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Category: Civilização CatólicaConteúdo sindicalizado

Jó, o Eclesiastes e o Orkut

 Dom Lourenço Fleichman OSB

Conta o Livro de Jó, em seu início, uma conversa entre Deus e Satanás. Quando Deus pergunta a Satanás o que anda fazendo, o Príncipe das Trevas responde: "Andei dando voltas pelo mundo e passeando por ele". Podemos perceber que não é de hoje que o Demônio anda por aí espalhando entre os Filhos dos Homens sua malícia disfarçada em coisas boas. Como anjo mau muito esperto, o Demônio hoje não passeia, ele navega pelas ondas da virtualidade (coisa fácil para um espírito). "Andei navegando pelo Orkut, e vi a juventude entediada, vazia e descarada!" E eu, no meu esconderijo protegido contra Orkuts fiquei imaginando se o Cão não estaria dizendo uma grande mentira, um exagero, com alguma intenção desconhecida. Leia Mais

Revista Permanência nº 265

Março 14, 2012 escrito por Dom Lourenço

Depois do grande sucesso do número de relançamento (264)
está chegando o número da Quaresma (265)

 

São 180 páginas. Elas vem recheadas de muitos artigos importantes, seguindo as pegadas deixadas pela irmã mais velha.

Como nossos leitores já sabem, dividimos os quatro números anuais por quatro tempos litúrgicos. Após o número de Natal, que trazia o selo azul, lançamos agora o número da Quaresma, com o selo roxo, mas que na verdade abrange também a Páscoa, visto corresponder aos meses de abril-maio-junho.

Continuando a denúncia das perseguições contra os católicos, apresentamos agora um artigo do americano Robert Spencer sobre a atual perseguição religiosa no mundo islâmico. O sangue católico continua a regar o solo da terra.

Em meu artigo Por que a Rússia? procuro, a partir da impressionante história da Rússia católica, novas razões para a escolha de Nossa Senhora em consagrar a Rússia ao seu Imaculado Coração, .

Garrigou-Lagrange é novamente nosso convidado para uma aula de teologia, em O Dever da Reparação. Aliás, a rubrica Espiritualidade é a mais rica desse número, tendo ainda a primeira parte do trabalho do Pe. José Maria Mestre, do Seminário da Fraternidade S. Pio X na Argentina, sobre o Sermão da Última Ceia. São Leonardo de Porto Maurício nos apresenta uma profunda meditação para a Via Sacra. Santo Tomás de Aquino continua seus comentários sobre os salmos, dessa vez com o impressionante Salmo 2, que fala sobre as nações que abandonam a Nosso Senhor.

Damos as boas vindas ao Pe. Luiz Cláudio Camargo, Prior da Fraternidade São Pio X em Santa Maria, RS, ele que é uma vocação sacerdotal saída da nossa Permanência. O seu artigo Media Vita dá o tom da espiritualidade de penitência do tempo quaresmal.

Não podemos deixar de assinalar o artigo Lições de Abismo, de Gustavo Corção, onde o nosso fundador analisa de modo apaixonado e lírico as forças interiores que o levaram a escrever seu premiado romance. Trata-se de uma página maior da literatura brasileira que oferecemos aos nossos leitores.

Outra prata da casa aparece na reedição do artigo de Antônio Hernandez, que nos honrou com sua amizade e com seus altos conhecimentos de música, até sua morte em 1997. Ainda falaremos mais desse extraordinário crítico musical.

E nosso número fecha com duas recensões: A Ilusão Liberal, do grande Louis Veuillot, editado pela própria Permanência, e Sete Mentiras sobre a Igreja Católica, de Diane Moczar, que marca o lançamento de uma nova editora católica no Brasil: a Editorial Castela, fundada pelo nosso colaborador Gabriel Galeffi Barreiro.

Eis-nos reunidos novamente. Temos diante de nós três meses de ricas leituras, isso sem contar a surpresa que estamos preparando, um livro extraordinário, requintado e saboroso que devemos lançar dentro de algumas semanas.

Boa leitura para todos.

