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As comunicações do presidente Eisenhower

“As comunicações diretas de Eisenhower com a Casa Branca serão feitos em Brasília, através do próprio avião presidencial, poderosamente equipado para isto: funcionários e técnicos em comunicações do governo norte-americano estiveram este fim de semana em Brasília, tratando do assunto; a nova capital passará por um trabalho de limpeza geral para receber o ilustre visitante; os americanos levarão teletipos para Brasília, os quais poderão ser utilizados pelos jornalistas brasileiros...”.

 

Estas notícias estão no “Diário Carioca” de ontem, na quarta página, na coluna assinada por Pedro Gomes. Isto não quer dizer, entretanto, que o “Diário Carioca” converteu-se à oposição ou desanimou de ver Brasília funcionar dentro dos próximos meses. Ao contrário, mais do que nunca o redator aparece entusiasmado com os progressos da NOVACAP em matérias de comunicações, e até se entrega ao prazer de atribuir parte do brio da NOVACAP aos meus pobres artigos. Deixo para amanhã ou depois, ou talvez para o dia do Juízo Final, esta estéril discussão. O sr. Pedro Gomes sabe que quem lê o “Diário Carioca” não me lê. Eu também sei. Cada um de nós explica-o de modo diferente, mas o fato permanece. O leitor do “Diário Carioca” não lê meus artigos. Baseado nisto o sr. Pedro Gomes põe-se à vontade para uma discussão unilateral, e até esquece de fiscalizar o resto da própria coluna, tão seu é o seu leitor. Pode assim dizer que tudo está muito bem, em matéria de comunicações em Brasília, e no mesmo artigo dizer que, em véspera de inauguração, a futura Capital da República está menos equipada do que o avião presidencial americano. Pode também dizer que voltei atrás em minhas apostas, que continuam de pé, nos mesmíssimos termos em que as formulei. Mas deixemos, hoje, esta inútil discussão e admiremos as três notícias veiculadas pelo jornal mais governista que jamais foi impresso.

 

Admiremos na primeira notícia a passagem em que o cronista declara que o avião americano está “poderosamente equipado” para permitir um contato com a Casa Branca, sem admitir que seu leitor desconfie que Brasília devia estar um pouco mais equipada do que um avião. O avião presidencial vem a Brasília como se viesse ao Pólo Sul. Na segunda notícia admiremos a simplicidade com que o jornalista diz que haverá uma limpeza geral em Brasília: mas então quem receberá os americanos? Na terceira notícia admiremos comovidos a candura do jornalista que ao mesmo tempo está entusiasmado com o adiantamento de Brasília e declara que os jornalistas brasileiros só terão notícias dos festejos por intermédio dos aparelhos que os americanos gentilmente emprestarão.

 

Tudo isto prova que o redator tem uma robusta confiança em seus leitores, e até já adivinho que é por aí, pomposamente, que ele desdobrará sua próxima retórica... 

  

                                                                                                                             Diário de Notícias, 10-02-1960.

 

 

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