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Category: EspiritualidadeConteúdo sindicalizado

Mil Ave-Marias a Nossa Senhora de Fátima

1.000 Ave-Marias hoje

Hoje, dia 13 de maio, aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos, serão rezadas 1.000 Ave-Marias na Capela Nossa Senhora da Conceição, em Niterói (portão fechado).

Serão transmitidos no Youtube pelo link: https://youtu.be/yzaLciDbKkg

Horário: a partir das 14:30

Intenção: o fim do flagelo do Coronavirus - saúde para nossas famílias - cura dos enfermos - conversão dos pecadores - pelas almas do Purgatório.

Acompanhe da sua casa. Reúna toda a família. A oração é a única certeza que temos no meio da grade confusão em que está o mundo.

Dom Lourenço Fleichman

Deus marcou encontro conosco

     

O texto de Gustavo Corção que publicamos aqui é parte de um ciclo de conferências realizadas em Belo Horizonte na década de 1950. Apesar de não estar completo, não deixa de ser um exemplar importante das atividades do grande escritor católico, numa época em que Corção era requisitado para constantes palestras, entrevistas e artigos. Depois o mundo girou, os polos foram deslocados, os homens tornaram-se cúmplices da Revolução num mundo evolutivo e estagnado no nada. Já não lhes interessava a firmeza da verdade e da fé que Gustavo Corção guardou e ensinou até a morte.

Editora Permanência

 

 

A tibieza

Pe. Michel André

 

“Ninguém pode servir a dois senhores: odiará a um e amará ao outro;
ou se apegará a um e desprezará o outro”. (Mt 6, 24).

 

A exemplo de alguns Padres da Igreja, pode-se ver em Mamon, o falso deus sobre que fala Nosso Senhor, não apenas o dinheiro, mas também outros apegos terrestres, materiais, que entravam o progresso espiritual.

Quero-vos falar da tibieza, doença da alma muito comum – ela contagia a metade ou bem três quartos dos cristãos que estão em estado de graça; e isso é realmente terrível, já que é preciso crer nas palavras da Escritura: “Deus vomita os mornos de sua boca”, i. é, ele os expulsa para longe de si, e por conseqüência, essas almas estão em grande perigo de cair no inferno eterno, caso não mudem de vida.

Ora, a tibieza, que afeta tanto os clérigos – i. é, os padres e os bispos – quanto os laicos, se encontra em três tipo de pessoas:

  1. Em primeiro lugar, as que saíram duma má vida, em estado de pecado mortal, para retornar a uma vida normal, em estado de  graça. Mas então, satisfeitas consigo mesmas, cessam os esforços e não querem mais se elevar...
  2. Há aquelas que, depois de atingirem uma vida fervorosa, amiúde bem jovens, esfriam para uma vida de tibieza, de mediocridade. Deus vela para que não despenhem para muito baixo! É o caso de inúmeros religiosos, se se levar em conta as palavras da Imitação, e a experiência cotidiana!
  3. Finalmente, há o caso dos cristãos que naturalmente são felizes: eles nunca buscaram se tornar melhores. Deve-se pois sacudir-lhes a indolência, o torpor – eles dormem!; mais das vezes, só de uma coisa precisam: um bom diretor espiritual, que lhes apontará os caminhos da vida perfeita.

Mas em que consiste esta terrível doença espiritual, ignorada por tantos cristãos, e contudo tão difundida? Quais são os sintomas, entre os “bons” cristãos? (Contine a ler)

Confraria dos Homens para a Castidade

Dom Lourenço Fleichman OSB
Capelão responsável

 

A Confraria dos Homens para a Castidade é uma iniciativa da Capela Nossa Senhora da Conceição, de propor a todos os homens católicos, jovens e adultos, solteiros, casados ou viúvos, um combate mais eficaz e duradouro contra a pornografia e os pecados de impureza que assolam a sociedade moderna de modo assustador. S. Excelência, Dom Alfonso de Galarreta aprovou oficialmente a criação da Confraria.

Oferecemos esta Confraria, este combate singular, aos homens e não às mulheres, por acreditarmos que os homens devem recuperar seu papel na sociedade familiar e na sociedade civil. Papel este deixado de lado por 200 anos de Liberalismo, de hedonismo e de decadência moral da humanidade. Se um homem recupera sua saúde espiritual e a fortaleza própria do seu estado, as mulheres de sua casa, sejam elas mãe, irmãs, esposa ou filhas, seguirão o exemplo dos homens fortes e castos. O resultado esperado é o restabelecimento da ordem da natureza na sociedade, com os homens sendo valorosos, fortes, virtuosos, e as mulheres se espelhando no belo exemplo dos soldados de Cristo para serem elas também santas e virtuosas.

Mas, por favor, não vejam nessa distinção nenhuma sombra de desprezo ou diminuição do papel das mulheres. Não se trata de nada disso, pois é uma questão de vida espiritual, e não de vida social. A espiritualidade masculina é diferente da espiritualidade feminina. A Confraria trabalha nos homens, para favorecer toda a sociedade. Os homens castos elevarão a casa e a cidade a uma vida sob o domínio da graça. Isso é o que importa. (Continue a ler)

Alegria de ser filho de Deus

Garrigou-Lagrange, O.P.

 

[Nota da Permanência] Quando Garrigou-Lagrange escreveu estas linhas sobre a alegria que é preciso conservar no meio das tribulações, a sua França, “la douce France”, havia sido derrotada e ocupada pelos nazistas. Também a nós se aplicam estas reflexões, que vemos nossa Pátria na iminência de ser saqueada por revolucionários bolivarianos e nossa Igreja invadida por modernistas.

 

 

“Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós,
e para que a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11)

 

As Sagradas Escrituras dizem-nos insistentemente que, nos tempos de provação, o verdadeiro católico deve tanto quanto possível confortar os aflitos, levar-lhes a paz e algo desta alegria divina que ergue os corações e lhes permite seguir viagem contra ventos e marés até o porto da salvação.

Convém, portanto, nas tristezas presentes, falar da alegria de sermos filhos de Deus e do dever de transmitir algo desta alegria aos que não a possuem.

Se, na tristeza comum, a alegria superficial é importuna, irritante, quando não exasperante, a alegria cristã, ao contrário, consola. Esta deveria ser a alegria do domingo, e o domingo a produz de fato quando, pela Missa, pela oração, torna-se verdadeiramente o dia do Senhor; ao contrário, para muitos, pela cessação do trabalho, torna-se o mais triste dos dias, porque não é santificado, porque não passa de um dia de distrações, dedicado a uma alegria puramente exterior, vazia e imbecil, da qual muitos não podem fazer parte, e que fatiga ao invés de repousar. Não sabem mais o que fazer de seu tempo, porque não o dão a Deus; eis uma prova pelo vazio ou em baixo relevo da necessidade de santificar o domingo.

Ao buscarmos tão-somente uma alegria inferior, nos privamos de outra singularmente mais preciosa.

Aprendamos com as Sagradas Escrituras e com os santos o que é a verdadeira alegria espiritual, vejamos como eles a conservaram em meio a sofrimentos, e então saberemos melhor o que fazer para transmiti-la aos demais.

Não se trata em absoluto da procura por consolações sensíveis, nem de sentimentalismo, que é a afetação de um amor que não se possui. O sentimentalismo está para a alegria espiritual da qual falamos como a bijuteria para o diamante.

 

O que é a verdadeira alegria espiritual?

Compreenderemos sua natureza e valor se a compararmos com alegrias legítimas menos elevadas. Experimentamos uma alegria sensível diante de uma bela aurora ou, na primavera, diante do resplendor da natureza. Sentimos uma alegria superior ao considerarmos que somos os filhos de um homem de bem, de uma boa mãe, ao recordarmos as verdadeiras alegrias de uma família unida, alegria de irmãos que se amam, contentes por trabalhar juntos e por viver das mesmas tradições, dos mesmos pensamentos e afetos em vista de uma ação comum, verdadeiramente fecunda. Ainda nesta ordem, a alegria de sermos franceses, em meio às tristezas atuais, e de trabalhar para reerguer nossa pátria. 

