Category: Espiritualidade
Por um monge beneditino
Assim como todo floco de neve que já caiu sobre a face da Terra é formado por um diferente padrão de cristais de gelo, toda alma nascida neste mundo, que sai da mão de Deus, é única. Em Sua divina Providência, Deus cria um lugar para cada alma santificar sua vida e entrar no Reino dos Céus. Mosteiros e conventos são lugares inventados por Deus para permitir que as almas O amem sem limites.
Todas as ordens religiosas têm um objetivo comum, mas elas são muito diferentes umas das outras. Os dominicanos, por exemplo, são chamados a contemplar a beleza da luz de Deus. Depois de contemplar as coisas de Deus, devem comunicar essas verdades ao próximo. Os franciscanos, atraídos pela alegria e liberdade de um filho de Deus, abraçam voluntariamente o caminho da pobreza material, da mortificação e da penitência. Eles se consideram os felizes esposos da Senhora Pobreza. Eles levam a simplicidade da mensagem do Evangelho aos pobres da Igreja. Os carmelitas, com sua bela vida de oração, habitam o castelo interior de suas almas na contínua presença de Deus. Sua comunidade celebra todo o ofício canônico e passa duas horas diariamente em silenciosa oração mental, conversando com o amado esposo de sua alma. Sua vida de sacrifício e oração enriquece a toda a Igreja. Os cartuxos sacrificam a maior parte de sua vida em silenciosa solidão, na adoração ao seu Criador, passando o dia a sós com Deus. Quando um monge cartuxo foi perguntado por que ele tinha um mapa do mundo na parede de sua cela, ele respondeu que considerava aquele o território de sua paróquia. Ele rezava continuamente pela salvação de todas as almas da Terra como se pertencessem à sua paróquia.
Durante os 2.000 anos de existência da Igreja, foram fundadas muitas ordens religiosas para cuidar de seus filhos. Alguns dos primeiros centros de educação gratuita, os primeiros hospitais e os primeiros orfanatos conhecidos pela humanidade foram criados por ordens monásticas, que procuravam cuidar dos menores e mais fracos membros da Igreja de Cristo.
Um dia, enquanto cantava a missa, Santa Matilde (uma mística beneditina do século XIII) recebeu uma revelação sobre o intróito da antífona "No centro da Igreja". Nosso Senhor disse-lhe: “O centro da Igreja é a Ordem de São Bento. Ela apoia a Igreja como o pilar sobre o qual repousa toda a casa, porque está em relação não apenas com a Igreja universal, mas também com as demais ordens religiosas. Está unida aos seus superiores, ou seja, ao papa e aos bispos, pelo respeito e obediência que lhes confere; e está unida às outras Ordens Religiosas pelo seu ensino, que fornece a estrutura para a perfeição de vida, já que todas as outras Ordens imitam a Ordem de São Bento em um ponto ou outro. Almas boas e justas encontram nesta Ordem conselho e ajuda; pecadores encontram compaixão e os meios para se corrigir e confessar seus pecados; as almas do purgatório encontram nesta Ordem o socorro das orações sagradas. Por fim, oferecem hospitalidade aos peregrinos, mantêm a vida dos pobres, aliviam os enfermos, nutrem os que têm fome e sede, consolam os aflitos, e rezam pela libertação das almas dos que partiram fielmente.”
Com seus 15 séculos de existência, e, segundo Dom Gaspar Lefebvre, com 57.000 santos beneditinos conhecidos, a Ordem de São Bento ocupa um lugar muito especial na Igreja precisamente porque não tem nenhuma especialidade. O carisma especial da vida beneditina é simplesmente tornar-se um bom católico rezando e trabalhando em um ambiente familiar e manter uma união perfeita com nosso Criador.
A simplicidade desta vida produziu grandes frutos para a Igreja, abraçando todos os aspectos da vida católica. São Bento conta mais de 20 de seus filhos como papas, um grande número de bispos, cinco doutores da Igreja e muitos missionários que levaram a fé a mais de 20 grandes países, como Inglaterra e Alemanha. E seria impossível contar o número de santos ocultos, conhecidos por Deus apenas, que passaram a vida no segredo dos claustros.
São Bento escreveu sua Regra durante as invasões bárbaras, quando a sociedade romana estava se desintegrando rapidamente, tanto política quanto moralmente. A sociedade naquele momento necessitava da estabilidade de uma vida espiritual.
São Bento descobriu a necessidade de uma vida interior estável pela própria vida que viveu. Quando era um jovem estudante em Roma, percebeu claramente a decadência da sociedade. Percebeu que se continuasse ali, sua alma estaria em perigo de condenação. Então escolheu fugir para Deus e viver uma vida isolada de oração e mortificação. Durante três anos de solidão, ele aprendeu muito sobre Deus e sobre si mesmo. A certa altura, foi fortemente tentado pela luxúria a deixar a vida religiosa.
Ele percebeu a desordem nas suas paixões e, unindo a mortificação à oração, passou por um longo tempo a esfregar-se em um canteiro de sarças, urtigas e espinhos. Mais tarde, reconheceu que essa mortificação o libertou de futuros ataques decorrentes de sua própria natureza decaída.
Sua santidade foi finalmente descoberta por outros e um mosteiro vizinho o convidou para ser seu superior. Enquanto tentavam reformar seus modos decadentes, os mesmos monges que o convidaram para o mosteiro quiseram envenená-lo. São Bento escapou da morte por um milagre e mais uma vez fugiu para Deus, abandonando o mosteiro. Ele acabara de descobrir do que até os religiosos são capazes quando seus deveres espirituais são negligenciados.
Foi asssim que pode estabelecer 12 mosteiros florescentes, intimamente unidos e vivendo em paz com Deus e o homem.
Mas, novamente, um padre inflamado pela inveja, de nome Florentius, tentou matá-lo em várias ocasiões. Cada tentativa foi frustrada pela intervenção de Deus, o que só fez aumentar a inveja de Florentius. O pobre padre decidiu então atacar a virtude dos jovens monges do mosteiro para assim destruir a reputação de São Bento. Enviou um grupo de mulheres decadentes para dançarem nuas na frente do mosteiro e atrair os noviços ao pecado da luxúria. São Bento, esperando assim apaziguar o ciúme de Florêncio, decidiu proteger seus filhos e deixar o mosteiro.
Quando consideramos todos esses exemplos de sua vida, parece que São Bento sempre foge de seus problemas. Na verdade, ele foge para Deus. Sua grande sabedoria é entender a natureza humana decaída e os meios de curá-la, voltando-se para Deus.
O impulso constante de sua vida é buscar a Deus e as coisas que O agradam, curando as feridas de nossa natureza corrupta. Ele encontrou essas feridas na sociedade romana quando jovem. Ele as encontrou novamente em sua própria alma, quando sozinho na gruta lutava contra a concupiscência. Ele as observou na alma dos religiosos que tentaram envenená-lo, bem como na alma do padre que tentou matá-lo e destruir as almas de seus noviços.
Sua vitória constante decorre da humilde e perseverante confiança de sua alma em Deus. Ele percebe a ferida do pecado e se afasta dele em direção à Deus.
Tendo aprendido essa arte, ele foi capaz de ensinar os outros a fazer o mesmo. Sua regra é como um roteiro que leva a alma humana para longe da miséria do pecado e à presença alegre de Deus que nos ama sem reservas. Ela dá coragem aos filhos para reconhecer seus pecados e assim, pela graça de Deus, mudar suas vidas.
São Elredo de Rievaulx compara São Bento a Moisés, o legislador do Antigo Testamento. Moisés levou o povo escolhido para fora da escravidão do Egito, onde o Faraó os obrigava a fazer tijolos de barro e palha. No deserto, Moisés ofereceu sacrifícios a Deus e construiu a Arca da Aliança. Ele lhes deu os Dez Mandamentos que Deus escrevera em tábuas de pedra para que eles seguissem um caminho seguro para o Reino do Céu.
São Bento conduz a alma ferida para fora da escravidão do pecado e da escravidão de concupiscência. Ele convida o monge a oferecer o sacrifício de sua vida a Deus e tornar-se Seu templo, em vez de fazer tijolos inúteis da lama dos prazeres passageiros desta vida. Ele dá a seus filhos uma regra de vida que os liberta do pecado e os conduz ao reino celestial de Nosso Senhor.
Um exemplo histórico desse tipo de conversão pode ser encontrado na grande abadia francesa de Cluny. Alguns críticos modernos acusaram a abadia de comprar escravos para explorá-los. De fato, eles compraram escravos, mas não para seu benefício pessoal. Eles educavam os escravos em sua fé e lhes davam também uma formação em agricultura e comércio. Depois que o escravo estava suficientemente instruído, a Abadia de Cluny lhe concedia a liberdade, bem como um pedaço de terra para ganhar a vida. Eles freqüentemente formavam confrarias e se tornavam oblatos do mosteiro. Desta forma, participavam dos benefícios materiais e espirituais do mosteiro.
Durante as diferentes invasões bárbaras que ameaçaram a existência de toda a sociedade civilizada, esses oblatos procuraram refúgio atrás dos muros dos mosteiros e ajudaram a defendê-los e às suas próprias posses.
A maneira como os monges evangelizavam um país era diferente dos meios modernos empregados pelas ordens mais recentes. Essas últimas enviavam apóstolos viajantes ao redor do mundo para pregar a fé. Estavam sempre em movimento, buscando almas. O modo beneditino de levar a Fé a um país era simplesmente instalar-se ali, convidando os habitantes a ir até eles. Pelo exemplo de sua vida, ensinaram as almas recém-convertidas não apenas como cultivar a terra, mas principalmente como praticar as Virtudes católicas.
São Bento introduziu o voto de estabilidade na vida monástica. Isto significa que o monge jura permanecer em seu mosteiro sob seu abade até a morte, o que dá grande longevidade à vida cristã e à prática da virtude, onde quer que o mosteiro se estabeleça. Ele também pede a seus monges que façam o voto de obediência e voto de conversão dos costumes, que é essencialmente o voto de praticar a virtude cristã. Mediante essa sabedoria, ele dá aos monges e oblatos das aldeias vizinhas um meio de longo prazo de afastar-se do pecado e ir ao encontro de Deus.
São Bento termina seu prólogo da regra com a visão do que ele espera que a ordem se torne e dos frutos a serem desenvolvidos dentro dos muros de seu mosteiro e nas aldeias ao redor.
“Nossos corações e nossos corpos devem, portanto, estar prontos para a batalha sob as ordens da santa obediência; e peçamos ao Senhor que Ele supra com a ajuda de Sua graça o que é impossível para nós por natureza. E se, voando das dores do inferno, desejamos alcançar a vida eterna, então, enquanto ainda há tempo, e ainda estamos na carne, e somos capazes durante a vida presente de cumprir todas essas coisas, devemos nos apressar a fazer agora o que nos beneficiará para sempre.
“Devemos, pois, constituir uma escola de serviço do Senhor. Nesta instituição esperamos nada estabelecer de áspero ou de pesado. Mas, se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre senão por estreito início. Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração e com inenarrável doçura de amor é percorrido o caminho dos mandamentos de Deus. De modo que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, sob a sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos do Cristo, a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino. Amém" (Prólogo da Regra)
(The Angelus, Março-Abril de 2020. Tradução: Permanência)
Exercícios espirituais preparatórios à consagração solene conforme o método de S. Luís Grignion de Monfort
I
DOZE DIAS PRELIMINARES
Empregados em desapegar-se do espírito do mundo
Reza-se:
- Veni, Creator Spiritus
- Ave, Maris Stella.
VENI, CREATOR SPIRITUS
Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quae tu creásti péctora.
Qui diceris Paráclitus, Altissimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio.
Tu septiformis múmere, Dígitus patérnae déxterae Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura.
Accénde lúmen sénsibus: Infunde amórem cordibus: Infirma nóstri córporis
Virtute firmans pérpeti.
Hostem repéllas longius, Pacémque dones prótinus; Ductóre sic te praevio, Vitémus omne nóxium.
Per te sciamus da Patrem Noscamus atque Fílium; Teque utriúsque Spíritum Credámus omni tempore.
