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A nova Carta aos amigos e benfeitores de Dom Fellay

Há quase um ano, o Capítulo Geral da Fraternidade São Pio X reunificou em um mesmo espírito algumas diferenças que haviam surgido ao longo do ano de 2011 e início de 2012, diante da possibilidade de haver um acordo prático com as autoridades do Vaticano. Infelizmente, nessa ocasião, alguns padres da Fraternidade e outros de comunidades religiosas amigas da Fraternidade, resolveram precipitadamente romper com a Fraternidade, alegando que esta já havia traído a orientação de Dom Marcel Lefebvre. Não havia atos ou documentos que pudessem servir de base segura para tal atitude, e esses padres, insistindo em analisar argumentos anteriores ao Capítulo de julho de 2012, cometeram um grave equívoco que só serviu para dividir a Tradição. Da nossa parte, insistimos em que se devia desviar a atenção da internet e seus blogs e redes sociais, para nos dedicarmos à oração e ao silêncio, muito necessários nessas horas para guardarmos um mínimo de sabedoria. Após o Capítulo, o próprio Dom Fellay, assim como Dom Galarreta, fizeram sermões e conferências mostrando que o Capítulo tinha, de fato, sido um momento da graça, retomando critérios importantes para evitar quedas e divisões da Fraternidade. Mas os dissidentes insistiam em afirmar que um acordo já tinha sido feito e que Dom Fellay estava apenas enganando os resistentes. Uma calúnia, na verdade, sem fundamento. Hoje, queremos publicar a Carta aos amigos e benfeitores que Dom Fellay acaba de escrever, onde fica definitivamente marcada a defesa da fé, como sempre foi a pauta da Fraternidade São Pio X ao longo desses anos todos. Pedimos a São José que amanse os corações endurecidos trazendo-os à humildade, para que saibam retornar a essa unidade que, só ela, pode nos manter fortes no combate. 
 
Dom Lourenço Fleichman OSB
Leia a continuação
 
 
CARTA AOS AMIGOS E BENFEITORES
Dom Bernard Fellay
Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

 

Esta carta deveria já lhes ter chegado a um bom tempo, e é com alegria, neste tempo pascal, que gostaríamos de mostrar em que pé estamos bem como expor algumas reflexões sobre a situação da Igreja.
Como todos sabem, a Fraternidade se viu numa posição delicada em boa parte do ano 2012, depois da última aproximação de Bento XVI para normalizar nossa situação. As dificuldades vinham, de um lado, das exigências que acompanhavam a proposta de Roma – dificuldades que não podíamos nem podemos subscrever – e, de outro, de uma falta de claridade por parte da Santa Sé, que não permitia conhecer precisamente qual era a vontade do Santo Padre, nem o que estava disposto a nos conceder. A confusão gerada por tais incertezas dissipou-se a partir de 13 de junho de 2012, com uma confirmação precisa, no dia 30 do mesmo mês, por uma carta do próprio Bento XVI, exprimindo claramente, e sem ambiguidade, as condições que nos eram impostas para uma normalização canônica.
Tais condições são de ordem doutrinal; têm por objeto a total aceitação do Concílio Vaticano II e da Missa de Paulo VI. Consequentemente, como escreveu Mons. Augustine Di Noia, vice-presidente da Comissão Ecclesia Dei, numa carta endereçada aos membros da Fraternidade São Pio X no final do ano passado, não saímos do ponto de partida, tal qual era nos anos 70. Infelizmente, temos de assinar embaixo desta constatação das autoridades romanas, e reconhecer a atualidade da análise de Mons. Marcel Lefebvre, fundador da nossa Fraternidade, que não mudou nos decênios que se seguiram ao Concílio, até sua morte. Sua percepção, corretíssima, tanto do ponto de vista teológico como prático, vale ainda nos dias de hoje, cinquenta anos após o início do Concílio.
Gostaríamos de recordar esta análise, que a Fraternidade São Pio X sempre fez sua, e que continua sendo o fio condutor de sua posição doutrinal e de sua ação: mesmo reconhecendo que a crise que assola a Igreja também possui causas exteriores, foi o próprio Concílio o principal agente de sua autodestruição.
Desde o fim do Concílio, Mons. Lefebvre expôs numa carta ao cardeal Alfredo Ottaviani, em 20 de dezembro de 1966, os terríveis danos causados pelo Concílio a toda a Igreja. Eu já a citava na Carta aos Amigos e Benfeitores número 68, de 29 de setembro de 2005. É útil reler hoje alguns extratos desta Carta.