A alegria espiritual é de ordem ainda superior; é a alegria de ser filho de Deus pelo batismo, de ser amado por Ele como filho adotivo, que recebeu uma participação em sua vida íntima, e que tende a possuí-lo eternamente. É a alegria de estar na verdade, na verdade divina, de viver dela, de caminhar sob a direção da Providência de Deus, para que Ele reine cada vez mais em nós, no tempo e na eternidade.

Esta alegria espiritual não é precisamente uma virtude, mas fruto ou efeito da mais alta virtude, que é a caridade, ou o amor de Deus e das almas em Deus1.

O amor de Deus nos regozija, em primeiro lugar, porque Deus é Deus, a própria Verdade, a Sabedoria, o Bem infinito, a Bondade suprema, a própria Santidade, a perfeita Beatitude.

O amor de Deus nos regozija de Deus reinar nas almas, na nossa, na do próximo.

A caridade, enfim, nos faz possuirmos já a Deus na obscuridade da fé, pois está escrito: “quem permanece na caridade, permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo 4, 16). Também o disse Nosso Senhor: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos nele morada” (Jo 14, 23). E, no mesmo momento, Jesus nos prometeu o Espírito Santo, que efetivamente nos foi dado com a graça e a caridade no batismo, e mais ainda na confirmação. A Santíssima Trindade habita assim em toda alma em estado de graça, e ela se faz por vezes sentir como vida de nossa vida. Em certos momentos, como o diz São Paulo, “o mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito, de que somos filhos de Deus” (Rom 8, 16). Dá testemunho inspirando em nós uma afeição toda filial, que é causa de uma santa alegria e nos faz dizer: “Pai!”. Não se trata de consolação sensível, nem de sentimentalismo, mas de uma alegria verdadeiramente divina pelo seu princípio e objeto.

É tal a alegria espiritual, ao pensamento de que Deus é Deus, a Bondade mesma, que Ele reina em nós e nos justos, que se torna a vida de nossa vida, que nos chama a viver dele por toda eternidade.  Esta alegria surge do pensamento de que, exceção feita ao pecado, sob a direção da Providência, tudo vem do amor eterno.

A alegria espiritual é, de modo manifesto, fruto da caridade. Contrariamente, a tristeza desordenada e deprimente é efeito do amor desregrado de si mesmo, procede do egoísmo insatisfeito, do orgulho ferido, da vaidade ofendida. Quanto mais, numa alma, a caridade domina o egoísmo, mais desaparece esta tristeza perversa, mais a ela se substitui uma santa alegria.

Esta alegria não saberá, contudo, ser plena e perfeita como no céu, pois a caridade aqui embaixo se entristece ela mesma com o pecado que diminui o reino de Deus e conduz à perda das almas. Porém, apesar das tristezas da terra, os santos conservam, com a paz, uma desejada alegria espiritual, que transmitem aos outros, sem mesmo o perceberem.

As Sagradas Escrituras nos falam diversas vezes desta alegria espiritual. Diz Jesus: “Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e para que a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11). São João Evangelista exorta seus discípulos para que tenham “a plenitude da alegria”, ao pensamento de que são filhos de Deus e que estão chamados a gozar dele eternamente2. Os Salmos já diziam: “Laetamini in Domino et exsultate justi. – Justos, alegrai-vos no Senhor e exultai nele” (Sl 21, 11). São Paulo escreve aos Filipenses: “Gaudete in Domino semper, iterum dico vobis, gaudete – Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez vos digo, alegrai-vos” (Fl 4, 4).

O mesmo São Paulo chegará a ponto de dizer, “estou inundado de alegria no meio de todas as nossas tribulações” (2Cor 7, 4). Dizem os Atos dos Apóstolos de todos eles, “contentes por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus” (At 5, 41).

Já se disse, como explicação destas palavras, “a alegria é o segredo gigantesco do católico”. Com efeito, não recua diante das maiores provas, quando, lembrando-se das promessas do seu batismo, diz a si mesmo: “Quero o que Deus Pai quer para mim, apenas o que quer, tudo o que quer, por mais duro que seja”. O católico conversa deste modo não consigo mesmo, mas com Deus, seu Pai e, como dizem as Escrituras, neste colóquio não há amargura: “In conversatione Dei non est amaritudo” (Sb 8, 16).

A alegria cristã é pois a de possuir a Deus e de ser por Ele possuído. Por esta alegria, o verdadeiro católico dá aos demais o desejo de converter-se. Convém que repita amiúde esta palavra das Escrituras: “Eu também te ofereci alegre todas estas coisas, na simplicidade do meu coração” (1 Pr 29, 17). A verdadeira alegria é tender para a santidade do céu, com a certeza de que Deus, que jamais pede o impossível, nos oferece graças incessantes para lá chegar.

Os santos guardam esta alegria espiritual, sem contudo senti-la sempre de modo sensível, ou sequer de modo espiritual, mas guardam o bastante para transmiti-la aos outros, mesmo nas suas provações. Por quê? Porque o Espírito Santo, pela afeição filial que nas almas inspira por si, “dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus”. Recorda-lhes também “que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8, 28), e para o bem dos que perseveram neste amor até o fim; tudo, mesmo as doenças, as contradições, os fracassos. Santo Agostinho acrescenta: mesmo as faltas, à condição de nos humilharmos por tê-las cometido, como o fez São Pedro após a terceira negação. Os santos entreveem cada vez mais nitidamente o bem superior pelo qual a Providência permite os males da vida presente. Este bem superior, que veremos a nu, nós o entrevemos progressivamente na medida de nossos méritos, e o merecemos cumprindo a palavra de Deus em vez de nos contentarmos em conhecê-la e admirá-la.

São Francisco de Assis experimentava uma santa alegria quando se via menosprezado ou rechaçado. Também São Domingos, quando ridicularizado e maltratado pelos hereges do Languedoc, sentia-se mais semelhante a Nosso Senhor, que aceitou as humilhações da Paixão por amor a nós. Assim também São Bento-José Labre, Santo Cura D’Ars ou seu amigo, o padre Chevrier de Lyon, São João Bosco, que guardava em todas as suas provações essa santa alegria que levava às criancinhas pobres, que não tinham nenhuma.

A irmãzinha dos pobres lhes levava esta alegria, a irmãzinha da Assunção, todos os verdadeiros servidores e servas de Deus.

A Santíssima Virgem, nosso modelo, foi chamada “consolo dos aflitos”, “causa de nossa alegria”, e o coração de Jesus é chamado “delícia dos santos”.

 

Como transmitir esta alegria aos outros?  

Primeiro, é preciso cuidar de não os sobrecarregar com nossa própria tristeza e, se estamos abatidos, não os desencorajar. Importa dominar uma certa tristeza, assim como se resiste às tentações.

Evitemos também causar-lhes uma alegria enganosa, aprovando seus erros, seus desvios, suas omissões, sua falta de julgamento ou de energia. Isto seria uma falsa caridade, uma fraqueza, que lhes daria uma alegria mentirosa.

Levemos algo desta alegria espiritual aos que não têm o pão, a saúde, a vitalidade, aos detestados, aos mesquinhos, aos que não procuram Deus; façamos com que tenham vontade de procurá-lo. Demos Deus, aos que não o têm.

Então, Jesus nos dirá no último dia, “tive fome, e destes-me de comer; tive sede, estava enfermo, estava na prisão, e fostes visitar-me... todas as vezes que vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.

Demos algo desta alegria aos amargurados, lembrando esta palavra de São João da Cruz: “Lá, onde não há mais amor, semeai amor e colhereis amor”. Nas grandes trevas, uma voz nos diz: “Levanta e canta teu louvor na noite”.

Então, de nossas trevas bem suportadas, luz poderá brotar para outras almas.