Deo Patri sit gloria,
Et Filio, qui a mortuis Surrexit, ac Paráclito
In saeculorum saecula. Amen.
V: Emitte Spiritum tuun et creabuntur R: Et renovabis faciem terrae.
Oremus. Deus qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuitis, da nobis in eodem Spiritus recta sapere et de eius semper consolatione gaudere. Per Christum Dominum nostrum. Amen.
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Vem , ó criador Espírito, as almas dos teus visita; os corações que criastes, Enche de graça infinita.
Tu, Paráclito és chamado Dom do Pai celestial, Fogo, caridade, fonte viva unção espiritual.
Tu dás septiforme graça; Dedo és da destra paterna; Do Pai, solene promessa, dás força da voz suprema.
Nossa razão esclarece, Teu amor no peito acende, Do nosso corpoa fraqueza Com tua força defende.
De nós afasta o inimigo.
Dá que Deus Pai e seu Filho Por ti nós bem conheçamos, E em ti, Espíritto de ambos Em todo tempo creiamos.
A Deus Pai se dá a glória E ao Filho ressuscitado, Paráclito e a ti também
Com louvor perpetuado. Amém
V. Envia o vosso Espírito, e a tudo será criado. R. E renovareis a face da terra.
Oremos. Ó Deus, que intruíste os corações de vossos fiéis com a luz do espírito para que conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo Nosso Senhor. Amém
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AVE, MARIS STELLA
Ave, maris stella, Dei Mater alma, Atque semper virgo, Felix caeli porta.
Sumens illud Ave, Gabrielis ore,
Funda nos in pace, Mutans Hevae nomen.
Solve vincla reis, Profer lumen caecis, Mala nostra pelle, Bona cuncta posce.
Monstra te esse matrem, Sumat per te precem Qui pro nobis natus Tulit esse tuus.
Virgo singuláris, Inter omnes mitis, Nos culpis solútos M.ites fac et castos.
Vitam praesta puram. Iter para tutum,
Ut vidéntes Iesum Semper collaetemur.
Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spritui Sancto
Tribus honor unus. Amen.
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Ave do mar Estrela,
De Deus Mae bela,
Sempre Virgem, da morada Celeste feliz entrada.
O’ tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos paz e quietação; E o nome de Eva troca.
As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.
Oatenta que és Mãe fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós quis ser filho teu.
O’ Virgem especiosa, Tôda cheia de ternura, Extintos nossos pecados , Dá-nos pureza e brandura,
Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos.
A Deus Pai veremos;
A Jesus Cristo também.
E ao Espírito Santo demos Aos três um louvor. Amém.
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II
PRIMEIRA SEMANA
empregada em adquirir o conhecimento de si mesmo
Reza-se:
- Ladainha do Espírito Santo
- Ladainha de Nossa Senhora
LADAINHA DO ESPÍRITO SANTO
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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Divino Espírito Santo, ouvi-nos.
Espírito Paráclito, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus.
Espírito da verdade,
Espírito da sabedoria,
Espírito da inteligência,
Espírito da fortaleza,
Espírito da piedade,
Espírito do bom conselho,
Espírito da ciência,
Espírito do santo temor,
Espírito da caridade,
Espírito da alegria,
Espírito da paz,
Espírito das virtudes,
Espírito de toda graça,
Espírito da adoção dos filhos de Deus,
Purificador das nossas almas,
Santificador e guia da Igreja Católica,
Distribuidor dos dons celestes,
Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, Doçura dos que começam a vos servir,
Coroa dos perfeitos,
Alegria dos anjos,
Luz dos patriarcas,
Inspiração dos profetas,
Palavra e sabedoria dos apóstolos,
Vitória doa mártires,
Ciência dos confessores,
Pureza das virgens,
Unção de todos os santos,
Sede-nos propício, perdoai-nos, Senhor.
Sede-nos propício, atendei-nos, Senhor.
De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.
De todas as tentações e ciladas do demônio,
De toda a presunção e desesperação.
Do ataque à verdade conhecida,
Da inveja da graça fraterna,
De toda a obstinação e impenitência,
De toda a negligência e torpor do espírito,
De toda a impureza da mente e do corpo,
De todas as heresias e erros,
De todo o mau espírito,
Da morte má e eterna,
Pela vossa eterna procedência do Pai e do Filho,
Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, Pela vossa descida sobre Jesus Cristo batizado,
Pela vossa santa aparição na transfiguração do Senhor, Pela vossa vinda sobre os discípulos do Senhor,
No dia do juízo,
Ainda que pecadores,nós vos rogamos, ouví-nos.
Para que nos perdoeis,
Para que vos digneis vivificar e santificar todos os membros da Igreja,
Para que vos digneis conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração,
Para que vos digneis inspirar-mos sinceros afetos de misericórdia e de caridade,
Para que vos digneis criar em nós um espírito novo e um coração puro,
Para que vos digneis conceder-nos verdadeira paz e tranqüilidade no coração,
Para que vos digneis fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, Para que vos digneis confirmar-nos em vossa graça,
Para que vos digneis receber-nos o número dos vossos eleitos,
Para que vos digneis ouvir-nos,
Espírito de Deus,
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, mandai-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, dai-nos o Espírito bom.
Espírito Santo, ouví-nos.
Espírito Consolador, atendei-nos.
V. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.
Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-mos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto,
e gozemos sempre as suas consolações.
Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.
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LADAINHA DE NOSSA SENHORA
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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho Redentor do mundo que sois Deus, tende piedade de nós. Espírito Santo que sois Deus, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós Santa Maria, rogai por nós.
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens,
Mãe de Jesus Cristo,
Mãe da divina graça,
Mãe puríssima,
Mãe castíssima,
Mãe Imaculada,
Mãe intemerata,
Mãe amável,
Mãe admirável,
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Virgem prudentíssima,
Virgem venerável,
Virgem louvável,
Virgem poderosa,
Virgem clemente,
Virgem fiel,
Espelho de justiça,
Sede da sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso espiritual,
Vaso digno de honra,
Vaso insigne de devoção,
Rosa mística,
Torre de David,
Torre de marfim,
Casa de ouro,
Arca da aliança,
Porta do Céu,
Estrela da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarcas,
Rainha dos Profetas,
Rainha dos Apóstolos,
Rainha dos Mártires,
Rainha dos Confessores,
Rainha das Virgens,
Rainha de todos os santos,
Rainha concebida sem pecado original, Rainha assunta ao Céu,
Rainha do sacratíssimo Rosário, Rainha da Paz,
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos Senhor. Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor. Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
V/ Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R/ Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Oremos. Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da tristeza do século e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
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III
SEGUNDA SEMANA Empregada em adquirir o conhecimento da Santíssima Virgem
Reza-se:
- Ladainha do Espírito Santo
- Ave, Maris Stella
- Um rosário ou ao menos um terço
IV
TERCEIRA SEMANA empregada em adquirir o conhecimento de Jesus Cristo
Reza-se:
- Ladainha do Espírito Santo
- Ave, Maris Stella
- Oração de Santo Agostinho
- Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus
- Ladainha do Sagrado Coração de Jesus
Oração de Santo Agostinho
“Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação...
Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah! que, pelo menos, a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele procurais. Ó Jesus anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós inteiramente consumido em vosso amor... Amém”.
LADAINHA DO SANTÍSSIMO NOME DE JESUS
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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste que sois Deus, tende piedade de nós. Filho, redentor do mundo, que sois Deus. Espírito Santo, que sois Deus,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, Jesus Filho de Deus vivo,
Jesus, esplendor do Pai,
Jesus, pureza da luz eterna,
Jesus, Rei da glória,
Jesus, sol de justiça,
Jesus, Filho da Virgem Maria,
Jesus amável,
Jesus admirável,
Jesus, Deus forte,
Jesus, Pai do futuro século,
Jesus, Anjo do grande conselho,
Jesus poderosíssimo,
Jesus pacientíssimo,
Jesus obedientíssimo,
Jesus, brando e humilde de coração
Jesus, amante da castidade,
Jesus, amador nosso,
Jesus, Deus da paz,
Jesus, autor da vida,
Jesus, exemplar das virtudes,
Jesus, zelador das almas,
Jesus, nosso Deus,
Jesus, nosso refúgio,
Jesus, pai dos pobres,
Jesus, tesouro dos fiéis,
Jesus, bom Pastor,
Jesus, verdadeira luz,
Jesus, Sabedoria eterna,
Jesus, bondade infinita,
Jesus, nosso caminho e nossa vida,
Jesus, alegria dos Anjos,
Jesus, Rei dos Patriarcas,
Jesus, Mestre dos Apóstolos,
Jesus, Doutor dos evangelistas, Jesus, fortaleza dos Mártires, Jesus, luz dos Confessores Jesus, pureza das virgens, Jesus, coroa de todos os santos,
Sede-nos propício: perdoai-nos, Jesus. Sede-nos propício, ouví-nos, Jesus.
De todo o mal, livrai-nos Jesus.
De todo o pecado,
Da vossa ira,
Das cidades do demônio,
Do espírito da impureza,
Da morte eterna,
Do desprezo das vossas inspirações,
Pelo mistério da vossa santa Encarnação,
Pela vossa natividade,
Pela vossa infância,
Por toda a vossa santíssima vida,
Pelos vossos trabalhos,
Pela vossa agonia e pela vossa paixão,
Pela vossa cruz e pelo vosso desamparo,
Pelas nossas angústias,
Pela vossa morte e pela vossa sepultura,
Pela vossa ressurreição,
Pela vossa ascensão,
Pela vossa instituição da santíssima Eucaristia. Pelas vossas alegrias,
Pela vossa glória,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós, Jesus.
Jesus, ouvi-nos. Jesus, atendei-nos.
Oremos: Senhor Jesus Cristo que dissestes: Pedi e recebereis; buscais e achareis; batei e abrir-se-vos-á,nos vos suplicamos que concedas a nós, que vo-lo pedimos, os sentimentos afetivos de vosso divino amor, a fim de que nós de todo coração e que esse amor transcenda por nossas ações, sem que deixemos de vos amar. Permiti que tenhamos sempre, Senhor , um igual temor e amor pelo vosso santo nome; pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do vosso amor.Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amem.
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LADAINHA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai celeste que sois Deus,
tende piedade de nós.
Filho, Redentor do mundo, que sois Deus,
tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus,
tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus,
tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,
Coração de Jesus, de majestade infinita,
Coração de Jesus, templo santo de Deus,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor,
Coração de Jesus, cheio de bondade e de amor,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor,
Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência,
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade,
Coração de Jesus, no qual o Pai põe as suas complacências,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso,
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados,
Coração de Jesus, saturado de opróbrios,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes,
Coração de Jesus, feito obediente até à morte,
Coração de Jesus, atravessado pela lança,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores,
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em vós,
Coração de Jesus, esperança dos que expiram em vós,
Coração de Jesus, delícia de todos os santos,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
perdoai-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
tende piedade de nós.
V. Jesus, manso e humilde de coração,
R. Fazei nosso coração semelhante ao vosso.
Oremos.
Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração de vosso Filho diletíssimo e para os louvores e as satisfações que ele, em nome dos pecadores vos tributa; e aos que imploram a
vossa misericórdia concedei benigno o perdão em nome do vosso mesmo Filho Jesus Cristo, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos.
Amém.
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CONSAGRAÇÃO DE SI MESMO A JESUS CRISTO, SABEDORIA ENCARNADA, PELAS MÃOS DE MARIA
( A consagração deve ser escrita de proprio punho e assinada no final)
Ó Sabedoria Eterna e Encarnada! Ó amabilíssimo e adorável Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, unigênito Filho do Eterno Pai e da sempre Virgem Maria, adoro-vos profundamente no seio e nos esplendores do vosso Pai, durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa Mãe digníssima, no tempo de vossa Encarnação.
Eu vos dou graças por vos terdes aniquilado a vós mesmo, tomando a forma de escravo, para livrar-me do cruel cativeiro do demônio. Eu vos louvo e glorifico por vos terdes querido submeter a Maria, vossa Mãe Santíssima, em todas as coisas, a fim de por Ela tornar-me vosso fiel escravo.
