Liturgia (134)
“Ide vós também para a minha vinha” (Evangelho)
Paramentos roxos
A aproximação dos textos do Breviário e do Missal, esta semana, esclarece-lhes singularmente o sentido e a importância. As lições e os responsórios do Ofício da noite são tirados do Gênese e relatam a história da criação do mundo e do homem, a queda dos primeiros pais, a promessa do Redentor e finalmente a morte de Abel e a sequela das gerações até Noé. “No princípio, diz o Livro Santo, Deus criou o Céu e a Terra, formou o homem e colocou-o num jardim delicioso para o cultivar”. Jesus Cristo, observa São Gregório, diz-nos que o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que assalaria operários para a sua vinha. Ora, quem pode melhor representar o pai de família do que o Criador, que governa com a sua Providência tudo o criado e traz neste mundo os seus escolhidos como o Senhor traz os servos em sua casa? A vinha é a Igreja. Todos os que se aplicaram com retidão à prática do bem e exortaram os outros com a palavra ou com o exemplo a enveredar pelos caminhos da virtude, são operários desta vinha. Pelos da primeira, da terceira, da sexta e da nona hora, quis o Senhor designar o povo judeu, que desde o princípio se esforçou por servir a Deus na pessoa dos seus profetas e dos seus santos e não cessou de trabalhar no cultivo da vinha. Pelos da undécima, designou os gentios e a eles se dirige: “Porque estais aqui o dia todo sem fazer nada? ”Todos os homens são, pois, convidados a trabalhar na vinha do Senhor, quer dizer, na própria santificação e na alheia, e glorificar por este modo a Deus. Mas Adão, falhou à sua missão: “porque tu comeste do fruto da árvore que te ordenara não comesse, a terra será maldita e tirarás dela o teu sustento à força de trabalho. Só dará espinhos e cardos. Comerás o pão no suor do teu rosto até que voltes à terra donde saíste”. Exilados do Paraíso, diz S. Agostinho, o primeiro homem comunicou a pena de morte e reprovação a todos os descendentes. O gênero humano, assim condenado, foi, por assim dizer, afundado na desgraça que vai arrastando consigo através das misérias da vida. Os textos da Missa estão cheios dos mesmos pensamentos. “Dores de morte me cercaram”, diz o Intróito. E é com justiça, diz a Oração, que sofremos pelos nossos pecados. A Epístola apresenta-nos a vida como um circo onde é necessário lutar para ganhar a coroa. O denário da vida eterna, acrescenta o Evangelho, será dado só àquele que trabalhar na vinha do Senhor. Deus na sua sabedoria preferiu, diz S. Agostinho, tirar o bem do mal a não permitir mal algum. Deus com efeito compadeceu-se dos homens e prometeu-lhes um segundo Adão que restabeleceria a ordem perturbada pelo primeiro. O Paraíso era “a sombra duma vida mais perfeita”. Exilados de lá com Adão, perdêramos o direito a essa vida que ele representava. Porém, o segundo Adão veio reabrir-nos a porta e dar possibilidade de lá reentrarmos. Senhor, canta a Igreja, Vós sois o nosso auxílio na angústia e na indigência. Tendes o perdão convosco, iluminai sobre nós a Vossa face e salvai-nos.
A Missa da Septuagésima assim estudada prepara-nos para começar este novo período do ano litúrgico com uma compreensão mais perfeita dos mistérios pascais. Aprende-se melhor deste modo tudo o que a Páscoa representa e o que a Igreja nos ensina quando diz: “Deus criou o homem duma maneira admirável e resgatou-o de maneira mais admirável ainda”.
