue, pois somos descendentes dos mesmos parentes; em seguida, deve se estender aos compatriotas, porque têm em comum conosco a mesma terra natal.” 3 

- a observância: Consiste no reconhecimento e na honra devidas às pessoas de grande mérito e grande virtude, ou seja, os grandes homens de uma nação: santos, heróis militares, estadistas etc. Pois bem, jamais se recompensa suficientemente uma virtude vivida em grau excelente. 

Mas o fato de não se conseguir recompensá-la suficientemente não faz disto algo dispensável. Muito pelo contrário. Como o homem jamais conseguiria restituir a Deus, aos pais ou a pátria o tanto que deles recebeu, ele nunca está quite e, portanto, deveria se pôr a praticar diligentemente essa virtude!

 

Em que consiste a piedade “patriótica”?

Essa piedade não é o fervor com que se reza a Deus, mas sim a veneração que se tem para com os pais e a pátria, porque estão no princípio de nossa existência. Segundo Cícero, “a piedade é o exato cumprimento de nossos deveres para com os pais e os amigos de nossa pátria.”

Somos herdeiros e devedores. Assim o ensina Santo Tomás, com sua clareza habitual: “O homem é constituído devedor a diferentes títulos para com os outros, segundo a excelência diversa deles e os benefícios diversos que deles recebeu.

“Ora, em ambos os casos o lugar supremo pertence a Deus, por ser excelentíssimo e o princípio primeiro que nos deu o ser e nos governa.

“Mas, em segundo lugar, este título convém a nossos pais e a nossa pátria, dos quais e na qual recebemos a vida e a educação. Portanto, depois de Deus, somos devedores sobretudo dos pais e da pátria. Em consequência, assim como o fim da religião é prestar culto a Deus, assim também, num degrau inferior, o objeto da piedade é prestá-lo aos pais e à pátria. Ademais, o culto dos pais se estende ao que prestamos a todos da mesma ascendência, como o demonstra Aristóteles. Ora, o culto da pátria abrange o prestado a todos os cidadãos e a todos os amigos dela. Por isso a eles se estende de maneira principal a piedade.”4

Normalmente, quando falamos em “culto”, referimo-nos ao culto destinado a Deus, pois a honra devida ao pai e, por fim, a toda a autoridade, faz parte da honra rendida a Deus, já que toda autoridade criada é um reflexo da autoridade divina 5. É por isso que a apostasia hoje reinante está necessariamente acompanhada de uma crise de autoridade. Do mesmo modo, a restauração dos direitos do pai ou de qualquer autoridade só poderá ter resultados duradouros com a restauração dos direitos de Deus.

Enfim, como “as relações entre consanguíneos e concidadãos tocam mais intimamente os princípios da nossa existência do que as relações de amizade”6, a honra e a piedade devem se dirigir antes de tudo aos pais e às autoridades. Quando certos católicos defendem que a Igreja deveria abster-se de toda consideração política, manifestam assim o senso estreito e raquítico de sua virtude da justiça.

 

A pátria, princípio de nosso ser

Falta definir o que entendemos por pátria. Primeiramente, é a terra dos pais. Charles Péguy assim a definia: “A pátria é certa extensão de terra onde se fala uma língua, onde os costumes podem reinar; é um espírito, uma alma, um culto, é a porção de terra onde uma alma pode respirar. É a terra que se tornou nosso lar”. A essa noção da pátria carnal, o Rev. Pe. de Chivré acrescenta um complemento oportuno:

Na origem de uma pátria, há uma escolha, um casamento psicológico, um ‘noivado’ moral, entre um homem e um lugar, e o que compõe a pátria é o resultado entre o elemento temporal que se adotou e a ligação livre e definitiva do humano a esse elemento. Uma terra escolhida por um homem, na qual ele decidiu realizar atividades que unem a terra a si: eis a pátria.

Existem, então, dois elementos: um carnal e outro livre e psicológico. Esta escolha da pátria traz consigo oportunidades de ação proporcionadas pela terra, o mar, a montanha, as minas, etc. A terra é um princípio de atividade. O Estado, responsável pela pátria, tem como primeiro dever obrigar a terra a fornecer seu máximo de atividade ao homem7.

Mas, para além da terra, há a herança dos pais, que não é somente o solo, mas o sangue, os bens, os princípios, a religião: os deuses de nossos pais.

Em seu comentário sobre o artigo de Santo Tomás citado acima, Caetano insiste na noção de princípio que fundamenta essa virtude. A pátria é para nós um princípio e inicialmente talvez isso nos surpreenda. Mas ao refleti-lo bem, não somos dependentes do passado da nação? Se somos católicos, não o devemos a nossos avós? Os costumes católicos aos quais nos habituamos, não os herdamos de nossos pais? Nossa língua, precisa e estruturante para o espírito, não é um patrimônio legado por nossos antepassados? As igrejas, os palácios, os monumentos que embelezam nossas cidades, não contribuem para criar uma atmosfera à qual não damos mais atenção hoje? Porventura a fé gravada nas pedras de nossas igrejas do interior, dos muros de nossos casarões antigos, de nossos cruzeiros do campo, não conta nada na transmissão da civilização e da cultura católicas? Quem quer que já tenha viajado, mesmo pouco, sabe o quão forte e durável é a marca deixada pela sociedade em seus membros: o homem é formado sobre um passado e não faz senão construir sobre esse passado, essa herança. É preciso ter uma mentalidade de adolescente para imaginar que um homem pode se construir sozinho, amputando suas raízes.

Esse culto dos pais encontrava-se tão enraizado na Antiguidade pagã que estava no fundamento de todas as sociedades e do direito das sociedades 8. A antiguidade havia até caído no excesso contrário, oferecendo um culto divino aos pais. A Igreja o corrigiu, mas salientou o que ele tinha de nobre:

Depois de Deus, diz Santo Tomás, é a nossos pais e à pátria a quem mais devemos (IIa IIae, q.101, a.1). O verdadeiro patriotismo é a virtude moral da piedade filial, que, iluminada pela fé sobrenatural e a prudência cristã, como se vê em um São Luís ou uma Santa Joana d’Arc, é uma virtude infusa, uma virtude perfeitamente subordinada ao amor de Deus e de todos os homens nele.9

 

Quais os meios de se prestar culto à pátria e aos pais?

Antes de tudo, presta-se culto10 à pátria e aos pais perpetuando a lembrança e rendendo honra aos ancestrais e heróis. Aí, a comemoração dos heróis da guerra de 1914 é um ato de justiça elementar para com aqueles que combateram até verem libertado o solo da pátria, a herança dos pais 11. E, para numerosos soldados cristãos, esse sangue derramado pela França o foi em reparação aos crimes da França anticlerical e maçônica. E foram até à morte nesse espírito. “Sabemos bem que a nossa missão é redimir a França pelo sangue”, escreveu Psichari 12.

 

História nacional e virtude da piedade

Esta gratidão pelo passado requer o conhecimento da história do próprio país. Um homem que desconhece a história de sua pátria é um inculto na pele de um ingrato. Pode-se mensurar aqui o quanto a deterioração do ensino de história contribui para minar a piedade nacional. Além do que, no caso da França, fundada pelo batismo de Clóvis, a dimensão cristã é tão forte que não se pode compreender a sua história sem conhecer o seu passado religioso. É importante então conhecer os santos nacionais e locais e prestar-lhes culto. Aqui, ainda, nestes tempos de crescente globalização, é fundamental trazer à nação a lembrança dessa lição de bom senso, tão ancorada no espírito de nossos antepassados!

