Pe. François-Marie Chautard
1) Paulo VI
A chamada missa de Paulo VI leva seu nome. Apesar de todas as pressões possíveis, o NOM foi assinado por Paulo VI, e data do pontificado de Paulo VI. Ele é o primeiro responsável, ele é seu verdadeiro autor. Devemos também rejeitar a idéia de que Paulo VI teria assinado às cegas os textos sobre a reforma litúrgica.
"Para mostrar que a reforma litúrgica foi conduzida em estreita colaboração com Paulo VI, Monsenhor Bugnini afirmou:
"Quantas horas da noite passei com ele, estudando juntos os muitos e volumosos dossiês empilhados sobre sua mesa! Ele os lia e examinava, linha por linha, palavra por palavra, anotando tudo em preto, vermelho ou azul, criticando, se necessário, com sua dialética, capaz de formular dez perguntas sobre um mesmo ponto.
"Mas essa descrição vale sobretudo para os anos 1968-1969, depois da partida de Lercaro e durante a fase mais intensa da preparação do Novus Ordo Missæ.”1
2) Arcebispo Bugnini
A pedra angular da "reforma" do Missal Romano foi, entretanto, Monsenhor Hannibal Bugnini como nos lembra Monsenhor Lefebvre: "A reforma litúrgica foi, como sabemos, obra de um pai bem conhecido: Padre Bugnini, que a vinha preparando há muito tempo. Já em 1955, ele fizera traduzir textos protestantes por Monsenhor Pintonello (...) que me disse que traduzira livros litúrgicos protestantes para o padre Bugnini, que nessa época era apenas um membro modesto de uma comissão litúrgica. Ele não era nada. Depois, tornou-se professor de liturgia em Latrão. O Papa João XXIII o tirou de lá por causa de seu modernismo, seu progressismo. Pois bem, ele acabou presidindo a Comissão de Reforma da Liturgia! Inacreditável! Tive a oportunidade de ver por mim mesmo a influência do padre Bugnini. É estarrecedor que algo assim possa ter acontecido em Roma.”2
Apresentação da nova missa por Monsenhor Bugnini
"Nessa época, logo após o Concílio, eu era Superior Geral da Congregação dos Padres do Espírito Santo, e houve em Roma uma reunião dos Superiores Gerais. Pedimos ao padre Bugnini que nos explicasse sua nova missa, porque, no fim das contas, aquilo não era um evento qualquer. (…) Então pedimos que o Padre Bugnini explicasse aos oitenta e quatro Superiores Gerais ali reunidos, entre os quais eu estava, sua missa.
"O padre Bugnini, com muita bonomia, explicou-nos o que era a missa normativa. Vamos mudar isso, vamos mudar aquilo, vamos colocar outro ofertório, vai ser possível escolher os Cânones, reduzir as orações da comunhão, haverá vários padrões para o início da missa, será possível dizer a missa em vernáculo.
“Olhamo-nos uns para os outros como que dizendo: ”Não é possível!” Ele falava como se antes dele jamais tivesse existido uma missa na Igreja. Ele falou de sua missa normativa como uma nova invenção. Pessoalmente, fiquei tão perplexo, que eu, que tão facilmente tomo a palavra para me opor àqueles com quem não concordo, permaneci em silêncio. Eu não conseguia dizer palavra.
"Não é possível que tenha sido a este homem que estava diante de mim que toda a reforma da liturgia católica tenha sido confiada, a reforma do santo sacrifício da missa, dos sacramentos, do breviário, de todas as nossas orações.
"Para onde estamos indo? Para onde vai a Igreja? Dois Superiores Gerais tiveram a coragem de se levantar. Um deles questionou o padre Bugnini: - "É uma participação ativa, é uma participação corporal, isto é, orações vocais, ou é a participação espiritual? Em todo caso, o senhor falou tanto sobre a participação dos fiéis, que parece que já não se justifica a missa sem fiéis, já que toda a sua missa foi feita em função da participação dos fiéis. Nós, Beneditinos celebramos nossas missas sem fiéis. Devemos então continuar a dizer nossas missas privadas, já que não temos fiéis que participem delas?”
