Category: Crônicas
Inclina o ouvido, jovem leitor, às palavras de um velho amigo, e guarda este nome: Humberto Castelo Branco. Foi o maior Chefe de Estado, o mais decisivo, o mais significativo de todas as qualidades latentes em nosso povo, a mais importante figura da História do Brasil. Não exagero.
A Fernando Carneiro
O primeiro sentimento que me veio, quando Fernando Carneiro me comunicou por telefone a morte de Bernanos, foi uma falta enorme, instantânea, brusca, como se aquele homem que apenas encontrara meia dúzia de vezes, e que se achava perdido para mim, “somewhere in France”, estivesse ligado à minha vida com os vínculos de uma antiga amizade. E estava. Realmente, estava. Sem que eu mesmo o soubesse, Bernanos tinha deixado em mim a marca inapagável de um contato verdadeiramente humano. Um minuto antes da notícia, mal me lembrava de seu vulto, de sua voz, de suas bengalas, de sua cólera pronta e de sua prontíssima ternura. Agora, pondo o fone no gancho, eu sentia crescer em mim, por todos os lados, em torno, atrás, adiante, nas recordações e nas esperanças uma falta enorme.
Foi há dois anos, creio eu, que tive um primeiro rápido encontro na porta de uma livraria com Oswald de Andrade, e a primeira impressão que logo me assaltou foi a de estar começando uma amizade, um jogo, com um menino guloso, truculento, direito e bom. Mal me lembram as palavras que dissemos e os assuntos que abordamos. Ele mesmo procurara essa aproximação. Queria saber como eu era; queria tirar a limpo o conflito, o desajuste ou a contradição que julgava existir entre meus livros e meu catolicismo. Ou melhor, e com palavras suas, desejava verificar se eu possuía um “catolicismo de Botafogo” ou algum outro de espécie mais admissível. E verrumava-me com aqueles ferozes olhos azuis que dias depois, em conversa mais íntima, deixaram escapar reflexos de ternura.
A 27 de janeiro de 1756 — faz hoje duzentos anos — nascia em Salzburgo, de uma pequena e modesta família, o menino que teria na certidão de batismo o nome de Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart. Nasceu numa casa onde se vivia da música. Aos três anos de idade, como se houvesse diligência de bem aproveitar os poucos que a sorte lhe reservava, manifesta os primeiros sinais de vivo interesse pelas lições de cravo de sua irmã.
Autores há que num pequeno fragmento de obra, página incompleta ou melodia esboçada, são logo reconhecidos e até saboreados, como se a alma deles estivesse toda a palpitar naquela simples amostra.
Se o leitor imaginava que o assunto de hoje seria a Carta Apostólica de Paulo VI, enganou-se redondamente. Eu também me enganava, e acabaria escrevendo alguma coisa de meu catálogo de aflições de acaso a vista cansada não fora atraída para o canto da página 3 do mesmo “O Globo” onde começara a ler o documento pontifício. Lá estava, num anúncio discreto e encantador, uma carrocinha de lixeiro cheia de flores, e em cima estes dizeres líricos e proféticos: “...
“As comunicações diretas de Eisenhower com a Casa Branca serão feitos em Brasília, através do próprio avião presidencial, poderosamente equipado para isto: funcionários e técnicos em comunicações do governo norte-americano estiveram este fim de semana em Brasília, tratando do assunto; a nova capital passará por um trabalho de limpeza geral para receber o ilustre visitante; os americanos levarão teletipos para Brasília, os quais poderão ser utilizados pelos jornalistas brasileiros...”.
Tentei ontem resumir uma explicação para o leigo, mostrando que há dois serviços em andamento para o mesmo fim: comunicações telefônicas entre Brasília, Rio e São Paulo. O primeiro é constituído por uma instalação de rádio de ondas curtas, como usam os amadores que conseguem falar com a Austrália, se as condições atmosféricas são favoráveis. Se não são, o amador fecha a estação e vai ao cinema.
Trata-se das comunicações telefônicas de Brasília. Antes de mais nada é preciso frisar que há dois serviços em andamento com o mesmo objetivo. O primeiro é formado por estações de Rádio de ondas curtas, com modulação chamada de single-side-band permitindo doze canais. Esse sistema tem a conhecida precariedade, que consiste na instabilidade do nível e na dependência das condições atmosféricas.
Graças à vigilância de Antônio Olinto, na sua “Porta de Livraria” de O Globo, chego ainda a tempo para saudar o centenário de G. K. Chesterton, o incomparável escritor inglês que mais indelevelmente me marcou a alma nos dias em que andei perdido pelo mundo a procurar uma luz, luz de João e Maria, luz de Casa, luz de acolhimento entre as trevas de meu triste exílio. Devo a Chesterton as primeiras alegrias católicas.