Além do dever de lembrarmo-nos de nossos ancestrais, é preciso honrar as autoridades legítimas, ato de justiça chamado observância. É necessário aqui um esclarecimento, já que a baixíssima qualidade dos governantes atuais nos faz duvidar desse dever. Santo Tomás já previra a objeção e a respondeu deste modo: “Os superiores maus não são honrados por causa da excelência de sua virtude própria, mas por causa de sua eminente dignidade, que faz deles ministros de Deus. E também porque neles é honrada toda a comunidade, de que são superiores.” 13

 

A transmissão do patrimônio

Está implícito que essa virtude da piedade supõe a transmissão de um patrimônio. Ora, essa transmissão se dá antes de tudo pela família e pela pátria. Estava tão ancorada na Antiguidade pagã – entre os indianos, gregos e romanos – que o celibato era ali rigorosamente proibido, como já lembramos. Com efeito, a transmissão da vida é a propagação do bem comum. Recorramos mais uma vez à explicação de Santo Tomás: 

A geração humana tem múltiplos fins: em primeiro lugar a continuidade da espécie, a continuidade também de um certo bem político, ou seja, a continuidade de um povo numa mesma cidade; a continuidade também da Igreja, que é o agrupamento dos fiéis. Tal geração deve, pois, obedecer a leis diversas. Ordenada ao bem natural, à continuidade da espécie, a geração está ordenada para esse fim pela natureza que a ela inclina: diz-se, neste sentido, que é um ofício de natureza. Ordenada ao bem da cidade, está submissa às disposições de lei civil. Ordenada ao bem da Igreja, ela deverá submeter-se ao governo eclesiástico.14

Outra vez, podemos mensurar o quanto uma sociedade contraceptiva e abortista é inimiga da pátria.

Essa transmissão do patrimônio é também a transmissão dos princípios civilizacionais. A fé, evidentemente, e a história, da qual já tratamos, mas também os sãos costumes nacionais e, por fim, a conservação dos monumentos materiais do país.

Sobre isso, espanta-nos a imprudência com a qual herdeiros muitas vezes dilapidam seu patrimônio familiar. Outrora se apegava à terra, aos móveis, aos bens dos familiares, mas nossos contemporâneos parecem não lhes dar muito valor, preferindo bens puramente financeiros e, portanto, impessoais. Se ao menos os desprezassem para entrar em um mosteiro, por amor à pátria celeste!

Está claro, enfim, que a virtude da piedade filial inclina o homem a trabalhar pelo bem comum da Cidade e não só pelo de sua própria família, de seus correligionários, de seu clã ou partido. E isso vai desde o respeito pelos costumes, pela propriedade e pelas preferências nacionais, até o sacrifício de dar o sangue pela pátria.

Assim o ensinaram os papas. Segundo Bento XV: “Se a caridade deve se estender a todos os homens, mesmo a nossos inimigos, ela quer que amemos especialmente os que estão unidos conosco pelos vínculos de uma pátria comum.” (Carta de 15 de julho de 1919). E Pio XII, em sua encíclica Summi Pontificatus (1939), acrescenta: “Existe uma ordem estabelecida por Deus segundo à qual deve-se ter um amor mais intenso e fazer o bem primeiramente aos que estão unidos conosco por vínculos especiais. O Divino Mestre deu o exemplo dessa preferência por sua terra e sua pátria quando chorou sobre ‘a iminente destruição da Cidade Santa’.”

 

O dom de piedade

Se a piedade é uma virtude, é também um dom do Espírito Santo. Este último certamente não tem por fim o dever de piedade para com a pátria. No entanto, na medida em que esse dom inclina a alma a ver em Deus um pai e, nos outros cristãos, irmãos, ele contribui grandemente para a vida em sociedade.

Quanto à justiça exercida para com os homens, esse dom ajuda-nos a abrandar o que poderia haver de áspero na virtude da justiça e coloca um bálsamo nas relações, muitas vezes áridas, entre os homens. O dom de piedade traz consigo um suave unguento que aperfeiçoa a justiça e dá-lhe um rosto humano.

É a flor da civilização cristã, conclui Dom Lefebvre. Onde quer que falte essa graça do Espírito Santo, há o risco de se recair num mundanismo, no qual as manifestações exteriores de simpatia para com o próximo são muitas vezes falsas ou exageradas, onde falta-lhes sinceridade, onde são meras formalidades, ao passo que a civilização cristã é inspirada pelo Espírito santo, pelo verdadeiro espírito de humildade e caridade, de amor ao próximo e de amor a Deus, amor inspirado por Deus. 15

(Le Chardonnet, N. 300, julho-agosto-setembro 2014)

  1. 1. Alocução Nous vous remercions, 19 de abril de 1909.
  2. 2. Através de Jesus Cristo, porém, isto é possível, pois o sacrifício da Missa rende a Deus uma honra infinita.
  3. 3. II Sent. d.33, q.3, a.4, q.1, ad2.
  4. 4. IIa. IIae. q. 101, a. 1, c.
  5. 5. Ibidem, ad 1um.
  6. 6. Ibidem, ad 3um.
  7. 7. Pe. De Chivré, Le Mal, Carnets spirituels n.19, dezembro de 2008, pág.45;
  8. 8. Cf. Fustel de Coulanges, La cité antique, diversas reedições. O autor mostra que as leis da família e da cidade estavam ligadas ao culto dos antigos. O casamento, por exemplo, era obrigatório, porque evitá-lo significaria extinguir o culto dos filhos aos pais; as filhas estavam excluídas da herança paterna porque estavam destinadas a se unirem em casamento ao homem de outra família e, portanto, a abandonar o culto de seus pais pelo culto dos pais de seu marido.
  9. 9. Pe. Garrigou-Lagrange, L’amour de Dieu et la croix de Jesus, tomo I, Les Éditions Militia, 1953, pág.265.
  10. 10. Cf. IIa IIae, q. 102, a. 3.
  11. 11. [N. do E] O presente artigo foi escrito por um francês para um público francês.
  12. 12. Citado pelo Pe. Jean-Dominique, O.P., Le Père Roger-Thomas Calmel, Clovis, 2013, pág. 35.
  13. 13. IIa. IIae. q. 103, a. 2, ad 2.
  14. 14. Contra Gentes, L.4, q.78.
  15. 15. Monsenhor Lefebvre, La sainteté sacerdotal, Clovis, 2008, pág. 258.

O sacrifício da Cruz tornado visível

Uma das missões do Padre Pio foi “tornar a Cruz de Jesus Cristo visível”. Cristo assumiu forma humana para tornar o invisível visível. Essa revelação de Deus não terminou com Sua Ascensão, pois, quando retornou a Seu Pai, Nosso Senhor enviou o Espírito de Santidade. Desde então, cada século teve seus santos, cujas vidas perfeitas, em imitação de Cristo, parecem renovar sua Encarnação. A vida exterior de alguns Santos, às vezes, conforma-se a de Cristo com tamanha perfeição que eles revivem sua Paixão no seu próprio corpo.

São Francisco de Assis é o mais conhecido de todos eles, e vários artistas ilustraram o Poverello recebendo os estigmas. Outros Santos também experimentaram esse fenômeno extraordinário: Santa Catarina de Sena, ou a Madame Acarie (Beata Maria da Encarnação), cujos estigmas eram invisíveis.

 

O Sacrifício da Cruz tornado visível

Mas, até 20 de setembro de 1918, nenhum Padre, apesar de sua união sacramental com Cristo, o Sumo Sacerdote, havia sido escolhido ainda para renovar na sua carne o mistério do Sacrifício da Cruz.

No dia 20 de setembro de 1918, enquanto ele rezava em frente a um crucifixo pendurado em frente ao coro dos monges, raios de luz vindos do crucifixo perfuraram suas mãos, pés e seu lado como flechas. O jovem Capuchinho de 31 anos não sabia ainda, mas, pelos próximos 50 anos, até o dai 20 de setembro de 1968, ele traria visíveis as marcas da Paixão de Cristo, que ele revivia todos os dias.

Uma das missões do Padre Pio havia começado: a de tornar a Cruz de Jesus Cristo visível, de iluminar as almas para a realidade do sacrifício renovado no altar e de relembrar Padres e fiéis da vocação do Padre como vítima: “Se o grão de mostarda não morrer, não dará fruto.” “Fazei como me vistes fazer”

 

Virtudes heróicas

Nascido em 25 de maio de 1887, numa família camponesa, o pequeno Francesco Forgione era o quarto de sete filhos. Seus pais levavam uma vida muito simples e viviam numa casa pobre em Pietrelcina. Eles eram bons cristãos e trabalhavam duro.

A Igreja paroquial é dedicada a São Pio I, Papa e mártir, e foi em sua honra que o jovem Capuchinho escolheu o nome de Frei Pio.

Quando garoto, Francesco já era favorecido com visões e fenômenos extraordinários. Desde seus primeiros anos até o fim de sua vida, Padre Pio estava acostumado a receber visitas de anjos, aparições marianas e… via-se sujeito a violência diabólica. No início, o garoto pensava que todos as crianças da sua idade experimentavam as mesmas coisas.