"Eu repito exatamente o que o padre Bugnini disse, eu ainda tenho suas palavras em meus ouvidos pelo tanto que me chocaram : -- "Na verdade, nós não pensamos nisso!", foi o que ele disse.
"Depois, outro se levantou e disse: - "Meu Reverendo Padre, o senhor falou: nós vamos suprimir isto, suprimir aquilo, substituir tal coisa por outra, e sempre por orações mais curtas, que eu tenho a impressão que sua nova missa será dita em dez, doze minutos, um quarto de hora, e isso não é razoável, não é respeitoso. Pois bem! Ele respondeu: - "Podemos sempre adicionar alguma coisa". Isso pode ser sério? Mas eu mesmo ouvi. Se alguém tivesse me dito, mal teria acreditado, mas eu mesmo ouvi.”3
3) Os outros especialistas
À Bugnini, muitos outros especialistas se juntaram: Dom Botte e Dom Beauduin OSB. Os jesuítas Doncoeur e Daniélou. Padre Bouyer, do Oratório. Padre Gy, OP. E ainda o Monsenhor Dwyer, membro do Consilium de Liturgia, Arcebispo de Birmingham, que reconheceu a importância de tal reforma (Conferência de imprensa, 23 de outubro de 1967): "é a liturgia que forma o caráter, a mentalidade dos homens para enfrentar os problemas ... A reforma litúrgica é, em certo sentido, a chave para o aggiornamento, não se engane, é aqui que a revolução começa.”4
4) Os especialistas protestantes
Além de Monsenhor Bugnini e dos especialistas católicos do Consilium, seis pastores protestantes participaram da "reforma", como comprova a foto publicada no número 1562, de 03 de maio de 1970, de Documentation Catholique.
Segundo Dom Baum, responsável pelos assuntos ecumênicos da Conferência Episcopal do México, esses pastores "... não eram apenas observadores, mas também consultores. Eles participaram plenamente das discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não faria muito sentido se eles apenas ouvissem, eles também contribuíram.”5
Além disso, falando a todos os membros do Consilium (com os pastores presentes), o Papa Paulo VI dirigiu sua declaração final, em 10 de abril, em que disse o seguinte: "Nós os agradecemos vivamente por todo o trabalho feito nos últimos anos. De fato, os senhores diligentemente e com competência realizaram uma tarefa complexa e muito difícil sem esperar por qualquer outra recompensa além de saber que estar trabalhando para o bem da Igreja.”6
Epílogo
Uma lamentável anedota sobre a redação de novos textos litúrgicos permite imaginar o profissionalismo dos “reformadores” e sua devoção pelo tesouro da Igreja.
"Monsenhor Bugnini reconheceu que as novas orações eucarísticas (que se seguem à IV Oração Eucarística) foram feitas às pressas, quase em "marcha forçada”. Um dos consultores da Subcomissão, o padre Bouyer, disse o mesmo, não sem humor e ironia, sobre a elaboração da II oração Eucaristica, que ele redigiu junto com Dom Botte, grande especialista em Santo Hipólito. Ele a compôs em ritmo de urgência, em 24 horas:
“Em meio aos fanáticos arqueologizantes - que gostariam de banir as orações eucarísticas do Sanctus e as intercessões, tomando ao pé da letra a Eucaristia de Hipólito - e outros que pouco se importavam com sua suposta tradição apostólica, mas desejavam apenas uma missa rápida, Dom Botte e eu nos encarregamos de retocar seu texto, de modo a nele introduzir esses elementos, certamente mais antigos, para o dia seguinte! Por acaso, descobri num texto, senão do próprio Santo Hipólito, ao menos ao seu estilo, uma fórmula feliz sobre o Espírito Santo que poderia fazer uma transição, do tipo Vere Sanctus, para a breve epiclese. Botte, por sua vez, fabricou uma intercessão mais digna de Paulo Reboux e de seu “ao modo de…” que da sua própria ciência. Mas não posso reler esta composição insólita sem lembrar o terraço do bistrô em Trastevere onde tivemos de ajustar nosso pensum, em tempo hábil para nos apresentarmos na porta de Bronze no momento fixado por nossos diretores!” 7