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Category: Santo Tomás de AquinoConteúdo sindicalizado

Questão 108: Da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens.

Em seguida devemos tratar da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens; pois, como já se disse, os superiores iluminam os inferiores, e não vice-versa.
 
E sobre esta questão oito artigos se discutem:

19. Terceiro domingo da Quaresma: Pela Paixão somos liberados do pecado.

III Domingo da Quaresma   
  
«Amou-nos e nos lavou dos pecados no seu sangue» (Ap 1, 5)
  
A Paixão de Cristo é a causa própria da remissão dos pecados, por três razões:
  
1. Primeiro, como causa que provoca caridade. Pois, no dizer do Apóstolo, «Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque ainda quando éramos pecadores, em seu tempo morreu Cristo por nós» (Rm 5, 8). Ora, pela caridade conseguimos o perdão dos pecados, conforme o Evangelho: «Perdoados lhe são seus muitos pecados, porque amou muito.» (Lc 7, 47).

20. Segunda-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos libertados do poder do diabo.

 Segunda-feira da III Semana da Quaresma 

 O Senhor disse, na iminência da Paixão: «Agora será lançado fora o príncipe deste mundo, e eu, quando for levantado da terra, todas as coisas atrairei a mim mesmo» (Jo 12, 31). Ora, o Senhor foi levantado da terra pela Paixão da cruz. Logo, por ela o diabo foi privado do seu poder sobre os homens.

21. Terça-feira depois do III domingo da Quaresma: Cristo, o verdadeiro Redentor.

Terça-feira da III Semana da Quaresma 
  
«fostes regatados pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado
e sem contaminação
» (1 Pd 1, 19)
 
Pelo pecado dos nossos primeiros pais, o gênero humano apartou-se de Deus, como explica são Paulo na epístola aos Efésios (cap 2); o homem não se excluiu do poder de Deus, mas da visão da Sua face, a qual são admitidos aos Seus filhos e familiares. Ademais, caíramos sob o poder usurpado do diabo, ao qual, por seu consentimento, o homem se submeteu. O homem entregou-lhe tudo quanto nele era, embora não pudesse dar-se, pois não era mestre de si mesmo e a outro pertencia.

22. Quarta-feira depois do III domingo da Quaresma: O Preço da Nossa Redenção

Quarta-feira da III Semana da Quaresma 
  
«fostes comprados por um grande preço» (1 Cor 6, 20)
   
A injúria ou sofrimento mede-se pela dignidade do lesado: sofre maior injúria o rei, se esbofeteado, do que sofreria alguma pessoa privada. Ora, a dignidade da pessoa de Cristo é infinita, pois é uma pessoa divina. Portanto, qualquer sofrimento seu, por menor que seja, é infinito. Por conseqüência, qualquer sofrimento seu seria suficiente para a redenção de todo o gênero humano, mesmo sem sua morte.

23. Quinta-feira depois da III semana da Quaresma: A pregação da samaritana.

Quinta-feira da III Semana da Quaresma 
  
«A mulher, pois, deixou o seu cântaro, e foi à cidade» (Jo 4, 28)
   
Após ter sido instruída por Cristo, a samaritana fez trabalho de apóstolo. Três coisas podemos sublinhar de suas palavras e atos.
 
I
 
A devoção que sentia e manifestou dos dois modos seguintes:

24. Sexta-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos liberados da pena do pecado.

Sexta-feira da terceira semana da Quaresma
   
«Ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores» (Is 53, 4)
  
Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:
 
1. Primeiro diretamente; i. é, porque a Paixão de Cristo foi uma satisfação suficiente e superabundante pelos pecados de todo o gênero humano; ora, dada a satisfação suficiente, eliminado fica o reato da pena.

25. Sábado depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos reconciliados com Deus

PELA PAIXÃO DE CRISTO FOMOS RECONCILIADOS COM DEUS
Sábado da terceira semana da Quaresma
   
«Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho.» (Rm 5, 10)
  
Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:
 
I. — A Paixão de Cristo é a causa de nossa reconciliação com Deus, de dois modos.
 
Primeiro porque remove o pecado pelo qual os homens são constituídos inimigos de Deus, segundo aquilo da Escritura (Sb 14, 9): Deus igualmente aborreceu ao ímpio e a sua impiedade. E noutro lugar (Sl 5, 7): Aborreces a todos os que obram a iniqüidade.