Então, quando o Concílio se preparava para ser um clarão luminoso no mundo de hoje, se tivessem sido utilizados os textos pré-conciliares nos quais se encontrava uma profissão solene de doutrina segura em relação aos problemas modernos, pode-se e se deve infelizmente afirmar que de uma maneira quase geral, quando o Concilio inovou, abalou a certeza de verdades ensinadas pelo Magistério autêntico da Igreja como pertencendo definitivamente ao tesouro da tradição.
“Que se trate da transmissão da jurisdição dos bispos, das duas fontes da revelação, da inspiração das Sagradas Escrituras, da necessidade da graça para a justificação, da necessidade do batismo católico, da vida da graça nos heréticos, cismáticos e pagãos, dos fins do casamento, da liberdade religiosa, dos fins últimos, etc… Sobre estes pontos fundamentais, a doutrina tradicional é clara e ensinada unanimemente nas universidades católicas. Ora, numerosos textos do Concílio sobre estas verdades permitem atualmente pô-las em dúvida.
“As consequências foram rapidamente tiradas e aplicadas na vida da Igreja:
“As dúvidas quanto à necessidade da Igreja e dos sacramentos trazem o desaparecimento das vocações sacerdotais.
“As dúvidas sobre a necessidade e a natureza da “conversão” de cada alma trazem o desaparecimento das vocações religiosas, a ruína da espiritualidade tradicional nos noviciados, a inutilidade das missões.
“As dúvidas sobre a legitimidade da autoridade e a exigência da obediência provocada pela exaltação da dignidade humana, da autonomia da consciência, da liberdade, abalam todas as sociedades a começar pela Igreja, as sociedades religiosas, as dioceses, a sociedade civil, a família.
“O orgulho traz como conseqüência todas as concupiscências dos olhos e da carne. Talvez seja uma das constatações mais atrozes de nossa época, ver a que decadência moral chegou a maior parte das publicações católicas. Falam sem o menor pudor da sexualidade, da limitação dos nascimentos por qualquer meio, da legitimidade do divórcio, da educação mista, do flerte, dos bailes como meios necessários à educação cristã, do celibato dos padres, etc.
“As dúvidas sobre a necessidade da graça para se alcançar a salvação provocam o menosprezo do batismo, doravante adiado para depois, o abandono do sacramento da penitência. Trata-se, sobretudo, de uma atitude dos padres, e não dos fiéis. O mesmo ocorre quanto à presença real: são os padres que agem como se não mais cressem, escondendo a Santa Reserva, suprimindo todas as marcas de respeito para com o Santo Sacramento, e todas cerimônias em sua honra.
“As dúvidas sobre a necessidade da Igreja única fonte de salvação, sobre a Igreja Católica única religião, provenientes das declarações sobre o ecumenismo e liberdade religiosa, destroem a autoridade do Magistério da Igreja. Com efeito, Roma não é mais a “Magistra Veritatis (Mestra da Verdade)” única e necessária.
“É preciso pois, forçado pelos fatos, concluir que o Concílio favoreceu de uma maneira inconcebível a difusão dos erros liberais. A fé, a moral, a disciplina eclesiástica foram abaladas em seus fundamentos, segundo as previsões de todos os papas.
“A destruição da Igreja avança a passos rápidos. Por uma autoridade exagerada dada às Conferências episcopais, o Soberano Pontífice tornou-se impotente. Em um só ano, quantos exemplos dolorosos! No entanto o Sucessor de Pedro e só ele pode salvar a Igreja.
“Que o Santo Padre se cerque de vigorosos defensores da fé, que os designe em dioceses importantes. Que se digne por documentos importantes proclamar a verdade, perseguir o erro, sem temor das contradições, sem temor dos cismas, sem temor de pôr em causa as disposições pastorais do Concílio.
“Digne-se o Santo Padre: encorajar os bispos a endireitar a fé e os costumes individualmente, cada um em sua respectiva diocese, como convém a todo bom pastor; sustentar os bispos corajosos, incitá-los a reformar seus seminários, e restaurar aí o estudo de Santo Tomás; encorajar os superiores gerais a manter nos noviciados e comunidades princípios fundamentais de toda ascese cristã, sobretudo a obediência; encorajar o desenvolvimento de escolas católicas, a imprensa da sã doutrina, as associações de famílias cristãs; enfim, reprimir os que erram e reduzi-los ao silêncio. As alocuções das quartas-feiras não podem substituir as encíclicas, os mandamentos, as cartas para os bispos.