Os escravos da imaginação

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

Uma oposição sistemática entre o mundo e a Igreja, entre a sociedade civil apóstata e a família católica: realidade mais do que conhecida, denunciada e lamentada. Todos nós sabemos disso e procuramos nos orientar de modo a não perder a fé, a não nos entregarmos aos prazeres e aos critérios desse mundo mau. Temos, sim, os Evangelhos e São Paulo que já nos alertavam e nos alertam ainda hoje, pela Revelação das Sagradas Escrituras. Temos a Igreja, com sua palavra forte, sua Tradição, seu depósito da fé, transmitindo, de papa a papa, de concílio a concílio, os conselhos e mandamentos que devemos seguir para não cair no abismo. E os padres lembram, em sermões e artigos, que devemos viver no mundo sem ser do mundo, que devemos estudar, nos armar contra a enganação do mundo, defender as crianças contra as escolas deformadoras, a televisão invasora e destruidora da moral católica.

Tudo isso nós sabemos e por isso devemos estar atentos e fortalecidos pela graça.
Mas não adiantou muito! Leia mais
 

Do esgoto do mundo à salvação dos nossos filhos

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

O que me leva a escrever hoje é a constatação, cada dia mais evidente, da dificuldade que as famílias católicas têm para viver neste mundo enlouquecido e transviado. O espetáculo que estamos assistindo, e que não se limita ao carnaval, mas ao ano todo, e a todos os anos, é de meter medo. Nossas famílias, nossas melhores famílias, não conseguem se isentar deste mundo. Todos pactuam  com práticas diversas de destruição do que resta de decência e de família. Digo "família" porque já não há mais nada de sociedade a ser preservado, já não temos mais o que defender! Tudo está destruído. Mas talvez ainda possamos lutar dentro de nossas famílias, ou dentro de nossos corações.

Ora, é justamente esta constatação da destruição de todas as realidades sadias da  antiga sociedade que explica a dificuldade das pessoas em não se contaminar.  Explico.
Dentro de uma sociedade em vias de corrupção, as pessoas teriam de sair de casa tomando certos cuidados para não serem contaminadas: cuidados com os outdoors, com as bancas de jornal, com o convívio no trabalho, e até mesmo com  os assaltos na rua. Dentro de suas casas, haveria necessidade de lutar constantemente contra os programas de televisão, tomar cuidado com o tipo de gibi ou de video-game que compra para os filhos. Dentro de uma sociedade assim, indiferente a Deus e apóstata da Santa Religião Católica, os pais de família teriam de trazer para seus filhos um bom catecismo, uma Capela onde se celebre a Santa Missa Tridentina, onde o catecismo fosse ensinado segundo a doutrina de sempre da Igreja.

Mas não é numa sociedade em vias de decadência, que nós vivemos. E é nesse ponto que se encontra o erro de tantos pais. Ao achar que a questão é de grau de corrupção, eles procuram defender  suas famílias sem no entanto tirá-las do ambiente em que estão sendo corrompidas.
Vejam bem o que quero dizer: nossa sociedade já não tem mais nada que mereça a nossa atenção. Os valores em voga nessa sociedade formam um esgoto nojento e fedorento que emporcalha tudo e todos. Não há como escapar! Você sai na rua, você vai ao médico, você compra um jornal, você é engenheiro, ou advogado, ou motorista de ônibus, o que seja, o que se faça, na rua ou dentro de casa, o esgoto se espalha, contamina, agarra-se em nossas peles, transmite o seu cheiro insuportável. E é tal a realidade disso que estou dizendo, que, estando todos contaminados, estando todos sujos e fedorentos nas entranhas de nossos costumes e de nossos interesses, os homens não sentem mais o fedor de si mesmos! Todos agem,  pensam, falam, com os critérios da lama e da cloaca.

A tendência que nós teríamos, seria a de querer comparar todas essas realidades com os critérios da nossa antiga formação. Falaríamos do funk comparando com outros tipos de música: – Ah!, na minha época não era assim!  Falaríamos das pichações, e do homossexualismo, e do nudismo nas ruas, e do sexo desenfreado e vagabundo, do  aborto e das clonagens, sempre comparando, comparando...com o quê? Até quando?