O bem-aventurado Henrique Suso, no seu livro “Sobre a Sabedoria Eterna” 3, escreveu belas páginas sobre os píncaros da alegria espiritual em meio a tribulações. Servindo-nos de suas próprias palavras – ou antes, das que ele põe na boca de Nosso Senhor – podemos resumi-la assim:

“Tanto mais duro o sofrimento, tanto mais doce o ter sofrido... O sofrimento, quando bem suportado, torna o homem amável, pois o faz semelhante a mim. A alegria do sofrimento (mesmo se não sentida, mas desejada) é tesouro escondido que jamais se poderá merecer. Se alguém se ajoelhasse diante de mim por cem anos pedindo-me a felicidade de sofrer, ainda não o teria merecido. De um homem terrestre, o sofrimento (suportado por amor) faz um homem celeste. Ao que sofre, o mundo torna-se estrangeiro, de sorte que minha ternura o envolve mais estreitamente. Os amigos do século afastam-se das provações, enquanto minhas graças o cercam mais e mais. É que tomo por amigos (íntimos) os que renegaram e abandonaram o mundo completamente... O sofrimento ressoará por toda a eternidade num dulcíssimo canto, em refrãos novos que não os poderão repetir os anjos, porque não sofreram.”

Se Deus pudesse assombrar-se e admirar-se de algo, seria com alguns de seus filhos que, movidos por sua graça, chegam a ponto de carregar suas cruzes com alegria, conformando-se ao Senhor Jesus.

Isto deve nos levar a considerar de modo sobrenatural as faltas de respeito e mesmo o menosprezo a nosso respeito, se assim nos sucede4. Conviria recebê-lo com uma alegria, se não sentida, ao menos desejada, e agradecer ao Senhor a graça que se encontra escondida nas humilhações a serem suportadas. Esquecemos amiúde de agradecer a Deus pelas cruzes que nos envia; são elas, contudo, bem necessárias ao nosso progresso. Vemo-lo em algumas que nos foram tão proveitosas.  Possamos nós não desperdiçar as que virão. O mundo, infelizmente, está cheio de cruzes perdidas, que não servem para nada, como foi a do mau ladrão. A verdadeira alegria espiritual é a de tender efetivamente para a santidade do céu, pelo caminho que o Senhor escolheu para nós, por penoso que seja em alguns momentos; é a alegria de tender para esta santidade com a certeza de que Deus não nos pede jamais o impossível, que Ele nos chama à vida eterna e que nos oferece incessantemente graças para lá chegarmos.

(La vie spirituelle nº. 262, fevereiro de 1942 - tradução: Permanência)

  1. 1. Cf. S. Tomás, IIa, IIae, q. 28.
  2. 2. 1Jo 4.
  3. 3. Ia. Parte, caps. 9 e 10 (Noutras edições e traduções, cap. 19)
  4. 4. Quando São João da Cruz pedia a Nosso Senhor a recompensa “de sofrer e ser menosprezado por Ele” (no que foi prontamente ouvido), era uma graça muito grande a que desejava. Não é, com efeito, o menosprezo por si mesmo que desejava, mas a graça de suportá-lo com amor. Sem esta graça, o menosprezo, em si mesmo, não serviria em absoluto para fazê-lo crescer na caridade e glorificar a Deus.

Vosso Servo ouve

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

 

Discernindo a própria vocação

 

Meus queridos irmãos,

Alegramo-nos com a ordenação do Pe. Bernard Bevan ao sacerdócio sagrado, no dia 29 de junho de 2022, no Seminário São Pio X em Ecône. Ele agora é outro Cristo no mundo, outra oblação e outra esperança de salvação para milhares de almas.

A enormidade da bondade de Deus apresenta-se brevemente na ordenação de um padre, pois traz Cristo novamente ao mundo para que o homem continue a beneficiar-se de seu ensinamento, governo e santificação.

Essa vocação ao sacerdócio, como todas as outras vocações, tem suas origens na correta disposição da alma a um chamado divino. Deus tem um plano para todos, e todos são chamados para a sua vocação, mas, ah, tão poucos ouvem o chamado, e menos ainda têm a fortaleza ou a generosidade de levá-la até o fim.

 

Almas inquietas

“O que Deus quer que eu faça com minha vida?” Uma alma que já não esteja fixada em uma vocação pode dizer:

- “Eu adoraria me casar e ter filhos, mas não consigo encontrar a pessoa certa.”

- “Às vezes, sinto um desejo de me entregar inteiramente a Deus, mas o desejo nunca dura.”

- “Há momentos em que me enxergo entregue a grandes obras que apenas a vida solitária permitiria, mas essas ideias evaporam ao amanhecer.”

“Então o que Deus quer que eu faça com a minha vida?” Tais são os pensamentos de muitas almas inquietas enquanto aguardam uma iluminação, um sinal dramático que aponte para seu futuro, ou mesmo um empurrão. Sempre aguardando, nunca encontram paz e correm o risco de tornar suas vidas um suspiro melancólico.

 

A voz das circunstâncias

“O que Deus quer que eu faça com a minha vida?” Embora aqueles com inclinações místicas aconselhem que você ouça uma voz interior de inspiração no silêncio da oração, há uma voz bem mais clara de se ouvir, à qual você deve dar sua primeira atenção – a voz da circunstância concreta.

 

Circunstâncias objetivas

O fato de que você existe, de que Deus o criou, sustenta-o e salvou-o significa que é a vontade de Deus que você conheça, ame e sirva a Deus neste mundo, para que possa ser eternamente feliz com Ele no outro.

A vontade de Deus para você, portanto, é declarada por sua existência e por sua lei eterna – parte inscrita na natureza e parte revelada através de sua Igreja: seu futuro está em Deus. Deus deve ser o centro de qualquer coisa que você tente fazer.

Outro fato inescapável é se você é um homem ou uma mulher. Isso, obviamente, determina se você terá uma vocação masculina (como marido, padre, monge ou celibatário no mundo), ou uma vocação feminina (como mãe, freira ou, novamente, celibatária no mundo).

A idade também é uma circunstância objetiva importante. Acima de 35 anos de idade, os seminários e congregações religiosas relutam aceitar postulantes, porque as almas se tornam mais difíceis de formar à medida que avançam em idade: os maus hábitos já estão enraizados com mais força, os bons hábitos são mais difíceis de se inculcar.

Então há o bem comum. A colheita é rica, mas os operários são poucos. Há uma necessidade objetiva das almas entregarem-se à missão da Igreja.

Essas circunstâncias objetivas aplicam-se indiscriminadamente a todos.

 

Circunstâncias subjetivas

Quanto às circunstâncias subjetivas, essas se aplicam individualmente.

Saúde, tanto mental quanto física: ela é necessária para a vocação sacerdotal e religiosa e para o estado matrimonial também – principalmente se for provável que haja filhos.

Virtudes e vícios: um certo grau de perfeição é requerido para toda vocação, e a ausência dessa perfeição é um sinal claro de que certos caminhos não devem ser percorridos até que os obstáculos (vícios) tenham sido removidos, e as virtudes adquiridas. Embora as almas, de fato, cresçam em virtude à medida que buscam uma vocação, a vocação não deve ser encarada como remédio para um vício (exceto no caso do casamento como remédio da concupiscência). Um padre sem virtudes teologais, um marido sem prudência ou uma mãe sem a capacidade de entregar-se de coração seriam monstros em suas vocações.

Deveres: um dever para com pais velhos ou outros dependentes pode ser um obstáculo para se tentar qualquer vocação que não a de celibatário. De modo semelhante, uma vocação deve ser suspensa se houver obrigações tais como serviço militar ou dívidas.

Acontecimentos: se uma tentativa de buscar uma vocação particular falhar, deve-se buscar aconselhamento espiritual. Pode ser que os eventos estejam indicando que a vontade de Deus está em outro lugar.

 

Ato da vontade

As circunstâncias objetivas e subjetivas são indicadores passivos da vontade de Deus para uma alma. Elas não bastam por si mesmas para que uma vocação seja identificada – são apenas sinais. O elemento mais importante de uma vocação é o ato da vontade, impelido pela graça (uma graça atual).

