Category: Santo Tomás de Aquino
O primeiro discute–se assim. – Parece que o corpo do primeiro homem não foi feito do limo da terra.
1. – Pois, é necessário maior poder para fazer alguma cousa, do nada, do que de outra cousa: porque o não ser dista mais, do ato, do que o ser em potência. Ora, como o homem é a mais digna das criaturas inferiores, convinha que o poder de Deus se manifestasse, em máximo grau, na produção do corpo do mesmo. Logo, não devia ter sido feito do limo da terra, mas do nada.
2. Demais. – Os corpos celestes são mais nobres que os terrestres. Ora, o corpo humano, aperfeiçoado por uma forma nobilíssima, qual é a alma racional, tem a máxima nobreza. Logo, não devia ter sido feito da matéria terrestre, mas. antes. da celeste.
3. Demais. – O fogo e o ar são corpos mais nobres que a terra e a água; o que se vê, pela subtileza deles, Ora, como o corpo humano é digníssimo, devia ter sido feito, antes, do fogo e do ai, do que do limo da terra.
4. Demais. – O corpo humano é composto dos quatro elementos. Logo, não é feito do limo da terra, mas de todos os elementos.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Formou pois o Senhor Deus ao homem do barro da terra.
SOLUÇÃO. – Como Deus é perfeito, deu a perfeição às suas obras, conforme o modo de cada uma, segundo aquilo da Escritura: das obras de Deus são perfeitas, Ora, Ele, em si mesmo, é perfeito, porque preencerra em si todas as causas, não a modo de composição, mas simples e unificadamente, como diz Dionísio, do modo pelo qual os diversos efeitos preexistem na causa, segundo a virtude una desta. Esta perfeição, por sua vez, deriva para os anjos, enquanto no conhecimento deles estão todas as coisas produzidas por Deus, em a natureza, por formas diversas. Ao passo que tal perfeição deriva, para o homem, de modo inferior. Pois, ele não tem conhecimento natural de todas as coisas naturais; mas é composto, de certo modo, de todas as coisas. Assim, do género das substâncias espirituais, tem, a alma racional; da semelhança dos corpos celestes, o afastamento dos contrários, pela uniformidade máxima da compleição; e os elementos os tem substancialmente. De modo que os elementos superiores a saber; o fogo e o ar, predominam, nele, pela virtude; porque a vida consiste, principalmente, na calidez, produzida pelo fogo, e na umidade, pelo ar. Ao passo que os elementos inferiores nele abundam substancialmente. Pois, de outro modo, não poderia haver a homogeneidade na mistão, se os elementos inferiores, de menor virtude, não abundassem no homem, quantitativamente. E, por isso, porque se chama limo à terra misturada com a água, diz–se que o corpo do homem foi formado do limo da terra. Por onde, o homem é chamado mundo menor, por nele se encontrarem, de certo modo, todas as criaturas do mundo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A virtude de Deus criador manifestou–se no corpo humano, por ser a matéria deste produzida por criação. Ora, era necessário fosse esse corpo produzido da matéria dos quatro elementos, para que o homem tivesse conveniência com os corpos inferiores, sendo um como meio entre as substâncias espirituais e as corpóreas.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora o corpo celeste seja, em si, mais nobre que o terrestre, contudo convém menos com o ato da alma racional. Pois, esta adquire, de certo modo, o conhecimento da verdade, pelos sentidos, cujos órgãos não podem ser formados do corpo celeste, que é impassível. Nem é verdadeira a opinião de certos, que, admitindo a união da alma com o corpo, mediante uma certa luz, dizem advir algo, materialmente, da quinta essência, à composição do corpo humano. Pois, primeiro, estão em falso quando consideram a luz como corpo. Segundo, é impossível, por causa da impassibilidade do corpo celeste, que algo da quinta essência ou do corpo celeste seja dividido ou misturado com os elementos. Por onde, não entra, na composição dos corpos mistos, senão por efeito da sua virtude.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Se o fogo e o ar, que têm maior poder de ação, abundassem na composição do corpo humano, mesmo quantitativamente, atrairiam completamente para si tudo o mais; e não poderia dar–se a homogeneidade da mistura, necessária, na composição do homem, para a perfeição do sentido do tacto, fundamento dos outros sentidos. Pois, é mister que o órgão de cada sentido não contenha, em ato, mas só em potência, os contrários, que o sentido percebe. E isso de modo que careça, absolutamente, de qualquer gênero de contrários, como a pupila carece da cor, para ser potencial em relação a todas as cores; o que não seria possível no órgão do tacto, que é composto dos elementos, cujas qualidades percebe. Ou de modo que o órgão seja médio, entre os contrários, como necessariamente há de acontecer com o tato; pois, o médio é, de certo modo, potencial em relação aos extremos.