Mas, ai de mim, criatura ingrata e infiel! Não cumpri as promessas que vos fiz solenemente no Batismo. Não cumpri com minhas obrigações; não mereço ser chamado vosso filho nem vosso escravo, e, como nada há em mim que de vós não tenha merecido repulsa e cólera, não ouso aproximar-me por mim mesmo de vossa santíssima e augustíssima Majestade.
É por esta razão que recorro à intercessão de vossa Mãe Santíssima, que me deste por Medianeira junto a Vós, e é por este meio que espero obter de Vós a contrição e o perdão de meus pecados, a aquisição e conservação da Sabedoria.
Ave, pois, ó Maria Imaculada, Tabernáculo vivo da Divindade, onde a Eterna Sabedoria escondida quer ser adorada pelos anjos e pelos homens!
Ave, ó Rainha do céu e da terra, a cujo império está sujeito tudo o que está abaixo de Deus! Ave, ó refúgio seguro dos pecadores, cuja misericórdia jamais a ninguém falece! Atendei ao desejo que tenho da Divina Sabedoria, e recebei, para este fim, os votos e as oferendas, apresentadas pela minha baixeza.
Eu, N..., infiel pecador, renovo e ratifico hoje, em vossas mãos, os votos do Batismo. Renuncio para sempre a Satanás, suas pompas e suas obras, e dou-me inteiramente a Jesus Cristo, Sabedoria Encarnada, para segui-lo levando minha cruz, em todos os dias de minha vida. E, a fim de lhe ser mais fiel do que até agora tenho sido, escolho-vos neste dia, ó Maria Santíssima, em presença de toda a corte celeste, para minha Mãe e minha Senhora. Entrego-vos e consagro-vos, na qualidade de escravo, meu corpo e minha alma, meus bens interiores e exteriores, e até o valor de minhas boas obras passadas, presentes e futuras, deixando-Vos direito pleno e inteiro de dispor de mim e de tudo o que me pertence, sem exceção, a vosso gosto, para a maior glória de Deus, no tempo e na eternidade.
Recebei, ó benigníssima Virgem, esta pequena oferenda de minha escravidão, em união e honra à submissão que a Sabedoria Eterna quis ter à vossa Maternidade; em homenagem ao poder que tendes ambos sobre este vermezinho e miserável pecador; em ação de graças pelos privilégios com que Vos favoreceu a Santíssima Trindade.
Protesto que quero, de agora em diante, como vosso verdadeiro escravo, procurar vossa honra e obedecer-Vos em todas as coisas.
Ó Mãe admirável, apresentai-me a vosso amado Filho, na qualidade de escravo perpétuo, para que, tendo-me remido por Vós, por Vós também me receba favoravelmente.
Ó Mãe de misericórdia, concedei-me a graça de obter a verdadeira Sabedoria de Deus, e de colocar-me, para este fim, no número daqueles a quem amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como a filhos e escravos vossos.
Ó Virgem fiel, tornai-me em todos os pontos um tão perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedora Encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho, que eu chegue um dia, por vossa intercessão e a vosso exemplo à plenitude de sua idade na terra e de sua glória nos céus. Assim seja.
Nota: Todas as práticas de mortificação que reunimos aqui são recolhidas dos exemplos dos santos, especialmente Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santa Teresa, São Francisco de Sales, São João Berchmans, ou são recomendadas por reconhecidos mestres da vida espiritual, como o Venerável Louis de Blois, Rodriguez, Scaramelli, Abade Allemand, Abade Hamon, Abade Dubois, etc.
Artigo 1 – Objeto da mortificação cristã
A mortificação cristã tem por fim neutralizar as influências malignas que o pecado original ainda exerce nas nossas almas, inclusive depois que o batismo as regenerou. Nossa regeneração em Cristo, ainda que tenha anulado completamente o pecado em nós, nos deixa sem embargo muito longe da retidão e da paz originais. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, ou seja, o triplo apetite da carne, dos olhos e do orgulho, se deixa sentir em nós, mesmo depois do batismo, a fim de excitar-nos às gloriosas lutas da vida cristã (Conc. Trid., Sess. 5, Decretum de pecc. orig.).
A Escritura logo chama esta tripla concupiscência de “homem velho“, oposto ao “homem novo” que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como “carne” ou natureza caída, oposta ao “espírito” ou natureza regenerada pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral.
A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação. Vamos indicar sua prática, recorrendo sucessivamente às manifestações múltiplas de atividade em que se traduz em nós:
I) A atividade orgânica ou a vida corporal;
II) A atividade sensível, que se exerce seja sob a forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja sob a forma de apetite sensível ou de paixão;
III) A atividade racional e livre, princípio dos pensamentos e dos juízos, e das determinações da nossa vontade;
IV) Consideraremos a manifestação exterior da vida da alma, ou as ações exteriores;
V) E, finalmente, o intercâmbio das relações com o próximo.
Artigo 2 – Exercício da mortificação cristã
A. Mortificação do corpo
1º Limite-se, tanto quanto possa, em matéria de alimentos, ao estritamente necessário. Medite estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: “Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de fato grande, e deve engrandecer teu nome” (Confissões, liv. X, cap. 31);
2º Rogue a Deus com freqüência, rogue a cada dia que lhe impeça, com sua graça, de transpassar os limites da necessidade, ou deixar-se levar pelo atrativo do prazer;
3º Não coma nada entre as refeições, a menos que haja alguma necessidade ou razões de conveniência;
4º Pratique a abstinência e o jejum, mas os pratique somente sob obediência e com discrição;
5º Não é proibido experimentar satisfação corporal, mas o faça com intenção pura, bendizendo a Deus;
6º Regule o sono, evitando nisto toda relaxação ou moleza, sobretudo pela manhã. Se puder, fixe uma hora para se deitar e levantar, e se obrigue a ela energicamente;
7º Em geral, não descanse senão na medida do necessário; entregue-se generosamente ao trabalho, e não meça esforços e penas. Tenha cuidado para não extenuar o corpo, mas guarde-se também de agradá-lo: quando sentir que ele está disposto a rebelar-se, por pouco que seja, trate-o como a um escravo;
8º Se sente alguma ligeira indisposição, evite irritar-se com os demais por seu mau humor; deixe aos seus irmãos o cuidado de queixar-se; pelo que lhe cabe, seja paciente e mudo como o divino Cordeiro que levou verdadeiramente todas as nossas enfermidades;
9º Guarde-se de pedir uma dispensa ou revogação da ordem do dia pelo mínimo mal-estar. “Há de se fugir como da peste de toda dispensa em matéria de regras“, escrevia São João Berchmans;
10º Receba docilmente, e suporte com humildade, paciência e perseverança a penosa mortificação que se chama doença.
B. Mortificação dos sentidos, da imaginação e das paixões
1º Feche os olhos, diante de tudo e sempre, a todo espetáculo perigoso, e inclusive tenha a valentia de fechá-los a todo espetáculo vão e inútil. Veja sem olhar; não se fixe em ninguém para discernir a beleza ou a feiura;
2º Mantenha os ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às notícias sobre suspeitas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;
3º Se o sentido do olfato tem de sofrer algo por consequência de certas doenças ou debilidades do próximo, longe de queixar-se disso, suporte-o com uma santa alegria;
4º No que concerne à qualidade dos alimentos, tenha muito respeito pelo conselho de Nosso Senhor: “Comei o que vos for apresentado”. “Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação”, dizia São Francisco de Sales;
5º Ofereça a Deus as refeições, imponha-se à mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se uma pitada de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não perceberão, mas Deus levará em conta;
6º Se o que lhe apresentam excita vivamente a atração, pense no fel e no vinagre que apresentaram a Nosso Senhor na cruz: isto não lhe impedirá de saborear o manjar, mas servirá de contrapeso ao prazer;
7º Há de se evitar todo contato sensual, toda carícia em que se poria certa paixão, em que se buscaria ou teria um gozo sobretudo sensível;
8º Prescinda de ir aquecer-se, a menos que lhe seja necessário para evitar uma indisposição;
9º Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas as incomodidades do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: “Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor”. Felizes somos se podemos chegar a dizer com gosto esta frase tão familiar a São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor do que quando não estou bem”;
10º Mortifique a imaginação quando ela lhe seduz com a isca de um cargo relevante, quando se entristece com a perspectiva de um futuro sombrio, quando se irrita com a recordação de uma palavra ou de um ato que o ofendeu;
11º Se sente em você a necessidade de sonhar, mortifique-a sem piedade;
12º Mortifique-se com o maior cuidado sobre o que se refere à impaciência, à irritação ou à ira;
13º Examine a fundo os desejos, e submeta-os ao controle da razão e da fé: Você não deseja antes uma vida longa a uma vida santa? Prazer e bem-estar sem tristeza nem dores, vitórias sem combates, êxitos sem contrariedades, aplausos sem críticas, uma vida cômoda e tranquila sem cruzes de nenhum tipo, ou seja, uma vida completamente oposta à de nosso Divino Salvador?
14º Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.;
15º Trate de conhecer seu defeito dominante, e quando o tiver conhecido, persiga-o até os últimos recantos. Por isso, submeta-se de boa vontade ao que poderia haver de monótono e de aborrecido na prática do exame particular;
16º Não é proibido ter um bom coração e mostrá-lo, mas fique atento ao perigo de exceder o justo meio. Combata energicamente os afetos demasiado naturais, as amizades particulares, e todas as sensibilidades moles do coração.
C. Mortificação do espírito e da vontade
1º Mortifique o espírito proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma, e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias;
2º Distancie do espírito todo pensamento de tristeza e inquietude. O pensamento do que poderá suceder no futuro não deve preocupá-lo. Quanto aos maus pensamentos que o molestam, deve fazer deles, distanciando-os, matéria para exercer a paciência. Se são involuntários, serão para você uma ocasião de méritos;
3º Evite a teimosia das ideias, e a obstinação dos sentimentos. Deixe prevalecer de boa vontade o juízo dos demais, salvo quando se trate de matérias em que você tem o dever de se pronunciar e falar;
4º Mortifique o órgão natural do espírito, ou seja, a língua. Exercite de boa vontade o silêncio, seja porque a Regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente;
5º Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demais, que impede os outros de expressar os pensamentos, como o de falar de menos, que denota indiferença ofensiva pelo que as outras pessoas dizem;
6º Não interrompa nunca quem fala, e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta;
7º Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os “muito”, os “extremamente”, os “horrivelmente”, etc.: não seja exagerado ao falar;
8º Ame a simplicidade e a retidão. A simulação, os rodeios, os equívocos calculados, que certas pessoas piedosas se permitem sem escrúpulo, desacreditam muito a piedade;
9º Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedirá conta delas no dia do Juízo;
10º Acima de tudo, mortifique a vontade; é o ponto decisivo. Sujeite-a constantemente ao que sabe ser do beneplácito divino e da ordem da Providência, sem ter em nenhuma conta os próprios gostos e aversões. Submeta-se até a seus inferiores nas coisas que não interessam para a glória de Deus e os deveres de estado;
11º Considere a menor desobediência às ordens, inclusive aos desejos de seus superiores, como dirigida a Deus;
12º Lembre-se de que praticará a maior de todas as mortificações quando amar ser humilhado e quando tiver a mais perfeita obediência àqueles a quem Deus quer que se submeta;
13º Ame ser esquecido e tido por nada: é o conselho de São João da Cruz, é o conselho da Imitação: não fale apenas de si mesmo nem para bem nem para mal, mas busque pelo silêncio fazer-se esquecer;
14º Diante de uma humilhação ou repreensão, sente-se tentado a murmurar? Diga como Davi: “Melhor assim! É-me bom ser humilhado!”;
15º Não alimente desejos frívolos: “Desejo poucas coisas, e o pouco que desejo, o desejo pouco”, dizia São Francisco;
16º Aceite com a mais perfeita resignação as mortificações ditas da Providência, as cruzes e os trabalhos ligados ao estado em que a Providência o pôs. “Quanto menos há de nossa eleição, mais há de beneplácito divino”, dizia São Francisco de Sales. Queríamos escolher nossas cruzes, ter outra diferente da nossa, levar uma cruz pesada que tivesse ao menos algum brilho, antes que uma cruz leve que cansa pela continuidade: ilusão! Devemos levar a nossa cruz, e não outra, e o mérito disto não se encontra na qualidade dela, mas na perfeição com que a levamos;
17º Não se deixe turbar pelas tentações, pelos escrúpulos, pelas securas espirituais: “O que se faz durante a aridez é mais meritório diante de Deus do que o que se faz durante a consolação”, dizia o santo bispo de Genebra;
18º Não devemos entristecer-nos demais pelas nossas misérias, mas nos humilhar bastante. Humilhar-se é uma coisa boa, que poucas pessoas compreendem; inquietar-se e impacientar-se é uma coisa que todo o mundo conhece e que é má, porque nesta espécie de inquietude e de despeito, a maior parte pertence ao amor próprio;
19º Desconfiemos igualmente da timidez e do desânimo, que despendem as energias, e da presunção, que nada mais é do que o orgulho em ação. Trabalhemos como se tudo dependesse dos nossos esforços, mas permaneçamos humildes como se nosso trabalho fosse inútil.