É uma contradição apenas aparente da nossa fé que um ato moralmente bom é aquele que é livre, mas tem em Deus sua causa. Com relação à vocação, deve-se decidir, livremente, qual vocação buscar. Isso significa que a alma, ao decidir, deve estar livre das correntes do vício e, assim, estar apta a responder à graça atual que move sua vontade.

É digno de nota que o desejo por uma vocação particular não é necessariamente um sinal da vontade de Deus. Várias almas fugiram da ideia de determinada vocação mas, seguindo a graça atual que impele a vontade, terminaram por abraça-la com alegria e gratidão por aquilo que parecia tão repugnante de início.

Quanto às vozes no silêncio, às vezes elas são reais, às vezes são apenas imaginárias. Se forem de Deus, Ele confirmará Sua voz por outros sinais, como fez a Samuel pelo aconselhamento de Eli, o Pontífice (1Rs 3,9).

 

Ato da autoridade

Finalmente, para uma vocação estar de acordo com a vontade de Deus, ela deve ter o selo da autoridade legítima.

- Para o sacerdócio, é o chamado do bispo no dia da ordenação

- Para um religioso (monge ou freira), é a vontade do superior,

- Para o casamento, é o pároco local, que deve investigar e preparar o casal.

A única vocação que parece não requerer uma autoridade positiva como sinal da aprovação de Deus é a vocação de celibatário, mas não é assim: para aqueles que buscam a vontade de Deus, a vocação de celibatário, como as demais, pede a submissão a um diretor espiritual prudente.

Aqueles que não buscarem discernir a vontade de Deus podem terminar solteiros – mas não por vocação, apenas como consequência.

 

Deus tem um plano para todos

Resumindo, para responder à pergunta “Qual a vontade de Deus para mim?”, devemos crer que Deus tem um plano para todos.

Hoje, conhecemos o plano de Deus para o Pe. Bernard Bevan. Oremos para que ele cresça em virtude na sua vocação e para que seu sacerdócio gere frutos na salvação das almas.

Oremos, também, por aqueles que buscam sua vocação. Que eles vejam que, sem Deus, tudo é em vão; que eles reconheçam os sinais de Sua vontade; que estejam dispostos para a graça atual que os fará escolher, e que perseverem na sua escolha pelo bem comum de todo o Corpo Místico de Cristo.

 

(Ite, Missa Est, Agosto de 2022) 

Conferências sobre a santidade (iv)

Nota da Permanência: Pe. Matéo proferiu estas conferências às superioras de diversas comunidades religiosas do Canadá, na província do Québec, em 1945. Embora endereçadas às almas consagradas, estas conferências são utilíssimas aos leigos, havendo estes tão-somente de fazer as devidas substituições, como “almas consagradas” por “almas batizadas”, “comunidade” por “família”, “vida religiosa” por “vida cristã” e assim por diante.

Pe. Matéo Crawley-Boevey

 

Santidade pela via comum

 

A santidade é possível a todos

É formidável que um pregador lhes incuta coragem e força durante o retiro. Com frequência sofremos tentações de desânimo, porque não conseguimos emendar-nos, mesmo depois de anos e anos. Viver em luta às vezes é deprimente, mormente se percebemos as misérias, feiuras e lacunas de nossa alma. Deixem para lá os cálculos, porque é ridículo: cálculos são para a ciência e não para a vida espiritual. A tentação do desânimo vem do pensamento sobre a persistência das misérias pessoais após anos dentro do convento. Escutem: a santidade é um dever, e dever sempre possível; portanto, é possível tornar-se santo. Se não, estaríamos dizendo a Nosso Senhor: “Estais louco? Vós ordenais o impossível!” Nada disso: a santidade não só é possível, como dever de vocação; na verdade é o único, pois tudo se inclui nele. Assim, repito: A santidade é possível a todas, porque é um dever da vocação de vocês.

 

Deus nos dá os meios para a santidade

Fizeram vocês os três votos só para não cometer pecado mortal? Ingressaram no convento só para evitar o mal? Não, vieram aqui para se tornarem santas, pois é esta a lei dos conselhos evangélicos. Geralmente se pergunta se isto ou aquilo é permitido, se em determinado caso é ou não pecado. Nosso dever não é contentar-nos em evitar o pecado. Existem coisas que são boas em si mesmas, como quem sabe os perfumes, mas não são boas para mim nem para vocês; se querem ser boas, abandonem dez, cem coisas belas e boas e sigam-me. Nosso Senhor não exige um grama a mais; porém, se vocês pedirem dez quilos, ele lhes dará mais dez graças em acréscimo; se ele lhes exigir um trabalho de gigante, dar-lhes-á uma força de gigante. Jesus é sabedoria, justiça e amor, por isso se ele exigir dez, jamais lhes dará menos de dez; e se exigir cinqüenta, não lhes dará menos de cinqüenta. Quiçá ele lhes peça um extra, a exemplo dos mártires; se assim for, dar-lhes-á uma graça extra. Os mártires receberam o chamado e com ele a graça correspondente. Quando ele lhes pede dez, dá-lhes sempre dez, quando não vinte.

A revolução na Espanha era uma guerra entre vermelhos e brancos; no fundo, era uma guerra contra os católicos: 16.000 padres e 12 bispos foram chacinados, afora as 200.000 pessoas mortas, e não houve nem um apóstata sequer, fosse ele padre, religiosa, seminarista, noviço, homem ou mocinha! É este um fenômeno singular na história da Igreja. Se há trinta anos alguém previsse: “Acontecerá daqui a alguns anos atrocidades; vocês serão maltratados e assassinados”, teriam essas pessoas a coragem então demonstrada?

Certo dia uma menininha de onze anos, cujo pai ia à Missa todas as manhãs, foi detida por um revolucionário: “Escute, minha menina, se você puser com bastante cuidado aqui (ele tinha um crucifixo na mão) só um pouquinho da lama do seu pezinho, não vai ser trucidada”. Ela deu um grito e, de fronte erguida, declarou: “Não, nunca, jamais”. Colocaram-na no paredão...

 

O grande meio

Como é reconfortante pensar que a santidade é possível para todos e que devemos esforçar-nos para nos transformar em santos!

Mas por que caminho, rota ou meio?

O caminho? Ele é o caminho! Vocês não conseguiriam imitar João Batista, que não come nem dorme. Por isso, siga a Ele. Seremos santos, como Santa Margarida Maria ou Santa Teresinha, se andarmos no singelo caminho de Nazaré, na vereda banal do dever cotidiano; a superiora, no dever de estado de superiora; a instrutora de turma, no dever de estado de instrutora; a cozinheira, no dever de estado de cozinheira. A vida de santidade não é uma estrada em ziguezague, mas o dever de estado, e o dever de estado é uma simples linha reta, que se vai elevando mais e mais. O caminho da santidade é a simplicidade de Nazaré no cumprimento do dever próprio e particular a cada um.

É possível um homem ser um camponês paupérrimo e magnânimo; é possível uma mulher ser humilde mas virtuosa e magnânima.

Nazaré era um cantinho do paraíso onde os três – a trindade terrestre – viveram a vida simples e obscura, no cumprimento do dever de estado! Só eles são santos de verdade. Aquele varão que está serrando a madeira é José; aquela mulher que com modéstia arruma a casa é Maria; e aquela criança, incomparável criança, é Jesus. Sim, os únicos santos, muitos mais simples e humildes que vocês e eu. Que fazem eles? A que se dedicam? Ao governo dos povos? Não: cumprem o dever de estado, e o cumprem durante trinta anos, escondidos, ignorados, sem glória. Quantos são os que querem operar milagres, quando é a vida de obscuridade que nos leva à santidade! O dever de estado de cada um é o caminho da santidade. Não existem duas categorias de religiosas: a irmã conversa está tão obrigada à santidade quanto a superiora; mas a superiora se santificará no cumprimento do dever de superiora, e a cozinheira no de cozinheira. Não esqueçam que os três santos de Nazaré são maiores que todos os santos do céu. Visitei a fonte onde Maria ia retirar água, e comecei a imaginar na simplicidade daquela grandiosa mulher, a Virgem, que não fez milagres e nunca viveu uma só hora de glória terrestre; imaginei também em São José, homem simples, de vida operosa e humilde.