“Sem dúvida estou sendo bem temerário ao me exprimir desta maneira! Mas é com um amor ardente que componho estas linhas, amor pela glória de Deus, amor por Jesus, amor por Maria, por sua Igreja, pelo Sucessor de Pedro, bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo.”
Em 21 de novembro de 1974, após a visita apostólica do seminário de Ecône, Monsenhor Lefebvre julgou necessário resumir sua posição na célebre declaração que terá por consequência, alguns meses mais tarde, a injusta supressão canônica da Fraternidade São Pio X, que nosso fundador e seus sucessores sempre consideraram nula. Este texto capital começava com esta profissão de fé, que é a de todos os membros da Fraternidade:
Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade.
“Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.
“Todas estas reformas, com efeito, contribuíram, e continuam contribuindo, para a demolição da Igreja, a ruína do sacerdócio, a destruição do Sacrifício e dos Sacramentos, a desaparição da vida religiosa, e a implantação de um ensino naturalista e teilhardiano nas universidades, nos seminários e na catequese, um ensino surgido do liberalismo e do protestantismo, condenados múltiplas vezes pelo Magistério solene da Igreja.
Esta declaração terminava com as seguintes linhas:
“A única atitude de fidelidade à Igreja e à doutrina católica, para bem da nossa salvação, é uma negativa categórica à aceitação da Reforma.
“E por isso, sem nenhuma rebelião, sem amargura alguma e sem nenhum ressentimento, prosseguimos a nossa obra de formação sacerdotal à luz do Magistério de sempre, convencidos de que não podemos prestar maior serviço à Santa Igreja Católica, ao Soberano Pontífice e às gerações futuras.”
Em 1983, recordando o sentido o combate pela Tradição, Monsenhor Lefebvre remetia um manifesto episcopal a João Paulo II, co-assinado por Dom Antônio de Castro Mayer, em que denunciava, uma vez mais, a desolação causada pelas reformas pós-conciliares e o espírito nefasto que se espalhou por toda parte. Assinalava, particularmente, os pontos seguintes, a propósito do falso ecumenismo, da colegialidade, da liberdade religiosa, do poder do Papa e da missa nova:
- O falso ecumenismo:
Este ecumenismo é igualmente contrário aos ensinamentos de Pio XI na Encíclica “Mortalium animos”: “Sobre este ponto é oportuno expor e recusar uma opinião falsa que está na raiz deste problema e deste movimento complexo por meio do qual os não católicos se esforçam por realizar uma união das Igrejas cristãs. Os que aderem a esta opinião citam constantemente estas palavras de Cristo: “Que eles sejam um… e que não exista senão um só rebanho e um só pastor” (Jo. 17, 21 e 10, 16) e pretendem que, por estas palavras, Jesus exprime um desejo ou uma oração que jamais foi realizada. Eles pretendem, com efeito, que a unidade de fé e de governo, que é uma das notas da verdadeira Igreja de Cristo, praticamente, até hoje jamais existiu e hoje ainda não existe”.
“Este ecumenismo condenado pela Moral e Direito Católicos chega a permitir a recepção dos Sacramentos da Penitência, da Eucaristia e da Extrema-unção de “ministros não católicos” (C. 844 do novo Código) e favorece a “hospitalidade ecumênica” autorizando os ministros católicos a dar o sacramento da Eucaristia a não católicos.”
- A colegialidade:
“A doutrina, já sugerida pelo documento “Lumen Gentium” do Concílio Vaticano II, será retomada explicitamente pelo novo Direito Canônico (C. 336); doutrina segundo a qual o colégio dos Bispos juntamente com o Papa goza igualmente do poder supremo na Igreja, e isto de uma maneira habitual e constante.
“Esta doutrina do duplo poder supremo é contrária ao ensinamento e à prática do Magistério da Igreja, especialmente no Concílio Vaticano I (DS 3055) e na Encíclica de Leão XIII “Satis Cognitum”. Somente o Papa tem este poder supremo que ele comunica, na medida em que ele o julgar oportuno e em circunstâncias extraordinárias.
“A este grave erro está ligada a orientação democrática da Igreja, com os poderes inerentes no “povo de Deus”, como se define no novo Direito. Este erro jansenista foi condenado pela Bula “Auctorem fidei” de Pio VI (DS 2592).
- A liberdade religiosa:
“A declaração “Dignitatis humanae” do Concílio Vaticano II afirma a existência de um falso direito natural do homem em matéria religiosa, que se opõe aos ensinamento pontifícios, que negam formalmente semelhante blasfêmia.