Do Evangelho: O amanhecer do mundo, a primeira hora, diz S. Gregório, pode entender-se do tempo que vai de Adão até Noé; a terceira, de Noé até Abraão; a sexta, de Abraão até Moisés; a nona, de Moisés até a vinda do Salvador; a undécima, desde a vinda do Salvador até o fim do mundo. Todos os homens são, portanto, chamados a trabalhar para a glória de Deus e a receber como salário o denário da vida eterna.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“Dizei uma só palavra e o meu servo será curado”
Paramentos verdes
Estes quatro domingos têm todos o mesmo Intróito, Gradual, Aleluia, Ofertório e Comunhão, e referem-se todos igualmente à realeza de Cristo. Os dois milagres referidos no Evangelho de hoje têm ambos a mesma significação. O primeiro é a cura dum leproso judeu. E o Senhor quer que os Príncipes dos Sacerdotes constatem oficialmente o prodígio. O segundo é o do Centurião, dum pagão, que humildemente confessa a sua indignidade e a sua fé. Todos os povos são, pois, convidados a tomar parte na herança do reino e no banquete da glória, em que a própria divindade será o pão da nossa alma. Filhos do reino de Deus, renovemos a nossa fé na divindade de Cristo e proclamemo-la com atos de virtude e daquela caridade que constitui o grande mandamento e que S. Paulo nos recorda na epístola de hoje. “A graça da fé em Jesus, diz S. Agostinho, opera a caridade”. Que nada nos separe desta caridade, e que ela produza na nossa alma sentimentos de paz e de amor para com todos os homens.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Jesus transforma a água em vinho nas Bodas de Caná.
Paramentos verdes
Fiel à promessa que fizera a Abraão, Deus enviou o seu Filho para resgatar o povo eleito, que se não circunscrevia à órbita judaica somente, mas compreendia os homens de todos os lugares e de todos os tempos. Jesus é, pois, aquele rei que a terra toda deve adorar e servir. Havendo sido convidado às núpcias em Caná, diz S. Agostinho, aceita o convite para nos revelar o profundo mistério que nelas se encobre e que é a união de Cristo com a sua Igreja. Todos os Padres são unanimes em ver neste milagre aí operado, além da confirmação da missão redentora de Cristo, o símbolo da Eucaristia e da aliança que Jesus Cristo estabeleceu com as almas e selou com o sinete do seu sangue e a qual se consuma na sagrada comunhão. São as núpcias divinas na terra, prelúdio das eternas do céu. Éramos água e Cristo fez-nos vinho, vinho novo, duma vinha que é também nova e que foi regada com o sangue dum homem-Deus. Diz S. Tomás que a conversão da água em vinho é símbolo da transubstanciação, milagre tamanho que faz do vinho eucarístico o sangue da aliança de paz que Deus estabeleceu com a sua Igreja.
Do Evangelho: O milagre de Caná mostra-nos bem o que pode Maria junto do Coração do Filho. Mas diz S. Ambrósio que ela não Lhe pede serviços vulgares, mas aquilo que só Deus pode fazer.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Jesus veio para Nazaré e vivia sujeito a eles (Evangelho).
Paramentos brancos
“Não era acaso conveniente, diz São Leão, celebrar o nascimento real do Filho do Pai eterno, a casa de David, e os nomes gloriosos dessa antiga linhagem? Mas é mais doce ainda para nós recordar a pequena casa de Nazaré e a humilde existência que aí se passa; é mais doce celebrar a vida obscura de Jesus. É aí que o Divino Infante se exercita no humilde ofício de carpinteiro, aí, na sombra, cresce em idade, mostrando-se feliz por partilhar dos trabalhos de São José.
Que o suor, diz ele, banhe os membros antes de os inundar a efusão do sangue redentor, que a mortificação do trabalho sirva também de expiação para o gênero humano. Junto do Menino se encontra sua terna Mãe, junto do Esposo a Esposa dedicada. Como ela se julga feliz em poder aliviar, com afetuosos cuidados, as sua penas e fadigas”. “Ó vós que não fostes isentos nem de preocupações nem de trabalhos, e que conhecestes o infortúnio, olhai para os desgraçados que lutam contra as dificuldades da vida e se veem na indigência”. (Hino de Matinas).