RESPOSTA À QUARTA. – O limo da terra contém terra e água, que conglutina as partes daquela. Porém, dos outros elementos a Escritura não fez menção. Quer, porque quantitativamente abundam menos, no corpo do homem, como já se disse; quer também porque, na produção total das coisas, a Escritura, composta para um povo de rudes, não devia mencionar o fogo e a água, não percebidos pelo sentido deles.
O quarto discute–se assim. – Parece que a alma humana foi produzida antes do corpo.
1. – Pois, a obra da criação precedeu à da distinção e do ornato, como se disse antes. Ora, a alma tem o ser produzido por criação, segundo já ficou demonstrado; ao passo que o corpo é feito para ornato. Logo, a alma do homem foi produzida antes do corpo.
2. Demais. – A alma racional convém mais com os anjos do que com os brutos. Ora, aqueles foram criados antes dos corpos; ou logo, desde o princípio, imediatamente com a matéria corpórea; enquanto que o corpo do homem foi formado no sexto dia, quando já haviam sido produzidos os brutos. Logo, a alma humana foi criada antes do corpo.
3. Demais. – O fim se proporciona com o princípio. Ora, a alma permanece, ao termo da vida, posteriormente ao corpo. Logo, também, no princípio, foi criada antes do corpo.
Mas, em contrário, o ato próprio realiza–se na potência própria. Ora, como a alma é o ato próprio do corpo, neste foi produzida.
SOLUÇÃO. – Segundo Orígenes, não só a alma do primeiro homem, mas as almas de todos os homens foram criadas antes dos corpos, simultaneamente com os anjos. Pois, pensava que todas as substâncias espirituais, tanto as almas como os anjos, iguais, pela condição da natureza, só diferem pelo mérito. Assim, umas estão unidas aos corpos, e são as almas dos homens ou dos corpos celestes; outras, porém, permanecem na sua pureza, conforme as diversas ordens. Mas, como já tratamos dessa opinião, agora a deixamos de lado.
Agostinho também ensina que a alma do primeiro homem foi criada antes do corpo, com os anjos, mas, por outra razão. E é que, diz, o corpo do homem, nas obras dos seis dias, não foi produzido em ato, mas só nas suas razões causais. O que não se pode dizer da alma, que não foi feita de nenhuma matéria corpórea ou espiritual preexistente, nem podia ter sido produzida por nenhuma virtude criada. Donde conclui que a alma, em si mesma, foi criada simultaneamente com os anjos, nas obras dos seis dias, nos quais todas as coisas foram feitas; e que depois, por vontade própria, inclinou–se a governar um corpo. Mas isso ele não o diz afirmativamente, como as suas palavras o demonstram. Pois, escreve: Pode–se crer, se a nenhuma autoridade das Escrituras ou a nenhum princípio verdadeiro contradisser, que o homem foi jeito no sexto dia, de todo que a razão causal do corpo humano estivesse nos elementos do mundo, enquanto que a alma, em si, já tinha sido criada.
Ora, esta opinião só pode ser admitida por aqueles que consideram a alma como tendo, em si, espécie e natureza completa; e unida ao corpo, não como forma, mas só para o governar. Se, porém a alma está unida ao corpo como forma e faz naturalmente, parte da natureza humana, tal opinião é absolutamente inadmissível. Pois, é manifesto, que Deus instituiu os primeiros seres, no estado perfeito da sua natureza, como o exigia a espécie de cada um. Ora, a alma, sendo parte da natureza humana, não tem sua perfeição natural senão unida ao corpo. Por onde, não era conveniente que fosse criada sem ele.
Sustentando–se, porém, a opinião de Agostinho, quanto às obras dos seis dias, poder–se–ia dizer que a alma humana precedeu, nessas obras, quanto a certa semelhança genérica, enquanto convém com os anjos no atinente à natureza intelectual; mas, em si mesma, foi criada simultaneamente com o corpo. Porém outros Santos ensinam, que tanto a alma como o corpo do primeiro homem, foram produzidos nas obras dos seis dias.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Se a natureza da alma tivesse a espécie Íntegra, de modo que fosse criada, em si mesma, então a OBJEÇÃO procederia, afirmando que, no princípio, foi criada, em si mesma. Mas, como, naturalmente, ela é a forma do corpo, não podia ter sido criada separadamente, mas tinha que o ser num corpo.
E o mesmo se deve RESPONDER À SEGUNDA OBJEÇÃO. – Pois, a alma, se tivesse uma espécie, em si mesma, se assemelharia mais com os anjos; mas, sendo forma do corpo, pertence ao gênero dos animais, como princípio formal.