“Assim Pio IX na sua Encíclica “Quanta cura” e o Syllabus, Leão XIII nas suas Encíclicas “Libertas praestantissimum” e “Immortale Dei”, Pio XII na sua alocução: “Ci riesce” aos juristas católicos italianos, negam que a razão e a revelação fundamentem semelhante direito.
“O Vaticano II crê e professa, de modo universal, que “a Verdade não pode impor-se senão pela força da própria Verdade”, esquecendo-se de que a Verdade pode impor-se também, normal e racionalmente, pela autoridade, pela autoridade de Deus revelante. O Concílio chega ao absurdo de afirmar o direito de não aderir e de não seguir a verdade, de obrigar os governos civis a não mais fazer discriminações por motivos religiosos, estabelecendo a igualdade jurídica entre as falsas e a verdadeira religião (...)
“As conseqüências do reconhecimento por parte do Concílio deste falso direito do homem arruínam os fundamentos do Reino Social de Nosso Senhor, abalam a sua autoridade e o Poder da Igreja na sua missão de fazer reinar Nosso Senhor nos espíritos e nos corações, empenhando-se no combate contra as forças satânicas que subjugam as almas. O espírito missionário será acusado de proselitismo exagerado.
“A neutralidade dos Estados em matéria de religião é injuriosa a Nosso Senhor e à sua Igreja, quando se trata de Estados com maioria católica.”
- O poder do Papa:
“Sem dúvida, o poder do Papa na Igreja é um poder supremo, mas ele não pode ser absoluto e sem limites, visto que está subordinado ao poder divino, que se exprime na Tradição, na Sagrada Escritura e nas definições já promulgadas pelo Magistério eclesiástico (DS. 3116).
“O poder do Papa é subordinado e limitado pelo fim que determinou a concessão desse poder. Este fim foi claramente definido pelo Papa Pio IX na Constituição “Pastor aeternus” do 1º Concílio do Vaticano (DS. 3070). Seria um intolerável abuso de poder modificar a constituição da Igreja e pretender apelar para o direito humano contra o direito divino, como na liberdade religiosa, como na hospitalidade eucarística autorizada pelo novo Direito, como na afirmação de dois poderes supremos na Igreja.
“É claro que nestes casos e em outros semelhantes, há um dever para todo o clero e fiel católico de resistir e recusar a obediência. A obediência cega é um contrasenso e ninguém está isento de responsabilidade por ter obedecido aos homens antes que a Deus (DS. 3115), e esta resistência deve ser pública se o mal é público e é uma causa de escândalo para as almas (S. Tomás, Summa Th. II-II, q. 33, a. 4 ad 2).
“Aí estão princípios elementares de moral, que regulamentam as relações dos súditos com todas as autoridades legítimas.
“Esta resistência, aliás, encontra uma confirmação no fato de que atualmente são punidos os que se mantêm firmemente vinculados à Tradição e à Fé católicas, ao passo que os que professam doutrinas heterodoxas ou realizam verdadeiros sacrilégios absolutamente não são inquietados. É a lógica do abuso do poder.”
- A missa nova:
“Em oposição aos ensinamentos do Concílio de Trento na sua Sessão XXII, em oposição à Encíclica “Mediator Dei” de Pio XII, exagerou-se o papel dos fiéis na participação na Santa Missa e diminuiu-se o papel do sacerdote transformando-o em simples presidente. Exagerou-se o papel da Liturgia da Palavra e diminuiu-se o Sacrifício propiciatório. Exaltou-se a ceia comunitária e foi ela laicizada, às custas do respeito e da fé na Presença Real mediante a transubstanciação.
“Ao suprimir a língua sagrada, pluralizaram-se ao infinito os ritos, profanando-os por achegas mundanas ou pagãs e difundiram-se traduções falsas com prejuízo da verdadeira fé e da verdadeira piedade dos fiéis.”
Em 1986, a propósito dos Encontros inter-religiosos de Assis, que constituiam um escândalo jamais visto na Igreja Católica e, acima de tudo, uma violação do primeiro de todos os Mandamentos: – “Adorarás um só Deus” – onde se viu o Vigário de Cristo convidar os representantes de todas as religiões para invocar suas falsas divindades, Monsenhor Lefebvre protestou com veemência. Chegará a dizer que viu neste evento intolerável para todo coração católico um dos sinais que pedira ao Céu, antes de proceder às sagrações episcopais.