Na humilde casa de Nazaré, Jesus, Maria e José santificaram a vida familiar pelo exercício das virtudes domésticas (Oração). Praticaram a humildade, a paciência, a moderação, a ajuda mútua, a caridade, o respeito e a obediência, de que nos falam a Epístola e o Evangelho da Missa. Vivendo sempre no recolhimento e na oração, encontraram a alegria e a paz. Oxalá a grande família que é a Igreja e cada lar cristão pratique na terra as virtudes que praticou a Sagrada Família a fim de que possa viver um dia em sua santa companhia no Céu (Oração).
Da Epístola: Devido à grande misericórdia perdoou-nos Jesus as nossas faltas formando a grande família da Igreja que Ele é o Chefe. Saibam os que dela fazem parte agradecer a Deus e usar de misericórdia uns para com os outros.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“Que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre: no Céu (Anjos), na Terra (Homens), e nos infernos (Demônios) ”. (Intróito)
Paramentos brancos
A Igreja revela-nos as grandezas do Verbo encarnado, cantando as glórias do Seu Nome.
Era por ocasião do rito da circuncisão que os judeus impunham o nome aos filhos; por isso a Igreja vai buscar hoje o Evangelho da Festa da Circuncisão fazendo realçar as últimas palavras: “e foi-Lhe dado o nome de Jesus, nome que já o Anjo Lhe havia dado antes de ser concebido no seio da Virgem”. O nome de Jesus significa Salvador, e diz São Pedro, que não foi dado aos homens outro Nome, pelo qual nos possamos salvar (Epístola).
É ao Nome de Jesus, diz São Bernardo, que os coxos andam, que os cegos veem e que os surdos ouvem. A pregação do Nome de Deus é a luz do mundo, o unguento que unge, reconforta e sustenta (Matinas). O Nome de Jesus “é mel para os lábios, melodia para os ouvidos e alegria do coração”. Que durante a nossa vida ele nunca saia dos lábios para termos um dia a alegria de vermos o nosso junto ao d’Ele inscrito no Céu (Depois da Comunhão).
As primeiras origens desta festa remontam ao século XVI em que era celebrada na Ordem de São Francisco. Em 1721, Inocêncio XIII, estendeu-a ao mundo inteiro.
(Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.)
“Eis, diz Simeão, que este menino está posto para ruína e salvação de muitos” (Evangelho)
Paramentos brancos
Antes da vinda do Filho de Deus, enviado pelo Pai, para que também recebêssemos a adoção de filhos de Deus, o homem era como um herdeiro na sua menoridade que em nada se distinguia dum escravo. Pelo contrário, agora que a lei nova o emancipou da tutela da antiga, “ele já não é servo, mas filho” (Epístola). Desta maneira o culto dos filhos de Deus resume-se nesta palavra proferida com Jesus: “Pai” (Epístola).
O Evangelho descobre-nos qual será o grandioso papel, no futuro, deste Menino cuja manifestação começa hoje no templo. É o Rei cujo reino penetrará até o interior dos corações. Será para todos a pedra de toque, pedra de escândalo para os que O rejeitarem, e pedra angular de suporte para os que O receberem.
Do Intróito: Que beleza a escolha destes dois trechos da Sabedoria para evocar a vinda do Verbo que desce do trono real dos Céus para o meio das trevas da nossa noite.
Da Epístola: Só depois da maioridade é que o filho entra na posse da herança a que tem direito. Antes disso depende daqueles que em seu nome administram o patrimônio. Era assim para os judeus na lei mosaica. Esperavam pelo rico patrimônio da Nova Lei, mas estavam ainda sujeitos aos ritos e prescrições da Antiga Aliança, espécie de tutela do povo de Deus, enquanto esperava a herança que lhe fora prometida. Mas essa hora da herança chegou; o Filho de Deus fez-se homem para nos libertar da escravidão da Lei e tornar-nos filhos de Deus, coerdeiros do reino dos Céus. Com os tempos messiânicos cessa a lei mosaica e começa a maioridade do povo de Deus, alcançada por meio do Batismo.
