(II Sent., dist. XI, part. II, a. 3. ad 3; De Verit., q. 9, a. 6).
O quarto discute-se assim. — Parece que a distância local tem alguma influência na locução angélica.
1. — Pois, como diz Damasceno, o anjo opera onde está. Ora, a locução é uma operação do anjo. Logo, quando o anjo está num determinado lugar, resulta que pode falar até a uma distância do determinado lugar.
2. Demais. — Por causa da distância do ouvinte é necessário o gritar de quem fala. Ora, a Escritura diz, do Serafim (Is 4, 3): clamava um para o outro. Logo, na locução dos anjos, a distância local tem alguma influência.
Mas, em contrário, o rico, posto no inferno clamava a Abraão, diz a Escritura (Lc 16, 24), sem que lho impedisse a distância local. Logo, com maioria de razão, a distância local não pode impedir que um anjo fale com outro.
Solução. — A locução do anjo consiste numa operação intelectual, como resulta do que já foi dito (a. 1, 2, 3). Ora, tal operação, no anjo, é abstrata do lugar e do tempo. Pois, mesmo a nossa operação intelectual se dá pela abstração das circunstâncias de lugar e de tempo, exceto por acidente, por parte dos fantasmas, que de nenhum modo existem nos anjos. Por ser, pois, a operação intelectual deles absolutamente abstrata do lugar e do tempo, nada operam sobre ela nem a diversidade deste, nem a distância local. Por onde, esta não traz nenhum impedimento à locução angélica.
Donde a resposta à primeira objeção. — A locução angélica, como já se disse (a. 1, ad 2), é interior; percebida, todavia, por outro anjo. Logo, está no anjo que fala e, por conseguinte, onde está esse anjo. Mas, como a distância local não impede que um anjo possa ver outro, assim, também não impede que um perceba, em outro, o que, neste, está ordenado para aquele; e isso é perceber um a locução do outro.
Resposta à segunda. — O referido clamor não é voz corpórea, necessitado pela distância local; mas significa a grandeza da coisa dita, ou a grandeza do efeito, conforme explica Gregório: cada um tanto menos clama quanto menos deseja.