RESPOSTA À TERCEIRA. – É pela morte, deficiência do corpo, que a alma acidentalmente permanece posteriormente a Este. Ora, essa deficiência não podia existir ao princípio, na criação da alma.
O terceiro discute–se assim. – Parece que a alma racional não é produzida imediatamente por Deus, mas mediante os anjos.
1. – Pois, os seres espirituais são de ordem superior aos corpóreos. Ora, os corpos inferiores são produzidos pelos superiores, como diz Dionísio. Logo, também os espíritos inferiores, que são as almas racionais, são produzidos pelos superiores, que são os anjos.
2. Demais. – O fim das coisas corresponde ao princípio, pois, Deus é o princípio e o fim delas. Logo, também a procedência das coisas, do princípio, corresponde à redução das mesmas ao fim. Ora, os seres ínfimos são reduzidos pelos supremos, como diz Dionísio. Logo, também obtêm o ser pelos primeiros; isto é, as almas, pelos anjos.
3. Demais. Perfeito é o ser que pode jazer outro semelhante a si, como diz Aristóteles. Ora, as substâncias espirituais são muito mais perfeitas que as corpóreas, Mas como os corpos produzem outros que lhes são especificamente semelhantes, com muito maior razão os anjos poderão fazer um ser, a alma racional, que lhes é inferior pela espécie da natureza.
Mas em contrário, diz a Escritura, que Deus mesmo inspirou. no rosto do homem um assopro de vida.
SOLUÇÃO. – Alguns ensinaram que os anjos, enquanto operam em virtude de Deus, causam as almas racionais. Mas tal opinião é absolutamente inadmissível e contrária à fé. Pois, como já se demonstrou antes, a alma racional não pode ser produzida senão por criação; porquanto só Deus pode criar. Porque só o primeiro agente pode agir, sem nenhum pressuposto; ao passo que o agente segundo pressupõe algo procedente do agente primeiro, como antes já se estabeleceu. Ora, o que produz alguma cousa, de outra, pressuposta, produz transmutando. Por onde, só Deus age criando; e nenhum outro agente age senão transmutando. E como a alma racional não pode ser produzida por transmutação de qualquer matéria, conclui–se que não pode ser produzida imediatamente, senão por Deus.
E daqui se deduzem as RESPOSTAS ÁS OBJEÇÕES, Pois, o causarem uns corpos outros, semelhantes ou inferiores: e o reduzirem os superiores os inferiores, tudo isso se dá por via de transmutação.
O segundo discute–se assim. – Parece que a alma não tem o ser produzido por criação.
1. – Pois, o que tem em si algo de material é produzido da matéria. Ora, a alma tem em si algo de material, por não ser ato puro. Logo, é feita da matéria e, portanto, não é criada.
2. Demais. Todo ato de qualquer matéria é tirado da potência desta; pois, como a matéria é potencial em relação ao ato, qualquer ato preexiste potencialmente na matéria. Ora, a alma é o ato da matéria corpórea, como resulta da definição da mesma. Logo, a alma é tirada da potência da matéria.
3. Demais. – A alma é uma forma. Se, pois, é produzida por criação, pela mesma razão todas as outras formas também o são. E, assim, nenhuma forma vem ao ser pela geração. O que é inadmissível.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Deus criou o homem segundo a sua imagem. Logo, o homem é segundo a imagem de Deus, pela alma. Logo, a alma veio a existir por criação.
SOLUÇÃO. – A alma racional não pode ser produzida senão por criação, o que não é verdade das outras formas. E a razão é que, como o devir é via para o ser, a um ente convém o devir na mesma medida em que lhe convém o ser. Ora, propriamente, considera–se como sendo aquilo que tem o ser em si mesmo, e como subsistente nele, Por onde, só as substâncias são, própria e verdadeiramente, consideradas entes. Ao passo que o acidente não tem o ser, mas faz com que alguma cousa seja e, por isso, se chame ente; assim, a brancura chama–se ente porque faz alguma cousa ser branca. E por isso Aristóteles diz que o acidente é considerado mais como dependência do ente, do que ente. E o mesmo fundamento têm todas as outras formas não subsistentes. E, portanto, a nenhuma forma não subsistente convém, propriamente, o devir; mas se consideram como devindo, porque os seres compostos subsistentes devêm. Ora, a alma racional é uma forma subsistente, como antes já se estabeleceu; e por isso, propriamente, lhe convém o ser e o devir. E como não pode ser feita de matéria preexistente corpórea, porque então seria de natureza corpórea; nem espiritual, porque então as substâncias espirituais se transmutariam umas nas outras, necessário é concluir que a alma só pode devir por criação.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A alma tem, como elemento material, a sua própria essência simples; e tem como elemento formal, o ser participado que, necessária e simultaneamente se implica na essência da alma, porque o ser em si é consecutivo à forma. E a doutrina seria a mesma se se considerasse a alma como composta de determinada matéria espiritual, como certos dizem; pois essa matéria não é potencial em relação à outra forma, semelhante, nisso, à matéria do corpo celeste; do contrário, a alma seria corruptível. Por onde, de nenhum modo a alma pode ser feita de uma matéria preexistente.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Quando se diz que um ato é tirado da potência da matéria, não se quer dizer senão que é reduzido a ato o que antes existia em potência. Ora, como a alma racional não tem o ser dependente da matéria corpórea, mas sim, o ser subsistente, e excede a capacidade da matéria corpórea, como antes se disse por isso ela não é tirada da potência da matéria.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Não há símile entre a alma racional e as outras formas como já se disse.