Do Evangelho: O velho Simeão e a profetiza Ana (de mais de oitenta anos de idade), que passavam seus dias no Templo, dão testemunho de Jesus. Ele é o Messias e a sua vinda implica necessariamente uma separação ou um julgamento. Os pensamentos secretos de cada homem referentes a Cristo serão revelados no último dia, porque Ele perscruta os rins e os corações (8ª Lição de Mat.). Condenam-se os que O rejeitam, porque, fora d’Ele, não há salvação.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
4° DOMINGO DO ADVENTO
João Batista prepara as almas para a vinda de Cristo pelo batismo de penitência. (Evangelho de S. Luc. 3, 3)
Paramentos roxos
Como toda a liturgia deste tempo, a Missa do 4° Domingo do Advento tem por fim preparar-nos para as duas vindas de Cristo, vinda de Misericórdia no Natal, em que comemoramos o nascimento de Jesus, e vinda de Justiça no fim do mundo. O Intróito, o Evangelho, o Ofertório e a Comunhão referem-se à primeira; a Epístola, à segunda; e a Oração, o Gradual e o Aleluia podem aplicar-se a uma ou a outra.
Encontram-se nesta Missa as três grandes figuras do Tempo do Advento: Isaías, S. João Batista e a SS. Virgem. No Evangelho aparece S. João Batista dando cumprimento na sua pessoa e pela sua pregação à profecia de Isaías: ele é a voz que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as vossas veredas... e toda a carne verá a salvação de Deus. Ao comentar a pregação do Precursor, S. Gregório explica que a ira futura com que S. João ameaça o auditório é o castigo final que o pecador não poderá evitar, se não pela penitência: “O amigo do Esposo excita-nos a que façamos não só frutos de penitência, mas frutos dignos de penitência. Tais palavras são um apelo à consciência de cada um, convidando-nos a alcançar pela penitência um tesouro de boas obras, que deve ser tanto maior quanto mais profundos foram os estragos causados pelo pecado” (3° Noct.).
Vemos como a Igreja nunca perde de vista a última vinda de Jesus. Recordando-nos a SS. Virgem e o lugar principal que ela ocupa no mistério do Natal, a Comunhão e o Ofertório levam-nos ao nascimento de Belém. Na Comunhão escutamos a profecia de Isaías, que anuncia sete séculos antes o nascimento virginal: uma Virgem conceberá e dará à luz o Emanuel. O Ofertório é uma saudação delicada e pura em que a Santa Igreja, ouvindo as palavras do Arcanjo Gabriel e de S. Isabel, canta a graça especial de Maria ao gerar o Homem-Deus. “Gabriel quer dizer força de Deus, explica S. Gregório, foi enviado a Maria, porque ele vinha anunciar o Messias, que se dignou aparecer humilde e pequenino para vencer todos os potentados. Convinha fosse o Anjo Gabriel, a força de Deus, a anunciar Aquele que vinha como o Senhor dos exércitos, o Todo Poderoso, o Invencível nos combates, que havia de vencer todas as potências do mal” (Sermão 35).
A Oração alude a esta força de Deus, que antes de se mostrar na segunda vinda se manifesta já na primeira, pois que é revestido da nossa fraca e mortal humanidade que Jesus vence o Demônio.
Vendo aproximar-se a vinda de Jesus, nosso Libertador, digamos-lhe com a Santa Igreja: “Vinde, Senhor, não tardeis”.
Do Intróito: O “Rorate” de Isaías! Impossível encontrar o lirismo mais profundo, e ao mesmo tempo texto mais evocativo, que esta prece que constitui como o estribilho de todo o Advento. A terra que se entreabre para receber o orvalho do Céu e faz brotar o Salvador é a Virgem Maria Nossa Senhora.
Da Oração: O grande obstáculo à nossa salvação foi sempre o pecado, Satã e os poderes do mal; mas “o Senhor virá, diz Isaías, como o guerreiro poderoso que marcha para o combate” (3ª lição de 3ª feira). Nós não merecemos a nossa salvação; é da misericórdia de Deus que devemos implorar a força de nos levantarmos do mal.