D. Mortificações que deve praticar nas ações exteriores
1º Deve observar a maior exatidão em todos os pontos da sua regra de vida, e obedecer sem demora, lembrando-se de São João Berchmans, que dizia: “Minha maior penitência é seguir a vida comum”; “Fazer o maior caso das menores coisas, esse é o meu lema”; “Antes morrer que violar uma só de minhas regras!”;
2º No exercício de seus deveres de estado, trate de estar muito contente com tudo o que parece feito de propósito para desagradá-lo e molestá-lo, lembrando-se também aqui da frase de São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor do que quando não estou bem”;
3º Não conceda jamais um momento à preguiça; da manhã à noite, esteja ocupado sem descanso;
4º Se dedica a sua vida, ao menos em parte, ao estudo, pratique os seguintes conselhos de Santo Tomás de Aquino aos seus alunos: “Não se contentem em receber superficialmente o que lêem ou escutam, mas tratem de penetrar e aprofundar o sentido. – Não fiquem nunca com dúvidas sobre o que podem saber com certeza. – Trabalhem com uma santa avidez em enriquecer o espírito; classifiquem com ordem na memória todos os conhecimentos que possam adquirir. – Sem embargo, não tratem de penetrar os mistérios que estão acima de sua inteligência”;
5º Ocupe-se unicamente da ação presente, sem voltar-se ao que precedeu nem adiantar-se pelo pensamento ao que vem a seguir; diga com São Francisco: “Enquanto faço isto, não estou obrigado a fazer outra coisa”; “Apressemo-nos com bondade: será tão logo tanto quanto esteja bom”;
6º Seja modesto na compostura. Nenhum porte era tão perfeito como o de São Francisco; tinha sempre a cabeça direita, evitando igualmente a ligeireza que a gira em todos os sentidos, a negligência que a dobra adiante e o humor orgulhoso e altivo que a inclina para trás. Seu rosto estava sempre tranqüilo, livre de toda preocupação, sempre alegre, sereno e aberto, sem ter, todavia, uma jovialidade indiscreta, sem risadas ruidosas, imoderadas ou demasiado freqüentes. Quando se encontrava só mantinha-se em tão boa compostura como diante de uma grande assembleia. Não cruzava as pernas, não apoiava a cabeça no encosto. Quando rezava, ficava imóvel como uma coluna. Quando a natureza lhe sugeria gostos, não a escutava em absoluto;
7º Considere a limpeza e a ordem como uma virtude, e a sujeira e a desordem como um vício: evite os vestidos sujos, manchados ou rasgados. Por outra parte, considere como um vício ainda maior o luxo e o mundanismo. Faça de modo que ao lhe verem a vestimenta e adereços, ninguém diga: está desarrumado; nem: está elegante; mas que todo o mundo possa dizer: está decente.
E. Mortificações para praticar nas relações com o próximo
1º Aguente os defeitos do próximo: faltas de educação, de espírito, de caráter. Aguente tudo o que nele lhe desagrada: o modo de andar, a atitude, o tom de voz, o sotaque, e todo o resto;
2º Aguente tudo de todos e aguente até o fim e cristãmente. Não se deixe levar jamais por essas impaciências tão orgulhosas que fazem dizer: Que posso fazer de tal ou qual? Em que me interessa o que diz? Para que preciso do afeto, da benevolência ou da cortesia de uma criatura qualquer, e desta em particular? Nada é mais distante de Deus que esses desprendimentos altaneiros e essas indiferenças depreciativas; melhor seria, certamente, uma impaciência;
3º Encontra-se tentado a irar-se? Por amor de Jesus, seja manso. De vingar-se? Devolva bem ao mal. Diz-se que o segredo de chegar ao coração de Santa Teresa, era fazer-lhe algum mal. De mostrar a alguém uma cara má? Sorria com bondade. De evitar seu encontro? Busque-o por virtude. De falar mal dele? Fale bem. De falar-lhe com dureza? Fale doce e cordialmente;
4º Ame elogiar os irmãos, sobretudo aqueles a quem a sua inveja se dirige mais naturalmente;
5º Não diga acuidades em detrimento da caridade;
6º Se alguém se permite na sua presença palavras pouco convenientes, ou mantém conversações próprias a danificar a reputação do próximo, poderá às vezes repreender com doçura a quem fala, mas antes será melhor distanciar-se habilmente da conversação ou manifestar por um gesto de descontentamento ou desatenção proposital que o assunto o desagrada;
7º Quando lhe custar fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito;
8º Tenha horror de apresentar-se diante de si mesmo ou dos demais como uma vítima. Longe de exagerar suas cargas, esforce-se em considera-las leves. Em realidade, elas são leves, muito mais vezes do que parece, e o seriam sempre se você tivesse um pouco mais de virtude.
Conclusão
Em geral, negue à natureza o que ela pede sem necessidade. Saiba fazê-la dar o que nega sem razão. Seus progressos na virtude, disse o autor da Imitação de Cristo, serão proporcionais à violência que cometa contra si.
Dizia o santo Bispo de Genebra: “Há de se morrer a fim de que Deus viva em nós: porque é impossível chegar à união da alma com Deus por outro caminho, senão o da mortificação. Estas palavras: Há de se morrer! são duras, mas serão seguidas de uma grande doçura, porque não se morre a si mesmo sem se unir a Deus por essa morte”.
Quisera Deus que pudéssemos referir a nós com pleno direito as seguintes palavras de São Paulo: “Em todas as coisas sofremos a tribulação… Trazemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2Cor 4, 10).
[Nota da Permanência] Dentro das comemorações dos 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição (8 de dezembro de 1854), reproduzimos aqui um editorial da Revista Permanência (que eram escritos por Gustavo Corção). A espiritualidade mariana é sempre a mesma, católica, eterna. Já os desmandos e invenções dos modernistas estavam, naquela época, em sua fase de "destruições". Tudo o que era católico, tudo o que "cheirava a incenso", tudo o que era da Tradição, era simplesmente dilapidado, destruído, chutado, desprezado. Tábula rasa, era o lema dos progressistas. Depois virão outras fases que nos conduzirão à construção do monstro que hoje tenta nos devorar. Porque os modernistas instalados no Vaticano, quando toda a Tradição já estava destruída, construíram uma nova religião que tem uma carapaça pintada com "catolicismos", mas cujo conteúdo, tirado de Vaticano II, já não é mais católico. Este editorial pode parecer defasado na sua crítica aos progressistas, mas não é. O monstro cresceu mas é o mesmo daquela época. "Eis que o diabo, como um leão rugidor, vos cerca querendo vos devorar. Resisti-lhe fortes na Fé" (Ep. de S. Pedro)
As Origens
Historicamente, esta "devoção" propriamente dita foi precedida pela adoração: os primeiros adoradores de Jesus menino serão Maria, José, os pastores, Simeão e Ana, os magos etc, enquanto que dois Evangelistas -- Mateus cap. 1 e 2 e Lucas cap. 2 -- insistirão sobre esta infância.
Santa Catarina de Alexandria, São Jerônimo foram favorecidos por suas aparições: conhece-se também a familiaridade de Santo Antônio de Pádua com relação ao Divino Infante.
Santo Ambrósio insistirá sobre o vínculo pessoal do resgatado com o menino do presépio: "Sou eu que me aproveito dessas lágrimas de menino chorando".
Santo Agostinho retoma o tema do presépio, figura da Eucaristia, convidando os cristãos a meditar sobre o canto dos anjos em Belém.
São Leão, em suas pregações para o Natal e a Epifania, parece ser um dos primeiros a estabelecer um liame entre a infância de Jesus e o espírito de infância.
São Bernardo, que teria tido em sua juventude uma visão da Natividade, aproveitar-se-á de toda ocasião para celebrar, nas suas homilias, o Menino Jesus: ele trata com pormenores dos seus traços e lições: doçura, bondade, paciência, humildade, pobreza etc.
Na Itália, Francisco de Assis será uma das testemunhas mais ilustres desta devoção. São Boaventura, estendendo-se sobre os mistérios da Infância dá a respeito dela "uma interpretação alegórica que permite calcar sobre a infância de Cristo as atitudes de uma ascensão espiritual".
Desde os começos da ordem franciscana, místicos recebem seus favores: o Menino Jesus deixou-se tomar, levar, abraçar...
Nos séculos XIII e XIV os autores espirituais propõem obras populares baseadas nos relatos da Infância, e Meditações onde a Infância quer suscitar tanto fervor quanto a Paixão.
Santo Inácio, nos seus Exercícios espirituais, dará grande realce a este tema de meditação.
Desenvolvimento de uma Piedade Popular nos Séculos XV e XVI
Ela se manifesta por representações da Natividade, na Itália, e do Menino sozinho, principalmente nos países germânicos. Na Inglaterra, abre-se o colégio São Paulo sob a proteção de um "Menino Jesus docente", nos Paises Baixos, poemas e orações celebram, com muita ternura, "o meninozinho"
As Estatuetas do Menino Jesus
A piedade popular vai também se manifestar em torno desta forma de representação do Menino Jesus: algumas destas se revelarão miraculosas, elas ocuparão em breve um lugar privilegiado na devoção à Infância.
O Jesus-kind de Altenhohenhau, o de Fismoos na Áustria, o Bambino de Ara Coeli de Roma, são objeto de veneração popular.
Santa Teresa d´Ávila que propaga o uso das estatuetas, segurava nos seus braços uma representação do Menino Jesus.
O venerável Francisco do Menino Jesus (+ 1604), carmelita, recorria "em tudo que fazia ao Menino" representado por uma pequena estátua.
Evolução da Devoção no Século XVII
O cardeal de Bérulle (+ 1629) desempenhará um papel importante no desenvolvimento desta devoção.
Tendo encontrado na Espanha, entre os protagonistas da devoção, Francisco do Menino Jesus, é depois da introdução na França da reforma teresiana, que Bérulle fará da Infância do Verbo Encarnado um tema freqüente de seu ensinamento. A difusão de sua influência é assegurada pelos Carmelos e pelo Oratório.
Formadas por suas mães espanholas, as carmelitas francesas vão dar à devoção o seu impulso definitivo.
Em Paris, desde 1605, se possui uma estátua do Menino Jesus enviada pelo Geral das carmelitas da Espanha à bem-aventurada Ana de São Bartolomeu, favorecida com visões de Jesus Infante.
O carmelo de Beaune dará um impulso decisivo à devoção com Margarida do Santo Sacramento (1619-1648). Ela viverá em "familiaridade" com o Menino Jesus que se manifesta a ela sob os traços de um menino de alguns meses, enfaixado segundo o costume da época.
Ela recebe do "Pequeno Rei" a missão de atrair sobre o reino da França a proteção do Menino Jesus, honrando-o com uma nova devoção e cria para este fim, em 1636, uma Associação cujo impulso será favorecido pelas circunstâncias: país ameaçado pela invasão (1636), nascimento de Luís XIV (1638) considerada como uma graça nacional devida ao poder do Menino Jesus.
A irradiação da devoção de Beaune será multiplicada pelos Oratorianos, que criam uma confraria em Paris, rapidamente propagada no interior e da qual um dos mais ativos auxiliares será o Barão de Penty (+ 1649) que, tendo conhecido Margarida de Beaune, dará ao mosteiro a célebre estatueta do "Rei da Graça" que aí se continua a venerar hoje.