Cuidado, caro leitor, pois é aqui que a devoção ao Padre Pio pode se desviar [do reto caminho]. Como os autores espirituais explicam, fenômenos extraordinários não são santidade; esses fenômenos, às vezes, e mesmo com frequência, costumam vir de mãos dadas com a santidade; mas eles podem, porém, acontecer sem a santidade e devem ser cautelosamente distinguidos dela. Se o Padre Pio é um santo, não é por causa de sua bilocação ou de outros fenômenos extraordinários, mas por causa de suas virtudes heróicas.

E o pequeno Francesco praticou a virtude heróica desde o começo. Sua mãe não o encontrava dormindo no chão, com sua cabeça numa pedra? Sua piedade era sólida, sua obediência absoluta, sua diligência nos estudos e deveres mais que admirável, e sua amizade, exemplar.

Aos 15 anos, uma estranha visão implicitamente revelou a ele seu futuro: um anjo o convidou a lutar contra um gigante muito mais forte que ele. Relutando, o jovem adolescente lutou e venceu. Com essa comemoração divina de Davi e Golias, a Providência anunciou a Francesco a violência das batalhas que estavam por vir.

Algumas semanas mais tarde, no dia 22 de janeiro de 1903, aos 15 anos, ingressou no noviciado capuchinho de Morcone e tomou o nome Frei Pio de Pietrelcina.

Sua mãe estava lá, mas seu pai estava nos Estados Unidos, trabalhando para pagar os estudos de seus filhos. Por sete anos no total (3 e, depois, 4), esse pai admirável esteve separado de sua não menos admirável esposa e de seus filhos queridos para lhes prover.

Os estudos do jovem noviço continuaram até 1909. O jovem monge se mostrou sério e estudioso, seus resultados eram satisfatórios, mas não brilhantes. No fim de seus estudos, ele rapidamente ascendeu os passos do santuário: após receber as primeiras ordens menores em 1908, foi ordenado diácono no ano seguinte, em julho de 1909.

 

Desafios de saúde

Mas problemas de saúde começaram a atormentar o jovem monge. Ele teve que interromper seus estudos e até a vida conventual, recebendo ordens de ir descansar na casa de sua família em Pietrelcina. Esse descanso temporário duraria… sete anos. Apesar dessa dificuldade, foi ordenado padre na Catedral de Benevento no dia 10 de agosto de 1910 e celebrou sua primeira Missa em Pietrelcina, em 14 de agosto.

Separado dos demais capuchinhos e vítima de tormentas interiores terríveis, ele trocava correspondências regularmente durante esse período com o Padre Agostinho, seu diretor espiritual, que lhe recomendou escrever seu combate interior e as graças extraordinárias que recebia.

Um superior planejava enviá-lo para viver como padre secular, mas ele foi instruído a retornar ao convento em 1911. O demônio estava enfurecido; atacava e batia no jovem místico com tanta violência que o guardião do convento, movido por uma inspiração muito franciscana, ordenou Padre Pio a pedir a graça de ser doravante atormentado… em silêncio. Essa graça foi alcançada naquela mesma noite, para grande alegria dos capuchinhos, um pouco cansados do barulho, e dos aldeões, que começavam a se mostrar preocupados.

No entanto, a saúde frágil do Padre Pio forçou-o a retornar a Pietrelcina. Os médicos tiveram dificuldade de encontrar um diagnóstico, a ponto de um deles chegar a anunciar que o padre não duraria mais que uma semana.

O capuchinho deixou Pietrelcina novamente para ir a Foggia, onde o ar não lhe fez bem. No dia 28 de julho de 1916, foi aconselhado a ir a San Giovanni Rotondo para descansar por algumas semanas. Ele permaneceria ali até sua morte...

Meio vivo e meio morto, foi alistado, até que o olharam mais de perto. Há uma foto desse período do frade Capuchinho como recruta, trajando um uniforme e segurando uma arma; ele nunca havia dado um tiro e parece meio deslocado na foto. Foi durante esse período que ele bilocou pela primeira vez. Os italianos haviam acabado de ser duramente derrotados em Caporetto em 24 de outubro de 1917, e seu comandante, General Cardonna, decidiu cometer suicídio; quando ele estava levantando sua arma, um capuchinho entrou em seu escritório e convenceu-o a mudar de ideia. O general assim fez, e, então, agradeceu ao bom padre e dispensou-o. Ele imediatamente perguntou aos seus subordinados quem era aquele padre que eles deixaram entrar, mas ninguém o havia visto entrar ou sair. O general só o reconheceu em uma foto muitos anos mais tarde.

 

Uma ferida de amor

Ao retornar a seu convento depois do período nas forças armadas, ele recebeu a graça de uma ferida de amor no dia 30 de maio de 1918. No dia 05 de agosto, recebeu uma transverberação e, no dia 20, os estigmas, com muita dor. Mas não se enganem. Como ele escreveu ao Frei Agostinho, seu diretor espiritual, “em comparação com o que eu sofro em meu corpo, os combates espirituais que estou travando são muito piores (…); estou vivendo numa noite perpétua… Tudo me atormenta, e não sei se estou fazendo o bem ou o mal. Eu percebo que isso não são escrúpulos, mas a dúvida que sinto sobre se estou agradando ou não a Deus me esmaga.

No início, Padre Pio tentou curar suas feridas. Não adiantou. Tentou escondê-las. Em vão. As peregrinações a San Giovanni Rotondo começaram.

De 1918 a 1921, o apostolado do Padre cresceu, e os médicos que examinaram suas feridas estavam convencidos de sua natureza inexplicável. O Papa Bento XV chegou mesmo a dizer que “Padre Pio é um desses homens que Deus envia à terra de tempos em tempos para converter nações.”

O ano de 1921 mudou o curso das coisas. Uma conspiração eclesiástica de Padres corruptos vivendo com mulheres e presidida por um Bispo que praticava simonia teve influência em Roma. O Bispo de Manfredonia, a diocese à qual pertencia o convento de San Giovanni Rotondo, chegou a clamar que havia visto o Padre Pio usar perfume e talco e derramar ácido nítrico nas suas feridas para piorá-las! E os cônegos de San Giovanni Rotondo, ao menos alguns deles, faziam fofoca sobre os lucros que os capuchinhos estavam tendo com o “estigmatizado”. O pior é que elas foram levadas a sério.

Preocupada com essas alegações episcopais e revelações, Roma tornou-se muito cautelosa… com os Capuchinhos. Um período difícil para o Padre Pio se seguiu, pois o apostolado confiado a ele foi, pouco a pouco, tirado dele. Houve mesmo conversas sobre transferi-lo a outro convento. Isso foi suficiente para mexer com os locais, que estavam determinados a manter e a defender o “santo” deles. Uma rebelião não era coisa impossível. Pensando que iria deixar esse pequeno vilarejo situado no Cabo de Gargano, Padre Pio escreveu essa carta tocante, cujas palavras finais, hoje, estão inscritas na cripta onde ele estava enterrado.

“Eu sempre me lembrarei desse povo generoso na minha pobre e assídua oração, pedindo paz e prosperidade para si; e, como sinal da minha afeição, não podendo fazer nada mais, eu expresso meu desejo de que, enquanto meus superiores não se objetem, meus ossos sejam enterrados nesta terra”

Um superior Capuchinho até pensou em levar o Padre Pio embora escondido em um barril num carrinho. Obediente, porém nem servil, nem burro, o Padre Guardião recusou essa farsa.

Punições continuaram caindo sobre o pobre Padre. No dia 23 de março de 1931, o Santo Ofício proibiu-lhe qualquer ministério, qualquer celebração pública da Missa e qualquer contato com outro capuchinho fora do seu convento. Após ter permanecido estoico quando descobriu, no refeitório, a carta que seus irmãos não lhe haviam revelado (por discrição), ele desabou em lágrimas ao chegar a sua cela. Um bom irmão que testemunhou a cena se sentiu mal por ele, mas o Padre Pio deu-lhe uma resposta digna daquela dada às santas mulheres de Jerusalém: ele estava chorando não por ele, mas por todas as almas que seriam privadas das graças da conversão.

Como um recluso, Padre Pio aproveitou seu tempo lendo. A História da Igreja de Rohrbacher e, em um único dia, a Divina Comédia – paradoxalmente sofrendo de dores de cabeça ao chegar ao 'Paraíso'.

Em 1933, as sanções começaram a ser levantadas. Padre Pio retomou seu ministério, especialmente no confessionário, onde passava, regularmente, até 10 horas por dia.