Da Epístola: Só o Juiz Soberano conhece os pensamentos mais íntimos dos homens; é Ele que no último dia nos há de julgar. Não julguemos o próximo se não quisermos ser julgados por Deus. O apelo a não julgarmos os Ministros de Cristo determinou a escolha desta Epístola para as Ordenações das Quatro Têmporas do Advento.
Do Evangelho: O acontecimento capital da História do mundo vai realizar-se. Segundo a profecia de Isaías, S. João Batista vai apresentar ao mundo o Messias. O momento do aparecimento do Precursor é determinado com precisão. O Cristianismo funda-se em fatos históricos.
Do Ofertório: Com o Arcanjo Gabriel e Santa Isabel saudemos a Virgem Maria, tabernáculo vivo do Altíssimo.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“Eu sou, diz João Batista, a voz do que clama no deserto:
endireitai o caminho do Senhor. ” (Jo 1, 23)
[ Paramentos roxos ou cor de rosa ]
São João Batista é, com Isaías e a SS. Virgem, uma das três grandes figuras que enchem o Advento. Ao mesmo tempo Profeta do Messias (o último dos Profetas) e testemunha de Cristo (foi o primeiro a pregar às multidões a sua vinda).
S. João Batista suscitado por Deus para preparar os caminhos do Senhor continua como outrora a cumprir a sua missão junto de nós. A Santa Igreja compraz-se em repetir-nos o testemunho do Precursor, as suas exortações à penitência, e apontando-o como exemplo de profunda humildade. Como os homens o tomassem por Cristo, humilhou-se até o ponto de se declarar indigno de desatar os cordões de seus sapatos. As suas exortações conservam ainda hoje toda a importância. O Salvador, que para nós já veio, está para vir ainda a muitas almas que continuam a ignorá-lo. Nós mesmos devemos recebe-lo cada vez mais em nossas almas. Na festa do Natal realiza-se a nossa filiação divina. Além disso, devemos preparar-nos para a última vinda do Senhor, em que Ele virá julgar-nos sobre a maneira como O recebemos neste mundo. A Igreja prepara-nos assim para a festa do Natal e também para essa última vinda de Jesus. A grande alegria dos cristãos à qual nos convida a Igreja, é a de sentirmos que o dia do Senhor se aproxima, dia em que virá cheio de glória para nos introduzir consigo na cidade celeste. Façamos votos para que o Natal nos prepare para este grande dia que o Apóstolo diz estar próximo, e para que ele se realize depressa. Todas estas aspirações do Advento, estes “Vinde”, são como que o eco dos Profetas e daquele “Veni” com que S. João termina o Apocalipse: “Vinde Senhor Jesus” é a última palavra do Novo Testamento. Como sinal de alegria, tocam-se os órgãos à Missa solene e o sacerdote pode usar paramentos cor de rosa, os quais simbolizam a alegria da Jerusalém celeste — Alegra-te Jerusalém, com grande alegria, porque a ti virá o Salvador, aleluia (2ª ant. de Vésperas). “Per adventum tuum libera nos, Domine”, cantamos nós nas Ladainhas de todos os Santos.
Do Intróito: O povo de Jacó libertado do cativeiro de Babilônia é uma figura do povo cristão libertado por Jesus da escravidão do pecado.
Da Epístola: S. Paulo exorta os fiéis a alegrarem-se com o pensamento da última vinda de Jesus para a qual, preparando-nos também para celebrarmos o aniversário da primeira vinda, nos prepara o Advento.
Do Evangelho: A esperança da vinda do Messias era tão grande, que todos o desejavam ver aparecer. S. João Batista foi obrigado a defender-se, declarando não ser ele o Messias.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“João enviou dois dos seus discípulos a dizer-Lhe: És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”
A liturgia deste domingo está cheia do pensamento de Isaías, o Profeta por excelência da vinda do Salvador. São Paulo, na Epístola, e Nosso Senhor no Evangelho, fazem ver que os oráculos do grande Profeta encontram plena realização com a Vinda do Messias. Não se limita apenas a este domingo a importância dada a Isaías pela liturgia do Advento. Não há dia em que, em Matinas, não se leia algum passo das suas profecias; são todas dele as lições do Sábado das Quatro Têmporas; e no Natal a liturgia serve-se ainda das suas palavras para cantar o Emanuel nascido da Virgem, a alegria da nova Jerusalém que agora abrange todo o mundo e as divinas grandezas do Príncipe da Paz.