A doçura e a graça do "Pequeno Rei" de Beaune são particularmente comoventes.
Tipicamente carmelitana em suas origens, esta devoção, entretanto não foi monopolizada por esta Ordem.
Entre os Dominicanos distingue-se o nome de dezenas de religiosas que têm uma devoção especial ao Menino Jesus e várias dentre elas, na Espanha, Itália e França, serão favorecidas com aparições.
Entre as Visitadinas -- cujo fundador, São Francisco de Sales, encontrava no Menino do Presépio um modelo de vida religiosa -- Ana Margarida Clemente (+ 1661) estabelece uma associação idêntica a de Beaune.
As diretivas espirituais da congregação das Ursulinas francesas recomendarão a união ao Menino Jesus...
Falta-nos espaço para citar todos os religiosos e religiosas em cuja biografia se fala de uma particular devoção ao Menino Jesus, ou que foram favorecidos com suas aparições.
O Menino Jesus de Praga
Quando o protestantismo devastava a Europa, os príncipes que tinham traído a causa do Santo Império se coligavam contra Fernando II e ameaçavam particularmente Praga e a Boêmia católica, cujo príncipe eleitor calvinista, Frederico do Palatinado, se havia feito coroar como rei.
O Imperador Fernando II, já gravemente atacado pelos príncipes protestantes da Alemanha e da Suécia, obteve em 1620, do Papa Paulo V, o envio do Padre Domingos de Jesus Maria, terceiro Geral dos Carmelitas descalços, instalados em Roma desde 1620.
A 20 de junho de 1620, o padre chegava à Alemanha com outros dois carmelitas. Sua presença fez renascer a confiança e a esperança nos exércitos católicos que ele acompanhava e cuja vitória sobre os hereges ele predisse desde 20 de julho.
Ao visitar na Boêmia o castelo de Starkonitz, devastado pelos protestantes, o Padre Domingos aí descobriu na lama de um subterrâneo um quadro no qual a Virgem e todos os personagens -- salvo o Menino Jesus -- tinham tido os olhos furados pelos profanadores heréticos.
Ele fez o voto de restabelecer o culto desta imagem, que levava consigo no domingo, 8 de novembro de 1620, durante a batalha da Montanha Branca, onde as tropas calvinistas, apesar de sua superioridade esmagadora em número, foram dispersas e vencidas pelo exército católico.
Este quadro se conservou depois em Roma, na igreja de Santa Maria da Vitória.
Em reconhecimento por esta vitória, o Imperador, de acordo com seu aliado, o Duque Maximiliano da Baviera, fundou em 1622 os conventos de Viena e depois os de Praga e de Gratz.
Em Praga, o Imperador e o conselho municipal adquirem um antigo templo protestante e suas dependências, que ofereceram ao Padre Domingos para aí fundar o convento; a 8 de setembro de 1624, consagrada com o título de Nossa Senhora da Vitória, esta igreja iria tornar-se o centro da irradiação da devoção ao "Menino Jesus de Praga".
Doação da Estátua aos Carmelitas de Praga
A situação material era todavia difícil para os Carmelitas de Praga, reduzidos às esmolas dos benfeitores; para aliviá-la, o Padre João Luís da Assunção, Prior, penetrado da devoção carmelitana ao Menino Jesus, recebeu do Senhor a inspiração de lhe desenvolver o culto e ordenou ao seu imediato, o Padre Cipriano de Santa Maria, procurar uma estatueta do Menino Jesus que seria instalada no oratório.
É então que a princesa Polyxèna de Lobkowitz, que Fernando II havia feito recuperar a posse de seus bens confiscados pelos protestantes, oferece em 1628 uma estatueta do Menino Jesus ao Prior. Segundo a tradição, é a mãe de Polyxèna, Maria Manriquez de Lara, nascida princesa Pignatelli, que havia trazido esta estatueta miraculosa da Espanha e lha tinha ofertado como presente de núpcias.
De cera, com 48 centímetros de altura, ela representa o Menino Jesus de pé, com a mão direita levantada para abençoar e com a esquerda trazendo um globo. A expressão do rosto é de uma comovente doçura.
Ao remetê-la ao Prior, Polyxèna lhe disse: "Eu vos confio o que tenho de mais caro. Honrai esta imagem e de nada tereis falta." Em breve seguiram-se numerosos benefícios materiais para os Carmelitas de Praga; um dos quais, o Padre Cirilo da Mão-de-Deus, se tinha tornado apóstolo da devoção ao Menino Jesus.
Profanação e Esquecimento
Alguns anos após, a Boêmia tornou a ser o teatro da guerra, e os Carmelitas transferiram o noviciado para Munique; a devoção caiu no esquecimento e os Carmelitas foram oprimidos por provações.
Um exército protestante de 18.000 homens abateu-se sobre a Boêmia onde Praga, que não tinha senão 500 homens para se defender, recaiu sob o jugo dos hereges; 80 ministros protestantes instalaram-se nas igrejas e a de Santa Maria foi pilhada, a estatueta do Menino Jesus jogada entre os destroços, atrás do altar.
Todavia, em maio de 1632, Fernando II recrutou um novo exército que expulsou os saxões de Praga: os Carmelitas estabeleceram-se novamente em seu convento, mas ninguém se preocupou com a preciosa estátua.
Ao flagelo da guerra sucedeu o de uma terrível epidemia da qual o Padre Prior foi uma das vítimas, e a miséria reinava no Carmelo, enquanto que o inimigo de novo ameaçava Praga.
Reparação
Tal era a situação quando, em 1637, o Padre Cirilo foi chamado de volta a Praga. Ele encontrou a estatueta danificada, cujas mãos haviam desaparecido, e a expôs novamente no coro à veneração dos fiéis. O Menino Jesus, que tinha abandonado o convento enquanto era deixado no esquecimento, manifestou de novo o seu poder: o cerco de Praga foi levantado ao mesmo tempo que a comunidade dos Carmelitas se achava provida do mínimo necessário.
Ora, durante uma oração diante da estatueta mutilada, o Padre Cirilo ouviu distintamente estas palavras: "Tende piedade de mim e eu terei piedade de vós. Restitui-me as minhas mãos e eu vos restituirei a paz... quanto mais me honrardes, tanto mais eu vos favorecerei..."
Preocupado com reunir os fundos necessários à restauração da estatueta, Padre Cirilo se chocava com a indiferença de seu Prior até o momento em que o Menino Jesus lhe falou de novo: "Colocai-me à entrada da sacristia e encontrareis alguém que terá piedade de mim."
É então que um estrangeiro, Daniel Wolf, se apresentou e pediu aos Padres que lhe confiassem a estátua, que ele reparou às suas custas.
Seguiram-se várias peripécias verdadeiramente sobrenaturais: Daniel Wolf, que havia perdido a sua posição e a sua fortuna, recuperou uma e outra, e depois, atacado por uma grave doença, fez voto de mandar construir um altar para a estatueta e foi atendido com a sua cura.
Proteção Particular do Divino Infante
Por volta de 1642, ajudado por donativos e concursos providenciais, o Padre Cirilo viu chegar o momento de pedir ao seu Prior a construção, no recinto do mosteiro, de uma capela destinada ao Menino Jesus e cujo local precioso lhe havia sido indicado pela própria Santíssima Virgem.
A 14 de janeiro de 1644, na festa do Santo Nome de Jesus, o Prior celebrava aí a primeira Missa e a 3 de maio de 1648, o Cardeal Arcebispo de Praga a consagrava oficialmente.
A estátua miraculosa foi aí conservada até 1741: entrementes, a devoção popular tinha tomado um tal desenvolvimento que a capela se revelava demasiado pequena e, a 14 de janeiro de 1741, a estatueta foi instalada solenemente na própria igreja, à direita do altar central, no seu lugar atual.
Não nos é possível, no plano deste curto artigo, relatar mesmo sumariamente a longa crônica dos acontecimentos que se seguirão, caracterizada por uma alternância de favores particulares concedidos aos que conservaram esta devoção (seja a título individual: curas etc. ou coletivo: proteção de cidades por ocasião de conflitos ou epidemias) e de provações sofridas pelos que a abandonaram.
Declínio da Devoção em Praga no Fim do Século XVIII
Restauração da Igreja
O fiel que visita em 1993 a igreja de Santa Maria da Vitória se espanta por não ver aí mais que uma ou duas dezenas de ex-votos.
No fim do século passado, sob a influência das ordenações do Imperador da Alemanha José II -- o "déspota esclarecido" -- que quis reformar a igreja -- uma vaga de iconoclastia varreu das igrejas os quadros e imagens, enquanto que um grande número de casas religiosas e de conventos eram suspensos.
Em julho de 1794 os Carmelitas foram desapossados de Santa Maria da Vitória ao passo que os objetos de valor ou os ex-votos, que ornavam, foram confiscados, vendidos ou roubados.
A Igreja tornou-se paroquial, servida pelos sacerdotes da Ordem de Malta.
É em 1848 que ela foi restaurada, assim como o belíssimo altar do Menino Jesus que se vê hoje ali, na parte direita da nave.
Fazendo-lhe exatamente face, à direita da nave, se eleva o altar da Virgem, sobre o qual está colocado um quadro da Virgem em oração, ilustrado por um fato miraculoso.
Por ocasião de perturbações, um velho soldado deu um tiro de arcabuz neste quadro, que o projétil furou no lugar do coração de Nossa Senhora: o sangue correu então pelo orifício, para espanto do soldado sacrílego, do qual a tradição diz que foi imediatamente confessar-se e se converteu...
Ulteriormente, o religioso encarregado da igreja declarou: "Convém que a Mãe se torne a unir com o seu Filho" e fez instalar este quadro no seu lugar atual.
Até uma data recente, dois quadros colocados de uma parte e de outra representavam o episódio do velho soldado. Infelizmente, eles foram roubados.
Extensão da Devoção do Menino Jesus de Praga na Europa
Limitar-nos-emos a evocar rapidamente esta extensão na França, Bélgica e Itália.
Na França
O Carmelo de Meaux parece ter desempenhado um grande papel na propagação desta devoção na França: Madre Gertrudes de Jesus, sub-priora, recebeu em 1885 -- segundo a tradição oral do Carmelo -- o favor de ver andar na sua cela "um pequeno Jesus que não era como os outros".
Ela procurou por muito tempo uma imagem ou estátua representando o Menino com os traços com que Ele lhe tinha aparecido, até 31 de janeiro de 1886, quando descobriu o histórico do "Pequeno Grande" de Praga e aí reconheceu o "seu pequeno Jesus"...
A estátua tão desejada chegou a Meaux, presente anônimo, a 13 de abril de 1886, e foi solenemente erigida na capela exterior do mosteiro, a 13 de setembro de 1888, pelo Bispo da diocese.
Até a morte (1 de janeiro de 1905), a Madre Gertrudes de Jesus dedicou-se ativamente a promover o culto do "Divino Pequeno-Grande" na França e no mundo.
Na Bélgica
O Carmelo de Audenarde ter-se-ia adiantado a todos os outros: desde 1886 o Menino Jesus miraculoso de Praga tem um trono na capela e as religiosas distribuíram os primeiros santinhos e medalhas.
Em 1891, uma bruxelense, Gabriela Fontaine, inspirada por sua mãe, vai consagra sua existência ao que será sua profissão de fé: "levar a todos o conhecimento e o amor de Jesus Menino".
Mulher de fé e de energia, dotada de um senso particular de organização, seus esforços verão a sua coroação a 18 de outubro de 1906, na consagração da igreja do Santo Menino de Jesus, edificada por sua iniciativa, em Bruxelas.
No intervalo, G. Fontaine terá suscitado a criação da confraria da Santa Infância de Jesus, fundado uma revista, mandado fazer uma cópia da estatueta de Praga difundida em milhares de exemplares que se encontram em numerosíssimas igrejas e casas religiosas na França e alhures.
A igreja de Bruxelas foi, desde a origem, confiada à ordem dos Barnabitas e as centenas de "ex-voto" que ornam suas paredes testemunham as graças ali obtidas.