 

Santidade e auréola

Há muitos equívocos sobre a santidade, e talvez vocês mesmas alimentem erros a respeito dela. Os santos seriam criaturas com auréolas! Existem muitos deles que não possuem auréola e ainda assim são santos, pois que milagres e visões não fazem santos1. A santidade é um milagre de fé e amor. Há santos sem auréola e auréola sem santos. A rainha dos santos não tinha auréola nem operou milagres. Judas tinha auréola e operou milagres, e ele não é santo. Prestem atenção: joguem no cesto as biografias desconcertantes, que amiúde são poesia e às vezes besteira. Recusem as narrativas que empurram a santidade para fora do caminho de Nazaré. Joguem fora as revelações de Catarina Eymerich, de Maria de Ágreda e de outras mais! Vocês oferecem e transmitem essas revelações ridículas, e as noviças engolem isso e ficam divagando: “Nunca fiz milagres, nunca tive visões!” Sem divagações, por favor, e mais doutrina. Sem êxtases – sus! – pois os nossos conventos já estão empesteados de visionárias e histéricas. Maria, a Virgem de Nazaré, sem milagres, sem visões, era a rainha da fé; e José, um santo de fé, sem êxtases.

Certo dia uma senhora me veio bater à porta: “Trago-lhe uma mensagem do Sacratíssimo Coração de Jesus. – Não recebo mensagens do Sacratíssimo Coração de Jesus, vindas de uma palhaça como você. Vá lavar o rosto (ela estava toda maquiada).”

Outra veio procurar-me: “Padre, o senhor me disse A, mas Nosso Senhor me disse B! – Então vá se confessar com Nosso Senhor, se não dizemos a mesma coisa.”

 

Carismas não significam santidade

Nazaré, Nazaré! Caminho simples, estrada real. Francisco de Assis não é santo porque carregava os estigmas, que são apenas um carisma. Deus pode dar carismas, ou seja, presentes, mas carismas não significam santidade. Podemos ter o presente e não sermos santos.

Vivemos numa época de fantasia e histeria; a guerra acentuou tais fraquezas. Declara a Igreja: vivam da fé e amem a Deus, e não: tenham visões e façam milagres! Deixem de lado as visões e os estigmas, que não provam nada, e andem pelo caminho simples de Nazaré. Oh, como Nazaré é bela! Não havia êxtases, mas o batido caminho do dever. Nazaré, a estrada real! Vocês podem ser grandes santos exatamente onde estão.

Um médico de Milão, bom católico, morreu de súbito num vagão de trem. Aparentemente era um médico como outro qualquer, mas que coração tinha ele! Vivia só para Deus. Um chefe de estação italiano, que logo será beatificado, cumpriu durante a vida inteira o seu humilde dever cotidiano, e recusava até as promoções; era um contemplativo. Madre Cabrini, canonizada vinte e dois anos após a morte, era graciosa, sorridente, amável, divertida; ela seguiu o caminho usual do trabalho e da oração no cumprimento do dever de estado. Alguém pode perguntar porque tal fundador ou fundadora não está canonizado; talvez porque a comunidade não é o que devia ser.

 

Um homem nasce artista, mas não santo

Na cerimônia de canonização de Teresinha, o papa declarou que a santa de Lisieux nos deu três lições importantes:

1. A santidade é um dever;

2. O dever tem de ser cumprido na vida cotidiana;

3. A santidade é sempre amor.

Por vezes encontramos deslumbradas que são joguete do diabo: três irmãs abandonaram a comunidade para bancarem as contemplativas; após algumas semanas retornaram.

Tenho vocação de trapista, tenho alma de trapista, mas sou um judeu errante: é a vontade de Deus!

Certo dia alguém me disse: “Rezo pela sua conversão – Agradeço, mas comece pela sua!” Pois é, o diabo em tudo mete os chifres e o rabo: uma religiosa contemplativa, que estava doente, comungava da mão de um anjo – era o diabo! Ela estava era possuída; Roma a desligou do convento. Já vi santos e demônios; é ridículo uma senhora diretora de padres!

Fé, amor e vontade de Deus. Nada acima da vontade de Deus, que é o supremo amor. Ensinem às suas filhas o caminho simples, e não admitam nada extra. Se alguém deixa de comer e dormir, perde o rumo. Não é possível ser carmelita, quando se administra um hospital. À morte de Teresinha, uma de suas companheiras perguntou: “Que escreveremos sobre essa irmãzinha, se nem boa religiosa foi?” Talvez quem falava assim tivesse visões, mas não viu bem. Nenhum santo, exceto Maria, nasceu santo. Teresa d’Ávila se tornou Santa Teresa d’Ávila. Agostinho se tornou Santo Agostinho. Ambos nasceram gênios, mas se tornaram santos pelo esforço pessoal. E Teresinha? Ela também não nasceu santa, porém trabalhou dia após dia a fim de ser uma. Um homem nasce artista, mas não santo: os santos se tornaram santos trabalhando. Transformem-se em santos aos pouquinhos, a exemplo do alvorecer do sol. José Sarto era uma boa criança mas comum; quando se tornou padre, elevou-se; quando bispo, continuou elevando-se; quando patriarca de Veneza, elevou-se ainda mais; quando papa (Pio X), já era santo! Carecemos de santos.

Com uma vontade viril, tornamo-nos santos. Todos os santos tiveram defeitos: as vidas de santos já prontos só servem para ganhar dinheiro. Nisso há muita fantasia; a curiosidade é um doença. Que dizer da vida de Teresa Neumann 2? Os fatos são verdadeiros, mas a Igreja não se pronunciou; então, aguardemos, pois nada nos garante que os fatos sejam divinos.

Vocês podem ser santas tão grandiosas quanto Margarida Maria e Teresinha, seguindo o batido caminho do dever, e o livrinho das regras e constituições: façam isso e viverão. Não tenho reparos a fazer ao que a Igreja aprovou para cada obra; por isso, não lhes digo para que sejam carmelitas ou outra coisa mas, onde estiverem, tornem-se santas se valendo da regra.

Vivam a vida simples de Nazaré, com humildade e amor ao dever; e lá onde estiverem, superiora ou irmãs conversas, imitem a trindade da terra: Jesus, Maria e José; lá onde estiverem, amem quem tanto as amou.

  1. 1. O Pe. Matéo entende aqui a palavra “auréola” em sentido extenso: reputação exterior de santidade, carismas extraordinários (N.E.).
  2. 2. Teresa Neumann: mística alemã (1898-1962) (N.E.)

A leitura espiritual

Pe. Reid Hennick, FSSPX

Se há uma coisa cuja especial necessidade as condições modernas geraram, é a prática frequente da leitura espiritual

Assim escreveu o abade cisterciense Eugene Boylan em 1946, em This Tremendous Lover, ao analisar o colapso da infraestrutura espiritual do mundo. Embora ler ou outra forma de instrução sempre ter sido necessário, ele prossegue:

a instrução oral, a opinião comum dos homens, o exemplo do próximo e as tendências da vida em geral têm um papel menor na formação e instrução dos católicos que em épocas passadas. As pessoas não vão mais ouvir sermões como antigamente; não se fala mais sobre religião, ao menos não com seriedade; nossos próximos, frequentemente, têm ideais longe de serem católicos – se é que eles têm algum ideal; e há pouco ao nosso redor que seja de auxílio direto para nos incitar ou nos ajudar a encontrar Deus

Em suma, ao deixar Deus de fora, nosso novo ambiente não é capaz de nada além de nos afastar d'Ele. Ele é positivamente inóspito ao crescimento espiritual. De nossa parte, portanto, “há uma necessidade urgente de fazer esforço pessoal para restaurar o equilíbrio, mantendo as realidades da eternidade em nossas mentes” (Boylan)

A leitura espiritual é o corretivo requerido. Na verdade, para o católico educado,

é quase essencial para seu progresso, senão para sua salvação. Para nossas mentes, essa prática está no mesmo nível de importância da oração mental e de outros exercícios devocionais, e ela, na verdade, está tão ligada a esses outros exercícios, especialmente o essencial de oração mental, que, sem ela – a não ser que se encontre um substituto – não há possibilidade de avançar na vida espiritual; até mesmo a perseverança na vida espiritual torna-se muito duvidosa (Boylan)

A leitura espiritual, portanto, pede esforço para a “assídua e atenta leitura de livros espirituais” (cf. Antonio Royo Marín, A Teologia da Perfeição Cristã). Ela demanda uma concentração distinta.