Não, não podemos nos enganar. Não é mais possível esse tipo de sem-vergonhice. É preciso ter a coragem de dizer, de pensar, de saber: acabou! O mundo como nossos pais nos ensinaram já não existe mais. E se os homens ainda votam (meu Deus, ainda se acredita na mentira da "democracia"!!), se os políticos ainda nos governam, é por simples reflexo dos nervos da defunta sociedade liberal e apóstata.

Outro dia me contaram mais uma vez o caso de um professor de universidade, casado, bom pai de família. As mulheres da faculdade avançam sobre os homens, sem querer  saber se é casado, se não é;  umas dez para cada um, que falam com os homens já se encostando, já se entregando. E a pessoa que me contava isso, dizia: "elas já perderam tudo". Eu procurei mostrar ao meu interlocutor que, ao contrário, essas mulheres não perderam nada, porque não há nada mais a ser perdido. Perder, para um católico, é considerar que as mulheres, dentro de uma sociedade com critérios de bem e de mal, de virtudes e de vícios, abandonaram completamente os primeiros e vivem pelos segundos. Mas não é esse o fenômeno que assistimos. O que existe, de fato, é uma sociedade onde o bem e o mal não se opõem, onde não há virtudes e vícios, onde tudo é permitido, onde tudo é "bom". De modo que essas mulheres não agem assim por perversão delas. Não são maus elementos da boa sociedade. É a própria sociedade que é má, que é perversa. Elas nada mais fazem do que viver segundo os critérios desse mundo. Eis um exemplo que vem reforçar o que dizia acima, sobre o esgoto que está pelos ares, no ar que respiramos, nas conversas que temos, na casas como na rua.

E mais uma vez, espantados e agradecidos, é em São Paulo que vamos encontrar a explicação desse tremendo mal, desta horrível provação que é hoje pedida aos que querem se salvar:

«Porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares».

Vejam bem, o Apóstolo desdenha quase dos pecados pessoais, da carne e do sangue, para nos advertir sobre um tempo em que o mal estaria espalhado pelos ares. Que coisa impressionante! Que revelação tremenda recebeu de Deus São Paulo.
E o que é que ele nos recomenda  para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:

«Portanto tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé, depois de ter vencido tudo».

É, portanto, uma armadura, que nos cubra dos pés à cabeça, que nos leve à vitória total, sobre tudo, ou seja, sobre a própria sociedade erigida pelo demônio, pelo Anticristo, para a perda e condenação dos justos. Porque os maus, meus filhos, já estão condenados há muito tempo. O que o diabo não suporta é que haja ainda alguns loucos resistindo e querendo o Reino de Deus.

Que haja,  ainda, alguns doidos excomungados pela nova Religião de Vaticano II, conivente e "aberta para o mundo", que preguem o verdadeiro Evangelho de Cristo. Isso ele não suporta. Seu ódio mortal distila sobre esse esgoto do mundo uma saliva fétida e corruptora, que só o torna pior; porém, cheio de astúcias, o torna também mais enganador. E é assim que, insistindo em dizer que o mundo ainda é o mesmo, que as mulheres "perderam tudo", que em outras épocas "não se ouvia funk",  e coisas desse tipo, Satanás vai enganando os bons. E quem são os bons? São vocês. São vocês, que querem permanecer católicos, mas querem conviver com o mundo; que querem agradar a Deus, mas não rechaçam os prazeres mundanos. Que assistem à Missa verdadeira, mas acham que os protestantes são piedosos! Que lutam contra os pecados da carne, mas deixam seus filhos nas boates e na televisão.

E essa gente enganadora, esses cúmplices do demônio, Anticristos dessa nova sociedade má, declaram para quem quer ouvir isso que estou aqui denunciando.

Estando eu, numa sala de família onde alguém assistia a uma entrevista na televisão, o entrevistado, creio que falando em francês, espécie de artista já de idade, com uns cabelos brancos compridos, virou-se para a câmara e deu seu recado final, sua saudação alegre, sorridente, para os estúpidos que o admiram. Abriu os braços como quem mostra o mundo, e num sorriso simpático repetiu três vezes, lentamente, e com um gesto cada vez mais abrangente: Merde, merde, merde!