A julgar por estes testemunhos -- freqüentemente muito comoventes -- da devoção ao Menino Jesus , verifica-se que esta devoção tem nascimento no fim do último século [Santa Teresinha do Menino Jesus em particular teve uma devoção muito grande ao Menino Jesus], viu o seu apogeu entre 1905 e 1925, para estiolar-se logo em seguida.
Na Itália: O Santuário de Arenzano
Os Carmelitas descalços estabeleceram-se em Arenzano, pequena cidade situada a alguns quilômetros de Gênova, em 1889. Nesta época, o Santo Menino Jesus de Praga era quase desconhecido na Itália.
Em 1895, os Carmelitas de Milão obtém de seu Cardeal a permissão de introduzir em seu santuário uma estatueta do Menino Jesus de Praga.
Será o ponto de partida de uma devoção que se espalhará rapidamente pelo povo italiano, através dos Carmelos, favorecendo sempre o desenvolvimento da espiritualidade carmelitana.
Em 1900, o Prior de Arenzano instala um pequeno quadro representando o Menino na capela do seu convento e, desde o ano seguinte, em conseqüência das graças recebidas pelos fiéis que ali vinham rezar, a afluência surpreende os Padres que decidem substituir o quadro por uma estatueta.
A marquesa Delfina Gavotti de Savona lhes oferece então uma cópia do original de Praga, a qual será substituída pela estátua (de madeira, um pouco maior que o original, mas que é sua exata reprodução) atualmente venerada.
A afluência aumenta -- assim como as graças obtidas, confirmando a promessa feita ao Padre Cirilo: "Tanto mais vós me honrardes, tanto mais eu vos favorecerei" -- e, patenteando-se demasiado pequena a capela, decidiu-se a construção de um santuário.
A primeira pedra da imponente basílica será posta a 16 de outubro de 1904 e a benção solene do edifício realizar-se-á quatro anos mais tarde. O local sobre o qual ele está construído torna esta visita particularmente atraente.
Uma confraria do Santo Menino Jesus de Praga, chamada "pia união", foi ali erigida: conta com um grande número de adeptos e publica um periódico.
A festa principal de Arenzano se realiza no primeiro domingo de setembro, aniversário da abertura do santuário.
Conclusão
A história desta devoção, cujas linhas gerais acabamos de traçar, mostra que ela é ao mesmo tempo teologicamente fundada, uma prática antiga e sobrenaturalmente fecunda.
Fecunda: insistiremos neste ponto. Como todas as orações de petição, as preces endereçadas ao Menino Jesus não obtém sempre -- na aparência e literalmente -- as graças pedidas.
Mas nossa curta vista nos dissimula freqüentemente esta realidade: Deus -- e aqui o Menino Jesus -- sabe melhor do que nós o que nos é necessário... E quantas vezes a alma, a princípio decepcionada, e até entristecida por não ter obtido a graça, a cura, o favor pedido, descobre com o tempo que, enfim, ela recebeu muito mais!
No caso particular da devoção e do recurso ao Menino Jesus serão os frutos do "espírito de infância": doçura, paciência, humildade, esquecimento de si...
Resta dizer que, se o Menino Jesus ainda é honrado em algumas casas religiosas e famílias, o é por exceção: é forçoso verificar que esta devoção é praticamente ignorada do maior número de católicos, mesmo os mais fiéis...
Basta visitar as capelas de Bruxelas, de Beaune ou de Praga -- quase permanentemente desertas -- para se dar conta disso! Mas retorquir-nos-ão, não acontece o mesmo com a maior parte das nossas igrejas onde, aí sim, a Presença Eucarística é bem Real?
Certamente. Mas se esta Presença é igualmente Real no tabernáculo de cada um de seus santuários, o coração de um cristão se ressente mais afetivamente desta solidão quando ela se manifesta -- além disso -- em torno da comovedora imagem do Menino Deus -- seja a da criancinha enfaixada de Beaune ou a do "Pequeno-Grande" de Praga...
Os que tiveram a graça de conduzir seus filhos ou netos a um destes santuários e de observar as reações deles, compreenderão melhor o que quereríamos dizer aqui.
Assim convém favorecer novamente esta devoção em nossas famílias, lembrando-nos da promessa do Menino Jesus: "Quanto mais me honrardes, tanto mais vos favorecerei".
(Revista SIM SIM NÃO NÃO n° 2 ― Fevereiro de 1993)
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A SEMANA SANTA
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Enquanto a vida segue seu rumo, e uma aparência de normalidade retoma seu lugar no dia a dia dos homens, os bastidores da Igreja se agitam, paira no ar um perfume de mistério e de sublimidade.
Objetos são consertados, outros pintados, lustrados, verificados. Rapazes cuidam da liturgia, o coro ensaia com insistência e perseverança. Tudo deve estar pronto em poucas semanas, porque o Esposo há de chegar no meio da noite, ouviremos o grito: "saiam com vossas lâmpadas acesas para receber o Senhor para as bodas".
Não queremos ser contados no número daquelas virgens loucas, negligentes a ponto de não levarem o azeite juntamente com as lamparinas. Ao contrário, queremos o cortejo, almejamos nosso lugar na fila, a honra de acompanhar Nosso Senhor nos passos de sua Paixão. Em pouco tempo estaremos às portas da Semana Santa, no centro da vida litúrgica da Igreja. Após as rudes semanas de jejum e penitência que formam a Quaresma, é justo que Nosso Senhor se incline sobre as almas com suas mãos carregadas de graças e presentes espirituais. Leia mais
RETIRO ESPIRITUAL
DE SANTO INÁCIO
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QUINTA-FEIRA 4 DE FEVEREIRO
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Em 5 dias, no silêncio e na meditação, o fiel alcança um maior conhecimento de si mesmo, base necessária para a conversão diária e para a dilatação da Caridade. A obra dos Retiros espirituais é uma das armas mais eficazes contra os erros modernos e a perda das almas.
Estamos numa situação muito difícil. A corrupção causada pelo mundo moderno chegou a tal ponto que as pessoas vivem sem vida sobrenatural, achando que estão no caminho da salvação. Não percebem mais o quanto estão mergulhadas em seus defeitos dominantes, sem um padre para lhes orientar ou, quando têm o padre, não aceitam ir muito longe nas descobertas das sombras que obscurecem a alma e a luz do Evangelho em nós.
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Local: Priorado de Santa Maria
O retiro será pregado pelo Pe. Luiz Cláudio Camargo e pelo Pe. Alejandro Rivero.
Mais informações: (55) 3028-3896
"Assim como passear, caminhar ou correr são exercícios corporais, também se chamam Exercícios Espirituais os diferentes modos da pessoa se preparar e se dispor a tirar de si todas as afeições desordenadas para encontrar a Vontade de Deus, dispondo sua vida para a salvação de sua alma". (Sto Inácio)
Pe. José Maria Mestre
Celebramos hoje a festa da Imaculada Conceição, ou seja, o privilégio que a Virgem Maria recebe, no momento mesmo de sua concepção no seio de sua mãe, Santa Ana, de ver-se livre do pecado original. Este dogma celebra, pois, a primeira vitória total contra o pecado, porque significa isenção de todo o poderio do pecado e do demônio sobre a alma bem-aventurada de Maria; vitória de Cristo, único Salvador do gênero humano, pois a Imaculada Conceição foi concedida a Maria em vista dos méritos de Cristo em sua Paixão e morte.
Gostaria de considerar, por ocasião desta festa, dois pontos: em primeiro lugar, o aspecto combativo e atual deste dogma; em segundo, como, por este dogma, se nos revela o grandioso plano de Deus de redimir o gênero humano por um Homem e uma Mulher.
1º Aspecto combativo e atual da Imaculada Conceição.
Em 1917, a Maçonaria celebrou em Roma seu segundo centenário. Por todas as partes, apareceram bandeiras e cartazes que representavam o Arcanjo São Miguel vencido e derrubado por Lúcifer; e, na mesma praça S. Pedro, podia-se escutar o seguinte slogan: « Satanás reinará no Vaticano, e o Papa tomará parte em seu corpo de guarda! ».
O irmão Maximiliano Kolbe, franciscano conventual polaco, era então estudante de teologia na Gregoriana de Roma. Ante essas demonstrações de audácia do inimigo, pergunta-se: « Por que os católicos tem de ser tão pusilânimes na defesa de sua fé, enquanto os inimigos são tão audazes em atacá-la? Não possuímos nós armas mais eficazes que eles, o Céu e a Imaculada?» E meditando nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres, inspirando-se nos escritos dos santos marianos, especialmente São Luís Maria de Montfort; considerando o dogma da Imaculada e as aparições de Nossa Senhora de Lurdes, e a extensão prática de todas estas verdades, chega a esta conclusão: « A Virgem Imaculada, vitoriosa contra todas as heresias, não cederá ante seu inimigo que levanta a cabeça; se encontrar servidores fiéis, dóceis às suas ordens, logrará novas vitórias, muito maiores do que poderíamos imaginar... ».
E funda assim, em 16 de outubro de 1917, três dias apenas após o milagre de Fátima, a Milícia da Imaculada. O emblema desta nova milícia será a Medalha Milagrosa. Sua exigência, a consagração total à Imaculada Mãe de Deus, para viver praticamente esta consagração. Seu fim, arrancar as massas das garras de Satanás e pedir à Imaculada a conversão dos inimigos da Igreja, especialmente os mações.
Se São Maximiliano Kolbe dá a sua Milícia o nome de Milícia da Imaculada, é também, e é preciso sabê-lo, porque a definição do dogma da Imaculada Conceição, em 1854, por Pio IX, apresenta um aspecto combativo que os inimigos da Igreja souberam discernir em seguida, e que nós não devemos esquecer. Com efeito, em 1854, estão em plena circulação todos os princípios do Contrato Social de Rousseau, que iriam levar ao estabelecimento universal desta grande mentira que é a democracia e os direitos humanos. Qual é o cimento de todas estas fábulas, de todas estas mentiras em que, de tão boa fé, crê o homem moderno? Um só: o dogma da imaculada conceição... do gênero humano. Postula-se que o homem é bom por natureza, que o homem nasce bom e que é a sociedade quem o corrompe. Sem este postulado latente, todo o sistema social revolucionário cai.
Ora, Pio IX, com sua definição dogmática, o põe por terra. Pois, ao definir a Imaculada Conceição de Maria, não faz senão assentar o seguinte: a imunidade do pecado original, longe de ser uma lei geral, válida para todos os homens, é, ao contrário, o privilégio único e exclusivo de uma única criatura, que é a Santíssima Virgem Maria. E que, portanto, para os demais homens, segue vigente o pecado original, com todas as conseqüências que ele implica: a necessidade de um Redentor, a que devem submeter-se todos os homens; a necessidade da autoridade, da graça, dos sacramentos, da Igreja, da educação, da família e da necessidade, enfim, da ordem social cristã, concebida e construída especialmente para curar os homens que nascem sob o pecado original... A necessidade, pois, de tudo o que pretendiam negar os revolucionários.
2º O plano de Deus na economia da Redenção.
Mas, se nos aprofundarmos um pouco, veremos que o dogma da Imaculada Conceição, especialmente comemorado no Advento, no começo da celebração dos mistérios de Cristo, revela o plano de Deus na obra de nossa Redenção. Com efeito, nos mostra, antes de Cristo, o Novo Adão, Maria, em toda a plenitude de sua santidade, como Nova Eva. A cena do Evangelho é, a este propósito, muito sugestiva.
Deus quis que o gênero humano fosse propagado segundo a carne por um homem e uma mulher. Também quis que, na ordem sobrenatural, fosse restaurado por um Homem e uma Mulher.
Ou seja, a obra da Redenção é concebida ao modo de uma vingança divina, como no-lo ensinam unanimemente os Santos Padres.
O plano de Satanás foi o de perder o homem e, como ele, toda sua descendência, através da mulher, escudando-se nela, dissimulando-se por trás dela. Eva teve, assim, na ordem da queda, um papel de introdução, de preparação e de colaboração.
O plano de Deus será o de salvar a humanidade através de um Homem, um Novo Adão, mas com a colaboração de uma Mulher, uma Nova Eva. O Novo Adão é Cristo, a Nova Eva, Maria. Maria tem, assim, na ordem da redenção e por vontade divina, um papel de introdução (encarnação), preparação (Caná) e de colaboração (em todos mistérios de Cristo, mas especialmente, no Calvário).