 

Projeto de hospital

Os anos pacíficos passaram. Em 1940, já era um homem doente quando lançou o projeto do que viria a ser a Casa Sollievo della Sofferanza, um grande hospital com material moderno e médicos eminentes. Como em todas as obras providenciais, não houve ausência de obstáculos, mas o hospital foi inaugurado em maio de 1956. Ele ainda existe hoje.

Ao mesmo tempo, Padre Pio criou grupos de orações ao redor de todo o mundo, principalmente graças a seus filhos e filhas espirituais, que incluíam [antigos] maçons, vigaristas, um tenor famoso (Gigli) e mulheres de pouca virtude.

Pio XII pediu-lhe orações, mas sua morte em 1957 iniciou um novo e doloroso capítulo na vida do Capuchinho. Alguns dos seus irmãos de elevado grau na Ordem demostravam tudo, menos interesse religioso pelas somas enormes de dinheiro que passaram pelas suas mãos. Eles queriam esse dinheiro para eles mesmos. Uma conspiração “filial” apoiada pelas autoridades da Ordem se formou; eles chegaram até mesmo a colocar microfones na cela e no confessionário do Padre. O caso foi descoberto – o Padre reclamou a um dos seus amigos – e os irmãos culpados dessa vigilância nada evangélica foram dispensados de suas funções e enviados a outros conventos.

O fim da sua vida foi mais pacífico, embora ainda empregado no desgastante ministério às almas.

Dois eventos nos últimos meses da sua vida são dignos de menção. A Missa Nova promulgada em 1968 foi precedida por Missas normativas. Padre Pio pediu que lhe fosse permitido celebrar a Missa de todos os tempos, e essa permissão lhe foi dada.

No mesmo ano, 1968, a encíclica de Paulo VI sobre controle de natalidade foi promulgada. Padre Pio, com apenas dois meses de vida restantes e no ápice da sua vida mística, enviou uma carta ao Papa agradecendo-lhe por essa Encíclica, que causou tanta controvérsia.

Esse segundo Cura d’Ars sentia o fim aproximando-se. Na noite de 20 a 21 de setembro, 1968, cinquenta anos após aparecerem, seus estigmas desapareceram: a pele das suas mãos ficou macia e limpa, sem qualquer marca de cicatriz. Seu jubileu de sangue foi completado. A Eternidade se aproximava, e, na noite de 22 a 23 de setembro, Padre Pio foi se encontrar com seu Criador.

 

DOM LEFEBVRE E PADRE PIO

No fim do verão de 1967, Dom Lefebvre estava na Itália e viajou a San Giovanni Rotondo. O encontro foi breve. Dom Lefebvre pediu a bênção do Padre para o Capítulo vindouro dos Padres do Espírito Santo. O humilde capuchinho se negou, respondendo a Dom Lefebvre que era ele quem devia abençoá-lo. Educação entre santos.

Esses dois grandes homens da Igreja eram muito diferentes. Um era padre, o outro, bispo; um experimentou vários fenômenos extraordinários, o outro deixou apenas uma memória enigmática de um sonho misterioso em Dakar.

E, ainda assim, ambos trazem semelhanças importantes.

Ambos sofreram pela Igreja através da Igreja.

Ambos foram vítimas de verdadeiras perseguições por parte das autoridades, apesar de essas perseguições terem sido por razões muito diferentes, e eles reagiram de maneira muito diferente a elas.

As perseguições do Padre Pio eram pessoais, inspiradas pela inveja de Padres seculares dissolutos e pela ganância de certos capuchinhos. Essas perseguições levaram a punições injustas, que Padre Pio aceitou com obediência heróica.

O caso de Dom Lefebvre era diferente. As perseguições vieram da sua determinação de manter a Fé e a Missa de todos os tempos e da sua recusa aos erros conciliares e à nova liturgia. Razões de fé guiavam essas perseguições, que iam muito além de uma simples questão de disciplina. Dom Lefebvre, portanto, resolveu desobedecer a essas injunções por uma razão mais elevada que a obediência formal pura. Sua Fé foi heróica, enquanto sua obediência não teria sido nada além de um servilismo confortável e uma prudência mundana.

Outra semelhança é o entendimento profundo de ambos do Santo Sacrifício da Missa. Ambos relembraram incessantemente a natureza sacrificial e expiatória da Missa que a nova liturgia queria esconder, um através de sua maneira muito mística de celebrar a Missa como o caminho do Calvário, o outro através da sua espiritualidade centrada no Santo Sacrifício. Ambos relembraram o papel central do Padre na obra da Redenção, um por uma vida literalmente crucificada, o outro por seu apostolado do sacerdócio.

 

(Originalmente publicado na edição de Julho-Setembro de 2018 (Nº 340) de Le Chardonnet)

Liberalismo mortífero

Pe. François-Marie Chautard

“O fim dos modernos é a segurança na fruição privada; e eles chamam de liberdade
as garantias concedidas pelas instituições a essa fruição”
(Benjamim Constant)

 

Fecundação artificial, “barriga de aluguel”, uniões homossexuais, eutanásia, aborto, contracepção, divórcio, a lista dos vícios validados, avalizados e encorajados pelas leis não cessa de crescer.

E se por acaso os católicos buscam — ainda que timidamente — impedir uma nova legislação imoral, lança-se ao seu rosto o repetitivo argumento: Como vocês ousam se opor a uma disposição legal que não faz mal a ninguém? Com base em quê a opinião dos católicos deveria prevalecer sobre a dos demais cidadãos, quando se trata de práticas que em nada lesam os católicos? Não é prova de intolerância querer impor aos demais uma conduta que não lhes diz respeito? 

O argumento é revelador do princípio fundamental que caracteriza os tempos modernos: a autonomia absoluta do homem como único limite da liberdade dos demais.

Desde que uma lei não fira um “direito” individual nem [incomode] uma minoria, desde que não gere transtornos à ordem pública, o homem é soberanamente livre de promulgar leis: eis o credo do “homo modernus”.

Benjamin Constant exprimia esse princípio de um modo límpido: 

“Eu defendi por quarenta anos o mesmo princípio, a saber, liberdade em tudo, em religião, filosofia, literatura, indústria e política: e por liberdade, compreendo o triunfo da individualidade, tanto sobre a autoridade que gostaria de governar pelo despotismo, como sobre as massas que reclamam o direito de sujeitar a minoria à maioria. O despotismo não tem direito algum. A maioria tem, sim, o direito de obrigar a minoria a respeitar a ordem: mas tudo o que não perturba a ordem, tudo o que é meramente interior, como a opinião; tudo o que, na manifestação da opinião, não perturba o próximo, quer provocando violências físicas, quer impedindo a manifestação contrária; tudo o que, de fato, em assuntos industriais, permite à indústria rival operar livremente, é individual e não poderia ser legitimamente submetido ao poder público.”

Essa pretensão é duplamente especiosa. Primeiro porque essa autonomia é a recusa categórica de uma autoridade transcendente que veio dar uma regra à qual o homem está obrigado a se submeter. Jacques Chirac é conhecido por ter dito esta máxima digna das lojas maçônicas: “Não pode haver leis ‘religiosas’ acima das leis da República”, isto é, das leis humanas.

Creonte não se exprimia de outro modo a Antígona: “É preciso obedecer àquele que a cidade escolheu como senhor, tanto nas coisas pequenas como nas grandes, nas justas e nas iníquas”. 

No fundo, nessa recusa obstinada de uma autoridade superior à do homem, ouve-se o eco do grito de Lúcifer: non serviam, não servirei.

Essa legislação dita liberal é, na verdade, uma legislação intrinsecamente blasfematória. A autoridade humana erige-se em juiz supremo da boa conduta humana, e recusa-se a se submeter à autoridade de seu criador. E quando os católicos repetem o grito de São Miguel, “Quem é como Deus?”, um ódio surdo vindo dos infernos se levanta contra eles.

Em segundo lugar, o individualismo congênito dos “Direitos do homem” supõe que as ações imorais, mesmo privadas, de uma parte considerável da população, não exercem nenhum impacto sobre o resto da nação e não lesam em nada os demais cidadãos.

Isso equivale a esquecer que o homem não é, nem de longe, um ser isolado de seus semelhantes. Por suas escolhas, seus julgamentos, suas afirmações, suas ações e mesmo seus hábitos de consumo e todo o resto do seu comportamento, ele imprime uma marca ao redor.