Que me desculpem os ouvidos pudicos. Mas diante de certas realidades, só o palavrão pode exprimir a realidade. E ele deve ser dito, para evitar que  uma palavra mais amena nos engane sobre a gravidade da coisa. Foi isso que ele disse, e disse bem, pois é esse o mundo que ele prega, é essa a cultura que ele produz, é esse o fedor e a cloaca de que eu falava acima.
E é por isso que os nossos, que os bons pais de família, não conseguem vencer os atrativos do mundo. É por isso que eles abrem as portas de suas casas e deixam entrar este ar tenebroso e fedorento. É porque está já tudo coberto por esta substância, de modo que nem os bons conseguem mais distinguir os perfumes da alma santa, da Igreja santa, da família católica.

Mas eis o que Deus nos revela  como sendo  nossa atitude diante desse quadro:
«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para  não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)
No início do ano, em conversa com as famílias da Capela Nossa Senhora da Conceição, mostrei a elas que para manter-se fiel à Fé e perseverar na busca da salvação, diante do quadro avassalador em que se encontram nossos filhos, era necessária uma cumplicidade voluntária entre os pais e o padre. É preciso hoje,  que os pais trabalhem em conjunto com o sacerdote, querendo ouvir as orientações a que a moral católica nos obriga. Querendo estudar a doutrina, querendo que seus filhos sejam orientados, que tenham contato constante com o padre e com a Capela. Essa cumplicidade precisa ser vivida de modo prático e eficaz, na busca da oração, do Santo Terço dentro de casa, da fuga desse mundo corrompido e contagiante que está carregando de roldão o que vocês têm de mais amado, que são seus filhos. E vocês não estão conseguindo conter a avalanche, e estão se inclinando a achar que é assim mesmo, que todo mundo faz... e o mundo vai tendo cada dia maior presença em suas casas.

Cumplicidade significa renunciar a certas facilidades, a certos confortos, a muita televisão, a um comportamento indecente e imoral que se manifesta nas roupas, nas atitudes, nos gestos, no sexo precoce e pecaminoso. Cumplicidade é impedir, sim!, impedir que seus filhos ouçam esses funks e coisas semelhantes que só fazem arrebentar todas as forças espirituais da alma, movendo a carne para a sensualidade e para o pecado.

Cumplicidade significa organizar o lar de modo a que as atividades sejam orientadas; mas para isso, é preciso perder tempo, perder muito tempo, num esforço difícil mas necessário, organizando biblioteca e videoteca capazes de entreter seus filhos no bem. Vejam! O que eu entendo ser uma guerra para salvar seus filhos, é a presença da mãe junto deles, cada dia mais necessária, justamente no momento em que elas são cada dia mais empurradas para fora de casa, abandonando seus filhos, que vão ser criados numa creche ou por uma empregada. A mãe é chamada hoje,  não é ao fogão e ao tanque, não senhoras! É a um trabalho estafante, na rua, indo de livraria em livraria, de sebo em sebo, recolhendo livros bons, que sejam formadores de valores morais; comprando filmes que tragam algum proveito de  vida e de moral para os próprios pais e para seus filhos. O que as mães precisam fazer é formar-se na Universidade da Família, aprendendo a contar histórias, a brincar de roda, a inventar atividades e passeios, a ensinar música para seus filhos. Se fosse para fazer isso como educadoras, como diretoras de uma firma, como vendedoras de uma loja, aí elas ficariam encantadas... mas como é dentro de casa, ou pelo menos, como é para ser aplicado dentro de casa, elas reclamam, e querem a rua, querem o mundo.... Coisa estranha! Estranha contradição. Dizem que amam seus filhos, mas não querem estar a seu lado, na educação, à serviço de suas alminhas inocentes ameaçadas de morte prematura.