Na Carta aos Amigos e Benfeitores nº 40, de 2 de fevereiro de 1991, o padre Franz Schmidberger, segundo Superior Geral da Fraternidade São Pio X, retomou a questão na sua totalidade e reafirmou a posição católica num pequeno compêndio dos erros contemporâneos contrários à fé. E nós pedimos a alguns dos nossos de resumir numa espécie de vade-mecum o conjunto destes pontos em diversas obras publicadas desde então, entre as quais o notável Catecismo da Crise da Igreja, do padre Matthias Gaudron (Edições Rex Regum). 
Hoje, na mesma linha, não podemos senão repetir o que Mons. Lefebvre, e o padre Schmidberger após ele, afirmaram. Todos os erros que denunciaram, nós o denunciamos. Suplicamos ao Céu e às autoridades da Igreja, particularmente ao novo soberano pontífice, o Papa Francisco, Vigário de Cristo, sucessor de Pedro, de não permitir que as almas se percam por não receberem mais a sã doutrina, o depósito revelado, a fé, sem a qual ninguém pode se salvar, ninguém pode agradar a Deus.
De que adianta dedicar-se aos homens se lhes escondemos o essencial, o fim e o sentido de suas vidas, e a gravidade do pecado que lhes afastam deste fim e sentido? A caridade pelos pobres, pelos mais desfavorecidos, pelos aleijados, pelos doentes, sempre foi uma preocupação verdadeira para a Igreja, e não se deve deixar isso de lado, mas se reduzimos isto à pura filantropia e ao antropocentrismo, então a Igreja deixa de cumprir a sua missão, de conduzir as almas a Deus, o que só se pode fazer por meios sobrenaturais, a fé, a esperança, a caridade, a graça. E, portanto, pela denúncia de tudo o que a isto se opõe: os erros contra a fé e contra a moral. Se esta denúncia não é feita, os homens pecam, condenam-se pela eternidade. A razão de ser da Igreja é de salvar-lhes e de lhes fazer evitar a desgraça de sua perda eterna.
Certamente, isto não agradará ao mundo, que se volta então contra a Igreja, por vezes com violência, como a história nos demonstra.
Eis-nos aqui, Páscoa de 2013, e a situação da Igreja seja quase inalterada. As palavras de Mons. Lefebvre ganham uma ressonância profética. Tudo cumpriu-se, e tudo continua para o maior detrimento das almas, que não escutam mais de seus pastores a mensagem da salvação.
Sem nos deixar inquietar, quer pela duração desta crise terrível, quer pelo número de padres, de bispos que perseguem a autodestruição da Igreja, como o reconhecia Paulo VI, continuamos, na medida de nossos meios, a proclamar que a Igreja não pode mudar nem seus dogmas, nem sua moral. Pois, não é sem provocar um verdadeiro desastre que se toca nestas veneráveis instituições. Se certas modificações acidentais, recaindo sobre a forma exterior, devem ser feitas – como se dá em todas instituições humanas – não podem, de modo algum, ser feitas em oposição aos princípios que guiaram a Igreja em todos séculos precedentes.
A consagração a São José, decidida no Capítulo Geral de julho de 2012, ocorre justamente neste momento decisivo. Por que São José? Porque é o padroeiro da Igreja Católica. Continua ele a ter, para o Corpo místico, o papel que Deus Pai lhe confiou ao lado de seu Divino Filho. Sendo Cristo o chefe da Igreja, cabeça do Corpo místico, decorre disso que, aquele que teve o encargo de proteger o Messias, Filho de Deus humanado, veja sua missão estender-se a todo Corpo místico.
Assim como foi discretíssimo e em boa parte escondida a sua ação – mesmo sendo perfeitamente eficaz – assim também o papel protetor – igualmente eficaz com relação à Igreja – exerça-se hoje com grande discrição. Foi somente ao longo dos séculos que se manifestou de modo cada vez mais claro a devoção a São José. Um dos maiores santos, um dos mais discretos. Depois de Pio XI, que o declarou padroeiro de toda a Igreja, depois de Leão XIII, que confirmou este papel e introduziu a magnífica Oração à São José, padroeiro da Igreja universal – que a cada dia recitamos na Fraternidade – depois de são Pio X, que tinha uma devoção toda especial por São José, de quem tinha o nome, queremos fazer nossas, neste dramático momento da história da Igreja, esta devoção e esta proteção.
Prezados Amigos e Benfeitores da Fraternidade São Pio X, eu os abençoo de todo coração, exprimindo minha gratidão por suas orações e generosidade em prol da obra de restauração da Igreja, empreendida por Mons. Lefebvre. E mais: rogo a são José que lhes obtenha as graças divinas que suas famílias precisam para permanecer fiéis à Tradição católica.
+ Bernard Fellay, Superior Geral.
 

 

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