Quando uma lei iníqua é votada, a virtude é ipso facto humilhada, a tentação facilitada, o pecado banalizado, o vício encorajado. O simples fato de autorizar legalmente o pecado põe, publicamente, o vício em pé de igualdade com a virtude. Isso é começar uma falsificação da consciência pública, é abrir as portas à degradação moral de uma parcela importante do país. Pouco a pouco, esse vício que rompeu as amarras se espalha tão facilmente quanto uma epidemia. O nível moral do país se rebaixa, e já se prepara para novas quedas, ainda mais graves.

A decadência de um país segue um itinerário semelhante à decadência de um indivíduo. Uma primeira queda — sobretudo se não é corrigida, mas admitida em seu princípio — facilita uma outra, torna a queda seguinte menos chocante e até mais sedutora.

É impressionante ver um país manter-se numa indiferença tão avassaladora diante das leis iníquas votadas por um Parlamento democraticamente eleito. Como milhões de homens podem aceitar sem pestanejar que se permita que crianças não sejam concebidas, gestadas, paridas, amadas e educadas como eles mesmos o foram, e como o foram os seus pais desde a aurora dos tempos?

Mas nos impressionaremos menos se considerarmos que o vício tão difundido da luxúria, exibido por toda parte na nossa sociedade, penetrou tão completamente a alma, o coração e o espírito de nossos contemporâneos que eles já não vêem mal algum em liberar novas depravações. Mesmo privado, mesmo escondido, o vício produz, mais dia, menos dia, os seus efeitos na esfera pública. Uma alma que decai, diminui o mundo.

Segue verdadeiro, no entanto — e a esperança católica estriba-se nesse belo dogma da comunhão dos santos — que uma alma que se eleva, eleva consigo o mundo. Cabe a nós sermos uma dessas almas, discípulas do Salvador.

Conclusão: nossa atitude em face da nova missa

Pe. François-Marie Chautard

 

Se juntarmos as diversas peças deste dossiê, poderemos constatar sobretudo:

- A existência de uma clara protestantização do novo rito da missa com uma desagregação da fé: “se nós considerarmos as inovações sugeridas ou dadas por definitivo, as quais podem naturalmente serem avaliadas de diferentes modos, o Novo Ordinário representa, tanto em seu todo como nos detalhes, uma nova orientação teológica da Missa, diferente daquela que foi formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento.”1 Essa missa protestantizada engendra naturalmente, naqueles que a assistem regularmente, uma perda do senso de fé2 

- Um risco de invalidade.

 

Esses dois defeitos levam a duas conclusões:

  • Uma missa que afasta as almas da fé não pode vir do Espírito Santo e até mesmo se pode dizer que se opõe a Ele. Não se trata de uma missa católica; 
  • Assim sendo, não se deve participar dela, não apenas para não se deixar gangrenar, mas mesmo para não cooperar com um rito que destrói a fé na Igreja, e para não participar de uma profissão de fé equívoca. “Esta missa está envenenada. Esta missa é má, ela conduz à perda da fé pouco a pouco, logo, nós nos vemos obrigados a recusá-la.”3

“No tocante à missa nova, afastemos logo essa idéia absurda: se a missa nova é válida, podemos participar dela. A Igreja sempre proibiu assistirmos as missas dos cismáticos e dos hereges, mesmo se fossem válidas. É evidente que não se pode participar de missas sacrílegas, nem a missas que põem a fé em perigo.”4

 

Consequência prática

“Os católicos fiéis devem fazer de tudo para guardar a fé católica intacta e íntegra: logo, assistir a missa de sempre quando acessível, ainda que fosse uma vez por mês; oferecer sua colaboração ativa para ajudar os padres fiéis na celebração dessas missas de sempre, com os sacramentos segundo os antigos ritos e o catecismo tradicional.

Aqueles que estiverem impossibilitados de assistir a missa, rezem o missal aos domingos em família se possível, como fazem os católicos em terras de missão, que não tem a visita do padre por mais de duas ou três vezes no ano, às vezes, uma única vez no ano!

Essas instruções são dadas afim de que cada um possa adotar a linha de conduta mais favorável para a preservação da fé. É claro que o preceito dominical obriga quando a missa de sempre é normalmente acessível.

É a época do heroísmo; não é uma graça de Deus viver nesses tempos conturbados, afim de reencontrar a Cruz de Jesus, seu sacrifício redentor, estimar em seu valor justo essa fonte de santidade da Igreja, de recolocar em honra, de melhor apreciar a grandeza do sacerdócio? Melhor compreender a Cruz de Jesus é elevar-se no Céu e aprofundar a verdadeira espiritualidade católica do sacrifício, do sentido de sofrimento, de penitência, de humildade e de morte.”5

  1. 1. Breve exame crítico, no. 1.
  2. 2. Isto se perceber notadamente na concepção ecumênica e salvífica da salvação. Para aqueles que, habitualmente, seguem a missa nova, as almas podem continuar a praticar qualquer religião, ainda que fosse melhor se converter. Aconteça o que acontecer, irão para o céu, como a grande maioria das almas.
  3. 3. Dom Marcel Lefebvre, Conferência espiritual, Écône, 21 de janeiro de 1982.
  4. 4. Dom Marcel Lefebvre, 8 de novembrode 1979. Nota sobre o NOM e o papa.
  5. 5. Dom Marcel Lefebvre, 20 de janeiro de 1978.

Intenção e validade do novo rito

Pe. François-Marie Chautard

Um sacramento pode ser inválido se falta a matéria (por exemplo, usando-se arroz ao invés de pão), a forma (por exemplo, ao dizer: «este é o corpo de Cristo») ou o ministro (um leigo ao invés de um padre), ou ainda se a intenção do ministro for falsa.

Para que a intenção do ministro baste para a validade de um sacramento, ele tem de ter a intenção de fazer o que a Igreja faz. Ora, o que faz a Igreja na missa tradicional é sem nenhuma ambiguidade: de toda evidência, a Igreja oferece um sacrifício propiciatório. Mas, todo o problema do novo rito, é que ele significa, de uma maneira ambígua a presença real, bem como a oferenda de um sacrifício, isso sob uma clara influência protestante. Os protestantes assinalaram: o novo rito é tão ambivalente, que é possível lhe atribuir tanto um sentido protestante como um católico. 1

Dito de outro modo, a intenção expressa pelo NOM é dúbia. Tudo dependerá, portanto, da intenção subjetiva do celebrante, uma vez que faz falta a intenção objetiva do rito.

“É pelo ofertório que o padre exprime claramente a sua intenção. Ora, isso não existe mais no novus ordo. A nova missa pode, portanto, ser válida ou inválida segundo a intenção do celebrante, enquanto que, na missa antiga, é impossível para alguém que tem a fé não ter a intenção precisa de fazer o sacrifício e de fazê-lo segundo os fins previstos pela santa Igreja.”2

Isso coloca um novo problema: a deformação do clero é tamanha, as heresias se difundiram a tal ponto pela Igreja, que há uma dúvida sobre a intenção autenticamente católicas dos padres que celebram a missa. Quando se vê, por exemplo, a leviandade com que muitos padres tratam as hóstias “consagradas”, podemos duvidar da sua fé na presença real e, portanto, da sua intenção católica ao celebrar a “eucaristia".

“Todas essas mudanças do novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os jovens padres que não tem mais a idéia de sacrifício, de presença real, de transubstanciação e para os quais tudo isso não significa mais nada, esses jovens padres perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz e não dizem mais missas válidas. Claro, os padres idosos, quando celebram segundo o novo rito, ainda tem a fé de sempre. Eles rezaram o rito antigo durante tanto tempo, guardam as mesmas intenções, podemos crer que sua missa seja válida. Mas, na medida em que estas intenções desaparecem, as missas não são mais válidas.”3

É também esse o sentido da crítica dirigida ao Papa Paulo VI pelos Cardeais Ottaviani e Bacci em 1969: “Da forma como aparecem no contexto do Novus Ordo, as palavras da consagração poderiam ser válidas em virtude das intenções do padre. Mas, uma vez que sua validade não advém mais da força das próprias palavras sacramentais (ex vi verborum) – ou mais precisamente, do significado que o antigo rito da Missa conferia à fórmula – as palavras de consagração no Novo Ordinário da Missa poderiam também não ser válidas. No futuro os padres que não receberem formação tradicional e que confiarem no Novus Ordo para a intenção de “fazer o que a Igreja faz” farão consagrações válidas na Missa? Pode-se duvidar disto.”

