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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

13. Segunda-feira depois do II domingo da Quaresma: Se foi conveniente que Cristo sofresse da parte dos gentios.

Segunda-feira da II Semana da Quaresma 
  
«Entregá-lo-ão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado» (Mt 20, 19)
  
1. No modo mesmo da paixão de Cristo lhe estava prefigurado o efeito. Assim, o primeiro efeito da morte de Cristo aproveitou aos judeus, muitos dos quais foram batizados na ocasião dessa morte, como se lê na Escritura. Depois, mediante a pregação dos judeus, o efeito da paixão de Cristo o sentiram os gentios. Por onde, foi conveniente que Cristo começasse a sofrer da parte dos judeus e em seguida, entregue por estes, a sua Paixão se consumasse pelas mãos dos gentios.

14. Terça-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de mérito.

Terça-feira da II Semana da Quaresma 
  
I. A Cristo foi dada a graça, não só como a uma pessoa singular, mas enquanto cabeça da Igreja, de modo que dele redundasse para os membros dela. Por isso as obras de Cristo estão para o mesmo e para as suas obras, assim como estão as obras de um homem constituído em graça para com ele próprio. Ora, é manifesto que quem, constituído em graça, sofre pela justiça, por isso mesmo merece para si a salvação, segundo a Escritura: «Bemaventurados os que padecem perseguição por amor da justiça». Por onde, Cristo, pela sua paixão, mereceu a salvação não somente para si mas também para todos os seus membros.

15. Quarta-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo causou nossa salvação a modo de satisfação

Quarta-feira da II Semana da Quaresma 
  
«Ele é propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (1 Jo 2, 2)
   
I.  Propriamente falando, satisfaz pela ofensa quem, ao ofendido, oferece algo que este ame tanto ou mais do que odeia a ofensa. Ora, Cristo, sofrendo por obediência e caridade, ofereceu a Deus um bem maior do que o exigido pela recompensa da ofensa total do gênero humano. Assim, primeiro, pela grandeza da caridade, pela qual sofria. Segundo, pela dignidade de sua vida, que oferecia em satisfação, que era a vida de Deus e do homem. Terceiro, por causa da generalidade da Paixão e da grandeza da dor assumida. Por onde, a Paixão de Cristo foi uma satisfação não só suficiente, mas superabundante pelos pecados do gênero humano, segundo aquilo do Evangelho: «Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (Mt 20, 19).

16. Quinta-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo se realizou a modo de sacrifício.

Quinta-feira da II Semana da Quaresma 
   
    
I.  — Chama-se sacrifício em sentido próprio o que é feito como uma honra propriamente devida a Deus, com o fim de o aplacar. E por isso diz Agostinho: «É verdadeiramente sacrifício toda obra feita com o fim de nos unirmos com Deus numa sociedade santa, isto é, uma obra referida ao fim bom, cuja posse é capaz de nos dar verdadeiramente a felicidade.» Ora, Cristo se ofereceu a si mesmo para sofrer por nós; e o próprio fato de ter padecido voluntariamente a sua Paixão foi sobremaneira aceito de Deus, como proveniente de uma caridade máxima. Por onde é manifesto que a Paixão de Cristo foi um verdadeiro sacrifício.

17. Sexta-feira depois do II domingo da Quaresma: O Santo Sudário.

Sexta-feira da II Semana da Quaresma 
   
«José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol branco. E depositou-o no seu sepulcro novo» (Mt 27, 59)
   
I.  — Por este sudário designam-se três coisas, em sentido místico:
  
1. A carne puríssima de Cristo. Feito de linho, que se embranquece com muita pressão, o sudário representa a carne de Cristo, que chega ao alvor da ressurreição pela violência. Conforme o Evangelho:  «Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos» (At 17, 3).