 

O maior impecilho

Das várias forças em questão quando se trata de nosso afastamento do divino, algumas são particularmente corrosivas. Na visão do abade quando escrevia, tinha um papel central nelas o jornal. Ele baseava sua análise tanto no conteúdo, quanto na própria estrutura da mídia em si: “… uma longa série de itens que dificilmente seriam mais eficientes para atrair atenção e concentração para este mundo e as coisas deste mundo” Embora se possa questionar a veracidade de muito do que é publicado, “dificilmente se pode negar que o que é publicado é apresentado de modo a capturar a imaginação do leitor” (Boylan)

A era da informação revelou a verdadeira extensão dessa crítica. De fato, da perspectiva do Século XXI, o poder cativante do jornal é irrelevante quando comparado com a torrente audiovisual do WhatsApp, Twitter, Instagram, YouTube e Netflix. Não há nada mais subversivo para a vida de recolhimento que esse aparato do Vale do Silício. Novamente, assim como o conteúdo destruidor de almas, o próprio método de apresentação destrói a alma.

 

Os ingredientes do pensamento

Para aferir adequadamente os perigos aqui, devemos estar atentos à nossa configuração psicológica. Nesse tocante, as visões de Platão e Aristóteles são indispensáveis.

O homem é um animal racional. Ainda nesse sentido: há uma certa dualidade em sua natureza. Como ele é racional, sua mente lida com universais – objetos intangíveis do pensamento; como ele é um animal, seus sentidos lidam com singulares – impressões materiais do aqui e do agora. Independentemente disso, sua experiência cognitiva é profundamente unificada. Seu intelecto pode transcender os meros dados sensitivos e descobrir o sentido das coisas em si mesmas, e esse pensamento sempre está auxiliado pelos sentidos. Aqui reside a importância da imaginação.

A imaginação alimenta o pensamento. É nosso depósito de singulares, nossa plantação de divagações pré-articuladas. Uma imaginação ordenada e domada facilita as investigações da mente; uma imaginação frenética e sobrecarregada as inibe. Enquanto as experiências orgânicas, estáveis da vida deixam uma impressão benévola na imaginação, os enredamentos constantes e artificiais da mídia moderna a estrangulam, de modo a ficar submissa. Uma vez submetida, a imaginação – e, portanto, a mente – torna-se um território ocupado. Sugestões impróprias e inoportunas moldam a consciência e endurecem nossos pensamentos, inclinados a Deus por natureza, ao calor do momento presente. Assim, tornamo-nos prisioneiros do plano dos singulares.

Qual é “a fonte de todos os males e erros da vida intelectual hoje?” (Boylan) É a perda da habilidade de pensamento abstrato deliberado e prolongado. Isso não significa que não pensamos mais, mas que, devido a uma imaginação superestimulada, pensamos dentro de uma névoa de distrações. Nós somos, como T.S. Elliot dizia, “… distraídos da distração pela distração” (.. Burnt Norton”)

 

De quem é a culpa?

Seria isso uma consequência inevitável de viver na era da informação? Seria isso “a morte do espírito… o preço do progresso?” (Eric Voegelin, A Nova Ciência da Política) Não! Nós não somos míseras vítimas infelizes das circunstâncias. O que o Pe. Francis Remler pensava sobre o sofrimento em geral aplica-se às nossas moléstias modernas:

Não temos dúvida de que provavelmente a metade, senão mais, das misérias de nossos tempos desapareceriam rapidamente da face da terra se as pessoas, universalmente, fossem induzidas a cumprir fielmente apenas duas condições: que elas vivam de acordo com os ditames da razão reta e do bom senso, observando as leis fundamentais da saúde e do bem estar, e que elas façam um esforço sincero de moldar sua conduta moral de acordo com os Dez Mandamentos e as máximas do Evangelho (Why Must I Suffer?)

Verdade seja dita, nossas indiscrições passadas bastam para explicar nossa imaginação sabotada no presente. Nossas compulsões indesejadas realmente são inexplicáveis? Será que nossas ansiedades e temores sobre o futuro não têm alguma relação com a leitura desses sites que só anunciam desgraças? Será que nossa mania de buscar defeitos em nós mesmos não tem a ver com fofoca e o uso de redes sociais? Nossas fantasias com programas de TV sexualmente sugestivos? Será, ao menos, que nossa névoa mental não tem algo a ver com um fluxo ininterrupto de mensagens de textos?

O trauma autoinfligido decorrente de tratarmos como nossos superiores esses dispositivos dispensadores de distrações é óbvio. Recusar-nos a modificar nosso relacionamento com a mídia moderna é um patente abandono do dever, tanto natural quanto sobrenatural. Se não pudermos nos desconectar da matrix completamente, devemos ajustar nosso comportamento nela. Isso é obrigatório, um sine qua non, se queremos adotar a prática da leitura espiritual, ou alguma outra que gerará frutos. Pois a leitura espiritual, por si mesma, não pode abafar essa cacofonia toda. A imersão imoderada na mídia moderna

produz um desgosto, não apenas pelas coisas que realmente importam, mas também pelo estilo e modo nos quais essas coisas são apresentados nos livros espirituais. O resultado é que, quando alguém, por um esforço, força a si mesmo a abrir um livro espiritual, é necessário um esforço ainda maior para o manter aberto, e não fechá-lo com um bocejo (Boylan)

Sacudir-nos e sair dessa inércia – na realidade, um efeito colateral da intemperança – não é fácil. (Ah, se ao menos tivéssemos apetite por outra coisa!) Ainda assim, a leitura espiritual, aquela atividade que, no início, achamos tão desgostosa, contém, em si, o impulso de que necessitamos tão desesperadamente.

 

O antídoto

Santo Tomás de Aquino ensina que: “… o remédio mais eficiente contra a intemperança é não mergulhar na consideração dos singulares” (IIa IIae, q. 142, a.3). Portanto, devemos “focar no oposto dos singulares – nomeadamente, os universais” (Kevin Vost, The One-Minute Aquinas). Em outras palavras, nós temos êxito em contrabalancear nossa imaginação complacente ao cultivar, ao invés, a vida da mente. Atingimos isso através da leitura espiritual, pois, de todas as ocupações,

aquelas de tipo intelectual são particularmente aptas a controlar a sensualidade. A razão é que a aplicação de uma faculdade enfraquece o exercício de outras faculdades, além do fato de que atos intelectuais removem das paixões sensuais o objeto que as alimenta (Jordan Aumann, Spiritual Theology)

A imaginação adora os singulares. Ela adora essas recompensas imediatas sensuais e, se desinibida, entrega-se ao nosso hábito de mergulhar cada vez mais nesses canais de diversão. Ainda assim, esses desvios nunca levam a um destino verdadeiramente feliz. Em contraste, embora os prazeres decorrentes da leitura espiritual sejam, sem sombra de dúvidas, menos emocionantes, eles trazem uma recompensa infinitamente maior. Pois eles alimentam as necessidades mais profundas da mente. A leitura espiritual nos leva ao reino dos universais. Ela fortalece ruminações do verdadeiro, do bom e do belo, independentemente de nossos apetites impacientes. Ela nos ajuda a transcender o importunante momento presente e a ter todas as experiências que apontam para a eternidade. Nós, católicos, lemos

para manter o sobrenatural em nossas mentes, para desenvolver e manter o senso de realidade das coisas que conhecemos pela fé, para manter nossa atenção na vida eterna de nossa alma ao invés de nossos interesses temporais, e, acima de tudo, para manter viva, em nós, a memória e presença de Nosso Senhor, para que possamos viver em união com Ele, falando com Ele, trabalhando com Ele, descansando com Ele, sempre rezando a Ele e n'Ele (Boylan)

 

O que acontecerá?