O primeiro discute–se assim. – Parece que a alma não foi feita, mas é da substância de Deus.
1. – Pois, diz a Escritura: Formou pois o Senhor Deus o homem do barro da terra, e inspirou no seu rosto um assopro de vida, e foi feito o homem em alma vivente. Ora, quem inspira emite algo de si. Logo a alma, pela qual o homem vive, é algo da substância de Deus.
2. Demais. – Como se estabeleceu antes, a alma é uma forma simples. Ora, a forma é ato, Logo, a alma é ato puro, o que só Deus é. Logo, a alma é da substância de Deus.
3. Demais. – Seres que existem e de nenhum modo diferem são idênticos. Ora, Deus e a alma existem e de nenhum modo diferem; porque, do contrário, seria necessário se diversificassem por algumas diferenças e, então, seriam compostos. Logo, Deus e a alma humana são idênticos.
Mas, em contrário, Agostinho enumera certas opiniões que diz serem muito e abertamente perversas e contrárias à fé católica; entre as quais a primeira é a dos que ensinam que Deus fez a alma, não do nada, mas de .li mesmo,
SOLUÇÃO. – Considerar a alma como da substância de Deus é opinião que encerra manifesta improbabilidade. Pois, como resulta do que já foi dito, a alma é, ora, potencial na sua intelecção haurindo a ciência, de certo modo, nas coisas; e tem diversas potências; o que tudo é alheio à natureza de Deus, que é ato puro, nada recebe de nenhum outro ser e não encerra em si nenhuma diversidade, como ficou provado antes. – Mas parece que esse erro se originou de duas opiniões, entre os antigos. Pois, os primeiros que começaram a investigar a natureza das coisas, não podendo ultrapassar os dados da imaginação, ensinaram que, além dos corpos, nada mais existe. E, por isso, consideravam Deus um determinado corpo, tendo–o como princípio dos outros corpos. E, concebendo a alma como da natureza desse corpo, considerado como princípio, conforme refere Aristóteles, concluíam que ela é da substância de Deus. Também os Maniqueus, conforme essa opinião, considerando Deus como uma luz material, ensinavam que a alma é uma parte dessa luz, ligada ao corpo. Ulteriormente, porém, outros conceberam a existência de um ser incorpóreo, não todavia separado do corpo, mas forma deste. Donde, o dizer Varrão que Deus é uma alma que governa o mundo, pela intuição ou movimento, e pela razão, segundo refere Agostinho. Assim, pois, certos ensinavam que a alma humana é parte dessa alma total, como o homem o é do mundo total, não conseguindo distinguir intelectualmente os graus das substâncias espirituais senão pelas distinções dos corpos, Ora, todas essas opiniões são insustentáveis, como ficou provado antes. Por onde, é manifestamente falso que a alma seja da substância de Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Não se deve tomar a palavra inspirar em acepção material. Mas o inspirar de Deus é o mesmo que produzir o espírito; embora o homem, inspirando corporalmente, não emita nada da sua substância, mas algo de uma natureza estranha.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora a alma seja uma forma simples, por essência, esta essência, contudo, não é a sua existência; mas a alma é um ente por participação, como se vê pelo que foi dito antes. Logo, não é ato puro, como Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O diferente, em acepção própria, por algo difere; por isso busca–se diferença onde há conveniência. Por onde, entes diferentes hão de ser, de certo modo, compostos, pois diferem, por um lado e convêm por outro. Mas, conforme esta doutrina, embora todo diferente seja diverso, contudo, nem todo diverso é diferente, como diz Aristóteles. Pois, os seres simples são diversos, entre si mesmos; não diferem, porém por quaisquer diferenças das quais fossem compostos. Assim, o homem e o asno diferem pelas diferenças de racional e irracional, das quais não se pode dizer que difiram, ulteriormente, por outras diferenças.
O oitavo discute–se assim. – Parece que as almas separadas conhecem as coisas que se passam neste mundo.