Creio que este papel reservado às mães, traria outras vantagens para seus filhos. Pois é evidente que duas ou três mães poderiam perfeitamente se juntar e trabalhar em conjunto, revezando-se talvez nas tardes ou manhãs livres, para juntar seus filhos em passeios e atividades. Logo apareceria uma que sabe tocar um instrumento, e eis que começa umas aulas de música, nessa idade delicada dos cinco ou seis anos, em que começa a formação musical e artística.
Parece ilusório o que lhes proponho? Talvez pareça ilusório porque as mães já não estão habituadas a esse esforço. Afinal, como é simples apertar um botão de televisão ou computador, e eis o silêncio das ovelhinhas  instalado no lar ... indo  para o  matadouro!
Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.

E se a objeção é o orçamento do lar, que a mãe precisa trabalhar senão não fecham as contas no fim do mês, respondo que são poucos os casos em que há verdadeira necessidade. O que se vê, em geral, é a busca cada vez maior de ter, de possuir, de gastar,  num vício desenfreado que vai contra a virtude da pobreza. Diminuam as necessidades, e que os maridos sejam mais eficazes nos seus trabalhos, pois cabe a eles a cumplicidade de fazer o possível para que a mãe possa criar seus filhos.

Lembrem-se que os filhos não são bonecos bonitinhos que só servem para satisfazer o orgulho e o amor-próprio dos pais, bonecos que se encostam numa creche ou numa televisão para que não atrapalhem o resto do dia. Ter filhos é obrigação de todo casal, e educar é carregar a Cruz de Nosso Senhor, abandonando a vontade própria para transmitir a Fé verdadeira, a verdade natural e sobrenatural, a moral de Deus e o amor ao próximo.

E para completar este combate onde as mães devem ser leoas rugindo contra o mundo devorador, onde os pais devem ser leões fortes e trabalhadores no sustento do lar, onde a família se encontra em todas as atividades, do ritual das refeições em comum, passando pela oração em comum para chegar à Santa Missa, venho exortá-los, agora, a que recebam a bênção do Sagrado Coração sobre as famílias, a Entronização no Lar do Sagrado Coração, como sendo a retaguarda espiritual dessa guerra tremenda e constante,  onde as forças espirituais devem ser preservadas, para que a vida natural não se perca seguindo os passos do demônio e do Anticristo. Façam a Entronização, façam a Renovação anual, e venham para a Capela, venham na 1ª Sexta, no 1º Sábado, receber de Nosso Senhor o Alimento Sacramental que nos dá a força sempre viva da Fé, da Esperança Teologal no sucesso e na Vitória, e a Caridade que é o próprio Deus vindo dentro de nós num dom de Si mesmo, como Amor Substancial. Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição lhes dê forças para combater. É preciso desejar a vida eterna apaixonadamente, sem descanso. Não esmoreçam, pois o Senhor bate, já está às portas; Ele colhe, e queimará a erva daninha que não servir para o seu Celeiro.

Feliz Natal

Dom Lourenço Fleichman OSB

O que deve ser o voto de Feliz Natal de um padre, de uma Capela como a nossa a todos os nossos fiéis, a todos os nossos amigos e leitores? É de praxe e de bom tom trocar votos de felicidades nesta data do nascimento do Menino Jesus. E fazemos bem. Pois no fundo de nossas almas paira ainda a teologal esperança que avança sem tréguas em meio ao mar revolto deste mundo. Servirão os votos que damos e recebemos, pois de alguma forma as pessoas precisam da paz natural para viver em sociedade.

Mas é esse lado natural o que me incomoda. E onde está a realidade sobrenatural do Natal? Onde encontraremos, perdidos e abandonados nos cantos das ruas, os santos de outrora, que talvez corressem agitados, preparando tudo, organizando os mínimos detalhes de uma festa sem fim: Et Verbum caro factum est! Pois o Verbo se encarnou e habitou entre nós. O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, recebe uma natureza como a nossa para nascer na manjedoura em Belém. E onde estão as almas admiradas e contemplativas para fugir do shopping, largar as bolsas de compras, os presentes dos filhos, o novo celular, e correr desembestado por um estacionamento entupido..... Ah! Ele nasceu, eu vi a estrela, eu vi o Menino. Hosanna in excelsis! Eu vi, eu compreendi o que acontece. Por que não nos dizem isso? Onde estão os padres, onde estão os bispos, onde está o sangue católico, que já não corre nas veias dos homens, para nos dizer, para nos lembrar que o louco não sou eu que corri feito doido largando tudo no chão; os loucos são eles, que estão lá dentro, fazendo compras e mais compras; os doidos são eles, que, mesmo quando criticam o esvaziamento do Natal católico, não param para meditar no Mistério dos mistérios, na candura e inocência, na paz... na paz... Para que foi mesmo que ele nasceu? Para nos trazer a paz...

