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Category: LatimConteúdo sindicalizado

Por que a Igreja sempre preservou o uso do Latim na Liturgia Romana?

Embora não haja nada na Revelação que prove a absoluta necessidade de uma língua sagrada (ou seja, uma língua diferente do vernáculo e restrita às funções sagradas), a Igreja Romana sempre escolheu preservar o Latim como sua língua litúrgica pelas vantagens que ele apresenta.

O Latim, sendo uma língua “morta”, tem o mérito incomparável de ser, ao mesmo tempo, imutável e misterioso.

Ele é imutável, enquanto as línguas do povo estão sempre evoluíndo e se remodelando. Se os livros litúrgicos estivessem sujeitos à mudança e à perpétua reconstrução, se as fórmulas litúrgicas da oração fossem incessantemente remodeladas e alteradas, os textos originais não apenas perderiam muito da sua força e da sua incomparável beleza, como se veriam frequentemente desfigurado e maculado por incorreções, erros e deturpações. Consequentemente, seria impossível preservar e manter a uniformidade do culto divino em tempos diferentes mesmo dentro de um mesmo povo, e muito menos no mundo inteiro.

Como o Latim não mais pertence ao cotidiano, ele tem um caráter sacro, venerável e místico. Elevado acima do dia-a-dia, ele é um véu místico para os adoráveis mistérios da Missa, que nós aqui embaixo conhecemos apenas pela obscuridade da fé, mas dos quais teremos clara visão no Céu.

O uso do Latim não impede os fiéis de participarem dos frutos do Sacrifício.

A Liturgia do Santo Sacrifício contém muito de instrutivo, mas a instrução não é, de modo algum, seu principal objeto. A Missa não é primariamente um ensinamento doutrinal ou uma instrução do povo. O Sacrifício é, essencialmente, uma ação litúrgica realizada pelo Padre para propiciar e glorificar a Deus, bem como para a salvação das almas.

Nesse sacrifício as pessoas devem, em união espiritual com o celebrante, juntar-se à oração e ao sacrifício. E isso não é possível a elas sem algum entendimento da celebração litúrgica; mas, para adquirir tal entendimento, há vários meios à disposição dos católicos (ensinamento oral, livros de instrução e devocionários). Para satisfazer a esse propósito, a mera recitação das fórmulas de orações no vernáculo pelo celebrante não seria suficiente: a tradução das orações não revelaria seu sentido oculto e, com frequência, seria ocasião de equívocos e mal-entendidos.

Como língua universal de culto, o Latim é um meio admirável de apresentar, preservar e promover a unidade da Igreja no culto, na fé e na conduta.

A unidade da liturgia em todos os tempos e lugares pode ser perfeitamente mantida apenas na medida em que ela seja celebrada, sempre e em todos os lugares, na mesma língua. Com a introdução das várias línguas nacionais, a uniformidade e a harmonia do culto católico está em perigo e, em certa medida, torna-se impossível.

A unidade da língua litúrgica e do culto divino na Igreja é um meio muito eficiente de preservar a integridade da fé. A liturgia é, de fato, um canal através do qual o ensinamento dogmático é transmitido. O culto é desenvolvido baseado na doutrina da fé. Nas orações litúrgicas, nos ritos e ceremônias da Igreja, as verdades da Fé Católica encontram sua expressão e podem ser estabelecidas e provadas daí. Quanto mais fixa, imutável e inviolável for a fórmula litúrgica, mais será apta para preservar e a transmitir intacto o depósito original da Fé.