18. Sábado depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo obrou nossa salvação a modo de Redenção.

Sábado da II Semana da Quaresma 
    
Diz a Escritura: «Não por ouro nem por prata, que são coisas corruptíveis, haveis sido resgatados da vossa vã existência, que recebestes de vossos pais; mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem contaminação alguma.» (1 Pd 1, 18). Noutro lugar: «Cristo nos remiu da maldição da lei, feito ele mesmo maldição por nós» (Gl 3, 13). E dito do Apóstolo «feito maldição por nós» significa que sofreu por nós no madeiro. Logo, pela sua Paixão nos remiu.

Art. 8 — Se um milagre é maior que outro.

(Ia IIae, q. 113; a. 10; III Cont. Gent., cap. CI).
 
O oitavo discute-se assim. — Parece que um milagre não é maior que outro.
 
1. Pois, diz Agostinho: Nas coisas miraculosamente feitas, toda a razão do feito está na potência de quem faz. Ora, todos os milagres se fazem pela potência de Deus. Logo, um não é maior que outro.
 
2. Demais. — O poder de Deus é infinito. Ora, como o infinito excede, sem nenhuma proporção, todo finito, não causa admiração que produza antes um efeito, que outro. Logo, um milagre não é maior que outro.
 
Mas, em contrário, é o que o Senhor diz, na Escritura, falando das obras miraculosas (Jo 14, 12): Esse fará também as obras que eu faço, e fará outras ainda maiores.
 
Solução. — Não se pode dizer que nada seja milagroso, relativamente ao poder divino; porque qualquer coisa feita é mínima em comparação com esse poder, conforme a Escri­tura (Is 40, 15): Eis que as nações são reputadas como uma gota de água que cai dum balde e como um grão na balança. Mas podemos chamar mila­groso a um fato, por comparação com a faculdade da natureza, que ele excede. Por onde, tanto maior se considera o milagre quanto mais excede essa faculdade. Ora, pode algum fato exceder a faculdade da natureza, de três modos. — De um, quanto à sua substância; assim, se dois corpos ocupam simultaneamente o mesmo lugar, se o sol retro­cede, se o corpo humano é glorificado, coisas todas que a natureza de nenhum modo pode fazer e por isso ocupam o grau sumo, entre os milagres. — De outro modo, um fato excede a faculdade da natureza, não em si mesmo, mas relativamente à coisa na qual se dá; assim, a ressuscitação dos mortos, a iluminação dos cegos e coisas semelhantes. Pois, a natureza pode causar a vida, mas não num morto; e pode sustentar a vista, mas não num cego. E tais fatos ocupam o segundo lugar entre os milagres. — De terceiro modo, um fato excede a faculdade da natureza, quanto à maneira e à ordem por que é feito; assim, se alguém, subitamente, por virtude divina, sara de febre, sem a cura e o processo habitual da natureza, em tais casos; e se o ar, imediatamente, por divina virtude, se condensa em chuvas, sem as pausas naturais, como aconteceu pelas preces de Samuel e de Elias. E tais fatos ocupam o ínfimo lugar, entre os milagres. — Ora, todos esses fatos têm graus diversos relativamente aos modos diversos pelos quais excedem a facul­dade da natureza.
 
Donde se deduzem claras as respostas às objeções relativas ao poder divino.

Art. 7 — Se tudo o que Deus faz, fora da ordem natural das coisas, é milagre.

(II Sent., dist. XVIII, q. 1, a. 3; III Cont. Cent., cap. CI; De Pot., q. 6, a. 2; II Thessal., cap. II. lect. II).
 
O sétimo discute-se assim. — Parece que nem tudo o que Deus faz, fora da ordem natural das coisas, é milagre.
 
1. Pois, a criação do mundo e das almas, e a justificação dos ímpios, Deus as fez fora da ordem natural, pois, não as fez por meio da ação de nenhuma causa natural. E contudo nada disso é considerado milagre. Logo, nem tudo o que Deus faz, fora da ordem natural das coisas, é milagre.
 