Não foi isso o que eu vi, não foi isso o que Ele quis me dizer quando me fez mergulhar naquele mundo de silêncio, no meio da multidão que corria agitada atrás das compras, das promoções, da última moda. Não foi isso o que o Príncipe da Paz me disse, quando abri seu Livro Santo e li: "Não vim trazer a paz, mas sim a espada!" Não, ele não veio nos trazer a paz, nesse sentido natural que os homens querem. É isso! Era isso o que me incomodava. Às favas com essa falsa paz de que nos fala o profeta, esse romantismo abusado que usa o Inocente, nosso Deus, para fingir que deseja a paz a todos. Não, não é isso o que eles desejam! O que eles querem é o paraíso na terra, é prolongar a vida até não poder mais, é liberar-se de toda obediência à Verdade Eterna. Pergunte a um deles se querem seguir os ensinamentos da Verdade? Qual Verdade? Eles não querem aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Eles querem, exigem, e batem pé: nós queremos a verdade de Pôncio Pilatos! Trata-se da verdade relativa, do liberalismo, de você seguir o que você pensa, autônomo, achando-se adulto, responsável... sem Deus, sem Cristo, sem a Igreja! Depois vêm me cantar musiquinhas bonitinhas na televisão para fazer chorar de emoção numa confraternização universal. Chega disso!

Por favor, não venham me dizer que é preciso esquecer certos acontecimentos, e deixar de lado as convicções, pois é noite de Natal. Acho que esse argumento pode ser válido para muitas ocasiões e para muitos natais. Mas se a causa de tantos desastres e tragédias está justamente no esquecimento de Jesus, no abandono da Criança de Belém, como não pensar nisso tudo? Se hoje a Argentina vive um Natal terrível e amanhã qualquer país o poderá viver também; se hoje aviões são lançados sobre prédios porque os loucos assassinos querem matar todos aqueles que não pensam como eles. Se tudo isso acontece porque o Rei Pacífico não tem direito de reinar sobre as nações, então essa paz e essa felicidade que eles desejam é de uma hipocrisia total!

E no entanto... E no entanto há lugar para a Paz, desde que não seja a paz dos jornais. Há lugar para cantar, numa noite de Natal, um cântico novo ao nosso Deus, ao Menino-Deus, desde que nossos olhos sejam olhos de filhos, puros e espirituais. Desde que nossas almas sedentas saibam dobrar os joelhos e rezar no silêncio da noite: Venite adoremus! vinde, adoremos a Criança, Jesus nosso Deus e Salvador, que nasceu hoje para morrer amanhã, para nos dar seu Sangue, para nos dar sua vida. Há lugar para desejar, ao menos para desejar, que o Rei da Paz seja o chefe das nações, o chefe de nossa Pátria; que ela se dobre diante do seu cetro e se deixe governar por seu Evangelho e por sua Igreja.

Então, sim, nesta hora em que nas igrejas soam os sinos, a missa do Galo, a Santa Eucaristia: meu Senhor e meu Deus. Que nossos corações tenham um ímpeto de amor e queiram com todas as forças espalhar pelo mundo as luzes do nosso Bom Deus. Então, sim, mergulhados na oração, saudemos nossos amigos e irmãos, troquemos nossos votos e orações, pois Ele nasceu, ele nos foi dado. "Hodie, filius datus est nobis — hoje, um Filho nos foi dado".

É por isso que desejamos a todos um Feliz Natal e um ano-bom repleto de todas as graças de Deus.

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