A Língua litúrgica da Igreja

 

I. A língua latina convém ao culto católico porque é venerável, misteriosa e invariável.

A língua latina é venerável pela sua antiguidade: era a que empregavam os cristãos dos primeiros séculos para celebrar os louvores de Deus1. «Sente-se comoção e entusiasmo quando se ouve oferecer o Santo Sacrifício na mesma língua e com as mesmas palavras de que se serviam os primeiros cristãos nas profundidades sombrias das catacumbas»  A língua latina é uma línguamisteriosa, porque, como língua morta, o povo não a compreende. Empregando-a dá-se a entender que no altar se passa alguma coisa que se não pode compreender alguma coisa misteriosa. Nos primeiros séculos do cristianismo, o altar estava encoberto por um véu desde oSanctus até à Comunhão. Este uso desapareceu, mas existe sempre um véu diante do altar: é a língua latina que o povo não compreende, e que nos torna os santos misteriosos veneráveis. —Finalmente por ser língua morta é invariável e significa com isto a imutabilidade da doutrina católica, que não muda, como não mudam as formas desta língua2,  Além disso, convém notarque os Judeus e os Pagãos se serviam, no seu culto religioso, de uma língua que não era a língua vulgar. Entre os Judeus, por exemplo, empregava-se o antigo hebreu, que era língua dos Patriarcas. Jesus Cristo e os Apóstolos assistiram ainda ao ofício divino que se celebrava nessa língua e a história não nos diz que Jesus Cristo e os Apóstolos hajam censurado esse costume.  Na Índia, osânscrito é a língua sagrada, e difere dos dialetos que usa povo.  Os Gregos, quer os não unidos quer os unidos. empregam nas suas igrejas o grego antigo, e não o grego moderno ou vulgar.  Até na Igreja russa se servem grego antigo, ao passo que o povo fala o eslavo. — igreja anglicanaemprega o inglês antigo. Só os Romenos unidos se servem, com aprovação de Roma, da sua língua materna.
 
  1. 1. Se bem que é verdade ter o grego, sob este ponto de vista, maior dignidade: por isso a Igreja Católica usa ambos os idiomas: porém no ocidente emprega comumente o latim, mais semelhante às nossas línguas modernas.
  2. 2. Deste modo favorece a sua conservação, com a mudança das .palavras, variam também pouco pouco os conceitos.

O Latim na Liturgia - I

Tantas razões e tão decisivas em favor da manutenção do latim como língua litúrgica na Igreja Ocidental, tão pobres e tão desastrosos os pretextos invocados em favor das línguas vulgares, que temos dificuldade de nos incumbirmos de examinar uma mera questão, sobre a qual não deveria existir senão uma opinião, não apenas entre os católicos, mas entre os civilizados. Certamente, não teríamos pensado em colocar esta questão do latim na liturgia, nem imaginado que alguém pudesse fazê-lo. Todavia, vemos que a colocam, recolocam, debatem e disputam. Sem provas propriamente ditas — mas com muitos indícios convergentes que equivalem a uma prova — temos o sentimento de estar em presença de homens muito determinados em seu empreendimento, decididos a aproveitar todas as ocasiões para suprimir o latim, para forçar a Santa Sé, para colocá-la, se puderem, perante um fato consumado, até o dia — para eles, desejável, para nós, nefasto (mas esse dia nunca virá) — em que a autoridade soberana, julgando a causa perdida, resolver-se a canonizar o emprego litúrgico das línguas vulgares.
  
Deduziremos por ordem nossos argumentos nesta “defesa e ilustração”, não do “latim litúrgico”, pois que não fazemos aqui absolutamente um estudo de gramática ou de estilo, mas do emprego da língua latina na liturgia.

Como o século XIX redescobriu o latim medieval e as lições da Roma eterna.

“É nesta língua eterna que o catolicismo pronuncia seus oráculos, que sempre falou e ainda fala a todos os seus filhos dispersos sobre a superfície do globo. Nas escolas do Estado, estranhamente negligenciamos o latim. Eis algo que a Igreja não pode fazer, eis algo que ela não pode permitir. Eis o que não permitirá jamais em suas escolas. Daremos nossa vida, nosso sangue, se for preciso”
Monsenhor DUPANLOUP
Bispo de Orleans (1868)
 

A língua latina

Devemos estimar a língua latina... Devemos crer nela, como os primeiros cristãos 
criam que o Império Romano duraria até o fim do mundo.
Jean BELOT, Jurista parisiense, 1637
 
Tivemos de reescrever uma breve história de Roma antes de falar sobre a língua de Roma, pois somente os anais extraordinários deste império explicam as múltiplas qualidades de sua linguagem.
 
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