2. Demais. — Considera-se milagre, como diz Agostinho, algo de árduo e insólito, superior à faculdade da natureza e à esperança de quem o admira. Ora, há certas coisas feitas, fora da ordem da natureza, e que contudo não são árduas, como a restauração e a sanificação das águas (IV Rg, 2). Nem são insólitas, porque acontecem freqüentemente; como quando os enfermos eram colocados nas praças para que, à sombra de Pedro, sarassem. Nem são superiores à faculdade da natureza; assim, quando doentes saram de febres. Nem são superiores à espe­rança; assim, todos esperamos a ressurreição dos mortos, que todavia se há de dar, fora da ordem da natureza. Logo, nem tudo o que se faz, fora da ordem da natureza, é milagre.
 
3. Demais. — A palavra milagre vem de admiração. Ora, esta se dá em relação às coisas manifestas aos sentidos. E às vezes algumas coisas se dão, fora da ordem natural, não manifestas ao sentido; como quando os Após­tolos vieram a ter ciência, sem que a procurassem ou a aprendessem. Logo, nem tudo o que se dá, fora da ordem da natureza; é milagre.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: O que Deus faz contra o curso da natureza, de nós conhe­cido, e habitual, chama-se maravilha ou milagre.
 
Solução. — A palavra milagre vem de admiração. Ora, esta surge quando, sendo a causa oculta, os efeitos são manifestos; assim, admiramo-nos vendo um eclipse do sol e igno­rando-lhe a causa, como diz Aristóteles. Ora, como a causa de um efeito aparente pode ser conhecida de uns e ignorada de outros, daí vem que é admirável para aqueles e não o é para estes; assim, quando o rústico se admira de um eclipse do sol, mas não, o astrólogo. Ora, chama-se milagre o que como provoca a admiração, porque tem em si causa oculta a todos, e que é Deus. Por onde, chama-se milagre tudo o que Deus faz, fora das causas que nós conhecemos.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Embora a criação e a justificação do ímpio sejam operadas só por Deus, nem por isso, propriamente falando, se chamam milagres, porque não são de natureza a ser feitas por outras causas; e, assim, não se dão fora da ordem da natureza, pois que a essa ordem não pertencem.
 
Resposta à segunda. — Chama-se ao árduo milagre, não por causa da dignidade da coisa na qual ele se dá, mas porque excede à faculdade da natureza. E semelhantemente, também se chama insólito, não porque não se dê freqüentemente, mas porque está fora da ordem natural. E ainda superior à faculdade da natureza se chama a uma coisa feita, não só por causa da sua substância, mas também por causa da ordem e do modo de fazer. Enfim, diz-se que o milagre é superior à esperança da natureza, não, porém, superior à esperança da graça, proveniente da fé, pela qual acredi­tamos na ressurreição dos mortos,
 
Resposta à terceira. — Embora a ciência dos Apóstolos não fosse em si manifesta, mani­festava-se contudo nos efeitos, que a tornavam miraculosa.

Art. 6 — Se Deus pode fazer alguma coisa fora da ordem estabelecida para as coisas.

(Infra, q. 106, a. 3; III Cont. Gent., cap. XCVIII, XCIX; De Pot., q. 6, a 1; Compende. Theol., cap. CXXXVI).
 
O sexto discute-se assim. — Parece que Deus não pode fazer nada fora da ordem estabelecida para as coisas.
 
1. Pois, como diz Agostinho, Deus instituidor e criador de todas as naturezas, nada faz contra a natureza. Ora, o que está fora da ordem, naturalmente estabelecida para as coisas, é contra a natureza. Logo, Deus não pode fazer nada fora dessa ordem estabelecida.
 
2. Demais. — Assim como a ordem da justiça provém de Deus, assim também, a da natureza. Ora, Deus não pode fazer nada fora da ordem da justiça, porque então haveria de fazer coisas injustas. Logo, não pode fazer nada fora da ordem da natureza.
 
3. Demais. — Deus instituiu a ordem da natureza. Se pois, fizesse alguma coisa fora dessa ordem seria mutável, o que é inadmissível.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: Deus às vezes faz certas coisas contrárias ao curso habitual da natureza.
 