É portanto abusivo dizer que a missa de Paulo VI é válida. Ela é em si mesma duvidosa. Ela só é válida se a intenção subjetiva do ministro for católica. E, infelizmente, isso nem sempre ocorre. 

 

 

 

 

  1. 1. Em 1973, o Consistório Superior da Igreja da Confissão de Ausburgo da Alsácia e Lorena publicou uma Declaração oficial na qual figuravam as seguintes linhas:

    “Dadas as formas atuais da celebração eucarística na Igreja Católica e em razão das convergências teológicas presentes, muitos obstáculos que impediriam um protestante de participar na sua celebração eucarística parecem atualmente em vias de desaparição. Hoje parece possível a um protestante reconhecer na celebração eucarística a ceia instituída pelo Senhor [quer dizer, a ceia protestante]… Nós apoiamos a utilização das novas orações litúrgicas, nas quais nós nos reconhecemos, e que tem a vantagem de mitigar a teologia do sacrifício que sempre atribuímos ao catolicismo.”

  2. 2. Conferência espiritual, Écône, 28 de fevereiro de 1975.
  3. 3. Conferência de 15 de fevereiro de 1975, La Messe de Luther, Éditions Saint-Gabriel, p. 10.

Os autores da Missa Nova

Pe. François-Marie Chautard

 

1) Paulo VI

A chamada missa de Paulo VI leva seu nome. Apesar de todas as pressões possíveis, o NOM foi assinado por Paulo VI, e data do pontificado de Paulo VI. Ele é o primeiro responsável, ele é seu verdadeiro autor. Devemos também rejeitar a idéia de que Paulo VI teria assinado às cegas os textos sobre a reforma litúrgica. 

"Para mostrar que a reforma litúrgica foi conduzida em estreita colaboração com Paulo VI, Monsenhor Bugnini afirmou: 

"Quantas horas da noite passei com ele, estudando juntos os muitos e volumosos dossiês empilhados sobre sua mesa! Ele os lia e examinava, linha por linha, palavra por palavra, anotando tudo em preto, vermelho ou azul, criticando, se necessário, com sua dialética, capaz de formular dez perguntas sobre um mesmo ponto.

"Mas essa descrição vale sobretudo para os anos 1968-1969, depois da partida de Lercaro e durante a fase mais intensa da preparação do Novus Ordo Missæ.”1

 

2) Arcebispo Bugnini 

A pedra angular da "reforma" do Missal Romano foi, entretanto, Monsenhor Hannibal Bugnini como nos lembra Monsenhor Lefebvre: "A reforma litúrgica foi, como sabemos, obra de um pai bem conhecido: Padre Bugnini, que a vinha preparando há muito tempo. Já em 1955, ele fizera traduzir textos protestantes por Monsenhor Pintonello (...) que me disse que traduzira livros litúrgicos protestantes para o padre Bugnini, que nessa época era apenas um membro modesto de uma comissão litúrgica. Ele não era nada. Depois, tornou-se professor de liturgia em Latrão. O Papa João XXIII o tirou de lá por causa de seu modernismo, seu progressismo. Pois bem, ele acabou presidindo a Comissão de Reforma da Liturgia! Inacreditável! Tive a oportunidade de ver por mim mesmo a influência do padre Bugnini. É estarrecedor que algo assim possa ter acontecido em Roma.”2

 

Apresentação da nova missa por Monsenhor Bugnini 

"Nessa época, logo após o Concílio, eu era Superior Geral da Congregação dos Padres do Espírito Santo, e houve em Roma uma reunião dos Superiores Gerais. Pedimos ao padre Bugnini que nos explicasse sua nova missa, porque, no fim das contas, aquilo não era um evento qualquer. (…) Então pedimos que o Padre Bugnini explicasse aos oitenta e quatro Superiores Gerais ali reunidos, entre os quais eu estava, sua missa. 

"O padre Bugnini, com muita bonomia, explicou-nos o que era a missa normativa. Vamos mudar isso, vamos mudar aquilo, vamos colocar outro ofertório, vai ser possível escolher os Cânones, reduzir as orações da comunhão, haverá vários padrões para o início da missa, será possível dizer a missa em vernáculo.

Olhamo-nos uns para os outros como que dizendo: ”Não é possível!” Ele falava como se antes dele jamais tivesse existido uma missa na Igreja. Ele falou de sua missa normativa como uma nova invenção. Pessoalmente, fiquei tão perplexo, que eu, que tão facilmente tomo a palavra para me opor àqueles com quem não concordo, permaneci em silêncio. Eu não conseguia dizer palavra. 

"Não é possível que tenha sido a este homem que estava diante de mim que toda a reforma da liturgia católica tenha sido confiada, a reforma do santo sacrifício da missa, dos sacramentos, do breviário, de todas as nossas orações. 

"Para onde estamos indo? Para onde vai a Igreja? Dois Superiores Gerais tiveram a coragem de se levantar. Um deles questionou o padre Bugnini: - "É uma participação ativa, é uma participação corporal, isto é, orações vocais, ou é a participação espiritual? Em todo caso, o senhor falou tanto sobre a participação dos fiéis, que parece que já não se justifica a missa sem fiéis, já que toda a sua missa foi feita em função da participação dos fiéis. Nós, Beneditinos celebramos nossas missas sem fiéis. Devemos então continuar a dizer nossas missas privadas, já que não temos fiéis que participem delas?” 

"Eu repito exatamente o que o padre Bugnini disse, eu ainda tenho suas palavras em meus ouvidos pelo tanto que me chocaram : -- "Na verdade, nós não pensamos nisso!", foi o que ele disse. 

"Depois, outro se levantou e disse: - "Meu Reverendo Padre, o senhor falou: nós vamos suprimir isto, suprimir aquilo, substituir tal coisa por outra, e sempre por orações mais curtas, que eu tenho a impressão que sua nova missa será dita em dez, doze minutos, um quarto de hora, e isso não é razoável, não é respeitoso. Pois bem! Ele respondeu: - "Podemos sempre adicionar alguma coisa". Isso pode ser sério? Mas eu mesmo ouvi. Se alguém tivesse me dito, mal teria acreditado, mas eu mesmo ouvi.”3

 

3) Os outros especialistas

À Bugnini, muitos outros especialistas se juntaram: Dom Botte e Dom Beauduin OSB. Os jesuítas Doncoeur e Daniélou. Padre Bouyer, do Oratório. Padre Gy, OP. E ainda o Monsenhor Dwyer, membro do Consilium de Liturgia, Arcebispo de Birmingham, que reconheceu a importância de tal reforma (Conferência de imprensa, 23 de outubro de 1967): "é a liturgia que forma o caráter, a mentalidade dos homens para enfrentar os problemas ... A reforma litúrgica é, em certo sentido, a chave para o aggiornamento, não se engane, é aqui que a revolução começa.”4

 

4) Os especialistas protestantes

Além de Monsenhor Bugnini e dos especialistas católicos do Consilium, seis pastores protestantes participaram da "reforma", como comprova a foto publicada  no número 1562, de 03 de maio de 1970, de Documentation Catholique

Segundo Dom Baum, responsável pelos assuntos ecumênicos da Conferência Episcopal do México, esses pastores "... não eram apenas observadores, mas também consultores. Eles participaram plenamente das discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não faria muito sentido se eles apenas ouvissem, eles também contribuíram.”5

Além disso, falando a todos os membros do Consilium (com os pastores presentes), o Papa Paulo VI dirigiu sua declaração final, em 10 de abril, em que disse o seguinte: "Nós os agradecemos vivamente por todo o trabalho feito nos últimos anos. De fato, os senhores  diligentemente e com competência realizaram uma tarefa complexa e muito difícil sem esperar por qualquer outra recompensa além de saber que estar trabalhando para o bem da Igreja.”6

 

Epílogo 

Uma lamentável anedota sobre a redação de novos textos litúrgicos permite imaginar o profissionalismo dos “reformadores” e sua devoção pelo tesouro da Igreja.