Como Dom Boylan deu a entender fortemente há mais de 70 anos, em nossos tempos, a leitura espiritual é uma prática mais de preceito que de conselho. Mas cumprir esse preceito envolve mais do que ter um livro nas mãos.

Como era Seu costume quando pregava, Nosso Senhor vem a nós

Não em uma cidade ou em um fórum, mas em uma montanha e no deserto; instruindo-nos a … separar-nos dos tumultos da vida ordinária, e isso de modo especial quando vamos estudar a sabedoria” (São João Crisóstomo, Homilias sobre Mateus)

A leitura espiritual tanto requer quanto possibilita nossa separação do mundano, nossa rejeição ativa de “tudo que inibe as afeições da mente de tender integralmente a Deus” (IIa IIae, q.184, a.2) Na mesma vertente, São Paulo nos exorta: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é santo, tudo o que é amável, tudo o que é de bom nome, qualquer virtude, qualquer coisa digna de louvor da disciplina, seja isto o objeto dos vossos pensamentos” (Fl 4,8)

… Nenhum homem pode servir a dois senhores” (Mt 6,24) Então o que é mais provável que “guarde os vossos corações e os vossos espíritos em Jesus Cristo” (Fl 4,7): o Novo Testamento, ou a Netflix? Porque não pode ser os dois.

Conferências sobre a santidade (III)

Nota da Permanência: O Padre Matéo proferiu estas conferências às superioras de diversas comunidades religiosas do Canadá, na província do Québec, em 1945. Embora endereçadas às almas consagradas, estas conferências são utilíssimas aos leigos, havendo estes tão-somente de fazer as devidas substituições, como “almas consagradas” por “almas batizadas”, “comunidade” por “família”, “vida religiosa” por “vida cristã” e assim por diante. 

Pe. Matteo Crawley-Boevey

 

Pensamento na eternidade

Certo dia um grande pregador dominicano que passava por Ávila consultara Santa Teresa sobre o tema das pregações. “Pregue sobre o que quiser, disse-lhe ela, mas sempre tenha o pensamento na eternidade, pois não existe missão sem pensamento na eternidade.” Pois então, nada de retiro sem o pensamento na eternidade. Eis o que veremos uns dez minutos antes de comparecer diante do tribunal. Durante os estertores acontece uma batalha, uma luta: o moribundo apreende com impressionante nitidez a sua vida inteira e, nesse momento de extraordinária lucidez, descortina-se para ele a eternidade...

Certa vez um jovem marquês divertia-se num baile noturno, onde se reuniam mais de quinhentas pessoas. De súbito exclamou: “Eu vejo, eu vejo! Oh, oh! ...” Acercam-no as pessoas: “Que viu você? – Eu vi, eu vi! – Mas viu o quê? – Vi o juiz e o tribunal; vi a eternidade. Ah, como somos loucos! Sim, loucos, pois dançamos às bordas do abismo eterno!” Acharam que havia surtado. Ele, no entanto, exigia: “Mandem vir o tabelião, para fazer o meu testamento! Estou morto, deem os meus bens aos jesuítas etc.” Atenderam aos desejos dele. Pouco tempo depois ele se retirou numa gruta da floresta, onde levava vida de bicho mas alegre como um passarinho.

Bem-aventurados os que já estão preparados! Muitos ainda não estão prontos, até entre as almas consagradas. Se vocês são complacentes consigo mesmas, será dureza, mas se forem rigorosas, será leve. Julguemo-nos a nós enquanto há tempo: vejamos a partir de agora o que veremos às portas da eternidade, na hora da agonia, dez minutos antes de morrer. Nada melhor que repassar a nossa vida.

Apresento-lhes três pinturas ou quadros:

A brevidade da vida – Vocês tinham sete ou oito anos; lembrem-se da primeira confissão, da primeira comunhão... Parece que está longe, mas na verdade foi ontem. Neste ínterim, a vida passou como um sonho. Onde estaremos daqui a trinta anos? Como é bom sentir-se sacudido por um pensamento cristão! Se temos medo de acompanhar um enterro, talvez signifique que ainda não estamos prontos. Vocês aconselham as suas filhas, mas será que estão preparadas? Ah, as ilusões da vida!

Certa feita uma moça de vinte e quatro anos, casada havia sete meses, estava para morrer, mas ela não aceitava: “Oh, não posso morrer, não quero morrer, sou jovem demais!” – O pensamento da morte deveria ser a nossa alegria.

Uma criança de dez anos, bastante doente, preparava-se para morrer; fui visitá-la e lhe perguntei: “Você tem medo da morte? – Não, me respondeu ela, não tenho medo de morrer, mas do que vem depois.” Ela tinha razão. O mistério é o depois. Quando uma pessoa é religiosa de verdade, a morte não é assustadora. Compreendam isso à luz do retiro: se vocês negligenciaram as orações e a vida interior, pensem no que verão à hora da morte. Há algo de sagrado na morte, mas infelizmente somos qual o capitão que estimula a que outros embarquem, enquanto ele fica na praia...

Havia um moço de vinte e oito anos que escalava uma montanha, subindo e subindo a cada passo. De repente deu com o pé em falso e escorregou, caindo vertente abaixo, apesar de em vão tentar agarrar-se às saliências da encosta. Onde foi ele parar? Foi até às bordas do abismo! Deteve-o uma pedrinha. Alçaram-no dali com uso de cabos, conseguindo-o tirar daquela situação. Ficou com os cabelos totalmente brancos.

Tudo é vaidade, exceto Deus – Renunciamos ao casamento, instituição sagrada; renunciamos à vida de família, instituição excelente – e apegamo-nos a bibelôs ridículos. Somos uns loucos! Vaidade é orgulhar-se do próprio talento; vaidade orgulhar-se das próprias qualidades; vaidade orgulhar-se das alegrias sensíveis: música, poesia, pintura; vaidade orgulhar-se de um encargo ou honraria, pois tudo passa. A pior das mancadas é chegar à morte sem nunca haver pensado a sério em formar santas. Quantos remorsos sentirão! Vocês são superioras; talvez já tenham sentido o leve contentamento e o discreto perfume da elevação. Pois bem, o Juiz Supremo lhes pedirá contas do encargo... Bem-aventurada quem enxerga claramente antes da morte! O Papa Celestino abandonou o pontificado dizendo: “Quero ir para a solidão e salvar a minha alma.” A única realidade da vida é a morte, só ela. Tudo passa, tudo some, tudo foge, mas só ela permanece.

Certo moço, conde e oficial das forças armadas, casara com uma jovem marquesa. Alguns anos depois, aquele moço, cujo casamento abençoei, pediu-me para que se entronizasse o Sacratíssimo Coração de Jesus em seu lar. Falei algo sobre a devoção ao Sagrado Coração e o modo de viver a entronização. Estavam todos de joelhos: o pai, a mãe, os irmãos; as irmãs também estavam presentes. Pregava eu: “A única realidade é o Sacratíssimo Coração de Jesus, é Ele a única realidade, a única!” Quando menos se esperava, uma luz iluminou o conde, que escutava uma voz como a lhe dizer: “Deixa tudo, deixa tudo”. A luz e a voz o perseguiam; depois de alguns dias, a jovem marquesa, que já havia sonhado com o Carmelo, sentira também o chamado. Escreveram ambos a Roma; a resposta demorou um ano. No dia 8 de dezembro de 1918 ou 1919 despediram-se e cantaram o Magnificat. Ela escolheu um Carmelo flamengo, para que ficasse mais isolada; hoje é ela a priora de lá. Já ele é o meu superior geral. Caso vocês conservem apegos, cortem-nos antes de morrer. Não haja em suas vidas o menor laço.