Solução. — Como toda causa exerce o papel de princípio, de qualquer deriva uma certa ordem para os seus efeitos. Por onde, as ordens se multiplicam com a multiplicação das causas; e assim como uma causa está contida noutra, assim uma ordem, na outra. E portanto, a causa superior não está contida na ordem da causa inferior, mas inversamente. E um exemplo claro disso nos dão as coisas humanas; pois, do pai de família depende a ordem da casa, contida na ordem da cidade, que procede do seu governador, o qual, por sua vez, está compreendido na ordem do rei, que rege todo o reino.
 
Se portanto, considera-se a ordem das coisas enquanto dependente da causa primeira, então Deus não pode fazer nada contra a ordem delas; pois, se o fizesse, fá-lo-ia contra a sua presciência, vontade ou bondade. — Se porém se considerar a ordem das coisas, enquanto dependente de qualquer das causas segundas, então Deus pode operar fora da ordem delas. Porque ele não está sujeito à or­dem das causas segundas; antes, esta é que lhe está sujeita, como procedente dele, não por necessidade de natureza, mas pelo arbítrio da vontade; pois poderia estabelecer outra ordem de coisas. Por onde, pode quando quiser, agir contra a ordem instituída; p. ex., causando efeitos das causas segundas, sem elas, ou, produ­zindo certos efeitos de que as causas segundas não são capazes. E por isso Agostinho diz: Deus age contra o curso habitual da natureza; mas, contra a lei suma não age, porque seria agir contra si mesmo.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Se dois modos pode se dar algo, nas coisas naturais, fora da ordem estabelecida. — De um modo, por ação do agente, que não deu a incli­nação natural; assim, é contra a natureza, o homem que não deu ao corpo grave a sua incli­nação natural movê-lo para cima. — De outro modo, por ação do agente de que depende a ação natural; o que não é contra a natureza, como bem se vê no fluxo e refluxo do mar; embora seja contra o modo natural da água, que se move para baixo. Pois, isto provém da impressão do corpo celeste, do qual depende a inclinação natural dos corpos inferiores. ­Ora, como a ordem da natureza foi infundida nas coisas por Deus, o que ele fizer fora dessa ordem não é contra a natureza. Por onde, diz Agostinho, que é natural a qualquer coisa o que lhe foi estabelecido por quem é o autor de todo o modo, de todo número e de toda ordem da natureza.
 
Resposta à segunda. — A ordem da justiça depende da relação com a causa primeira, que é a regra de toda justiça. Por onde, fora dessa ordem, Deus nada pode fazer.
 
Resposta à terceira. — Deus infundiu nas coisas uma ordem tal que reservasse para si o que houvesse, às vezes, de fazer, diferente­mente da causa. E por isso quando age fora dessa ordem não muda.
 

Art. 5 — Se Deus opera em todo agente.

(II Sent., dist., I, part. I, q. I, a. 4; III Cont. Gent., cap. LXVII ; De Pot., q. 3, a. 7; Compend. Theol., cap. CXXXV).
 
O quinto discute-se assim. — Parece que Deus não opera em todo agente.
 
1. Pois, não se deve atribuir a Deus nenhuma insuficiência. Ora, se Deus opera em todo agente, há-de operar suficientemente. Logo, será supérflua a ação do agente criado.
 
2. Demais. — Uma operação não pode provir simultaneamente de dois agentes, assim como o movimento numericamente uno não pode pertencer simultaneamente a dois móveis. Se portanto, a operação da criatura agente provém de Deus, não pode provir da criatura, simultaneamente; e então nenhuma criatura exerce qualquer operação.
 
3. Demais. — O que faz alguma coisa é causa da operação da coisa feita, porque lhe dá a esta a forma pela qual opera. Se pois Deus é a causa da operação das coisas feitas por ele, é porque lhes dá a virtude de operar. Mas isso foi no princípio, quando fez as coisas. Donde resulta que, ulteriormente, ele não age sobre a criatura agente.
 
Mas, em contrário, diz a Escritura (Is 26, 12): Senhor, tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras.
 