1. – Pois, se não as conhecessem, com elas não se ocupariam. Ora, conforme diz a Escritura, elas se ocupam com as causas que neste mundo se passam: Tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho não suceda "irem também eles parar a este lugar de tormentos. Logo, as almas separadas conhecem tais coisas.
2. Demais. – Frequentemente os mortos aparecem aos vivos, adormecidos ou acordados, para lhes a visarem das coisas que neste mundo se passam; assim, Samuel apareceu a Saul, como se lê na Escritura. Ora, tal não se daria, se eles não conhecessem as coisas que se passam neste mundo.
3. Demais. – As almas separadas conhecem as coisas que entre elas se passam. Se, pois, não conhecem o que se passa entre nós, é que esse conhecimento lhes é impedido pela distância local; o que foi negado antes.
Mas, em contrário, diz a Escritura: ou os seus filhos estejam exaltados, ou estejam abatidos, ele não o conhecerá.
SOLUÇÃO. – As almas dos mortos não conhecem, por conhecimento natural – que é o de que agora se trata – as coisas que se passam neste mundo. E a razão disso pode ser deduzida do que já se disse antes. Pois, a alma separada conhece as coisas singulares, ou porque, de certo modo, está determinada em relação a elas, ou pelo vestígio de algum conhecimento QU afeto precedente, ou por ordem divina. Ora, as almas dos mortos, por ordem divina e pelo modo de ser delas, estão segregadas da conversação dos vivos, e em sociedade com as substâncias espirituais separadas do corpo. E por isso, ignoram o que se passa entre nós. Esta razão é dada por Gregório quando diz: Os mortos não sabem como se dispõe, depois que morreram, a "ida dos que ainda estão unidos à carne; porque a "ida do espírito dista muito da vida carnal; e assim. como os seres corpóreos e os incorpóreos são genericamente diversos, assim também são distintos pelo conhecimento. E isto mesmo o confirma Agostinho, ao dizer que as almas dos mortos não têm contado com as coisas dos vivos.
Quanto às almas dos bem–aventurados, porém, diferem Agostinho e Gregório. – Pois, este no mesmo passo, acrescenta: O que, todavia, não se deve pensar, em relação as almas santas ; pois de nenhum modo se deve acreditar que ignorem algo de exterior, elas que, interiormente; vêm a claridade de Deus omnipotente. – Ao passo que Agostinho diz expressamente, que os mortos, mesmo santos, não sabem que jazem os vivos e os filhos destes, conforme está na Glossa sobre o passo da Escritura: Abraão não nos conheceu. O que ele confirma com o fado de não ser mais visitado, nem consolado nas tristezas, pela sua mãe, como quando ela vivia; não sendo provável que esta tenha se tornado mais cruel, numa vida mais feliz. E ainda porque o Senhor prometeu ao rei Josias que morreria para não ver os males que sobreviriam ao povo, como está na Escritura. Mas Agostinho explana o que fica exposto, como que duvidando e por isso disse antes: cada um aceite o que digo, como quiser. Ao passo que Gregório se exprime assertivamente, o que é claro pela sua maneira de escrever: de nenhum modo se deve acreditar. E é mais aceitável a opinião de Gregório, que as almas dos santos, que vêm a Deus, conhecem todas as causas presentes que neste mundo se passam. Pois, são iguais aos anjos, dos quais Agostinho afirma que não ignoram o que se passa entre os vivos. Como, porém, as almas dos santos estão perfeitissimamente unidas à justiça divina, não se contristam nem se ingerem nas causas dos vivos, senão na medida em que o exige a disposição da justiça divina.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. As almas dos mortos podem se ocupar com as causas dos vivos, mesmo se ignorem o estado destes; assim como nós nos ocupamos com as dos mortos, fazendo–lhes sufrágios, embora lhes ignoremos o estado. E demais, os fados dos vivos podem ser conhecidos, não por meio deles mesmos, mas pelas almas dos que vão, deste mundo, para o outro, ou pelos anjos, ou pelos demônios, ou ainda pela revelação do Espírito de Deus, como diz Agostinho, no mesmo livro.
RESPOSTA À SEGUNDA. De qualquer modo que os mortos apareçam aos vivos, isso se dá por especial dispensa de Deus, de modo que as almas deles possam imiscuir–se com as causas dos vivos; o que se deve contar entre os milagres divinos. Ou tais aparições se fazem por operações dos anjos bons ou maus, mesmo que os mortos o ignorem; assim como também os vivos, embora o ignorem, aparecem, em sonhos, a outros vivos, conforme diz Agostinho, no livro supra citado. – Por onde, pode dizer–se que Samuel apareceu por uma revelação divina, segundo a Escritura, que diz: dormiu e predisse ao rei o fim da sua vida. Ou essa aparição foi causada pelos demônios, no caso em que não se queira aceitar a autoridade do Eclesiástico, por não o contarem os Hebreus entre as Escrituras Canônicas.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Essa ignorância não procede da distância local, mas da causa predita.