Art. 5 — Se todos os anjos conhecem a linguagem de um anjo com outro.

(De Verit., q. 9, a. 7).
 
O quinto discute-se assim. — Parece que todos os anjos conhecem a locução de um anjo com o outro.
 
1. — Pois, a desigualdade da distância lo­cal faz com que nem todos ouçam a fala de um homem. Ora, na linguagem angélica, nenhuma influência tem a distância local, como já foi dito (a. 4). Logo, todos percebem quando um anjo fala com outro.
 
2. Demais. — Todos os anjos têm a mesma virtude de inteligir. Se, pois, o conceito da men­te de um, ordenado para outro, é conhecido por um, sê-lo-á também pelos outros.
 
3. Demais. — A iluminação é uma espécie de locução. Ora a todos os anjos chega a ilu­minação que vai de um para outro; porque, co­mo diz Dionísio, cada essência celeste comunica às outras a inteligência que lhe foi dada. Logo, também a locução de um anjo com outro chega a todos.
 
Mas, em contrário, um homem pode falar só a um outro. Logo, com maior razão, o mes­mo também pode o anjo.
 
Solução. — Como já se disse (a. 1, 2), o conceito da mente de um anjo pode ser percebido por outro, quando aquele, por sua vontade, ordena o seu conceito para este. Ora, por alguma causa, uma coisa pode ser ordenada para um fim e não, para outro. Por onde, o conceito de um anjo pode ser conhecido só por outro e não por todos. De modo que um anjo pode perceber a locução de outro, sem que os demais a percebam; não que o impeça a distância local, mas tal se dando pela ordenação voluntária, como já se disse.
 
Donde se deduzem as respostas à primeira e à segunda objeção.
 
Resposta à terceira. — A iluminação se refere ao que emana da regra primeira da verdade, princípio comum a todos os anjos; e, por isso, as iluminações são comuns a todos. Ao passo que a locução pode se referir ao que se ordena ao princípio da vontade criada, o que é próprio a cada anjo; e por isso, não é necessário que tais locuções sejam comuns a todos.

Art. 4 — Se a distância local tem alguma influência na locução angélica.

(II Sent., dist. XI, part. II, a. 3. ad 3; De Verit., q. 9, a. 6).
 
O quarto discute-se assim. — Parece que a distância local tem alguma influência na locução angélica.
 
1. — Pois, como diz Damasceno, o anjo opera onde está. Ora, a locução é uma opera­ção do anjo. Logo, quando o anjo está num determinado lugar, resulta que pode falar até a uma distância do determinado lugar.
 
2. Demais. — Por causa da distância do ouvinte é necessário o gritar de quem fala. Ora, a Escritura diz, do Serafim (Is 4, 3): clamava um para o outro. Logo, na locução dos anjos, a distân­cia local tem alguma influência.
 
Mas, em contrário, o rico, posto no inferno clamava a Abraão, diz a Escritura (Lc 16, 24), sem que lho impedisse a distância local. Logo, com maioria de razão, a distância local não pode impedir que um anjo fale com outro.
 
Solução. — A locução do anjo consiste nu­ma operação intelectual, como resulta do que já foi dito (a. 1, 2, 3). Ora, tal operação, no anjo, é abs­trata do lugar e do tempo. Pois, mesmo a nos­sa operação intelectual se dá pela abstração das circunstâncias de lugar e de tempo, exceto por acidente, por parte dos fantasmas, que de ne­nhum modo existem nos anjos. Por ser, pois, a operação intelectual deles absolutamente abstrata do lugar e do tempo, nada operam sobre ela nem a diversidade deste, nem a distância local. Por onde, esta não traz nenhum impedimento à locução angélica.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — A locução angélica, como já se disse (a. 1, ad 2), é interior; percebida, todavia, por outro anjo. Logo, está no anjo que fala e, por conseguinte, onde está esse anjo. Mas, como a distância local não impede que um anjo possa ver outro, assim, também não impede que um perceba, em outro, o que, neste, está ordenado para aquele; e isso é perceber um a locução do outro.
 
Resposta à segunda. — O referido clamor não é voz corpórea, necessitado pela distância local; mas significa a grandeza da coisa dita, ou a grandeza do efeito, conforme explica Gregó­rio: cada um tanto menos clama quanto menos deseja.

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