Solução. — Alguns entenderam a operação de Deus nos agentes, de modo tal que nenhuma virtude criada pode operar nada, nas coisas, mas só Deus opera tudo imediatamente; assim, não seria o fogo que aquece, mas Deus, no fogo; e assim por diante, semelhantemente. — Ora isto é impossível. — Primeiro, porque ficaria destruída, nas coisas criadas, a ordem entre a causa e o causado, o que importaria na impotência do criador, pois, pertence à virtude do agente dar ao seu efeito a virtude de agir. ­Segundo, porque as virtudes operativas das coisas ser-lhes-iam atribuídas em vão se, com elas, nada operassem. Demais, todas as coisas criadas seriam, de certo modo, vãs se fossem destituídas da operação própria, porque cada coisa é feita para a sua operação. Pois, o imperfeito é sempre por causa do perfeito. Por onde, assim como a matéria é por causa da forma, assim esta, que é um ato primeiro, é por causa da sua operação, que é um ato segundo; de modo que a operação é o fim da coisa criada. E portanto, a operação de Deus, nas coisas, há-de se entender de modo que estas tenham operação própria.
 
Para evidenciá-lo devemos considerar que, dos quatro gêneros de causas, a matéria não é princípio de ação, mas se comporta como sujeito recipiente do efeito da ação. Ao passo que o fim, o agente e a forma se comportam como princípio de ação, mas numa certa ordem. Pois, o primeiro princípio da ação é o fim, que move o agente; o segundo, o agente; o ter­ceiro, afinal, a forma daquilo que o agente faz agir, embora também o próprio agente atue pela sua forma, como é patente nas coisas artificiais. Assim, o artífice é levado a agir pelo fim, que é a causa mesma operada, p. ex., uma arca ou um leito; e aplica à ação o machado, que corta com o seu gume.
 
E, é, pois, destes três modos que Deus, opera em qualquer agente. — Primeiro, pela moção do fim. Porque, buscando toda operação algum bem, verdadeiro ou aparente, e nada sendo ou parecendo bem senão enquanto parti­cipa de alguma semelhança do sumo bem, que é Deus, resulta que Deus mesmo é a causa final de qualquer operação. — Semelhantemente, deve-se também considerar que, sendo muitos os agentes ordenados, sempre o agente segundo age em virtude do primeiro, pois, o primeiro agente é que leva o segundo a agir. E então todos os seres agem em virtude de Deus mesmo e, portanto, ele é a causa de todas as ações dos agentes. — Em terceiro lugar deve-se consi­derar que Deus dá também as formas às criaturas agentes e lhes conserva a existência, além de mover as coisas a operarem, aplicando as formas e as virtudes delas à operação, assim como o artífice usa do machado para cortar, embora possa não ser quem deu a forma ao machado. Por onde, não somente Deus é a causa das ações, por lhes ter dado a forma, princípio de ação, assim como se diz que o gerador dos graves e dos leves é-lhes a causa do movimento; mas também porque conserva as formas e as virtudes das coisas, assim como o sol é considerado a causa da manifestação dos corpos, por lhes dar e conservar a luz, pela qual se manifestam as cores. E como a forma é intrínseca à coisa, e tanto mais quanto mais primeira e universal; e como Deus mesmo é a causa própria, em todas as coisas, do ser universal, em si, que de tudo, é o que nelas é mais íntimo; segue-se que Deus opera intimamente em todas as coisas. E por isto, na Sagrada Escritura, as operações da natureza são atribuídas a Deus que é como operante nela (Jó 10, 11): De pele e de carne me vestiste, de ossos e nervos me compuseste.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Deus opera suficientemente, nas coisas, ao modo de agente primeiro; mas, nem por isso é supérflua a operação dos agentes segundos.
 
Resposta à segunda. — Uma mesma ação não pode proceder de dois agentes, de uma mesma ordem; mas, nada impede que uma e mesma ação proceda do agente primeiro e do segundo.
 
Resposta à terceira. — Deus, não somente dá as formas às coisas, mas também as conserva na existência, leva-as a agir e é fim de todas as ações, como ficou dito.

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