O sétimo discute–se assim. – Parece que a distância local não impede o conhecimento da alma separada.
1. – Pois, diz Agostinho: as almas dos: mortos estão onde não se podem saber as causar passadas neste mundo. Sabem, entretanto, o que se faz entre elas. Logo, a distância local impede o conhecimento da alma separada.
2. Demais. – Agostinho diz: os demônios, pela celeridade do movimento, anunciam certas coisas que nos são desconhecidas: Ora, a agilidade do movimento de nada serviria para tal, se a distância local não impedisse o conhecimento dos demônios. Logo, com maior razão, a distância local impede o conhecimento da alma separada, inferior, por natureza, ao demônio.
3. Demais. – Assim como uma cousa dista localmente, assim também dista temporalmente. Ora, a distância temporal impede o conhecimento da alma separada; pois ela não conhece os futuros. Logo, resulta que a distância local também impede o conhecimento da mesma.
Mas, em contrário, diz a Escritura, que o rico, nos tormentos, levantando os olhos, viu Abraão de longe. Logo, a distância local não impede o conhecimento da alma separada.
SOLUÇÃO. – Certos ensinaram que a alma separada conhece as coisas singulares abstraindo das sensíveis. E se fosse verdade, poder–se–ia dizer que a distância local impede o conhecimento da alma separada. Pois, seria necessário que os sensíveis agissem sobre ela, ou esta, sobre os sensíveis. E num e noutro caso, seria necessária uma distância determinada. – Mas, tal opinião é impossível, porque a abstração das espécies, dos sensíveis, faz–se mediante os sentidos e outras potências sensíveis, que não permanecem atualmente na alma separada. Pois, a alma separada intelige os singulares pelo influxo das espécies, proveniente do lume divino, cujo lume se comporta do mesmo modo, tanto com o que está próximo como com o que está distante. Por onde, a distância local de nenhum modo impede o conhecimento da alma separada.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. Agostinho não diz que é porque estão as almas dos mortos nesse lugar, que as coisas passadas neste mundo não podem ser vistas, de modo a se crer que a distância local seja a causa de tal ignorância; mas isso pode se dar por algum outro motivo, como a seguir se dirá.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Agostinho se exprime, nesse passo, segundo a opinião de certos, pela qual os demónios têm corpos que lhe estão naturalmente unidos. E, segundo essa opinião, também eles podem ter potências sensitivas, para cujo conhecimento é necessária determinada distância. E a essa opinião Agostinho se refere expressamente no mesmo livro, embora pareça que nela toca antes expondo–a que aceitando–a, como é claro pelo que diz na Cidade de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Os futuros, que distam temporalmente, não são entes em ato. Por isso não são cognoscíveis em si mesmos; pois, a deficiência que houver, em relação à entidade, haverá também em relação à entidade, haverá também em relação à cognoscibilidade. Ora, os seres distantes, localmente, são seres em ato e, em si, cognoscíveis. Por onde, não tem o mesmo fundamento a distância local e a temporal.
O sexto discute–se assim. – Parece que o ato da ciência adquirida nesta vida não permanece na alma separada.
1. – Pois, diz o Filósofo, que, corrupto o corpo, a alma nem se lembra, nem ama. Ora, lembrar–se é pensar no que já se conhecia. Logo, a alma separada não pode ter ato da ciência que adquiriu nesta vida.
2. Demais. – As espécies inteligíveis não hão de ser mais eficientes na alma separada do que na que está unida ao corpo. Ora, pelas espécies inteligíveis não podemos inteligir, presentemente, a não ser voltando–nos para os fantasmas, como já se estabeleceu antes. Logo, também a alma separada não poderá inteligir de outro modo. E, então, de nenhum modo poderá inteligir pelas espécies inteligíveis adquiridas nesta vida.
3. Demais. – O Filósofo diz: os hábitos tornam os atos semelhantes aos atos pelos quais são adquiridos, Ora, adquire–se o hábito da ciência, nesta vida, pelos atos do intelecto, que se volta para os fantasmas. Logo, não pode tornar outros atos semelhantes a estes. –Ora, tais atos não são próprios à alma separada. Logo, esta não terá nenhum ato da ciência adquirida nesta vida.
Mas, em contrário, na Escritura se diz ao rico precipitado no inferno: Lembra–te que recebeste bens em tua vida.