Para cumprir de modo conveniente esta missão, que era de luta e vitória contra o diabo, era preciso que Maria não tivesse parte alguma com ele, que fosse Imaculada: Imaculada para ser digna Mãe do Redentor; Imaculada para poder ser a Corredentora do gênero humano; Imaculada para ser, em toda a linha, associada à obra de santificação do Redentor.
Conclusão.
Assim o vemos. O dogma da Imaculada Conceição nos mostra, ainda que em esboço e preparação, a Santíssima Virgem totalmente entretida com a obra da Redenção, da qual Ela mesma é o primeiro fruto, e o mais bem acabado. E, portanto, nos mostra a Santíssima Virgem totalmente entretida com a Igreja Católica, com a nossa própria vida espiritual, com a de nossas famílias e sociedades.
Deus guardou o bom vinho para o final. A visão grandiosa do papel de Maria e a intervenção extraordinária da Virgem Santíssima na obra da Redenção, que há de se fazer muito mais visível no final dos tempos, é uma graça que Deus reservou para o fim, para o momento em que a Igreja, como o grão de mostarda, tenha já crescido muitíssimo e, com ela, o conhecimento, o amor, a honra e o serviço à Santíssima Mãe de Deus.
Por isso, ofereçamo-nos hoje à Santíssima Virgem, entreguemo-nos totalmente a Ela. Vivemos em tempos muito perigosos, tempos em que o demônio anda totalmente à solta; mas esses tempos também hão de ser, e forçosamente o serão, tempos da Imaculada que esmaga a cabeça do demônio. E também nós somos chamados a tomar parte na inimizade da Mulher contra a Serpente, e de sua vitória contra o demônio: à condição, no entanto, de sermos, plena e voluntariamente, descendência de Maria.
Na festa da Imaculada Conceição de Maria, 8 de dezembro
Parece difícil o rude combate pela fé? Quantos descobrem a verdade, recebem a graça de ver os graves erros de Vaticano II e, depois, não têm coragem ou forças para perseverar no bom combate. O que lhes falta? Eles estudam, passam horas na internet em bate-papos e leituras, mas mesmo assim, fraquejam. Falta-lhes talvez o essencial: vida de oração e fé, no sentido de levar sempre nossos pensamentos e nossas conclusões para as causas sobrenaturais da Revelação e da Santa Igreja. Ora, a Virgem Maria veio nos ensinar o caminho da última batalha pela conquista do céu. A devoção ao Imaculado Coração de Maria é a Cruzada dos últimos tempos. Comecemos logo, e o mais simples de tudo, é a prática da devoção aos 5 primeiros sábados do mês(Nota da Permanência).
Preâmbulo
Os dois pedidos de 13 de julho de 1917.
A 13 de junho de 1917, a Santíssima Virgem disse à Lúcia: “Jesus quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”. Depois os três pastorzinhos viram Nossa Senhora tendo em sua mão direita um coração cercado de espinhos. Compreenderam que era o Coração Imaculado de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que pedia reparação.
No dia 13 de julho, a rainha do céu repetiu as mesmas palavras e as esclareceu fazendo dois pedidos concretos e precisos: “Se fizerem o que vou vos dizer, muitas almas serão salvas e haverá paz. [...] Voltarei para pedir a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado e a devoção reparadora dos primeiros sábados (do mês).”
De fato, Nossa Senhora realizou perfeitamente sua promessa:
- Ela veio pedir expressamente a consagração da Rússia à irmã Lúcia, em Tuy, na Espanha, em 13 de junho de 1929:
É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena pelos pecados contra mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora.
- Quanto à devoção reparadora dos primeiros sábados do mês, Nossa Senhora veio explicar à Lúcia, no dia 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra na Espanha, onde a vidente era jovem postulante à vida religiosa, nas irmãs dorotéias. Em dezembro de 1927, irmã Lúcia, por ordem de seu confessor, escreveu um relatório dessa aparição, mas por humildade, escreveu este texto na terceira pessoa:
Dia 10 de dezembro de 1925, apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A Santíssima Virgem pondo-lhe no ombro a mão, mostrou-lhe ao mesmo tempo um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. Ao mesmo tempo disse o Menino: “Tem pena do Coração de tua Santíssima Mãe que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar”. Em seguida, disse a Santíssima Virgem: Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.”
Notemos que se o ato de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria depende diretamente da boa vontade da autoridade hierárquica da Igreja (papa e bispos), a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês foi pedida a todos os católicos. Desta prática depende a salvação de muitas almas e mesmo a paz do mundo. Daí a importância de todo aquele que é batizado, saber exatamente em que ela consiste.
Mas antes, vejamos como a divina Providência preparou as almas para receber esta devoção.
Premissas de uma devoção
Nossa Senhora, quando pediu à irmã Lúcia, em 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, a prática da devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês, não estava inovando: este pedido celeste aparece como o apogeu de um movimento de piedade nascido muito tempo antes e encorajado pela Santa Sé desde de 1889.
Sábado, dia consagrado especialmente à Santíssima Virgem
Esta tradição imemorável data, com toda certeza, dos primeiros séculos da Igreja: a presença da Missa de Nossa Senhora nos Sábados, no missal romano de São Pio V, de 1570, mostra a antigüidade desta prática que consiste em honrar especialmente a Santa Mãe de Deus nesse dia da semana, depois de ter consagrado o dia da sexta feira para comemorar a paixão de Nosso Senhor e os sofrimentos de seu Sagrado Coração.
Foi apoiando-se nesta piedosa tradição que os membros das Confrarias do Rosário habituaram-se a consagrar especialmente à Nossa Senhora, quinze sábados consecutivos de cada ano litúrgico: durante esses quinze sábados, eles se aproximavam dos sacramentos e cumpriam exercícios de piedade particulares em honra dos quinze mistérios do santo rosário. Em 1889, o papa Leão XIII concedeu a todos os fiéis uma indulgência plenária a ser ganha durante um desses quinze sábados.
O primeiro sábado do mês
Foi com o grande papa São Pio X que a devoção dos primeiros sábados do mês foi aprovada e encorajada por Roma.. Em 10 de julho de 1905, ele indulgenciou pela primeira vez esta devoção:
“Todos os fiéis que, no primeiro sábado ou primeiro domingo de doze meses consecutivos, consagrarem algum tempo com a oração vocal ou mental em honra da Virgem Imaculada em sua Conceição ganham, cada um desses dias, uma indulgência plenária. – Condições: confissão, comunhão e oração nas intenções do soberano pontífice”.
A devoção reparadora dos primeiros sábados do mês.
Em 13 de junho de 1912, São Pio X concedia novas indulgências à devoção dos primeiros sábados do mês, insistindo muito na intenção reparadora com a qual esta devoção devia ser praticada:
“A fim de promover a devoção dos fiéis para a gloriosa e imaculada Mãe de Deus, e para favorecer o piedoso desejo de reparação dos fiéis (et ad fovendum pium reparationis desiderium) diante das blasfêmias execráveis proferidas contra o seu augusto nome e as celestes prerrogativas desta mesma bem-aventurada Virgem, Pio X, papa pela divina Providência, dignou-se conceder uma indulgência plenária, aplicável às almas dos defuntos, no primeiro sábado de cada mês, por todos aqueles que, nesse dia, se confessarem, comungarem, cumprirem exercícios particulares de devoção em honra da bem-aventurada Virgem Maria, em espírito de reparação como indicado acima (in spiritu reparationis, ut supra) e rezarem nas intenções do soberano pontífice.
Notemos a providencial coincidência das datas: 13 de junho de 1912, são cinco anos, dia por dia antes da segunda aparição de Nossa Senhora em Fátima, durante a qual os três pastorinhos testemunharam a primeira grande manifestação do Imaculado Coração de Maria vendo-o “cercado de espinhos que pareciam enterrados nele”. “Compreendemos, escreveu Lúcia sobre isto em 1941, na sua quarta Memória, que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação”.
Os termos empregados por São Pio X anunciam quase exatamente os termos do pedido de Nossa Senhora em Pontevedra, em 1925: nos dois casos, é sublinhada a extrêma importância da intenção reparadora, única capaz de afastar e apaziguar a cólera de Deus.
Em Fátima e em Pontevedra, Nossa Senhora não é, pois, inovadora: ela veio dar a ratificação do Céu e um novo impulso a um movimento de piedade mariano enraizado na mais pura tradição católica, para encorajar a todos nós, a participarmos dele.
A intenção reparadora, chave desta devoção.
Respondamos, primeiramente, a uma objeção que muitas vezes escutamos da parte de pessoas pouco esclarecidas no domínio da fé. Essas pessoas contestam esta devoção afirmando que ela se opõe à perseverança na vida cristã: com efeito, dizem, bastaria praticar uma só vez na vida a devoção reparadora para ter assegurado sua salvação eterna; depois, as almas poderiam fazer o que quisessem, deixar a prática religiosa e cair nos piores pecados, pois estariam de qualquer maneira salvos para a eternidade! É fácil refutar esta objeção: uma alma que cumprir a devoção reparadora com tal espírito não obteria a graça da perseverança final, ligada por Nossa Senhora a esta prática, já que ela não a faria com reta intenção (condição indispensável a todos nossos atos religiosos e de devoção, para receber as bênçãos e graças de Deus) nem com o cuidado de reparar e consolar o Coração de Maria! Tal prática equivaleria, ao contrário, em abusar gravemente da misericórdia de Deus, utilizando a promessa da salvação eterna feita por Nossa Senhora para legitimar todos os pecados que fossem cometidos em seguida; isto é o pecado de presunção de sua salvação que é um dos sete pecados contra o Espírito Santo!
Reparar pelos pecadores.
As almas que querem praticar a devoção dos primeiros sábados do mês conforme a vontade do Céu, devem fazê-la na intenção geral de reparar e consolar Nossa Senhora, em substituição dos pobres pecadores que ultrajam e blasfemam contra ela: trata-se, por caridade fraterna, de “implorar o perdão e a misericórdia em favor das almas que blasfemam contra Nossa Senhora porque, a essas almas, a misericórdia divina não perdoa sem reparação”. Foi isso que afirmou Nosso Senhor a Lúcia em 29 de maio de 1930, depois de ter revelado as cinco espécies de ofensas e de blasfêmias que se trata de reparar (infra):
“Eis, minha filha, porque motivo o Imaculado Coração de Maria me inspirou para pedir esta pequena reparação e em consideração a ela, comover minha misericórdia para perdoar às almas que tiveram a infelicidade de ofendê-lo. Quanto a ti, procure sem cessar, por tuas orações e teus sacrifícios, comover minha misericórdia em relação às pobres almas.”
Esta intenção reparadora, movida pela caridade fraterna, deveria nos dar um grande zelo para cumprir a devoção dos primeiros sábados não apenas cinco vezes em nossa vida, para assegurar a salvação pessoal, mas cada primeiro sábado, a fim de permitir a salvação eterna do maior número possível de pecadores. Porque aí está um dos grandes objetivos da devoção reparadora ao Imaculado Coração de Maria: “salvar almas, muitas almas, todas as almas”.
Ora, o conjunto de acontecimentos sobrenaturais de Fátima, Pontevedra e Tuy nos mostra claramente e repetidas vezes, que são muitas as almas condenadas à eternidade:
- A 13 de julho de 1917, os três pastorinhos têm a visão do inferno, que está longe de ser um lugar vazio:
- A 19 de agosto de 1917, no fim da aparição, Nossa Senhora diz aos três videntes:
Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores; que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.
- A 13 de junho de 1929, na aparição de Tuy, Nossa Senhora concluiu a teofania trinitária com a qual Lúcia foi gratificada, por essas terríveis e surpreendentes palavras:
São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra mim cometidos que venho pedir reparação. Sacrifica-te por esta intenção e reza.