O pecado – Já cometeram algum pecado mortal durante a vida? O pecado é uma triste realidade. Para a glória do rei, temam o pecado! Transformar-se num leproso mefítico, embora apavorante, é aceitável; já o pecado é o pior dos males para vocês e suas filhas.

 

A grande prova da existência do inferno

Qual é o argumento mais poderoso para provar existência do inferno e a eternidade dele? Algo de mais poderoso que a palavra de Nosso Senhor? O crucifixo. Um Deus se crucifica por diversão? Não, ele morre como um bandido para nos poupar do inferno. Nosso Senhor fala no Evangelho mais de dez vezes acerca da geena e do fogo: “Temei a geena... sereis lançados ao fogo do inferno.” Porém, a morte do Cristo para salvar-nos desse fogo cala ainda mais forte. Quem contradita o Eterno é louco ou canalha. Existem livros que nos instruem sobre o inferno afirmando que todos os demônios estão presentes à hora da morte. Por que não dizem que quem estará lá conosco é o Salvador, o Bem-Amado, o que derramou sangue para nos salvar? Vocês são o espólio do Senhor, assim para que escapem de Seus braços seria preciso que fizessem força, pois Ele não as abandonará tão facilmente. O temor filial é dom, graça, prudência e humildade. Esperem n’ Ele, confiem n’Ele sempre mais, esperem! Até os canalhas devem esperar nele. Ele aguarda, aguarda mais um segundo, ainda outro, para que vocês lhe declarem: “Eu Vos amo!” Os nomes de vocês estão gravados no coração de Jesus desde o batismo, ou melhor, desde a profissão. Ninguém será capaz de apagá-los de lá, a menos que vocês mesmas o façam. Vocês hão de enxergar tais nomes no momento da agonia! Hão de morrer como São José, nos braços de Nosso Senhor, com a cabeça apoiada sobre o peito dele. Não é morte morrer assim!

Há alguns meses, uma humilde irmãzinha, serva dos pobres, morreu em grande júbilo, cantando. Só quem é humilde e confiante morre assim. A religiosa é religiosa, esposa e rainha para sempre. Sejam santas na vida e na morte, e a morte não será morte, pois passarão da vida de consagradas cá embaixo à glória de prediletas lá em cima, ao lado dele.

Ad sum? - sobre a vocação religiosa

Caro _________,

Talvez lhe cause confusão o título dessa carta. "Ad sum" é a resposta que você daria em Latim caso seu nome fosse chamado em uma lista. Durante a cerimônia de ordenação sacerdotal, o Padre assistente lê os nomes dos candidatos para ordenação, ao que os ordenandos respondem "Ad sum!", ou "presente!".

Tecnicamente, este será o momento da sua vocação, caso se decida entregar-se ao sacerdócio; é o momento em que se é chamado em nome do bispo para receber o sacramento das Ordens Sagradas. É a culminação de uma jornada normalmente cheia de obstáculos e dúvidas, exigências e sacrifícios; uma jornada que o mundo não compreende.

 

Ordem Sagrada

"ad sum" que você responderá perante o bispo, os ministros e os fiéis, será apenas a manifestação exterior do "ad sum" interior, normalmente repetido desde que se tomou a decisão de entrar no seminário. Perante o bispo, com uma vela na mão direita, a casula dobrada sobre o braço esquerdo, estará você, que se preparou para este momento abandonando o mundo, abandonando seu estilo de vida e abandonando seus trajes exteriores para se tornar um filho adotivo da Igreja pela cerimônia da tonsura, para se aproximar do altar pelas quatro ordens menores, para alcançar o limiar do sacerdócio pelas ordens maiores do subdiaconato e do diaconato, para que, após muita oração, estudo e prática das virtudes, você esteja pronto para receber o maior dom que Deus pode dar a um homem: o sacerdócio sacramental, que não é nada mais que a participação no sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Ordem na hierarquia

O sacramento chama-se ordem porque insere o recipiente numa ordem, que é a hierarquia de ministros sagrados (subdiácono, diácono, padre, bispo). A ordenação ao diaconato e ao episcopado também fazem parte do sacramento da Ordem. Todas as três ordenações - ao diaconato, ao presbiterato e ao episcopado - imprimem um caráter na alma, que marca o ordenando de acordo com sua ordem.

 

Ordenado a Cristo

Receber a ordem significa ser ordenado (configurado) a Cristo como mediador entre Deus e o homem. Dizemos que o padre participa do sacerdócio de Jesus Cristo, que é o sacerdote do Novo Testamento. O padre, portanto, na pessoa de Cristo, oferece o Divino Sacrifício a Deus em nome do homem e atrai as graças celestiais para ordenar o homem e toda a sociedade a Deus.

 

Ordem no homem

O padre não é só um canal de Deus ao homem e do homem a Deus; ele se entrega a Deus juntamente com Cristo como vítima. Ele também se entrega ao homem, juntamente com Cristo, como mestre, governante e santificador. Em sua relação com o homem, seu propósito é trazer a humanidade de volta a Deus, tanto como indivíduos quanto coletivamente em sociedade. Por essa razão, também, nós podemos dizer que o sacramento da Ordem recebe justamente esse nome, porque seu propósito é colocar ordem no mundo - nos indivíduos, nas famílias, nas comunidades, nas nações, em toda a sociedade - para que elas possam chegar a Deus.

A ordem não é apenas uma ordem de ações (comportamento moral), mas também uma ordem do ser. Um homem ordenado a Deus no seu ser está incorporado ao Corpo Místico de Cristo pela graça santificante. Em resumo, o padre é aquele que trabalha para restaurar todas as coisas em Cristo (o lema papal de São Pio X: Instaurare omnia in Christo).

 

A necessidade da Ordem

No mundo contemporâneo, ao invés de se mover em direção a uma recapitulação em Cristo, a humanidade parece se distanciar de Deus com uma determinação demoníaca. A cultura da morte, da qual a cultura "woke" é a última subespécie, está em ascensão despótica em todo o mundo – até dentro da Igreja Católica. As maiores potências do mundo estão unidas na criação de uma "nova ordem mundial", que, na verdade, é apenas uma continuação da velha desordem da rebelião de Lúcifer contra Deus; e a única maneira de reverter esse movimento é através do sacramento da Ordem.

Precisamos de mais jovens dispostos a dizer "ad sum" O futuro eterno de muitas almas e da História do mundo depende disso. Apenas pense: um padre ordenado aos 26 anos e que viva até os 80, rezará mais de 20 mil Missas em sua vida, ouvirá, talvez, umas 30 mil confissões, dará a comunhão umas 500 mil vezes, batizará, talvez, 500 almas, casará uns 100 casais, catequizará centenas de crianças e adultos e enterrará umas 500 almas. Toda vocação, portanto, é um fato que muda o mundo.

 

A escolha é sua

"Ad sum" – primeiro no seu coração e, depois, diante do bispo no dia de sua ordenação – a escolha é sua. Não espere por um trovão damasceno, ou por algum sinal extraordinário; a vocação é escolha sua.

Se não houver obstáculos insuperáveis no seu caminho ao sacerdócio (como responsabilidades, ou dependentes, ou se você for muito notório), e se você tiver todos os requisitos morais e virtudes intelectuais, a única coisa que o impedirá de dizer " ad sum" é a sua vontade, porque a escolha é sua.

Você já me ouviu falar isso antes: a vocação não é totalmente objetiva (algo de que se possa ter uma certeza metafísica), nem é completamente subjetiva (algo para ser encontrada em sinais e sentimentos misteriosos); é sua escolha, baseada tanto na sua capacidade e na sua disposição de auto sacrifício a Deus e a tudo que Ele ama.

 

Sua coragem

Portanto, meu caro ________, pense nesse chamado a dizer "ad sum" ao bispo. Se isso lhe assustar, lembre-se que não se pode ser corajoso sem experimentar o medo; e sei o quanto você valoriza a virtude da fortaleza.

 

Minhas bênçãos,

In Jesu et Maria,

Pe. Robert Brucciani

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