SOLUÇÃO. – Duas coisas se devem considerar num ato : a espécie e o modo. Aquela se deduz do objeto ao qual é dirigido o ato da virtude cognoscitiva, por meio da espécie, que é semelhança do objeto. Porém o modo do ato é determinado pela virtude do agente.
Assim, vemos uma pedra por meio da espécie da mesma, que está nos olhos; mas se a vemos com agudeza, isso provém da virtude visiva dos olhos. Como, pois, as espécies inteligíveis permanecem na alma separada, segundo já se disse, e como o estado dela não é o mesmo que o da vida presente, resulta que, pelas espécies inteligíveis adquiridas nesta vida, a alma separada poderá inteligir o que antes já inteligira: não, porém, do mesmo modo, isto é, voltando–se para os fantasmas, mas por modo que lhe seja conveniente. Assim, que os atos da ciência adquirida nesta vida permanecem, por certo, na alma separada; mas não do mesmo modo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Filósofo fala da reminiscência, enquanto a memória pertence à parte sensitiva, não, porém, enquanto a memória está, de certo modo, no intelecto, como já se disse.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Os diversos modos de inteligir não provêm da diversidade das espécies; mas dos diversos estados da alma que intelige.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Os atos pelos quais se adquire o hábito são semelhantes aqueles que os hábitos causam, quanto à espécie do ato; não, porém, quanto ao modo de agir. Pois, é o operar coisas justas, mas não justamente, isto é, deleitavelmente, que causa o hábito da justiça política, pelo qual operamos deleitávelmente.
O quinto discute–se assim. – Parece que o hábito da ciência adquirida nesta vida não permanece na alma separada.
1. – Pois, diz a Escritura: A ciência será abolida.
2. Demais. – Certos há, menos bons, que neste mundo, são ricos de ciência; outros, porém, melhores que eles, dela carecem. Se, pois o hábito da ciência permanecesse na alma, mesmo depois da morte, resultaria que aqueles teriam, mesmo na vida futura, melhor posição que estes. O que é inadmissível.
3. Demais. – As almas separadas terão ciência das coisas, por influência do lume divino. Se, pois, a ciência adquirida nesta vida permanece na alma separada, resultaria a existência de duas formas da mesma espécie no mesmo sujeito. O que é impossível.
4. Demais. – O Filósofo diz: o hábito uma qualidade dificilmente removível; mas, pela doença ou por outra causa semelhante, a ciência, por vezes, corrompe–se. Ora, não há nenhuma imutação tão forte, nesta vida, como a que oriunda da morte. Logo, conclui–se que o hábito da ciência corrompe–se pela morte.
Mas, em contrário, diz Jerónimo: Aprendamos na terra aquilo cuja ciência persevera no céu.
SOLUÇÃO. – Certos ensinaram que o hábito da ciência não está no intelecto mesmo, mas nas virtudes sensitivas, a saber, a imaginativa, a cogitativa e a memorativa; e que as espécies inteligíveis não se conservam no intelecto possível. E se esta opinião fosse verdadeira, resultaria que, destruído o corpo, totalmente se destruiria o hábito da ciência adquirido nesta vida. Mas, como a ciência está no intelecto, que é o lugar das espécies, segundo diz Aristóteles, necessário é que o hábito da ciência adquirido nesta vida esteja, em parte, nas sobreditas virtudes sensitivas e, em parte, no intelecto mesmo. E isto se pode concluir considerando os atos mesmos dos quais se adquire o hábito da ciência; pois, os hábitos são semelhantes aos atos pelos quais são adquiridos, como diz o Filósofo. Ora, os atos do intelecto, pelos quais, na vida presente, se adquire a ciência, se realizam pelo voltar–se do intelecto para os fantasmas, que existem nas sobreditas virtudes sensitivas. Por onde, por meio de tais atos, tanto o intelecto possível adquire uma certa faculdade de considerar por meio de espécies recebidas; como as sobreditas virtudes inferiores adquirem uma certa habilidade, de modo que, voltando–se para elas, o intelecto possa, mais facilmente especular os inteligíveis. Mas, assim como o ato do intelecto, principal e formalmente está no intelecto mesmo; e, material e dispositivamente, está nas virtudes inferiores, o mesmo também se deve dizer do hábito. Por onde, a parte da ciência presente que alguém tiver, nas virtudes inferiores, não permanecerá na alma separada; mas, aquela que tiver no intelecto mesmo, essa necessariamente há de permanecer. Porque, como se diz na obra da dilatação e brevidade da vida, uma forma pode se corromper de duplo modo: em si mesma, quando corrompida pelo seu contrário, como o cálido pelo frio; e por acidente, isto é, pela corrupção do sujeito. Ora, é manifesto que a ciência existente no intelecto humano não pode corromper–se pela corrupção do sujeito, porque o intelecto é incorruptível, conforme ficou demonstrado. Semelhantemente, também as espécies inteligíveis existentes no