Em Roma, a estação era na basílica de S. Cruz em Jerusalém, onde se conserva uma grande parte da verdadeira Cruz trazida de Jerusalém.
Isaías havia predito: “Uma vergônea sairá da raiz de Jessé e de sua raiz elevar-se-á uma flor” (1ª lição de Matinas). “Esta vergônea, explica S. Jerônimo, é a SS. Virgem, e a flor seu Filho Jesus, nosso Salvador”. (3ª lição). Ao recordar-nos as Escrituras que tanto ajudam a nossa esperança e a nossa fé, a Igreja convida os que são chamados à mesma glória e viveram na unidade da caridade.
Comentando o Evangelho em que Jesus claramente afirma ser “Aquele que há de vir” como o provam os milagres feitos por Ele e preditos por Isaías, São Gregório faz notar que os judeus estavam prontos a reconhecer um Messias que operasse maravilhas, mas nunca um Messias que pudesse também sofrer. A cruz foi para eles um escândalo, cujas vítimas foram eles próprios” (7ª lição de Matinas). Acolhamos nós a Jesus na humildade do Presépio, para que Ele nos receba também, um dia, em seu reino de glória, quando nos vier julgar.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“Vede a figueira e toas as árvores: quando começam a desabrochar, conheceis que está perto o estio. Assim também, quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus”
Durante todo o Tempo do Advento a Igreja não perde de vista o duplo aparecimento do Salvador: Seu nascimento em Belém, cujo esplendor sempre atual se deve estender até o fim dos tempos, e seu regresso no Juízo Final para “condenar às chamas os pecadores e convidar os justos à bem-aventurança” (Hino de Matinas). A Missa do dia de hoje fala-nos destas duas vindas de Jesus: de misericórdia e de justiça. Alguns passos referem-se indiferentemente a ambas (Intróito, Oração, Gradual, Aleluia), outros fazem apenas alusão ao nascimento do Salvador na humildade do Presépio (Comunhão, Pós-comunhão), e outras finalmente falam da sua vinda como Rei em todo o esplendor do seu Poder e Majestade (Epístola e Evangelho). O acolhimento que fizermos a Jesus, agora que Ele nos vem salvar, ditará o que Ele nos há de fazer quando nos vier julgar. Preparemo-nos, portanto, para a festa do Natal por meio de santas aspirações e pela emenda de nossa vida, para estarmos preparados para o julgamento final do qual dependerá, por toda a eternidade, o nosso destino. Tenhamos confiança, pois “nenhum dos que esperam em Cristo será confundido” (Intróito, Gradual, Ofertório).
Era na Basílica de Santa Maria Maior que todo o povo de Roma estacionava outrora no primeiro Domingo do Advento, para assistir à Missa Solene celebrada pelo Papa. Escolhia-se essa Igreja por ter sido Maria quem nos deu Jesus e por se conservarem aí as relíquias do Presépio no qual a SS. Virgem colocou o seu Divino Filho.
“Que a alma entorpecida desperte, e não rasteje mais pela terra; eis que Jesus vem das alturas dos Céus; uma estrela nova resplandece dissipando as trevas da noite” (Hino de Laudes). A vida cristã é uma preparação contínua para a última vinda do Salvador.
“A salvação está perto”, “o dia aproxima-se”, diz a Epístola. “Aproxima-se a vossa redenção”, “o Reino de Deus está próximo”, ajunta o Evangelho. O Juiz Divino virá dentro em pouco, pois que a morte espreita-nos e, diante de Deus, mil anos são como um dia apenas. Nesta segunda vinda, Cristo virá dar a cada um segundo as suas obras. Será a coroação da obra de Cristo e o triunfo da sua redenção.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.