Irmã Lúcia sempre afirmou que o número de almas danadas era muito grande. Ela conclui assim sua carta para um jovem, tentado a abandonar o seminário: “Não se surpreenda se falo tanto do inferno. Esta é uma verdade que é necessária lembrar muito nos tempos presentes, porque é esquecida: é um turbilhão de almas que caem no inferno. Então, o senhor não acha que são bem empregados todos os sacrifícios que é preciso fazer para não ir para lá e para impedir que muitos outros caiam lá?”. E ao Padre Lombardi que, em outubro de 1953, a interrogou sobre o inferno, ela respondeu: “Padre, numerosos são aqueles que são condenados.[...] Padre, muitos, muitos se perderão.”
Obter a conversão de um pecador
É também louvável e frutífero praticar esta devoção para obter a conversão desse ou daquele grande pecador de nossas relações. A carta da irmã Lúcia ao bispo titular de Gurza, de 27 de maio de 1943, já citada, esclarece muito bem sobre o poder e eficácia sobrenatural da devoção aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria:
“Os Santíssimos corações de Jesus e Maria amam e desejam este culto [para com o Coração de Maria] porque dele se servem para atrair todas as almas a eles e isto é tudo o que desejam: salvar as almas, muitas almas, todas as almas”. Nosso Senhor me dizia, há alguns dias: “Desejo ardentemente a propagação do culto e da devoção ao Coração de Maria porque este Coração é o ímã que atrai as almas para mim, a fornalha que irradia na terra os raios de minha luz e de meu amor, fonte inesgotável de onde brota na terra a água viva de minha misericórdia”.
Pondo toda sua confiança no Imaculado Coração de Maria, muitos católicos portugueses praticaram a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados em favor de um próximo, grande pecador e bem afastado da vida cristã. Entre outros, este belo testemunho de uma senhora de Guimarães (norte de Portugal), publicado no boletim de agosto de 2001 da Cruzada Eucarística das crianças de Portugal: esta mulher conta que ela tinha um irmão repatriado de Moçambique, que era um revoltado e um blasfemador. Tinha abandonado a esposa legítima para viver com outra mulher, da qual tinha dois filhos. Para obter do Imaculado Coração de Maria a sua conversão, sua irmã fez por ele e em seu lugar, a devoção dos cinco primeiros sábados do mês:
“No começo de agosto de 1981, meu irmão estava muito mal. Quando lhe perguntaram se queria ver um padre, proferiu blasfêmias contra os padres. Como a doença se agravava, deu entrada em um hospital de Braga. Os outros doentes diziam que ele não tinha um momento de repouso, nem de dia, nem de noite e que não deixava ninguém em paz. Para grande estupefação de todos, em 18 de agosto de 1981, pediu várias vezes um padre. Dois padres vieram administrar os últimos sacramentos. Imediatamente depois que eles saíram inclinou a cabeça para o lado e morreu. Sem dúvida, foi o Coração Imaculado de Maria que salvou meu pobre irmão, que fora tão pecador. Não queria olhar para ele depois de morto, temendo ver seu rosto deformado como o tinha durante sua doença. Mas não pude resistir e me aproximei durante a missa, que teve lugar na capela do hospital. Ele não parecia o mesmo homem! Estava tão bonito, sorridente. Parecia que sua amargura se transformara em alegria”.
O que é preciso fazer
Uma alma cristã que deseje realizar perfeitamente a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês deve fazer, durante cinco primeiros sábados consecutivos, na intenção geral de reparar seus próprios pecados e os de toda a humanidade, junto ao Coração Imaculado de Maria, quatro atos diferentes de piedade:
1 - A confissão, que pode ser antecipada, até mesmo mais de oito dias, se for impossível ou muito difícil se confessar no primeiro sábado. O mais importante é ter a intenção, se confessando, de reparar o Coração Imaculado de Maria. (É preciso também, naturalmente, estar em estado de graça no primeiro sábado do mês a fim de fazer uma boa e frutífera comunhão.) A intenção reparadora deve ser dita ao confessor? Irmã Lúcia nunca mencionou se é preciso dizer alguma coisa ao padre. Uma formulação interior, puramente mental, é suficiente. Nosso Senhor até mesmo acrescentou que aqueles que esquecessem de formular a intenção reparadora “poderão formulá-la na confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem para se confessar.”
2 – Recitação do terço: Nossa Senhora, em Fátima, insistiu muito na recitação quotidiana do terço. Foi esse o único pedido que ela repetiu para as crianças em todas as seis aparições, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917: nesse dia revelou aos pastorinhos sua identidade: “Sou Nossa Senhora do Rosário”. Não é, pois, de espantar que a recitação do rosário seja encontrada na devoção reparadora dos primeiros sábados . Além disso, como não existe oração vocal mais mariana do que o terço, convém que este seja integrado a essa devoção já que se trata de reparar as ofensas feitas à Nossa Senhora e a seu Coração Imaculado.
3 – Os 15 minutos de meditação sobre os 15 mistérios do rosário: Trata-se de “fazer companhia a Nossa Senhora durante15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do rosário, em espírito de reparação”. Isto não quer dizer que se deva meditar todo primeiro sábado sobre os 15 mistérios em sua totalidade, passando um minuto em cada mistério. Ao contrário, cada alma está livre para organizar seu quarto de hora de meditação como entender, desde que o objeto da meditação seja os mistérios do rosário. Algumas almas preferirão meditar o mesmo mistério durante vários primeiros sábados, outras um mistério diferente cada primeiro sábado, outras ainda três mistérios cada primeiro sábado (cinco minutos por mistério), etc. Sendo as almas diferentes umas das outras, é normal que tenham gostos e necessidades espirituais diferentes; é por isso que a Igreja sempre teve o cuidado de deixar aos fiéis uma grande amplidão para cada um organizar sua vida espiritual.
4 – A comunhão, que é o ato essencial da devoção reparadora. Para compreender bem toda sua importância, convém colocá-la em paralelo com a comunhão das nove primeiras sextas-feiras do mês, pedidas pelo Sagrado Coração em Paray-le-Monial e com a comunhão milagrosa dos três pastorinhos de Fátima, no outono de 1916: o Anjo da Guarda de Portugal deu então a esta comunhão um espírito eminentemente reparador, repetindo seis vezes com as crianças (três vezes antes da comunhão e três vezes depois) as palavras que são chamadas a segunda oração do Anjo:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”
No contexto da atual crise da Igreja é certo que esta intenção reparadora toma uma nova dimensão: quantas irreverências, sacrilégios são causadas pela reforma litúrgica de Paulo VI: não apenas pela comunhão dada na mão, como também distribuída a todos os assistentes sem nunca lembrar a necessidade do estado de graça; pela supressão das marcas de adoração ao Santíssimo Sacramento, etc. Hoje, a comunhão dos primeiros sábados deve ser feita para reparar todas essas profanações.
É pois, aos padres, e não à consciência individual de cada um, que Jesus confia o cuidado de conceder esta facilidade suplementar, tão misericordiosa. Por essa concessão, talvez Nosso Senhor fizesse alusão a estes tempos em que estamos, onde não é sempre fácil aos fiéis assistir à verdadeira missa no sábado. Em todo caso, esta disposição torna mais fácil a prática da comunhão reparadora para os católicos fiéis de hoje.
Disposições requeridas
É muito simples praticar a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês. Está ao alcance de toda alma que põe um mínimo de generosidade na base de sua vida cristã, ainda mais que o Céu deu uma grande amplidão para a confissão e a comunhão. Infelizmente, muitas vezes, a ignorância, a moleza espiritual e a negligência se conjugam para afastar as almas, mesmo as mais fiéis, desta prática que, no entanto, é tão salutar, já que Nossa Senhora a ligou à perseverança final e à salvação eterna: “Prometo assisti-las na hora da morte com todas as graças necessárias à sua salvação.”
A desproporção entre a pequena devoção pedida (os primeiros sábados de cinco meses consecutivos, uma só vez na vida!) e a graça prometida (a salvação eterna de sua alma) ilustra de maneira estrondosa o grande poder de intercessão concedido à Virgem Maria para a salvação de nossas almas: Nossa Senhora é verdadeiramente, em virtude de sua maternidade divina, nossa advogada e nossa medianeira junto ao coração de Deus. Padre Alonso, claretiano espanhol que foi o grande especialista de Fátima até sua morte em 1982, escreveu sobre este assunto:
“A grande promessa [da salvação eterna] não é nada mais do que uma nova manifestação deste amor de complacência da Santíssima Trindade para com a Virgem Maria. Para aquele que compreende isto é fácil admitir que a humildes práticas estejam ligadas maravilhosas promessas. Ele se entrega então filialmente à elas com um coração simples e confiante na Virgem Maria.”
Em algumas linhas o Padre Alonso nos desvenda algumas boas disposições necessárias para fazer bem esta devoção:
- uma grande simplicidade e humildade de coração;
- uma devoção marial inteiramente filial e cheia de confiança.
O Menino Jesus, aparecendo à irmã Lúcia em 15 de fevereiro de 1926, nos dá a terceira disposição necessária:
- um fervor profundo.
Com efeito, nesse dia, irmã Lúcia dirigiu estas palavras ao Menino Jesus:
“Mas meu confessor dizia em sua carta que esta devoção não fazia falta ao mundo porque já havia muitas almas que vos recebia todo primeiro sábado, em honra de Nossa Senhora e dos quinze mistérios do rosário”.
O Menino Jesus lhe respondeu:
“É verdade, minha filha, que muitas almas começam, mas poucas vão até o fim; e aquelas que perseveram, não fazem para receber as graças que estão prometidas. As almas que fazem os cinco primeiros sábados com fervor e com o fim de reparar o Coração de tua Mãe do Céu me agradam mais do que aquelas que fazem quinze, sem ardor e indiferentes”.
Para falar agora da quarta disposição requerida para esta prática é preciso lembrar que o Céu nos pede cinco primeiros sábados de cinco meses consecutivos, e não nove, doze ou quinze. Porque este número? Lúcia perguntou a Nosso Senhor durante uma Hora Santa, em 29 de maio de 1930, em Tuy, e lhe foi respondido:
“Minha filha, o motivo é simples. Há cinco espécies de ofensas e de blasfêmias proferidas contra o Coração Imaculado de Maria:
1 – as blasfêmias contra a imaculada conceição da Virgem Maria;
2 – as blasfêmias contra sua virgindade;
3 – as blasfêmias contra sua maternidade divina, recusando ao mesmo tempo reconhecê-la como mãe dos homens;
4 – as blasfêmias daqueles que procuram publicamente por no coração das crianças a indiferença ou o desprezo, ou mesmo o ódio em relação a esta Mãe imaculada;
5 – as ofensas dos que a ultrajem diretamente nas suas santas imagens.
Ai está, minha filha, o motivo pelo qual o Coração Imaculado de Maria me inspirou para pedir esta pequena reparação”.
Como, hoje em dia, não pensar nos ataques à dignidade, aos privilégios, às honras devidas à Virgem Maria, perpetradas pelos próprios homens da Igreja? Lembremos o que se passou no concilio Vaticano II, onde, longe de definir a mediação universal e a corredenção de Nossa Senhora, como muitos pediam, os bispos progressistas conseguiram fazer rejeitar o esquema sobre a Virgem Maria para pô-lo como simples anexo no esquema sobre a Igreja e isto para agradar aos protestantes; triste concílio, onde nem mesmo um só texto cita o terço como devoção a ser encorajado junto aos fiéis. Seguiu-se uma diminuição considerável do culto mariano em toda a Igreja. A impiedade da nova religião para com Nossa Senhora é certamente para ser incluída na intenção reparadora daqueles que praticam a devoção dos primeiros sábados.
Notemos que as três primeiras espécies de blasfêmias que se trata de reparar vão contra três dogmas de fé definidos. Pode-se então acrescentar uma quarta disposição às três já citadas:
- convém fazer esta devoção reparadora com espírito de fé e para pedir a Nossa Senhora a insigne graça de conservar a verdadeira fé católica em nossas almas, até a hora da nossa morte, no meio da apostasia geral do mundo que nos cerca, nutrido por utopias malsãs, de revoltas e de impiedade.
Tomemos a peito reparar a honra de Nossa Senhora, tão ultrajada pela ingratidão dos homens e para isso utilizemos a devoção que ela mesmo veio nos indicar, pedindo-lhe com insistência e perseverança as boas disposições de alma para bem praticá-la.
Revista Le Sel de la Terre, nº 53