intelecto possível não podem ser corrompidas pelo contrário, porque a intenção dos inteligíveis não tem contrário nenhum; e, principalmente, tratando–se da inteligência simples que intelige a quididade. Quanto, porém, à operação pela qual o intelecto compõe e divide, ou ainda, raciocina, há nele contrariedade, por ser o falso, na proposição ou na argumentação, contrário ao verdadeiro. E, deste modo, a ciência, às vezes, se corrompe pelo contrário, a saber, quando alguém por uma argumentação falsa, aberra da ciência verdadeira. E por isso o Filósofo estabelece dois modos pelos quais a ciência, em si mesma, se corrompe, a saber: pelo esquecimento, por parte da memorativa; e pelo engano, por parte da falsa argumentação. Ora, isto não tem lugar na alma separada. Por onde, deve–se concluir que o hábito da ciência, enquanto existente no intelecto, permanece na alma separada.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – No passo citado, o Apóstolo não se refere à ciência quanto ao hábito, mas quanto ao ato do conhecimento. E, assim, para o comprovar, acrescenta: Ligara conheço em parte.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Assim como, em relação à estatura do corpo, um homem pode ser maior que outro melhor que ele; assim também nada impede que um tenha, na vida futura, um hábito da ciência que não tem outro melhor que ele, se bem que isso seja de quase nula importância, em comparação com as outras prerrogativas que terão os melhores.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Essas duas ciências não têm a mesma natureza. Donde, pois, não resulta nenhum inconveniente.
RESPOSTA À QUARTA. – A OBJEÇÃO procede, em relação à corrupção da ciência, quanto ao que ela tem procedente das virtudes sensitivas.
O quarto discute–se assim. – Parece que a alma separada não conhece as coisas singulares.
1. – Pois, nenhuma potência cognoscitiva, a não ser o intelecto, permanece na alma separada, como do sobredito resulta. Ora, como já ficou estabelecido, o intelecto não conhece o singular. Logo, a alma separada não conhece as coisas singulares.
2. Demais. – Mais determinado é o conhecimento do singular que o do universal. Ora, a alma separada não tem nenhum conhecimento determinado das espécies das coisas naturais. Logo, com mais razão, não conhece as coisas singulares.
3. Demais. – Se a alma conhece as coisas singulares, mas não pelos sentidos, por igual razão conheceria todos os singulares. Ora, não os conhece todos. Logo, não conhece nenhum.
Mas, em contrário, o rico, precipitado no inferno, dizia: Tenho cinco irmãos, como se vê na Escritura.
SOLUÇÃO. – As almas separadas conhecem certas coisas singulares, mas não todas, mesmo das presentes. O que se evidencia considerando–se que há duplo modo de inteligir. Um, por abstração dos fantasmas; e, deste modo, as coisas singulares não podem ser conhecidas pelo intelecto diretamente, mas só indiretamente, como antes ficou dito. Outro, pela influência das espécies, por parte de Deus; e, deste modo, o intelecto pode conhecer as coisas singulares. Pois, assim como Deus, pela sua essência, como causa dos princípios universais e individuais, conhece todas as coisas, tanto as universais como as singulares, conforme já se viu antes; assim também as substâncias separadas, pelas espécies, que são umas semelhanças participadas da mesma divina essência, podem conhecer as coisas singulares. Há contudo diferença entre os anjos e as almas separadas, no seguinte: aqueles, por essas espécies, têm das causas um conhecimento perfeito e próprio; ao passo que estas o têm confuso. Por onde, os anjos, por causa da eficácia do seu intelecto, podem conhecer, pelas sobreditas espécies, não só as naturezas das coisas, em especial, mas também as coisas singulares contidas nessas espécies. Enquanto que as almas separadas não podem conhecer, por meio de tais espécies, senão somente aquelas coisas singulares para as quais estão de certo modo determinadas, quer por um conhecimento precedente, quer por alguma afeição, quer por uma relação natural ou por divina disposição; porque, tudo o que num ser é recebido, é determinado neste ao modo do mesmo, como recipiente que é.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O intelecto, por via de abstração, não conhece as coisas singulares. De maneira que, não assim, mas do modo referido, é que a alma separada as intelige.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O conhecimento da alma separada é determinado para as espécies daquelas coisas ou indivíduos para os quais tem alguma determinada relação, como antes já se disse.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A alma separada não se comporta igualmente para com todas as coisas singulares, mas tem, para com umas, uma determinada relação, que não tem para com outras. E, portanto, não há a mesma razão para conhecer todas as causas singulares.