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Vosso Servo ouve

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

 

Discernindo a própria vocação

 

Meus queridos irmãos,

Alegramo-nos com a ordenação do Pe. Bernard Bevan ao sacerdócio sagrado, no dia 29 de junho de 2022, no Seminário São Pio X em Ecône. Ele agora é outro Cristo no mundo, outra oblação e outra esperança de salvação para milhares de almas.

A enormidade da bondade de Deus apresenta-se brevemente na ordenação de um padre, pois traz Cristo novamente ao mundo para que o homem continue a beneficiar-se de seu ensinamento, governo e santificação.

Essa vocação ao sacerdócio, como todas as outras vocações, tem suas origens na correta disposição da alma a um chamado divino. Deus tem um plano para todos, e todos são chamados para a sua vocação, mas, ah, tão poucos ouvem o chamado, e menos ainda têm a fortaleza ou a generosidade de levá-la até o fim.

 

Almas inquietas

“O que Deus quer que eu faça com minha vida?” Uma alma que já não esteja fixada em uma vocação pode dizer:

- “Eu adoraria me casar e ter filhos, mas não consigo encontrar a pessoa certa.”

- “Às vezes, sinto um desejo de me entregar inteiramente a Deus, mas o desejo nunca dura.”

- “Há momentos em que me enxergo entregue a grandes obras que apenas a vida solitária permitiria, mas essas ideias evaporam ao amanhecer.”

“Então o que Deus quer que eu faça com a minha vida?” Tais são os pensamentos de muitas almas inquietas enquanto aguardam uma iluminação, um sinal dramático que aponte para seu futuro, ou mesmo um empurrão. Sempre aguardando, nunca encontram paz e correm o risco de tornar suas vidas um suspiro melancólico.

 

A voz das circunstâncias

“O que Deus quer que eu faça com a minha vida?” Embora aqueles com inclinações místicas aconselhem que você ouça uma voz interior de inspiração no silêncio da oração, há uma voz bem mais clara de se ouvir, à qual você deve dar sua primeira atenção – a voz da circunstância concreta.

 

Circunstâncias objetivas

O fato de que você existe, de que Deus o criou, sustenta-o e salvou-o significa que é a vontade de Deus que você conheça, ame e sirva a Deus neste mundo, para que possa ser eternamente feliz com Ele no outro.

A vontade de Deus para você, portanto, é declarada por sua existência e por sua lei eterna – parte inscrita na natureza e parte revelada através de sua Igreja: seu futuro está em Deus. Deus deve ser o centro de qualquer coisa que você tente fazer.

Outro fato inescapável é se você é um homem ou uma mulher. Isso, obviamente, determina se você terá uma vocação masculina (como marido, padre, monge ou celibatário no mundo), ou uma vocação feminina (como mãe, freira ou, novamente, celibatária no mundo).

A idade também é uma circunstância objetiva importante. Acima de 35 anos de idade, os seminários e congregações religiosas relutam aceitar postulantes, porque as almas se tornam mais difíceis de formar à medida que avançam em idade: os maus hábitos já estão enraizados com mais força, os bons hábitos são mais difíceis de se inculcar.

Então há o bem comum. A colheita é rica, mas os operários são poucos. Há uma necessidade objetiva das almas entregarem-se à missão da Igreja.

Essas circunstâncias objetivas aplicam-se indiscriminadamente a todos.

 

Circunstâncias subjetivas

Quanto às circunstâncias subjetivas, essas se aplicam individualmente.

Saúde, tanto mental quanto física: ela é necessária para a vocação sacerdotal e religiosa e para o estado matrimonial também – principalmente se for provável que haja filhos.

Virtudes e vícios: um certo grau de perfeição é requerido para toda vocação, e a ausência dessa perfeição é um sinal claro de que certos caminhos não devem ser percorridos até que os obstáculos (vícios) tenham sido removidos, e as virtudes adquiridas. Embora as almas, de fato, cresçam em virtude à medida que buscam uma vocação, a vocação não deve ser encarada como remédio para um vício (exceto no caso do casamento como remédio da concupiscência). Um padre sem virtudes teologais, um marido sem prudência ou uma mãe sem a capacidade de entregar-se de coração seriam monstros em suas vocações.

Deveres: um dever para com pais velhos ou outros dependentes pode ser um obstáculo para se tentar qualquer vocação que não a de celibatário. De modo semelhante, uma vocação deve ser suspensa se houver obrigações tais como serviço militar ou dívidas.

Acontecimentos: se uma tentativa de buscar uma vocação particular falhar, deve-se buscar aconselhamento espiritual. Pode ser que os eventos estejam indicando que a vontade de Deus está em outro lugar.

 

Ato da vontade

As circunstâncias objetivas e subjetivas são indicadores passivos da vontade de Deus para uma alma. Elas não bastam por si mesmas para que uma vocação seja identificada – são apenas sinais. O elemento mais importante de uma vocação é o ato da vontade, impelido pela graça (uma graça atual).

É uma contradição apenas aparente da nossa fé que um ato moralmente bom é aquele que é livre, mas tem em Deus sua causa. Com relação à vocação, deve-se decidir, livremente, qual vocação buscar. Isso significa que a alma, ao decidir, deve estar livre das correntes do vício e, assim, estar apta a responder à graça atual que move sua vontade.

É digno de nota que o desejo por uma vocação particular não é necessariamente um sinal da vontade de Deus. Várias almas fugiram da ideia de determinada vocação mas, seguindo a graça atual que impele a vontade, terminaram por abraça-la com alegria e gratidão por aquilo que parecia tão repugnante de início.

Quanto às vozes no silêncio, às vezes elas são reais, às vezes são apenas imaginárias. Se forem de Deus, Ele confirmará Sua voz por outros sinais, como fez a Samuel pelo aconselhamento de Eli, o Pontífice (1Rs 3,9).

 

Ato da autoridade

Finalmente, para uma vocação estar de acordo com a vontade de Deus, ela deve ter o selo da autoridade legítima.

- Para o sacerdócio, é o chamado do bispo no dia da ordenação

- Para um religioso (monge ou freira), é a vontade do superior,

- Para o casamento, é o pároco local, que deve investigar e preparar o casal.

A única vocação que parece não requerer uma autoridade positiva como sinal da aprovação de Deus é a vocação de celibatário, mas não é assim: para aqueles que buscam a vontade de Deus, a vocação de celibatário, como as demais, pede a submissão a um diretor espiritual prudente.

Aqueles que não buscarem discernir a vontade de Deus podem terminar solteiros – mas não por vocação, apenas como consequência.

 

Deus tem um plano para todos

Resumindo, para responder à pergunta “Qual a vontade de Deus para mim?”, devemos crer que Deus tem um plano para todos.

Hoje, conhecemos o plano de Deus para o Pe. Bernard Bevan. Oremos para que ele cresça em virtude na sua vocação e para que seu sacerdócio gere frutos na salvação das almas.

Oremos, também, por aqueles que buscam sua vocação. Que eles vejam que, sem Deus, tudo é em vão; que eles reconheçam os sinais de Sua vontade; que estejam dispostos para a graça atual que os fará escolher, e que perseverem na sua escolha pelo bem comum de todo o Corpo Místico de Cristo.

 

(Ite, Missa Est, Agosto de 2022) 

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