"Monsenhor Bugnini reconheceu que as novas orações eucarísticas  (que se seguem à IV Oração Eucarística) foram feitas às pressas, quase em "marcha forçada”.  Um dos consultores da Subcomissão, o padre Bouyer, disse o mesmo, não sem humor e ironia, sobre a elaboração da II oração Eucaristica, que ele redigiu junto com Dom Botte, grande especialista em Santo Hipólito. Ele a compôs em ritmo de urgência, em 24 horas: 

“Em meio aos fanáticos arqueologizantes - que gostariam de banir as orações eucarísticas do Sanctus e as intercessões, tomando ao pé da letra a Eucaristia de Hipólito - e outros que pouco se importavam com sua suposta tradição apostólica, mas desejavam apenas uma missa rápida, Dom Botte e eu nos encarregamos de retocar seu texto, de modo a nele introduzir esses elementos, certamente mais antigos, para o dia seguinte! Por acaso, descobri  num texto, senão do próprio Santo Hipólito, ao menos ao seu estilo, uma fórmula feliz sobre o Espírito Santo que poderia fazer uma transição, do tipo Vere Sanctus, para a breve epiclese.  Botte, por sua vez, fabricou uma intercessão mais digna de Paulo Reboux e de seu “ao modo de…” que da sua própria ciência. Mas não posso reler esta composição insólita sem lembrar o terraço do bistrô em Trastevere onde tivemos de ajustar nosso pensum, em tempo hábil para nos apresentarmos na porta de Bronze no momento fixado por nossos diretores!” 7

 

 

  1. 1. Yves Chiron, Mgr Bugnini (1912-1982), Réformateur de la liturgie, Desclée de Brouwer, 2016, p. 120-121.
  2. 2. L’Église infiltrée par le modernisme, p. 31.
  3. 3. L’Église infiltrée par le modernisme, pp. 32-34.
  4. 4. Citado por Dom Marcel Lefebvre na sua Carta ao Cardeal Seper, 26 de fevereiro de 1978.
  5. 5. Citado em La messe a-t-elle une histoire? p. 91.
  6. 6. D. C. 1970, no. 1562, p. 416.
  7. 7. Yves Chiron, Mgr Bugnini (1912-1982), Réformateur de la liturgie, Desclée de Brouwer, 2016, pp. 146-147.

Deficiências doutrinais da Missa de Paulo VI

Pe. François-Marie Chautard

A maior das recriminações feitas ao missa de Paulo VI é a que se refere à fé católica. O rito mesmo, nos seus gestos e palavras, no conjunto como no detalhe, altera a nossa fé. Ele não a contradiz frontalmente, mas a escamoteia, silencia, oculta. 

 

1) Quanto ao mistério católico

O rito tem a tarefa de instruir padres e fiéis e de lhes dispôr ao culto de Deus lembrando-lhes as verdades da fé. Ora, o novo rito é acompanhado de um considerável empobrecimento dessas recordações. Numerosas verdades foram alteradas e dissimuladas por meio da supressão de orações:

O pecado: O NOM 1 não mais contém as orações da Indulgentiam, do Aufer a nobis, do Oramus te, do Deus qui humanae, do suscipe sancte Pater que, todas, recordavam ao homem a sua condição de pecador. 

O desprezo das coisas desse mundo: "Todas as orações que falavam do desprezo das coisas desse mundo para nos mover às coisas do céu foram mudadas. Que idéia passou na cabeça de quem mudou essas coisas? Pensou que os bens celestes não valem tanto assim para desprezarmos as coisas terrestres, que são para nós ocasião de pecado?”2

O combate espiritual: “Suprimiram nas orações tudo o que indicava luta, combate espiritual. Os termos “perseguidores”, “inimigos”, tudo isso foi suprimido sem razão. Por exemplo, São João de Capistrano: “[Ó Deus que…] fizeste triunfar [vossos fiéis] sobre os inimigos da Cruz (…) fazei, nós vos rogamos, que por vossa intercessão, possamos vencer as armadilhas  de nossos inimigos espirituais”.3

O mistério da Redenção: fala-se de “salvação" de modo muito vago.

A virgindade perpétua da Virgem Maria: no NOM é possível (conforme a escolha das orações propostas) não falar da Virgem Maria. Ora, sabemos que a virgindade perpétua de Nossa Senhora é uma pedra de tropeço para os protestantes… De resto, as palavras “Sempre Virgem” só aparecem em uma só das quatro orações eucarísticas. O antigo rito, ao contrário, repetia este dogma ao menos cinco vezes.

A Realeza de Cristo Rei: “No que se refere ao Cristo Rei, foram suprimidas duas estrofes que falavam do Reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo.”4

Os novíssimos: “O rito dos defuntos foi modificado. A palavra anima frequentemente desaparece das muitas orações para os defuntos, porque as novas filosofias questionam a realidade da distinção entre a alma e o corpo. Então, não se deve falar da alma. É inacreditável, inimaginável! Não há mais devoção pelos mortos, não há mais o sentido de Purgatório.”5

 

2) Quanto ao aspecto sagrado dos mistérios

As rubricas mesmas do missal institucionalizam esta perda de sentido do sobrenatural por meio da mutabilidade permanente do rito e de um relaxamento litúrgico geral.

A mutabilidade permanente do rito corrompe o caráter sagrado. É o que ocorre com a diversidade de missas: a primeira parte da mesma possui três fórmulas, a segunda, outras três, e o cânon, quatro fórmulas. Pode-se então construir uma missa personalizada segundo 3x3x4 possibilidades. Isso limitando-se às palavras, sem falar dos gestos e de outras cerimônias que podem ser inventadas e acrescentadas à liturgia segundo o gosto dos conselhos paroquiais. Dar ao padre e ao seu conselho paroquial uma liberdade de gestos quase total e conceder uma parte larguíssima à inciativa coletiva no tocante aos textos da missa, engendra automaticamente uma perda do respeito devido ao próprio rito. É raro que a imaginação ou a fantasia se acompanhem de senso de respeito.

Ao contrário, a utilização de um rito estabilizado há uns quinze séculos e codificado em detalhe engendra um profundo respeito da parte do padre e dos fiéis. A primeira regra para ensinar o caráter sagrado de um objeto, é não colocá-lo nas mãos de todos e proibir que o transformem à bel prazer.

Um relaxamento litúrgico geral engendrado pelo abandono e pela supressão de grande parte das marcas de respeito, em particular: 

  • A obrigação da Pedra da Ara, assim como do caráter precioso dos vasos sagrados, das três toalhas do altar ou ainda de certos ornamentos (o manípulo, o amito, o cíngulo, o véu do cálice e a bolsa ou a própria casula) 
  • As genuflexões, cujo número cai de 12 para 2; o sinal-da-cruz, que de 47 no rito tridentino passam para 7-8.
  • O número de orações, que reduzem a duração da Missa em até 10/12 minutos.

Dom Marcel Lefebvre observava com lucidez: 

“A dessacralização já começa com o uso do vernáculo. A supressão da língua sagrada, que era o latim, de certo modo transformou a santa missa em algo de profano, fez dela qualquer coisa que não é mais verdadeiramente sagrada.

"Pela pronunciação desta tradução em voz alta durante toda a santa missa -- Não há mais momentos de silêncio, não há mais palavras ditas em voz baixa pelo padre (…) que convidam à meditação sobre o grande mistério que se realiza.

"Pela introdução da mesa ao invés do altar (…)

"Pela posição do padre. A missa voltada para os fiéis não convida absolutamente ao recolhimento em face do mistério que se desenrola. O próprio padre se distrai pelas pessoas que tem diante de si. E os fiéis se distraem pelo padre, sobretudo se ele age de modo mais impetuoso, desordenado ou desrespeitoso (…)

"Pela distribuição da Eucaristia pelos fiéis”6.

 

3) Supressão do aspecto sacrificial 

“A missa não é um sacrifício… chamemo-la de benção, eucaristia, ceia do Senhor… demos a ela qualquer outro título que se queira, mas não a manchemos com o nome de sacrifício. Esta abominação […] que chamamos Ofertório. É praticamente daí que tudo ressoa a sacrifício” (Lutero)7

O NOM desviou-se do sentido de um sacrifício para o de uma ceia. Esta evolução se deu de quatro maneiras:

a) Pela supressão do Ofertório. Na doutrina católica o ofertório tem por finalidade precisar o fim sacrificial da missa, a saber, a oferenda do Corpo e do Sangue em expiação dos nossos pecados. O ofertório é, assim, antecipação do sacrifício (1) do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo (2) feita a Deus Pai (3), apresentada pelo padre (4) em expiação de nossos pecados (5). É por isso que o ofertório tradicional desenvolve esses cinco pontos sem nenhum equívoco possível. Não é mais o caso do novo ofertório que não é a oferenda antecipada do corpo e do sangue de Cristo, mas uma oração concebida a partir de um benedicite judáico 8

b) Pela supressão da menção ao sacrifício propiciatório. “As orações que exprimiam explicitamente a idéia de propiciação, como as do ofertório e as pronunciadas pelo padre antes da comunhão, foram suprimidas.”9 O termo “sacrifício” está inteiramente ausente do cânon no. 2, dito de santo Hipólito.”10

c) Pelo estilo narrativo da consagração, que mais remete a uma narração comemorativa do  que a uma ação litúrgica.

d) Pelos próprios gestos litúrgicos.

“Por outro lado, para analisar o novo rito, penso que não devemos considerar apenas os textos, mas é preciso levar em conta igualmente todas as atitudes, os gestos novos que são comandados: as genuflexões, o sinal-da-cruz, as inclinações (…) e mesmo a alteração dos objetos.”11 “Tudo foi transformado! Não há mais genuflexões, não há mais o sinal-da-cruz! É abominável! O sinal da cruz mostrava que se tratava do sacrifício da Cruz. Não se diga que são detalhes. Não são detalhes. São gestos que tem o seu significado, que tem o seu valor.”12

 

4) Diminuição da fé na presença real

“… É impossível ignorar como os gestos e costumes rituais que expressam a fé na Presença real foram abolidos ou modificados. O Novus Ordo elimina:

  • As genuflexões. Não mais do que três permanecem para o padre, e (com certas exceções) uma para os fiéis no momento da Consagração.
  • A purificação dos dedos do padre sobre o cálice;
  • A preservação dos dedos do padre de todo contato profano após a consagração;
  • A purificação dos recipientes sagrados, que não precisa ser feita imediatamente e pode ser feita fora do corporal;
  • A pala que protegia o cálice;
  • O ouro no interior dos recipientes sagrados.
  • A consagração solene para altares móveis.
  • As três toalhas no altar, reduzidas a uma. 
  • A ação de graças para a Eucaristia feita ajoelhada, agora substituída pela grotesca prática do padre e do povo sentando-se para fazer a ação de graças — uma consequência bastante lógica do ato de receber a comunhão em pé;
  • Todas as antigas prescrições a serem observadas no caso de uma hóstia que caía no chão, as quais agora se reduzem a uma única e quase sarcástica instrução: “Ela deve ser recolhida de forma reverente”.

Todas estas supressões somente enfatizam a maneira ultrajante que a fé no dogma da Presença Real é implicitamente repudiada.13

 

5) Diminuição do sacerdócio

Este empobrecimento doutrinal — em particular, o enfraquecimento da noção de missa-sacrifício em proveito da idéia de uma missa-refeição — conduz logicamente a uma diminuição do papel do padre. A missa se torna uma reunião presidida por um padre que é menos sacrificador do que animador de uma assembléia que se reuniu para, por meio de uma refeição simbólica, realizar um ato de rememorização. Essa nova dissimulação manifesta-se pela:

  • Supressão das orações feitas unicamente pelo padre, ou em nome do padre, como o confiteor que passa a ser recitado em comum. Do mesmo modo, as orações formuladas com “eu" desapareceram ou foram modificadas.
  • Supressão das orações feitas em voz baixa pelo padre. Tudo é rezado em voz alta, significando assim que o povo deve poder ouvir o que diz o padre afim de fazer esta oferenda juntamente com ele. Ora, isso era precisamente o que pretendiam os protestantes, posto que esses últimos negam o caráter próprio do padre e insistem sobre a oferenda comunitária da ceia.

De modo hábil, a distinção não é negada, mas silenciada. A longo prazo, isso conduz a ocultar a distinção essencial entre padre e fiel.

 

6) Uma nova definição

Um dos aspectos  mais reveladores da nova orientação doutrinal da Missa de Paulo VI é a primeira definição da mesma, que encontramos na apresentação geral do novo missal, no no. 7:

“a ceia do Senhor, ou a missa, é uma sinaxe sagrada, ou seja, a reunião do povo de Deus sob a presidência do padre, para celebrar o memorial do Senhor. É por isso que a reunião da Santa Igreja em dado local realiza de modo eminente a promessa de Cristo: ‘Onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no meio deles’"

Pode-se ver que:

  • Não se faz nenhuma menção do sacrifício, mas se fala de uma ceia e de uma “reunião do povo de Deus” e de um memorial; 
  • O padre é apresentado como o presidente da assembléia, e não como sacrificador: “sob a presidência do padre”;
  • A presença de Cristo é uma presença espiritual, como a de uma simples oração comum: “a reunião… realiza de modo eminente a promessa de Cristo: ‘Onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no meio deles’”;
  • Esta definição corresponde de modo muito preciso ao novo rito.

Falando da Institutio Generalis, ou seja, da apresentação geral da nova instituição litúrgica, Bugnini declarou que este documento constituía “uma ampla exposição teológica, pastoral, catequética e litúrgica, uma introdução à compreensão e à celebração da missa”14. Quanto ao Cardeal Villot, falando em nome de Paulo VI, ele via nela “uma síntese dos princípios teológicos, ascéticos e pastorais indispensáveis, tanto para a divina doutrina, como para a celebração, catequese e pastoral da missa.”15

Este texto desencadeou, no entanto, uma tal avalanche de críticas que a definição foi modificada, sem que o sentido fosse verdadeiramente satisfatório.

“Mons. Bugnini, que era o seu autor disse: ‘— Quiseram nos fazer mudar alguma coisa da definição da missa. Alguns protestaram contra a definição. Ridículo. Esta definição não era absolutamente protestante’. Monsenhor Bugnini tentou se justificar: ‘— A nova definição feita não muda nada quanto ao essencial’16

 

Conclusão

Em suma, é o conjunto das grandes verdades de fé que são diminuídas, ocultadas, escamoteadas no novo rito da missa; o mistério da Redenção, o pecado, a imortalidade da alma, a Virgindade de Maria, o sacerdócio, a necessidade da expiação, tudo isso é alterado pelo novo rito.

Não é, pois, exagerado concluir que esta nova missa é corrosiva para a fé dos padres que a celebram e para a fé dos fiéis que a assistem, como infelizmente cinquenta anos de reforma litúrgica manifestam fartamente. 

  1. 1. Novus Ordo Missae, ou seja, o novo rito da Missa. Utilizaremos essa abreviação ao longo do nosso texto.
  2. 2. Dom Marcel Lefebvre, Mantes-la-Jolie, 2 de julho de 1977.
  3. 3. Dom Marcel Lefebve, Conferência espiritual, Écône, 25 de junho de 1981.
  4. 4. Ibidem.
  5. 5. Ibidem
  6. 6. 1o. de outubro de 1979
  7. 7. Formulae missae et communionis, 1523.
  8. 8. Trata-se da famosa oração: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de Vossa bondade. Fruto da Terra e do trabalho humano” etc.
  9. 9. Dom Marcel Lefebvre, Conferência espiritual, Écône, 26 de outubro de 1979.
  10. 10. O NOM deixa a escolha entre quatro cânones, entre os quais o dito de Santo Hipólito. Dom Marcel Lefebvre, Carta aberta aos católicos perplexos, p. 33.
  11. 11. Dom Marcel Lefebvre, Conferência espiritual, Écône, 25 de junho de 1981.
  12. 12. Dom Marcel Lefebvre, Retiro, Avrillé, 18 de outubro de 1989.
  13. 13. Breve exame crítico do NOM dos cardeais Bacci e Ottaviani.
  14. 14. Conferência geral do episcopado latino-americano, 30 de agosto de 1968.
  15. 15. D.C. 1594, p. 866.
  16. 16. ”Posto que foi dito e redito oficialmente que não se encontrou nenhum erro doutrinal na redação original e que as mudanças introduzidas não visavam mais do que cortar pela raiz algumas dificuldades inúteis, podemos continuar a nos apoiar no texto de 1969. Ele representa o pensamento da Institutio generalis em estado puro, para além dos compromissos ‘impostos'”. Jean-Marie R. Tillard, “A reforma litúrgica e a reaproximação das Igrejas”, in Liturgia opera divina e umana, Studi sulla riforma liturgica offerti a S. E. Mgr. Annibale Bugnini, Edizioni Liturgiche, 1982, p. 223.
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